A Árvore de Jeremias Zacarias

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Alberto Da Antas

A Árvore de Jeremias Zacarias

escolhiam e os levavam para o seu seio. - Concluiu Jeremias. - A morte de quem é jovem, será sempre vista como uma imperfeição do que devia ser a sequência da finitude familiar. Mas voltemos ao que te perguntei, afinal quantos anos já passaram por ti? Jeremias abriu um largo sorriso. - Que importância pode ter a minha idade? Vocês, os brancos, têm essa obsessiva mania de tudo querer medir; é a distância que caminhamos, é o tempo que se demora a confeccionar a comida, é o período que dormimos ou o que estamos acordados, é a idade que passa por nós; e isso não tem qualquer interesse. A minha idade? Sei lá qual é, há muito tempo que decidi perder-lhe o conto. O que sei é que o meu passado, como se nota, é imenso, o futuro terá um prazo curto, e o presente, esse, bem, esse quase que não existe. - O presente quase que não existe? Jeremias ajeitou melhor as velhas costas ao velho tronco, afagou a sua branca barba, e respondeu: – Sim, o presente é meramente um pequeníssimo momento de transição. É assim com tudo na vida; no falar, no fazer, e no acontecer. Em rigor, o presente é uma simples e brevíssima passagem para o passado. - Meu bom Jeremias, continuas o mesmo na forma de pensar as coisas, sempre admirei esse modo diferente de as observares. Esboçou um leve sorriso. - Acho que herdei isso do meu avô; um iletrado com muita curiosidade por tudo o que o rodeava, depois, acresce que alguém me doou o húmus de-

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