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EU QUERO TRAZER A MATA ATLÂNTICA, OUTRA VEZ, PARA O ESPAÇO

Que

Sempre Foi Dela

Hélio da Silva, plantador de árvores

filtração, espécies de plantas e arranjo de plantio, além de maneiras de proteger e conectar todos esses elementos para que a água sempre tenha um fluxo. “É incrível quando a gente oferece oficinas em espaços abertos e atividades que envolvem as pessoas, bem como capacitá-las para levar essas propostas adiante. Outros, curiosos, colocam a mão na massa, vivenciam o escavar, arrancam uma capa de asfalto e olham o pedaço de terra embaixo, que não via a luz há 40, 50 anos. Isso é muito poderoso, porque transforma a percepção da pessoa, de um jeito que ela nunca mais vai olhar para um asfalto e para um terreno livre da mesma forma. E ela vai compartilhar esse entendimento com outras pessoas”, observa Castagna.

Outra ação que busca revelar a biodiversidade do espaço urbano e, principalmente, engajar mais pessoas na criação de áreas verdes, foi criada pelo ambientalista Nik Sabey em 2016. A iniciativa Novas Árvores Por Aí realiza, entre outras atividades, plantios coletivos, cultivando espécies nativas da Mata Atlântica em seu habitat natural. Do hobby de plantar mudas a caminho do trabalho ou nas horas de folga, Nik amadureceu a ideia de somar mais parceiros para potencializar suas ações. “O Novas Árvores vem para sugerir uma postura ativa. Quando a gente fomenta o plantio e faz mutirões, principalmente através das redes sociais, a ideia é que isso reverbere, que as pessoas se sintam capazes de replicar em seus bairros e cidades”, explica.

Entre as realizações do Novas Árvores está o Largo das Araucárias, cultivado em 2016, nos moldes de uma floresta de bolso, próximo ao Largo da Batata, zona oeste da cidade. A ação realizada junto ao paisagista Ricardo Cardim, teve também a parceria do arquiteto Sergio Reis, das iniciativas Flores no Cimento, Árvore Generosa, Fábrica de Árvores, e de voluntários, além do apoio da Subprefeitura de Pinheiros, que permitiu o plantio coletivo em dois pequenos terrenos. Num deles, inclusive, chegou a funcionar um posto de gasolina. “Na época, acho que plantamos 300 árvores, mas a intenção da floresta de bolso é que as espécies possam ir se substituindo, ou seja, algumas têm uma vida mais curta exatamente para proporcionar uma competição com outras. Dessa forma, uma acelera o crescimento do grupo”, conta Nik. Em poucos meses, os transeuntes viram se formar um oásis verde em meio ao concreto. Hoje, o ambientalista contabiliza, aproximadamente, 150 árvores no local, entre araucárias, figueiras, jatobás, araçás, e até mesmo uma Figueira das Lágrimas, “uma das árvores mais antigas na cidade, de que se tem registro”, destaca Nik.

Jardineiro Fiel

Sem ajuda do poder público ou de iniciativas da sociedade civil, o administrador de empresas aposentado Hélio da Silva empreendeu um voo solo há 20 anos. Uma cruzada pela ampliação e preservação da Mata Atlântica às margens do Córrego Tiquatira, no bairro da Penha, zona leste da cidade, que resultou na criação do Parque Linear de Tiquatira, primeiro desta modalidade na capital. Seu Hélio, como é conhecido, brinca que, assim como o personagem-título do filme Forrest Gump (EUA, 1994), sua história parece, à princípio, obra de ficção.

É que desde 2003, ele vem plantando, regando e cuidando, ininterruptamente, de milhares de espécies nativas no entorno das avenidas Governador Carvalho Pinto, Doutor Assis Ribeiro e Cangaíba, ao longo do córrego. No começo, das 200 mudas que cultivou, todas foram arrancadas. Depois, fez o

Em 20 anos, o aposentado Hélio da Silva já plantou mais de 39 mil árvores nas margens do Córrego Tiquatira, zona leste de São Paulo: a ação resultou na criação do primeiro parque linear da cidade, em 2008.

Sustentabilidade

plantio de outras 400 mudas, que também foram extirpadas. Mas ele não desistiu. “Eu via que o meu bairro estava ficando cada dia mais degradado, uma região paupérrima em infraestrutura, em verde. Pensei: se eu moro ali, por que não posso fazer algo a respeito? Não foi um desafio, foi uma missão. Eu quero trazer a Mata Atlântica, outra vez, para o espaço que sempre foi dela”, desabafa.

E lá se vão duas décadas desde a primeira árvore num lugar que antes era um terreno árido, com caixas e sacos de lixo, e que era considerado perigoso no bairro. Em 2008, com o apoio dos moradores, o espaço recebeu o suporte oficial da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, que ali criou o Parque Tiquatira.

Com a meta de plantar 50 mil árvores, Seu Hélio já contabiliza 39 mil e 800 “filhas”, como se refere –número calculado no dia 11 de maio deste ano, pois ele faz as contas periodicamente. A única coisa de que já perdeu a conta foi do número de pessoas que o abordam todos os dias no parque para agradecer, cumprimentar ou simplesmente tirar dúvidas sobre as espécies – mais de 150, como jequitibás, aroeiras, jacarandás, entre outras – que sombreiam os percursos de caminhada e de pausa para contemplação da natureza e sociabilização dos frequentadores.

“Se eu for à Avenida Paulista e perguntar para qualquer pessoa onde ela gostaria de tirar férias, ela vai me dizer que na praia ou na montanha. Ou seja, as pessoas gostam da natureza, e a natureza é o nosso melhor remédio, ela cura. Por isso, meu objetivo é arborizar. Olha como a árvore é generosa, nos dá sombra, regula o clima, atrai pássaros, dá flores, frutos, e tudo de graça. O homem, um dia, tenho certeza absoluta, vai entender a linguagem das árvores”, compartilha o plantador de árvores, como gosta de ser chamado.

Ampliar Horizontes

Mudar a forma como olhamos para o ambiente onde estamos integrados e nos responsabilizarmos pelo nosso entorno será a mais importante virada de chave da humanidade no século 21. “A gente já faz parte de uma geração que se acostumou, por exemplo, a olhar para o Rio Tietê e ver aquele canal feio de concreto, que exala um cheiro horrível. Não tem nada de normal nisso. Então, uma educação ecológica é fundamental no sentido de entender o oikos [palavra grega cuja