Setúbal Revista Nr. 16

Revista Bimensal | N.º 16 - II Série - 3º Ano Abril / Maio 2019

Cheesecake de Chocolate Branco com Coulis de Morango

Entrevista ao Dr. Luís Machado Luciano

“O MÉDICO JUNTO DO DOENTE É UM ATO TERAPÊUTICO” Síndrome de Alienação Parental

EDITORIAL

Percursos de Resiliência... `tÜ|t ]ÉûÉ YxÜÜÉ Diretora Editorial

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epois de ler e reler este número da SER 16, e ao contrário dos números anteriores, concluo a não aparente existência de fio condutor. Fio esse a que os meus colaboradores nos acostumaram.

Após leitura atenta de todos os artigos, realizo afinal que somos uma equipa especial, onde o fio condutor se chama: PERCURSOS DE RESILIÊNCIA. Começando pela ciência médica e psicológica encontro os artigos do Dr. Jorge Forreta, passando pelo não convencional da Dra. Cristina Pinho, pelo artigo sobre Alienação Parental, da minha colega Silvia Silva e terminando em grande, com a extraordinária carreira do Dr. Luís Machado Luciano, que nos brinda

FICHA TÉCNICA

com um percurso pessoal e profissional de excelência.

Mas a coisa não acaba aqui, temos os sentimentos da Bióloga Ivone Campos, a solidariedade da Maria Eugénia Canito, o artigo de Abril da Maria do Carmo Branco, a Viagem à China da Ana Sofia Martins e o excelente artigo do Dr. Nuno Castro Luís. Encontro ainda, neste número da SER, o adoçante artigo do Merengue e Chocolate, que nos brinda com mais uma saborosa receita, vestida de fotografias de excelência. Viajo até Paris e a nossa Alex-em-Lutécia continua a enviar-nos crônicas de interesse, coloridas de algum humor e informação. Pelo caminho demoro algum tempo, no artigo do José

Nobre e mergulho na ARTE, mas também nas palavras da Isabel Marques e da nossa mais recente colaboradora, a minha querida Sara Loureiro.

Todos juntos afinal temos uma particularidade, não somos conformados, não estamos “dentro da caixa” e não temos medo do “julgamento dos outros”. Estamos de bem connosco, de bem consigo, caro leitor, e acima de tudo de bem com a vida. Por tudo isso espero que gostem deste número 16 onde impera o individual e o comum resiliente.

Obrigada caros colaboradores, obrigada equipa de resilientes...obrigada caros leitores por nos continuarem a apoiar neste percurso da SER. Bem Hajam! n

Setúbal Revista – Registo na ERC: 126664; Depósito Legal Nr. 390882/15 Propriedade: João, Pedro & Armindo, Lda. [Sócios: Armindo Manuel Fernandes da Conceição (33%); Maria João Moreira da Conceição Ferro (33%); Pedro Manuel Moreira da Conceição (33%)]; Diretora Editorial: Maria João Ferro; Editores: Maria João Ferro.

Colaboram nesta edição: Maria Pereira; Isabel Marques; Maria do Carmo Branco; Nuno Castro Luís; Jorge dos Santos Forreta; Paula Cunha e Silva; Eugenia Canito; Silvia Silva; José Gomes; Alexandra Aleixo; José Nobre; Carolina Bico; Alexandra Mendes; Cristina Pinho.

Contactos: redacao@setubalrevista.com - Avenida 5 de Outubro, 111, 2900-312 Setúbal; Publicidade: 967 122 006 - Estatuto Editorial em www.setubalrevista.com

Setúbal Revista respeita a opção dos seus colaboradores quanto ao Acordo Ortográfico Setúbal Revista

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SUMÁRIO ENTREVISTA

P.17 A 26

CULINÁRIA

P.32 E 33

Cheesecake de chocolate branco com coulis de morango OPINIÃO

“O médico junto do doente é um ato terapêutico”

P.36 E 37

Dr. Luís Alberto Machado Luciano nasceu em Angola, mas está em Portugal desde os seus 14 anos. Viveu em plena ditadura e nos tempos quentes, que se seguiram ao 25 de Abril. Foi mobilizado para ir para Angola, com pouco mais de um mês de ter terminado o curso de Medicina, onde teve que enfrentar o tratamento de feridas complexas de guerra. Fiel aos seus ideais soube sempre gerir a crise política instalada e o exercício da Medicina. Defende que o médico junto ao doente é também um ato terapêutico.

VIAGENS

P. 28 A 31

Movimentos de resistência PSICOLOGIA

P.34 E 35

Pela China em cadeira de rodas Em 2016, decidimos, finalmente, virar a Oriente, pois há muito que o queríamos fazer e a China foi o destino escolhido.

Resolvemos visitar Hong Kong, Xangai e Pequim. Claro que, estando tão perto, não podíamos deixar de visitar Macau porque era um desejo antigo. O percurso é muito rápido já que fica, apenas, a uma hora de barco, desde Hong Kong.

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Setúbal Revista

Síndrome de Alienação Parental

CULTURA

JOSÉ NOBRE AtorÉ NOBRE Actor

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VIVA O TEATRO! Não podia estar mais contente, nem mais cansado, mas dum cansaço que não chega a cansar, porque revigora e acalenta o espírito.

Nem poderia celebrar de melhor forma os 30 anos de carreira profissional como o fiz durante o louco mês de Março, mês do Teatro, em que levei a cena, como actor e encenador, cinco espectáculos distintos, entre vinte e oito representações no total, somando o público presente a partir de quatro dígitos.

Uma maravilha, só vos digo. A fome de palco foi amplamente saciada, assim como a sede de partilhar a experiência adquirida com os aprendizes teatreiros do TOMA. Sobrou ainda tempo para dar alma e voz a bonecos animados televisi-

Viva o Teatro!

vos, cinematográficos e de videojogos.

Pouco mais restou.

Através do TOMA — Teatro Oficina Multi Artes — levámos a cena o "Consultório Poético", em Brejos de Azeitão, a 9 de Março; "A Guerra do Tabuleiro de Xadrez", a 13 e 14, no auditório do 11; ainda, a estreia absoluta de "Conciousness", a 28, no Fórum Municipal Luísa Todi; para além de "Bocage", em diversas escolas do Concelho de Setúbal.

A 15, participei na "Formação a 5 mãos", onde leccionei o tema "Improvisação".

Depois, na minha nova casa — o Teatroesfera —, nos dias 1, 2, 3, 9, 18 (x2), 19 (x2), 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27 (x3!), 29, 30, apresentámos a Ilha Encantada, de Fernando Gomes.

Foi o mês em que mais (e melhor) traba-

lhei em toda a minha carreira, e lá voltamos ao 1º parágrafo.

No dia 27, dia mundial do Teatro, lembrei-me dos meus colegas, de todas as pessoas que se cruzaram comigo ao longo destes 30 anos e enviei a seguinte mensagem pública através do Facebook: "A toda a gente que vive, sobrevive, sonha, a todos os que alimentam (e se alimentam) do Teatro, desejo um dia repleto de aplausos e sucessos, flores, clamores e... alguma liquidez também.

Sejam totais, absolutos, concretos, objectivos, verdadeiros, autênticos, honestos, convictos, mas sobretudo — sejam felizes.

Bons espectáculos!"

Viva o Teatro! n Setúbal Revista

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MÚSICA

IVONE CAMPOS Bióloga; Professora; Musicoterapeuta; Curso de Educação Musical pelo Conservatório Nacional de Música; Curso de Piano pelo Conservatório Nacional de Música

Vamos falar de sentir

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amos falar de sentir? Todos sentimos, quer o expressemos ou não. Sentir não é uma opção. Não podemos controlar essas sensações que nos assaltam, seja medo, empatia, atração, repulsa, alegria ou tristeza.

Sem querer falar do sistema límbico, responsável por processar os nossos sentimentos, e tentando afastar desta prosa a minha costela de bióloga, quero aqui, sem aprofundar as substâncias químicas capazes de provocar sentimentos como a paixão, pôr de lado a ciência que, apesar de corroborar e provar a existência de sentimentos incapazes de serem controlados, acaba por retirar um pouco a beleza e a magia das sensações.

Não somos fracos porque temos medo, nos apaixonamos ou choramos. Somos sim seres humanos com a coragem de não esconder esses sentimentos. Muitos de nós fomos educados a não demonstrar aquilo que sentimos. Eu, pelo contrário, comecei desde os nove anos a ter que “tocar como se dançasse”, ou “tocar para provocar tristeza” ou “tocar como se estivesse com raiva”.

Desde cedo comecei a chamar os sentimentos pelos nomes e a ter de lidar com eles, expressando-os. Desde então que passei a sentir-me transparente e é talvez esse o motivo pelo qual muitas pessoas tentam desmesuradamente ocultar aquilo que sentem, por medo. Medo de se exporem de tal maneira que isso signifique uma fraqueza perante o outro, uma ausência de defesas.

Isto leva-nos a pensar em algo mais complexo: por que razão temos de estar continuamente “à defesa”? Serão os

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seres humanos afinal pouco humanos?

Não creio. Acredito que somos movidos por sentimentos bons, de paz, justiça e amor, e que quem por eles não se paute precisa de ajuda para encontrar o seu equilíbrio.

Por isso prefiro continuar a “tocar como

se dançasse”, sem medo de expressar o que sinto e sem aprisionar, por medo, as minhas sensações.

Se cair por elas (o que já aconteceu), levanto-me. Mas jamais seria capaz de viver como um carrasco encarcerando aquilo que me faz gente. n

SAÚDE

CRISTINA PINHO Médica Gastroenterologista / Homeopata cristinapinhomedica@gmail.com

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homeopatia não vê a doença como ameaça nem processo de desgaste. Considera-a uma desarmonia da FV – PNEI. Todos temos uma determinada percepção da nossa realidade. Se o ambiente (interior ou exterior) muda e nós não nos adaptamos, a FV - PNEI desequilibra-se e os sintomas manifestam-se. O contexto (interior e exterior) em que a doença aparece é fundamental para perceber o paciente e a patologia. Os sintomas e sinais são esforços da FV - PNEI para voltar à harmonia. São tentativas de cura! E

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“Convencional versus NÃO Convencional” parte 2

ao recolhermos a sua totalidade encontramos, na Natureza, uma substância que provoca um quadro clínico semelhante no indivíduo são e prescrevemos o que precisa ser curado. Não esquecer que a realidade exterior reflecte o nosso interior.

A homeopatia concebe que os sintomas são efetivamente parte da cura e ajudam no seguimento da direcção certa. A expressão física, mental e emocional das queixas manifestadas é o guia de cura. Assim, em vez de remover, suprimir ou mascarar os sintomas e sinais, obser-

vamos e registamos todo o quadro clínico e administramos um remédio preparado com a informação que vai estimular o corpo a voltar ao estado de saúde com os recursos que tem. O paciente, na sua totalidade, é o cicerone e o mestre principal do homeopata.

No ORGANON estão contidos quatro conceitos completamente inovadores para a época: Experimentação, Biopsicossocial, Terreno e Dose Mínima.

Cinquenta anos antes de Claude Bernard (1813-1878), médico francês que escreveu "Introdução ao Estudo da Medicina

SAÚDE Experimental" em 1865, já Hahnemann empregava rotineiramente a auto-experimentação para testar os efeitos das substâncias que ele acreditava terem valor terapêutico. “Os homeopatas foram os precursores do caminho contemporâneo da investigação dos efeitos tóxicos e potencial terapêutico dos compostos sintéticos” … “a Homeopatia representou pesquisa de ponta no final do século XVIII e durante quase todo o século XIX.” (1).

Cento e setenta anos antes da epidemiologia, Samuel Hahnemann já falava dos múltiplos factores que podiam causar doenças e da importância de corrigir sempre o meio interno e externo simultaneamente. O médico, presente e atento, primeiro tenta remover a causa e o doente inteligente sabe que é conveniente afastar-se da origem das suas queixas (2). Podemos dizer que foi o primeiro médico da medicina do trabalho pois falou muito em estilo de vida e em ambiente. Tudo isto cento e cinquenta anos antes da epigenética.

Hahnemann era um trabalhador incansável e um defensor incondicional da racionalidade e da congruência entre pensamento, sentimento e acção. Como tal, baseando-se em Pascal (16231662) falou da psicogénese das doenças muito antes da psicoimunologia (3).

Louis Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910) foram os pais da teoria microbiológica da doença. Antes disso, Samuel Hahnemann, diante dos resultados insatisfatórios no tratamento de alguns doentes crónicos supôs a existência de obstáculos à acção da força vital. Teria de haver algo que impedia a estimulação da FV pelo medicamento. Voltou ao conceito de miasma para designar o agente de natureza desconhecida que origina enfermidades contagiosas e epidemias e dá-lhe um significado mais amplo e profundo. No ORGANON pode depreender-se que miasmas são estigmas de infecções contraídas e suprimidas num passado remoto pelos nossos ancestrais, perpetuados de geração em geração, condicionando o modo de reagir do organismo. Tudo isto cem anos antes da teoria genética. Terreno, em homeopatia, significa a história completa do paciente, pressupondo o conhecimento global do seu processo de vida, peculiaridades da personalidade, traumas, fraquezas, medos, qualidades, modalidades, tudo o que o possa definir.

Arndt e Schultz postularam em 1888: “Para toda a substância, pequenas doses estimulam, doses moderadas inibem e altas doses matam.” De acordo com esta lei, fármacos altamente diluí-

dos melhoram os processos orgânicos, enquanto altas concentrações prejudicam a saúde. Setenta anos antes já os homeopatas assim praticavam.

Nos consultórios médicos 70% das patologias são funcionais. Quer isto dizer que não existe qualquer problema orgânico e os exames complementares apresentam resultados normais ou apenas ligeiramente alterados com situações fáceis de corrigir. Estes pacientes encontram mais benefício na alteração de dieta associada a remédios homeopáticos e suplementação adequada, do que nos medicamentos químicos que realmente lhes podem provocar uma doença, algo que não tinham à partida.

A homeopatia é um método de tratamento que pode ser usado em alternativa e em complementaridade com o convencional e o segundo mais usado neste planeta. É um sistema terapêutico holístico com elevada taxa de sucesso, baixo índice de iatrogenia e custo mínimo (4).

Quando uma terapêutica resiste a dois séculos de críticas e ataques, com milhões de pessoas absolutamente certas da sua utilidade e é exercida por profissionais de saúde honestos e competentes, porquê dizer-se que é ficção ou fantasia?

A medicina convencional pode ser sincera o suficiente para dizer que não conhece em vez de afirmar que não funciona, ou usar a desculpa que não acredita?

Quantas patologias existem na medicina convencional sem drogas eficazes?

Quantos medicamentos têm efeitos secundários perniciosos e inaceitáveis?

Quais são aqueles que interagem, de forma global, com o indivíduo?

Quanto custam?

Porque é que é aceitável morrer sob os cuidados da medicina convencional e as terapias complementares são apresentadas como estupidamente arriscadas? n Notas e Bibliografia: 1. Fye, W.B. “Nitroglycerin: homeopathic remedy" Circulation 1986; 73 (1): 21-29.

2. ORGANON DA ARTE DE CURAR”, Traduzido da 6ª Edição Alemã GEHSP “Benoit Mure”: Aforismos 4 e 7.

3. Aforismos 210 a 220.

4. Poitevin, Bernard (1999) “Integrating homoeopathy in health systems”, Bulletin of the World Health Organization.

5. Pinho, Cristina (2017) “Médico Unicista: Ensaio sobre a Arte de Curar”, Mahatma.

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TURISMO

ALEX-EM-LUTÉCIA Correspondente em Paris, França

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m Janeiro a Paulina veio a Paris em trabalho e claro, como não podia deixar ser, também jantar connosco, trazendo na sua sempre muito prática bagagem a vivacidade habitual, o sorriso aberto e algumas novidades, entre elas a de que no avião tinha encontrado a Joana Vasconcelos, o que poderia vir a significar, muito provavelmente, uma das suas fabulosas instalações a acontecer breve em Lutécia.

Assim foi. No dia apenas imediato dei por mim a contemplar, encantada, um cartaz cuja imagem da artista vestida de branco, penteada à princesa Leia, de óculos escuros enormes, montada numa das suas Valquírias, irradiava a habitual irreverência e boa disposição, publicitando a Exposição Branco Luz no famoso Bon Marché (e aqui cabe abrir um parêntesis muito rápido para que, pelo facto de se chamar bom mercado não há que confundir de todo boas compras com baratas, trata-se antes de uma imenso espaço inaugurado em 1852, à altura o primeiro edifício em Paris desenhado especificamente como grande armazém e que, atualmente, pertence ao LVMH Luxury Group – comprar no Bon Marché implica portanto não somente vontade e bom gosto, mas também alguma capacidade financeira…). Nesse mesmo fim de semana decidimos, eu e o Luís, prestar então uma visita a Simone – assim nomeada em homenagem às Simones francesas (Bouvoir e Veil) - graciosa amazona alada de 30,5 metros de cumprimento, que se espraiava ao longo dos três andares da loja, luxuosamente vestida de brocados, tricot e LED, banhando de luminosidade o espaço em redor e envolvendo carinhosamente todos quanto por debaixo dela se passeavam de olhos atentos e exclamações deliciadas..

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Joana e Simone, O coração e as pulgas

TURISMO Fevereiro chegou e com ele o dia dos namorados, com as habituais trocas de presentes e de flores e de beijos…Jantares à luz das velas, mesas bonitas e mãos enlaçadas, anunciando noites de abraços, tornando novos os amores velhos…Em Clignancourt, mesmo ao lado do Marchet aux Puces, à saída do metro, a festa não foi tão íntima. Culpa da Joana, que a pedido da Câmara de Paris, fez nascer um enorme coração vermelho, composto por 3800 azulejos pintados à mão. Cour de Paris serviu de mote

à festa e abrigou, nesse mesmo dia, um baile popular em homenagem a S. Valentim… Fantástica embaixatriz portuguesa, que na grande aventura da vida, tem deixada bem impressas pegadas vigorosas no mundo da arte contemporânea sem esquecer a preocupação da mudança das mentalidades, integrando com rara habilidade a nossa tradição e as tecnologias.. E porque adoro as suas obras, fui há 15 dias apreciar O Coração

que já foi chamado de “símbolo universal num bairro do mundo”, aproveitando também para conhecer um dos “mercados das pulgas” mais suis generis de França, uma espécie de quarteirão labiríntico de casas velhas e barracões construídos muito à pressa, que albergam tesouros velhos e quinquilharia diversas…A não perder.

Au revoir, Bisou n

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SOCIEDADE

EUGENIA CANITO Professora

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ste cidadão de nacionalidade belga veio residir em Setúbal no ano de 1926, com a finalidade de instalar uma unidade industrial, à qual foi dada o nome de SAPEC. Esta importante empresa na qual Antoine Velge ascendeu ao cargo de Presidente do Conselho de Administração (com ramificações em várias regiões do País) fomentou imensas riquezas com a sua grande atividade. Esta unidade empresarial, vocacionada especialmente para os adubos e pesticidas para a agricultura , foi um dos três pilares, para que a população desta cidade pudesse, em parte, enfrentar as sucessivas épocas de crise, que o

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Antoine Velge O Benemérito 1898 - 1974 burgo muito sofreu, devido às paragens da indústria picatórias.

Este grande homem, muito beneficiou a cidade de Setúbal, com o seu altruismo e abnegação, aliado a uma dedicação por esta população, tão carente de beneficios e bens sociais, à qual se dedicou amorosamente, num sentimentode interesse pelos mais necessitados.

Com toda a sua bondade nunca esqueceu o beneficio dos seus trabalhadores, mandando construir um bairro para os mesmos, assim como o apoio escolar aos filhos destes, incentivando-os com bolsas escolares, prémios e outras medidas mais, de apoio.

A cidade, em si, muito lhe deve, com a

construção do Hospital São Bernardo, uma unidade hospitalar com 247 camas, que foi inaugurada em 9 de Maio de 1959, pelo então Presidente da República. Para que tal construção fosse realizável, este bondoso cidadão, no ano 1953, ofereceu 4.000 contos, e posteriormente mais 180 contos para os serviços de oftalmologia, e 500 para os serviços de ortopedia, entre outras verbas concedidas.

Em Outubro de 1967, a cidade de Setúbal prestou-lhe uma homenagem, nos Paços do Concelho, o Presidente da Câmara de Setúbal, Dr. Manuel José Constantino Goes, abriu a sessão e concluiu o seu agradecimento ao homenageado. Outros foram os interve-

SOCIEDADE

nientes como, Fernando Pedrosa, como Presidente do Vitória Futebol Clube, agradecendo os donativos que levaram à construção do Pavilhão Desportivo, assim como, as ajudas que recebeu para a construção do estádio.

Também como agradecimento ao homenageado, o Dr. Eduardo Fernandes, Presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários, fez a oferta de um diploma de sócio honorário e uma medalha comemorativa a Antoine Velge. O Governadora Civil da época, Engenheiro Pereira Beija, exprimiu os seus agradecimentos a este grande cidadão, tendo-lhe entregue, o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito Industrial. Nesta homenagem a Câmara Municipal de Setúbal atribuiu-lhe a medalha de Ouro da cidade.

A 22 de Outubro de 1971, a Santa Casa da Misericórdia promoveu uma outra homenagem a este benemérito, que contou com a presença do Ministro da Previdência da saúde e Assistência, tendo sido descerrado, no átrio do Hospital São Bernardo de Setúbal, um busto seu, em bronze executado pelo arquiteto Castro Lobo. Antoine Velge foi constituido sócio benemérito, nessa mesma cerimónia.

Antoine Velge era natural da Bélgica, mas Setubalense de coração, condecorado no seu País de origem durante a guerra 1914/18, recebeu do estado português o grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo e de Grande Oficial das Ordens de Benemerência e do Infante.

Faleceu a 13 de Janeiro de 1974, em Setúbal, sendo transferido em morte, para o cemitério de Folembray, em França. n

Hospital São Bernardo de Setúbal Data de 1663 a existência da primeira casa de saúde, na torre do Outão, na zona das praias.

A partir de 1893, os serviços de saúde passam a funcionar no Convento de Jesus, o chamado Hospital do Espírito Santo da Misericórdia.

Anos mais tarde, em 1948, de forma a dar resposta aos problemas de saúde da população de Setúbal, o provedor da santa casa da

misericórdia de setúbal, o Dr. Luís Macedo e Castro, alertou para a necessidade da construção de uma nova unidade hospitalar. Assim sendo, foi Antoine Velge que auxiliou monetariamente a construção deste hospital, tendo sido o mesmo a propor o nome São Bernardo. O citado hospital foi inaugurado a 9 de Maio de 1959. Data onde no presente ano, 2019 se irá comemorar o seu 60º aniversário.

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CENAS DA VIDA FAMILIAR

JORGE SANTOS FORRETA Médico cenasdavidafamiliar.blogspot.pt

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zar nosso. - Isso, elogia-as que não lhes cabe a palhinha! - repreendeu o Faustino - ao menos, não te esqueças da bolinha, no canto superior...

São mais de três biliões de anos e é muito ano desde os procariontes: apuraram o espécime: libertaram-se do espartilho(,) da colher e do avental, mandaram os criacionistas às urtigas e, se Deus

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As Mulheres e a Teoria da Evolução

criou a Mulher, fantasiamos com a Brigitte e não com os sovacos peludos da Eva. Vingaram por seleção natural: melhor adaptação ao meio, já Darwin titubeou em incluir o Homem (sexo masculino, bem entendido) na escala evolucionista, por antever o fracasso: teve dez filhos, mesmo se embarcado no Beagle com ela em casa e embarcou nisso: subestimou a

lei lamarckista do uso e desuso e alguém se aviou em terra., Estava dado o primeiro passo na emancipação do gajedo: exigiram o voto, Chaplin às voltas com os tempos modernos e elas, pé ante pé e estavam no joelho pelo Charleston: não impusesse a Mary Quant um ponto final no comprimento e a coisa ia na maxicamisola. (via-se, sem Rx, os fémures da Twiggy,

CENAS DA VIDA FAMILIAR

esta sim nascida da costela de Adão) O prêt-à-porter e as pin-ups: o homem a babar-se e elas prá frentex que é o caminho, as barricadas e a pedrada no Quartier Latin e o Jean-Paul a braços, e

só tinha dois, com o segundo sexo da Simone.

O flower power: o Verão do Amor e do ácido, os Mamas & Papas mesmo com a Enovid, tendas e amor livre na lama sob

a chuva torrencial de Woodstock: empataram, no final dos 60.

Estudam e valorizam-se, são elas que enchem as faculdades: pulam cargos e a cerca, ultrapassam-nos no QI e na CB: na conta bancária, apontam o dedo e mandam num gajo, é o mundo ao contrário, o preto loiro e o branco da carapinha do restaurador Olex. Um destes dias, devemos a justificação em casa do casaco de peles que a patroa ofereceu.

Somos uns trouxas: parámos na bola e na bifana, e até eu mudei: às boazonas prefiro as boazinhas. Se quiserem, numa adaptação aristotélica: o ignorante despeja a imperial e afirma. Elas duvidam e refletem. São calculistas, Leibniz e integrais e nós dois mais dois, às curvas e à tangente.

Esqueceram útero, ovários e fecundação e invadiram o território do macho: reivindicam o prazer, bis e masturbação e aí foram mais longe: se começaram tarde, há muito que adotaram a técnica digital e nós agarrados ao manual...

E pronto, por sorte tenho três rapazes: já os vejo em casa, a coser meias., E a viver dos rendimentos. n Setúbal Revista

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ENTREVISTA

DR. LUÍS MACHADO LUCIANO

“O médico junto do doente é um ato terapêutico” Texto: Carolina Bico

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ENTREVISTA

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r. Luís Alberto Machado Luciano nasceu em Angola, mas está em Portugal desde os seus 14 anos.

Viveu em plena ditadura e nos tempos quentes, que se seguiram ao 25 de Abril. Foi mobilizado para ir para Angola, com pouco mais de um mês de ter terminado o curso de Medicina, onde teve que enfrentar o tratamento de feridas complexas de guerra. Fiel aos seus ideais soube sempre gerir a crise política instalada e o exercício da Medicina. Defende que o médico junto ao doente é também um ato terapêutico.

Luís Alberto Machado Luciano, 84 anos, natural de Malange, Angola é médico-cirurgião aposentado desde 2004. Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, em 1961 foi mobilizado como médico

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para servir em Angola entre 1961 e 1963. Em 1964 é interno dos Hospitais Civis de Lisboa, em 1979 é diretor, por concurso público nacional, do serviço de cirurgia do Hospital de São Bernardo e em 2004 é aposentado.

Atualmente exerce funções de diretor clínico da Unidade de Cuidados Continuados Integrados UCCI, da L.A.T.I., Liga dos Amigos da Terceira Idade, em Setúbal, atividade que partilha com a escrita de contos sobre a sua vida profissional e pessoal. Homem dinâmico e de resposta rápida, Dr. Machado Luciano é um exemplo de resiliência e de fortes convicções.

O Dr. Luciano é natural de Setúbal?

Não, mais de metade da minha vida aqui passei. Nasci em Malange, no

“Eu vim para Setúbal quando, pela primeira vez, se abriram vagas para médicos da carreira médica hospitalar”

Av. Dr. António Rodrigues Manito, 51D, Loja 1A 2900-065 Setúbal Tel.: 928 022 080 De segunda a sexta das 9h às 20h Sábados das 8h às 16h

ENTREVISTA

centro norte de Angola a 18 de janeiro de 1935. Vim para Lisboa com 14 anos e em específico para Setúbal, só em 1972. Sou filho de um industrial, natural de Cernache do Bonjardim, Sertã, que se estabeleceu em Angola, de nome Vasco da Silva Luciano e de Otávia da Silveira Machado Luciano, natural de Paço de Arcos, Lisboa. Somos três irmãos, dois homens e uma irmã mais velha. Sou casado com Maria Teresa Meyrelles da Silveira Bretão Machado Luciano e temos três filhos, a Teresa, o Vasco e a Susana, dois netos com dupla nacionalidade (moçambi-

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Há quem diga: São os políticos que fazem a guerra, mas são os militares, matando e morrendo, que fazem a paz

cana e portuguesa). Estou reformado desde 2004. Estudei em Malange até ao quinto ano, em 1949, e fiz o sexto e o sétimo no Liceu Passos Manuel e no Pedro Nunes, em Lisboa.

Porque é que decidiu vir para Setúbal?

Vim para Setúbal no decorrer do primeiro concurso público para colocação de médicos, da carreira médica hospitalar. Foi Baltazar Rebelo de Sousa, pai do Marcelo presidente, que tendo sido governador de Moçambique e depois ministro da saúde de Marcelo Caetano, que teve uma visão mais ampla da ne-

ENTREVISTA

cessidade da cobertura médica do país, dando corpo ao plano de Gonçalves Ferreira, criou vagas a serem ocupadas por médicos qualificados nos ditos hospitais periféricos. Com o objetivo de os pôr a funcionar em pleno. Assim foram abertas nove vagas de cirurgia destinadas aos 32 hospitais existentes. Curiosamente a única vaga preenchida foi a minha, a vaga de Setúbal e por ter ficado em primeiro lugar, não tendo eu, nenhuma ligação à cidade achei ter o dever de servir as áreas carenciadas em cirurgia.

Os Hospitais Civis de Lisboa, foram

sem dúvida, a grande escola de Medicina, onde eu já era quadro médico qualificado (graduado de cirurgia dos hospitais civis de lisboa). Achei que como já possuía uma formação sólida, ao nível dos conhecimentos, podia prestar os meus serviços como cirurgião em hospitais carenciados. Foi deste modo que me tornei cirurgião qualificado no hospital de Setúbal, e o primeiro homem a vir do quadro médico de cirurgia dos hospitais centrais para um hospital dito periférico.

O Dr. Machado Luciano volta ao continente africano depois de for-

mado? Onde fez Tropa, certo?

Sim, é verdade. Fui um dos primeiros médicos, que pouco tempo depois de terminar o curso de medicina foi enviado para Angola, como médico de uma companhia de caçadores especiais. Decorria o ano de 1962 e fui enviado para o meio do nada. Do campo de treino de Santa Margarida embarquei com um batalhão de mais de 600 homens, e fomos as primeiras tropas a chegar ao norte de Angola. Vivi 14 meses no Norte, totalmente isolado sem ver ninguém e fomos a primeira companhia a ter que gerir e enfrentar Setúbal Revista

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ENTREVISTA

fotografia do Liceu Veríssimo Sarmento

“A ditadura foi exercida durante longos anos silenciando as pessoas”

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ENTREVISTA

minas e bombas nas estradas armadilhadas. Com uma formação teórica em medicina tive, numa frente de batalha, a tratar de feridas de guerra complexas, sem recursos, sem meios e com apenas 26 anos. A nossa geração foi muito generosa, aceitou fazer a guerra na convicção de conseguir a paz. O resultado foi o que foi.

Recordo-me, ainda hoje, de um episódio marcante, com a explosão de uma bomba que atira ao ar um Jeep e mata toda a gente, num meio isolado e sem nada. Tratei dos feridos e, sem recursos, tive que inventar meios, para ajudar os feridos e sobreviver àquela tragédia, fomos sem dúvida uma geração muito generosa. Há quem diga: São os políticos que fazem a guerra, mas são os militares, matando e morrendo, que fazem a paz Como foi viver em Portugal e em Angola em plena ditadura?

A ditadura era discreta e tolerada pelas pessoas. Era mais um terror mental e psicológico. As pessoas não discutiam coisa nenhuma, a oposição era toda silenciada, existiam modos de silenciar as populações, nas mais variadas áreas da sociedade. Estava tudo conformado,

“Eu com apenas poucos meses de formação, como médico, fui atirado para uma frente de batalha para tratar feridas de guerra complexas.

Tinha 26 anos”

foram gerações e gerações de gentes caladas e silenciadas, de lavagem ao cérebro, de espionagens, de interrogatórios, era a repressão pelo medo. Por exemplo, um ano antes do 25 de Abril, Marcelo Caetano vai a Angola e Moçambique e tem banhos de multidões a segui-lo, um verdadeiro contrassenso.

Por outro lado, nas questões de desempenho das funções públicas, por exemplo, a PIDE também se encarregava de fazer a triagem das pessoas,

quem não tivesse a “ficha limpa” não entrava nos hospitais civis. Havia um processo repressivo lento e muito eficaz. O Partido Comunista Português (PCP) e os seus simpatizantes eram reprimidos e silenciados.

Só concorri aos Hospitais Civis de Lisboa depois de vir de Angola, em 1964.

Formei-me em Lisboa e fui enviado para Angola, mas na verdade que médico era eu? Não era médico nenhum, nem sabia dar uma injeção tão pouco, na verdade fui atirado para um serviço militar onde tive que aprender à minha custa. Fiquei em Angola dois anos, havia um médico para 150 homens, não existiam recursos físicos, nem humanos, as condições de trabalho eram rudimentares ou nulas.

Se não tivesse tomado posse, como interno, nos hospitais civis de Lisboa, a minha formação teria sido amputada e este tomar posse dependia da informação da PIDE, ou seja, a repressão era silenciosa e calada ( “não te metas nisso que é angola”…).

Qual a sua opinião sobre o funcionamento dos hospitais atualmente?

Os hospitais atuais são estruturas inimagináveis no meu tempo. Hoje o exercício da medicina é excelente, em qualquer hospital dito periférico central ou universitário, embora com funções diferenciadas. Se me perguntarem se o exercício atual da medicina, implica contato humano e se esse mesmo contato é o mesmo, eu digo-lhe que não. A medicina hoje está desumanizada e os poucos contatos com o doente deveriam ser facilitados aos seus médicos de família ao visitá-lo no internamento, fazendo a ponte entre a instituição e o seu domicílio. Infelizmente não é assim, tudo é muito complicado, desmotivando as visitas. Hoje em dia resolvem tudo com uma informação digitalizada densa, que ninguém lê, desresponsabilizando a jeito de missão cumprida que nos parece mais comprida.

Em relação ao ensino atual nas faculdades, acha que falta a componente humana? Que conselhos daria a um jovem médico que vai ingressar na profissão?

Hoje em dia vivemos noutro mundo, o mundo da digitalização de exames, de tudo o que é verdade, mas que muitas vezes, em nada esclarece o que se pergunta. Atualmente há o chamado síndrome de gaerza, isto é, os médicos Setúbal Revista

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ENTREVISTA

deixaram de pensar, os médicos executam instruções vindas de um computador. Na minha prática profissional, enquanto estava no ativo ouvíamos a história do doente e ouvíamos o doente, para estudar os seus órgãos, tentando compreender, qual o órgão que estava em sofrimento, quais os

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Setúbal Revista

sintomas e a partir daí eram estudados os órgãos ou órgão implicados nas descrições e sofrimentos. Desta forma aproximávamo-nos do doente. Presentemente faz-se um check-up geral, tac, ecografias (imagiologia) pedem-se muitas análises, pedem-se muitos exames. A partir daí deduz-se ao contrário:

vamos ver como é que os resultados disto tudo se encaixam nas queixas do doente. O mundo é totalmente diferente e acho que o esquema de funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) está todo errado e os problemas da saúde em Portugal não se resolvem assim.

ENTREVISTA

Dr. Luís Machado Luciano Títulos de Desempenho Profissional: Integrou a comissão fundadora das seguintes sociedades médicas: 1. Sociedade portuguesa de cirurgia, tendo feito parte da primeira direção; 2. Sociedade portuguesa gastrenterologia; 3. Fundador da sociedade médica dos

hospitais de zona sul; 4. Eleito membro ordinário do Collegium internationale chirurgiae digestivae, no decorrer do II World Congress , 1972.

5. Membro da sociedade de Ciências Médicas de Lisboa; 6. Membro consultivo do Instituto de Alta cultura para atribuição de bolsa no estrangeiro, na área da cirurgia e

da gastrenterologia, 1975.

7. Presidente da sociedade Setúbal Polis; 8. Por duas vezes, Presidente da Associação Geral da Secção distrital da Ordem dos Médicos; 9. Vogal do colégio da especialidade de cirurgia da ordem dos médicos.

10. Presidente da LASA – Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão.

Setúbal Revista

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ENTREVISTA

Os casos mais marcantes da sua carreira médica Caso 1 Explosão de uma mina anticarro, descrita anteriormente, na supracitada entrevista aquando da guerra de Angola em 1962.

Caso 2 Cirurgia de rotura de duodeno, em criança de 4 anos, por traumatismo do flanco e só detetado 7 dia depois. Situação complexa com episódios dramáticos que por persistência e atuação constante levaram à cura total deste menino, hoje homem com mais de 50 anos. Situação esta que, quando diagnosticada e operada, após 48 horas, tem uma mortalidade de 80 %, neste caso Dr. Machado Luciano opera a criança 7 dias depois.

Caso 3 Atingimento numa perna com tiro de arma de fogo, pós 25 de abril. Situação descrita em conto: “O PREC, um tiro, o MFA e uma paixão”, por Dr. Machado Luciano. Que não foi complexa, mas complexo o envolvimento de uma população em fúria.

Caso 4 No dia em que recebeu a medalha de honra da cidade de Setúbal, no passado ano 2018, agradeceu, fazendo ler uma carta da família, de um doente que faleceu, em que a família refere a gratidão, a assistência prestada na consulta de domicílio e a presença até à morte do seu familiar, “Em meu entender esta carta é a razão de aceitar uma medalha de mérito pelo exercício da medicina” disse Dr. Machado Luciano ao receber a supracitada medalha.

Caso 5 Regresso a Malange 66 anos depois Machado Luciano nasceu em Malange, no centro norte de Angola, de onde saíu com apenas 14 anos de idade. Voltou à sua terra-natal há quatro anos, com a sua filha mais velha Teresa Machado Luciano. Ficaram instalados na Casa do Gaiato, na presença do Padre Telmo, homem de 90 anos, amigo e sabedor da colaboração intensa que o pai de Machado Luciano deu à casa do Gaiato. Os jantares foram partilhados na presença de todos os alunos e aquando da primeira refeição, o Padre

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Setúbal Revista

Telmo pediu à criançada para se levantar, apresentando os convidados e pedindo uma salva de palmas aos mesmos. Nos restantes dias visitaram a cidade de Malange e o Dr. Machado Luciano teve a alegria de visitar o seu liceu, entregando uma fotografia ampliada de todos os alunos do seu ano, 1948/49, informando da presença nessa mesma fotografia, do Bispo de Benguela, Dom Óscar Braga e do Cardial de Luanda, Dom Nascimento. O Diretor atual do liceu de Malange, que desconhecia tal facto, agradeceu e colocou-a em lugar de destaque.

Visitaram ainda, nessa mesma viagem, o Hospital Central de Malange, edifício com dois corpos de dez andares, totalmente apetrechado e tendo sido o Dr. Machado Luciano recebido pelo diretor clínico, com extrema delicadeza. O colega era neurocirurgião e quando lhe perguntaram se era natural de Malange diz ter nascido em Paris, pois era filho de um embaixador. O Dr. Machado Lu-

ciano refere à SER: “Que maravilha…se não tivesse sido a independência este distinto neurocirurgião seria de certeza, um trabalhador contratado numa qualquer propriedade de algodão, a mando de um qualquer chefe de posto da zona. E logo pensei que valeu a pena a independência, desta gente, que naturalmente, ignorávamos por serem negros. Valeu a pena e fomos muito bem recebidos.”

Dr. Machado Luciano ainda a propósito desta viagem a Malange, partilha connosco outras experiências que marcaram este seu regresso a Angola: “Ao chegar a Luanda tinha à minha espera a Luísa, doente que operei em Setúbal há 30 anos, de uma doença complexa do intestino, que me veio mais uma vez agradecer ao aeroporto.

Luísa atualmente é secretaria do governo e mesmo assim ainda lhe dei uma consulta / conselho sobre pequenos problemas da cirurgia feita há 30 anos.”

VIAGENS

Pela China em cadeira de rodas

E

m 2016, decidimos, finalmente, virar a Oriente, pois há muito que o queríamos fazer e a China foi o destino escolhido.

Resolvemos visitar Hong Kong, Xangai e Pequim. Claro que, estando tão perto, não podíamos deixar de visitar Macau porque era um desejo antigo. O percurso é muito rápido já que fica, apenas, a uma hora de barco, desde Hong Kong.

A pesquisa que fizemos levou-nos à Emirates Airlines, com quem nunca tínhamos viajado. Conseguimos uma óptima solução e uma promoção que nos agradou muitíssimo que passo a contar.

A viagem para Hong Kong iria fazer uma escala no Dubai. Uma vez que a companhia permite que se possa prolongar a escala, por alguns dias, nos Emirados Árabes Unidos, aproveitámos e ficámos 3 dias no Dubai. Além disso, permite, também, que a ida e a volta sejam feitas por cidades diferentes, sem que o preço aumente, o que não é muito comum. Assim, a viagem de avião foi Lisboa - Hong Kong , com escala de três dias no Dubai e o regresso foi feito desde Pequim.

Viajar com a Emirates Airlines foi uma agradável surpresa. Após a compra do bilhete, directamente no site da companhia, bastou uma chamada para confirmar o assunto "cadeira de rodas".

Foram muito eficientes e resolveram o assunto rapidamente, não sendo preciso preocuparmo-nos mais. Convém, sempre, comunicar à companhia o facto de nos deslocarmos em cadeira de rodas e confirmar a necessidade de auxílio para entrar no avião. Ao comprar o bilhete, directamente nos sites das companhia, é-nos apresentada essa opção que devemos seleccionar. No en-

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Setúbal Revista

VIAGENS

Sofia em Viagem Após um acidente de viação, no qual ficou paraplégica, Sofia passou a deslocar-se em cadeira de rodas. O facto de fazer algumas viagens e as dificuldades que encontra, desde o planear até à viagem em si mesma, levaram-na a partilhar as suas experiências com o objectivo de inspirar ou facilitar essa tarefa a outras pessoas. É no blog JustGo

by Sofia que o faz, sendo, também, um espaço de divulgação e promoção de boas práticas de turismo, em termos de acessibilidades, para pessoas com mobilidade reduzida. http://justgo.com.pt

tanto, há que assegurar o tratamento da questão por parte deles. Precisam sempre de informação sobre se a cadeira é manual ou eléctrica, devido às baterias destas, qual o peso da cadeira e se necessitamos de ajuda para entrar no avião, pois há pessoas que se deslocam em cadeira mas conseguem andar desde a porta de embarque até ao respectivo lugar, dispensando ajuda. Hoje em dia com a TAP todo este processo já é tratado por mail, não sendo necessário ligar para lá.

Logo no inicio da viagem apercebi-me que tudo iria correr bem e que tudo es-

tava optimamente organizado. Fiquei a saber que a Emirates permite que levemos a cadeira na cabina do avião, desde que seja manual e dobrável, o que não é o caso da minha que não dobra, assim como o facto de ter, sempre, uma cadeira de bordo disponível durante todos os voos, o que nem sempre acontece em todas as companhias.

Para saber mais sobre o assunto consulte a página da companhia, com informações para passageiros com necessidades especiais.

De Hong Kong seguimos para Xangai, Setúbal Revista

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VIAGENS

de avião, com a Hongkong Arlines, e daí, fomos para Pequim no comboio bala, uma viagem que durou cinco horas muito tranquilas.

Tive uma surpresa muito agradável ao nível das acessibilidades, tanto na estação como dentro da carruagem que era destinada a pessoas com mobilidade reduzida, o que me permitiu passar da cadeira para o banco, sem dificuldades. O único problema aconteceu na estação pois a ida à casa de banho tornou-se impossível dada a sujidade da mesma, estando, no entanto, adaptada, facto que ocorreu mais do que uma vez na China.

Com a Hong Kong Airlines também correu tudo muito bem. Os bilhetes foram comprados por Internet e o pedido de auxílio de cadeira de rodas foi tratado por mail. O que não correu tão bem foi o facto da cadeira de bordo ser muito pequena e o pessoal que nos auxilia não ter muito jeito para o fazer. Foi por muito pouco que não caí! Enfim, temos que ser nós, por vezes, a antecipar as situações e alertar para o que possa correr mal.

O pouco que vimos da China chegou para termos a noção das realidades tão díspares que lá existem pois conseguimos andar por ruas em que se vê um país evoluído, moderno, com acessibili-

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Setúbal Revista

VIAGENS

dades garantidas, assim como por outras que se encontram, ainda, no século passado e onde as dificuldades são enormes.

Estivemos nas grandes e modernas cidades da China em que a questão da acessibilidade começa a ser tratada.

Pelo que consegui ler muito foi feito nos últimos 10 anos, especialmente em Pequim depois dos jogos paralímpicos de 2008. Muito há ainda a fazer, principalmente, nas zonas rurais em que segundo a cultura e tradição antiga é comum colocarem-se obstáculos à entrada das casas para "afastar os demónios". Acima de tudo, é preciso mudar mentalidades.

As pessoas são distantes mas simpáticas. Ficam a olhar quando passamos, mas acho que olham para tudo e todos os que são diferentes. Não nos dão prioridade e, na maior parte das vezes, temos de "avançar" à força e juntarmonos à multidão! Aliás, eles funcionam mesmo assim, acho que, por serem muitos, estão habituados a desenrascarem-se e não olham para quem está ao lado. No entanto, quando os confrontamos lá nos cedem passagem muito delicadamente. São culturas e mentalidades não é por serem arrogantes ou mal educados!

Há que ter especial cuidado ao atravessar as ruas na China. Ninguém pára para dar passagem, a não ser quando já estão mesmo em cima de nós, e as motas são muitas e silenciosas e nem damos por elas! Acho que os peões não têm prioridade nem nas passadeiras!

Ao planear a viagem, encontrei um site que usei e achei muito útil, China Highlights pois tem uma área dedicada a pessoas com mobilidade reduzida e que recomendo vivamente a sua consulta: Tips for Disabled Travelers to China.

JustGo!! n Setúbal Revista

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CULINÁRIA

Cheesecake de chocolate branco com coulis de morango

C

om sabor e perfume a primavera, trago-lhe uma deliciosa e refrescante sobremesa. Um cheesecake de chocolate branco com molho de morango. Este doce pode ser feito numa forma de aro amovível, ou, se preferir, pode colocá-lo em taças individuais.

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Setúbal Revista

CULINÁRIA

Ingredientes para o cheesecake: 180 g de bolachas shortcake de chocolate 50 g de manteiga, derretida 5 folhas de gelatina 300 ml de natas, bem frescas 500 g de queijo creme (tipo Philadelphia ou com a mesma percentagem de gordura) 1 lata de leite condensado 200g de chocolate branco, derretido

Ingredientes para o coulis de morango: 200 g de morangos 100 g de açúcar 1 pau de canela 50 ml de vinho moscatel de Setúbal

Modo de preparação Forre com papel vegetal uma forma, com fundo amovível, de aproximadamente 22cm.

Comece por triturar as bolachas (batendo-as dentro de um saco, no processador elétrico ou no almofariz), junte a manteiga amolecida e misture bem. Espalhe a bolacha uniformemente no fundo da forma pressionando com a ajuda de um copo.

Reserve no frigorífico.

Demolhe as folhas de gelatina em água bem fria.

Pique o chocolate branco e leve a derreter em banho-maria.

Aqueça 75ml de natas e retire do lume antes de levantar fervura. Entretanto, junte as folhas de gelatina demolhadas e espremidas e mexa vigorosamente com uma vara de arames até dissolver.

Bata os restantes 225ml de natas em chantilly e reserve no frigorífico.

Bata o queijo creme com o leite condensado até ficar macio, junte o chocolate branco (arrefecido) e bata até

ficar homogéneo. Junte as natas, com a gelatina, e bata mais 1 ou 2 minutos. Por fim envolva o chantilly com movimentos suaves.

Transfira a massa para a forma, alise com uma colher e leve ao frigorífico até solidificar (cerca de 12 horas).

Retire do frio cerca de 10 minutos antes de servir. Abra o aro, cuidadosamente retire a base da forma e transfira para o prato de servir. Cubra com o coulis de morango que deve estar frio.

isso, cozinhe em lume brando todos os ingredientes, até a fruta ficar desfeita.

Coe o preparado para retirar as grainhas dos morangos e deixe arrefecer completamente antes de cobrir o cheesecake.n

Coulis de morango: A cobertura pode ser uma simplesmente compota de frutos vermelhos no sabor e quantidade preferida ou pode fazer um simples molho, para

Com o apoio de Merengue & Chocolate email: merengueechocolate@gmail.com Setúbal Revista

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PSICOLOGIA

SILVIA SILVA Psicologa, Psicoterapeuta Torres Vedras psicologa.silviasilva@gmail.com

A

tradição já não é o que era e as alterações que a sociedade vai sofrendo revelam-se também na constituição das famílias. As crianças filhas de pais separados deixaram de ser apontadas, tudo porque deixaram de ser “raras”.

Hoje as famílias mono parentais representam uma faixa importante da população e uma em cada quatro crianças é filha de pais separados.

Um número que podemos considerar fictício pois não contempla nenhuma união não civil. A questão é: quais as repercussões de tais mudanças? Por um lado estas metamorfoses vêm criar a necessidade de compensação parental, o que favorece um cresci-

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Setúbal Revista

Síndrome de Alienação Parental

mento infantil num registo perfeitamente omnipotente.

Situações de divórcio provocam nos pais sentimentos de culpa que despoletam a compensação material. Ou seja, perante uma evidente falha cometida pelos progenitores, no que se refere ao desmembramento da família, os pais tentam consertar esse “erro” com outro.

A criança percebe e manipula de modo a atingir os seus mais breves caprichos. Sabe-se que a falta de coerência (inconstância de critérios); a falta de consistência (força infantil sobre a fraqueza parental, ainda que agora digam “não” perante a insistência da criança acabam por dizer “sim”) e a

falta de continuidade parentais (ausência de postura educativa, que passa por períodos de firmeza intercalados com outros de permissividade) são propriedades fundamentais ao registo de patologia infantil. Com a desculpa de “para que não fiquem traumatizados” é-lhes cedido, permitido e oferecido tudo.

A demissão dos pais enquanto educadores, optando pelo facilitismo, o que de alguma forma lhes diminui a culpa, pode repercutir-se num egocentrismo infantil, que gera uma espécie de pequenos ditadores sem regras, que não têm noção dos limites, a que os pais dizem não ter mão.

Por outro lado a dificuldade dos adul-

PSICOLOGIA

tos em aceitar um processo de separação pode fazer com que a criança passe a ser um joguete no meio da guerra que se cria.

Provavelmente o mais doloroso para os filhos de um divórcio será terem de desistir de um dos pais dentro do seu coração e abdicar de uma parte de si mesmos.

Nas lutas entre ex-conjuges é frequente a utilização e manipulação da criança para magoar o outro. Trata-se de Síndrome de Alienação Parental (S.A.P.) e é um transtorno pelo qual um progenitor transforma a consciência do seu filho, mediante vários ardis, com objectivo de impedir, ocultar e destruir os vínculos existentes com o outro pro-

genitor, levando-o a ter apenas sentimentos negativos para com ele.

Surge principalmente no contexto da disputa da guarda e custódia das crianças, e o seu promotor ou agente, o progenitor alienador, na maior parte dos casos, é o que tem a seu cargo a custódia legal dos filhos.

Os estratagemas consistem em tentativas de minimizar o contacto com o outro, impedindo o contacto telefónico ou físico, na expectativa que a criança se desiluda, fique magoada e pense que o progenitor alienado não se preocupa com ela.

Estas lavagens cerebrais pautadas por campanhas anti-ex-conjuge fomentam o desprezo e ódio da criança por um

dos pais e pelo outro lado o medo de perda e dependência psicológica. Este tipo de posturas educativas: quer a compensação parental quer o S.A.P., provocam inúmeros transtornos e sequelas nas crianças. É importante reflectir e perceber que a vinda de um filho tem que ser associada a um projecto parental educativo e que este novo ser, é alguém muito importante e independente dos pais, que por eles deve ser encaminhado e amado e nunca utilizado em benefício próprio.

Como diria Pedro Strecht um dos papéis mais importantes dos pais é o de ajudarem os filhos a crescer, mas para isso é preciso saber ser crescido. n Setúbal Revista

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OPINIÃO

MARIA DO CARMO BRANCO Vogal do Conselho de Administração da UNISETI (Universidade Sénior)

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alar de Abril e da Democracia conquistada, é falar dos Movimentos de Resistência e Oposição à Ditadura, que sofreram e morreram pela conquista da Liberdade.

Com esta reflexão vem a propósito lembrar os movimentos de resistência que, ao longo do tempo, foram nascendo no seio das diversas sociedades, pautando-se sempre, ou quase sempre, por um conceito de mudança social, que envolveu uma modificação política, contra uma autoridade constituída, quer imposta, quer eleita. A noção de mudança social envolve sempre a criação de melhores condições de vida, bem como a liberdade de expressão, que podem estar ligadas a movimentos internos ou externos. Segundo

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Setúbal Revista

Movimentos de resistência

alguns sociólogos, como Auguste Comte, a mudança social, na maior parte dos movimentos, prende-se com questões económico/políticas, com o desejo intrínseco de uma maior liberdade de representação nos órgãos que gerem o destino dos povos, envolvendo-os na adaptação da sociedade às necessidades dos momentos históricos. São quase sempre movimentos progressistas que veem com agrado a mudança das estruturas do estado, contrariamente aos movimentos conservadores que a veem como algo negativo que lhes vai tirar o poder, não se importando com o desenvolvimento social.

Portugal, nas décadas de 40 e de 50 do século XX, foi um país de constan-

tes movimentos, de contrastes e de dicotomias. A conjuntura internacional não era boa devido à 1ª. Grande Guerra, à Guerra Civil Espanhola e, por último, à 2ª. Grande Guerra de 39 /45, embora Salazar tivesse declarado a neutralidade, o que evitou conflitos agravados.

No entanto, o Estado Novo começou a ser confrontado com um clima de contestação, observando-se um crescente número de organizações de oposição ao Regime, motivadas pela congelação de salários, falta de matérias-primas, em parte pelo “decreto de represálias” imposto pelo Reino Unido aos países ibéricos.

Assiste-se, então, a uma clivagem social crescente, acompanhada de fluxos

de refugiados, e corrida especulativa a matérias estratégicas, como o volfrâmio, com a riqueza só nas mãos de alguns, e a miséria nas classes operárias.

Tudo isso e mais o clima de terror que se vivia, criado pela polícia política, despertaram os movimentos de resistência encabeçados pelo PCP a partir de 1921, com militâncias clandestinas que representavam a principal estrutura de resistência à ditadura. Mais tarde, surge o Partido Socialista e outras organizações.

Os Republicanos Democráticos organizaram e comandaram várias revoltas como as de 1927, 1928 e 1931, em Lisboa, Setúbal, Açores, Guiné e Madeira, todas fracassadas, e das quais resultaram vários presos e muitos isolamentos sociais Em 1932, o Movimento Monárquico Católico do Integralismo Lusitano, sob a liderança de Rolão Preto, suspendeu a atividade. Fundaram o “ Movimento Nacional Sindicalista” que tinha por finalidade organizar a resistência ao Estado Novo. Em 1934, perante a enorme mobilização à sua volta, Salazar proibiu-o, prendendo alguns elementos e colocando na fronteira com Espanha os seus chefes.

Em 1943, nasceu o movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista (MUNAF),conseguindo agrupar muitos opositores democráticos, entre eles Mário Soares. Em 1945, este movimento foi substituído pelo Movimento de Unidade Democrática (MUD). Salazar autorizou a sua criação pretendendo, com isso, proporcionar um debate público sobre as eleições, sem qualquer transparência nos atos elei-

torais, visto que foram sempre manipulados secretamente pelo Estado, não permitindo que a oposição ganhasse. O MUD foi dissolvido pelo regime em 1948, devido à grande adesão do povo a este movimento.

Muitos foram presos e exilados, continuando no seu exílio a exercer uma grande resistência à ditadura que governava o país.

Muitos opositores participaram nas eleições de Norton de Matos e Humberto Delgado. O Governo mudou o ato eleitoral criando um colégio eleitoral (composto pelos partidários da União Nacional) Em 1959, Humberto Delgado pediu asilo político à Embaixada do Brasil, seguindo depois para este país. Mais tarde vai residir para Roma, sendo mais tarde assassinado pela Pide, perto de Olivença, devido a uma cilada montada com essa finalidade.

Em 1961, Henrique Galvão e outros resistentes ocupam o Paquete Santa Maria, despertando a atenção do mundo para o regime fascista e colonialista que se vivia em Portugal.

Ainda em 1961, dá-se a revolta militar e civil no Quartel de Beja, comandada por Varela Gomes (capitão) e Manuel Serra (líder civil) mas que acabou por fracassar, tendo sido feitas várias prisões.

A crise académica começou em 1962, quando o governo proibiu as comemorações do Dia do Estudante. Um grande número de estudantes ocupou a cantina universitária, sendo violentamente reprimidos pelas forças policiais. A Universidade de Lisboa e de Coimbra decretaram o luto académico.

Esta crise despertou muitos estudan-

tes para a atividade política de Resistência ao Estado Novo.

Nem com o afastamento de Salazar, em 1968, se alterou o panorama político.

A oposição radicaliza-se e torna-se mais forte, favorecendo atos radicais mais violentos, obrigando o regime a sofrer dificuldades económico-financeiras e pressão internacional.

Em 1969, a Ala Liberal elegeu um grupo de 30 jovens que vieram trazer uma lufada de ar fresco à luta pela liberdade. Foram todos derrotados pelos conservadores da União Nacional, que eram a maioria. Deste modo e porque não podiam exercer os seus direitos, acabaram por abandonar a Assembleia.

Assiste-se, depois, a uma radicalização da resistência a que se juntam os estudantes universitários. A Ação Revolucionária Armada (ARA) apoiada pelo PCP e pelas Brigadas Revolucionárias, praticam ações armadas, não terroristas, contra o sistema colonial e contra a logística da guerra colonial.

Em 1973, o III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro, entre 4 e 8 de Abril, foi um momento de viragem na estratégia da oposição, por integrar militares, forças políticas de diferentes correntes ideológicas e movimentos de resistência.

Ao mesmo tempo, crescia o descontentamento dentro das Forças Armadas contra a guerra colonial. Assim, surgiu o Movimento das Forças Armadas (MFA), cujo principal objetivo era acabar com a guerra colonial e democratizar o país.

Em 25 de Abril de 1974, o MFA conseguiu o seu objetivo, concretizando o seu sonho , o dos Movimentos de Resistência e o da maioria do Povo Português. Citando Sophia de Mello Breyner; “esta é a madrugada que eu esperava”.

Termino com parte de um poema de minha autoria, agradecendo a todos os que sofreram e morreram pela Democracia.

Aos que ergueram a voz onde a verdade doía, aos que connosco lutaram para que a noite fosse dia, obrigada a todos Vós. n (Documentos consultados:” jornais da época, enciclopédia livre, ditadura portuguesa” Setúbal Revista

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CONSULTÓRIO JURÍDICO

NUNO CASTRO LUIS Advogado

Parabéns, Salvador!

H

á pouco, no rádio do meu carro, ouvi a comovente notícia do nascimento de uma criança prematura, após gestação de trinta e uma semanas, no útero de uma mãe com morte cerebral declarada desde as dezanove semanas de gravidez.

No mesmo bloco de notícias, ouvi informações sobre a evolução de um caso de uma filha adotiva que, juntamente com o seu marido, matou a mãe, uma professora do nosso distrito, alegadamente para ficar com os seus bens. Escutei, também, uma indicação sobre o caso da mulher que matou o seu marido atleta, com o apoio do seu amante.

Ainda no mesmo bloco de informação foi feita uma referência a casos de violência doméstica, referindo-se mais uma vez a fundamentação dada por um juiz para justificar, ou pelo menos relativizar, com indicações de pretensas razões culturais, a forma como um homem teria agredido a sua mulher, por eventual adultério.

Esta notícias, que certamente são uma boa fonte para o estado civilizacional em que estamos, poderá fazer-nos pensar sobre qual a importância que as relações de confiança familiar assumem, na sociedade de hoje, e na nossa ordem jurídica.

Quando um filho mata o pai (ou a mãe) haverá um homicídio que, por força da relação de filiação, à partida se subsumirá no tipo penal de homicídio qualificado (o crime mais grave do Código Penal, punível com uma pena máxima de 25 anos de prisão).

E por que razão considerou o legislador que esta ligação deveria ser fundamento para a maior gravidade do crime?

Por considerar que, para além do bem jurídico vida (que naturalmente é posto

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Setúbal Revista

em causa em qualquer homicídio), outros bens são postos em causa, tais como a confiança existente nas relações familiares e até a própria família.

Por outro lado, leva a que se considere, em termos de culpa, a existência de um maior distanciamento de valores entre os do agente que pratica os factos e os dominantes na sociedade, ou seja, uma maior censurabilidade, e uma consideração psicológica em si mesma considerada de especial perversidade. É claro que quando a motivação para se atentar contra a vida de uma mãe é a obtenção de uma vantagem patrimonial, ou seja, avidez, existirá uma outra qualificante para o crime, por se traduzir numa relativização do valor da vida (e neste caso do valor de uma vida familiar) perante a expectativa de obter dinheiro.

Julgamos que, em termos penais, e sem prejuízo de uma melhor análise face aos casos concretos, ninguém terá dúvida de que este deverá ser o tipo penal abstratamente aplicável, face à extrema gravidade que estes comportamentos revelam.

E no caso de um homicídio ocorrido entre elementos de um casal?

Curiosamente, quando a versão original do Código Penal atual foi aprovada, em 1982, o homicídio entre cônjuges não estava previsto como qualificante, tendo a Comissão encarregue de o fazer indicado que a morte praticada entre membros de um casal não se poderia só por si considerar um homicídio qualificado, devido à natureza especialmente tensa entre os cônjuges. Foi preciso esperar por 1995 para que esta argumentação fosse ultrapassada e passasse a

CONSULTÓRIO JURÍDICO

estar expressamente considerada como qualificante, não só dos crimes de homicídio como, igualmente, dos crimes de ofensas à integridade física.

E qual a razão para que o legislador, há já mais de duas décadas, tenha considerado que, também entre cônjuges, deveria ser considerado tão grave que poderia levar a uma qualificante? Exatamente por razões que levam a considerar que, para além do bem jurídico vida (ou integridade física), haverá outros bens que são postos em causa, como a relação de confiança que os cônjuges assumem, a cooperação e assistência, de certa forma, uma relação tão próxima como a de uma família.

É exatamente por isso que uma agressão a um marido ou a uma mulher (seja tendente a uma morte ou a uma agressão física e psicológica) poderá ser uma qualificante, pois para lá da agressão estrita à vida haverá mais, muito mais, que é posto em causa.

Poderemos procurar fundamentações que relativizem esta gravidade, poderemos tentar encontrar pretensos elementos culturais ancestrais que levam a que alguém se sinta até legitimado (ou pelo menos com uma culpa menor) para fazer uma espécie de vingança ou retoma da honra quando um elemento da família não atua como era expectável (como no caso de uma violação de deve-

res conjugais) mas uma coisa é certa, a agressão dentro de uma relação familiar ou conjugal é sempre extremamente gravosa, por tudo o que põe em causa.

Quando alguém agride, ofendendo a integridade física ou psicológica (ou até a vida) de um elemento da família ou da relação conjugal, tem sempre associada uma extrema gravidade reconhecida pela ordem jurídica, pelo que um agente em concreto terá sempre uma extrema dificuldade em convencer que não tem especial censurabilidade ou perversidade. É por tudo isto que o exemplo da notícia do nascimento da criança prematura é tão importante para nós. Não foi apenas o cuidado que tantos médicos tiveram para que nascesse que nos comoveu, não foi apenas a maravilha da ciência médica e da técnica contemporâneas, colocadas ao serviço da vida, que nos espantou, tranquilizando-nos.

Foi essencialmente o exemplo que aquela família deu, na tomada de decisão de salvar o seu novo elemento (mesmo com o esperado sofrimento que saberiam iria provocar a manutenção daquela gravidez), mas também na dignidade como trataram da jovem mãe, já morta cerebralmente, porém apoiada como se de uma heroína se tratasse, que nos deixou emocionados.

Foi, finalmente, no sorriso com que foram capazes de receber aquela criança, apesar de todo o inimaginável sofrimento com que se despediram da sua familiar, que nos deixaram tão sensibilizados. Que orgulho deveria ter a jovem mãe na atitude da sua família, e que confiança deveria ter nos seus próximos, se pudesse saber de tudo isto.

Numa época em que tantos parecem relativizar o valor da confiança nas relações familiares, é muito tocante ver que alguém defendeu a vida de uma criança, salvaguardando a importância da própria família, mesmo após a morte de um dos seus membros. Talvez ajude a recentrar a sua importância, mesmo em futuras fundamentações jurídicas.

Foi assim que optei por interpretar todas estas notícias de há pouco. Foi assim que assumi que o exemplo deste bebé é tão relevante para a defesa do bem jurídico família e relações de confiança familiar. Foi assim que achei que estamos todos de parabéns, pela notícia deste nascimento.

Parabéns, Salvador! n Setúbal Revista

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LIVROS E LEITURAS

SARA LOUREIRO Mestre em Ciências da Educação Mediadora de Leitura Produtora Cultural Co-fundadora da PLUS Academy

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orque há coisas que têm que acontecer, coincidências à parte, assim surge este espaço criado, aqui e agora, para falar de literatura, de livros e de autores. Trata-se de um espaço em que me proponho abordar, de forma despretensiosa e desimpedida, a vida com livros e os livros com vida, da formação do leitor à fruição da leitura, da escrita à palavra. E

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Setúbal Revista

Abensonhada Literatura

porque entendo a literatura e os livros como desafios que se nos colocam em permanente construção, pontos de partida para outros pontos de encontro, outras reflexões, outras análises e sínteses, assim a proclamei: Abensonhada Literatura.

Mas que território é este, o da literatura, do livro, do prazer de ler, da escrita, esta espécie de vício que se

apodera de algumas pessoas incautas?

Um território feito de fragilidades, de ameaças, de vicissitudes, mas também de forças e de conquistas, que a história atesta e faz questão de não deixar cair em esquecimento. Mas, se, por um lado, como diz Steiner em O Silêncio dos Livros, há toda uma vulnerabilidade inerente ao próprio livro, porque passível, em qualquer momento ou circuns-

LIVROS E LEITURAS

tância, de destruição, de apagamento, de rasura, de censura, enquanto objecto, enquanto produto e documento portador de história(s) e memória(s), por outro lado há a capacidade, por parte daqueles que estão na sua base e origem, de ultrapassar limites, de retomar o esforço laborioso e o sonho acalentado da sua produção, da sua edição, da sua divulgação, do exercício libertador da escrita, continuando a promover questionamento e inquietação e a fazer história. Por tudo isto, os livros assus-

tam. Quem os escreve, quem os edita e quem os lê, também. É esta resiliência, esta capacidade de superação de adversidades e de reinvenção de estratégias, modos e modelos que incomoda e, por conseguinte, o silenciamento e a delapidação de grandes obras e seus autores tem sido um processo transversal à história da própria humanidade.

Mas a resiliência e a capacidade de resposta também.

E quando as ameaças do presente-futuro se cruzam com as do passado, os-

tentando este território de renovadas fragilidades, vaticinando, num futuro próximo, o fim do livro, do livro tradicional em suporte papel, tal como o conhecemos, apostando noutras formas de ser e de se fazer livro, já não em singulares vestes de papel, ainda assim e apesar dessa investida, o livro impresso continua a singrar, fazendo-se à vida, com a perseverança que lhe é peculiar.

E nós com ele, numa relação de lealdade. Táctil será também, porventura, o amor do leitor pelo livro.n Setúbal Revista

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CULTURA

ISABEL OLIVEIRA MARQUES Poema Sobre Imagens ANDRÉ AFONSO

“O lugar onde a fotografia e as palavras se encontram.”

CONCERTO DE PÁSCOA As musas acordaram de sono prolongado os poetas que pairam na serra sopraram juntos o vento da tarde e nos abraçaram Abençoado momento As vozes se tornaram CANTO e na penumbra um Cristo abraçado longamente no silêncio da culpa dos homens que eternamente condenam o amor maior e a DOR a dor de mãe que esvazia e desnuda que cola útero e alma e faz serenamente o seu caminho passo a passo dia a dia até ao reencontro Abençoado o momento em que juntos na "casa primitiva" fizemos o concerto do nosso encantamento Páscoa inesquecível

(Coro Setúbal Voz, Março de 2018)

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Setúbal Revista

Dois olhares sobre...