209582017 battista mondin os grandes teologos do seculo vinte vol 1

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respondência entre pregação e fé, entre um dar-se yifinito por parte de Deus e um puro aceitar por parte do homem; não mais através da serena realização do reino e do novo devir da história. A vontade do Pai exige agora de Jesus o sacrifício extremo. . . Falida a primeira infinita possibilidade, a redenção se orienta pelo caminho do sacrifício. E assim também o reino de Deus não vem como deveria vir, exube­ rante plenitude destinada a mudar a história. De agora em diante, por assim dizer, permanece suspenso. Permanece ‘em devir’ até o fim do inundo, ligado doravante às decisões dos indivíduos, de cada pequena comunidade e de cada época, se virá e até onde poderá prosseguir.” 30 Essa tese do duplo plano redentor, como observa o próprio Guardini, é discutível. Mas há diversos pontos a seu favor: por um lado, torna mais inteligível o castigo com que Deus puniu os hebreus e toda a humanidade por terem rejeitado a mensagem de Jesus e, por outro lado, faz com que se veja melhor como o caminho da Cruz foi fruto de uma livre decisão do Homem-Deus.

VI. AVALIAÇÃO A exemplo da teologia de Teilhard de Chardin, a teologia de Guardini distingue-se da teologia católica tradicional na medida em que não adota, como base filosófica, a filosofia escolástica, mas uma nova filosofia, centrada no princípio da polaridade. Não obstante as aparências, essa filosofia não se difere radical­ mente da filosofia aristotélico-tomista, na qual o princípio de pola­ ridade ocupa um posto predominante, com os pares ato-potência, matéria-forma, substância-acidente, essência-ser. 31 Mas Romano Guardini soube explorar melhor, do que a filosofia escolástica tradicional, as implicações e possibilidades especulativas inerentes ao princípio da polaridade, como, por exemplo, fazendo ver que ele exige a existência de um Ponto Superior externo aos próprios pólos, tornando possível seu acoplamento e seu equilíbrio.32 Com a filosofia da oposição polar, Guardini também conseguiu dar à questão das relações entre natural e sobrenatural, uma solução mais satisfatória do que a dada tanto pela teologia católica tradicional quanto pela protestante. Enquanto esta interpõe entre natural e sobrenatural um conflito insanável e aquela os justapõem como dois planos de um único edifício, Guardini, através do princípio da 30 Ibid., pp. 224-225. 31 Sobre o substancial acordo entre a filosofia da oposição polar e a filosofia aristotélico-tomista, cf. a Introdução de Sommavilla a R. G uardini, Scritti filosofici, vol. I, pp. 16-121. 32 A propósito de uma demonstração tomista da existência de Deus, fundamentada na oposição polar entre existência e ser, cf. o meu Filosofia delVessere di san Tommaso d’Aquino, Roma, 1964, pp. 177-182.


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