Dilma Rousseff mostra seu estilo de governar neste início de mandato

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Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo

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EM REVISTA

JUNHO 2011 - 12ª edição - ANO V - QUADRIMESTRAL

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

NOVA DIREÇÃO Dilma Rousseff mostra seu estilo de governar neste início de mandato

ENTREVISTA Diretor técnico do DIEESE, Clemente Ganz Lúcio, analisa a economia brasileira.


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ÍNDICE

EM REVISTA

Entrevista - “O Brasil precisa continuar crescendo acima de 4% com o controle da inflação” ............................................................

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Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), comenta o cenário econômico brasileiro.

Cidadania - De quem é a culpa? ....................................... 12 Sem planejamento urbano, as grandes cidades brasileiras são castigadas com as

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previsíveis chuvas de verão ignoradas pelos governantes do País.

Saúde - Câncer de pele: detecção precoce pode salvar vidas .... 14 Diagnosticado e tratado no início, o tumor tem grande chance de ser curado.

Tecnologia -

O médico e o monstro da era digital ................

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Novos mecanismos da internet são usados para o bem e para o mal.

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Capa - O início de Dilma ........................................................ 20 Linha Direta em Revista ouviu economistas, ex-ministros, deputados e sindicalistas para avaliar o começo do novo governo.

Economia - A era da criatividade .......................................... 26 Empresas e escolas começam a se adaptar ao perfil da nova geração ao valorizarem

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a inovação e a liberdade.

Artigos

Editorias 4 Editorial

24 Mulher

8 Trabalho

28 Notícias

10 Meio Ambiente

30 Cultura

18 Aposentados

33 Passatempo

32 Reforço da Pauta - João Guilherme Vargas Netto 34 Aqui é Atento - Artigo do Leitor LINHA DIRETA em revista  3


Editorial

A agenda do trabalhador Nesta 12ª edição de nossa revista, trazemos como matéria de capa uma análise dos primeiros meses do novo governo. Foram ouvidos sindicalistas e diversos especialistas da área de economia. Apesar da avaliação positiva descrita pelos entrevistados, quero destacar que existem alguns deslizes que precisam ser corrigidos com urgência, bem como algumas propostas que precisam ser implementadas pelo novo governo. Primeiramente, nós do Sintetel, enAlmir Munhoz * tendemos tratar-se de um grande equívoco tentar controlar a inflação com o aumento da taxa de juros. Nós acreditamos que a geração de emprego vem com o investimento na produtividade e não com medidas que freiem o País. Também acreditamos que a nova presidenta deva se livrar das más companhias, uma vez que já ocorrem respingos da banda podre do governo anterior na atual gestão.

DIRETORIA DO SINTETEL Presidente: Almir Munhoz Vice-Presidente: Gilberto Rodrigues Dourado Diretoria Executiva: Cristiane do Nascimento, Fábio Oliveira da Silva, José Carlos Guicho e Marcos Milanez Rodrigues. Diretores Secretários: Alcides Marin Salles, Ana Maria da Silva, Aurea Meire Barrence, Germar Pereira da Silva, José Clarismunde de Oliveira Aguiar, Maria Edna Medeiros e Welton José de Araújo. Diretores Regionais: Elísio Rodrigues de Sousa, Eudes José Marques, Jorge Luiz Xavier, José Roberto da Silva, Ismar José Antonio, Genivaldo Aparecido Barrichello e Mauro Cava de Britto. Jurídico: Humberto Viviani juridico@sintetel.org.br OSLT: Paulo Rodrigues oslt@sintetel.org.br

O movimento sindical já trabalha para reforçar a agenda da classe trabalhadora para um projeto nacional de desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho.

Recursos Humanos: Sergio Roberto rh@sintetel.org.br

A Conferência Nacional da Classe Trabalhadora apresentou, em junho do ano passado, à sociedade brasileira um conjunto de propostas que reafirmam nosso desejo de que o País trilhe o caminho do desenvolvimento.

Jornalista Responsável: Marco Tirelli MTb 23.187

Portanto, como diz o nosso companheiro João Guilherme, em artigo na página 32 desta revista, precisamos reforçar esta pauta. E assim o faremos. Boa leitura. * Almir Munhoz é presidente do Sintetel.

Cartas “Em mãos, exemplar da ótima Linha Direta em Revista publicada por essa entidade. Bonita, alegre, com conteúdo, a revista, sem dúvida nenhuma, é um dos melhores produtos produzidos pela mídia sindical, em todo o País. Notamos, prazerosamente, que o editorial assinado pelo ilustre Presidente combina com o ideário básico da Fecomerciários: insistir no fim do fator previdenciário, na redução da jornada para 40 horas semanais sem redução de salário e a proibição da terceirização da atividade-fim no setor do comércio. Ajustado o foco, queremos saudar a existência da excelente Linha Direta em Revista”. Luiz Carlos Motta Presidente da Fecomerciários

Você pode enviar as suas sugestões, opiniões e comentários para a redação de Linha Direta em Revista. Basta encaminhar um e-mail para sintetel.imprensa@gmail.com, ligar para (11) 3351-8892 ou mandar uma carta para o seguinte endereço: Rua Bento Freitas, 64 – Vila Buarque - CEP: 01220-000 - São Paulo - SP. A/C do Depto. de Comunicação.

4  LINHA DIRETA em revista

COORDENAÇÃO EDITORIAL Diretor Responsável: Almir Munhoz Revisão Geral: Amanda Santoro MTb 53.062 Redação: Amanda Santoro, Emilio Franco Jr., Marco Tirelli e Renata Sueiro Diagramação: Agência Uni (www.agenciauni.com) Fotos: F.F. Fotografia Colaboradores: João Guilherme Vargas Netto, Paulo Rodrigues e Theodora Venckus Impressão: Gráfica Unisind Ltda. (www.unisind.com.br) Distribuição: Sintetel Tiragem: 10.000 exemplares Periodicidade: Quadrimestral Linha Direta em Revista é uma publicação do Sindicado dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo | Rua Bento Freitas, 64 Vila Buarque | 01220-000 | São Paulo SP | 11 3351-8899 www.sintetel.org | sintetel@sintetel.org.br SUBSEDES ABC: (11) 4123-8975 sintetel_abc@uol.com.br Bauru: (14) 3231-1616 sintetel_bru@uol.com.br Campinas: (19) 3236-1080 subtel.cas@terra.com.br R.Preto: (16) 3610-3015 subribeirao@sintetel.org.br Santos: (13) 3225-2422 subsede.santos@terra.com.br S.J.Rio Preto: (17) 3232-5560 sindicato.sp@terra.com.br V. Paraíba: (12) 3939-1620 sintetel_sjc@uol.com.br O Sintetel é filiado à Fenattel (Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações), à UNI (Rede Sindical Internacional) e à Força Sindical. Os artigos publicados nesta revista expressam exclusivamente a opinião de seus autores.


ENTREVISTA

“O Brasil precisa continuar crescendo acima de 4% com o controle da inflação” O cenário da economia brasileira mudou e com ele caíram velhos paradigmas Marco Tirelli e Emilio Franco Jr. Após o início do governo Dilma Rousseff, o Brasil tem novos desafios, principalmente na área econômica. Para tentar entender melhor o risco da inflação e os resultados gerais da economia, Linha Direta em Revista conversou com Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Para ele, a política de valorização do salário mínimo é uma vitória histórica do movimento sindical com impactos positivos por proporcionar o crescimento da base da pirâmide salarial. Com o tema da alta dos preços em voga, Clemente afirma que a inflação sempre é um problema, e que o aumento dos juros “é um instrumento clássico utilizado na economia, mas que deve ser usado com moderação”. Por fim, elogia Alexandre Tombini, novo presidente do Banco Central, dizendo que sua política é mais interessante justamente por não acreditar apenas nos juros para conter a inflação.

está posto hoje em dia. Mas se lembrarmos que no passado a bandeira do movimento sindical era lutar por um mínimo de 100 dólares, já demos um grande passo. LDR: Em anos de crescimento baixo do PIB, como ocorreu em 2009, o trabalhador não acaba prejudicado com essa fórmula? CGL: O crescimento é fundamental porque garante a geração de emprego e renda. É importante uma estratégia de desenvolvimento continuado e de medidas anticíclicas no momento em que há reversão de crescimento, como ocorreu em 2008 e

Linha Direta em Revista: Qual sua opinião sobre a política de valorização do salário mínimo consolidada no governo Dilma? Clemente Ganz Lúcio: Primeiramente, a política aprovada no Congresso é uma vitória histórica do movimento sindical. Pela primeira vez, tivemos uma política de valorização originada num processo de mobilização das centrais sindicais. No primeiro ano de Dilma, essa política se transforma em lei e fixa a fórmula de reajuste do salário mínimo para os próximos quatro anos. O efeito é fantástico do ponto de vista distributivo porque fortalece o mercado interno, que é um diferencial estratégico para o desenvolvimento econômico do Brasil. Foi também um grande colchão amortecedor que segurou o País diante da crise econômica internacional. E se constitui, na verdade, como instrumento de política de distribuição de renda. Ainda tem o enorme desafio de sair dos atuais R$ 545 e chegar a uns R$ 2 mil, que é mais ou menos o salário mínimo necessário pesquisado pelo Dieese. É quase quatro vezes maior do que LINHA DIRETA em revista  5


ENTREVISTA 2009. Neste momento, o Brasil está com uma pressão inflacionária. É importante que o Estado tenha capacidade de trazer a economia para uma taxa de inflação próxima da meta. Como foi importante o Estado ter tido a capacidade de segurar a crise econômica e não deixar o desemprego acontecer no País como ocorreu no resto do mundo. LDR: Para o próximo ano está previsto reajuste do salário mínimo de aproximadamente 15%. Quais os impactos positivos e negativos que esse aumento pode causar na economia do País? CGL: Os impactos positivos são sempre a ampliação da renda do trabalhador e o efeito distributivo, seja pelo salário dos ocupados, seja pela previdência. Do ponto de vista negativo é o financiamento da seguridade social. O crescimento do salário mínimo aumenta a despesa do governo e ele tem que ter capacidade para arrecadar recursos que faça esse contraponto. Garantir a melhoria na capacidade de arrecadação do Estado, a formalização, tudo isso contribui para garantir o equilíbrio sem que o ajuste venha pelo corte na previdência. Há ainda um impacto maior do salário mínimo sobre as micros e pequenas empresas. Ter política que dê suporte ao setor e que internalize estes aumentos do salário mínimo sem repassá-los para os preços é uma política importante para o País. LDR: Muito se comenta atualmente sobre o temor da inflação sair do controle. Esse risco realmente existe? CGL: A inflação sempre é um problema. A propósito, trata-se de um dos principais obstáculos que o governo deve administrar. Nós temos uma economia que estava com uma cultura de indexação [atrelar preços a índices préfixados] muito forte. Acredito que, em certa medida, o Brasil precisa completar 6  LINHA DIRETA em revista

“Depois de setembro a tendência é que a inflação volte a convergir para o centro da meta” a desindexação, principalmente em empresas, contratos e aluguéis. É preciso resolver o problema do financiamento da dívida pública e da taxa de juros que a remunera. Outro gargalo importante é a capacidade de investimento do Estado em produtividade. Isso tudo é o que vai garantir sustentação para que tenhamos uma economia equilibrada com baixa taxa de inflação. Nesse momento, a nossa inflação é fortemente impactada pelas commodities [qualquer bem em estado bruto: soja, ouro, minérios, etc], pelos preços internacionais, pelos preços administrados, pela indexação que ainda existe e por um crescimento da renda. Portanto, não é um problema simples de ser tratado, exige ação vigorosa por parte do governo. Ou seja, a aceleração da inflação é perversa para o salário porque corrói o poder de compra. Ao mesmo tempo, não interessam medidas que coloquem a economia em uma baixa taxa de crescimento com aumento do desemprego e suas consequências. É uma situação difícil. O Brasil precisa continuar crescendo acima de 4% com o controle da inflação. Isso exige muitas medidas por parte do governo com uma boa coordenação e os efeitos não são necessariamente de curto prazo. LDR: O governo conseguirá atingir o

centro da meta de inflação de 4,5%? E existe o risco real de ultrapassar o teto de 6,5%? CGL: A avaliação do Dieese é de que até maio a inflação ficará relativamente sob controle. Depois teremos três meses em que a inflação acumulada em 12 meses vai subir porque no ano passado, em junho, julho e agosto, foi zero. Desta forma, qualquer taxa que tiver agora, pegando 12 meses para trás, estará sempre acima da meta. Temos um problema estatístico. Depois de setembro a tendência é que a inflação volte a convergir e a expectativa do governo é que em 2012 o Brasil tenha inflação próxima à meta. Então, 2011 vai ser um ano difícil para o mundo. Todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento estão com taxas acima das metas que fixaram. O Brasil está prevendo chegar a 6,5%, ou seja, 2% acima de sua espectativa. Esse é um problema do mundo. LDR: Você concorda com o mecanismo de aumento dos juros para conter a inflação? CGL: É um instrumento clássico utilizado na economia e deve ser usado com moderação ao identificar excesso de demanda, quando o consumo das famílias, do governo e o investimento estão correndo na frente da capacidade de oferecer o que está sendo demandado. Daí há a geração de uma pressão inflacionária que é clássica. No geral, usa-se como instrumento a política de juros para reduzir o nível da atividade e o consumo. Neste sentido é uma política eficaz. Mas o risco dela é que pode provocar o desaquecimento pesado da economia. Até então, o Banco Central usava isso como seu único instrumento. Neste momento, o BC tem uma política mais interessante, que é a de combinar outras medidas com a política de juros.


ENTREVISTA No caso brasileiro há um problema porque os juros estão atrelados à remuneração de parte da dívida pública. Então quando eles sobem aumenta-se a remuneração de quem detém títulos da dívida pública, assim cresce o gasto do governo. Desmontar esta engrenagem é outra peça importante.

Mas a expectativa é que o Brasil reúna condições de sustentar esse crescimento nos próximos anos.

LDR: Qual sua opinião sobre a nova equipe econômica do governo, com Alexandre Tombini à frente do Banco Central?

CGL: O setor de telefonia, e de comunicação de forma geral, passa e passará por mudanças radicais e rápidas. É difícil fazer cenário. O que se pensava há dez anos sobre telefonia não se pensa hoje. O acesso à internet, por exemplo, tem muito campo para avançar, talvez com algumas fusões ou incorporações, mas ainda tem que melhorar o sistema de regulamentação social. Contudo, é um setor em expansão no qual o emprego deve continuar crescendo, assim como a demanda, e os salários podem melhorar. O movimento sindical tem de ter estratégia para esse setor de constantes mudanças.

CGL: Parece-me que o Alexandre Tombini é alguém que traz uma estratégia um pouco diferente. As medidas iniciais do Banco Central mostraram flexibilidade, mais interessante do que aquela medida única de conter a inflação aumentando os juros. Nós temos outras táticas e precisamos fortalecê-las. Poderia se fazer a médio prazo uma mudança na política monetária que incorporasse como meta a ser perseguida não só o controle da inflação, mas uma determinada taxa de crescimento econômico, de investimento produtivo e de crescimento da ocupação. São variáveis que o Banco Central deveria perseguir em sua política econômica, assim como são as metas dos bancos centrais europeu e americano.

LDR: Que futuro você vislumbra para as próximas negociações do setor de telecomunicações tendo em vista o cenário atual?

aquecido, a demanda tem feito com que as empresas, nas negociações e contratações, elevem os salários, que estão ficando mais próximos da produtividade que, antes, era muito maior que a remuneração. Portanto, as empresas têm uma gordura para queimar, mesmo assim, o crescimento dos salários não é nada explosivo. Mas essa aproximação é boa, quer dizer que a riqueza produzida está sendo distribuída. LDR: A geração de empregos formais deve diminuir o ritmo a partir de agora?

LDR: De modo geral, os reajustes salariais tem sido compatíveis com a produtividade dos trabalhadores?

CGL: Tende diminuir o volume de emprego. Ano passado o País cresceu a 7,5%, esse ano se crescer na casa dos 4% ou 4,5% vamos gerar empregos, mas em volume menor do que no ano anterior. Em 2010 foram 2,8 milhões de novas vagas, se esse ano ficar em 1,5 milhão, teremos gerado mais empregos, mas em número menor do que no ano anterior. Diminui a intensidade, mas ainda será um mercado positivo na geração de emprego.

CGL: Vem aumentando essa chamada colagem entre a produtividade e os salários. Com o mercado de trabalho

Para ler a entrevista na íntegra acesse: http://www.sintetel.org/novo/entrevistas.php

LDR: Quais são as perspectivas para o crescimento da economia brasileira até o fim do mandato de Dilma? CGL: Se o Brasil conseguir passar pelo momento da inflação, a expectativa é que já no ano que vem o País volte a crescer em torno de 5% ou 5,5% ao ano, essa é a meta que o governo trabalha. É factível e promove ao Brasil mudanças substantivas do ponto de vista da renda, do desenvolvimento territorial e regional e, ao mesmo tempo, se vier acompanhado de uma política de responsabilidade ambiental, pode colocar o Brasil como referência no mundo para o desenvolvimento sustentável. Isso ainda é um desafio. LINHA DIRETA em revista  7


TRABALHO

MERCADO DE TRABALHO IGUAL PARA TODOS

A exclusão foi historicamente imposta às pessoas com deficiência. Felizmente este paradigma começa a ser quebrado Renata Sueiro “Espero que um dia todos os direitos sociais do deficiente físico sejam reconhecidos, sem a necessidade de uma lei para apoiar”. Com esta frase, José Carlos Carmo, auditor fiscal da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/ SP), exprime o seu sentimento em relação à prioridade de inclusão dos deficientes no mercado de trabalho. As novas políticas de conscientização da sociedade quanto à capacidade desta parcela da população são as responsáveis pelo começo da mudança. O direito está assegurado aos deficientes desde 1991, por meio da Lei Nº 8.213 sobre Planos de Benefícios da Previdência Social que garante a obrigatoriedade de cotas em empresas para Pessoas com Deficiências (PCDs). Conforme ressalta o auditor fiscal da SRTE/SP, mesmo representando um grande passo evolutivo nas leis trabalhistas, o decreto-lei não contempla a equidade e não leva em consideração as especificidades de cada setor. “A falta de transparência na legislação limita a inclusão e isso dificulta o processo”, completa. A necessidade de cumprir a lei e a vontade de agentes sociais de ir além das contratações legais ajudou a disseminar e a desencadear ainda mais o processo de inclusão de PCDs no mercado de tra8  LINHA DIRETA em revista

balho. Tendo como base a lei, novos programas foram desenvolvidos por órgãos públicos com o intuito de conscientizar as empresas da necessidade de contratação das pessoas com deficiência.

Inclusão com respeito e dignidade Em São Paulo, a Delegacia Regional do Trabalho desenvolve o Programa de Inclusão de Pessoa com Deficiência, estipulado pela Portaria 700, com o objetivo de fiscalizar e punir as empresas que descumprem as obrigatoriedades da Lei de Cotas. Aliado a isso, a Delegacia trabalha em parceria com organizações, sendo mais flexível quanto aos prazos de adequação à lei e dando suporte e orientação para a resolução dos problemas. “Além da inclusão, nos preocupamos em reavaliar e criar medidas para promover a contratação com qualidade e responsabilidade social”, afirma o auditor fiscal e coordenador do projeto de Inclusão da SRTE/SP.

Agente de transformação social Com 20 anos de existência, a chamada Lei de Cotas (disposta no artigo 93 da Lei Nº 8.913), define a reserva de vagas para pessoas com deficiência ou para vítimas de acidentes de trabalho reabilitadas em todas as empresas privadas com 100 ou mais empregados.


TRABALHO Com relação à distribuição, ela é feita da seguinte forma: se o efetivo da empresa for de 100 a 200 funcionários a reserva de cotas será equivalente a 2%, de 201 a 500, a cota é de 3%, de 501 a 1000, a cota é de 4% e acima de 1001 a cota será igual a 5%. Segundo José Carlos do Carmo, para maior efetividade da inclusão, as ações devem ser desenvolvidas em parceria com a prefeitura, sindicatos e o setor privado. De acordo com o previsto em lei, as empresas que descumprirem a obrigação recebem multas de, no mínimo, R$ 1.156,83 para cada vaga não preenchida.

Grupo Casas Bahia dá exemplo de responsabilidade social Dois dos grandes problemas de acesso ao mercado de trabalho são o preconceito e a visão distorcida sobre as pessoas com deficiência. Para o diretor da Contact Center do grupo Casas Bahia, Jorge Azevedo, basta garantir a elas condições apropriadas e o reconhecimento do potencial. “A deficiência não pode ser um obstáculo para essas pessoas, elas têm direito a um trabalho decente com carteira assinada e os recursos devidos”, ressalta. Neste quesito, essa empresa paulista de teleatendimento dá exemplo de qualidade para os funcionários. Há dois anos, Jorge Azevedo deu início ao programa de contratação de pessoas com deficiência para atuar na área. Pensando na qualidade de vida dos profissionais, a empresa desenvolveu uma estrutura com flexibilidade de horários, além de contar com um grupo de funcionários especializados: fonoaudióloga, fisioterapeuta, assistente social, psicólogo e equipe de segurança no trabalho.

Jorge Azevedo acredita na valorização do capital humano

Atenta às necessidades dos trabalhadores, a empresa percebeu que a locomoção da casa para o trabalho, e vice-versa, era a maior dificuldade de alguns profissionais com deficiência. Devido a isso, a Contact Center criou o projeto Home Office para atender com qualidade a necessidade de

Portadores de deficiência em dia de trabalho presencial

profissionais, conforme explica Azevedo: “Analisamos que a proposta de trabalhar de casa caberia muito bem para sanar a dificuldade de locomoção”. Responsável pelo projeto, Maria Aparecida Carnevalle explica que os profissionais contratados atuam no setor de qualidade, escutam as ligações e fazem avaliação do atendimento no conforto de seus lares. Segundo ela, isso não implica no resultado final. “O lugar de onde o trabalho é desempenhado não importa, se é da casa ou da empresa, não muda o resultado do serviço”. Para a funcionária Carla da Silva Nogueira, deficiente física de 22 anos, o trabalho em casa melhorou a sua vida. “Já desisti de um emprego devido à dificuldade de locomoção. É maravilhoso ter a possibilidade de trabalhar em casa”, afirma. Além disso, para melhorar a integração com os colegas, os funcionários de Home Office fazem atividades na empresa uma vez por mês. De acordo com Francisca Maria de Jesus Machado da Silva, de 52 anos, o relacionamento com os colegas é tão agradável que eles trocam os horários de pausa por um bate-papo. “A Contact Center é um ótimo lugar para trabalhar. Tenho amizade com todo mundo”, declara. Segundo Azevedo, a empresa visa o capital humano e a garantia do bem-estar do profissional. “Somos diferentes, valorizamos a qualidade de vida das pessoas, no transporte, direito de ir e vir e flexibilidade de horário. Nós disponibilizamos profissionais especializados para atendê-las, temos até uma pequena academia para fortalecimento muscular com o devido acompanhamento médico”, declara. Para informações sobre o Programa de Inclusão das Pessoas com Deficiência da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo acesse www.mte.gov.br/delegacias LINHA DIRETA em revista  9


MEIO AMBIENTE

Preservar para crescer Desenvolvimentistas travam batalhas com os ambientalistas. Nesse cenário, cada qual tem sua preocupação Emilio Franco Jr. Uma nova polarização ganha destaque no mundo. Nada daquele papo de direita e esquerda, ocidente contra oriente. No início deste novo século, nada está mais na moda do que falar do meio ambiente e dos cuidados necessários para evitar o aquecimento do planeta e constantes desastres naturais, como o ocorrido recentemente no Japão. Lá, um terremoto de 9 graus na escala Richter, forte a ponto de ser considerado um dos mais intensos de que se tem registro, foi seguido por um tsunami que devastou cidades litorâneas e, ainda por cima, resultou em catástrofe nuclear com contaminação de cidadãos, água e comida. Diante desse quadro surge o embate entre os ambientalistas, preocupadíssimos com o uso que é feito dos recursos naturais, e os desenvolvimentistas, menos interessados na causa. A discussão, portanto, é essa: crescimento com responsabilidade ambiental. De um lado as licenças de órgãos ligados ao verde e meio ambiente e de outro o desenvolvimento das cidades, principalmente em países com espaço para expandir a economia a passos largos, caso do Brasil. Existe uma situação emblemática que representa bem como a expansão econômica sem a harmonia com a natureza pode ser um tiro no pé. O mar de Aral era o quarto maior lago do mundo, mas, preocupado com o crescimento do país, o governo soviético decidiu transformar toda aquela área em plantações de algodão. Re10  LINHA DIRETA em revista

alizou-se a transposição das águas do rio, em processo semelhante ao do São Francisco, no nordeste brasileiro. Com a alteração no curso, o pior dos impactos foi o desperdício de 70% da água, que não chegava aos lugares de irrigação. Inicialmente, contudo, deu certo. A União Soviética se tornou autossuficiente em algodão, só que o Aral foi secando e a poeira afetou o produto. Preocupações como essa foram levantadas, por exemplo, na época da concessão de licenças para a construção do Rodoanel, complexo viário que contorna a cidade de São Paulo. “O esforço para o desenvolvimento pode gerar problemas como o soviético, tudo isso foi pensado pelo governo paulista na ocasião”, conta José Goldemberg, ex-secretário estadual do meio ambiente. A maior preocupação é saber como conciliar desenvolvimento ilimitado com recursos naturais restritos. Sem titubear, Rubens Naman Rizek Júnior, secretário de estado adjunto do meio ambiente, diz que enfrentamos limitação absoluta. A afirmação categórica é baseada na situação de São Paulo. Localizada em local privilegiado, com grandes recursos hídricos, a cidade já importa água de regiões vizinhas. E o futuro pode reservar surpresas desagradáveis, como a falta do líquido tanto na capital, como nos lugares que hoje exportam para a maior cidade do país.


MEIO AMBIENTE no desenvolvimento caso as implicações ambientais sejam deixadas em segundo plano. E o Brasil ainda tem muito a evoluir. São 36 milhões de habitantes sem acesso à rede de água, 94 milhões sem esgoto em suas residências e oito milhões que sequer contam com banheiro em casa. Esses indicadores são piores que os do Afeganistão. “É estarrecedora a situação no país”, afirma André. Ele parafraseia o slogan do governo federal para resumir seu pensamento. “País sem saneamento é país pobre”.

Esse mal pode atingir o Brasil todo, que possui o maior potencial hídrico do planeta, mas deve chegar em 2015 com escassez de água em mais da metade de seus municípios. Incluem-se aí cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. Para evitar essa situação, seria necessário investir R$ 22 bilhões. Se assusta saber que 55% dos municípios podem sofrer com o desabastecimento, o número ganha contornos catastróficos por representar 125 milhões de pessoas. Em todo território brasileiro, 40% da água produzida para consumo humano se perde ao longo de redes de distribuição obsoletas. No estado que reúne a maior população do país, esse índice está em 26%, mas a meta do governo é chegar aos 13%, bem próximo dos 10% considerados como padrão internacional. A conta para solucionar esse problema é ainda mais estratosférica: R$ 252 bilhões, mas a média atual de gastos anuais na área é de apenas R$ 5 bilhões. Nesse ritmo, seriam necessários 50 anos para universalizar o acesso ao saneamento. “Existe a ideia de investir pesado nisso”, conta André Lacerda, diretor da Sabesp. Pela Constituição, o governo federal não tem responsabilidade em obras para o setor. Do mesmo modo, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) destinou R$ 40 bilhões para obras de saneamento, mas dos 26 estados brasileiros, só sete possuem empresas de abastecimento de água e tratamento de esgoto com capacidade para captar empréstimos com a União. Como consequência disso, o setor fica à mercê de repasses, ou seja, depende de emendas parlamentares que, muitas vezes, destinam dinheiro para obras de rede de coleta em determinado bairro, mas sem ligá-la à rede central. “Isso é dinheiro jogado fora”, lamenta Lacerda.

Frente aos problemas com água, tragédias globais pela fúria da natureza e mudanças climáticas, Rubens frisa a necessidade de as empresas aderirem à chamada economia verde. “Quem não se adaptar terá problema de mercado”, afirma. “Isso já é notado nos países ricos e atinge o Brasil com rapidez e força enormes”. Pode parecer que os ambientalistas são inimigos dos desenvolvimentistas, mas os ajustes necessários para uma economia preocupada com a questão podem ser, na verdade, uma janela para outros tipos de negócios. O exemplo é a Lei paulistana que instituiu a inspeção veicular, por enquanto obrigatória só para carros novos. Já está prevista a ampliação da fiscalização para os automóveis mais antigos, assim serão necessários locais para guardar os reprovados, serviço de conserto e reciclagem de peças. Portanto, nascem as novas oportunidades. “Ao mesmo tempo em que as regras ficam rígidas, negócios surgem”, explica Rubens. Mas não é tão simples assim tomar atitudes focadas no meio ambiente. As construtoras, por exemplo, fazem forte lobby para obras e mais obras sem dar muito valor à questão ambiental. Mesmo assim, São Paulo vem atacando aos poucos esse problema do desenvolvimento irresponsável, mas encontra dificuldades. “Se formos muito mais rígidos que outros lugares, os empresários mudam de estado”, lamenta Rubens. A solução, aponta, é o governo tomar medidas para uma legislação federal mais rígida.

O consumo está diretamente ligado ao crescimento do País e ao uso que as pessoas fazem destes recursos. A velocidade com que a demanda cresce é exponencial, e não é acompanhada pela oferta. “Se não tivermos regras para essa interferência humana, o mundo acaba, literalmente”, alerta Rubens, para quem haverá uma trava LINHA DIRETA em revista  11


CIDADANIA

De quem é a culpa? Sem planejamento urbano, as grandes cidades brasileiras são castigadas com as previsíveis chuvas de verão ignoradas pelos governantes Amanda Santoro Passadas as festas de final de ano, os brasileiros acendem o sinal de alerta porque lá vem bomba. Ou chuva, no caso. Indefesa e traumatizada com as enchentes que nos últimos anos deixaram submersas algumas das principais capitais do País, a população apela para que as autoridades tomem providências capazes de evitar futuras catástrofes. A gota d’água do problema, que obviamente não é apenas climático, foram as fortes tempestades em São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e, em um nível mais alarmante, na região serrana do Rio de Janeiro, onde cerca de 1.000 mortes foram contabilizadas após as incessantes chuvas do mês de janeiro. Como consequências diretas desse fenômeno natural, enchentes, deslizamentos de terra, soterramentos, transbordamentos e, infelizmente, óbitos. Sempre taxada de vilã da história, a chuva conta com um álibi que minimiza a sua culpa: a previsibilidade garantida por anos e anos de índices pluviométricos similares. Enquanto os políticos 12  LINHA DIRETA em revista

insistem em responsabilizar as águas de verão pelas catástrofes urbanas, as famílias – especialmente de baixa renda, que costumam morar em regiões de risco e sem infraestrutura – continuam a enterrar seus entes. “O Brasil é um país tropical, portanto as chuvas não devem ser encaradas como eventos aleatórios”, afirmou Josef Barat, presidente do Conselho de Desenvolvimento das Cidades da Fecomercio. “A persistência no erro tem se mostrado um dos principais fatores para as grandes catástrofes”, finalizou. Mas para prevenir o problema é preciso compreendê-lo antes de qualquer coisa. As fortes precipitações não são fenômenos exclusivos dos países tropicais, elas acontecem no mundo todo, em diferentes climas. Isso porque o aumento da temperatura ocorre em nível global. Nos últimos 150 anos, a Terra ficou 1°C mais quente. Isso pode parecer pouco, mas não é. “Com mais dióxido de carbono na atmosfera, o calor irradiado pelo sol en-


CIDADANIA tra em nosso planeta, mas encontra dificuldade maior para sair”, afirmou José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomercio. E mesmo que o problema seja antigo, o risco de acidentes associados a escorregamentos e processos correlatos é um fenômeno conhecido somente nos últimos 25 anos, quando começou o processo de urbanização acelerada. A história, então, deu uma guinada quanto à intensidade desses eventos, que ficaram mais extremos e passaram a ser auxiliados pela predominância do asfalto e das altas construções. “É por isso que chove tanto em São Paulo, aqui as nuvens encontram uma fenda para desabarem”, complementou Goldemberg. Isso também explica como a Avenida Paulista pode ser até 5°C mais quente do que o Horto Florestal, apesar de ambos os lugares se encontrarem no mesmo município. Na região metropolitana de São Paulo ainda é possível constatar que somados aos problemas ocasionados pelo homem – com a sua modernização rápida e não planejada – estão as condições naturais. “Esta área está quase toda englobada na Bacia do Tietê e tem uma enorme dificuldade para escoar águas”, esclareceu o geólogo Álvaro Rodrigues. A cultura da nossa sociedade é outro importante fator para a intensificação da problemática. Além de optar pela canalização de rios e córregos e não criticar a impermeabilização deflagrada pelo uso excessivo do asfalto, a sociedade apresenta descompromisso com a erosão, que às vezes acontece em seu próprio quintal, literalmente. “Precisamos parar de errar e investir na ampliação das calhas dos rios, no desassoreamento, na eliminação dos pontos de estrangulamento e no aumento da capacidade de retenção de água por infiltração”, pontuou Álvaro.

Legislação amiga... e esquecida!

rotada candidata a presidente Marina Silva -, sente na pele o descumprimento dos tratados a que adere. Isso porque os nossos “vizinhos” territoriais, e por assim dizer, boa parte dos países latino-americanos, são descumpridores históricos desse tipo de documento. O começo da gestão Dilma Rousseff parece chacoalhar esses velhos paradigmas, pois, segundo discurso dela própria, há necessidade real e urgente de transpor para a prática o que os governantes formalizam nos papéis. Se conseguir este feito, um enorme salto será dado na questão. Outro exemplo de “pedra no sapato” no grupo dos países ecologicamente preocupados, no qual o Brasil começa a exercer papel de destaque, são os Estados Unidos. “Os norte-americanos, ao contrário do que o senso comum propaga, costumam cumprir os acordos a que assinam. O difícil é fazer com que eles adiram a documentos desse teor”, explicou Ives. Mas os estrangeiros não são os únicos vilões do meio ambiente. No Brasil há um problema evidente em relação à ocupação irregular, ilustrado por encostas e morros repletos de moradias. Porém, a lei engessada e burocrática acaba por propiciar, inclusive, o seu descumprimento. “Coloquem-se na posição de um proprietário de terras irregulares. O valor necessário para regularizar os lotes é muito superior ao da multa aplicada em caso de violação. O que você acha que acontece na prática?”, questiona Paulo Rabello de Castro, presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio. Segundo Rabello, as leis brasileiras são uma espécie de “Alice no País das Maravilhas”, pois não levam em consideração a renda média das pessoas que realizam investimentos imobiliários no País. “Temos ótimas regulamentações, com cláusulas inspiradas e falhas pouco evidentes. Mas como tudo o que é extremamente bem escrito, aqui também há uma enorme dificuldade de implementação, cumprimento e fiscalização”, finalizou.

Desde 2001, a União controla uma lei de planejamento urbano com vigência em todo o território nacional. No entanto, como parece praxe na área, junto com ela caminham as dificuldades de cumprimento e fiscalização. “Se seguíssemos à risca as ordens federais nas ordinárias estaduais, solucionaríamos boa parte dos problemas encontrados no cenário atual”, afirmou Ives Gandra Martins, presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio. “Por que os tratados internacionais de prevenção ao meio ambiente não funcionam? Ora, simples. Porque os grandes interesses dominam o mundo e não há negócio que não esbarre nos recursos naturais”, concluiu Gandra. E o Brasil, inflamado pela crescente onda verde tão falada nos últimos anos - que teve a sua ideologia concretizada pela derLINHA DIRETA em revista  13


SAÚDE

Câncer de pele: detecção precoce pode salvar vidas Autoexame é essencial para o diagnóstico do tumor no início Renata Sueiro Nos últimos anos a incidência de câncer de pele tem aumentado no Brasil e chegou a ultrapassar os casos de lesões na mama e na próstata. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), as estimativas para este ano são de aproximadamente 490 mil novos casos, 236 mil em homens e 250 mil em mulheres. O câncer de pele é o tipo mais frequente e corresponde a quase 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil. A pele é o maior órgão do corpo humano. Ela determina o limite com o meio externo e serve como camada protetora de calor, luz e infecções, além de regular a temperatura corporal, controlar o fluxo sanguíneo e as funções sensoriais, e proteger o corpo contra os agentes naturais. Sem proteção, ela fica vunerável e aumentam os riscos de doenças. O câncer de pele é caracterizado pelo crescimento anormal e descontrolado das células, distribuídas em camadas que dão origem a um novo tecido chamado neoplasia. A profundidade de camadas afetadas determina o tipo cancerígeno. Os mais comuns são os carcinomas espinocelulares (camada espinhosa que cresce de maneira rápida e dá origem a feridas), e os carcinomas basocelulares, (pequena pápula ou ferida na subcamada da epiderme com crescimento gradual que não ci-

Já o melanoma, ou câncer maligno, começa nas células produtoras de melanina e pode avançar e atingir órgãos importantes como cérebro e pulmão. Segundo o INCA, características como pele, cabelo e olhos claros, pessoas ruivas com sardas e pintas pelo corpo ou manchas de infância, exposição excessiva ao sol na infância e histórico pessoal ou familiar da doença são fatores precursores desse tipo de câncer. Aqueles que possuem esses fatores de risco devem redobrar a proteção contra os raios ultravioletas e realizar exames periódicos.

catriza), ambos os casos apresentam baixo grau de malignidade.

Entre outros fatores de risco está a exposição diária ao sol por

Carcinomas espinocelulares

Carcinomas basocelulares

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SAÚDE um longo período de tempo. Na categoria de telecomunicações, casos são diagnosticados frequentemente entre os profissionais que desempenham atividades ao ar livre como cabistas, IRLAs e IRTPs. Foi isso o que aconteceu com o delegado do Sintetel e funcionário da Ability Lelis Franclin, que teve reincidência do tipo não-melanoma e atualmente promove campanhas de conscientização contra a doença. “Eu tive carcinoma nos lábios e depois no braço”, conta. “Retirei com cauterização e hoje faço uso de protetor para evitar o reaparecimento”, completa. A dermatologista Daurea Machado faz um alerta. “O indivíduo que trabalha na rua tem predisposição potencializada e isso aumenta as chances de desenvolver o câncer de pele”.

O combate A maior causa do câncer de pele é a radiação ultravioleta transmitida por meio dos raios do sol. Segundo a dermatologista Luciana Godói, a radiação solar, provoca alterações no DNA das células da pele. “Com o acúmulo da radiação e o tempo de exposição, aumentam os riscos de algumas dessas alterações virem a se transformar em câncer”, explica. Por isso, os trabalhadores que sofrem exposição excessiva devem ter atenção redobrada com a prevenção. É indicado o uso de chapéus de abas largas, camisetas de manga comprida, calças, óculos escuros, protetor solar, além de evitar a exposição prolongada entre 10h e 16h. Segundo Lelis, capacetes e roupas de manga comprida não são suficientes. “É essencial o uso de protetor solar. Temos que zelar pela nossa saúde, nos unir e cobrar a inclusão dele no kit, juntamente com os equipamentos de proteção individual, para mantermos uma vida saudável e de qualidade”, afirma. A médica Daurea Machado explica que o filtro solar deve ser aplicado 30 minutos antes da exposição ao sol, replicado de duas em duas horas, após contato com a água ou secagem com a

Melanoma

toalha. “Para condições especiais, como trabalho com exposição excessiva à radiação solar, os profissionais devem fazer uso de protetor de fator [FPS] igual ou maior que 30”, ressalta. Examinar a pele regularmente também é uma forma de prevenção. O autoexame é importante para diagnosticar precocemente o aparecimento de tumores e, com isso, aumentar a probabilidade de cura da doença. A inspeção é feita a olho nu com o objetivo de procurar lesões (pintas, manchas ou feridas) suspeitas que costumam aparecer em locais que ficam mais expostos ao sol. O autoexame precisa ser feito na frente do espelho para melhor visualização. Devem ser examinados mãos, braços, axilas, pernas, região genital, planta e peito dos pés, esboços entre os dedos, couro cabeludo, pescoço, orelhas, costas e nádegas. Durante o autoexame devem ser procuradas manchas, pintas ou feridas de crescimento rápido; manchas que causem dor, coceira, ardência, escamação ou sangramento; sinais ou pintas que alteram sua aparência, tamanho, cor e forma; feridas que não cicatrizam em quatro semanas; e mudança na textura da pele. Se houver suspeita de lesões, o paciente deve procurar o profissional da saúde para que ele realize um screening dermatológico, segundo explica Daurea Machado. “O screening consiste na análise do histórico familiar, as doenças anteriores, os hábitos [alimentação e vícios], o estilo de vida, exame físico, dermatoscopia dos sinais da pele e, se necessário, biópsia da lesão suspeita”. Entretanto, o médico deve ser consultado regularmente. “O indivíduo que possui fatores de risco deve procurar um dermatologista anualmente para realizar um check-up, mesmo que ele não se exponha mais ao sol”, afirma Luciana Godói. Lelis Franclin aproveita a deixa para passar o seu recado: “se você desempenha funções ao ar livre, exija o protetor solar na sua empresa. Vamos combater esse mal”. LINHA DIRETA em revista  15


TECNOLOGIA

O médico e o monstro da era digital Novos mecanismos da internet são usados para o bem e para o mal Emilio Franco Jr. As redes sociais entraram rapidamente na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. É tarefa realmente complicada encontrar quem não saiba o que é Facebook, Twitter, Orkut ou Youtube, para citar apenas as mais famosas. No início aparentemente inocente que tiveram como espaços para compartilhar informações pessoais e construir rede de contatos, esses endereços eletrônicos ganharam dimensões assustadoras, capazes inclusive de derrubar governos ditatoriais. Em janeiro deste ano, uma onda de protestos contra regimes autoritários varreu o norte da África e o Oriente Médio e conseguiu tirar do poder líderes que há anos comandavam países como Tunísia e Egito. O curioso nestes casos não é só a mobilização dos povos por democracia, mas também a forma pela qual conseguiram organizar manifestações gigantescas a ponto de atrair os olhares internacionais para suas causas. Na Tunísia, opositores ao governo de Zine El Abidine Ben

Ali bolaram a revolta popular por meio do Facebook. A importância da rede no episódio foi tão grande que parte dos manifestantes árabes agradeceu, em faixas, ao judeu Mark Zuckerberg pela criação do site. A revista semanal Time, inclusive, trouxe em sua capa a foto do gênio da informática com um beijo no rosto e o dizer “obrigado” em nome do “bom povo da Tunísia”. Esse caso ilustra bem o papel que as redes sociais assumiram como espaços para a livre troca de informações. Entretanto, esse intercâmbio de conhecimento está limitado ao desejo individual de compartilhar fatos e opiniões com os demais. Jornalista da Folha de S. Paulo responsável pela cobertura política de Brasília, Fernando Rodrigues afirma que o momento é paradoxal, no qual a internet, com essas atuais características, enfrenta retração no fornecimento de informações por parte de autoridades políticas. “É fundamental que os governos tenham regras claras sobre o compartilhamento de seus dados”. Atualmente, mais de 80 países espalhados pelo globo já têm leis nesse sentido, mas o Brasil ainda engatinha. O assunto entrou na pauta de discussão do governo federal apenas no ano passado e, assim, o Congresso começou a debater a aplicação de leis claras que estipulem prazos para a divulgação de informações classificadas como confidenciais. “Tudo o que um governante produz não pertence a ele, mas ao Estado”, acredita Fernando. No País, informações históricas são até hoje mantidas em sigilo

16  LINHA DIRETA em revista


TECNOLOGIA por falta de regulamentação. Entretanto, a presidenta Dilma Rousseff já cobrou do Senado a votação da proposta pelo fim da confidencialidade. Pela nova regra, documentos seriam mantidos longe do público por no máximo 50 anos quando forem classificados como “ultrassecretos”, já contando uma possível renovação máxima do período inicial, que é de 25 anos.

O WikiLeaks e informações secretas Na luta pelo fim do silêncio entre governo e população, o WikiLeaks ganhou notoriedade. Criado pelo sueco Julian Assange (foto) com o objetivo de divulgar informações confidenciais vazadas de governos ou grandes empresas, o site já publicou diversos documentos norte-americanos e levou ao conhecimento popular os exageros cometidos pelo exército dos Estados Unidos em guerras como a do Afeganistão, além do linguajar chulo usado pelas autoridades dos governos Bush e Obama para descrever suas impressões acerca de medidas e personalidades políticas de outros países. O universo digital começa a assumir o papel de divulgador de informações incômodas ou sensíveis por meio de endereços eletrônicos como o WikiLeaks – indicado em fevereiro ao Prêmio Nobel da Paz pela contribuição dada à liberdade de expressão e transparência no século XXI – ou das redes sociais, que servem como espaço não só para publicação de fatos, mas também como meio de organização popular e pressão contra os governos. O que chama a atenção e acaba passando mais despercebido dos debates é justamente o protagonismo dos meios online. Vazar esses documentos da diplomacia norte-americana nunca foi tarefa complicada, já que cerca de 500 mil servidores públicos têm acesso às informações que estão sendo publicadas. A diferença atual é a fácil e rápida divulgação, dificultando o controle.

Sigilo e limite da liberdade Uma característica percebida por quem analisa o comportamento nesse meio eletrônico é que o brasileiro fuça mais nesses sites da internet. Por isso, muitos se perguntam se ainda é possível ter privacidade. “Os aplicativos que usamos na internet são incompatíveis com o conceito de privacidade”, afirma Renato Opice Blum, advogado especialista em crimes digitais, para quem as mídias sociais são muito poderosas. O maior problema é como essas redes são usadas, muitas vezes de forma a divulgar informações sensíveis de maneira totalmente voluntária.

O Estado de São Paulo passou por problemas recentes em função da confidencialidade de informações públicas e parece ter aprendido com o burburinho criado pela publicação de segredos da terra do Tio Sam.

A nova realidade exige que as pessoas saibam usar esses meios adequadamente para não divulgar opinião sem ter informação ou, até mesmo, para tomar precauções quando publicarem textos sobre suas vidas. Para Renato, as redes sociais são seguras, o que falta é configurá-las de forma adequada. O principal alerta quanto à divulgação de informações pessoais é em relação a quem pode ter acesso às mensagens que contêm a rotina pessoal. Em relação às ideias, e não adianta recorrer ao discurso da liberdade de expressão, o alerta é que nem tudo pode ser dito.

No começo deste ano, a imprensa denunciou a venda de dados sigilosos do Infocrim, sistema de informações criminais, que detalham os locais e a frequência com que mais ocorrem assaltos, roubos e latrocínios no território comandado por Geraldo Alckmin (PSDB). Frente ao problema, que escancarou ainda um racha na polícia paulista, o governador resolveu tornar públicos todos os dados referentes à criminalidade estadual. “A transparência máxima funciona como dispositivo de proteção dos governos”, opina Fernando.

Uma usuária do Twitter, por exemplo, ofendeu os nordestinos após a eleição de Dilma Rousseff e foi processada pela OAB por racismo e ainda perdeu o emprego no escritório em que trabalhava. O mesmo ocorreu com a funcionária responsável por atualizar a conta do STF (Supremo Tribunal Federal) no microblog e que, na época da aposentadoria do atacante Ronaldo, tuitou mensagem questionando quando o senador José Sarney penduraria as chuteiras. “Uma coisa é liberdade de expressão, outra é ofensa”, ressalta Renato. LINHA DIRETA em revista  17


APOSENTADOS

História viva Osvaldo Rossato, ex-presidente do Sintetel, é um dos ícones das telecomunicações brasileiras nas últimas décadas Amanda Santoro Quem vê o pacato Osvaldo Rossato caminhar pelos corredores do Sintetel não consegue imaginar o lado firme e enérgico do sindicalista – faceta muito lembrada por companheiros que trabalharam com ele quando foi presidente da entidade (1987 a 1997). Com muitas histórias para contar, Rossato afirma que precisou se acostumar na marra a desacelerar no dia a dia. Agora, o ex-presidente do Sintetel tem sob a sua administração a Colônia de Férias de Ilha Comprida, localizada no litoral sul de São Paulo. “Tenho muita coisa para cuidar aqui, isso deixaria muita gente de cabelo em pé, mas é evidente que precisei readequar a minha rotina”, afirmou. Formado em Direito e pai de quatro filhos, Rossato nasceu em 3 de junho de 1946, em Coroados, cidade do noroeste paulista próxima a Birigui. Até os 18 anos de idade, o sindicalista dedicou-se a empresas diversas na função de escriturário e officeboy. Após prestar serviço militar, ingressou no quadro de funcionários da Telesp, onde permaneceu durante 33 anos, até se aposentar. Em mais de três décadas de empresa, Rossato passou por diferentes ocupações, como técnico da área de projetos 18  LINHA DIRETA em revista

e supervisor. “Não era bom trabalhar lá, era ótimo”, revelou. “Já entrei na Telesp recebendo salário superior ao mínimo em 10%, mas logo no segundo mês, graças a uma ação sindical, tive o meu salário duplicado”, lembra com carinho da época em que o setor ainda não havia sido privatizado e possibilitava aos trabalhadores “fazerem carreira”. Desse tempo, as lembranças de um ambiente agradável que possibilitou o vínculo de amizade entre os colegas de serviço. “Muitas vezes ficávamos na empresa pelo clima, mais até do que pelo salário, porque era um lugar gostoso”, recorda. Na época, Rossato conheceu Almir Munhoz, atual presidente do Sintetel, que trabalhava, inclusive, na mesma seção que ele. Outra sindicalista muito importante para a entidade, Gonçala Aparecida Cruvinel, falecida no ano passado, também era a sua conhecida desde os tempos de Telesp. Foi, inclusive, na sua presidência que a Secretaria da Mulher foi criada, sendo Gonçala incumbida de coordená-la. Mas foi só em 1978, quando foi transferido para a cidade de Presidente Prudente, que Rossato iniciou a sua participação no


APOSENTADOS mundo sindical. Tornou-se delegado do Sintetel e, em 1984, veio para São Paulo ocupar a cadeira de diretor-assistente. Ficou três anos na posição e, após o término daquele mandato, assumiu a presidência. Nos dez anos subsequentes e por três mandatos completos, o simpático Rossato liderou o Sindicato com convicção. Com o término do ciclo, passou a ocupar a vaga de tesoureiro, função em que permaneceu até o ano de 1999, quando resolveu se aposentar. Mas sindicalista que é sindicalista não consegue largar o batente por muito tempo. Há sete anos, Rossato administra a Colônia de Férias do Sintetel de Ilha Comprida.

Carreira sindical de sucesso

Ato pela qualidade real dos salários, em 1985. Rossato frente a mais uma assembleia repleta de trabalhadores

Em meados dos anos 80, quando era delegado do Sindicato, Rossato participou de um encontro para dirigentes sindicais realizado na Colônia de Férias de Caraguatatuba. Lá, foi debatida a compra de um clube de campo pela Telefônica, aquisição duramente criticada pela maioria dos presentes. Na contramão do pensamento preponderante, o sindicalista evidenciou o outro lado da questão. “Não podíamos criticar daquele jeito uma ação que havia agradado os trabalhadores, mas eu era voz destoante, não queriam que eu falasse. Uma colega pediu calma e uma chance para que eu expusesse o meu ponto de vista, e foi aí que o Geraldo Vilhena [então presidente da entidade] começou a prestar atenção em mim”, conta.

Magalhães, ministro das Comunicações da época, e os trabalha-

Com a chegada das eleições sindicais, Osvaldo Rossato ingressou na diretoria executiva da entidade. Percebendo o potencial do novato, os dirigentes mais experientes passaram a investir nele com cursos, seminários e palestras. “Uma semana após entrar na diretoria fui fazer um curso nos Estados Unidos. Depois vieram módulos em Israel e na Itália, então a minha carreira deslanchou como um rojão”, explicou.

dores tiveram as suas reivindicações atendidas. Enquanto presidente, Osvaldo Rossato também percebeu a necessidade de migrar o Sintetel para a Fenattel (Federação Nacional dos Trabalhadores de Telecomunicações). Na época, o Sindicato estava filiado à outra organização da área de Publicidade, sem muita afinidade com a categoria das telecomunicações. Ele, então, foi um dos responsáveis pela reconfiguração da federação, ocupando a presidência de 1991 a 1997, quando também deixou a presidência do Sintetel. “Fiz como o Pelé, resolvi encerrar a carreira no auge, por cima”, diverte-se.

Conjuntura política favorável

Mas, também, muitas provações foram necessárias para que o administrador da Colônia de Ilha Comprida alcançasse o respeito da categoria. A primeira vez que conduziu uma assembleia, por exemplo, foi durante a Greve de 1985, quando os ânimos já estavam alterados. “Era um rio de gente, tudo lotado da Rua do Arouche até à 7 de Abril, e eu não havia recebido treinamento específico para isso”, confidenciou.

Reconhecido pela boa gestão à frente da entidade, o ex-presidente atribui não só à eficiência da equipe as vitórias alcançadas no período. Era um tempo de efervescência política, com o surgimento do PT (Partido dos Trabalhadores) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores), então o sentimento de reivindicação brotava naturalmente na classe trabalhadora. A ditadura, já desgastada, dava espaço a liberdades inexistentes nos anos anteriores. Em meio a isso, Rossato ingressou no Sintetel. “Conseguíamos aumento salarial a cada três meses, fizemos três greves em um único ano, então fica evidente que a conjuntura política era favorável”, pontuou.

Para entender a magnitude do movimento, o Governo preparou, inclusive, a Operação Camaleão, que propunha um plano alternativo de telecomunicações enquanto o setor estava em greve. Como o sistema de repasse de dados à Brasília era muito eficiente, o Governo sabia, em tempo real, todos os passos do movimento. Era de conhecimento público que aquilo não era blefe. Por conta disso, Rossato foi chamado ao Planalto para negociar com Ivan de Souza Mendes, chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações). “Passei para ele que se as reivindicações fossem aceitas, o Sindicato faria uma assembleia para encerrar a greve”. Ivan, então, ligou para Antônio Carlos

Durante a gestão do ex-presidente foram concretizadas algumas das reivindicações mais representativas da categoria: aquisição do vale-refeição, da cesta básica, do vale-transporte, do adicional de 50% sobre o valor de hora extra e, depois, o aumento desse índice para 100%. “A nossa categoria sempre esteve à frente das demais, sempre foi vanguardista, então éramos empurrados pelos trabalhadores e abraçávamos a causa”, explicou. “Tanto isso é verdade que fomos os primeiros a alcançar 30 dias de férias quando a lei estipulava apenas 20 e reduzimos a jornada de trabalho das telefonistas para seis horas diárias”, finalizou. LINHA DIRETA em revista  19


FOTO BLOG DO PLANALTO

CAPA

O início de Dilma Analistas avaliam o começo do novo governo Marco Tirelli e Emilio Franco Jr. Durante as últimas eleições gerais acontecidas no ano passa-

função de uma suposta declaração na qual Dilma teria dito ser

do, poucos conheciam a mulher que o até então presidente da

favorável ao aborto.

República Luiz Inácio Lula da Silva havia indicado para substituí-lo. Com perfil oposto ao do carismático presidente, Dilma

Águas passadas. Parece que ninguém mais se lembra da Dilma

Rousseff dividiu opiniões. Conquistou parcela do eleitorado que

desenhada pela maioria da imprensa. A “arrogância” deu lugar

aprovava o governo petista ou que já a conhecia do período em

à etiqueta, o “despreparo” virou perfil técnico e o “fantoche de

que fora ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, e foi alvo de

Lula” passou a ser gestora competente. Nem vem ao caso discutir

críticas ferrenhas de quem não a conhecia ou reagiu com precon-

se a mídia brasileira tentou mostrar alguém que não existia ou se o

ceito à sua candidatura.

milagre de transformar água em vinho voltou a ocorrer anos mais tarde. A grande questão é que, de maneira geral, Dilma se mostrou

As acusações variavam: de guerrilheira à simpatizante da esquerda

chefe de estado de opiniões próprias, cobradora, racional, técnica

radical encabeçada pelo venezuelano Hugo Chávez. Outros ti-

e preocupada com as questões nacionais mais do que com o jogo

nham certeza de que ela seria estatizante e velhos temores des-

político. Essa é a impressão passada por economistas, ex-minis-

cabidos eram reproduzidos aos quatro cantos. Houve, inclusive,

tros, deputados e sindicalistas ouvidos por Linha Direta em Revista

forte campanha contra por parte de segmentos religiosos em

para definir quem é Dilma e seu governo nestes meses iniciais.

20  LINHA DIRETA em revista


CAPA

O comportamento da nova gestão

países do hemisfério, que engloba as principais economias em as-

Nos primeiros dias de governo da nova presidenta, como pediu

tou a ser independente e a seguir o protocolo, isso ficou claro

para ser chamada, desenhou-se uma postura diferente da de Lula nas questões internacionais. As viagens ao exterior de Dilma e o primeiro chefe de estado a ser recebido no Palácio do Planalto demonstraram a preocupação em valorizar os três principais parceiros comerciais do Brasil: Argentina, China e Estados Unidos. Os “hermanos” são os maiores aliados no campo econômico dentre todas as nações do continente, e a relação cativada pelo Itamaraty reforça a influência do País na região. A China, por sua vez, quer estreitar as relações comerciais, e a visita de Dilma ao país oriental trouxe como resultado promessas de investimentos milionários por aqui. O destaque da diplomacia brasileira lá fora atraiu a atenção dos norte-americanos, que querem o Brasil como aliado estratégico. A visita de Barack Obama, acompanhado de sua família, logo no início do governo Dilma sinalizou o desejo de estreitar as relações até certo ponto estremecidas na gestão anterior. Reconhecendo a importância do País, o presidente dos Estados Unidos discursou ao povo brasileiro no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e disse que “o Brasil sempre foi o país do futuro, mas agora esse futuro está aqui”. E ainda completou elogiando a presidenta brasileira. “No passado, políticos e artistas protestaram contra a ditadura. Uma das pessoas que protestaram foi presa e sabe o que é viver sem seus direitos mais básicos. Porém, ela também sabe o que é perseverar. Hoje ela é a sua presidente Dilma Rousseff ”. Talvez por esse passado de restrição à liberdade e repressão militar é que o novo governo tenha adotado como marca a luta pelos

censão, e não as já desenvolvidas). “A política internacional volna questão dos direitos humanos e na visita de Obama”, opina o presidente do Conselho de Relações Institucionais da Fecomercio e ex-deputado, Paulo Delgado. No campo econômico, o Banco Central (BC) adotou nova postura, mesmo mantendo a filosofia de regime de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. A política monetária já não é a mesma. Quando Henrique Meirelles comandava o BC, no governo Lula, as posições adotadas eram mais conservadoras, enquanto o órgão, na nova gestão, resolveu enfrentar os peixesgrandes. “O BC está mais independente do mercado financeiro e está mudando para melhor”, avalia o diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, Yoshiaki Nakano. A autonomia e as ações do Banco Central foram elogiadas por outros estudiosos do assunto. Para Octávio de Barros, economista-chefe do banco Bradesco, é possível que o BC seja autônomo e cooperativo ao mesmo tempo. “Não há contradição nenhuma nisso”. O ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto acredita que “Alexandre Tombini [atual presidente do BC] está mais antenado com a moderna economia e com o que acontece no mundo do que esses críticos que estão por aí”. Embora tenham se mostrado contrariados em relação a algumas ações pontuais do governo, analistas avaliaram de maneira positiva este início. Para Nakano, a forma como a presidenta está se relacionando com a base aliada é um exemplo disso. “É um governo mais técnico e menos ideológico do que poderia se esperar do PT.”

direitos humanos. Mas essa bandeira agora defendida com unhas e dentes pelo Itamaraty mostra, na verdade, o desejo de o País ingressar no Conselho de Segurança da ONU e, para isso, não quer ter a imagem associada à defesa de países que transgridem regras morais. Os chefes de estado da China e EUA, por mais que não tenham sido enfáticos em seus pronunciamentos sobre o tema, mostraram publicamente simpatia pelo anseio brasileiro. Apesar de muitas semelhanças, principalmente no âmbito social, a comparação entre o atual governo e a gestão anterior expõe diferenças marcantes. Entre elas está o afastamento do Irã – com apoio a condenações ao país na Comissão de Direitos Humanos da ONU – e reaproximação com os Estados Unidos, mas sem deixar de lado a prioridade pela política sul-sul (ou seja, entre

Delfim Netto: “O maior problema do Brasil é o pânico do setor financeiro em ter que ganhar a vida honestamente”

LINHA DIRETA em revista  21


CAPA Prova disso é a concessão à iniciativa privada de setores estraté-

gundo Paulo Delgado, “o silêncio de Dilma não significa segredo

gicos, como é o caso da aviação civil. O governo já anunciou que

porque ela já deixou clara sua forma de governar”.

trabalhará em parceria com empresas não controladas pelo Estado para modernizar os principais aeroportos do País e melhorá-los a tempo da Copa do Mundo de 2014. “O governo Dilma é mais pragmático do que o anterior, ou seja, ela é menos política e mais comprometida”, afirma Octávio de Barros.

A relação com os parlamentares, por sinal, começou em clima muito mais harmonioso do que o enfrentado por Lula. A coalização de partidos que sustenta o PT tem mais de 70% do Congresso. Esse apoio pode ser medido na aprovação do salário mínimo deste ano, na qual a base aliada votou maciçamente pela proposta do

Talvez por isso demorou pouco para a presidenta anunciar corte

Planalto, com raríssimas dissidências. Neste caso, o valor defen-

de R$ 40 bilhões no orçamento da União, classificado pelo econo-

dido pelas centrais sindicais não contou com o apoio do governo,

mista Paulo Rabello de Castro como “insuficiente”. Ele é quem

mas Artur Henrique, presidente da CUT, diminui a questão e diz

fez mais ressalvas quanto às políticas do novo governo, mas,

que o diálogo com o movimento sindical está fortalecido. “Esse

mesmo assim, não se furtou a reconhecer seus méritos. “Dilma começou bem, mas parece ter medo político de dizer seus programas com clareza”. O temor a que se refere Rabello inclui o complexo desafio de realizar as reformas tributária, política e da previdência. A importância de se fazer essas reformas ainda no primeiro ano e o reflexo disso para o Brasil entrar em um ciclo de alta produtividade, semelhante ao que ocorreu na Europa pós-guerra, foi destacado por Octávio de Barros. “O governo Dilma necessita de uma agenda de destravamento que contemple redução da burocracia, da carga

episódio, interpretado precipitadamente pela imprensa como uma espécie de afastamento de Dilma para conosco, provou que nosso papel social, como propositores e instrumento de pressão por mudanças, foi plenamente respeitado”, afirma. Artur ainda acrescenta que o movimento sindical foi ouvido pelo governo, o que confirma uma relação construída pelo antecessor Lula. “Nos períodos anteriores da chamada Nova República, esse diálogo praticamente não existia”, completa. A presidenta Dilma, apesar de não atender a reivindicação na questão do mínimo, topou corrigir a tabela do imposto de renda, sugestão

tributária e dos custos trabalhistas, e melhoria na infraestrutura e

dos sindicalistas.

nos portos.”

O presidente da Força Sindical e deputado federal Paulo Pereira

A presidenta se comprometeu a fazê-las, por mais que o assunto não seja corriqueiramente abordado por ela. A alteração no sistema político está em discussão tanto na Câmara quanto no Senado. No tocante a mudanças no INSS, tramitam no Congresso projetos de lei que preveem o fim do fator previdenciário. Se-

da Silva (PDT/SP) acredita que Dilma investirá, daqui em diante, no aumento da renda do trabalhador porque sabe que, baseado na experiência do governo anterior, o aumento faz a economia crescer. “Com mais dinheiro, as pessoas compram mais, o comércio aumenta as vendas, a indústria tem que produzir e passa a contratar mais gente”, afirma. “Essa política deu certo no governo Lula, enquanto a de contenção de despesas e de arrocho salarial não funcionou no governo Fernando Henrique Cardoso”. A conclusão de quem não faz parte do universo político é boa. “Se a forma de agir com o Congresso seguir como na questão do mínimo, teremos uma relação muito positiva entre executivo e legislativo”, aposta Yoshiaki Nakano, diretor da escola de economia da FGV.

A conjuntura para o primeiro ano de mandato Dilma assumiu a presidência com cenário global nada promisDeputado Paulinho da Força: “O movimento sindical não pretende romper com a presidenta por acreditar que ela tem compromissos com os trabalhadores”

22 LINHA DIRETA em revista

sor. A Europa está de joelhos com a crise em Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, imensa quantidade do PIB mundial está sobre estresse, os EUA vivem um dos piores momentos de sua história


CAPA com altos índices de desemprego e o Oriente Médio sofre um processo de desestabilização política que altera o preço do petróleo no mundo. Felizmente, na contramão das tendências negativas, o Brasil vive um bom momento que já se estende por tempo considerável. “Possuímos forças motoras que nos levaram ao renascimento econômico. Nos últimos dez anos contamos com alta constante dos preços de exportação de nossas commodities [minério de ferro, produtos agrícolas, etc.] o que salvou o Brasil”, avalia Octavio de Barros. Além da alta dos preços das commodities, que são as matérias-primas, existem outros fatores que contribuíram para a situação positiva em que o País se encontra. Segundo o economista do Bradesco, a estabilidade monetária, a autonomia do Banco Central, os programas sociais ousados e abrangentes, a educação quantitativamente melhor, o acesso ao crédito popularizado e o amadurecimento institucional fizeram do Brasil um País que retomou o seu crescimento econômico. A preocupação que toma conta nos primeiros meses é o combate à inflação, que pode ultrapassar o teto da meta de 6,5%. A equipe econômica resolveu apostar em elevações graduais da taxa de juros, abaixo do que o mercado espera ou pressiona. A avaliação é que o cenário internacional está ocasionando a alta dos preços, e não a demanda interna, como defendem alguns. Para o ex-ministro Delfim, houve mudança na estrutura da demanda que não pode ser resolvida somente com taxa de juros. E é o que pensa, também, o economista-chefe do Bradesco. “Sai mais barato para o País combater a baixa produtividade do que manter os juros altos para tentar conter a inflação”.

nomia depende da política e o pior argumento que você pode usar no Congresso é a lógica”. Com esse cenário desenhado, os desafios mais urgentes do novo governo parecem ser o combate à inflação, a melhora da infraestrutura e a realização de reformas. O trabalho já feito até aqui pela presidenta, contudo, foi bem avaliado. “Nota 9,9”, conclui Delfim Netto.

O que não andou bem para o governo Mesmo com a boa avaliação no que diz respeito à gestão do Estado até aqui, Dilma sofreu abalos com as denúncias sobre o aumento em mais de 20 vezes do patrimônio de seu, até então, ministro-chefe da Casa Civil Antônio Palocci. Boa parte da fortuna foi amealhada pela empresa de consultoria dele após a eleição da presidenta, quando Palocci teve participação importante como um dos principais articuladores. O episódio, que culminou na demissão do agora ex-ministro, desgastou um pouco o prestígio da presidenta, acusada de blindar seu aliado para que a crise passasse sem maiores consequências. Para o lugar dele, Dilma escolheu Gleisi Hoffmann, senadora de perfil técnico cujo trabalho deve se assemelhar àquele desenvolvido pela presidenta durante o governo Lula. Ao perder seu articulador político, Dilma remanejou outros dois ministros. Ideli Salvatti deixou a pasta da Pesca para comandar as Relações Institucionais, cargo ocupado anteriormente por Luiz Sérgio, que trocou de ministério com a colega. A explanada fica mais com a cara da nova presidenta, com duas mulheres à frente de postos-chave do governo.

Do ponto de vista da política monetária, o Brasil é muito pouco eficaz. Segundo Nakano, o que segura a inflação no País é a apreciação cambial e a razão para isso é que se mantém resquícios da época da hiperinflação. “A taxa de câmbio é tudo, menos flutuante. E é mal administrada. Nós não podemos ficar de braços cruzados para a monetização [transformação de bens em dinheiro] americana”, externou. Para ele, o Brasil precisa mudar a forma de integração da economia global. “Nós optamos por integrar via mercado financeiro, mas a história mostra que a melhor maneira de defender o interesse nacional é via comércio.” Ácido e bem humorado, Delfim Netto provoca. “A maior preocupação do Brasil hoje é o pânico do setor financeiro de ter que ganhar a vida honestamente”. Para o ex-ministro, o País tem recursos, porém gasta de maneira ineficiente. “Infelizmente, a eco-

Octavio de Barros: “O governo Dilma é mais técnico e menos político”

LINHA DIRETA em revista  23


MULHER

Decisões para toda a vida Projeto reforça a capacidade das trabalhadoras e ensina a elas como devem se organizar no local de trabalho Marco Tirelli O projeto “Decisões para Toda a Vida” é uma iniciativa para mobilizar mulheres entre 14 e 29 anos a fim de que reflitam sobre os rumos a serem tomados nas áreas profissional e pessoal. A implementação do programa da Confederação Sindical Internacional só foi possível no Brasil com a contribuição do Sintetel e de vários parceiros, entre eles, a UNI Américas Mulheres, a Força Sindical e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). O foco principal do “Decisões para Toda a Vida” são as campanhas atreladas ao universo sindical, com reuniões e distribuição de material impresso. Segundo Maria Edna Medeiros, secretária da Mulher do Sintetel, “espera-se que as envolvidas possam ter melhor colocação no mercado

Participantes desenvolvem o tema Decisões para a Vida por meio de dinâmica de grupo

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de trabalho e, acima de tudo, que consigam conciliar a vida pessoal com o lado profissional”. Outro ponto usado para atingir o público foi o uso da internet com a divulgação de websites interativos. Se a implementação em algumas localidades do mundo começou em 2008, no Brasil teve início em 21 de novembro de 2009 na empresa Action Line de Campinas, onde foi realizada a primeira atividade do projeto.

No Brasil De 28 a 30 de maio de 2010, o Sintetel reuniu cerca de 50 mulheres em sua colônia de férias de Caraguatatuba. As trabalhadoras tiveram a oportunidade de participar de atividades temáticas e oficinas de trabalho coordenadas por Sirlei de Oliveira e Paulo Roberto do Valle, ambos pertencentes ao setor de projetos do Dieese. Os temas abordados foram relações e responsabilidades compartilhadas entre homens e mulheres na família, condições de trabalho e possibilidades de mudança. “A intenção foi propiciar às trabalhadoras uma reflexão sobre as dificuldades que a mulher encontra para realizar suas diversas atividades e a necessidade do compartilhamento das responsabilidades domésticas com o companheiro para redução das desigualdades de gênero”, explica Paulo Roberto, coordenador do Projeto pelo


MULHER Dieese. Por meio de encenações e discussões, as participantes refletiram sobre as desigualdades entre homens e mulheres como questão histórica, cultural, social e estrutural. Segundo Kathy Gonzalez, responsável pelas mulheres e jovens da UNI Américas, o Brasil foi escolhido para o projeto porque possui grande número de trabalhadoras com o perfil adequado para desenvolver e aprofundar os temas exigidos.

O Ciclo do Projeto chega ao final em 2011 A campanha “Decisões para Toda a Vida” não ficou só na teoria. Ela melhorou na prática a carreira das mulheres mais jovens, atraiu milhares delas para o movimento sindical e as incentivou a se candidatarem a – e a conseguirem – posições de chefia. Nos dias 26 e 27 de abril de 2011, o atual módulo teve seu fechamento oficial no Brasil, na sede do Sintetel, em São Paulo. “Por conta do projeto já conseguimos acordos coletivos melhores com cláusulas específicas para as mulheres, como aumento da licença-maternidade em algumas localidades e auxílio para mães com crianças no jardim da infância”, pontuou Kathy Gonzalez. Na ocasião, o presidente do Sintetel, Almir Munhoz, discursou sobre a importância da atuação delas no meio sindical. “Na mesa de negociações precisamos ter mulheres com reivindicações voltadas para o gênero e mais delegadas para ser a extensão do Sindicato na base”. O evento teve início com a dinâmica de entrosamento aplicada pela professora Bia Esteves. Em seguida, destacou-se a importância da organização das mulheres nos seus locais de trabalho e dos acordos globais assinados com as multinacionais. “O projeto foi importante porque semeou confiança em poder contar com maior participação das mulheres nos sindicatos, mesmo porque agora as participantes estão preparadas para enfrentar os desafios impostos pela atualidade”, destaca Cenise Monteiro de Moraes, diretora do Sintetel.

O encerramento mundial do 1º ciclo ocorreu de 9 a 11 de maio, em Amsterdã, na Holanda. O Sintetel e a Força Sindical foram representados por Paula Aparecida S. Lima, diretora do Sindicato em Ribeirão Preto. “Conseguimos extrair boas ideias para montar um plano de ação e mostrar como este projeto tem sido importante para conquistar uma vida melhor e mais digna para as trabalhadoras, que é a razão do nosso trabalho”, completa.

Resultados positivos ao redor do mundo • O projeto atingiu mais de 90 mil mulheres, das quais 30% aderiram ao movimento sindical. Segundo a organização, a campanha tem potencial para multiplicar este número. Verificaram-se aumentos significativos de adesão de mulheres jovens aos sindicatos no Brasil (5 mil) e na Indonésia (15 mil). • Aumentou o número de cláusulas relacionadas ao gênero nos acordos coletivos: no Brasil estão em vias de negociação 50 novas especificidades relacionadas ao gênero. Na África do Sul, foram firmados cinco novos contratos coletivos que incluem cláusulas sobre o assédio sexual e os direitos parentais. Na Indonésia, foram negociadas a igualdade salarial e a licença maternidade em duas fábricas de produtos alimentares que abrangem 1.200 mulheres. • Sindicatos foram criados. No Cazaquistão, as jornalistas que cobriam o lançamento da campanha de imprensa ficaram tão entusiasmadas que criaram o seu próprio sindicato. Na Bielorrússia, cerca de 1.000 mulheres comerciantes independentes registraram um sindicato. O governo não reconheceu a entidade, mas as mulheres insistiram: constituíram uma ONG com o objetivo de transformá-la numa associação de pleno direito.

As participantes, reunidas em grupo, propuseram a criação de um módulo de formação sindical específico para as mulheres. A proposta, se aprovada pela diretoria do Sintetel, se tornará o 5º Módulo de treinamento da OSLT (Organização Sindical nos Locais de Trabalho) da entidade cujo objetivo é buscar novas lideranças e dar treinamento aos novos diretores, diretoras, delegados e delegadas sindicais e ativistas. O próximo passo é expandir ainda mais a abrangência do “Decisões”, com a inserção de novos países a partir do ano que vem. Aliás, em 2012, os módulos voltarão a acontecer, só que em outras localidades. Pretende-se que a nova etapa ocorra na Colômbia, que deve aderir ao projeto em breve.

Atividades buscam desenvolver o conceito de organização

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ECONOMIA

A era da criatividade Empresas e escolas começam a se adaptar ao perfil da nova geração ao valorizarem a inovação e a liberdade Emilio Franco Jr. “As empresas contratam profissionais

biental, que é nocivo, estão esgotados”,

José Carlos segue a mesma linha de pen-

diferenciados para torná-los iguais”. A

enfatiza. Sai de cena, então, aquela visão

samento e lamenta que o processo edu-

constatação feita pelo Professor José

burocrática e regrada para dar lugar

cacional forme os tradicionais executivos

Carlos Teixeira Moreira, fundador e

à percepção de que a boa empresa é a

de escritório. “A criatividade você ensina

diretor da Escola de Marketing Indus-

que prima pela criatividade sem impor

e desenvolve, mas somos educados para

trial, aos poucos começa a ser com-

limites, incentivando o lado cultural de

chegar ao trabalho e deixar no estacio-

partilhada pelo empresariado de todo o

seus funcionários. A ideia é que a arte

namento o carro e também o cérebro”.

mundo. Diante dessa percepção, muitos

empreste o pensamento criativo para os

estão aderindo à chamada “Economia

negócios como forma de gerar renda.

Criativa”, que abandona os conceitos

Foi justamente para mudar esse quadro que na década de 80 surgiu, no Reino

Dentro desse novo conceito, os futuros

Unido, o termo “indústria criativa”, que

profissionais devem agir além do con-

se refere às atividades com potencial

vencional para que não sejam meros bu-

de geração de empregos pela qualidade

rocratas. E é nesse ponto que a educa-

intelectual. O conceito desse novo tipo

Antônio Carlos Borges, diretor executi-

ção entra em campo. “Está comprovada

de economia traz alterações drásticas no

vo da Federação do Comércio, concorda

a existência de práticas para ensinar a

modelo convencional por permitir, entre

que essa é a nova maneira de encarar as

criatividade”, conta Paul Makeham, da

outras coisas, que o próprio funcionário

relações de trabalho. “O atual modelo

Faculdade de Indústrias Criativas de

faça seus horários sem a necessidade

econômico, que é excludente, e o am-

Queensland, na Austrália. O professor

de, por vezes, um local físico comum

tradicionais do setor para priorizar as inovações. Assim, pensa-se menos no lado econômico e mais no humano.

26  LINHA DIRETA em revista


ECONOMIA para exercer suas atividades. “Espaços e horários concretos estão em baixa”, sentencia Gil Giardelli, CEO da Gaia Creative, prestadora de serviços para empresas como BMW, Mini Cooper e Grupo Cruzeiro da Sul. Outro fator determinante para o pensamento criativo ser valorizado pelas empresas é a chegada da Geração Y ao mercado de trabalho. Toda essa mão de obra nascida de 78 a 90 e fortemente habituada ao mundo da internet tem como característica fundamental a velocidade com que almejam resultados e conquistas. Mas não é só isso. Eles também são confiantes e acostumados com o conceito de relação em redes, trabalham bem em grupo e veem o chefe como um colega da turma. “A tendência a longo prazo é o fim da hierarquização”, pontua Adolfo Melito, responsável pelo Conselho de Economia Criativa da Federação do Comércio. Esses jovens costumam fazer o que gostam e não ficam muito tempo em um mesmo emprego se não se sentirem valorizados. Mas, nem todos têm facilidade de assimilar tantos conceitos novos de uma vez só, principalmente os que há tempo estão no mercado e veem como sinônimo de eficiência o modelo antigo, de quando eles chegaram ao universo corporativo. Muitos ainda enxergam a Geração Y e a valorização da criatividade como sinônimos de superficialidade, distração e até mesmo folga. Mas, esses setores mais conservadores do empresariado deveriam, na opinião de Paul Makeham, entender os ganhos de incentivar o processo criativo com respeito às individualidades. Pessoas rendem de maneiras diferentes, e o importante é respeitar o tempo e o espaço de cada uma, sem rótulos de certo e errado. “Determinados projetos podem fracassar. Esse é o preço de boas ideias”,

explica Paul Makeham. A economia criativa lida com meios intangíveis como a cultura. “Esse recurso não se esgota, é renovado e se multiplica com o uso”, defende Flávio Henrique dos Santos Foguel, coordenador do Bacharelado em Administração do Centro Universitário Senac. Educador, ele acredita que esse novo meio de encarar o mundo corporativo começa na educação, com a substituição dos moldes atuais. A percepção geral é de que as crianças vêm ao mundo com magia e criatividade, mas as escolas inibem esse lado. José Carlos conta que os educadores perceberam com o tempo que a turma do fundão, aquela responsável por atormentar as aulas, acabou por contratar no futuro, os estudantes da frente, os que se preocupavam em anotar tudo e só tirar dez. “Essa burocracia do ensino não leva a nada”, garante. “O comportamento dos meninos e meninas das últimas fileiras colaborou para desenvolver esse perfil de liderança, por mais que a escola tentasse boicotá-los”. Os bagunceiros estão à frente das empresas porque levaram o pensamento livre e criativo para o mercado de trabalho. Já os queridinhos dos professores se tornam bons executores de ordem, portanto, funcionários exemplares dos “rebeldes”. Para Flávio Henrique, a educação é agente de mudança e deve ir além da educação formal, com comunicação entre as mais diversas áreas do conhecimento. E ele critica o modelo tradicional adotado pelas escolas. “O aluno deve ser ori-

entado e nunca cerceado”, pontua. O consenso entre esses educadores é de que os estudantes precisam receber incentivos para não perder o pensamento criativo. Isso não significa não criticálos. “Aprender com erros é fundamental, mas nossa cultura tem problemas com isso”, afirma Adolfo. A linha de raciocínio é essa: a criatividade pode levar ao erro, mas leva também à inovação. Esse processo nada tem a ver com aptidão ou dom, é algo ensinado e apreendido. Adolfo exemplifica com uma metáfora. “Nunca serei pianista porque não tenho talento. Mas posso usar esse gosto pessoal como fonte de inspiração. Isso é criatividade”. Os novos modelos corporativo e educacional ainda engatinham e são o embrião daquilo que muitos empresários e educadores acreditam ser o futuro que substituirá a atual era da informação, a da criatividade. “As empresas pioneiras valorizam esse novo perfil”, garante Paul Makeham.

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NOTÍCIAS

Duas celebrações pelo Dia Internacional da Mulher O Sintetel comemorou o Dia Internacional da Mulher com dois grandes eventos em homenagem às trabalhadoras do setor. O primeiro deles ocorreu na capital paulista, onde a celebração já faz parte da agenda da categoria há anos. O segundo, realizado em Bauru, solidificou a iniciativa que desde o ano passado levou a celebração também para as partes mais distantes do interior do estado. “Este é o segundo ano consecutivo que nós descentralizamos o evento para ampliar a participação das trabalhadoras”, explicou Maria Edna. Na cidade de São Paulo, o diferencial, desta vez, foi a mudança de endereço. O Palácio do Trabalhador da Força Sindical ficou pequeno para o público e, assim, a Casa de Portugal foi escolhida para abrigar os 1.500 participantes do evento. Após a abertura solene, os presentes assistiram a uma homenagem a Gonçala Aparecida Cruvinel, primeira secretária da mu-

lher da entidade, falecida ano passado. Na sequência, os familiares de Gonçala subiram ao palco para receber uma placa das mãos do presidente do Sintetel, Almir Munhoz. A pedagoga Clarisse Leal foi a palestrante escolhida para este ano. O tema de sua apresentação, “Mulher, Mitos e Metas”, teve o objetivo de desmitificar a imagem da mulher e mostrar o potencial do sexo feminino. A pedagoga levou sua mensagem também para Bauru. O sucesso de ambos os eventos foi visível. Ao todo, 2.500 pessoas prestigiaram. Antes dos convidados irem embora, a organização sorteou brindes para parabenizar as trabalhadoras. O evento da capital englobou as regiões de Campinas, Vale do Paraíba, Baixada Santista e ABC. O de Bauru contemplou a parte mais afastada do estado, com trabalhadoras de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.

Vitória dos ex-trabalhadores da Relacom A prestadora de serviços Relacom rescindiu o contrato com a Telefônica e estava dando calote em cerca de dois mil trabalhadores. A empresa não havia pago as verbas rescisórias e a Telefônica alegava não ter responsabilidade como subsidiária. Os trabalhadores, organizados pelo Sintetel, fizeram um movimento que ajudou a avançar nas negociações para o pagamento das verbas rescisórias. Após a paralisação, a Telefônica informou ao Sintetel que negociou com a Relacom o pagamento dos trabalhadores. O crédito aconteceu no dia 23 de maio de 2011. Posteriormente ao pagamento das verbas, a empresa deu início à realização das homologações dos termos de rescisão de contrato. Com relação aos processos trabalhistas ficaram mantidos todos os direitos individuais que os trabalhadores possam ter junto à Justiça do Trabalho como, por exemplo, horas extras 28  LINHA DIRETA em revista

e periculosidade. A Relacom também mantinha contrato com as empresas TIM, VIVO e Nokia. O Sindicato também tomou as mesmas providências judiciais para garantir o direitos dos trabalhadores.


NOTÍCIAS

Mais de 1 milhão de pessoas no 1º de maio em São Paulo; Sintetel comandou festa em Registro A Força Sindical e mais outras quatro centrais (UGT, CGTB, Nova Central e CTB) reuniram mais de 1 milhão de pessoas na primeira comemoração unificada do Dia do Trabalho.

Paraíso e Aílton Alves, além de delegados

Principal figura do 1º de Maio, o deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, reafirmou as principais bandeiras de luta defendidas pelas centrais. “Precisamos discutir no Congresso a redução da jornada de trabalho, o fim do maldito fator previdenciário e a regulamentação da terceirização”.

comando ficou por conta do diretor re-

Participaram da celebração pelo Sintetel, o secretário-geral Marcos Milanez, os diretores Alcides Marin Salles, José do

uma forma de presentear o trabalhador

sindicais. Além disso, a Força organizou comemorações descentralizadas. Na cidade de Registro, pelo segundo ano consecutivo o gional do Sintetel para a baixada santista e da Força Sindical para o Vale do Ribeira, Genivaldo Barrichello. Aproximadamente mil moradores enfrentaram o mau tempo para ouvir os discursos, as apresentações musicais de artistas locais e, também, para participar do sorteio de brindes. “Essa é que tanto se dedica no dia a dia”, disse Barrichello.

Negociações salariais registraram ganho real recorde em 2010 O ano de 2010 foi bom para o movimento sindical. De acordo com pesquisa divulgada no final de abril pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), 89% das negociações salariais conquistaram aumento real de salários. É o melhor resultado de toda a série histórica iniciada em 1996. Quando se soma a este número as negociações que conseguiram ao menos repor a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), ou seja, aquelas que não obtiveram aumento real, o índice chega a 96%. Apesar de expressivo, ainda fica abaixo do desempenho registrado em 2006 e 2007.

Sintetel comparece à audiência pública sobre Plano Nacional de Banda Larga O diretor do Sintetel Marcos Milanez e o assessor sindical Valtenice de Araújo compareceram, em abril, à audiência pública promovida pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados para debater o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (a esquerda na foto). Marcos Milanez disse que o discurso de alguns deputados foi ao encontro daquilo que o Sintetel considera mais relevante nessa discussão toda: o trabalhador. Foram levantadas questões como a falta de mão de obra e a necessidade de investimentos na qualificação e requalificação profissional para os empregados do setor de telecomunicações. Para o presidente do Sintetel, Almir Munhoz, o Sindicato deverá marcar audiência sobre o tema no Ministério das Comunicações e propor uma comissão de acompanhamento encabeçada pela Fenattel (Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações). LINHA DIRETA em revista  29


CULTURA

Na rota dos shows Faça o seu pé de meia porque em 2011 o Brasil terá atração internacional para dar e vender Amanda Santoro

Não é de hoje, mas também não faz tanto tempo assim que o Brasil caiu nas graças das bandas e cantores internacionais. Em curto espaço de tempo, Paul McCartney, AC/DC, U2, Beyoncè, Shakira, Coldplay, Kings of Leon e Amy Winehouse, só para citar alguns, trouxeram as suas turnês ao País. BFerraz e Time for Fun, empresas especializadas em proporcionarem a vinda desses shows, já divulgaram que os seus negócios em 2011 aumentaram em, no mínimo, 20%. Um crescimento invejável alavancado pela valorização crescente do real, que deixa o Brasil economicamente interessante aos olhos dos empresários estrangeiros do meio. Quem ganha com isso são os fãs, principalmente aqueles que moram no eixo Rio-SP, onde seus ídolos costumam marcar apresentações. Para corroborar a tendência, nada melhor do que a agenda deste ano. Katy Perry, Red Hot Chili Peppers, Rihanna, Eric Clapton e Gus N’ Roses são alguns dos artistas já confirmados, muitos deles com shows marcados para o festival “Rock in Rio”, que acontecerá no próximo mês de setembro. “Tinha a sensação de que só vinham bandas decadentes para cá, em fim de carreira, mas que, por nunca terem se apresentado aqui conseguiam lotar estádios”, disse o publicitário Pedro 30  LINHA DIRETA em revista

Cizoto, de 25 anos. “De uns tempos para cá, parece que o País entrou na rota das turnês mundiais, e isso está mudando a nossa relação com os shows”, complementou. Com a incidência maior de artistas anunciados no Brasil, os fãs começam a priorizar quais atrações devem ser conferidas no ato e quais podem ser postergadas para uma próxima oportunidade. Isso porque o sentimento de que os ídolos não voltarão “nunca mais” está diminuindo com o passar dos anos. Esta escolha, porém, não é comungada por quem vive fora do eixo Rio-SP, que dificilmente recebe atrações de astros internacionais. Foi por conta disso que o estudante Adriano Bellé, que há seis anos vive em Salvador, enfrentou os gastos de uma viagem até a capital paulista. Fã de Amy Winehouse, o jovem de 19 anos encarou como única a oportunidade de vê-la cantar no Brasil. “Se você realmente gosta do artista, o esforço vale a pena. Não só pelo show, mas em São Paulo, por exemplo, há inúmeras opções adicionais de passeio”, afirmou. Quem sofre com isso é o bolso. Os shows, que proporcionalmente apresentam aqui alguns dos preços mais caros do mundo, ganham aditivo de hospedagem, transporte e alimentação para quem precisa se locomover de outro estado. “Paguei R$ 400 na passagem de avião e R$ 130 no ingresso de estudante.


CULTURA Não tive despesas com hospedagem, pois fiquei na casa de um amigo, mas ainda gastei com alimentação e transporte”, complementou Adriano. Ao todo, o estudante despendeu cerca de R$ 650. Se precisasse ficar em algum hotel, o valor sofreria acréscimo de, no mínimo, R$ 50. No final das contas, apesar de desembolsar uma quantia considerável, Adriano jura que cada centavo foi bem gasto, principalmente após a apresentação de “Valerie”, hit de Amy Winehouse que quase o levou às lágrimas. E para quem gosta de música e se recorda dos dados de crescimento apresentados no começo desta reportagem, as notícias são boas. Em recente estudo divulgado pela PWC (Price Waterhouse Coopers), o setor deve crescer no País 8,7% ao ano até 2014, quando as atenções se voltarão para a Copa do Mundo. Este impressionante índice mostra que o Brasil perderá apenas para a China, mesmo quando paira no ar o temor pela falta de espaço, já que os estádios deverão entrar em reforma para abrigar o maior evento esportivo do globo. Segundo dados do jornal Valor Econômico, o custo desses shows internacionais varia de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões no Brasil. Já o patrocínio master, o mais caro de todos, fica entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões. É muito dinheiro envolvido, o que mostra a ascensão do setor e o interesse que as empresas têm nele. No “Rock in Rio”, por exemplo, o patrocínio master foi fechado em R$ 17 milhões pelo Banco do Brasil. Os outros cinco patrocinadores (Claro, Heineken, Volkswagen, Trident

e Coca-Cola) pagaram R$ 7 milhões cada, sendo que outras nove cotas de apoio foram comercializadas a R$ 2 milhões. As marcas, portanto, ganharam o direito de promoverem ações paralelas de marketing junto às 120 mil pessoas que passarão diariamente pelo festival. Mas, mesmo com a evolução do setor, a produção ainda deixa a desejar no Brasil. “Aqui tudo é embrionário, então fica meio amador”, afirmou o analista de sistemas Guilherme Piccin, de 26 anos. Ele, que no mês de abril foi ao tradicional Coachella Festival, em Los Angeles, nos Estados Unidos, destaca também outras diferenças. “No exterior, a impressão é de que o festival, além de ser tradição, tem vida própria. Parece que tudo se organiza e funciona sozinho”, analisou. “Ainda em 2011, espero ir à segunda edição do SWU, para ver se consertaram todas as falhas do ano passado”, finalizou Guilherme.

Dica de Cultura

Beatles 4ever Nem sempre o mar esteve para peixe, e os brasileiros sabem disso mais do que ninguém. Enquanto o País não estava no circuito musical das grandes turnês, os fãs tinham que se contentar com transmissões pela televisão e, quando muito, com covers. Mas se engana quem pensa que cover é sinônimo genérico de má qualidade. Algumas dessas bandas com “inspiração” em outras são quase tão boas quanto as originais e acabaram por conquistar uma legião de fãs próprios. Um exemplo bastante representativo é o Beatles 4ever. Inspirado no quarteto de Liverpool, o grupo faz apresentações que empolgam a plateia pelo grau de semelhança com a banda original. Os integrantes imitam trejeitos, vestimentas, vozes e até mesmo o modo de tocar instrumentos. Não é à toa que o show do Beatles 4ever tenha sido um dos mais comentados na última Virada Cultural, tradicional evento que acontece na cidade de São Paulo para promover a cultura. Se você é fã de Paul McCartney, que recentemente esteve no Brasil com shows no Rio de Janeiro e em São Paulo, com certeza vale a pena dar uma pesquisada. Para saber mais, acesse http://www.beatles4ever.com.br LINHA DIRETA em revista  31


EM PAUTA

Reforço da pauta

João Guilherme *

Na primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social no mandato de Dilma Rousseff, a equipe econômica e a própria presidenta enfatizaram a luta contra a inflação sem prejuízo do desenvolvimento, sem cavalo de pau na economia e sem guerra contra os salários. Esta posição afirmada é correta de dois pontos de vista, ambos aprovados pelos trabalhadores que aprenderam a detestar a inflação (embora tenham sido durante muitos anos escravizados por ela e iludidos por “correções” nominais) e a valorizar o desenvolvimento, com aumento do emprego formal, com ganhos reais de salários, em especial do salário mínimo, com distribuição de renda e crescimento da parte dos salários na renda nacional. Dirigida aos empresários que são a esmagadora maioria no Conselhão, o recado presidencial forte deve ter causado neles um choque de realidade. Será preciso abandonar a postura meio sonsa meio hipócrita de estimular nos meios de comunicação o pânico inflacionário para reprimir os salários. Em momento algum nenhum dos presentes teve a ousadia de entoar o refrão que procuram incutir nos outros e cantam privadamente de que salário causa inflação. O movimento sindical que trabalhou ativamente para organizar as comemorações do maior 1º de Maio do mundo com uma pauta unitária de reivindicações aprovada na CONCLAT (Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras) reforçou suas convicções para realizar as campanhas previstas nas ruas e no Congresso Nacional, assim como para as negociações e campanhas salariais que serão difíceis.

* João Guilherme Vargas Netto é assessor sindical do Sintetel e de outras entidades.

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PASSATEMPO

Você sabia que... … todos os anos cinco mil diferentes tipos de vida desaparecem para sempre do mundo ? No Brasil, cerca de 207 espécies correm risco de extinção. Esse é o caso da onça-pintada, lobo-guará, tatu-canastra e jacaré de papo amarelo.

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Segundo o Greenpeace, a maior causa de extinção de espécies brasileiras é o tráfico de animais silvestres. Outros fatores são os desmatamentos e a poluição do ambiente. O Brasil está entre as cinco nações que mais têm espécies em extinção. Austrália, China, Indonésia e México completam a lista.

Aqui a receita é simples: cace os ingredientes e depois prepare este prato tipicamente italiano. O lanche da tarde vai ficar muito mais gostoso. Ingredientes: ALHO EFOUF

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…em maio Audrey Hepburn completaria 82 anos ?

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A atriz nasceu em 4 de maio de 1929. Considerada uma das melhores atrizes de todos os tempos, fez filmes como “Sabrina”, “Bonequinha de Luxo”, “Cinderela em Paris”, “A Princesa e o Plebeu”, “Charada”, entre outros de grande sucesso.

AZEITE DPMIFS EF TPQB

Modo de preparar:

Audrey foi uma das poucas artistas a ganhar as quatro principais premiações norte-americanas: os prêmios Tony de teatro, Oscar de cinema, Grammy de música e Emmy de televisão. A atriz também se tornou uma das musas do famoso estilista francês Givenchy, que fez diversos figurinos cinematográficos para a eterna “Bonequinha de Luxo”. Audrey faleceu em 20 de janeiro de 1993.

Esfregue o alho cortado nas fatias do pão italiano e coloqueas numa pequena ASSADEIRA. Leve ao FORNO QPS NJOVUPT em TEMPERATURA média ou até perceber que as fatias estão levemente DOURADAS. Pegue o tomate já TEMPERADO com o sal e a PIMENTA e coloque uma PORÇÃO em cada FATIA de pão. Coloque o manjericão por cima e regue com o azeite. Agora, é só servir.

X A Z E I T E E O D B B A X U O Ã Ç R O P Õ

B R K D Õ C T O D G Ç Ã R Ã L K D V Ã F R Z

C F O D A R E P M E T L U S A D A R U O D Z

I S A S Q T D V Õ B N R T D M S B Q A I M J

L H S A B E Ã W I X Ã F A C Ç N O A M L I D

Q Q X H N A S S A D E I R A O O N U O F H U

A K Y L J A G K A V S K E S Q Ã R F K Ç K O

X T Y O I Ç P Y V X U Õ P F M T O M A T E U

N H H F N K V R A T N E M I P M F J E P T M

Y O Ã C I R E J N A M J E Ã S A I T A F P S

U K H Ç M T O N A I L A T I T Z U H D Q Q A

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… o copo americano foi inventado no Brasil ?

Solução

A A Z E I T E

O D S A H L A R A E S P S M A E D T E I R U T A R E S A A D A O N R R U A O L D H O

O Ã O F C I R E J A N T A N M E P M E I P T A O F I M T A A T F E

O N A I L A T I

Dez anos depois, o Museu de Arte Moderna de Nova York passou a vendê-lo como produto típico do Brasil, por três dólares cada.

O Ã Ç R O P

O típico copo de botequim foi inventado pelo designer Nadir Figueiredo em 1947. Existem cinco tipos de copo americano: dose, multiuso, long drink 300 ml, long drink 450 ml e rocks. Em 1999, o multiuso foi eleito “O Melhor Copo para Cerveja”.

Fonte: Guia dos Curiosos

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ARTIGO DO LEITOR

Aqui é Atento! Quem tem talento pode trabalhar também na Atento! É assim, rimando no dia a dia, que Leonardo do Nascimento, mais conhecido pelo nome artístico Leonarding, alia diversão e trabalho. E foi desse jeito que o teleoperador de São José dos Campos criou o rap que você pode acompanhar abaixo. Quer ouvir também? Então corra para a internet e acesse o seguinte endereço:

http://www.4shared.com/audio/nYbCrmZ7/LEONARDING_-_AQUI__A_ATENTO.html

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