Ozualdo Candeias é cineasta e participou de debate com o Conselho Editorial da Revista E
cas, de Nelson Pereira dos Santos, é uma fita política, mas por que existe alguém que a faça? Porque existe uma pobreza que está aí. Os militares não tiveram a menor preocupação em censurá-la porque eles não se sentiam responsáveis por aquela miséria. Quando eu fazia fitas, todos as critica vam porque eu punha negros, pés descalços e a Igreja envolvida. Eu não tive receio. Meu nome foi esculacha do diariamente. Nos anos 90, Alberto Farias, um cara bom do Cinema Novo do Rio, fez Pra Frente Brasil. Ele filmou a revolução e a tortura. A fita ficou presa um tem po, mas passou. Essa foi a única fita contra o governo que eu vi. Recentemente, o filme Central do Bra sil deu certo, mas se fosse eu ou qual quer outra pessoa que tivesse feito esse filme, não teria acontecido nada. Talvez fosse para Berlim, ganharia e fim de conversa. Nós, que fazemos o
cinema brasileiro, não temos condi ção social e nem econômica para fa zer lobby. PÚBLICO
Todo mundo faz fita para o público, sendo que a maior parte dá um míni mo de bilheteria. Eu faço filmes com os quais tento atingir um determina do público, com uma determinada história. Mas eu não faço fita do tipo Mazzaropi. Normalmente, a pessoa que assiste Mazzaropi é aquele des graçado que levanta às quatro da ma nhã, chega no trabalho às sete, come marmita e anda seis horas de trem por dia. O dia em que ele for ao cine ma, não vai ver a minha fita, é claro! Ele precisa ver Mazzaropi mesmo. C in e m a d a b o c a
Após o Cinema Novo, as leis mais importantes feitas por Jânio Quadros, Juscelino e depois os militares possi
bilitaram o surgimento do cinema boca-do-lixo. Essa modalidade surgiu na rua do Triunfo, por volta de 1968. Havia, além de uma farta produção realizada com o mínimo de dinheiro, certa liberdade “erótica” , “passional” . O tema passou a agradar o público. E houve complacência da censura: pri meiro a mulher podia aparecer só de costas, depois, só de frente. E tudo de acordo com as leis. Para mim, a gran de coisa é que eles me tinham como um anarquista, e isso funcionava. O ci nema da boca estava num momento em que se podia extrapolar um pou co, ir mais longe. Naquele momento, vivia-se a revolução de costumes, que começava a ser reconhecida no Brasil. Na minha opinião, foi uma conquista social, principalmente para a mulher. As senhoras casadas e as mulheres em geral começaram a ter consciência da morfologia masculina. Depois surgiu o pornô e tudo foi banalizado. ■ revista &
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