Lúcifer

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Tradução do original em inglês L u cifer D eth ro n ed —A tru e story Copyright © 1993 de W illiam Schnoebelen Todos os direitos reservados pela Danprewan Editora Ltda. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, gravada em qualquer sistema eletrônico de arquivamen­ to de dados, ou transm itida sob qualquer forma (seja mecânica, xerográfica, eletrôni­ ca ou qualquer outra), sem a permissão por escrito do detentor ao Copyright. Primeira edição: janeiro de 2004 SUPERVISÃO EDITORIAL E DE PRODUÇÃO

Robson Vieira Soares TRADUÇÃO

M ilton Azevedo Andrade COPIDESQUE E REVISÃO

Josemar de Souza Pinto Alexandre Emílio Silva Pires Vicente Gesualdi PROJETO GRÁFICO

F atim a Agra DIAGRAMAÇÃO

FA E ditoração CAPA

Ju lio C arvalho Textos bíblicos conforme a versão Almeida, Revista e Atualizada, 2. ed., da Sociedade Bíblica do Brasil ( r a ) , exceto quando for indicada outra fonte. Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional, publicada pela Editora V ida (n v i ). Almeida, Revista e Corrigida, da SBB ( r c ). Nova Tradução na Linguagem de Hoje, da SBB (n t l h ). DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO

S388L

Schnoebelen, W illiam J. (W illiam Jones), 1 9 4 9 Lúcifer destronado : confissões de um ex-satanista / W illiam e Sharon Schnoebelen ; tradução M ilton Azevedo Andrade . - Rio de Janeiro: Danprewan, 2003 Tradução de : Lucifer dethroned Apêndices ISBN 85-85685-68-9 1. Possessão diabólica . 2. Guerra espiritual . I. Schnoebelen, Sharon. II. Título. CDD 235.47 C D U 235.2

DANPREWAN EDITORA LTDA. Caixa Postal 29.120 - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20542-970 T el: (21) 2142.7000 - Fax: (21) 2142.7001 E-mait. danprewaneditora@terra.com.br - S ite: w w w .d an p rew an .co m .b r


De di c A t ó r i

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(3ste livro é dedicado com muito amor ao pastor Bob Walker e sua esposa, Jeannette, que têm sido para nós uma enorme bênção. Eles nos proporcionaram uma cobertura pastoral durante todo o tempo — tão longo e difícil — em que o estivemos escrevendo. Juntamente com os membros da nossa igreja, a Bethel Chapei, perseveraram em meio a numerosos ataques pessoais e inimagináveis batalhas espirituais por amor do Reino e pela publicação deste livro. Não temos palavras para agradecer tudo que fizeram. Oramos para que Deus os recompense por suas orações, pelo amor que a Ele demonstram e por sua obediência ao Senhor! Temos a consci­ ência de que esta obra não poderia vir a lume sem o que eles tive­ ram de suportar, com paciência e resignação. Queremos também reconhecer as orações, a inspiração, a aju­ da, o incentivo e a assistência de muitos que, com dedicação, con­ tribuíram conosco nos estágios finais deste livro. Toda vez que se faz referência a pessoas, há sempre o perigo de se omitir o nome de alguém importante. Todavia, queremos agra­ decer ao Senhor e pedir que abençoe Marjorie Bennett, Doug Browning, Rob e Anna Gascoigne, o tenente Larry Jones, Aron Rush, e Mary e Anya Starr. E, de um modo especial, queremos agradecer a todos que, anonimamente, intercederam por nós.


Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na fo rça do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes f i ­ car firm es contra as ciladas do diabo; p orq u e a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados epotestades, contra os dom inadores deste m undo tenebroso, contra as força s espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tom ai toda a arm adura de Deus, para quepossais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, p erm a ­ n ecer inabaláveis. Estai, pois, firm es, cingindo-vos com a verdade e vestindovos da couraça da justiça. C alçai os p és com a preparação do evan gelh o da p az ; em braçando sem pre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflam ados do M aligno. Tomai tam bém o capacete da salvação e a espada do Espíri­ to, que é a palavra d e Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tem po no Espírito ep à ra isto vigiando com toda perseverança e súplica p o r todos os santos. - Efésios 6.10-18


SumÁrio

1

Entronização....................................................................................9

2

Caça-Fantasmas?...........................................................................19

3

Conheça o Seu Inimigo...............................................................31

4

A Cerimônia de Inocência Acabou.........................................47

g

“O Vingador do Diabo” ............................................................. 59

6

Nas Entranhas da Besta.............................................................. 71

7

O Que a Noite Tem para Revelar............................................ 89

8

Lidando com a Confraria........................................................ 105

9

A Infra-Estrutura do Satanismo..............................................121

íò

“A Catedral da Dor” .................................................................. 139

11

Os Saduceus de H o je................................................................153

12

“...A Maldição sem Causa Não Se Cumpre” ....................... 161

13

Respostas a Algumas Perguntas Difíceis............................... 175

14

Os Túneis de Typhon................................................................ 191

15

Desertores das Trevas................................................................ 207

16

O Profano Graal ........................................................................ 221

17

Dissipando as Trevas .................................................................233

18

Falando do Inferno ...................................................................245


içj Testemunhando a um Adorador do Diabo .......................... 257 Descendo na Contramão....... ...................................................273 21

Regenerados, Chamados e Comissionados! ......................... 289

Apêndice 1 - 0 Calendário Satânico............................................. 307 Ap’êndice 2 - Indícios de um Possível Abuso...............................313


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ação

Nada mais do que a anarquia neste mundo é liberada, E um tempo de sangue e obscuridade; e, em toda parte, A postura de inocência é debelada. Os bons perderam toda a convicção, Os maus, porém, com impetuosa violência estão. Certamente algo está para se revelar; Certamente a Segunda Vinda não vai tardar... Mais uma vez as frevos desvanecem; mas agora posso saber Que vinte séculos de um sono pesado Tornam-se em pesadelo pela ação de um berço agitado. Epara os rudes e cruéis, sua hora p or fim chegou. Haverá indiferentes para com Belém que ainda hão de nascer? — A Segunda Vinda - de W. B. Yeats

ocê não faz idéia do que seja acordar com uma necessidade de sentir gosto de sangue em sua boca. Você não pode imaginar o que é dirigir o carro à meia-noite, pelas ruas molhadas de chuva de uma cidade, torcendo para en­ contrar uma mulher solitária com quem possa satisfazer um forte desejo... e, ao mesmo tempo, com outra parte sua torcendo para que não a encontre, temendo o que realmente você possa fazer.


DestronAdo Lúcifer

Sem dúvida que esse é um pensamento apavorante, até mes­ mo ofensivo, para a maioria das pessoas. Tenha paciência comigo, porém, ao introduzi-lo num mundo por onde poucos têm andado. Isso lhe dará condições de compreender de onde vim, a fim de poder avaliar melhor o que Satanás pode fazer às pessoas e, o que é mais importante, o que Jesus Cristo pode fazer p o r elas. JEu costumava acordar com uma forte necessidade de sentir gosto de sangue em minha boca, tal como o fumante inveterado levanta-se tateando com a mão, procurando o maço de cigarros ao lado de sua cama. Meu despertar era diferente do da maioria das pessoas, pois acontecia no fim da tarde. Tinha arranjado trabalho à noite — primeiro como vigia, depois como entregador da edição matutina de um jornal. Geralmente, eu dormia num quarto pequeno, com as janelas totalmente revestidas com cortinas de veludo púrpura, para não deixar entrar um raio sequer de sol. Dormia no chão, tendo ao meu redor pinturas satânicas nas paredes e no teto, as quais tinham o propósito de serem portas de entrada para outras di­ mensões da realidade — outros universos. Em certas épocas do ano, quando eu enfrentava uma situação mais difícil, dormia num caixão funerário especialmente construído para mim, de acordo com prescrições ocultistas bem precisas, for­ rado no fundo com uma terra “sagrada”, trazida do cemitério cató­ lico da minha cidade natal. Muito desta terra ficava bem embaixo do meu travesseiro. Mas eu tinha necessidade de sangue! Diferentemente dos ou­ tros pecadores, interessados sexualmente no corpo de uma mulher, meu único interesse era o seu pescoço ou as suas artérias do fêmur. Minha vida era vivida praticamente nas trevas, e eu adorava enti­ dades espirituais que eu chamava de os “Grandes Seres da Antigui­ dade”. Lúcifer era apenas um deles, embora um dos mais


3 1 de ouíubro de 1959

A véspera do Dia de Todos os Santos veio sobre aquela cidade do interior, no Meio-Oeste dos Estados Unidos, como um grande fantasma predador — com o som do seu esqueleto se arrastando pela noite afora. Era esse o segundo dia do ano preferido daquele garoto, só perdendo para o Natal. Todo ano, no dia de Halloween, ele vestia uma fantasia bizarra e saía para pedir doces, pipoca e chocolate, como é costume nos Estados Unidos. Ele gostava das guloseimas que ganhava, mas sentia que havia algo muito estranho na atmos­ fera daquele dia. O menino gostava do ar agradável do outono, perfumado com a fragrância das folhas secas se queimando. Apreciava também a camaradagem de seu melhor amigo, que com ele saía em busca das prendas por toda a cidade. E, naquela noite, havia certa sensação de perigo no ar, suficiente para tornar a amizade que os unia algo muito especial.

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importantes. Eu acreditava que esses seres estavam me transfor­ mando num ser imortal. Meus heróis eram homens como Nero, Hitler e Drácula, e eu acreditava ter contato diário com eles mediante o recebimento de espíritos. Eles me guiavam — eram espíritos destituidos de qual­ quer santidade, que serviam a um senhor também profano — , e eu obedecia a ‘‘eles” com um prazer embriagador e sinistro. Como é que um ser humano pode degradar-se a tal ponto? Como pode alguém tornar-se tão pervertido e maligno, tendo de viver à custa de sangue humano? As respostas para estas perguntas encontram-se neste livro — na história real de alguém que foi víti­ ma de uma trajetória maligna, da qual não há como escapar, exceto por meio de Jesus.


Seus pais só estavam preocupados com o fato de ele nunca ter saído para pedir guloseimas, no Halloween, trajando algo que ti­ vesse uma aparência do mal e lembrasse um demônio ou um bru­ xo. Aquele ano não foi exceção. Ele saiu com uma roupa em farrapos e maquiado para parecer um mendigo. Seus pais lhe haviam ensinado, desde a idade em que pôde começar a sair para a “brincadeira” do Dia das Bruxas, que “fantas­ mas, bruxas e demônios não existem”. Mas o clima sinistro da festa criava uma espécie de temor seguro e cômodo, que fazia da condi­ ção de ter amigos a coisa mais desejável naquela noite. Dez anos se passaram até o dia em que a alegria do Halloween seria manchada como que por doces envenenados e pipocas com agulhas escondidas no melado. O charme daquela noite seria assim, sutilmente temperado, como se fosse uma bebida forte contendo uma pitada de algo desconhecido. E, ain­ da, para que tudo ficasse do jeito que o menino gostava, ele fre­ qüentava um colégio católico, que guardava feriado no Dia de Todos os Santos, o que resultava, para ele, motivo de grande alegria, a fa lta de aula no dia seguinte. A estratégia dos dois meninos era percorrer de cima a baixo todas as ruas situadas na direção norte—sul daquela pequena co­ munidade e depois irem no sentido das transversais leste-oeste. Era um vilarejo de menos de mil habitantes, de modo que aque­ les meninos, cheios de energia e bastante animados, podiam per­ feitamente passar por todas as casas, o que, para eles, era um verdadeiro divertimento. Quando chegaram à velha pensão da cidade, eles “faturaram” como nunca. A gerente tinha feito com que os seus hóspedes, em torno de dez, colocassem suas dádivas numa enorme mesa, na en­ trada da pensão, para que os meninos não precisassem subir e des­ cer as escadas para os corredores. Os meninos haviam programado chegar lá bem cedo; mesmo assim, suas sacolas já estavam quase pela metade! Seus pais os queriam de volta a casa por volta das 8h30 da noite; assim, contavam ainda com mais de uma hora.


B n l r o n i z A ç i o

Naquela noite, quando estavam indo pela Rua Três em dire­ ção à escola pública, o garoto e seu companheiro deram, então, uma parada e, por um momento, ficaram em silêncio, contem­ plando as luzes e as lanternas feitas de abóbora moranga, como máscaras, através de cujos “olhos” e “boca”, recortados, brilhavam velas acesas em seu interior — iluminando as escuras calçadas co­ bertas de folhas secas do outono. Então, casualmente, o menino olhou para cima, por entre os galhos despidos das árvores da rua, e viu algo que transformaria para sempre a sua vida. O brilhar das estrelas naquela noite de outubro, que até en­ tão ele podia ver muito bem, de repente desapareceu — ou foi coberto por alguma coisa. Toda a abóbada celeste agora parecia contorcer-se como algo vivo ou, talvez, como um grupo de coisas vivas. A princípio, o menino não conseguiu discernir o que estava vendo. Pareciam muitos cachos de uvas que se sacudiam de dor, suspensos como se fossem tumores obscenos, escuros, que obscureciam o firmamento estrelado. Assim que o menino, boquiaberto foi saindo bem devagar de sob os galhos daquelas árvores que se espalhavam por todas as direções, as coisas ficaram um pouco mais nítidas. Cada um da­ queles cachos começou a se abrir, aos poucos, tornando-se horri­ pilantes. Então ele percebeu o que de fato eram: um bando de enormes criaturas que se pareciam com morcegos, furando com suas pequenas garras ossudas o manto aveludado da escuridão noturna! Os olhos de tais criaturas, então, se abriram. Apesar de serem demasiadamente horrorosas, foi desse modo que ele pôde ver, com maior facilidade, quantas eram. O que viu, deixou-o estarrecido. Pareciam milhares! Milhares de olhos de um vermelho acentuado faiscavam naquela massa de seres mórbidos que dele se aproxima­ vam. Os olhos que ele via pareciam entorpecer a sua alma. — Agora você nos pertence.


Estas palavras ressoaram em sua mente como a badalada de um grande sino. — Agora você nos pertence. Um sentimento de terror, não apenas um medo desconfortá­ vel, mas um gélid o e horrendo pavor, como um calafrio, percorreu de cima a baixo toda a sua espinha dorsal. Um estranho poder, com uma força irresistível, despencou sobre ele, fazendo-o cair de joelhos. — Ei, Bill! O que você está fazendo aí? O ansioso e amistoso grito do seu companheiro, que havia se afastado um pouco dele, captou de volta sua atenção. Ele olhou para o amigo, agora muitos metros à sua frente, e arreganhou os dentes num falso sorriso, nervoso, demonstrando não saber o que estava acontecendo. Voltou então a olhar para o céu, mas nada viu, senão estrelas. Era evidente que o seu amigo não havia percebido nada de anormal. Desvencilhando-se de todo o seu deprimente terror, e recupe­ rando-se da visão assustadora que quase o matou, o garoto correu então para alcançar seu amigo. No ano seguinte, ele observou o céu da Rua Três e apenas uma estrela cadente perturbou o cenário daquela noite. Desde então, a cada noite de Halloween, com o passar dos anos e avançando em sua adolescência, olhava para o céu para ver se aquelas horrorosas e desagradáveis criaturas de olhos vermelhos apareceriam de novo no céu. Mas nunca voltaram. Quando chegou à maturidade, ele se tornou cada vez mais fascinado pelo desconhecido. Passou a estudar a respeito de discos voadores, fantasmas, casas mal-assombradas, parapsicologia e Triângulo das Bermudas. Devorava todos os livros sobre esses as­ suntos que podia encontrar, para estranheza de seus pais. Todo ano, saía fielmente a cumprir o seu ritual do Halloween, mas ja­ mais voltou a ter uma visão como aquela. Um encontro bem diferente daquele, no entanto, o esperava, alguns anos depois. Sua mente já havia sido preparada para encarar


Desde o início de sua adolescência, a cada dois anos, o menino ia com seus pais a um local de veraneio junto às florestas do norte de Wisconsin. Eles alugavam uma cabana junto a um lago. Era um belo lugar. Certa ocasião, quando lá chegaram, numa noite de verão, o menino, agora um adolescente, estava no embarcadouro contem­ plando o lago. Era um local relativamente deserto, mas luminárias brilhavam por toda a margem. O fulgor das estrelas era excepcio­ nal. Ele desfrutava da beleza daquela noite e não lhe ocorria pensa­ mento algum sobre espíritos ou coisas estranhas. De repente, algo esquisito começou a acontecer ao seu redor. As árvores em torno do lago passaram a agitar-se, como que sacudidas por um forte vento — mas não estava ventando. Muito admirado e com certo medo, ele olhou para os pinheiros que ba­ lançavam de um lado para o outro. Parecia assistir à televisão com o som desligado! Ele chegou a tapar os ouvidos, testando-os, para ver se não estava tendo algum problema auditivo. Até mesmo o ruído noturno dos insetos e dos sapos havia de­ saparecido. Não fosse o suave barulho das águas roçando nos pila­ res do embarcadouro e o som ocasional de madeira contra madeira dos barcos presos que batiam nas águas, teria julgado que estivesse

Gníroniz

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o desconhecido, o extraordinário. Além disso, naquela amaldiçoa­ da noite de Halloween, uma porta se abrira totalmente na alma do menino. Algo pernicioso, asqueroso, destrutivo e maligno vie­ ra entronizar-se nele. Ao ser alguém tocado pelas gélidas asas do submundo, pare­ ce que a pessoa — mesmo uma criança -— fica excepcionalmente sensibilizada por certos momentos e lugares. É quando o véu que separa o nosso mundo “real” do Mal Supremo parece rasgar-se levemente, e um horror sem controle penetra em nosso tempo e espaço.

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totalmente surdo! Veio-lhe, então, um pensamento de que talvez um óvni, ou melhor, um disco voador, estivesse sobrevoando. Lera mui­ to a respeito do aparecimento desses objetos desconhecidos e sabia que às vezes, nessas ocasiões, podem acontecer fenômenos meteoro­ lógicos estranhos. Podia ser esse o caso que estava ali presenciando, com a cessação de todos os ruídos da natureza viva. Mas o seu receio transformou-se rapidamente numa forte excitação quando desviou o olhar das árvores e o fixou no céu estrelado. Ele somente havia visto óvnis espetaculares em ilustrações e filmes. Certa vez, chegou a observar apenas um par de luzes estra­ nhas, muito longe, que poderiam ser discos voadores, mas talvez fossem balões meteorológicos ou algum avião fora da rota. Assim, naquele momento, o adolescente ficou ansioso e mordeu os lábios de nervosismo. Isso só poderia ser algo realmente fora de série! As árvores continuavam sendo agitadas cada vez mais, sem que se ouvisse ruído algum. Elas o fizeram lembrar-se de filmes a que assistira cujas árvores agitavam-se com a descida de um heli­ cóptero. Continuou com os olhos fixos no céu. Finalmente, algo como um óvni apareceu, mas diferente de tudo o que ele poderia jamais ter imaginado. Devagar, no longínquo horizonte, foi surgindo uma gigantes­ ca escuridão. A princípio, parecia uma enorme esfera negra que eclipsava mais de um terço das estrelas no horizonte. Mas se movia numa velocidade que seria impossível para algo assim tão grande. Antes que tivesse tempo para qualquer reação, a esfera de total escuridão foi seguida por algo ainda maior, que efetivamente veio a obscurecer a maioria das estrelas no céu. Havia uma conexão entre os dois fenômenos. De repente, ele se deu conta de que estava vendo algo extraordinário, uma enorme silhueta de homem! Mal havia percebido isso quando aquela coisa gigantesca co­ meçou a se movimentar por toda a abóbada celeste. Ele via, no horizonte, aquela sombra vindo em direção à sua cabeça. O rapaz sentiu-se como uma formiga que vê um homem marchando sobre o seu formigueiro!


• • • Três anos depois, em 31 de outubro de 1968, Bill Schnoebelen atingira a maioridade. Naquela noite, do pináculo de um penhasco, contemplava as luzes de Dubuque, Iowa — olhando para o horizonte noturno do Haloween, pela primeira vez, na condição de um iniciado em bruxaria.

G í i í r o n i z A ç l o

Depois, quase todo o céu ficou escurecido por aquela enorme mancha negra. O rapaz teve, então, a impressão de ver um par de olhos vermelhos, o que o fez lembrar-se dos olhos daquele bando de seres noturnos que lhe apareceram na noite de Halloween, anos atrás. Isso o inquietou um pouco, mas a imagem durou apenas um segundo. A silhueta negra deu, então, um enorme passo, desapare­ cendo no horizonte atrás do rapaz. As estrelas voltaram a brilhar da forma normal; não mais esta­ vam obscurecidas. As árvores pararam de balançar. Gradualmente, os sons noturnos do lago voltaram à normalidade, e o rapaz ficou embasbacado, questionando consigo mesmo a natureza do fenô­ meno que acabara de presenciar. Com um arrepio e uma forte sen­ sação de náusea, ele retornou à cabana. Como era de esperar, não comentou nada com seus pais. Apesar do que lhe aconteceu nesse verão assombrado nas flo­ restas do Norte, o rapaz jamais teve outro Halloween como aquele da visão na Rua Três, tempos atrás.



C a ç a - F a H Í A S 1I 1 A S ?

Ficamos no centro e supomos que o segredo está no centro... e o saber.

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1969

(jlra escuro como uma cripta naquele subsolo. Talvez porque esti­ véssemos sentados num lugar bem ju n to a uma cripta, no porão, embaixo do departamento de música da faculdade que eu freqüenta­ va. Éramos cinco ou seis estudantes, sentados em círculo no chão, com as pernas cruzadas, de mãos dadas, no escuro. Invocávamos o espírito da mulher que estava sepultada do outro lado de duas enor­ mes portas de carvalho, naquele subsolo do departamento de música. O líder do círculo na nossa pequena sessão espírita estava um ano à minha frente na faculdade e, sem dúvida, havia se desenvol­ vido mais do que eu em magia negra. Era Halloween, e nada me­ lhor do que comemorá-lo invocando o espírito de alguém que tinha sido uma das pessoas de maior destaque naquela comuni­ dade. A mulher fora sepultada no subsolo do departamento de música porque seu marido contribuíra não só para a construção da capela situada acima, como também para a edificação de vários outros edifícios no campus universitário. Tal como acontecia com os benfeitores na Idade Média, foi desejo seu que o túmulo da


esposa ficasse instalado sob o altar principal da igreja que ele ha­ via construído. Nosso líder, Dave (não é esse o seu verdadeiro nome), clamou, em voz grave e bem fúnebre: — Invocamos o espírito de F... W... . Queremos penetrar o véu do além e falar com ela. Nada ouvimos, a não ser o nosso coração batendo um pouco mais forte do que o normal. Dave continuou: — O F... , nós a invocamos. Rasgue esse véu e comunique-se conosco! Isso é tudo o que queremos. Dê-nos um sinal de que há vida além da morte. O silêncio que se seguiu criou um ambiente agourento: as tre­ vas eram mais tangíveis a cada minuto. De repente, as enormes portas de carvalho que nos separavam do jazigo começaram a tre­ pidar. A princípio, um tanto pausadamente, mas, depois de alguns segundos, nós, que nos encontrávamos sentados em círculo, ouvi­ mos um ruído alto e estrondoso. Quase nos matamos, debandando, à toda, do porão, naquela noite fria de Halloween. Lá fora, respiramos bem fundo e fomos a uma pizzaria para avaliarmos nossa experiência parapsicológica. O que não sabíamos é que estávamos prestes a receber a lição de que “com certeza o sen p ecado vai ser descoberto'’. Eu era encarregado, na faculdade, de atender as pessoas na biblioteca do departamento de música; possuía, assim, uma cha­ ve do local. Foi desse modo que pudemos ir ao subsolo do depar­ tamento após o horário normal. Eu tinha de permanecer naquele departamento boa parte do tempo depois do expediente. Os es­ tudantes de música costumavam vir a mim também com ques­ tões e problemas. Na semana seguinte à nossa “sessão espírita”, vários alunos, que nada sabiam da nossa tentativa de invocar o espírito de uma pessoa morta — pois mantivemos o caso em segredo entre nós —, vieram até mim para fazer estranhas indagações, do tipo: — Quem está tocando piano lá na sala 4?


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Tinham ouvido nitidamente o som do piano e chegaram a ir à sala 4 para verificar quem estava tocando, mas não encontraram ninguém. Aparentemente, tratava-se sempre da mesma melodia. Se isso não bastasse, certa noite eu estava na sala do chefe do departamento fazendo cópias de fitas cassetes para ele quando, inexplicavelmente, a mesma melodia surgiu nas fitas cassetes que eu estava copiando, sem qualquer explicação de como isso poderia ter acontecido. O departamento de música começou, então, a ga­ nhar certa “reputação”. Um dia, um estudante corpulento ao entrar no departa­ mento, foi imediatamente arremessado para fora por poderosas mãos invisíveis, com uma força tal que chegou a deslocar os seus ombros. De outra feita, uma freira viu uma mulher de baixa estatura, mas bastante robusta, descendo pelos corredores, trajando um ves­ tido verde de cetim. Posteriormente, ficamos sabendo que a descri­ ção da mulher coincidira com o retrato oficial de F... W... ! Em outra ocasião, ainda, uma aparição atingiu-me em cheio. Eu tinha o cuidado de nunca ficar nas salas com a luz apagada. Por experiência, sabia que as pessoas que se aventurassem a entrar no departamento de música com as luzes todas apagadas, normalmente sairiam dali com lesões no corpo. Mas, numa noite, tinha acabado de sair do departamento com um casal de amigos, quando me dei conta de que havia esquecido alguma coisa. Voltei ao recinto, estando as luzes apagadas, e nem me lembrei de acendê-las. Mal havia dado alguns passos no h a ll de entrada qua.ndo senti uma coisa repugnante agarrar a barriga da minha perna esquerda, prendendo-a com garras abrasadoras. Em toda a minha perna que latejava, senti como se a pele estivesse queimando. Gritei e saí mancando do departamento, quase chorando de dor. O exame médico constatou que havia uma lesão do tipo queimadura, aproximadamente do tamanho de uma mão, na barriga da minha perna. Por várias semanas,


depois desse incidente, tive que andar visivelmente mancando. Por estranho que pareça, durante cerca de dez anos não cresce­ ram pêlos na região afetada. Um dos episódios mais espantosos, com respeito a essas coisas assombrosas, ocorreu quando a cidade de Dubuque foi atingida, certa noite, por forte tempestade. O mau tempo causou a inter­ rupção do fornecimento de energia elétrica em todo o câmpus. Como eu era o encarregado da biblioteca do departamento, o deão dos alunos me pediu que ficasse vigiando as portas do departa­ mento, trancadas. Foi com relutância que acedi, pois tinha ouvido falar de acontecimentos muito estranhos que ocorreram ali. De­ pois de algum tempo, o órgão começou a tocar dentro do departa­ mento, mas eu não estava nada disposto a ir investigar o que estava acontecendo, pois teria de andar pelos corredores totalmente escuros. Após alguns minutos, o deão desceu com uma lanterna e, muito bravo, perguntou quem estava tocando o órgão. Respondi-lhe que as portas estavam trancadas e — o que era mais espantoso — que o único órgão que havia no departamento de música era um apare­ lho elétrico\ Ele me disse que isso era um absurdo, abriu a porta e, soltando uma imprecação, entrou. Assim que ele penetrou a escu­ ridão do departamento, sua lanterna, misteriosamente, se fez em pedaços em sua mão. Saímos correndo de lá, enquanto o órgão continuava tocando. Tal como um contágio, os acontecimentos sobrenaturais fo­ ram se espalhando para as outras faculdades locais. Uma jovem, amiga de um dos rapazes presentes na reunião que detonara todos esses acontecimentos, e que agora considerávamos ignóbil, teve uma experiência e tanto. Ela sentiu a presença de (e depois viu) uma enorme criatura, à semelhança de um lagarto, arrastando-se até a sua cama, no seu dormitório, enquanto, paralisada, assistia à coi­ sa permanecer em cima do seu cobertor durante um período de tempo que parecia uma eternidade. Sua companheira de quarto, ao chegar, deparando-se com o intruso, gritou, assustada, e ele imediatamente desapareceu.


C a Ç A - f A n l A S H l A S ?

Toda essa agitação causada pelo sobrenatural, no entanto, ser­ viu apenas para alimentar o meu interesse pelo ocultismo. Decidi que, uma vez que eu havia contribuído para a vinda do espírito, tinha a responsabilidade de mandá-lo de volta para o seu “descan­ so”. Comprei, então, um manual de feitiçaria, intitulado A M aior Chave de Salomão [em Inglês, The Greater Key o f Solomon\, que continha rituais mágicos de exorcismo. Eu me dispunha a fazer o que fosse necessário para lançar naquele espírito tudo o que esti­ vesse no livro, a fim de fazê-lo parar de vez. No dia do aniversário da morte da referida mulher, diversos amigos meus reuniram-se do lado de fora do porão da capela. Ali estavam para ver o que iria acontecer comigo! Eu abri a porta do departamento de música e, segurando o livro, fui até as terríveis portas de carvalho. Meu coração disparava como uma britadeira. Abri as portas que davam para o túmulo e entrei. O jazigo, em mármore, atingia um metro de altura do piso do subsolo. Eu já sabia disso, pois tinha feito previamente um reco­ nhecimento do local à plena luz do dia. Agora, porém, a única luz que havia era a da rua, que vinha de um semicírculo de jane­ las que circundavam a enorme cripta. Fazia tanto frio no local que dava para ouvir a minha respiração ofegante. Eu sabia, de meus estudos, que um frio sobrenatural é sinal de um elevado grau de atividade paranormal. Andei, então, em volta do túmulo e comecei a recitar o ritual de exorcismo do livro, com a voz mais firme e autoritária que eu conseguia naquelas circunstâncias. Minha voz soava de modo so­ brenatural e reverberava no espaço vazio de pedra da cripta, mas não fui interrompido por outros sons e movimentos. Do lado de fora, meus amigos aguardavam os acontecimentos com ansiedade; uma grande parte deles esperava ver-me arremes­ sado para fora, pelas janelas, fragmentado em pequenos pedaços, por ter ousado entrar no túmulo da pobre mulher. Estavam tam­ bém de guarda, pela segurança do câmpus.


Lá dentro, finalmente, concluí todo o ritual, um tanto enfa­ donho. Então, “conjurei” o espírito a que fosse embora e que nun­ ca mais retornasse. Contive minha respiração por um instante, para ver se algo acontecia. Nada aconteceu. Finalmente, num ato de triunfalismo jovem, subi no túmulo e desafiei a temível F... W... a fazer alguma coisa. Nada. Depois de alguns minutos, fechei o livro, deixei calmamente a cripta, saí e tranquei a porta do departamento de música. Meus amigos se alegraram quando me viram, mas, no fundo do meu co­ ração, eu achava que eles estivessem esperando uma manifestação visível e espetacular, com raios e luzes saindo do lugar. Pelo que sei, isso foi o fim das ocorrências paranormais no departamento de música. Fiquei conhecido como o “exorcista” da faculdade. Toda essa minha experiência contribuiu para apoiar ainda mais minha crença nos poderes da magia e do ocultismo. Minha carreira como feiticeiro tinha, oficialmente, começado. D u b u Q u e , I o x it a -

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Minha esposa (que era grande sacerdotisa) e eu fomos chama­ dos para resolver a situação de uma casa que era muito grande e de alto valor, mas que estava mal-assombrada. Será que as pes­ soas pedem a bruxos que as livrem de espíritos em suas casas? Bem, elas o fazem sim, quando se encontram num estado desesperador. O casal que morava na casa tinha visto o bastante para quase serem levados à morte. A mulher era católica, e o marido, completamente ateu. Mas os acontecimentos na casa lhes causaram um enorme terror. Na verdade, o homem chegou ao ponto de dizer que, se não conseguíssemos livrar a casa da­ quele mal, p od ería m os fic a r com ela. Já havia, inclusive começa­ do a fazer planos para a mudança.


C a -Ç A - f A t l l A S I n A S ?

A mulher havia telefonado para a arquidiocese católica, mas tudo o que puderam fazer foi enviar um sacerdote para benzer a casa. Ao terminar a benzedura, enquanto o padre saía, risos de zombaria irrompiam por todo canto. A senhora tinha ouvido fa­ lar de nós por meio de alguém que nos conhecia (pois era um de nossos melhores alunos da escola de bruxaria que então mantí­ nhamos) e nos chamou. Isso ocorreu há cerca de 12 anos antes do filme Os Caça-Fantasmas. Fazíamos parte da alta hierarquia da feitiçaria, como sacerdotes, e éramos druidas. Fomos, então, convocados para enfrentar aquela casa infestada de espíritos malignos e poderosos, situada no alto de uma colina, de onde se descortinava toda a cidade de Dubuque. Os proprietários nos relataram a difícil situação que estavam vivendo, e decidimos ajudá-los. Tínhamos sido recentemente trei­ nados e chegado ao nível de alto sacerdócio; assim, achávamos es­ tar preparados para enfrentar qualquer tipo de fantasma. O casal tinha se apavorado, principalmente porque um dos fantasmas ameaçava as crianças. Elas se queixavam de pesadelos e de verem coisas assustadoras no quarto. O pai, apático e materia­ lista, tinha sido acordado numa noite por algo que puxava as cobertas da sua cama. Viu uma aparição branca pairando no ar, aos pés da cama. Tinha garras afiadas, que começaram a puxar as cobertas. Quando ele se levantou da cama para acossá-la, ela des­ lizou pelo corredor de um modo tão suave que parecia ter rola­ mentos nos pés. O homem a perseguiu passando pelos quartos das crianças e escada abaixo. O vulto o levou pela grande sala, à cozinha e, alcançando a porta dos fundos, passou por ela. O ho­ mem tentou alcançá-lo, mas, quando abriu a porta, teve um enor­ me choque: no lugar do seu quintal, havia um abismo infinito de estrelas! Ele sentiu o vento da eternidade roçando seu rosto e vol­ tou correndo para dentro de casa, tomado de terror. Foi então que fomos chamados. Visitamos a casa, discutimos o problema e nos inteiramos do histórico da mansão. Em seguida, pedimos aos proprietários per-

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missão para ver o “coração” da casa. Os ocultistas e os parapsicólogos acreditam que as casas mal-assombradas, em sua maioria, têm um “coração”, ou seja, um centro espiritual do qual provém toda a ação sobrenatural. Geralmente é um lugar bastante frio. No caso deles, rapidamente descobrimos que era o quarto princi­ pal, o do casal. Esse quarto era gelado. Dava para sentir a própria respiração. Os demais cômodos, porém, eram agradáveis e aquecidos. Um gran­ de espelho, na porta do closet daquele quarto, não tinha mais uma ótica perfeita, tornando-se todo ondulado, como um espelho de parque de diversões, e que tremia assustadoramente quando olhá­ vamos para ele. Prosseguimos, então, com os procedimentos que havíamos aprendido. Sentamo-nos e fizemos uma pesquisa espiritual naque­ le quarto principal da casa. Conseguimos determinar que havia apa­ rentemente dois espíritos: o primeiro era de um velho cruel, com tendências para a pedofilia; o outro era um espírito de mulher bem mais velha, que era boa. Possivelmente, ela estaria querendo infor­ mar os pais, de algum modo, sobre os propósitos daquele outro espírito para com as crianças. Essa informação nos foi dada por nossos “espíritos guias”, que também eram seres desencarnados, mas bons sujeitos (assim pensávamos). Vimos que a casa estava realmente bastante assombrada, de modo que decidimos trazer conosco, na noite seguinte, todos os feiticeiros do nosso grupo. Pedimos-lhes que fizessem círculos de proteção em torno da família, para que nenhum dos familiares fosse possuído pelos espíritos em fuga que esperávamos expulsar. Minha esposa e eu levamos para o andar de cima os dois principais feiticeiros do nosso grupo (uma mulher e um homem), e ali reali­ zamos nossos feitiços de forma a incrementar, por algum tempo, o poder que achávamos que os nossos bruxos possuíam. Mas, mesmo com a experiente liderança de minha esposa, nada estava dando muito certo. Em determinado momento, ela brandiu ostensivamente o seu punhal de feiticeira e perseguiu


um dos espíritos escada abaixo até a porta dos fundos. Viu-se, também, diante da abertura de um abismo cheio de estrelas, em vez do quintal! Finalmente, num ato de desespero, fez uso do nome que bem poucos feiticeiros terão coragem de até mesmo pronunciar. Ela gritou: — Em nome de Jesus Cristo, ordeno que todos os espíritos saiam daqui! Foi como se um estrondo sobrenatural atingisse toda a casa, e imediatamente a opressão desapareceu. Foi como sentir de novo o sol no rosto depois de uma tempestade. Como cada um de nós estava trabalhando num quarto dife­ rente da casa, eu não tinha ciência do que exatamente Sharon ti­ nha feito. Naturalmente, presumi que nossos rituais tinham tido êxito e nem me preocupei mais com o assunto. Nós dois e os de­ mais do grupo fomos, então, para o andar térreo, e o casal proprie­ tário nos disse sentir que a casa estava ótima. Naturalmente acharam ter sido pelos nossos “poderes místicos” altamente desenvolvidos que a opressão desaparecera. Mas aquela noite ainda não terminara. Sentamo-nos na sala de estar para tomar um chá, enquanto nos deliciávamos com o sabor da nossa vitória, quando de repente um som de um uivo, horripilante, irrompeu naquela noite. Seguiu-se a ele o barulho de um forte impacto, como se alguém tivesse dado um tiro de canhão na porta de entrada. Corremos até a porta e a abrimos. Vimos à nossa frente o gato da casa, tremendo de forma incontrolável, to­ mado de um terrível pavor. Olhando com atenção para a porta, pareceu-nos que alguém (ou alguma coisa) tinha arremessado o gato com uma incrível violência contra a porta. O pobre gato estava tão aterrorizado que tinha se arranhado todo. A dona da casa nos informou que o bichano era tão bravo que já tinha até enfrentado cães duas vezes maiores do que ele. Ela,


então, o pegou e, quando o colocou no chão, ele disparou e foi esconder-se debaixo do sofá, tremendo de medo, e ali permaneceu por muitos dias. Uma pequena camada de neve cobria o gramado lá fora, mas não havia pegadas humanas sobre a neve em parte alguma nas pro­ ximidades da entrada da casa, tampouco pegadas do gato. Assim, concluímos que os espíritos, ao saírem da casa, vingaram-se no gato da família, arremessando-o contra a porta. Não obstante esse pequeno incidente, tanto nós como a famí­ lia nos sentimos satisfeitos com o final de tudo. Os espíritos nunca retornaram, e o casal nos enviou um cheque de valor mais que suficiente para o pagamento de nossos serviços. ÍIlilxxjAukee, HJisconsin - 1975

Mudamos o nosso “ministério” de Dubuque para Milwaukee, em 1974, porque mais de 80 pessoas haviam solicitado que ministrás­ semos cursos sobre feitiçaria com iniciações e estabelecêssemos no­ vos grupos de bruxos naquela cidade. Começamos, então, a dar aulas de modo regular a candidatos à feitiçaria. Um dia, durante o quarto semestre daquela escola de bruxa­ ria, recebemos de uma de nossas alunas do segundo ano um frené­ tico telefonema por volta da meia-noite. Ela estava num bar e tinha bebido bastante. Sentia que demônios haviam se apoderado dela. Julgava-se totalmente possuída por eles! Como fazia pouco tem­ po que estávamos nâ cidade, não sabíamos onde ficava o bar. As­ sim, sugerimos que ela viesse até nossa casa. Levou uma hora para a aluna chegar. Nesse ínterim, ela foi atormentada incessantemente. Disse-nos que mãos invisíveis fi­ cavam agarrando suas mãos no volante, tentando desviar o carro para a contramão. Ela escapou por um triz da morte, uma ou duas vezes.


Ca ç A - f A n l A s m A S ?

Inicialmente, conversamos com ela do lado de fora de nossa casa, porque tinha medo de entrar. Por fim, começou a ficar vio­ lenta, de modo que tivemos de arrastá-la até o nosso templo de magia, onde tínhamos estabelecido um Círculo de Bruxos. Ela ia chutando, berrando e espumando pela boca. A mulher estava totalmente fora de si, espumando e gemen­ do lamuriante como uma banshee [bruxa que, na crença popular irlandesa, prevê a morte de uma família]. Pegamos as nossas cor­ das de bruxaria e a amarramos, conforme prescrito pelos feiticei­ ros, para não nos atingir nem se machucar. Àquela altura, eu me sentia bastante confiante, pois, como parte do meu treinamento ocultista, havia iniciado meus estudos de preparo para o secerdócio da Igreja Católica Romana Antiga [Igreja existente nos Estados Unidos — O ld Roman C atholic Church, que se declara sucessora da Igreja Católica histórica, não sendo ligada ao Vaticano], e já recebido o grau menor de ordenação. Significa que eu havia rece­ bido a “Santa Ordenação” de exorcista e com ela, supostamente, o poder de expelir demônios. Considerando todo o nosso treinamento em magia, nosso poder de grande sacerdote na feitiçaria e os manuais que consultávamos, achamos que a nossa tarefa seria extremamente fácil. Quatro horas depois, no entanto, nossa aluna continuava se retorcendo, chutando e proferindo pragas malignas contra nós. T í­ nhamos colocado um “círculo mágico” em torno dela, dentro dos limites do nosso templo, e tentado de tudo, para expelir os demô­ nios que a atormentavam. Lançamos mão dos rituais de exorcismo do livro A M aior Chave d e Salomão e dos manuais e textos de bru­ xaria de que dispúnhamos. Cheguei até mesmo a ler todo o ritual católico romano de exorcismo, rezando em nome de Jesus Cristo e borrifando sobre ela um pouco de águabenta. Mas tudo isso só fez aumentar sua fúria (dela ou deles). O dia já ia amanhecer e nos encontrávamos exaustos, mas não os demônios. Eu havia praticado todo o ritual de exorcismo duas ou três vezes, assim como outros rituais e atos simbólicos —

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mas tudo foi totalmente inútil. Finalmente, minha esposa, Sharon, suspirou, desesperada, pondo para trás o cabelo que lhe caía so­ bre os olhos, e me olhou como quem dissesse: “Neste caso, nada funciona!” Sharon, então, pôs as mãos sobre a cabeça da mulher, depois de já ter feito isso inúmeras vezes, mas agora dizendo: — Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que todos os demôni­ os que estão nesta mulher saiam agora! A infeliz mulher deu um berro tão forte que por pouco não levantou o teto da casa. Seu corpo se levantou, arqueando-se, retesado, mas, em seguida, ela desmaiou, caindo inerte no chão como morta. Pela primeira vez, depois de várias horas, houve silêncio na­ quele quarto em penumbra. Voltei-me para Sharon, um tanto ofendido. Ela sacudiu os ombros, como que dizendo: “E daí?”, e curvou-se para ajudar a mulher, que começava a voltar a si, recuperando a consciência. Meia hora depois, ao nascer do sol, pudemos, então, despedi-la advertindo-a de que deveria manter-se longe de bares do tipo daquele que freqüentara. Contudo, meu ego, como homem, fora atingido. Não conse­ guia entender — mesmo que houvesse alguma magia no uso do nome de Jesus Cristo — por que esse nome funcionara de imedia­ to, sem esforço algum, quando Sharon o mencionou, mas não ti­ vera efeito algum quando eu o tinha usado, várias vezes, dentro de um grande e bem elaborado ritual de exorcismo.


ConHe ç A o S e u

Inimigo

(...) para que Satanás não alcance vantagem sobre nós; pois não lhe ignoramos os desígnios. — 2 Coríntios 2.10,11

C o m o o capítulo anterior demonstrou, há de fato bruxos e satanistas por aí. Digo isso, porque f u i um deles! Eles apresentam-se de muitas e diferentes formas, e nem todos se vestem de preto e têm uma cruz invertida tatuada na testa. Nós não a tínhamos. Alguns deles usam terno e gravata e ocupam cargos de destaque nos conse­ lhos administrativos de suas comunidades. Outros, infelizmente, podem estar até mesmo usando vestes clericais. Quando eu era satanista, era também sacerdote ordenado da já citada Igreja Católica Romana Antiga. Era ministro de uma igreja que se dizia “crista espírita”. E conscienciosamente me propus a fazer o mestrado em Teologia em um conceituado seminário teo­ lógico católico do Meio-Oeste dos Estados Unidos. Cumpria to­ dos os meus deveres eclesiásticos, e nenhum dos meus paroquianos sabia que eu vivia envolvido com culto ao diabo. Digo isso não para me vangloriar, mas para ressaltar que é um erro acharmos que pessoas “respeitáveis” não possam ser servas de Satanás. Com efei­ to, tais pessoas são as que melhor se encaixam nas sutis práticas do diabo, para o servirem.


Num certo sentido, os satanistas são nossos inimigos, mas num sentido bem mais amplo eles próprios são vítimas de Satanás. Creio que posso dizer, sem receio de me contradizer, que praticamente todos os satanistas são pessoas enganadas. Poucos são os que com­ preendem o que estão fazendo ou para onde estão indo. Foram manipulados pelo “banqueiro do jogo”. São todos — num grau maior ou menor — vítimas da má informação ou da pura mentira. DescubrA

a

Sua ÍIleníirAl

É óbvio que somente lunáticos totais serviriam alguém tendo ple­ no conhecimento de que receberão como paga o desespero e o horror nesta vida e tormento eterno no fogo do inferno. Assim, a nenhum satanista é permitido crer no que a Bíblia diz quanto ao seu destino. Satanás emprega vários artifícios para fazer com que os que o servem não vejam a verdade. Sua estratégia mais impor­ tante é mantê-los bem longe da Bíblia. 1. Satanistas de nível inferior normalmente são ensinados de que, na realidade, nem Deus nem o diabo existem.

Esta é a mentira promovida pela literatura da Igreja de Satanás [Church of Satan (COS)]. Essa igreja é a primeira nos Estados Unidos, entre todas as igrejas satânicas, a gozar de imunidade no pagamento de impostos. Diz aos seus membros que Satanás é ape­ nas um conveniente arquétipo; que ele na verdade não existe; que ele é apenas um símbolo tal como a estátua da liberdade, ao qual se pode dar um significado com um conteúdo emocional. Para eles, Satanás é como uma insígnia que usam, que lhes permite pensar de modo diferente das “massas” e serem perverti­ dos e misantropos [os que buscam apenas os seus interesses e odeiam a sociedade]. Para os tais, Satanás simboliza o ser interior, o verda­ deiro potencial que eles têm, o qual deve ser alcançado por todos os meios possíveis. Ele é tudo o que poderão ser, se apenas conse­ guirem se livrar das algemas da sociedade para serem realmente eles mesmos.


2. Satanistas de nível médio, que se situam acima do satanismo “light” e burlesco da Igreja de Satanás, recebem o ensino de que Satanás é real, que ele não é mau, mas apenas incompreendido.

Satanás para eles é uma variante do Deus Chifrudo da Wicca, com uma índole bem pior. Ele é um romântico rebelde das tre­ vas, um solitário e byroniano anti-herói. Representa o lado mais tenebroso da humanidade, sua alienação e solidão. Esse “Satanás” não é um inimigo de Deus, mas um oposto necessário — a “leal oposição”. Seu pensamento é que “Deus não pode ser visto como bom sem que haja alguém que o faça parecer ser bom”; desse modo, Satanás existe como um trágico contraste. Esse Satanás não aflige ninguém e, por certo, não é um ser malévolo é apenas o senhor das forças das trevas e ajuda a humanidade com seu “lado de trevas”. 3. Satanistas de nível mais elevado alcançam o patamar se­ guinte da verdade, ou seja, crêem que Satanás é maligno, mas que a sua malignidade é melhor do que o que Deus tem a oferecer.

Segundo essa visão, Satanás é quem, de modo injusto, recebe toda a responsabilidade dos erros de Deus. Eles crêem que, por ciúmes, Deus o expulsou do céu, e assim Satanás procura recupe­ rar a sua glória. Deus é apresentado como o Deus das “massas”, um rebanho de pessoas tolas que têm mentalidade de escravo. O insano filósofo Friedrich Nietschze teria isso em mente quando afirmou que o cristianismo é uma religião “de escravos”. O satanismo — dizem — é uma religião de senhores. O reino de Satanás é para os criativos e ousados, para os que querem viver grandes emoções. O céu é apresentado como sendo um lugar maçante, cheio de tolos dedilhando harpas o tempo todo. O inferno, por outro lado, é apresentado como um lugar de uma orgia eterna. O cristianismo — dizem ainda — é bom para os que são meramente humanos (costumávamos nos referir a eles como “me-hums”), mas, para os que são senhores, o satanismo é a única opção. Eles crêem que, quando alguém se alista no exército de Satanás (vendendo a alma ao


diabo), está entrando numa guerra que tem por objetivo retomar de Deus o céu. Deus é visto como o usurpador, e Satanás como o governante de direito do céu. Desse modo, Satanás é tido como um grande herói libertador, lutando contra um rei imperialista. 4. Para os que estão em nível de mestrado no satanismo, Satanás é apresentado como o deus legítimo do Universo, que extrai poder do sofrimento, da perversão e da morte.

Este nível de satanismo é firmemente assumido, mas os que nele se enquadram talvez não tenham participado de rituais de sacrifício humano. Entretanto, chegaram a um ponto em que sua ética foi incrivelmente distorcida: para eles, a dor é um prazer; e o prazer, uma dor. Fazem cortes no seu próprio corpo (ou em outras pessoas que sejam complacentes) para extraírem e/ou chuparem sangue. Sacrifícios de animais para eles são necessários, porque é dos sacrifícios que, segundo crêem, procede o real poder. O sacra­ mento mais elevado, para eles, é a destruição do inocente. Neste nível, os ritos de dor e de perversão são tidos como necessários para que a “porta” que trará a manifestação do reino de Satanás sobre a terra seja aberta. Almas precisam ser “ganhas” a uma velocidade frenética, pois acreditam que todos os que se alistarem no exército de Satanás participarão do “bombardeio” do céu, para expulsar o falso Deus, Jeová. 5. Os que participam do mais alto nível de satanismo nor­ malmente são totalmente possuídos por demônios.

Geralmente, leva muitos anos (a menos que a pessoa tenha nascido numa família de satanistas) para alguém chegar a esse ní­ vel do mal. Sexo com demônios e sacrifícios humanos são necessá­ rios. Os que se acham nesse nível sabem que o inferno é uma realidade, mas são ensinados que, mesmo que percam a batalha contra Deus, vão “reinar” no inferno e nunca sofrerão. Eles são vítimas do falso ensino, tão comum, de que Satanás reina no infer­ no (como se dá com o prisioneiro mais valente numa prisão de


Para eles, o amor tem de subordinar-se à vontade satânica do senhor de todas as magias. Paradoxalmente, eles sabem, no entanto, que Satanás é um cruel senhor que impõe tarefas a seus subordinados. Não é mais aquele rebelde romântico; ago­ ra, ele é mais como o chefe supremo de um implacável sindica­ to cósmico do crime, que tortura e castiga sem piedade seus servos. Ele é o Capo d i Capo,2 ao passo que eles (os satanistas desse alto nível) são seus “afilhados”. Eles acreditam ter tam­ bém um grande poder e “prerrogativas especiais”, mas no fun­ do sabem que o seu reinado é bastante vulnerável. Um só movimento errado, e o seu Capo se voltará contra eles e os pu­ nirá com extrema severidade. Foi-lhes ensinada ainda a mentira de que não há alternativas para as suas vidas, e o Deus do céu jamais os receberá, uma vez que já praticaram atos demasiadamente perversos e malignos. E que, se tentarem sair ou desertar para o “outro lado”, serão mortos de um modo horrível e torturados eternamente no além. Sem dúvida, o que já viram de torturas e sacrifícios humanos é mais do que sufi­ ciente para saberem até que ponto vão os horrendos atos maldosos que Satanás e seus escravos humanos lhes poderiam fazer.

Inimigo o Seu

Fazer o que tu queres será toda a lei; o amor é a lei, amor submisso à vontade.1

Co í me ç A

segurança máxima) e que, assim, concederá favores a quem ele quiser. Não há base bíblica para isso, embora filmes e até mesmo desenhos animados promovam essa idéia. Esses satanistas acreditam que o seu destino é fazer com que Deus seja deposto e morto, tornando-se, assim, co-regentes do universo com o seu senhor, Satanás. Acreditam que eles mesmos são deuses (e deusas) e que têm o direito de determinar quem deve viver ou morrer. Em sua lógica pervertida, se uma pessoa é deus, então pode matar, destruir, roubar e estuprar quem quiser, porque é ela quem estabelece as regras. Daí decorre a máxima satânica de Aleister Crowley:


É muito importante para o cristão que quer ganhar almas com­ preender que tais satanistas encontram-se totalmente convencidos de que “venderam a alma” ao diabo e que Jesus não pode fazer nada para os salvar. Essa mentira precisa ser primeiramente desfei­ ta para que o testemunho do evangelho seja eficiente. Eles acredi­ tam que estão fora do alcance da salvação. Esta é uma das razões pelas quais este livro foi escrito. Quere­ mos que todos saibam — os satanistas e os que nunca se envolve­ ram com o satanismo — que eu tinha vendido minha alma a Satanás, mas uma simples oração ao Senhor Jesus Cristo quebrou esse pacto em apenas um m inuto! Eu e minha esposa somos hoje cristãos cheios de alegria, vivos e vitoriosos, e já se passaram cerca de 20 anos desde o dia em que nos desligamos de Satanás e pedi­ mos a Jesus Cristo que se tornasse nosso novo Senhor. Embora por diversas vezes os servos de Satanás tenham nos perseguido, o Senhor Deus — o Rei de todo o Universo, Jesus Cristo — sempre chegou um pouco antes do que eles! Temos sido guardados por Ele o tempo todo, praticamente sem esforço algum. Ouíro Cristo?

Quem de fato é Satanás? Sabemos pela profecia de Ezequiel que Satanás, pelo menos antes de pecar, possuía muitos atrativos: Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o Senhor J e o v á : Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; toda pedra preciosa era a tua cobertura: a sardônia, o topázio, o diamante, a tur­ quesa, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro; a obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava em ti; no dia em que foste criado, foram preparados. Tu eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras


Pois, se alguém lhes vem pregando um Jesus que não é aquele que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito diferente do que acolheram, ou um evangelho diferente do que acei­ taram, vocês o toleram com facilidade. (2 Co 11.4 - nvi) E o próprio Senhor Jesus confirma: Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos. (Mt 24.24 —n v i)

C o n h e ç a o Seu

Aqui o Senhor está falando sobre o “rei de Tiro”, um tipo de Lúcifer, como é evidente no contexto. Vemos que Lúcifer era co­ berto de diversas pedras preciosas. Possivelmente, foi até mesmo equipado com alguns instrumentos musicais — tambores e pífaros — desde o dia em que foi criado por Deus. Alguns comentaristas da Bíblia acreditam que ele foi incum­ bido do louvor musical aJDeus diante do trono — uma espécie de regente do coro celestial. Isso explicaria por que hoje Satanás tem tanto interesse pela música e a usa com tanta eficácia. Adicionalmente, Lúcifer é descrito como o “querubim ungido para proteger”. Ele era o quinto querubim e, assim, parece ter sido o que protegia o trono do Senhor. Dois pontos são reveladores aqui. O primeiro, e mais importante, é que Satanás, uma vez ten­ do sido ungido, tem uma unção! A Bíblia nunca menciona que ele tenha perdido essa unção. Na verdade, ele é o único querubim a respeito de quem é dito ter sido ungido. O termo hebraico que exprime “aquele que é ungido” é transliterado como “messias”, cuja palavra grega correspondente é “cristo”. A expressão “Jesus Cristo”, na verdade, significa “Jesus, o Messias”, ou “Jesus, o Ungido”. Assim, há pelo menos “outro cristo”, e este é o diabo! Paulo adverte-nos:

Inimigo

afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, des­ de o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. (Ez 28.12-15 - Rc)


Há, então, uma perigosa armadilha em que poderemos cair, pois há muitos que dizem haver encontrado “o Cristo”, e até al­ guns (como Maitreya, o Senhor da Nova Era) que se dizem ser “o Cristo”. Outros, até mesmo, declaram estar ligados a um “Jesus Cristo”. Há quem diga ter “a unção” ou meios para ensinar os crentes a adquirir “a unção”. Entretanto, as palavras podem enganar e, em muitos casos, o crente deverá ter discernimento suficiente para perguntar: “Que Cristo?”, ou: “Que Jesus?”, ou ainda: “Que un­ ção?” E evidente, pelo que está na Bíblia, que Satanás pode produ­ zir “cristos” e “unçoes” diversos, à sua maneira, e que podem vir a ser bastante convincentes. Quando eu estava profundamente enfronhado na feitiçaria e mesmo no satanismo, buscava entrar em transe com um tal “Jesus”. Todo domingo, durante algum tempo, esse “Jesus” vinha, e eu o incorporava. Ele dizia, então, coisas profundas e maravilho­ sas para aqueles que estavam ouvindo, que tomavam nota. Contu­ do, naquela época, eu não saberia distinguir o verdadeiro Jesus Cristo de um sapo chifrudo. Eu julgava que tudo o que tinha de fazer para certificar-me de que aquelas entidades tratavam-se de quem diziam ser era desafiá-las, perguntando: “Você está na luz?” Agora, na condi­ ção de um cristão que crê na Bíblia, posso apenas com tristeza reconhecer a minha ignorância. Lúcifer significa “portador da luz”, e muitos místicos, feiticeiros e até maçons declaram estar buscando a “luz”. Contudo, essa “luz” é falsa, uma luz que, na realidade, cega a pessoa e vem do abismo. Assim, desafiar um espírito a identificar-se perguntando-lhe se ele está na luz é tão eficaz quanto querer resistir ao ataque de um rinoceronte por meio de cusparadas! Não conhecíamos um método baseado na Bíblia para discernir os espíritos, não sendo, portanto, em nada diferentes de muitos outros místicos que pensam ter contato com Jesus. Contudo, os ensinos e o estilo de vida dessas pessoas deixam claro que o Jesus delas contradiz os ensinamentos do Jesus da Bíblia. Receamos que


Sa Iaiiás e Suas LimilAções

Por mais sábio, poderoso e experiente que Satanás seja, ainda as­ sim, ele é limitado. E isso faz toda a diferença. 1. Satanás não pode estar em mais de um lugar ao mes­ mo tempo.

Ele depende de linhas de comunicação com suas tropas. A experiência, tendo como base o ensino bíblico, tem demonstrado que podemos orar e causar um grande efeito de interrupção nessas linhas. Veja: Pois tu és grande e realizas feitos maravilhosos; só tu és Deus! (SI 8 6 . 1 0 - n v i) Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus. (Mt 18.18)

Inimigo o Seu CoíiHeçA

até mesmo alguns ministros cristãos visualizem um Jesus que pode não ser, absolutamente, o Senhor Jesus, mas tratar-se de uma inte­ ligente contrafação. Não estamos atacando esses pregadores, pois acreditamos que, na maioria dos casos, sejam sinceros em seu propósito de servir a Deus. Tais ministros precisam, no entanto, submeter suas visões e mensagens, cuidadosamente, ao escrutínio da Pa­ lavra de Deus (Is 8.20) e ao discernimento de outros homens de Deus (1 Co 14.29). I Freqüentemente, as pessoas acham que têm uma “unção de Deus” e que “o Senhor lhes disse” tais e tais coisas, quando, na verdade, estão sendo enganadas por outra unção. Em capítulo mais adiante, consideraremos o assunto de como podemos pôr à prova os espíritos para termos a certeza de que o que estamos recebendo provém, de fato, do verdadeiro Deus vivo.

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2. Satanás não é onisciente.

Como ele depende dos demônios, seus servos, para lhe trans­ mitirem informações, essa transmissão pode ser afetada por meio da batalha espiritual intercessória. Assim diz o S e n h o r , que te redime, o mesmo que te for­ mou desde o ventre materno: Eu sou o Senhor, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho es­ praiei a terra. (Is 44.24) E Ezequias orou ao S e n h o r : “S e n h o r , Deus de Israel, que reinas em teu trono, entre os querubins, só tu és Deus sobre todos os reinos da terra. Tu criaste os céus e a terra.” (2 Rs 19.15 - n v i) 3. Satanás não conhece o futuro.

Satanás conhece realm ente a Bíblia. Mas provavelmente se es­ queceu mais da profecia bíblica do que dez seminários de Teologia, repletos de grandes conhecedores da Bíblia, a pudessem memori­ zar. Não obstante, há “profecias” que seus servos (falsos profetas, médiuns, etc.) fazem e até se cumprem, porque estão a par dos planos que o próprio Satanás estabeleceu. Mas Deus pode invali­ dar esses planos. E por isso que muitas prediçÕes mediúnicas fa­ lham, ao passo que as prediçÕes bíblicas são 100 % precisas. Declarem o que deve ser, apresentem provas. Que eles jun­ tamente se aconselhem. Quem há muito predisse isto, quem o declarou desde o passado distante? Não fui eu, o S e n h o r ? E não h á outro Deus além de mim, um Deus justo e salva­ dor; n ã o h á outro além de mim. (Is 45.21- n v i) Ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém. (Rm 16.27)


4. Satanás tem, comparativamente, pouco poder.

Especialmente no que concerne aos cristãos. Embora mais po­ deroso do que qualquer ser humano, e podendo realizar falsos sinais e maravilhas, ele quase nada p od e contra os filhos de Deus! Somente pode tocar em nós à medida que nossos pecados lhe concedem pon­ tos de acesso ou por uma permissão especial de Deus. Até mesmo uma simples criança, se nascida de novo, consciente de sua posição em Cristo, poderá lançar Satanás de um lado para o outro (em nome de Jesus) como uma bola de pingue-pongue. Veja, por exemplo: Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autori­ dade me foi dada no céu e na terra. (Mt 28.18) Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome; expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. (Mc 16.17-18) Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. (Tg 4.7)

o Seu

Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém. (1 Tm 1.17)

Col i Heç A

Não tremam, nem tenham medo. Não anunciei isto e não o predisse muito tempo atrás? Vocês são minhas testemu­ nhas. Há outro Deus além de mim? Não, não existe nenhu­ ma outra Rocha; não conheço nenhuma. (Is 44.7-8 - NVl)

Inimigo

Quem então é como eu? Que ele o anuncie, que ele declare e exponha diante de mim o que aconteceu desde que esta­ beleci meu antigo povo, e o que ainda está para vir; que todos eles predigam as coisas futuras e o que irá acontecer.


5. Satanás não é criativo.

Deus é a fonte de toda criatividade. A maior parte das obras de Satanás é uma distorção das boas coisas que Deus nos conce­ deu, seja espirituais, físicas, intelectuais ou emocionais. O diabo ainda continua reciclando as mesmas velhas mentiras usadas por ele, centenas e centenas de anos atrás, sabedor de que os homens normalmente não estudam a história da Igreja. Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o S e n h o r , e não há outro. (Is 45.18) No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. (Jo 1.1-3 —NVl) Pois, por meio dele, Deus criou tudo, no céu e na terra, tanto o que se vê como o que não se vê, inclusive todos os poderes espirituais, as forças, os governos e as autoridades. Por meio dele e para ele, Deus criou todo o universo. Antes de tudo. ele já existia, e, por estarem unidos com ele, todas as coisas são conservadas em ordem e harmonia (Cl 1.16-17 - b lh ) 6. Satanás é egomaníaco.

O orgulho do diabo o leva a intrometer-se em tudo. É por isso que Deus se agrada em estar sempre humilhando-o por meio de nós, Seus frágeis instrumentos humanos. Satanás, na verdade, pensa que poderá vencer, apesar de o livro de Apocalipse proclamar seu destino final e de suas históricas derrotas em sua oposição a Deus. Seu orgulho, a causa de sua queda, continuará sendo ainda sua ruína, vez após vez. Ele cometeu o seu últim o erro, o d e crer em suas próprias mentiras!


o Seu a

E por isso que essas áreas são precisamente as que Deus usa para continuamente frustrar os planos do inimigo. Deus se utili­ za da nossa fraqueza, junto com a Sua graça, para derrotar os planos de Satanás. Por não conseguir compreender esses sen­ timentos, Satanás os considera como sendo as áreas da nature­ za humana mais difíceis de serem previstas e entendidas. Ele, a todo momento, é surpreendido pelas obras que o Espírito Santo tem capacitado simples cristãos a realizar, em submis­ são ao Senhor.

Co n h e ç

7. Satanás não consegue compreender a compaixão, o quebrantamento e o auto-sacrifício.

Inimigo

Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estre­ las de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congrega­ ção me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. (Is 14.13-14)

43

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpaçao o ser igual a Deus; antes, a si mes­ mo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura hu­ mana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. (Fp 2.5-8) Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. U Co \ .TS)

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o po­ der de Cristo. (2 Co 12.9)


8. Satanás não é Deus!

Isto pode parecer óbvio, mas este fato expressa uma diferença bem maior do que todos os sete fatores anteriores juntos. Há mais poder numa só gota do sangue de Jesus Cristo do que em todas as legiões satânicas. Isso deixa Satanás tomado de ódio. Eu sou o S e n h o r , e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces. Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim não há outro; eu sou o S e n h o r , e não há outro. (Is 45.5-6) Ouve, Israel, o (Dt 6.4)

S en h o r,

nosso Deus, é o único

S en h o r.

Louvado seja o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo! Not AS 1 Aleister Crowley (1875-1947) foi o filósofo satânico e ocultista que mais se destacou até agora em nossa época. Suas idéias e escritos tiveram uma grande influência tanto em partidários da Wicca como em satanistas de todo tipo. A citação é do seu livro LiberAl ver Legis [O Livro da Lei], e é a regra áurea da sua religião, que é conhecida como Thelema (segundo a palavra grega que corresponde a “vontade”) ou crowleyanismo. 2 Uma expressão italiana para “o chefão supremo” de uma quadrilha, “o poderoso chefão”.


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Inimigo


R C erimônÍA

de

InocênciA RcAbou

Você pôs os pés no Caminho do Relâmpago. Uma vez feito isto, jam ais poderá deixá-lo. — Alex Sanders, Rei dos Bruxos

G stivem os envolvidos no Sumo Sacerdócio da W icca por muitos anos, e tivemos de preparar turmas e mais turmas de estu­ dantes para os nossos grupos, ou “covens”. Todavia, decepcionamo-nos com a Wicca. Sharon e eu tínhamos uma idéia da Wicca como sendo uma fé elementar, pura e edênica em sua inocência. Sabemos agora que ela é cheia de calúnias, traições, brigas doutri­ nárias e politicagem. Outras mudanças significativas ocorreram. Um de meus ami­ gos e mentores, de quem recebi grande influência na Wicca antes de eu ter conhecido Sharon, sugeriu-me que eu lesse A B íblia Satânica, de Anton LaVey. Eu era ainda bastante ingênuo, pensan­ do que, embora os bruxos cultuassem Lúcifer, o Deus Chifrudo, não fossem satanistas. Perguntei, então, por que deveria ler um livro escrito por um satanista declarado. Meu amigo explicou-me que LaVey tinha algumas percepções muito interessantes, especialmente com respeito à magia de Aleister Crowley, e que sua obra tinha alguns pontos muito bem aborda­ dos. Li, então, o livro e fiquei um tanto desconcertado diante da


violenta crítica anticrista que se encontra logo no início. No en­ tanto, muitas coisas que LaVey dizia fazia sentido para mim. Há três tipos básicos de rituais na Bíblia Satânica: por Com­ paixão, por Luxúria e por Destruição (maldição). Ponderei comigo mesmo que jamais iria amaldiçoar alguém, mas cheguei a me en­ volver com os outros dois rituais. Fizemos um “Ritual de Luxú­ ria” para um casal numa de nossas reuniões a fim de resolver o problema de frigidez da esposa, e que realmente funcionou. Ti­ vemos de igual modo sucesso com o “Ritual de Compaixão”, para a obtenção de curas. Aos poucos, fui sendo seduzido pelo satanismo. Sharon e eu começamos a questionar — já que o satanismo é considerado muito maligno para os bruxos — por que o símbolo do Segun­ do Grau da Wicca, o do Sumo Sacerdócio, é um pentagrama invertido? Esse pentagrama tem sido associado, há vários sécu­ los, ao satanismo! E mais:

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Sinal do Terceiro Grau Árvore da Vida

ou Mago na Feitiçaria


Por que o nom e supersecreto do Deus Chifrudo deriva-se, pelo notarikon,1 exatamente do símbolo da Igreja de Satanás — a cabeça de bode Baphomet com as cinco letras hebraicas que há ao seu redor (lâmed, vave, iode, tau e nune)? Por que tínhamos sido instruídos de que o mais poderoso de todos os círculos de magia na feitiçaria somente é construído com pentagramas invertidos? Tais questões ficaram todas no ar, sem respostas. Ninguém conseguia nos dar uma explicação. Discutimos o assunto com nos­ sos colegas e mestres e procuramos obter o conselho de nossos ve­ nerados “espíritos guias”. Acreditávamos que esses guias fossem homens que haviam se aperfeiçoado e se livrado do “ciclo do carma” ,2 e que, sendo espíritos desencarnados, falavam conosco, seres humanos, por meio da incorporação, possibilitando que evo­ luíssemos espiritualmente. Quase que diariamente incorporávamos essas entidades e bus­ cávamos seus conselhos. Elas nos davam a entender que seria bom nos envolvermos com a Igreja de Satanás. Diziam que a Wicca nos ensinava o domínio da Deusa (ramo feminino da magia), mas que o satanismo nos ensinaria todos os mistérios do Deus Chifrudo, o ramo masculino. A Wicca e o ocultismo moderno foram muito influenciados pelo psicólogo Carl Jung. A idéia de polaridades opostas em recon­ ciliação é um dogma central. Os espíritos guias e muitos feiticei­ ros, seguindo os escritos de Jung, quiseram fazer-nos entrar em contato com nossos “lados tenebrosos”, nossas “sombras” (um ter­ mo jungiano). Para que tivéssemos domínio sobre o Caminho da magia, tínhamos de abraçar nossos lados tenebrosos, reconhecendo os espíritos carnais que em nós habitavam. Éramos ensinados de que a maior parte -— se não a totalidade — do mal existente no mundo tinha sido criada pelo judaísmo e pelo cristianismo, pela supressão de nossas paixões carnais. Este é um tema freqüente na psicologia secular. Assim, para o bem da nossa saúde psicológica, e para o nosso desenvolvimento na magia,


seria necessário fazer uso dos ensinamentos da Igreja de Satanás, a fim de que pudéssemos abraçar nossas sombras e liberarmos os incipientes poderes da magia que supostamente nelas habitavam. Desse modo, tendo apenas uma pequena dor de consciência, filiei-me à Igreja de Satanás. Afinal, tanto meus amigos e mestres deste mundo como todos os meus sábios espíritos guias vinham me encorajando nesse sentido. Como isso poderia ser, então, um erro? O Í I I a I p o r R e e m b o l s o P o s I a I?

Fiquei um tanto desapontado ao descobrir que não havia de fato uma igreja de Satanás em nossa comunidade. Os grupos locais des­ sa Igreja eram chamados de “grutas”, em vez de “covens” ou “paró­ quias”; mas não havia nenhum deles em Milwaukee. Escrevi para a sede internacional da Igreja, que ainda se localizava na fabulosa casa negra da Rua Califórnia, em San Francisco. Eles enviaram-me algumas informações e um formulário para associar-me como mem­ bro. Cobravam uma taxa de ingresso de 20 dólares. Paguei-a com prazer e, depois de algumas semanas, comecei a receber seu maldo­ samente e cínico boletim The Cloven H o o f[ 0 Casco Fendido] e, por fim, um cartão de membresia. Assinei o cartão e passei a levá-lo comigo, com muito orgulho, em minha carteira. Tornei-me satanista “de carteirinha”. Isso mes­ mo! E não tive que matar bebês, nem cuspir na cruz, nem dizer o Pai-Nosso de trás para a frente. Apenas dei meus 20 dólares e me filiei. Era como ter-me filiado ao Rotary Club! Mas Sharon e eu não dissemos coisa alguma aos membros iniciantes de nossos grupos sobre-essa nossa decisão. O que dizía­ mos, na verdade, é que bruxos e satanistas estavam em pólos opos­ tos, e que não se poderia ser um bruxo da Wicca e um satanista ao mesmo tempo. Alguns membros dos níveis mais elevados do nosso grupo, no entanto, ficaram intrigados com nossas explana­ ções da filosofia de LaVey sobre a magia e acabaram se filiando também.


Considerei a possibilidade de começar alguma coisa da Igreja de Satanás na região de Milwaukee e escrevi à sede da organização sobre o assunto. Logo, eles nos enviaram um formulário de reque­ rimento que eu deveria encaminhar-lhes devidamente preenchido, solicitando acesso ao segundo grau na Igreja de Satanás, o grau de Feiticeiro. Era um formulário bem mais amedrontador que aquele do primeiro grau. Continha um extenso questionário, que reque­ ria uma pequena dissertação analítica em resposta a diversos assuntos filosóficos. Tinha também um custo maior. Contudo, preenchi-o totalmente e o enviei. Nunca foi do meu estilo ficar esperando muito por alguma coisa, de modo que comecei a buscar outras possibilidades. Entrei em contato com dois ramos distintos da irmandade oculta. O pri­ meiro foi a O.T.O. (Ordo Templi Orientis — Ordem dos Templários do Oriente). A O.T.O. é uma respeitável ordem alemã, mágico-maçônica, fundada no século 19 por Chefes Secretos (mes­ tres elevados). Aleister Crowley, ao que se supõe, descobriu o se­ gredo dela — o verdadeiro segredo de toda a Maçonaria — e rapidamente foi feito seu membro.3 Sharon e eu estávamos realmente bastante intrigados com Crowley e achamos a abordagem da O.T.O. mais completa e exi­ gente. Assim, começamos a estudar com eles, embora continuan­ do a pesquisar ainda os outros materiais de LaVey. Entramos em contato também com um grupo satânico inde­ pendente, a Ordem do Carneiro Negro, com o qual começamos a nos corresponder. G n ire lA Ç A n d o G n e r g iA s Comecei a celebrar missas satânicas em caráter regular. Sharon e eu praticávamos muitos dos rituais de Crowley. Tanto meus ami­ gos deste mundo como meus espíritos guias diziam que, para que eu pudesse entrar num satanismo mais sério (além do nível da Igreja de Satanás), seria necessário realizar duas tarefas aparente­ mente paradoxais.


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A Igreja de Satanás tendo passado perante o Conselho dos Nove, pela Ordem do Trapezóide, com todos os poderes do inferno, assim seja feito.

Anton Szandor LaVey Sumo Sacerdote da Ordem Negra

* W illiam Schnoebelen legalmente m udou o seu nome para Christopher P. Syn. Quando deixou o satanismo, voltou a mudá-lo, passando a ter novamente seu nome original.

f l c A b o u

InocêncÍA de

Que, tendo memorizado e dado suficientes evidências de um conhecimento prático da Teologia Satânica, e uma imaculada sabedoria da Magia Negra, Christopher P. Syn * neste dia 21 de março, no ano de Nosso Senhor Satanás, foi agraciado com o Grau 2-, referido com o nome de Feiticeiro , e acha-se devidamente licenciado para realizar e manter tudo o que se enquadre no âmbito deste Grau, de acordo com os princípios e filosofias de

Ce r i m ô n Í A

Seja do Conhecimento de Todos

53


A primeira era entrar para a Maçonaria, tornar-me um Mestre Maçom e depois ascender aos graus mais elevados. A segunda, por incrível que pareça, era ordenar-me como sacerdote católico! Isso foi uma surpresa total para mim, pois eu tinha sido criado como católico. Na verdade, cheguei a freqüentar um seminário nos meus tempos de faculdade, quando comecei a me envolver com o ocul­ tismo, enquanto estudava para o sacerdócio. Conhecia o catolicis­ mo muito bem e sabia que os católicos são estritamente proibidos de se tornarem maçons. Agora, por que motivo me instruíam a fazer essas duas coisas em contradição? Explicaram-me que certas “correntes” do poder ocultista fluem através dos séculos, principalmente, por meio de linhas humanas de sucessão. Isso fazia sentido, desde que era doutrina fundamen­ tal tanto do catolicismo quanto da Wicca que havia uma sucessão entre seus respectivos sacerdócios. A Igreja Católica — diziam-me — era o repositório da petrina, uma corrente de energia mágica de São Pedro. Já os maçons tinham a custódia da corrente joanina (de São João). E que parte da dinâmi­ ca que faz com que uma magia cerimonial realmente funcione é haver a conjugação dessas duas diferentes correntes de energia. A oposição entre católicos e maçons é apenas superficial — explicavam-me. Nos níveis mais elevados, ambos convergem para um mesmo ponto. Claro que as pessoas comuns não sabem disso, porque essas coisas são mantidas em segredo. Todas as seitas, natu­ ralmente, operam na base de “só revelar o necessário”. Por sorte (ou por a l g u m m o t i v o ) , Sharon e eu fomos contatados por um sacerdote, alguns dias depois de tomarmos co­ nhecimento de tudo isso. Era um sacerdote da Igreja Católica Ro­ mana Antiga (I.C.R.A ).4 Esta Igreja, nascida de uma dissidência com o Vaticano, tem Ordens Sagradas válidas e celebra a missa em língua vernácula já há vários séculos, mesmo antes do Concilio Vaticano II, como também permite que o clero se case. Este sacer­ dote que nos contatou ficou sabendo que tínhamos um curso que


aj

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Ce r i m ô n Í A

de

InocêncÍA

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ensinava feitiçaria e quis estudar conosco. Ele disse que, em retri­ buição, poderia conseguir que eu estudasse para o sacerdócio na I.C.R.A. Isso me parecia algo que “tinha caído do céu”, ou ainda, “do inferno”, e prontamente aceitei a oferta. Dois anos depois, fui ordenado sacerdote nessa seita, numa missa muito solene, na Paróquia de São Paulo, em Plainfield, Illinois.5 Além disso, alguns meses depois, um rapaz quis entrar em nosso “coven”, cujo pai era oficial na Loja Maçônica. Ele pôde, então, me apoiar em todo o processo de entrar na Maçonaria e avançar em seus graus.6 Com essas duas conquistas, parecia que só me restava mesmo “ascender” cada vez mais na hierarquia do Reino das Trevas. N oI as 1 Notarikon é uma forma de codificação cabalística em que letras do alfa­ beto hebraico são transpostas, tanto num sentido como no outro, para ocultar um nome ou um feitiço. Neste caso, as letras foram transpostas para a frente, formando o nome transliterado de Sa-A-Ka-Zay-M, ou “Sakazayim”. 2 O carma é um conceito ocultista e hindu relativo à reencarnação. Segun­ do o que se crê, por meio de um processo de sucessivas reencarnações, o espírito pode vir a evoluir e superar tal ciclo; quando isso acontece, a pessoa torna-se um “Mestre” ou “Bodhisatva”. Mas um exame mais acurado desse processo de carma e reencarnação revela que se trata de um conceito totalmente errôneo. Ninguém jamais consegue aprimorar-se. Para mais informações a respeito, veja o livro de minha autoria Wicca:

Satarís Little White Lie [Wicca: Mentirinha Branca de Satanás]. 3 O que Crowley teria descoberto seria o segredo supremo do cerne de toda a maçonaria: escondido na alegoria do ritual de Mestre Maçom estaria o segredo da vida eterna! Os alquimistas falavam a respeito dele como sendo o Elixir da Vida e, reservadamente, referiam-se a ele como A mrita . Os maçons o chamam de “O Real Segredo”. Relaciona-se com o


desconhecido nome de Deus, supostamente revelado no Real Arco no sétimo grau do rito de York. Este segredo é que o nome de Deus, YHVH, nada mais é do que o gemido orgásmico da suprema criação, e que o segredo da vida eterna acha-se na consumação sacramental de certos fluidos envolvidos no ato da reprodução humana. Crê-se que esse segredo tem condições de possibilitar a alguém viver eternamente. Afirma-se que al­ guns alquimistas maçônicos, tais como Fulcanelli e o conde de Saint Germain, têm centenas de anos de idade, estando ainda vivos sobre a terra nos dias de hoje! Mas os cristãos têm um plano bem melhor de aposentadoria. E bem mais fácil de se conseguir! Basta aceitar Jesus como Salvador e Senhor e você terá vida eterna — não neste velho e debilitado corpo humano, mas num corpo glorificado que poderá fazer coisas inimagináveis (1 Co 15.35-52). A Igreja Católica Romana Antiga (I.C.R.A.) é um assunto meio bizarro e complicado. Para uma análise completa de sua estranha história, veja

Bishops at Large [Bispos à Vontade], de Peter Anson. Uma narrativa cronológica de todos os estranhos percalços por que passei em meu envolvimento com a I.C.R.A. está, infelizmente, fora do escopo e do tema deste livro. Basta dizer que é uma dissidência bastante excêntri­ ca de uma seita extremamente excêntrica — o Vaticano em si. Para informações mais detalhadas sobre a Maçonaria, e por que motivo um crente não deve ter relacionamento algum com essa sociedade secreta anticristã, veja meu livro M açonaria: Do Outro Lado da Luz. Curitiba: Editora Luz e Vida.



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O que você vai ver nem sempre lhe agradará, mas que você vai ver, vai. — Anton LaVey, A Bíblia Satânica

arei aqui uma pausa para esclarecer um pouco acerca da subcultura para a qual estávamos nos dirigindo. Queremos falar a res­ peito dos satanistas que se constituíram em igrejas legais, com todos os direitos e com a situação privilegiada de ter imunidade de impostos. Nos Estados Unidos, como em muitos outros países, temos liberdade religiosa. Isto é um fato, e, contanto que os satanistas não transgridam nenhuma lei, têm o direito ao seu rito religioso como queiram. Não estamos negando a ninguém o direito a liberdade religiosa. Contudo, simplesmente por ser uma atividade legal, isso não dim inui em nada o risco espiritual envolvido. Um membro da Igreja de Satanás corre o risco de perder a sua alma tanto quanto o mais determinado satanista. Não nos esqueçamos de que mentir é pró­ prio da natureza de Satanás. Ele é chamado de o p a i da m entira (Jo 8.44) e o enganador (2 Jo 1.7). Assim, seria uma ingenuidade total darmos crédito à palavra dos mais dedicados seguidores de Satanás, ao dizerem que não fazem nada que seja ilegal. Outro problema é que essas igrejas normalmente sao portas de entrada para formas mais profundas de satanismo. Como você


pôde ver nos capítulos anteriores, esse foi o caso em minha vida, e sei de muitos outros que têm histórias semelhantes. Desse modo, tal como ocorre com muitas outras formas de comportamento que sao “inofensivas” e “protegidas pela própria Constituição”, como, por exemplo, o jogo de RPG denominado D ungeons a n d Dragons [Calabouços e Dragões], esses grupos satânicos são portas de entrada para variedades avançadas e sangrentas do satanismo. Também a história dessas igrejas satanistas não é aquela mara­ vilha, como logo iremos ver. Já mencionamos a infame Igreja de Satanás, de Anton LaVey. Nao há um número muito grande de igrejas satanistas legais nos Estados Unidos, porque a maioria dos satanistas considera o exame minucioso feito pelo governo ameri­ cano um tanto restritivo. Não obstante, só nesse país há pelo me­ nos 450 grupos identificados como satânicos!1 Na sua maioria, são pequenos grupos, mas influentes numa escala muito superior ao seu número de membros. A Igreja de Sa­ tanás, pelo que se sabe, alcançou um elevado número de membros no ano de 1973, algo entre cinco e dez m il.2 Em meados de 1980, esse número cresceu extraordinariamente, segundo LaVey.3 Um A I g r e j A S a í â í i í c a s e m o DÍAbo?

LaVey deu início às atividades de sua Igreja em 1966, depois de uma vida de múltiplas atividades, pois fora antes domador de leões, organista e fotógrafo policial. Era, além disso, faixa preta em judô. O relato “oficial” da razão pela qual ele concebeu a Igreja de Satanás diz que havia se desiludido com o cristianismo. Via na igreja aos domingos os mesmos homens que, no dia anterior, ele tinha visto em shows de striptease, em boates onde tocava órgão. Depois de certo tempo atuando como fotógrafo policial, LaVey ficou “farto” de Deus por ver, em função do seu trabalho, tanta brutalidade e tantas mulheres e crianças mortas. Ele não podia compreender como Deus, supostamente o bom Deus dos


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O Vi ngAdor

cristãos, pudesse valer alguma coisa, já que permitia que todo esse mal acontecesse. Na noite de 1- de maio de 1966, rapou a cabeça, imitando o famoso e genial satanista Aleister Crowley, os homens fortes do circo e os sacerdotes egípcios. Nesse dia, proclamou o início do primeiro ano da Era de Satanás. Até o dia de hoje, a Igreja de Satanás estabelece as datas a partir daquele dia. Assim, 1993 seria XXVII A.S. (ano de Satanás)! A combinação inicial de um desprezível profissional dos prazeres da carne com sua genialidade incomum e sua condição de alguém que buscava a magia com seriedade é o que veio caracteri­ zar, em grande parte, o desenvolvimento da Igreja de Satanás. LaVey começou com um grupo de estudos de magia negra, e desse grupo foi que se desenvolveu o núcleo central do início da Igreja de Satanás. Logo depois, escreveu A Bíblia Satânica, não propriamente como uma “revelação satânica”, mas como uma com­ binação bem montada de uma filosofia, um psicodrama e um de­ testável equívoco. Com a publicação dessa “Bíblia”, a sua reputação e a membresia da sua Igreja decolaram como um rojão. A certa altura, ele fez o circuito das boates com uma apresentação intitulada “Anton LaVey e suas bruxas topless”. Comprou uma casa na Rua Califórnia, em San Francisco, e a pintou de preto. Sua decoração foi feita com o que no mínimo seria considerado de tenebroso mau gosto. Mesas para café na forma de túmulos, múmias pelos cantos, e um leão da Núbia, negro, vivo, adulto, que vivia no porão. LaVey promoveu o primeiro batismo satânico do mundo aberto ao público, o de sua filha Zeena, que então tinha três anos de ida­ de, diante de um altar com uma figura de nu feminino. Dirigiu também o primeiro funeral satânico, com todas as honras milita­ res, no cemitério de Arlington. Serviu ainda como assessor técnico do filme O B ebê de Rosemary, e chegou mesmo a aparecer no filme, fazendo o papel do diabo na cena em que Satanás violenta a heroína. Ele se deu muito bem com os manda-chuvas de Hollywood, o que em nada nos deve surpreender.

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O n d e GslÁ o DÍAbo ?

Talvez surpreenda os cristãos o fato de a linha “oficial” da Igreja de Satanás não acreditar na existência de Satanás! Para LaVey, Satanás seria apenas o que o psicólogo ocultista Carl Jung4 chamou de “arqué­ tipo”, um símbolo do desejo de Prometeu, da humanidade, de roubar fogo dos deuses e reinarem, os seres humanos, como deuses e deusas sobre a terra. O diabo não teria existência a nao ser como uma metáfo­ ra para os livres desejos e potencialidades da humanidade. O valor de Satanás para LaVey foi que, invocando o nome dele, com todo o simbolismo e tudo o que o diabo lembra, ele podia causar um enorme impacto, psicológico e emocional. Antes de mais nada, podia amedrontar os “ingênuos”, mas também po­ dia usar Satanás como uma alavanca para afrouxar as “restrições de ordem moral” e as “prisões” daqueles que viessem até ele. LaVey percebeu que aqueles que o procuravam poderiam ser mais bem ajudados por meio da realização de um psicodrama ri­ tual, em que fossem forçados a fazer coisas que consideravam re­ pugnantes. Por exemplo, sua “prescrição” psíquica poderia incluir, de imediato, levar um católico a se envolver com a magia negra, ou um judeu, num ritual de preconceitos nazistas. A destruição de qualquer coisa que pudesse ser considerada sagrada foi o que ele considerou como sendo essencial. Certa vez, gracejou dizendo que a “magia negra” perfeita para a década de 1960, cheia de filosofia hippie, seria ter a foto de Maharisha Mahesh Yogi (que fundou a MT — Meditação Transcendental) de cabeça para baixo, fazer derreter um disco dos Beatles e jogar um quilo de maconha na privada dando a descarga. LaVey viu a si mesmo não tanto como um verdadeiro adorador do diabo, mas como o “Vingador do Diabo” (título de sua biogra­ fia oficial, escrita por Burton Wolfe). Ele defende não o diabo, mas o que o diabo representa. Fala contra as injustas “difamações” em relação ao diabo, ao longo dos séculos. Assim, uma análise mais criteriosa pode revelar que o sistema de crenças da Igreja de Satanás é constituído de conceitos bastante diversos:


1. Ateísmo:

A negação de qualquer tipo de divindade. 2. Ética Objetiva:

4. Psicoterapia de Reich:

A forma de freudianismo um tanto bizarra de Wilhelm Reich é baseada na crença do “orgônio”, ou unidade de energia orgásmica e na idéia de que toda enfermidade é causada pela repressão da energia sexual. Envolve ainda o uso de “caixas orgônio” especiais e a liberação de toda inibição sexual. As idéias de Reich estão no cerne de grande parte dos ensinos e da metodologia de LaVey. 5. Psicodrama Ritual:

A idéia é a de que rituais blasfemos podem ser usados para fazer com que as pessoas percam as suas inibições e fiquem “liber­ tas”, ao escarnecerem, justamente, de tudo o que creiam ser sagra­ do. Este era o princípio de LaVey quanto a Satanás ser “adversário”. Um folheto da Igreja de Satanás, publicado em 1966, ensina conceitos de Reich: O homem tem de aprender a fazer a própria vontade por quais­ quer meios que ache necessário (...) somente deste modo é que podemos nos aliviar de frustrações prejudiciais, que, se não forem aliviadas poderão crescer e causar muitas doenças reais.6 Em seguida ao tremendo sucesso do seu primeiro livro, LaVey escreveu The C om pleat Witch — or W hat to Do When

do

O homem não necessita de ninguém mais, a não ser de si mesmo, para salvar-se; e a necessidade de salvação no sentido cris­ tão é negada: “Eu sou meu próprio redentor!”3

Vi ngAdor

3. Salvação por Si Mesmo:

DÍAbo”

Baseada nos ensinos do filósofo ateu Ayn Rand de que o ego­ ísmo é o maior bem.


Virtue Fails [A Bruxa Completa — ou O Que Fazer Quando a Virtude Falha], uma espécie de guia do tipo “faça você mesmo” para a mulher interessada em se tornar uma fatal satanista, e The Satanic Rituais [Os Rituais Satânicos], um livro que apre­ senta, entre outras coisas, uma versão francesa original da Missa Negra, rituais nazistas, rituais dos Cavaleiros Templários, e até mesmo rituais baseados nos escritos de horror de H. P. Lovecraft. Contudo, nenhum desses livros chegou perto do sucesso ou im­ pacto da sua B íblia Satânica. Muito embora LaVey defenda a liberdade sexual e tenha feito da blasfêmia um ritual, tanto ele como sua filha Zeena nao sao coerentes, negando as acusações de que promovem o ódio, a vio­ lência e a crueldade a animais e a seres humanos. Negam ainda qualquer envolvimento ou promoção ao uso ilegal de drogas. Apesar de suas tentativas de garantir uma “boa imagem”, o maior sucesso de LaVey deixa transparecer alguns de seus mais te­ nebrosos segredos. Que a própria Bíblia Satânica, sua obra-prima, fale por si mesma. Esse livro é bastante popular, chegando até a ganhar em vendas, durante certo tempo, da própria Bíblia Sagra­ da, em vários cam pi universitários, por todos os Estados Unidos. A “bíblia de Lavey” tem sido encontrada nas mãos de inúmeros “de­ linqüentes satanistas” adolescentes e marginais satanistas logo após haverem cometido crimes hediondos, incluisive assassinatos em massa. O livro é provavelmente o que mais se aproxima de um pronunciamento oficial do que é o satanismo, feito por um satanista contemporâneo. Veja a seguir algumas citações extraí­ das de suas “Nove Declarações Satânicas”: uma espécie de “M a­ nifesto Satanista” :7 • Satanás representaperm issividade, em vez de abstinência... • Satanás representa “bondade para aqueles que a merecem”, em vez de “am or desperdiçado com pessoas ingratas”. • Satanás representa vingança, em vez de dar a outra face...


Peço aos mensageiros da destruição que golpeiem com prazerosa severidade sua vítima que eu haja escolhido. Si­ lencioso seja o pássaro mudo que se alimenta da massa encefálica daquele que me atormentou... arranque aquela língua palradora e feche a sua garganta. Ó Káli! Perfura os pulmões dessa pessoa com ferrões de escorpião. O Sekhmet! Derrama tua substância no sinistro vazio! Ó po­ deroso Dagom! Eu lanço para o ar o aguilhão de duas pon­ tas do Inferno, nas quais, resplendentemente empalado, meu sacrifício de vingança há de ficar! Essas ordens têm, evidentemente, a finalidade de, se executa­ das, levar a pessoa amaldiçoada a uma morte terrível. LaVey até mesmo recomenda: “Não se preocupe se a almejada vítima vai viver ou morrer, ao lançar a sua maldição. E, se conseguir que seja destruída, fes­ teje, em vez de sentir remorso. Preste bastante atenção a estas regras, pois, do contrário, você terá o reverso dos seus dese­ jos, causando-lhe dano, em vez de o favorecer.”9

do

Embora LaVey negue que seus satanistas pratiquem sacrifícios de animais e humanos, a “bíblia” que ele escreveu pinta um quadro totalmente diferente. Ali são ensinados ataques por meios espiri­ tuais —- assassinatos por meio de maldições. No Ritual de Destrui­ ção,8 as palavras não deixam dúvida quanto às suas intenções:

O VingAdor

UmA R e l i g i à o d e V i o l ê n c Í A e f ü o r l e !

Diabo

• Satanás representa o hom em com o sendo apenas outro anim al, às vezes melhor, mas muito mais vezes pior em relação aos que andam com quatro patas, tendo se tornado o mais p ern i­ cioso de todos os animais, por causa de seu “divino desenvol­ vimento espiritual e intelectual”. • Satanás representa tudo o que se diz ser pecado, pois todos os peca­ dos levam a uma satisfação, seja física, emocional ou mental...


Embora LaVey se mostre, oficialmente, contra a mutilação intencional de pessoas, sua B íblia S atânica promove a violên­ cia. Para a maioria de nós, fica um tanto difícil separar etica­ mente a intenção de matar alguém do ato de amaldiçoá-lo para que morra. Se se acredita que o feitiço que se está fazendo de fato funciona, não deixa de ser uma tentativa de assassinato, tal como se se usasse uma arma de brinquedo pensando estar usan­ do uma arma de verdade. Isso se vê com mais clareza no relato do que aconteceu quan­ do um “sumo sacerdote da Igreja de Satanás” pessoalmente amal­ diçoou alguém com terríveis resultados. U iiia D e u s A do A m o r A m A l d i ç o A d A

Estamos agora falando do caso de uma discípula de LaVey, a famo­ sa “deusa do sexo” Jayne Mansfield. Essa conhecida atriz de cine­ ma, tornou-se membro da Igreja de Satanás em 1965. Ela pregava as idéias do satanismo, proclamando que a castidade é “realmente uma perversão que causa doenças, um verdadeiro mal” .10 Apare­ ceu em fotos de propaganda bebendo do enorme cálice cerimonial de LaVey, junto com ele, vestido de todos os seus aparatos satâni­ cos: um terno preto, um manto acetinado preto e um boné preto com chifres do diabo. O envolvimento de Jayne Mansfield com LaVey alarmou um amigo dela de nome Sam Brody, que a advertiu de que esse relacionamento poderia tornar-se para ela um enorme desastre em sua imagem pública como atriz. Brody ameaçou LaVey de expô-lo como charlatão e vigarista. LaVey, em resposta, amaldiçoou ritualmente Brody e advertiu Jayne que se mantivesse bem longe dele, para que a maldição lançada sobre ele não a atingisse também. Jayne achou melhor ignorar a advertência de LaVey. Em cerca de apenas um ano, a 29 de junho de 1 967, Brody sofreu uma violenta batida de frente com seu car­ ro, na qual Jayne estava também, ao lado dele. Nesse terrível aci­ dente, ambos foram instantaneamente decapitados!11


Problemática é também a glorificação do ódio e do terrorismo no livro de LaVey: Odeie seus inimigos de todo o coração, e se alguém lhe bater no rosto, quebre a cara dele! Bata nele sem dó nem piedade, pois a lei maior é a da autopreservação. Quem ofe­ rece a outra face é um cão covarde. Revide golpe p or golpe, desprezo p or desprezo, destruição p or destruição — com uma desforra bem aumentada, form ada pelos seus interesses. Olho p or olho, dente p or dente, sempre quadruplicado, e até multi­ plicado p or cem ! Torne-se um terror para o seu adversário, que, quando cair fora, terá muito no que refletir.12 E como poderíamos deixar de lado as “Bem-aventuranças Sa­ tânicas”? Observe a glorificação da violência e do assassinato a quem não tiver escape:13 • Bem-aventurados sao os fortes, pois possuirão a terra — amaldiçoados sao os fracos, pois herdarão o jugo. • Bem-aventurados são os poderosos, pois serão reverencia­ dos entre os homens — amaldiçoados são os frágeis, pois se­ rão arrasados. • Bem-aventurados sao os ousados, pois serão senhores do mundo — amaldiçoados são os íntegros e humildes, pois se­ rão pisoteados pelas patas do diabo. • Bem-aventurados sao os vitoriosos, pois a vitória é a base do direito — amaldiçoados são os derrotados, pois serão vassalos para sempre... • Bem-aventurados os implacáveis, pois os incompetentes fugirão diante deles — amaldiçoados são os pobres de espí­ rito, pois serão menosprezados. • Bem-aventurados são aqueles que crêem naquilo que é me­ lhor para si, pois jamais sua mente ficará apavorada — amaldi­ çoados são os “cordeiros de Deus”, pois serão totalmente espoliados. • Três vezes sao amaldiçoados os fracos cuja insegurança os torna desprezíveis, pois servirão e sofrerão.


Isso soa como se fosse uma homilia feita por Hitler! Veja como há um total contraste com os ensinos do Senhor Jesus Cristo: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. (Mt 5.3-6) Com um ensino satanista como aquele, qual será a norma éti­ ca que impedirá que um de seus seguidores roube, mate ou estupre quem quer que ele desejar? Embora sua Igreja oficialmente nao advogue o assassinato, os princípios da Bíblia Satânica incitam a “lei da selva”. Nao é de admirar que nao haja orfanatos ou hospi­ tais mantidos por satanistas. O livro de LaVey nao é propriamente uma “escritura sagrada” para os satanistas, mas sua influência não pode ser subestimada! Suas provocantes declarações também não devem ser ignoradas, principalmente quando vemos que, na maior parte dos casos de violência satânica, é sempre encontrado um exemplar desse livro, bastante usado, em meio aos pertences do envolvido. Mais trágico ainda é o fato de que fui informado quando me achava ainda, na fraternidade satânica: que a igreja de LaVey é mera­ mente uma organização de linha de frente, montada pelos grupos satânicos mais avançados, como seu instrumento de sustentação. Ela tem de fato servido a esse propósito muito bem. Embora LaVey já tenha falecido [ele morreu na década de 1990], A Bíblia Satânica continua vendendo muito, já faz mais de três décadas! Não obstante, de quando em quando até as melhores másca­ ras caem, como aconteceu em 1989 no programa de entrevistas da televisão americana Sally Jesse R a p h a el. Zeena LaVey, que é a filha mais nova dele, estava falando sobre o lado satânico do tea­ tro com um colega, Nicolas Schreck. Este homem, que lidera um grupo chamado Werewolf Order [Ordem dos Lobisomens], passou


Noí AS 1 F r e d e r ic k s o n , Bruce G.

How to Respond to Satanism [Como Responder

ao Satanismo]. Concordia, 1988. p. 18. 2 L y o n s , Arthur

1988. 3 Ibid.,

p. p.

Satan Wants You [Satanás o Quer], Mysterious Press,

115. 123.

4 Para uma visão mais profunda do impacto que os ensinamentos de Jung causaram sobre a bruxaria e o ocultismo moderno, veja meu livro Wicca,

DÍAbo” do O VingAdor

a se revelar nitidamente hitlerista. Advogou a destruição dos de­ ficientes e dos que nao se desenvolvam de um modo normal. O mesmo programa mostrou que Schreck e Zeena LaVey haviam par­ ticipado de um “evento satânico” num teatro em 8 de agosto de 1988 (8- 8- 88) em comemoração aos infames assassinatos ligados a Charles Manson .14 Eles exibiram, entre outras coisas, cenas com­ pletas dos assassinatos, rufaram tambores e ovacionaram a cena da atriz Sharon Tate sendo esfaqueada até à morte, grávida. Esse programa de televisão, com Zeena tendo a seu lado Schreck, que com tudo concordava, balançando a cabeça, trouxe à luz, de modo espantoso, o tenebroso niilismo e desespero que es­ tão por trás desse satanismo metido a burlesco, de LaVey. O resul­ tado foram tremendas vaias do auditório, que geralmente é bastante liberal. LaVey e sua Igreja não devem ser, porém, subestimados. Ele é um homem muito inteligente e, não há dúvida, um dos feiticeiros mais talentosos da sua geração. Quanto ao fato de se ele crê ou não no diabo, isso não se sabe ao certo. Mas não é necessário acreditar num deus ou diabo para ser praticante da magia negra. Basta ter uma firme disposição de abrir a alma às tenebrosas e gélidas atra­ ções malignas de Lúcifer. Se LaVey já tem como causar tanto dano a uma geração, sem nem mesmo professar sua crença em Satanás, im agine quão p io r não seria alguém que realm ente adorasse 0 Velho D emônio...

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Satarís Little White Lie [Wicca, a M entirinha Branca de Satanás], ChickPub., 1990. p. 27-36.

The Satanic Bible [A Bíblia Satânica], Avon, 1969. p. 33. Richard. (Ed.) Man, Myth andM agic [Homem, Mito e Ma­

5 L aV ey, A. S. 6 C a v e n d is h ,

gia], Marshall Cavendish Corp. 1970. v. 23, p. 3204. 7 L aV ey, p. 25.

Lúcifer

DeslronAdo

8 Ibid., p. 149-150.

9 Ibid. 10C a v e n d is h , op. cit., p. 3.205. h L y o n s, op. cit., p. 108-109.

12La V ey, op. cit., p. 33.

13 Ibid., p. 34. 14 R a s c h k e , C. A.,

1992. p.391.

Painted Black [Pintado de Preto], Harper Paperbacks,


N as G n t r A í i H A s

d.A B e s l A

Eu sou a Serpente q u e dá C onhecim ento, Prazer e um a esplendorosa glória, e em briago o coração dos hom ens. Para m e adorar, tom e o vin h o e as estra­ nhas drogas que eu venha a m en cion a r a m eu p r o ­ feta, e assim fiq u e em briagado. — Aleister Crowley, L iber A l v e l L egis 2 .2 2

"V"oltando ao relato do meu “progresso” dentro da confraria satâ­ nica, com o passar dos anos a constituição dos “covens” também foi sofrendo alterações. Muitos dos alunos mudaram-se para ou­ tros estados, e alguns casamentos e relacionamentos se deteriora­ ram rapidamente. Tínhamos ainda uma razoável base de fiéis seguidores que eram a “prata da casa”. Assim, contávamos com pessoas no terceiro grau em número suficiente para ministrarem os estudos de magia avan­ çada, preparatórios para o quarto grau. Para essas classes, muito nos valemos da nossa associação com a O.T.O. Tanto Sharon como eu éramos membros do quinto grau daquele grupo, e começamos a dar treinamento para os nossos sumo sacerdotes em práticas avançadas, tais como magia de Crowley, ciências herméticas, magia gnóstica e maçonaria.


É importante compreender que Aleister Crowley havia conven­ cido finalmente o dirigente da O.T.O., Theodore Reuss, de que a era crista tinha sido superada e que um Novo Eon começara em 1904, sob o reinado do Filho Divino — Hórus (um deus egípcio com cabeça de falcão). Afirmava que a religião da Nova Era era ba­ seada na palavra grega Thelema, que significa “vontade”. Ensinava também que a “superada” fé crista baseava-se numa outra palavra grega, Ágape, cujo significado é o de um amor espiritual, não egoísta. O J ü e s s i A S d.A Nova 6 t a

Crowley, com a ajuda de sua primeira esposa, Rose Kelly, suposta­ mente foi o portador de uma mensagem dada por um ser “sobre­ humano” (um espírito guia) chamado Aiwass (pronuncia-se “ai-Uás”). Seu livro, LiberAl velL egis [O Livro da Lei], passou a ser considerado pelos seguidores de Crowley como o livro que veio substituir todas as outras escrituras, inclusive a Bíblia Sagrada. Observa-se que Crowley subordina o princípio cristão do amor Agape (o amor não egoísta) ao princípio gnóstico da Thelema (von­ tade). Ele convenceu o cabeça da O.T.O. quanto à validade dessa nova religião, e Reuss fez do ramo da O.T.O. na Inglaterra, dirigi­ do por Crowley, a primeira ordem “thelêmica” do mundo. Desse modo, Crowley recebeu o pretensioso título maçônico de “Supre­ mo e M ais Sagrado Rei da Grã-Bretanha, Irlanda, lon a e todas as ilhas que estão no Santuário da Gnose”. Sharon e eu, e o principal núcleo dos sumos sacerdotes do nosso grupo, nos considerávamos thelemitas, acreditando na reli­ gião de Crowley como sendo a evolução lógica do cristianismo no século 20. E, como membros da O.T.O., ensinávamos aos nossos alunos em estágio avançado a forma de magia praticada por Crowley. Em nossa associação com a O.T.O., fomos a um suposto Mes­ tre de Vama M a rg— um caminho à esquerda, ou seja, de ocultis­ mo tântrico, sendo a Tantra, a ioga do sexo. Os termos “caminho à


B e s l A a

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N

direita e à esquerda” originam-se do ocultismo, procedendo da ín ­ dia a ioga tântrica, a ioga da magia sexual. O caminho à direita é tido como masculino (ou Yang, em Chinês) e geralmente considerado como bom por todos os ocultistas. Assim, aTantra da direita é predominantemente mascu­ lina, envolvendo formas de castidade. Seu ponto principal é tam­ bém a deliberada contenção da consumação do ato sexual por parte do homem, o que é chamado de maithuna. Acreditam que isso contribui para adquirir união (ioga) com o deus Shiva e com a deusa Shakti. O caminho da esquerda é predominantemente feminino (Yin), sendo considerado mau por alguns ocultistas, exceto pe­ los bruxos e satanistas, que consideram tais distinções como cristãs e sexistas. A Tranta da esquerda permite a consumação total do ato sexual pelo homem fazendo uso de outros métodos extremamente perversos para, supostamente, alcançar os mes­ mos objetivos da ioga. Acredita-se que, por meio de certos exercícios e treinamento de ordem sexual, pode se alcançar a imortalidade humana, e que alguns canais do corpo humano podem ser desenvolvidos como portas de entrada para outras dimensões do tempo e do espaço. A ioga tântrica é considerada blasfema e maligna pela maioria dos praticantes da ioga, mas desde o surgimento de Crowley está sendo ensinada no Ocidente. O “Mestre” com quem iríamos nos relacionar era ao que su­ púnhamos, verdadeiro pioneiro no desenvolvimento da tecnologia mágica que tinha a ver com aTantra da esquerda. Vamos chamá-lo de Aquarius. Ele'era, por certo, o homem mais esquisito que eu já conheci e, possivelm ente, o mais perigoso. Aquarius foi grandemente recomendado pelo Chefe Exterior da O.T.O. (algo assim como o seu papa), de modo que fomos assistir a um de seus seminários em Chicago. Não era como o havíamos imaginado. Era um sujeito bem forte, meio calvo, de estatura mediana, com uma barba preta e branca bem cerrada e olhos bastante expressivos.

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Sua palestra foi sobre a Arquitetura da Magia e sobre a teoria da Arqueometria Transespacial. Ele era, usando uma expressão popular, “da pesada”. Aprendi com ele, naquelas duas horas, mais do que tinha aprendido em cinco anos de um intensivo estudo do ocultismo, acho eu. Simpatizou comigo, mas Sharon não gostou nada dele! Durante os intervalos das várias palestras, ele me procu­ rou. Disse que queria me matricular no Mosteiro dos Sete Raios, a fim de me tornar o arcebispo de Milwaukee. Naturalmente que a minha atenção voltou-se para isso. Aquarius era o arcebispo metropolitano da América do Norte da Igreja Católica Gnóstica. Era também o Mestre do Rito da Maço­ naria Egípcia (Mênfis-Mitzraim) e um hierofante do vodu!1 Disse-lhe que eu era sacerdote da Igreja Católica Antiga, e ele ficou mais impressionado ainda comigo. Explicou-me que os católicos gnósticos tinham vindo da França para a América via Haiti e que a sucessão apostólica deles vinha do arcebispo de Babilônia; já no caso da Igreja Católica Antiga, essa sucessão pro­ vinha de Utrecht. A doutrina de Aquarius era tão complexa que seria necessá­ rio um livro inteiro para abordá-la. Grande parte era semelhante aos ensinos da O.T.O.; às crenças tântricas (sexo, normal e per­ vertido, como um ato de adoração e de união com Deus); ao anglo-catolicismo, à Maçonaria e ao vodu. Basta dizer que eu aprendi com ele muito mais sobre magia negra do que tudo o que eu já tinha aprendido da maioria dos outros mestres da feiti­ çaria e do ocultismo juntos. Convidou-me a ir visitá-lo e passar o fim de semana em seu apartamento, que tinha uma bela vista do lago Michigan. Acei­ tei. Sharon, porém, não ficou muito satisfeita com isso! Mas, por fim, eu disse a ela: — Para crescer no conhecimento da magia e do poder, eu sempre quis fazer tudo o que fosse necessário. Ela sabia disso; e era exatamente isso que não lhe agradava.


dA GntrAtiHAS

Semanas depois, tomei um trem para Chicago, a fim de passar o fim de semana com Aquarius. Sharon disse-me que iria rezar por mim e estaria fazendo rituais de proteção a cada minuto, em todo o tempo da minha ausência. Ela me amava e confiava em mim o suficiente para me deixar viajar, mas estava bastante preocupada quanto ao perigo que aquele homem poderia representar. Aquarius veio buscar-me na estação ferroviária, e tomamos um ônibus para chegarmos até sua residência. Ele não tinha carro e recusava-se a dirigir em Chicago, o que me fez pensar que era bem mais inteligente do que eu havia suposto. Seu apartamento era ímpar; ficava no trigésimo andar de um prédio bem alto e moderno e era totalmente extravagante. Sua de­ coração era a mistura de uma mansão de Playboy, H. P. Lovecraft, Igreja Ortodoxa Russa e hinduísmo. Dominando a sala de estar havia uma enorme mesa coberta com um brocado de cetim. Explicou-me que ali era o altar de sua celebração da Liturgia Divina, tendo ainda um pano de altar litúrgico grego, um brocado com relíquias de um santo tecidas so­ bre ele. Debaixo achava-se o que me disse ser uma “relíquia santa” ainda mais importante, alguns metros de um tecido de algodão que tinha sido da casa de Madame Blavatsky, a matriarca do movi­ mento da Nova Era, fundadora da Sociedade Teosófica. As paredes estavam literalmente cheias de uma arte muito es­ tranha, como eu nunca tinha visto. Aquarius sorriu chamando-a de “pornografia pré-cambriana”. Eu não tinha razão alguma para duvidar do, que ele dizia. Era de um aspecto rude, primitivo, como se fora uma pintura a dedo feita por um predador sexual demente. Havia ainda figuras mais convencionais, como de deuses, de­ mônios, extraterrestres e shaktis2 com quem ele trabalhava. Ou­ tras eram de furiosos dervixes [religiosos muçulmanos] rodopiando com um ar totalmente misterioso. Aquarius me disse acreditar firmemente nos princípios da en­ genharia mágica, ensinados pela Igreja Ortodoxa Russa. Eram como

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ícones, explicou. Cada um representava um deus ou demônio ou poder e tudo o que se tinha de fazer para invocar a força ou o demônio era meditar em frente à pintura. Esclareceu que era como uma máquina de magia, como se fosse um aparelho para poupar nosso esforço, e que, sendo ele do signo de Capricórnio, adorava tudo o que lhe poupasse as energias. A janela da sua enorme sala de estar estava cheia de plantas, sendo que nenhuma delas parecia ser..., bem, nenhuma delas pare­ cia normal! Mais da metade das espécies eram-me totalmente des­ conhecidas, e algumas delas estavam como que querendo saltar do vaso para atacar as pessoas! Outras tinham uma aparência um tan­ to obscena, que nao dá para descrever. Aquarius preparou o jantar e então trouxe uma garrafa do uís­ que Wild Turkey. Agradeci, mas disse-lhe que não bebia. Ele sorriu com um ar de velhaco e me disse que, se eu quisesse chegar a ser um patriarca gnóstico e arcebispo, teria que me acostumar com a bebida. Eu não estava mentindo. Nunca bebi muito em minha vida. Qualquer vinho ou licor tinha o mesmo sabor para mim: horrível. Sentia uma forte aversão sempre que tinha de tomar o vinho da eucaristia durante a missa, mas, como cria que era o sangue de Jesus, conseguia suportá-lo. No entanto, meu gentil anfitrião in­ sistiu em que eu colaborasse com ele para acabar totalmente com o conteúdo de sua garrafa de Wild Turkey. Tinha gosto de fluido de isqueiro, e eu quase vomitei. Resolvi, então, ir bebericando peque­ nos goles do uísque, aos poucos, durante algumas horas, enquanto o ouvia com atenção falar de sua magia bizarra e incomum. Para Aquarius, a chave do poder de um cientista mágico esta­ va na compreensão de todos os ramos da ciência e da filosofia. Sentia-se satisfeito com os cursos que eu fizera, mas insistiu em que eu tinha de levar para casa comigo uma cópia da série filosófi­ ca de Coppleton e dos Principia M athem atica de Bertrand Russell. Disse-me que eu teria de me submeter a um teste completo sobre esse material antes da minha consagração como bispo.


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Ele conseguiu acabar com dois terços do conteúdo da garrafa de uísque, e mesmo assim permaneceu lúcido. Percebendo meu espanto, explicou que o segredo era ter tantas entidades (espíritos do vodu) dentro da gente que, ao beber, elas é que ficavam bêba­ das, não nós. A maioria das entidades do vodu — assegurou-me ele — adora a bebida alcoólica, principalmente uísque e rum. Ex­ plicou-me ainda que era necessário aplacar a ira das entidades, de diversas maneiras, se pretendesse ter acesso ao universo B. Eram as guardiãs da entrada a esse universo. De acordo com Aquarius, o universo B é um universo alterna­ tivo em que se aplicam leis totalmente diferentes da física quântica e da matemática. Seria um universo governado por magos mestres da Atlântida, que haviam fugido da terra para escapar da destrui­ ção do “continente perdido”, há milhares de anos.3 A partir do universo B, o praticante da magia que saiba o que está fazendo pode ter acesso a outros universos alternativos. E pos­ sível ainda trazer energias e até mesmo criaturas do universo B para o nosso universo, para que (espera-se) nos sirvam. No entan­ to, sabe-se que uma parte dessas criaturas é muito perversa, e que somente fazem alguma coisa quando se lhe dão copiosas doses de uísque ou rum, sexo e sangue. O objetivo final seria descobrirmos nosso “próprio” universo, em alguma parte desse intercâmbio cósmico, para nele reinar como se fôssemos um deus. Tais conceitos estavam entre os elementos mais elevados do seu sistema de magia. Então ele me perguntou quando eu estaria disposto a receber o sacerdócio luciferiano. Eu quase vomitei o que estava bebendo... e pedi-lhe que me desculpasse, pois não havia entendido. Ele me explicou, então, que eu teria de me tornar sacerdote de Lúcifer antes de poder tornar-me bispo católico. Referindo-se à estrutura, normalmente aceita no ocultismo, que representa a cabalística árvore da vida, Aquarius mostrou-me que o quinto grau de sacerdócio era consagrado ao Sol e ao deus que havia sido morto e que ressuscitou, Osíris ou Jesus. Pertencia ao mundo cabalístico, ou esfera, de Tiferet. Isso era uma cerimônia elementar de magia com a qual eu estava bem familiarizado. Pedi-lhe que prosseguisse.


Lúcifer

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A ÁRVORE DA VIDA: CAMINHOS ASTRAIS E TARÔ

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Explicou, então, que o grau sexto (Adeptus Major) pertencia ao mundo de Geburah, governado por Marte. Seu sacerdócio era o sa­ cerdócio de Lúcifer, seu metal era o ferro, sua pedra preciosa o rubi. Isto encaixava-se muito bem no que eu já sabia. Se Tiferet pertencia ao sacerdócio católico, era uma combinação perfeita! O metal de Tiferet era o ouro, e o seu perfume era o do incenso olíbano. Tanto o ouro como o olíbano participam de modo predominante na missa e no simbolismo cristão. Quando eu recebesse o grau luciferiano, declarou Aquarius, estaria em condições de ir para o sétimo. Este seria o grau Adeptus Exemptus, ou seja, o episcopado, ou bispado católico romano! Essa esfera na Árvore da Vida, Hesed, é governada por Júpiter, na Cabala. Sua ferramenta de magia é o báculo (o bastão episcopal), e sua pedra, a ametista. Eu sabia que, por séculos, a pedra do anel usado pelos bispos de Roma sempre foi a ametista! Acho que essa tradição vem dos antigos pontífices pagãos romanos, que usavam um anel de ametista na mão direita, como talismã, para lhes dar juízo e sobriedade (evi­ tando, assim, que se embriagassem). Sem poder esconder a excitação em que me encontrava, per­ guntei-lhe o que implicaria tornar-me um sacerdote luciferiano. Aquarius sorriu benignamente, com um ar presunçoso de quem tudo sabe, e disse: — Você precisa vir para a Luz! De algum modo eu sabia que algo não estava certo naquela afirmação. — Como vou fazer isso? — perguntei, com a voz um tanto rouca pelo efeito do uísque. Ele exibiu um sedutor sorriso amarelo e tentou cativar-me, explicando que eu teria de passar por um arcaico ritual dos Templários.4 Tive que passar por esse ritual naquela mesma noite. E melhor não descrever como foi; apenas vou dizer que está rela­ cionado com a cúpula clerical e envolvendo vampirismo sexual.


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Concluídos, finalmente, os ritos e blasfêmias naquela noite, houve, ao encerramento, um certo toque de ironia. Antes de Aquarius recolher-se, pegou cópias do Santo Ofício do Breviário e me conduziu na recitação da sua última parte, o Completório ,5 dirigindo-se depois para o quarto de rituais, que era ao mesmo tempo o seu dormitório. Com um sorriso um tanto traiçoeiro, perguntou se eu não gostaria de passar a noite no seu quarto, o qual me pareceu ser mais terrível do que sua sala de estar. Eu já tinha chegado ao nível máximo de perversidade para aquele fim de semana, de modo que polidamente declinei do convite. No entanto, dormir em sua sala, no seu sofá de veludo, nao me traria descanso. Passado o efeito confortador da recitação do Breviário, tive uma das piores noites da minha vida no sofá de Aquarius. Eu me sentia grato por estar ali, mas parecia que eu não estava só. Aquelas horrorosas pinturas pareciam estar vivas. Os olhos delas brilhavam na escuridão com um fogo impetuoso. Apeguei-me então ao meu escapulário franciscano, que eu sempre usava preso a meu pescoço, e rezei tantos rosários que perdi a conta. Na verdade, acabei dor­ mindo numa casula católica (uma veste sacerdotal) acreditando que ela me daria algum conforto (mas disso eu não tinha muita certeza). Afinal, Aquarius era hierofante vodu, diácono da Igreja Episcopal e arcebispo da Igreja Católica Gnóstica. Eu não estava convencido de que um pedaço de pano, como o daquela sua vestimenta, iria amenizar a situação. Muitas vezes, naquela noite, fui acordado por pesadelos, cala­ frios e ensopado em suor, ao ouvir ruídos como que de ratos pas­ sando por vidros quebrados. Ao abrir os olhos, achava que as pinturas tinham se m ovido na p arede! Ao conseguir conciliar o sono, estranhos seres sexuais vinham e deitavam-se sobre as minhas cobertas. Dava para sentir o seu


BeslA dA G n l r A n H A S as

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peso e sentir seu fétido hálito. Não sei se eu estava tendo terríveis pesadelos ou se estava acordado. Tudo aquilo não fazia sentido. Ali estava eu, sumo sacerdote bruxo e recém-ordenado sacerdote de Lúcifer, sendo amedrontado, a ponto de me apavorar, por umas extravagantes e inocentes pinturas. Era como se o Anton LaVey dormisse de luz acesa. Foi como passar a noite na “Hospedaria Inferno”. Ainda bem que ele tinha deixado comigo uma cópia do Breviário, porque acabei lendo os Salmos que nele estão, valendo-me da luz da lua, procurando manter minha mente afastada daquelas figuras arrepiantes e rastejantes, como também das plantas, que pareciam sussurrar de um modo bas­ tante estranho, na escuridão. As sombras daquela vegetação nao ter­ restre, projetadas pelo luar, moviam-se sobre as páginas do meu Breviário de um modo lascivo que jamais seria efeito de uma brisa, pois era inverno, e as janelas estavam completamente fechadas! Nenhum alvorecer foi mais bem-vindo do que aquele. Aquarius levantou-se cerca de uma hora após raiar o dia e parecia mais estra­ nho ainda à luz solar do que quando o vi à noite. Sua pele era pálida, como o ventre de um peixe. Formava um total contraste com seu cabelo preto e sua barba grisalha. Sorriu e me perguntou se eu tinha dormido bem. — Muito bem! — respondi-lhe. — Ótimo, isso é muito bom! Vou preparar para nós um café e em seguida vamos cantar laudes [recitativos do Breviário], tomar uns coquetéis e depois trabalhar no nosso vodu. O “café da manhã”, para ele, era na verdade um mingau que parecia ser feito de aveia, mas que tinha um gosto estranho, como se tivesse pelo menos dois ou três vegetais entorpecentes. O restante do fim de semana transcorreu daquele mesmo modo agitado e estranho. Aquarius transbordava de gentileza e hospitali­ dade tipicamente européias, para não falar de sua religiosidade con­ vencional. Tinha sempre consigo um rosário e insistia em rezarmos todo o Ofício Divino; contudo, narrava-me histórias de magia e perversão sexuais com divertido prazer.

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Para Aquarius, o vodu não era um sincretismo religioso da feitiçaria africana com o catolicismo, como a maioria das pessoas “pensa”, mas sim, uma forma sofisticada de magia que fazia uso da Matemática e da Física e que ele acreditava ter sua origem no con­ tinente perdido da Atlântida. Sugeriu que eu entrasse no primeiro nível de sua escola de vodu, chamada Culto à Serpente Negra. Tudo o que eu teria que fazer para receber as lições era enviar-lhe preen­ chido um formulário, juntamente com dez dólares por mês. Poste­ riormente, quando recebi as lições, fiquei pasmado ao ver que continham assuntos como magia por masturbação, comer carne de cadáveres e ter sexo com demônios! Aquarius observou que eu teria um progresso bem mais rápi­ do se tivesse pós-graduação em Matemática. Disse que o propósito final da magia era metamatemático. Requeria que o seu praticante viajasse através do tempo e do espaço de modo a produzir e con­ trolar universos inteiros. Finalmente, marcamos o dia em que me tornaria bispo, e pe­ guei meu trem de volta para casa. Quando cheguei, alegrei-me em me encontrar com Sharon, e ela, em me ver. Contei-lhe tudo o que acontecera naquele fim de semana, e ela me fez prometer que nunca mais voltaria lá sozinho. Fui consagrado semanas depois, de acordo com o rito da Pontificai Romana. Aquarius trajava uma veste ortodoxa russa que valia cerca de 800 dólares, e eu usava todos os paramentos de um prelado. Em vez de jurar sujeição ao papa (pelo qual eu não ali­ mentava grande entusiasmo), tive que jurar obediência ao papa do vodu, Hector François Jean-Maine, do Haiti. Foi necessário que eu fosse a Chicago mais algumas vezes. Cada vez, era mais estranho que da vez anterior. Tinha que levar um de meus amigos como segurança. A cada viagem, meu acom­ panhante era alvo de vibrações tão estranhas que se recusava a ir na vez seguinte.


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Certificado de Consagração como Bispo da Igreja Católica (Ritos da Igreja Católica Romana Antiga). Também mostra William Schnoebelen tornando-se Mestre do Templo. Naquele tempo, seu nome legal era Christopher P. Syn. (Veja a segunda ilustração do Capítulo 4.)

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Por fim, meu relacionamento com Aquarius ficou um tanto abalado, quando determinou que eu não deveria deixar Sharon tornar-se uma discípula sua. Aquarius era bissexual, se não total­ mente homossexual. Envolvia-se mais com homens do que com mulheres, e parecia mostrar-se um tanto preocupado quanto a Sharon, recusando-se a realizar qualquer cerimônia em que ela es­ tivesse presente. Sharon vinha desenvolvendo seu próprio e complexo sistema de arquitetura mágica, e evidentemente Aquarius havia ficado com inveja dela. Mas o que o deixara furioso era não conseguir manipulála. Ele tentou, certa noite, entrar no “universo” mágico dela. Sharon achou que ele estava ficando um tanto pomposo, e precisava apren­ der uma lição quanto a ter respeito diante dos segredos da Deusa. Ela não se sentia ameaçada por ele, absolutamente, mas sabia que as informações que possuía seriam desastrosas nas mãos dele. En­ traram em conflito quando ela defendeu o seu território da invasão dele. Sharon decidiu ser misericordiosa e dar-lhe apenas uma ad­ vertência. Naquela mesma semana, viemos a saber que ele tivera de se hospitalizar, naquela noite, por causa de um ataque cardíaco. Foi uma das poucas vezes em que Sharon, em toda a sua vida, fez uso de seus poderes de magia. Algumas semanas depois, quando eu estava cursando aulas de Aquarius sobre Arqueometria Indutiva (uma forma mágica e maçônica da construção universal), recebi uma carta dele informan­ do-me que eu havia sido excomungado do Mosteiro dos Sete Raios pela heresia de “Ginecolatria” (adoração de mulheres?). Sinceramente, senti-me feliz por ficar fora do seu alcance! Toda vez que eu passava um fim de semana com ele, sentia-me como se tivesse nadado num vaso sanitário. As incongruências que havia em m inha vida começavam a me incomodar! Ali estava eu, celebrando a missa (agora como bispo) ao Deus cristão e, ao mesmo tempo, adorando em altares


BeslA dA G nlrA iiH A s

N as

pagãos porque, ao que se supunha, Jesus também tinha adora­ do neles. Havia me tornado sacerdote de Lúcifer numa cerimônia que escarnecia do papado e da moral cristã; contudo quem me iniciara como sacerdote luciferiano era um devoto arcebispo católico que diariamente rezava rosários em seu gabinete e ia à missa todos os domingos numa catedral! Mas seria a sua hipocrisia menor do que a do padre da univer­ sidade onde eu havia estudado, que professava santidade mas bus­ cava meios de seduzir estudantes e distorcia os ensinos morais do cristianismo para adequá-los às necessidades do momento? Aquarius era exatamente o oposto dele. Embora secretamente piedoso, era publicamente um advogado de Lúcifer! Para mim, Lúcifer era a chave para todo o problema. Cresci acreditando que ele era mau, mas, praticamente, todo o sistema de crenças que eu passei a conhecer desde meus tempos do ensino médio dizia que, de um modo ou de outro, ele era tão importante, ou mais até, para a minha salvação, do que Jesus! Eu tinha que descobrir qual era a minha real posição com respeito a Jesus e a Lúcifer. Havia em mim um senso bem forte de que eu queria estar com Jesus. Será que Jesus aprovava Lúcifer, ou não? Será que Lúcifer era seu pai, ou um irmão mais velho (como me ensinaram diversas vezes)? Ou será que ele é seu eterno inimigo? Se eu tivesse tido condições de acreditar na Bíblia, estaria muito bem. Mas, àquela altura, eu achava que a Bíblia era menos confiável do que O Livro da Lei, de Crowley! Eu nao sabia que o Senhor Deus tinha todo o poder do universo, e que Satanás já tinha sido vencido. Eu não sabia que poderia ser totalmente liberto pelo sangue de Cristo. Assim, tomei duas atitudes. Em primeiro lugar, lancei-me totalmente no meu sacerdócio. Isso me deu a ilusão de santidade. Comecei a celebrar a missa


diariamente, sendo bastante zeloso com meu encargo divino. Co­ mecei a sentir-me melhor com toda essa “santidade”. Muita coisa começou a acontecer em minha vida na Igreja Católica Antiga, o que me foi bastante positivo. Fui designado chanceler da arquidiocese e consegui, também, uma capela num bairro elegante de Milwaukee. Era num convento de frades franciscanos, chamado Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, dirigido pelo padre Daniel, O. F. M. (Daniel nao é o seu verdadeiro nome).1’ Ele tinha dois irmãos leigos e dirigia um lar para homens retardados. Começamos a ter a missa dominical lá; às terças-feiras à noite, tínhamos novena; e nas noites de sextasfeiras, a Bênção do Sagrado Sacramento. Tínhamos atraído um grupo relativamente grande de fiéis das vizinhanças, chegando a 25 ou 30 pessoas, em sua maioria católi­ cos confusos ou desiludidos, que gostavam do estilo antigo (ante­ rior ao Concilio Vaticano II). Poder ministrar a tais pessoas era uma fonte de grande satisfação para mim. Eu estava fazendo o que sempre tinha sonhado fazer desde minha infância! Achando estar tendo grande desenvolvimento espiritual, levei minhas preocupações a Deus, pedindo-lhe que me desse um sinal quanto ao modo como deveria proceder com respeito a Jesus e a Lúcifer. Ainda mantínhamos nossos “covens” de fei­ ticeiros e dávamos aulas em nossos cursos de magia thelêmica; mas eu realmente queria saber qual era a vontade do Senhor para mim. Então me pus de joelhos e orei para receber a respos­ ta certa. Não sei o que eu esperava receber: se um raio de luz do céu, ou se uma voz em meus ouvidos, ou a visita de um mensageiro angelical. Nada disso aconteceu. O que de fato recebi foi pelo correio, no dia seguinte. Meu nome estava em muitas listas de correspondência, por causa da minha participação em numerosos grupos do ocultis­ mo. Naquele dia, o carteiro me trouxe uma revista num envelope marrom. Esse envelope iria levar-me a direções ainda mais profun­ das das trevas.


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AS

1 Supõe-se que os Ritos de Mênfis-Mitzraim, da Maçonaria, tenham sido restaurados pelo conde de Saint Germain no século 18, na Europa (ten­ do Saint Germain, supostamente, se mantido vivo desde o antigo Egito). Essa corrente de magia egípcia emigrou para as colônias francesas no

aparentemente primitivo, esconde-se, na verdade, um terrível e sofisti­ cado sistema de magia que implica o ingresso em outros universos e faz com que a pessoa se renda à possessão satânica da pior espécie. Embora originalmente praticado apenas por negros e hispânicos, hoje em dia muita gente está se envolvendo com ele. Fique longe de qualquer

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alcoolismo, necromancia e bestialidade. Por trás da fachada de algo

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mais perigosas e perversas, envolvendo endemoninhamento da pessoa,

N as

francês, produzindo o vodu. O vodu é uma das formas de feitiçaria

B e s l A

Novo Mundo, onde sincretizou-se com crenças africanas e o catolicismo

coisa que tenha a ver com vodu! É a forma mais poderosa de magia negra e, provavelmente, a mais ousada. Somente Jesus pode libertá-lo dela, se você recebê-lo em seu coração e fizer dele seu Senhor. 2 Shakti é um termo hindu para uma das deusas consortes do deus Shiva. Usa-se também para descrever suas sacerdotisas, que atuam como prosti­ tutas no templo. Este termo significa ainda um ser totalmente demonía­ co, do tipo súcubo, essencialmente uma personificação do órgão sexual feminino e invocado para se fazer sexo astral/demoníaco. 3 A crença em Atlântida é uma doutrina comum do ocultismo. Supõe-se ter sido um continente que existiu em alguma parte do que é hoje o Oceano Atlântico, com elevado grau de civilização e tecnologia, tanto do modo convencional quanto relativamente a magia. Julga-se ter sido destruída por um cataclismo (um dilúvio ou terremoto) milhares de anos antes de Cristo, por motivos misteriosos — possivelmente por causa da sua maldade e ou seu envolvimento com coisas ocultas tão perigosas que nem se poderia imaginar. E mais um exemplo de um mito pagão que reflete a verdade do dilúvio de Noé. Muitos dos mestres da Nova Era e dos espíritos guias de hoje dizem ter vindo da Atlântida, e grande parte

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dos ocultistas acredita ter tido pelo menos uma ou duas encarnações naquele continente — evidentemente! Para abordar de modo adequado o tema dos Cavaleiros Templários e a Maçonaria, seria necessário um livro inteiro. Veja meu livro Maçonaria,

do Outro Lado da Luz [Editora Luz e Vida], especialmente o capítulo 15. Embora haja muita controvérsia sobre sua história, os Templários foram adotados, de um modo correto ou não, como símbolo tanto da Maçona­ ria como do culto a Lúcifer — sendo grande parte desse culto orientado para o homossexualismo e a blasfêmia. Isso porque os Templários foram acusados pelo rei da França, Filipe o Belo, e pelo papa (talvez injusta­ mente) de pisarem crucifixos, de sodomia, de pederastia e de adorarem um ídolo chamado Baphomet. Desde 1700, os Templários têm servido de pretexto para os satanistas, os feiticeiros e (num grau menor) os maçons desenvolverem o seu simbolismo ritual. Todo tipo de rituais de blasfêmia tem sido atribuído a eles, e sua reputação de “ocultistas” vem sendo, de todo modo, ampliada pelos séculos. Muitas sociedades, tanto do culto luciferiano como da Maçonaria, declaram descender dos Templários e seguir os “rituais secretos” deles. Tais declarações são altamente suspeitas. “Completório” ou “Completas” é uma das oito partes devocionais do Breviário Romano, geralmente cantado ou recitado às 9 horas da noite. O clero católico e anglicano normalmente eram solicitados a recitar to­ das as partes devocionais do Breviário: Matinal, Louvores, Primeiro, Ter­ ço, Sexto, Nono, Vesperal e Completas. O.F.M., que significa Ordem dos Frades Menores, ou Ordem dos Pe­ quenos Irmãos, é a ordem franciscana original.


0 Qu e a N o i t e Te m pa ra BeveUr

O satanismo não deve ser considerado com o sim­ plesm ente mais uma religião; deve ser considerado, sim, com o uma não-religião. — Michael Aquino

a história do satanismo moderno, é interessante observar que a primeira e mais séria divisão que houve na Igreja de Satanás foi com respeito à questão de haver ou não um ser real como Satanás, que de algum modo devesse ser adorado; ou se se tratava apenas de um símbolo disponível. Em decorrência dessa divisão, em 1975, foi fundado o Templo de Set, do Dr. Michael Aquino, que não é menos inteligente do que o seu ex-colega precursor LaVey. Exibindo uma mancha negra de cabelos no centro da testa que seria invejada por personagens de horror cômico do cinema, e sobrancelhas satânicas como as do “Dr. Spock” (características que ele jura serem naturais), Aquino parece ser realmente um feiticeiro. Sua mulher, Lilith Sinclair, é uma bela morena, muito magra e de rosto muito pálido, que usa vestes pretas de cetim, parecendo-se com a “Mortícia” da “Família Addams”. Embora o casal possa parecer divertido, eles são tudo!, m enos isso! Diferentemente de LaVey, mais excêntrico e gênio autodidata, Aquino tem doutorado em Ciência Política e é tenente-coronel da


Inteligência [serviço secreto, ou de segurança] do exército americano, contando, assim, com elevado grau d e segurança (que pensamento confortador!). Diz-se que é perito em guerra psicológica e em guerra psicotrônica (o que no exército americano é chamado de “Psyop”). Nos anos de consolidação da Igreja de Satanás, Aquino era o braço direito de LaVey, e Lilith Sinclair era uma proeminente líder de uma das maiores “cavernas”(como são chamados os grupos des­ sa Igreja) na costa leste americana. Aquino chegou até mesmo a escrever o prefácio para o livro de LaVey Satanic Rituais [Rituais Satânicos]. Não sabemos ao certo quanto do conteúdo dos ensinos da Igreja de Satanás foi influenciado por Aquino, mas parece ter sido considerável a sua influência. Os motivos pelos quais eles romperam com a Igreja de Satanás são controvertidos. Aparentemente, uma forte razão pode ter sido o fato de que Aquino achou que LaVey não estava levando o satanismo tão a sério como deveria. Aquino discordou do ateísmo pragmático de LaVey e também da sua festiva forma de se exibir em público. Deve ter achado que LaVey estava “no negócio” ape­ nas para ganhar dinheiro — o que descaradamente LaVey acabou admitindo. Por incrível que pareça, Aquino sentiu que o certo se­ ria uma abordagem mais “altruísta” (desculpem-nos o termo). Em vez de criar um satanismo prêt-à-porter, para uso imedia­ to, ao qual qualquer um poderia filiar-se, bastando pagar uma taxa de inscrição, Aquino vislumbrou uma elite, quase paramilitar de intelectuais que realmente acreditassem no “lado das trevas” e que ali não estariam somente em troca de algumas emoções baratas e fora de série ou para ganhar dinheiro fácil. Em seus escritos, Aquino deu a entender que a tocha havia sido passada de LaVey para ele, um homem mais sério, mais inteli­ gente e mais dedicado. Estava implícito que LaVey havia sujado o ninho do inferno com um materialismo crasso e humor de baixo nível. Aquino vinha para ser o novo messias das trevas, após o “João Batista” LaVey. Este teria que diminuir, para que Aquino e seu


“novo” deus, Set, pudessem crescer. LaVey manteve-se calado so­ bre essa cisão, e cada vez mais isolado nestes últimos anos. O T em plo de Sei

Desde seu início, em 1975, o Templo de Set tem refletido os dese­ jos do seu fundador. Tem sido mais elitista e com menor mentali­ dade de publicidade do que a Igreja de Satanás. Assim, sua membresia nao tem passado de algumas centenas de pessoas, ten­ do talvez alcançado o máximo de mil membros,1 ao passo que a Igreja de LaVey tinha milhares de membros, muitos dos quais pes­ soas simples que enviaram dinheiro para se filiarem à organização e receberam seu cartão de membro. Aquino preferiu deixar de lado o nome de “Satanás”, que mexe com as pessoas. Para ele, essa palavra tinha adquirido uma conotação demasiadamente negativa. Por isso, sua divindade é chamada “Set”. Os membros do Templo de Set chamam-se a si mesmos “setianos”, e não “satanistas”. Aquino considera Set como sendo uma forma mais antiga e mais pura do arquétipo ou imagem de Satanás. Set era um deus egípcio (cerca de 3400 a.C.), considerado um deus do mal por faraós posteriores, que chegaram a alterar seus templos e monumentos visando a erradicar sua memória e seu culto .2 Estava ligado aos cultos sumerianos e à estrela Sirius. Seu símbolo é o pentagrama invertido, que os setianos usam com muito orgulho .3 Pode-se falar muita coisa sobre uma Igreja simplesmente ana­ lisando o seu deus, e Set não é exceção. E o equivalente egípcio de Caim, que os ocultistas acreditam não ter sido filho de Adão com Eva, mas com uma hipotética mulher, anterior a Eva, cha­ mada Lílite .4 Segundo alguns comentários rabínicos (não conforme o Anti­ go Testamento), Adão teve uma mulher que havia sido feita, como ele, do barro. Era Lílite. Ela, no entanto, não era a mulher mansa, submissa e humilde ajudadora de que Adão necessitava. Ela não se


submetia, diz essa história, à autoridade dele, fosse no ato conjugal ou em qualquer outra coisa. Assim, Adão foi à presença de Deus e queixou-se, na verdade pedindo-lhe o divórcio. As lendas rabínicas dizem que Deus ficou do lado de Adão e expulsou Lílite do Jardim do Éden, ocorrendo assim o primeiro divórcio. Deus fez então Eva a partir da costela de Adão, para que desse modo ela fosse mais dócil para com ele. Todavia, como ocor­ re em qualquer divórcio, restou o problema do que fazer com os filhos. Lílite estava grávida de um filho de Adão ao ser expulsa do Éden. Supostamente ela estava com tanto ódio que, ao nascer a criança, despedaçou-lhe a cabeça, jogando-a num rochedo às mar­ gens do rio Eufrates. Dependendo de qual versão dessa lenda se queira adotar, todos os demônios do mundo provieram da caveira que restou daquela criança morta, e esta seria a origem de todos os demônios; ou então foi Set quem proveio daquela caveira. De qualquer modo, Lílite é assim considerada a mãe de todo mal e de todas as abominações. Por causa desse terrível ato, os judeus mais supersticiosos de todos os tempos têm acreditado que Lílite é a causadora da chama­ da “morte do berço” e do infanticídio. De fato, em alguns lares judeus, até o dia de hoje, coloca-se um talismã sobre o berço, invo­ cando a proteção de três anjos sobre a criança: Sanvi, Sansanvi e Samengalef. Estes anjos são tidos como arquiinimigos de Lílite. Pena que não sejam citados na Bíblia! Lembre-se de que a grande sacerdotisa do Templo de Set, a esposa de Aquino, mudou o nome, para “Lilith” [Lílite].- Isto mos­ tra a reverência do casal para com essa odiosa divindade. Os egíp­ cios da Antiguidade acreditavam que Set era o deus responsável por todo o mal, e sua “mãe”, Lílite, a feiticeira da noite e “padroei­ ra” do aborto (uma prática tradicional da bruxaria). No antigo Egito, Set originalmente era adorado com rituais obscenos e homossexuais, antes de acabarem com o seu culto. Aquino, não obstante, ensina que a Igreja Cristã fez de Satanás “o responsável”para justificar o erro que foi a expulsão do Jardim


do Éden, e a separação do homem do mundo carnal e do restante do Universo. Set (que seria a verdadeira identidade de Satanás) representaria, na verdade, esse sentimento de alienação e solidão em relação ao resto do cosmo.6 A escolha de Set como principal figura sagrada do templo de Aquino é bastante sintomática, pois o culto a Set, como agora res­ taurado, gira em torno do livro LiberA l velL egis [O Livro da Lei], anteriormente mencionado. Este livro foi “revelado” em 1904 a Aleister Crowley, e supostamente “psicografado” pela primeira es­ posa de Crowley, Rose Kelly, de um ser supostamente super-humano, extraterrestre, de nome Aiwass, que seria o próprio Set ou um seu precursor. “ To Í I l e g A T i i e r i o n ”

Para que uma parte do que se segue possa fazer sentido, temos que fazer nova pausa no nosso assunto, para explicar melhor o que disse­ mos até agora acerca da posição de Aleister Crowley em tudo isso. Edward Alexander Crowley nasceu na Inglaterra em 1875. Seu pai era um próspero fabricante de cerveja que, um dia, teve um encontro com Cristo e tornou-se uma nova criatura, passando a fazer parte da membresia de uma denominação austera, a dos Irmãos de Plymouth. Em decorrência de sua conversão, vendeu o seu pecaminoso negócio de cervejas, aplicando os proventos no sustento do seu ministério. A mãe de Edward era também uma mulher muito piedosa e austera, mas o tanto que ela tinha em fé, infelizmente, compensou com sua total inabilidade como mãe. Papai Crowley viajava pelo interior do país como medíocre pregador de rua, enquanto a mãe ficava com a responsabilidade de criar o pequeno Edward, que cresceu e acabou tornando-se um pesadelo chamado “o filho do pregador”. Ele era, sem dúvida, um menino brilhante e muito precoce, mas, como acontece com muitas crianças, cheio de demônios


(Pv 22.15). Certa vez, quando tinha seis anos, sua mãe lhe disse, num ímpeto de raiva, que ele era tão maligno que só podia ser a “Grande Besta” do livro de Apocalipse. Infelizmente, o pequeno Crowley tomou aquilo como um reconhecimento de mérito. Re­ belou-se violentamente contra toda forma de religião e posterior­ mente, quando adulto, batizou um sapo com o nome de “Jesus Cristo” e crucificou o infeliz batráquio de cabeça para baixo. Ao concluir seu curso universitário, Edward ligou-se à socie­ dade ocultista e maçônica chamada Antiga e Hermética Ordem do Dourado Alvorecer. Foi nessa época que ele começou a assumir o modo de se vestir e os maneirismos de um latifundiário escocês e mudou o seu nome para “Aleister”, que soava melhor entre os escoceses. E achou muito bom que o seu nome Aleister Crowley resultasse no número 666 , na numerologia, fosse em língua hebraica, inglesa ou grega. Em pouco tempo, Crowley sobressaiu-se totalmente em relação aos que eram da sua confraria. Acabaram expulsando-o de lá quan­ do quis assumir a liderança do grupo. De muitos modos, era o que se poderia chamar de um homem da Renascença: um sofrível poe­ ta, extraordinário alpinista e grande caçador de feras, além de um jogador de xadrez que disputava ao mesmo tempo oito partidas com os olhos vendados. Era ainda um disciplinado praticante de ioga e meditação transcendental. Também tentou escalar o segun­ do monte mais alto do mundo, o K-2, e por pouco não foi acusado de haver causado a morte da maior parte da expedição. Crowley era dotado de uma personalidade sarcástica e sagaz, e era viciado em cocaína e heroína. Era um homem extremamente fanático e anti-semita. Mas, acima de tudo, tornou-se um dos ocultistas que mais se destacaram no século 19 e, certamente, o mais influente satanista de sua época. Um proeminente ocultista descreveu Crowley como “a fina flor (...) de todo o corpo do ocul­ tismo no Ocidente e sua literatura” .8 Tudo indica que ele era total­ mente endemoninhado, da cabeça aos pés!


Crowley acreditava ter feito o que bem poucos ocultistas ti­ nham feito — ter atravessado o “Grande Abismo”, um “buraco negro” espiritual existente entre o 7a e o 8a graus da magia. Ao atingir esse ponto, tornou-se um M agister Templi (Mestre do Tem­ plo), assumindo o principal título de sua carreira na magia — To M ega Therion — que em Grego significa “A Grande Besta”. U m N o vo É o n ?

Crowley achava que o evento mais importante da sua vida tinha sido o contato, já mencionado, que ele tivera com Aiwass, um ser dotado de “inteligência super-humana”. Isso ocorreu em 1904, quando ele visitava o Museu do Cairo com a primeira das muitas mulheres que teve, Rose, durante a lua-de-mel. Ela foi tomada por uma força sobrenatural, levando Crowley a seguir um corredor até determinado objeto em exposição. Era uma esteia egípcia, uma laje, mais ou menos quadrada, entalhada tal como uma das tábuas dos Dez Mandamentos, que exibia uma arte egípcia com hieróglifos. Essa esteia pertencera a um sacerdote egípcio chamado Ankh-af-na-Khonsu, e o número da peça, na exposição, era 666 . Para alguém tão versado em magia, como era Aleister, isso só pode­ ria ser um presságio de imensas proporções, uma vez que ele tinha feito desse número o tema cabalístico de sua carreira. Dias depois, no início de abril, sua esposa “incorporou”9 aquela entidade, Aiwass. Por três dias, esse espírito ditou, por meio dela, todo o texto do Livro da Lei [Liber Al v el Legis]. Crowley chegou a acreditar que era a reencarnação de Ankh-af-na-Khonsu, e que aquele livro não muito extenso que ele havia recebido era a “Bíblia” para um novo éon da história da hu­ manidade. Julgava que o reino de Jesus (a Era de Osíris, o deus morto e ressuscitado) tinha terminado e que um novo deus, o “Fi­ lho Coroado e Vencedor”, havia assumido o trono do céu. Esse novo deus manifestava-se de duas formas: Heru-Par-Kraat, uma entidade benigna que curava enfermidades, e Ra-FIoor-Khuit, um


deus da guerra e da morte, com cabeça de falcão. Eram as duas divindades gêmeas egípcias, Hórus e Set. Essa experiência foi o que basicamente deu as linhas para o resto da vida de Crowley. Ele quis então fundar uma religião, à qual chamou de Thelema (segundo a palavra grega que significa “vontade”) ou crowleyanismo, e escreveu um grande número de livros de poesia, de rituais e de ensino de magia. A regra básica da sua religião, que consta no seu livro LiberAl, é: “Fazer o que queres deve ser toda a lei; o amor é a lei, o amor submisso à vontade.” Achava que a era de Jesus fora governada pelo amor (agape, em Grego), mas que na Nova Era de Hórus e Set esse amor seria subordinado à vontade de ferro (thelem a) do mestre da magia. Diz-se que Crowley manifestou certa simpatia pelo surgimento e ascensão de Hitler, e alguns dos seus discípulos chegaram a decla­ rar que Hitler era o resultado dos esforços que Crowley fizera, por meio da magia, para que aparecesse o “senhor da guerra dos anos quarenta” (uma frase profética contida no Liber Al).10 Se Hitler conhecia ou não Crowley, não existe evidência histórica alguma a respeito, embora ambos tivessem em comum o ódio pelos judeus e fascinação pela magia negra. Crowley teve muitos casos com mulheres e com alguns ho­ mens também (era um bissexual assumido), e arruinou a vida de quase todos eles. Sua primeira esposa, Rose, acabou internada como alcoólatra. Além de racista e an ti-sem ita, C row ley era tam bém discriminatório contra as mulheres. Ensinava que as melhores mulheres eram as prostitutas, e que a maior experiência religiosa que uma mulher poderia ambicionar era ter sexo com “a Besta”. Assim, costumava zombar do movimento Wicca, de seu amigo e colega Gerald Gardner, quando no início 11 recusava-se a tornar-se um bruxo, dizendo que não queria submeter-se às ordens de um bando de mulheres. Crowley quis estabelecer uma abadia dedicada à sua religião na ilha da Sicília, na Itália, mas foi expulso daquele país pelo regime


de Mussolini por causa do incrível grau de imoralidade, suspeita de morte e rumores de prática de sacrifício humano. Passou seus últimos anos na condição de viciado em heroína, morando ao lado de um cemitério, na Inglaterra. Quando morreu, em 1947, até mesmo seu enterro escandalizou a imprensa britânica. Seu mais famoso poema, “Hino ao Deus Pa”, foi lido ao ser enterrado, e os jornais disseram ter sido uma missa negra. Ironicamente, Crowley, assim como Aquino uma geração de­ pois, não se considerava satanista. Para ele, os satanistas eram heré­ ticos. Ele era thelemita e luciferiano, adorador da “imaculada” luz de Lúcifer. Contudo, alegrava-se quando os jornais o chamavam de “o homem mais maligno do mundo” e “a Grande Besta”. UmA V i s l o S a I â i i í c a

Michael Aquino parecia aspirar ser tal como Aleister Crowley. En­ quanto LaVey fez uso de alguns conceitos e ensinos de Crowley à medida que se adequavam aos seus interesses, Aquino levou bem a sério Crowley e sua “pregação”. Com efeito, ele via sua missão como: (...) destruir a influência da religião convencional sobre as atividades humanas (...) não no sentido de que queremos que todos se convertam ao satanismo como religião institu­ cional, mas de que queremos acabar com todo esse emara­ nhado de medo e superstição que tem-se perpetuado em todas as crenças formais. O satanismo não deve ser conside­ rado como simplesmente mais uma religião; deve ser consi­ derado, sim, como uma não-religião.12 Logo a questão quanto a Satanás/Set ser ou não uma entidade real tornou-se uma discussão fervorosa entre os dois mestres da magia. Como não entrassem num acordo, Aquino buscou orienta­ ção com o próprio Satanás, em 2 1 de junho de 1975. SupÕe-se que Set se manifestou para Aquino e lhe trouxe uma revelação, que ele intitulou The Book o fth e Corning Forth by N ight [O Livro do Que a Noite Tem para Revelar].13 Aquino afirma que um novo tempo de Set — que teve início em 1904 com o trabalho de Aleister


Crowley — estava próximo de se consumar. Seu livro seria a conti­ nuação de Liber Al e prenunciava a “Era de Set” .14 Desse modo, Aquino declara ter sido ungido por Set para ser o verdadeiro suces­ sor de Aleister Crowley, ou seja, a “Segunda Besta”, tanto quanto a Grande Besta profetizada na Bíblia .15 Aquino procurou desassociar-se de algumas das afirmações mais sórdidas que há na Bíblia Satânica. Isso foi necessário, especial­ mente, no final da década de 1980, quando acusações de abuso sexual satânico começaram a pipocar por toda parte nos Estados Unidos. Uma boa política de relações públicas exigia que o Tem­ plo de Set fosse desvinculado dessas coisas. Apesar de todos os pro­ testos, no entanto, é necessário deixar bem claro que o deus e a “forma de magia” com os quais Aquino se identifica nao exercem uma influência nada boa! Ainda neste capítulo será demonstrado que, na verdade, o Templo de Set é uma instituição bem mais peri­ gosa e fatal do que a igreja de LaVey. U m A I i i v o c a ç ã o a o s D e u s e s dAs T r e v A s

Ao examinarmos a verdadeira ideologia do Templo de Aquino, convém observar o que ele mesmo considera como suas mais im­ portantes realizações na magia. Um dos ritos a respeito do qual Aquino se orgulha é bastante sugestivo. Tal como LaVey, ele parece ter grande fascínio pelo ocultismo nazista. Não se sabe ao certo se ele se deixou seduzir pelas técnicas nazistas da magia cerimonial de LaVey, ou se foi LaVey que as obteve de Aquino. O importante é que esses dois homens demonstram ter uma grande obsessão pelas práticas de magia da elite de Hitler. Embora isto não seja amplamente conhecido, Hitler (aparen­ temente católico devoto) concebeu a sua SS combinando os prin­ cípios, exercícios e ensinos espirituais contemporâneos da ordem dos jesuítas com as práticas de sociedades místicas alemãs, como a Sociedade Vril e a Thule Gesellschaft. O próprio Hitler era um


iniciado na feitiçaria e desejava substituir o cristianismo pela ado­ ração aos deuses do paganismo germânico .16 Com esse objetivo, Hitler construiu um templo secreto no castelo de Wewelsburg. Não se sabe o que acontecia naquele tem­ plo; contudo líderes da confraria satânica americana nos disseram que, além de todo o anti-semitismo de Hitler, havia uma razão mais terrível pela qual ele construiu os campos do holocausto. Hitler acreditava estar trabalhando para alcançar o sacrifício hu­ mano de 7.777.777 — o povo escolhido por Deus (sete setes — uma combinação numérica consagrada à “Mulher de Escarlata”, consorte da Nova Era). Se ele tivesse conseguido alcançar aquele número — assim nos disseram — , o judaísmo e o cristianismo teriam sido destruídos para sempre, e os deuses pagãos estariam reinando soberanamente. As “energias” captadas com aquelas mortes seriam canaliza­ das, através de Wewelsburg, como uma espécie de raio laser mági­ co, para abrir “a porta” e desencadear a G ôtterdam m erung, mediante a convergência especial de linhas de poder, que supostamente se dirigiam para o lugar daquele castelo. Assim, o castelo de Wewelsburg era o coração espiritual da Alemanha nazista! Ali, Himmler e seu quadro de elite da SS reali­ zaram rituais na “Sala da Morte” para invocar a G ôtterdam m erung — a destruição de Deus e a reentronização dos sangrentos deuses nórdicos da morte. Felizmente, Deus tinha outros planos, e esse castelo foi bombardeado, até a sua ruína quase total, pelos aliados, durante a Segunda Guerra Mundial. Em outubro de 1984, Aquino viajou para Wewelsburg a fim de invocar “energias”, tendo supostamente experimentado outra “epifania” de Satanás nas ruínas do coração espiritual do nazismo! Na torre norte do castelo, “Walhalla”, ele fez um “trabalho” de magia e teve uma profunda revelação mística .16 Foi ali que ele concebeu a idéia da autoconsciência humana e sua separação das demais criaturas. Aquino agora ensina que Set representa essa alienação fundamental que separa o homem


do restante do Universo. Eis uma definição de pecado bastante adequada, embora secular! Aquino optou por fazer da personifi­ cação do pecado o seu deus! Não é de admirar que ele ache que invocar “energias” no baluarte metafísico da ordem nazista seja um ato profundamente religioso. Não há como não questionar­ mos a moral — para não dizer a sanidade mental — de alguém que escolhe um lugar como esse para absorver quanto possa de suas fontes espirituais! D e i x A r S e i F a I a t p o r Si H l e s m o ?

Para se ter uma compreensão ainda melhor do terreno sobre o qual Aquino firmou seus pés, talvez seja interessante examinar­ mos com um pouco mais de atenção o livro de seu herói, Aleister Crowley. Se Aquino acredita ser o sucessor de Crowley, então um pouco da cosmovisão que ele tem deve evidenciar-se com a leitu­ ra do livro que, supõe-se, foi comunicado por Set por meio de seu porta-voz, Aiwass! A esta altura, o leitor poderá não se surpreender com o fato de que o livro transmitido por Set, Liber Al velL egis, é mais maligno que a B íblia Satânica de LaVey. Mas há uma significativa diferença entre os dois. O livro de LaVey não reivindica nada mais do que ser um simples livro (embora muitos satanistas o considerem como quase sendo uma “escritura nao sagrada”). Liber Al, no entanto, proclama conter oráculos de um deus, comunicados por um espí­ rito, que suplantam a Bíblia crista. Assim, presumivelmente, a maio­ ria dos adeptos de Set — e Aquino, com certeza — o considera uma revelação “divina”. Bem, mas o que, afinal, o L iber Al ensina em sua “teologia”? Veja alguns exemplos, selecionados: No Capítulo 1: Esses são

tolos que os homens adoram; tanto seus Deuses como seus homens são tolos ( 1 . 1 1 ).


Agora vós sabereis que o sacerdote escolhido e apóstolo do espa­ ço infinito é o príncipe-sacerdote, a Besta; e na sua mulher, cujo nome é Mulher de Escarlata, está todo o poder concedido (E14). O vocábulo Pecado significa Restrição (1.41). No Capítulo 2:

Observe que os rituais dos velhos tempos são negros. Que os maus caiam fora; que os bons sejam purgados pelo profeta (2 .6). Eu sou a Seypente que deu Conhecimento e Prazer e esplendo­ rosa glória, e que excito os corações humanos com a embria­ guez. Para m e adorar, tomai vinho e estranhas drogas, a respeito das quais falarei a meu profeta, e fica i embriagados (2 .22 ). Estou só: não há Deus onde estou (2.23). Há um perigo maior em mim, pois quem não compreende estes mistérios sofrerá uma grande perda. Cairá na cova chamada “Porque” e nela perecerá junto com os cães da Razão (2.27). Sou im par e vencedor. Não sou um dos escravos que perecem . Que eles sejam condenados e morram! (2.49). No Capítulo 3:

Agora compreenda-se, antes de mais nada, que eu sou um deus de Guerra e Vingança. Vou tratar todos com severida­ de. Escolhei uma ilha! Fortificai-a! Adubai a ilha, por toda parte, com maquinário de guerra. Com ele, derrotareis as pessoas e ninguém vos resistirá (3.3-8). Pisoteai os infiés: ficai sobre eles, ó guerreiros, e vos darei a carne deles para com er! Sacrificai o gado, ?niúdo e graúdo; depois, uma criança (3 . 1 1 , 12 ). Nada de misericórdia; danem-se os que se compadecerem! Matai e torturai; não tenhais dó; fica i em cim a deles! (3.18).


L ú c i f e r

D e s l r o n A d o

Para perfumar, misturai farinha com mel e bastante sobras de vinho tinto; depois, óleo de Abramelin e azeite de oliva; em seguida, tornai tudo macio e suave com rico sangue fresco. O melhor sangue é o da lua mensal; depois, o sangue fresco d e uma criança, ou o que cai das hostes do céu; depois, o dos inimi­ gos; depois, o do sacerdote ou dos adoradores; por fim, o de algum animal, nao importa qual (3.23-24). Eu sou o Senhor gu erreiro dos Quarentões; os da idade d e Oitenta agacham -se dian te d e m im e são humilhados. Eu vou levar-vos à vitória e à alegria: estarei em vossos braços na batalha, e vós tereis o maior prazer em matar (3.46). Amaldiçoai-os! Amaldiçoai-os! Com a minha cabeça de Falcão eu bico os olhos de Jesus enquanto ele está dependurado na cruz. Eu bato minhas asas na face de Maomé e o torno cego. Com mi­ nhas garras, rasgo a carne dos hindus e dos budistas (...) Que Maria Imaculada seja atropelada: no amor dela todas as virgens sejam totalmente menosprezadas por vós! (3.50-55).

ió2 Nao há outra lei além de: “Fazei o que quiserdes” (3.60).1' Estes ensinos resumem perfeitamente tudo de que os sata­ nistas mais assumidos têm sido acusados de praticar. Drogas, mu­ tilação de animais e sacrifício de crianças são neles glorificados. Embora Aquino negue que o seu grupo pratique ou ensine tais coisas, é este o evidente legado de Set que Aquino adotou. Assas­ sinato, tortura, fanatismo e ódio a Deus são emitidos aos berros, do livro L iber Al. Ao mexer com essas “energias”, Aquino arrisca-se que isso possa vir a explodir em sua face. Constantes acusações de possíveis abu­ sos de crianças o têm perseguido desde 1987 na justiça de San Francisco. Embora nenhuma das acusações tenha prevalecido e Aquino tenha aberto um processo contra seus acusadores oficiais, nao têm cessado.18 De um ponto de vista espiritual, seria de admi­ rar que aquele que literalmente se banha no manancial do mal não fosse tentado pelos seus aspectos mais desprezíveis.


N

oI as

1 Office o f Criminal Justice Planning Research Update [Atualização de Pes­ quisa de Planejamento do Gabinete de Justiça Criminal], vol. 1, ns. 6. inverno de 1989/90 — Occult Crime, a Law Enforcement Primer 'Crime Místico, um Princípio de Coação Legal], Sacramento, Califórnia, p. 1^. 2 Kenneth Grant. The M agical Revival [O Reavivamento da Magia]. Weiser. 1972, p. 7 1. 3 Kenneth Grant. Aleister Crowley and the Hidden God [Aleister Crowlev e o Deus Oculto], Weiser, 1973, p. 71. 4 Ibid.,

p.

155.

I Arthur Lyons. Satan Wants You [Satanás o Quer], Mysterious Press. 1988, p. 119. 6 O ffice o f Criminal Justice P lanning Research Update, ibid. 7 Ibid. 8 Kenneth Grant. Outside the Circles ofT im e [Por Fora dos Ciclos do Tem­ po], Frederick Muller, 1980, p. 39. 9 Ela funcionou, basicamente, como médium, em transe, com um demô­ nio falando por seu intermédio. Iü Liber Al vel Legis [O Livro da Lei]. Thelema Pub., (1909) 19~6. 3:46. II Veja o livro Wicca, de Schnoebelen p. 14-42. 12 Lyons, ibid., p. 126. 13 Ibid., p. 126-127. 14 Ibid. 11 Veja Trevor Ravenscroft, The Spear ofD estiny [O Avanço do Destino]. Bantam, 1973. Também, Hitler: The O ccult Messiah [Hider. o Messias Oculto], de Gerald Schuster, St. Martins Press, 1981. 16 Michael A. Aquino. The Wewelsburg Working [A Obra de Wewelsburg], (10/19/84). 17 Citações do Liber Al vel Legis [The Book o f the Law] [O Livro da Lei], Thelema Publications, (1909), 1976, p. 25-36. 18 Lyons, p. 131.


L i d A i i d o

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t a t í a

Era com o se, naqueles últimos minutos, ele estivesse recapitulando as lições que este longo aprendizado em m alignidade humana nos havia ensinado — a lição da terrível, da desafiante banalidade, p o r p a ­ lavras e pensam entos do mal. — Hannah Arendt

Procurava obter uma resposta de quem eu pensava ser Deus. No auge da minha procura, recebi pelo correio um grande envelope de papel manilha, que aparentemente era uma resposta à minha bus­ ca por um presságio ou sinal. Dentro dele, encontrei um jornal de um grupo ocultista chamado A Ordem do Carneiro Negro. Era muito bem diagramado, e isso me despertou a curiosidade. Era um grupo satanista que crescia rapidamente em número, que considerava LaVey um vigarista que estava levando Satanás e o satanismo a adquirirem mau nome. Referiam -se aos com panheiros de LaVey como sendo “satanistas bufões” e falavam da necessidade de se adotar um Satanismo mais sério. A qualidade dos textos e a apresentação editorial estavam bem acima da maioria dos boletins editados pelos movimentos do ocultismo. Não havia nem m esm o in corre­ ções na grafita das palavras!


D e s l r o n A d o L ú c i f e r

ió6

O que chamou minha atenção, mais do que qualquer outra coisa, foi um artigo cujo autor era: “Orion: Ipsissimus, Sumo Sa­ cerdote e Rei da Estrela da Manhã”. O nível de Ipsissimus (que significa “O Próprio Eu no Máximo do Seu Ego”) é o nível mais elevado de toda a magia. É o décimo grau, e significa que a pessoa literalmente se tornou um deus encarnado. Para alguém se proclamar um Ipsissimus ou é um insano ou é, de fato, um mestre. O artigo que li era ainda mais interessante do que a própria declaração do autor. Era muito bem escrito e abordava a história da guerra entre Deus e o diabo do ponto de vista de Satanás. O artigo dava a entender que Lúcifer tinha deixado Deus vencer por motivos ocultos. Dizia haver um pacto secreto entre Deus e Lúcifer, pelo qual estariam fingindo ser inimigos, para dar aos seres criados, que estavam sob a ação deles, a possibilidade de escolha. Nesse contexto, o inferno não era um lugar de casti­ go, mas um lugar para onde iriam aqueles que eram rebeldes, individualistas e artistas. O céu era para os tranqüilos, do tipo dos que nada fazem — de personalidade reprimida, que consideram como um grande di­ vertimento coisas tais como um piquenique de igreja ou um joguinho de tiro ao alvo num parque de diversões. O inferno era um lugar de grande desafio e agitação, com música rock, sexo sem parar, drogas e total liberdade de expressão artística. Todo esse arranjo foi feito porque Deus não queria que seus cidadãos celestiais se aborrecessem com os rebeldes. Precisava de um lugar para colocá-los e de um motivo justo para fazer isso. Des­ se modo, o diabo e o inferno foram criados como treinamento de recrutas para se tornarem deuses. Algo sacudiu o meu interior. Isso explicava muitas ques­ tões filosóficas, que todos têm, sobre a natureza do mal e do livre-arbítrio! Fiquei realmente muito impressionado, e, imediata­ mente, escrevi a esse tal de Orion (não é este o seu nome verdadei­ ro), dizendo-lhe exatamente isso.


Será que o que ele dizia era a resposta às minhas orações? Poderia eu servir tanto a Jesus como a Lúcifer? Então, eu estava enganado ... e isso era exatam ente a resposta q u e esperava! Aparen­ temente, no que se refere a Satanás, aquilo que você pede é o que você recebe! Fazia sentido. Eu poderia ser um pastor, para os pios católicos, levando-os aos portões de pérolas do céu! E aos anár­ quicos feiticeiros de nossos grupos, poderia oferecer um êxtase intenso no reino de Satanás. A carta que recebi desse tal Orion em resposta foi um pouco estranha. Veio junto com um boletim, também escrito por ele, que era um tanto lúgubre. A capa mostrava o Bode de Mendez à frente de uma orgia de pessoas nuas, em prazer umas com as outras. No seu interior, havia artigos sobre a perspectiva de Lúcifer sobre as coisas, cada um mais intrigante que o outro. Havia também uma denúncia à magia branca. O jornal declarava ser a máxima fonte do satanismo de primeira linha. A carta estava escrita com uma grafia de garranchos, do tipo infantil, em tinta preta, num papel escarlate de alta qualidade, com uma exagerada figura de cabeça de bode satânico impressa no seu cabeçalho. Expressava uma ironia reles, dizendo que tínhamos que marcar um encontro, uma vez que Orion morava em Wheaton, Illinois. Era assinada por Orion — Ipsissimus, Sumo Sacerdote e Rei da Estrela da Manhã. Minha reação imediata foi observar que a grafia de Orion não era sua melhor qualidade, e que deveria investir numa máquina de escrever ou numa secretária. Na verdade, parecia a escrita de alguém destro usando a mão esquerda! Por outro lado, porém, a filosofia dele era intrigante. Talvez fosse por ali que eu devesse seguir. Ele me pediu uma foto, e então enviei-lhe uma fotografia em que eu usava as vestes de bispo católico, mas portando um medalhão satânico que mostrava uma enorme espada, que rece­ bera de LaVey. Ele, por sua vez, me enviou uma foto sua que o


DeslronAdo I , ú c i í e i'

mostrava vestido com um manto escarlate com capuz que es­ condia tudo, exceto seu cavanhaque e sua mão esquerda erguida com o sinal dos chifres,1 a tradicional saudação dos satanistas por todo o mundo. Ficou apenas pendente o nosso encontro. Ele sugeriu vir encontrar-se com o nosso grupo, que estava envolvido “nas tre­ vas”, conforme disse. Assim, certo dia ele veio de carro, e che­ gou com três horas de atraso. De certo modo, não correspondeu às nossas expectativas! R C o n v e rs A com um Ip s is s im u s

Era um sujeito baixinho e magro e vestia-se como um ciclista, com um chapéu de feltro de cor marrom, um tanto desgastado, que mais se parecia com algo que o Indiana Jones tinha jogado fora. Com ele, veio seu motorista, um jovem robusto, de poucas pala­ vras, portando uma camiseta de grife, acompanhado de uma jo­ vem loura, que quase nada falou o tempo todo. Sua principal função parecia ser a de ficar constantemente com os olhos fixos em Orion, em venerável adoração. Orion era até simpático, em sua maneira maliciosa de ser, embora sua fisionomia e seu comportamento fossem do tipo que tudo investiga em detalhes. Obviamente, não havia freqüentado nenhuma escola complementar, nem algumas elementares. Seria realmente ele quem teria produzido todos aqueles pensamentos tão profundos? Conosco estavam quatro feiticeiros de nossos “covens” que ha­ viam se envolvido intensamente com Crowley e não receavam es­ tar diante de um “satanista de verdade”. Sentamo-nos em círculo por algum tempo, conversando, mas então, pouco a pouco, nossos feiticeiros foram ficando mais à vontade. Tal como Aquarius, meu último “mentor”, Orion gostava de consumir bebidas alcoólicas em demasia, mas o veneno líquido de sua preferência era a cerveja.


Quanto mais bebia, mais eloqüente ficava, ao falar de sua partici­ pação na confraria satânica. Disse ter perdido os pais em sua primeira infância, tendo sido criado por um padrasto envolvido com a maçonaria. Quando ain­ da bem jovem, fugiu de casa e foi para a Califórnia, capital satânica dos Estados Unidos. Ali procurou a Igreja de Satanás, mas achoua fraca demais. Envolveu-se então com ciclistas satanistas e, duran­ te algum tempo, percorreu toda a costa da Califórnia com o grupo satânico Hells Angels [Anjos do Inferno] dilacerando gatos e mu­ lheres e promovendo o mal. Ele me mostrou seus braços, cheios de tatuagens de demônios, cabeças e caveiras. Então me disse, num tom de voz bem baixo, da existência de um centro de controle, um Pentágono ou Comando de Defesa do poderio satânico, nas proximidades de Los Angeles. Seu chefe su­ premo, um sujeito que adotara o codinome de “Adrian”, o tinha tomado sob seus cuidados. Esse homem era tão rico e poderoso que ninguém do sul da Califórnia e Hollywood ousaria interpor-se em seu caminho. Orion me contou que o ator e diretor de cinema Roman Polanski ousara fazer um filme (O B ebê de Rosemary) que continha uma simples alusão à existência de Adrian, e veja só o que havia acontecido à sua família (como se sabe, a esposa de Polanski, a atriz Sharon Tate, e vários amigos seus foram massacrados por uma qua­ drilha satânica, de Charles Manson). Com um olhar tenebroso, Orion me disse que conhecia Manson pessoalmente e que, por algum tempo, pertencera ao grupo que havia iniciado Manson na magia, a “Igreja do Pro­ cesso do Juízo Final”. Adrian, ao que parece, vira em Orion o cumprimento de uma profecia satânica e, com rituais de magia, adotou-o como filho. Isso foi feito na encosta de uma colina, num ambiente cercado de relâmpagos, ao mesmo tempo em que três moças virgens eram crucificadas de cabeça para baixo, para aumentar o poder.


HIERARQUIA DO SATANISMO

Ele me olhou atentamente, para ver se eu ficara chocado com essa informação (eu fiquei, sim, mas não deixei transparecer). E parece ter ficado satisfeito por eu não ter olhado para ele horroriza­ do. Explicou-me que nos graus mais elevados de magia, para se ter


C o n f r A r Í A a

com L i d A n d o

poder, o derramamento de sangue é essencial. Nos graus inferiores, um gato ou um ham ster, por exemplo, são suficientes, mas a Alta Magia exige que sangue humano seja derramado sobre o chão. — Bom até a última gota! — ele riu com sarcasmo. — Foi por isso que Lúcifer teve que matar Jesus, para libertar a humanidade — Orion me informou com conhecimento. Por causa desse ato, disse-me ele, as pessoas passaram a ser livres para irem para o céu ou para o inferno, antes disso éramos todos forçados a ir para o céu, um lugar terrivelmente enfado­ nho! Informou-me, ainda, que o cristianismo fora criado por Sata­ nás como uma contrapartida de simbiose com o satanismo. — Os cristãos são as ovelhas, e nós somos os lobos — disse. — Para os cristãos, o ato mais sagrado que podem realizar é morrer pela fé, como mártires. Vão, então, diretamente para o céu. Para o satanista, o ato mais sagrado que se pode fazer é assassinar um cristão; de preferência, jovem e virgem! Assegurou-me que isso invalidava toda “conversa mole” escri­ ta sobre o diabo. Se o diabo realmente quisesse almas, argumentou, por que faria com que seus seguidores matassem virgens e bebês, quando esses são os únicos que certamente vão diretamente para o céu? Se a intenção do diabo fosse roubar almas de Deus, não seria mais lógico matar pecadores, velhos, não arrependidos? Tive de admitir que sim. Era estranho, mas, à medida que eu ouvia Orion falando, observava sua personalidade se desvanecen­ do, e algo escuro, bruto, complexo e incrivelmente poderoso ia surgindo nele. Era muito mais do que o simples efeito da cerveja. Ele começava a falar com uma inteligência sobrenatural. Orion, sem dúvida, estava possesso, e eu quis, então, en­ tender o ser que estava falando por meio dele! Senti mais poder emanando dele do que jamais poderia imaginar. O que estava dentro de Orion sabia que eu queria obter conhecimento e


sabedoria, mais do que qualquer outra coisa, e isso me atraía pelo valor que representava. Estava, porém, chocado com a possibilidade de ter um dia que lidar com sacrifício humano. Isso ia contra tudo o que eu sem­ pre acreditara em minha vida. Mas muito do que agora eu acre­ ditava era contrário ao que tinha acreditado antes! Lembrava-me ainda de que fora derramado sangue na minha iniciação na feiti­ çaria: meu próprio sangue! Sabia também que, segundo os costu­ mes da Wicca, havia ocasiões especiais em que os próprios bruxos se ofereciam como sacrifícios voluntários para uma causa maior. Isso provavelmente acontecera no tempo da Armada Espanhola, quando a Inglaterra se encontrava em perigo de ser invadida, assim como durante a batalha da Bretanha, na Segunda Guerra Mundial. As afirmações de Orion davam um estranho sentido ao uni­ verso distorcido de estilo Crowley que eu havia construído para mim mesmo. Orion dizia que cristãos e satanistas eram feitos uns para os outros, tal como ovelhas e lobos. Que muitos cristãos não teriam outro propósito a não ser oferecer a sua vida num altar a Satanás! Se não fosse assim, como é que o cristianismo poderia ter permanecido por tanto tempo? E me perguntou: — É mau o ato de o lobo matar o carneiro, ao fazer exatamen­ te o que ele foi criado para fazer? Tive que concordar com ele que não. Disse-me, então, que a cada três meses o corpo de uma jovem — geralmente, uma menina cristã — aparecia no leito de um rio próximo de sua casa, morta por meios visivelmente satânicos. E, no entanto, nenhuma provi­ dência séria era tomada a esse respeito. Ele me disse que as autori­ dades sabiam quem cometia esses crimes, mas não ousavam tocar nessas pessoas por estarem a par de quão poderosas eram elas. De fato, muitas das autoridades sao satanistas secretos. E de que outra forma poderiam chegar à posição de autoridades? — Encare a realidade, meu irmãozinho — disse-me Orion, com os olhos brilhando de uma lascívia carnal que tocou muito


além do que seria razoável. — Lúcifer é o Deus deste mundo. Todo poder e autoridade são dele, para os dar e tomar. Até mesmo o Nazareno admitiu isso. Se você quiser poder ou dinheiro, tem que tratar disso com “o Dono” das riquezas e do poder! Então ele arrotou, enchendo o ar da noite de um cheiro de cerveja. Era algo bastante ilógico estar falando com aquele ciclis­ ta semi-alfabetizado sobre questões tão profundas, vendo-o argu­ mentar com uma malignidade tão inspirada. Ele me disse que tinha todo o dinheiro de que necessitava. Adrian o sustentava com milhares de dólares, depositados numa conta bancária que tinha em Wheaton. — Você tem que parar de bancar o bobo com esse lixo da Wicca e começar a fazer a vontade do verdadeiro Senhor da Luz! — disse-me, então. — Você precisa tocar na Fonte da Sabedoria Imaculada, uma sabedoria que não foi atingida pelas almas huma­ nas. Você tem muito potencial para ser desperdiçado com esses trouxas! Eles estão, de qualquer modo, adorando Satanás, só que são inocentes demais para perceber isso! Perguntei-lhe, então, o que esperava que eu fizesse. Ele riu de mim, já fora de si pela bebida, mas, quando falou, suas palavras foram muito claras. LTma chama escarlate escura co­ meçou a tremular por trás de seus óculos escuros — ou será que era apenas o reflexo dos faróis de carros distantes? — Faça um pacto, irmãozinho. Prometa servi-lo, dando-lhe o seu corpo, a sua alma e o seu espírito para sempre, e tudo o que você quiser, terá! Continuou ainda, dizendo: — Por sete anos, você será escravo de Satanás. Ele tomará conta de você, com todo o cuidado. Depois desse tempo, nosso Mestre o matará e o levará para o inferno, para gozar uma eterni­ dade de êxtase pleno. Se você for realmente um escravo dedicado, no entanto, talvez ele o deixe viver, para servi-lo por mais sete anos. Quem sabe? Isso aconteceu comigo.


Senti-me preso a um gélido horror. De algum modo, eu sabia que ia dar naquilo. Mas, mesmo assim, tive que perguntar-lhe: — E o que você me diz de Jesus? Orion sorriu, ou algo sorriu dentro dele. — Você ainda não percebeu? Ele próprio teve que passar por isso. Isso acontece com todos para chegarem a Ipsissimus. Lembrese do que ele disse: “Não seja a minha vontade, mas seja feita a tua vontade.” Com quem você acha que ele estava falando? — Com o Pai — aventurei-me. — Certo, mas o pai dele é Satanás! O livro deles até mesmo diz, em 2 Coríntios 4.4, que Satanás é o deus deste mundo. O próprio Nazareno disse, em João 12.31, que o nosso Mestre é o príncipe deste mundo. Você não vê? Vendo-o citar a Bíblia para mim era ainda mais enervante do que a sua sagacidade sobrenatural. Disse-lhe que iria pensar seriamente no assunto, e esse estranho diálogo chegou ao fim, naquela noite. Depois de ter ele saído, com aqueles seus dois acompanhantes tão diferentes entre si, analisei nosso diálogo com Sharon. Ela não gostara de Orion. Nem eu, para ser sincero. Ele jamais seria a mi­ nha escolha se tivesse que convidar alguém para lanchar. Ela observou que, de fato, nosso trabalho na magia não nos havia proporcionado nenhuma prosperidade material. Eu estava ainda me desgastando num cansativo emprego que tinha, num ferro-velho, reciclando peças de motor feitas de alumínio, e ela trabalhava num hospital, fazendo de tudo para conseguir pagar nossas contas. Mas a idéia de se fazer um pacto a deixava um tanto intranqüila. Insisti, porém, em que, se Crowley estava certo, então Satanás (ou Hórus, ou Lúcifer) seria de fato o verdadeiro Senhor desta era e deste Universo. Jesus o teve como regente, nos 2.000 anos da Era de Osíris.2 Se esse deus de vingança com cabeça de falcão é quem governava o Universo, fazia sentido estabelecer com ele um pacto fundamental. Tudo dependia de decidir em que acreditaríamos: se na Bíblia ou no Livro da Lei. A Bíblia tinha sido tão distorcida e


pervertida em minha mente — por causa dos nove anos de inter­ pretação ocultista e à “alta crítica da Bíblia” — que me era relati­ vamente fácil ver como as Escrituras podiam perfeitamente estar de acordo com a obra de Crowley. ÍX1 A n i f e s l a - s e o í l n j o d e L u z

Então eu fiz o que sempre fizera quando confrontado com uma grande decisão espiritual. Fui até o mosteiro e celebrei uma missa para mim mesmo, a Missa do Espírito Santo. Esta missa é reali­ zada, na tradição católica, com a intenção de dar uma forte direção espiritual ou força a quem esteja passando por um mo­ mento de necessidade ou de decisão. Eu estava me valendo de tudo o que podia! Naquela missa, o padre Daniel, que estava comigo, acen­ deu todas as velas e regulou o órgão para tocar “fortíssimo” na­ quela hora. Ele cantou “Vem, Espírito Santo” valorosamente, em seu barítono solene, e mais uma vez fui tocado pela singele­ za de sua piedade. Voltei para casa e peguei meus estudos bíblicos sobre numerologia. Deparei-me com a passagem de Apocalipse 13, e meus olhos pousaram no versículo 18, o mais famoso desse livro: Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcu­ le o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis. Comecei a somar os números na Cabala Grega,-' cruzando os dados com os de outras passagens. De repente, mediante uma per­ cepção que me veio, e que até hoje me deixa intrigado sobre como foi que aconteceu, “concluí” com uma ofuscante convicção, ao mes­ mo tempo horripilante e tranqüilizadora, que Aleister Crowley era uma reencarnação de Jesus Cristo! Eu não tinha tomado droga alguma (a não ser o vinho da eucaristia), mas perdi o equilíbrio e caí para trás, contra a parede.


O quarto, ao meu redor, desapareceu, e me senti banhado por uma luz tão intensa que parecia estar derretendo e fundindo o lóbulo frontal do meu cérebro. Caí de joelhos pelo poder do seu brilho, diáfano e fulgurante. Não tenho a menor idéia de quanto tempo permaneci sob aquela cascata de fogo, que ardia em meus olhos, literalmente, como a chama de um maçarico de gás acetileno. Pareciam estar cheios de areia. Finalmente consegui voltar, cambaleando, para a minha ca­ deira, à medida que o quarto voltava ao normal. Meu cérebro começou a trabalhar de novo, mas com uma estranha e sensível lucidez. Senti-me como se estivesse saindo da ação de um ácido extremamente poderoso, e talvez isso fosse a memória repentina de algo do passado. Dava até para sentir os neurônios agitando-se em meu cérebro em fogo, como as velas de ignição de um carro há muito tempo parado ao ser posto no­ vamente em movimento. Vejamos, se Crowley era Jesus, então, de acordo com a doutri­ na do ocultismo, Crowley teria de estar ainda mais evoluído agora, depois de cerca de 2.000 anos, em relação ao que ele era na pessoa de Cristo. Portanto, a doutrina thelêmica de Hórus (Satanás) de­ via ser a verdadeira doutrina cristã para a época atual! Senti-me bastante aliviado! Não importava que não hou­ vesse uma base bíblica para a minha percepção. Não importava que fugisse de tudo o que dizia o bom senso. D entro d e m im , sen tia q u e a m inha p ercep çã o era verd a d eira , com um poder que me fizera cair de joelhos, tremendo de medo! Na verdade, era uma progressão lógica que a minha mente percorria para o enga­ no, a gradual revelação da Luz de Lúcifer. Era o que realmente estava acontecendo. O P a c I o e o “Í I l i l A g r e "

Desse modo, estava dando uma nova largada em minha vida. Telefonei para Orion e marcamos a cerimônia para a próxima lua


nova. Compartilhei minha experiência com Sharon, e ela acei­ tou, mas com muita relutância. Não quis ir à cerimônia comigo, em parte porque não apreciava nada daquilo que Orion repre­ sentava e, em parte, por causa de profundas apreensões que sen­ tia quanto à situação. Foi num ambiente dramático que fiz minha “profissão de fé” para o diabo. Fui levado com os olhos vendados a um enorme parque em alguma parte dos subúrbios de Chicago. Era um lugar cheio de esculturas e altares egípcios. Orion assegurou-me que aque­ la propriedade fora adquirida secretamente por satanistas e que ninguém nos ousaria incomodar. Orion ficou por trás do altar de cimento, em forma trapezoidal, vestido com uma toga escarlate. Tirei um manto branco, que sim­ bolizava minha inocência anterior, e ajoelhei-me diante dele decla­ rando minha total lealdade a Satanás. Do processo, fazia parte a assinatura de um pacto com o meu próprio sangue, entregando meu corpo, minha alma e meu espírito a ele. Orion invocou o poder de Lúcifer, e chamas de fogo surgiram sobre o altar. Meu “contrato” foi arremetido às chamas, sendo con­ sumido instantaneamente, com uma lufada de fogo escarlate. Por fim, vestiram-me com uma veste preta de satanista e me foi dado um novo nome. Como um gesto final de desafio, eu teria de pisar num cruci­ fixo. Essa prova, que constava ter vindo da tradição dos Templários. incomodava-me um pouco. Explicaram-me que era para mostrar desprezo por aquilo que o cristianismo acredita que a cruz simbo­ liza, nao um ato propriamente contra a crucificação de Jesus, que, a nosso ver, tinha contribuído para que ficássemos livres para ser­ vir melhor a Satanás. No dia seguinte, voltei para Milwaukee, sentindo-me um tan­ to impuro. Falei sobre isso com Sharon, e ela sugeriu que eu cele­ brasse uma missa. Tínhamos uma pequena capela particular num de nossos quar­ tos, completa, com uma mesa e uma pedra de altar (esta, com uma


relíquia de São Francisco), que o padre Daniel tinha gentilmente nos doado. Rezei, então, outra missa do Espírito Santo — em bus­ ca de alguma confirmação para o que eu estava fazendo — , mas encontrava-me totalmente despreparado para o que aconteceu! No momento da consagração do vinho, assim que falei as pa­ lavras de costume, aconteceu com o vinho o que supostamente teria que sempre acontecer, mas nunca tinha acontecido: ele se transformou em sangue! Em sangue de verdade\ Fiquei, para dizer o mínimo, inteiramente perplexo! Tanto Sharon como o coroinha que estava ajudando a missa viram o cálice cheio de sangue! Sem saber o que fazer com ele, terminei a missa, mas tomei somente uma quantidade mínima possível do sangue, somente para concluir a liturgia. O restante coloquei num frasco de ouro especial, que tinha em meio aos meus objetos reli­ giosos ortodoxos russos, destinado a levar o vinho sacramental para os enfermos. Levei o frasco ao meu bispo, e ele fez com que o material fosse analisado no laboratório do hospital em que sua esposa, Peg, tra­ balhava. A análise deu como resultado sangue humano, mas um tipo de sangue hum ano totalm ente desconhecido! Rapidamente, che­ gamos à conclusão de que somente poderia ser o sangue de Cristo! Considerei o fato realmente um milagre e me voltei para o exercício do meu novo sistema de magia. Tínhamos missas negras em nossa capela, “batizando” vários dos feiticeiros dos nossos “covens” da Igreja de Satanás. Agora, eu teria que ganhar sete al­ mas para ele. Em poucas semanas, consegui que três dos nossos bruxos assinassem pactos com o diabo em troca de maiores ganhos monetários ou sexuais ou mais poder na magia. Comecei infelizmente a ter, em especial, grande prazer em corromper a inocência, ficando muito excitado com a sexta pes­ soa que recrutara, que tinha sido uma mulher católica muito de­ vota, a própria alma da inocência e confiança! Eu estava me perdendo completamente, do ponto de vista moral, mas sentia-me


cheio de um vil e malicioso poder, que toldava meus sentimen­ tos. Quando ela finalmente assinou o pacto, senti um triunfo blasfemo total! Pude vê-la tornando-se espiritualmente suja dian­ te de meus olhos, como se uma sombra obscura e trêmula estives­ se passando por todo o seu corpo e por sua face. Ri junto com ela no momento em que as luzes escuras de Lúcifer refletiram-se de seus olhos sobre mim. Foi um momento especialmente agradável porque, então, tive que cometer adultério com ela como parte do ritual. Muito mais do que sexo, tive prazer na experiência por achar que, por intermédio dela, estaria ferindo o “falso Deus”, inimigo de Satanás! O sétimo candidato foi fácil. Era um feiticeiro quase lunático, ansioso por assinar o pacto. Achava-se bastante envolvido com Lovecraft e com Satanás, e buscava apenas quem pudesse fazê-lo ingressar oficialmente nessa. Depois disso, tive o direito de receber uma cópia de um do­ cumento satânico, A Grande M ãe, para aprender algumas das ceri­ mônias ultra-secretas que me seriam necessárias para progredir. Passei então a ir atrás de estudantes da U niversidade Marquette, próxima de casa, para corrompê-los. (Só que eu pen­ sava que não os estava corrompendo, mas, sim, ilu m in a n d o-oí!) Valendo-me do meu próprio passado, descobri que os estudantes daquela universidade católica eram campos particularmente fér­ teis para as sementes de Satanás. Num período relativamente curto em que me empenhei por conseguir convertidos a Satanás, con­ segui atrair vários dos estudantes ao culto satânico — todos, com exceção de apenas um, eram praticantes entusiastas do jogo de RPG C alabouços e Dragões. Os adeptos da “alta crítica” da Bíblia tinham feito o seu traba­ lho muito bem na Universidade Marquette. Aqueles pobres jovens não sabiam mais no que crer e sentiam muita fome espiritual. Que Deus me perdoe, pois fui eu quem acabou levando a eles o pão envenenado que o diabo amassou para “alimentá-los”.


A saudação do corno, ou sinal dos chifres, é a mais amplamente reconhe­ cida saudação satânica. Tradicionalmente é feita com a mão esquerda erguida, com o indicador e o mínimo dirigidos para cima e o polegar e os outros dois dedos virados para baixo. Representa a negação da Trindade e a exaltação dos dois chifres de Satanás. Os ocultistas acreditam que as religiões se movem em ciclos (ou eras) de aproximadamente 2.000 a 2 6.000 anos. Crowley ensinou que a Era de fsis (a deusa Mãe) foi de 2 .0 00 a.C. até o ano 1 d.C. Então chegou a Era de Osíris (o deus do Egito que morreu), de 1 a 19 0 4 d.C. A partir de então, acreditava ele, tinha-se iniciado a Era de Hórus (o Coroado Filho Conquistador). Embora a Cabala seja judaica em sua origem, e construída sobre o fato de que as letras hebraicas também são números, os ocultistas, através dos séculos, a têm aplicado a outras línguas. O Grego é um dos idiomas ideais para esse propósito, por fazer também uso da permuta de letras e números.


R I n f r a - e sIr u Iu r a do S A t A í i i s m o

Jesus, porém , conhecendo-lhes os pensamentos, dis­ se: Todo reino dividido contra si mesmo fica rá de­ serto, e toda cidade ou casa d ividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expele a Sata­ nás, dividido está contra si mesmo; como, pois, subsistirá o seu reino? — Mateus 12.25,26

J á vimos o que a Bíblia nos diz sobre o diabo, e discutimos algu­ mas das questões mais amplas relativas à existência de cultos satâ­ nicos. Agora vamos abordar, especificamente, o que é o satanismo. Quando há muito pouco, ou nada, à nossa disposição para ser es­ tudado, geralmente nao se fazem investigações. E por isso que muito pouco tem sido escrito a respeito dos expoentes do satanismo antes deste século, ou melhor, até antes desta geração. O satanismo tem-se alastrado, hoje em dia, por toda parte e com muito ímpeto. Artistas populares e personalidades públicas nos Estados Unidos lhe dão o maior apoio.1 Cantores de rock exibem abertamente seus símbolos e pregam sua “mensagem”. Satanistas de destaque, como Zeena LaVey e Michael Aquino, aparecem em pro­ gramas de entrevistas [na televisão americana], defendendo sua fé diante de acusações de assassinatos e abuso de crianças.


D e s l r o n A d o L ú c i f e r

Não é uma história do satanismo que vamos abordar neste capítulo. Um bom livro sobre o assunto, de fácil leitura, embora de alto nível, é o do professor Carl Raschke: P ainted Black [Pintado de Preto]. Seremos mais práticos, examinando o satanismo como uma instituição que opera no mundo de hoje e de que modo nos atinge e às nossas famílias. Eis aqui uma definição necessariamente extensiva, pois abran­ ge todos os grupos do satanismo. O satanismo envolve a adoração a um deus que representa o lado das trevas de todo o cosmo. Esse deus é conhecido por vários nomes e, geralmente, personifica, pelo menos, as partes anima­ lescas e carnais do homem: se não o próprio mal e as piores carac­ terísticas da natureza humana. O satanismo quase sempre envolve o uso de drogas e o transe, isto é, a possessão demoníaca. A ética do satanismo é, na melhor das hipóteses, “uma lei da selva”, de sobrevivência do mais capaz, e geralmente constitui uma inver­ são consciente da moralidade. O satanismo tem obsessão pela morte, e seus rituais normalmente implicam atos de amaldiçoar, der­ ramamento de sangue e sacrifícios de animais ou seres humanos. Esta definição é de uma amplitude bastante grande para po­ der abrigar até mesmo os assim chamados satanistas religiosos ou organizados, como Anton LaVey, embora eles neguem categorica­ mente qualquer envolvimento com drogas ou com sacrifícios de sangue. Mas têm de negar, por serem legalmente constituídos como igrejas, não podendo, assim, admitir que violam a lei! C o rtA íid o em FaIías

o

B o lo de Saíaiiás

Partindo desta ampla definição, faremos uma decomposição em algumas categorias básicas, para então examinarmos cada uma de­ las. Desde que se começou a analisar com seriedade o fenômeno do culto ao demônio, no final do século 20 , os estudiosos de vários graus de competência têm procurado classificar seus diferentes


tipos. Seus sistemas de classificação são provavelmente tão bons quanto qualquer outra espécie de sistema. É importante para o cristão compreender que, embora algu­ mas dessas variedades de satanismo nem mesmo professem a cren­ ça num diabo real e pessoal, e muitos até mesmo digam que não estão fazendo nada de ilegal, todos eles estão, com certeza absoluta, totalm ente perdidos e destinados a passar a eternidade no inferno. E fazem parte do exército de Satanás, não importando se nele crêem ou não. A classificação dos satanistas mais comumente mencionada baseia-se numa versão ampliada de um esquema estabelecido pelo Dr. Dale Griffis, capitão de polícia de Tiffin, Ohio, um dos pio­ neiros na investigação científica e criminológica das infrações pe­ nais no ocultismo :2 1 ) Inteiramente envolvidos 2) Satanistas religiosos ou organizados 3) Satanistas dissimulados ou isolados 4) Espíritas culturais 5) Satanistas tradicionais (geralmente hereditários, de várias gerações). Eis uma breve descrição de cada um desses tipos: 1) Inteiramente envolvidos

Geralmente sao adolescentes, embora haja cada vez mais meni­ nos e meninas de 1 2 anos ou menos de algum modo envolvidos com o ocultismo. Nós e outros fazemos certa restrição ao uso do termo “envolvido”, uma vez que dá a idéia de que a pessoa não chegou a ser prejudicada, o que não é verdade. Assim, este termo é um tanto inapropriado. Como diz Raschke, pode-se ter um envolvimento com o satanismo com tanta facilidade quanto se pode “entrar numa turma” de consumo de heroína .3 Estas duas experiências levam o praticante quase que instantaneamente a um nível irresistível de compulsão, e de ambas é extremamente difícil escapar sem a ajuda do Senhor.


Usa-se o termo “envolvido”, no entanto, porque o envolvi­ mento geralmente é desorganizado, nao premeditado e casual. Geralmente ninguém é envolvido de imediato com grupos de feitiçaria maiores. O interesse de jovens pelo satanismo poderá surpreender mui­ tos dos leitores. Isso, porém, não é, absolutamente, uma novidade. Houve época em que o infame de Anton LaVey, A B íblia Satânica, era um dos livros mais vendidos em muitas universidades dos Esta­ dos Unidos. E, infelizmente, sucesso total entre alunos das últimas séries do ensino médio! Qualquer que tenha sido a intenção de LaVey ao escrever sua obra, o fato é que ela acabou tornando-se uma proclamação do niilismo e do desespero para muitos jovens. Os adolescentes são difíceis de entender, mas uma coisa com que todos concordam é que uma característica fundamental da ado­ lescência é a afirmação de sua individualidade. Isso significa que, neste mundo decaído, eles tendem a ser rebeldes. Um pouco de rebeldia é normal, bem como desentendimentos com os pais; mui­ tos adolescentes, porém, por alguma razão, têm um gênio muito forte, e a Bíblia nos adverte que “a rebelião é com o o p eca d o d e fe it i­ çaria” (1 Sm 15-23). Se um adolescente tornar-se rebelde de modo extremado, poderá ser levado a ver em Satanás o maior modelo de rebeldia para os seus anseios. Os roqueiros do tipo hea vy m etal exploram essa “qualidade” de Satanás! Para o adolescente que luta contra tudo o que representa autoridade, Satanás poderá tornar-se o “deus” da sua rebeldia. A famosa exclamação de Satanás que se encontra no Paraíso P erdido, de John Milton — “É melhor reinar no inferno do que servir no céu” — poderá parecer boa demais para um jovem que esteja em atrito com situações que considere restritivas e regras que o aborreçam. O adolescente rebelde, criado no seio da igreja, mui­ tas vezes considera os cultos como cheios de hipocrisia e sem bri­ lho algum. Buscam-se exemplos na sua igreja que confirmem seus


preconceitos e acaba-se concebendo o céu como uma eternidade insípida e sem atrativos. A mentira dos satanistas e dos “metaleiros” de cabelo arrepi­ ado é que o inferno vive numa orgia desenfreada em drogas “ro­ lando” e promiscuidade total — um lugar em que Satanás oferece tudo o que os pais proíbem. Ou, então, os adolescentes são infor­ mados de que o inferno não existe — não passa de história da carochinha, de uma invenção, como Papai Noel, para fazê-los obe­ decer. E passam a considerar o inferno como não sendo um pro­ blema. Também, assim como muitos adolescentes deliberadamente se vestem ou falam de um modo que aborreça seus pais, os mais rebeldes poderão fazer opções de natureza espiritual, ou religiosa, somente com o propósito de atingi-los. Uma vez atraído para essa cultura de rebeldia, o modo mais comum pelo qual um jovem é levado a aprofundar-se no satanismo é o “pacto”. De modo geral, fazer um pacto com Satanás é, hoje, bastante conhecido. Embora os termos de tal acordo possam variar, as principais cláusulas são de que a pessoa vende a sua alma ao diabo e, em troca, Satanás lhe promete dar poder (na magia, ou sob qual­ quer outra forma), ou fama, favores sexuais ou riquezas. O jovem que faz esse pacto, “vende” a Satanás, na verdade, o que Satanás já possui. Observe a malvada sutileza da armadilha que o diabo coloca, aqui! Ele trabalha em cima da maior carência da vida de um adolescente: o poder. Os adolescentes, em sua maio­ ria, sentem-se desprovidos de poder. São jo v en s dem ais para serem adultos, mas o seu corpo rapidam ente está se tornando maduro, d e m odo que são velhos dem ais para serem crianças. Também não ajuda nada o fato de receberem orientação, um tanto confusa, de seus pais. Por um lado, dizem-lhes que devem agir com maturidade e esperam que procedam como adultos; por outro lado, dizem-lhes que nao são ainda suficientemente adultos para fazerem certas coi­ sas de adultos. Satanás conhece esta situação e explora o desejo natural do jovem de ter poder e controle sobre o meio em que se encontra e sobre o seu destino.


Com o pacto, Satanás promete a esses adolescentes que terão poder para dominar aqueles que, com autoridade, os estejam per­ turbando. Terão como “dobrar” as pessoas — até mesmo seus pais — como quiserem. E receberão doses ilimitadas de dinheiro, sexo, drogas e poder. Basta assinar na linha em branco — com o próprio sangue\ É, realmente, uma oferta bastante sedutora para um jovem que se acha totalmente perdido, vagando pelos mares da adoles­ cência. A não ser que haja alguém de confiança, compassivo e bem informado dessa situação para lhe falar sobre tudo isso, de forma que o adolescente fique sabendo a verdade quanto às pro­ messas ardilosas de Satanás, é bem possível que venha a acreditar nessas mentiras. Em muitas livrarias, ele irá encontrar diversos livros satanistas. Nas bancas de jornais, revistas de quadrinhos satanistas pulu­ lam. Para uma mente sugestionável, as odiosas polêmicas da B íblia Satânica e similares tornam-se imagens expressivas de uma espiritualidade dolorosa e em trevas, despertando os piores com­ ponentes da fúria que há no interior do jovem. Assim, ele logo se envolve. Geralmente os que se envolvem não se ligam a nenhum grupo satânico organizado, embora uma minoria não desprezível deles seja trazida, por satanistas adultos, para um desses grupos. Os adul­ tos se valem de vários métodos para seduzir os jovens, entre os quais drogas, sexo e o infame jogo de RPG Calabouços e Dragões. É triste dizer, mas às vezes até mesmo professores e parentes satanistas fazem uso de sua influência para seduzi-los. Este autor foi professor durante dois anos, na época em que era feiticeiro.4 Fiz de tudo o que pude para atrair para o ocultismo os estudantes dos dois últimos anos do ensino médio que estavam sob meus cuidados. A maioria dos grupos satânicos usam drogas e têm o maior prazer em fornecê-las aos adolescentes — às vezes até de graça •— em troca de uma visita deles ao seu grupo. Bruxas e bruxos sexual­ mente refinados atraem muitas vezes rapazes e moças solitários que


se sentem lisonjeados por pensarem que uma pessoa mais velha e poderosa os considera atraentes. O sexo é, então, usado, de modo trágico, para o acesso do demônio à vida dos jovens (veja 1 Co 6.15-17). Também o jogo C alabouços e D ragões é usado com fre­ qüência por professores e lojistas feiticeiros para selecionar jo­ vens que tenham “aptidão” para a feitiçaria. As personagens que os disputantes assumem no jogo são um excelente treinamento para o feiticeiro noviço. Temos de ter certo cuidado para com aqueles que tenham se envolvido com o ocultismo, isoladamente ou não. Embora esses jovens e adolescentes, em sua maioria, não sejam perigosos, exceto para si mesmos, muitos deles são levados, quer por poderes demo­ níacos ou pelos feiticeiros que os recrutaram, a realizar atos de violência e anti-sociais, inclusive assassinatos. Todavia, mesmo que nunca venham a causar dano a alguém, os males que fazem a si mesmos, tanto emocionais como espirituais, são incalculáveis. O satanismo lhes dá uma cosmovisão anarquista, niilista, segun­ do a qual todas as emoções de afeição e carinho ficam bloquea­ das, e os piores aspectos da natureza humana carnal predominam. A violência e a magia tornam-se a única solução para qualquer problema, e um sentimento de amor real de sua parte torna-se praticamente impossível. 2) Satanistas religiosos ou organizados

Estes (LaVey, Aquino, etc.) estão voltados para si mesmos e já fo­ ram abordados nos capítulos anteriores. 3) Satanistas dissimulados ou isolados

Os satanistas isolados geralmente são adultos não ligados a nenhu­ ma seita satânica, mas que se valem do satanismo para a prática de crimes — principalmente abuso de crianças, estupro, tortura, as­ sassinato e tudo mais. Geralmente são pessoas solitárias, que não conseguem relacionar-se com os outros de maneira normal e saudável. Optam,


entao, por se identificar com Satanás: o m aior d e todos os marginais. Deixam-se também corromper, com freqüência, pelo rock heavy m etal e por apavorantes filmes de terror. Há quem se preocupe em definir se tais pessoas são satanistas que sofrem de insanidade mental, ou se são psicopatas também satanistas. Tais discussões não fazem sentido. O fato de alguém envolver-se com o satanismo, qualquer que tenha sido a causa, abre portas em sua vida para que irrompa a sua natureza pecami­ nosa. O fato é que tais pessoas, em sua maioria, sao produtos emo­ cionalmente deficientes de uma família desconcertada e, muitas vezes, vítimas de abusos. Isso lhes confere um sentimento de ira em seu interior que Satanás tem todo o prazer em fazer explodir. São matéria-prima de primeira linha para ser trabalhada por Sata­ nás e acabam se tornando fantoches em suas mãos, soldados rasos que ele usa em sua guerra de terrorismo espiritual. Se foi o satanismo ou a loucura que entrou primeiro na vida dessas pessoas, isso não importa. O importante é entender que livros tais como A Bíblia Satânica e artistas de música popular como Ozzy Osbourne, AC/DC ou Motley Crue as fazem cair totalmente nessa situação maligna e ainda lhes dão um apoio para continua­ rem a praticar o mal. São pessoas de carne e osso que, quer tenham consciência ou não, fazem parte de um plano mestre de Satanás. São, terroristas espirituais seus, que saem por aí espalhando horror, morte e paranóia. 4) Espíritas culturais

Estes são um pouco mais difíceis de classificar. São integrantes de culturas geralmente latinas e africanas, cujas crenças são uma mis­ tura de feitiçaria africana com o catolicismo romano. Um estudo afirma o seguinte: As religiões espíritas culturais sincretizam, com harmonia, rituais da magia ou sobrenaturais, específicos de determina­ da cultura, com certas tradições religiosas próprias de outra cultura, diferente. (...) Estima-se que existem, atualmente,


um milhão a um milhão e meio de pessoas, nos Estados Uni­ dos, que praticam algum tipo de espiritismo afro-antilhano. A grande maioria desses praticantes está envolvida com as crenças denominadas santeria e paio mayombe.1 As principais formas do espiritismo cultural são: a. Vodu O vodu, ou voodoo, também conhecido como obeah ou hoodoo, é praticado principalmente no Haiti e em outros países do Caribe, na Louisiana e em outros estados do Sul dos Estados Unidos. Este culto desenvolveu-se como resultado do tráfico de escravos proce­ dentes da África Ocidental, levados para o Caribe. Origina-se da religião ocultista africana conhecida como Juju, que data de mi­ lhares de anos atrás, praticada pela tribo achanti, que era adoradora de serpentes. A religião Juju foi então sincretizada com o catolicismo, pro­ duzindo o culto a toda uma gama de entidades ou divindades demoníacas. Essas entidades, em sua maioria, são identificadas com santos católicos. Por exemplo, imagens de São Patrício sao usadas para personificar Danballah, o principal deus-serpente, porque as gravuras católicas geralmente mostram São Patrício ex­ pulsando serpentes da Irlanda. Os rituais do vodu geralmente são executados pelo ogã (sacerdote) ou pela mambo (sacerdoti­ sa). Grande parte dos rituais é para que os praticantes sejam in­ corporados pela entidade. b. Candomblé e Umbanda São praticadas no Brasil. São também um sincretismo do catolicis­ mo com as religiões africanas, principalmente de tribos da Nigéria e do Congo (Nossurubi, Nagê e Malei). Tal como no vodu, os pais-de-santo (sacerdotes) sincretizaram as entidades africanas (orixás) com os santos católicos. São quatro os principais compo­ nentes do ritual candomblista: adivinhação, sacrifícios (geralmente


de animais), incorporação de espíritos e iniciação. Há uma linha que é mais voltada para o mal, a quimbanda.

L ú c i f e r

D e s l r o n A d o

c. Santeria (ou Lucúmi)

A santeria é essencialmente a forma cubana de candomblé, sendo assim também um sincretismo de religiões africanas com o catoli­ cismo. Provém principalmente da tradição ioruba, da Nigéria. Seus sacerdotes são os santeros. Desde que em 1980 o barco de Mariel saiu de Cuba, muitos dos praticantes da santeria foram parar em cidades americanas, tendo atualmente chegado ao número de dois milhões de adeptos nos Estados Unidos, principalmente entre os cubanos e demais hispânicos. Em Trinidad, a santeria tem o nome de “xangô”. d. Paio Mayombe

É uma prática mexicana e do Caribe. Representa uma linha mais “pesada” da santeria. Os m ayom beros (seus praticantes) geralmente se concentram no espírito da morte e usam a sua magia para infli­ gir desgraças, torturas ou a morte de um adversário. Por incrível que pareça, há m ayom beros que se dedicam à prática de uma magia para o bem, ou neutra, e que são chamados de “m ayom beros cris­ tãos”. Os que a praticam para o mal são chamados de “m ayom beros judeus”. O paio mayombe provém também da mistura de crenças afri­ canas (ioruba e congalesa) com o catolicismo, mas é visivelmente uma feitiçaria mais maligna e perigosa. Sacrifícios humanos são nele praticados. Esse culto serviu de modelo à seita ocultista fictí­ cia vista no filme The Believers. Muitos dos praticantes dessas formas de espiritismo afirmam (naturalmente) que elas não causam dano a ninguém e que apenas fazem sacrifícios de animais. Contudo, há uma suspeita cada vez maior de que esses grupos usam das magias para levar drogas para os Estados Unidos. E infames assassinatos ocorridos em Matamoros [cidade do México na fronteira com os Estados Unidos] foram


cometidos por uma seita que parece ser uma mistura de candom­ blé com paio mayombe .6 Assim como acontece com todos os satanistas, os espíritas cul­ turais estão perdidos, carecendo da salvação mediante Jesus Cristo. Eles tendem a espalhar-se com as mesmas promessas de poder, ri­ queza e sexo, que fazem os mais propriamente chamados satanistas. São grupos extremamente poderosos e perigosos, e os feitiços que empregam são, surpreendentemente, muito eficazes. Mas, felizmen­ te, podem ser vencidos pelo sangue de Jesus. 5) Satanistas tradicionais ou “fiéis” (de várias gerações)

Se os satanistas isolados são os soldados rasos de Satanás, os tra­ dicionais são seus oficiais de elite, de “batalhões especiais”. Tal como aqueles, dedicam-se a infligir terror ao coração da socieda­ de, mas são mais conscientes de sua posição e função. São cha­ mados, nos círculos de feitiçaria, de “hereditários”. Isto significa que já nasceram no satanismo, da mesma forma como há pessoas nascidas em famílias presbiterianas, batistas, católicas ou judias. Tais satanistas foram, portanto, criados dentro da ideologia do seu grupo de feitiçaria, e muitas vezes pertencem a um mundo tão diferente do nosso que bem poderiam ser considerados alienígenas. Em seus grupos, há famílias nas quais a feitiçaria e o satanismo vêm sendo praticados por muitas gerações, talvez até durante vários séculos. (E importante compreender que, embora todos os satanistas sejam feiticeiros, nem todo feiticeiro é satanista, no sentido estrito da palavra. Os feiticeiros da magia “branca”, ou participantes da Wicca, como são muitas vezes chamados, não acreditam num diabo e adoram uma deusa mãe e um deus chifrudo. Na verdade, eles estão adorando Satanás por trás das máscaras de suas divinda­ des supostamente do bem, mas muitos deles não têm consciência disso. Pela minha experiência, sei que os wiccanos dos níveis mais elevados realmente conhecem a verdade, mas ela é mantida desco­ nhecida do público em geral e dos iniciantes dessa magia.)


As famílias satanistas hereditárias geralmente têm suas origens na Europa e muitas vezes se sustentam de heranças. Para alguém que nasce numa dessas famílias, há duas alternativas à sua frente: ou a criança é mimada, treinada em magia e ensinada a considerarse um deus vivo sobre a terra, ou é horrivelmente vitimada com abusos na infância, tornando-se basicamente um ninho ambulan­ te de ódio e temores. Em ambos os casos, a criança nao é ensinada a aprender a confiar nem a amar. A razão pela qual algumas dessas crianças sao vitimadas e outras, não, tem a ver com toda sorte de obscuras doutrinas ocultistas, como, por exemplo, a ordem de nas­ cimento, mapa astral, sexo, cor do cabelo ou constituição física. As famílias satanistas tradicionais, com freqüência, deixam seus costumes próprios, assumindo uma aparência normal e respeitá­ vel. Não se vestem de preto, não raspam a cabeça nem vivem numa casa esquisita, como a “Família Addams”. Quase sempre, se pas­ sam por crentes e chegam até a ocupar cargos importantes em sua igreja e na comunidade. Assim, é bem possível que um bom cristão se case com uma mulher que na verdade é uma satanista tradicio­ nal, sem saber de sua real condição. A maioria dos cristãos costuma ser muito inocente e geralmente acredita em todo mundo. Se al­ guém diz ser cristão, isso normalmente é aceito, de imediato. (Va­ mos abordar o discernimento de espíritos e outros tópicos correlatos mais à frente, neste livro.) Por vezes, nessas famílias, um dos irmãos tem uma infância razoavelmente normal e outro pode ser vítima de um terrível abu­ so. Outra variável é que, às vezes, um dos pais é satanista, e o ou­ tro, nao, mas desconhece a verdadeira fé de seu cônjuge. Neste caso, pelo menos um dos filhos será vitimado, ficando os demais livres para terem uma infância normal. E no contexto dessas famí­ lias que o abuso ritual satânico (ARS) geralmente ocorre. O abuso ritual de crianças ou ARS é definido por uma autoridade no assun­ to da seguinte forma:


O abuso ritualizado sao repetidas agressões físicas, emocio­ nais, mentais e espirituais, combinadas com um sistemáti­ co uso de símbolos, cerimônias e maquinações para que efeitos maléficos sejam alcançados. Tais abusos podem ser repetidos de 100 a 1.000 vezes! Primeiro, as agressões pro­ curam atingir o nível físico; depois, os níveis emocional, mental e espiritual. Constituem um programa detalhado e planejado para fazer com que a criança volte-se contra si mesma, contra a sociedade e contra Deus. Nosso ministério, With One Accord, tem um setor de aconse­ lhamento e oração que já ministrou a muitas vítimas de ARS. O Senhor tem-se disposto a abençoar nossos esforços. Mais adiante, falo de nossas estratégias ministeriais quanto à oração. Por ora, o importante é compreendermos que o abuso ritual satânico geral­ mente ocorre numa família de satanistas e, em ocasiões mais raras, no contexto de escolas, creches e (infelizmente) igrejas. Aqueles que falam a respeito desses grupos de satanistas tradi­ cionais e do abuso ritual satânico muitas vezes são acusados de lunáticos — a mesma atitude adversa aos que protestavam, déca­ das atrás, nos Estados Unidos, contra o flúor na água potável, acu­ sados de participar de uma trama comunista para arruinar a saúde dos americanos. Agora, as revistas publicam reportagens sobre o efeito cancerígeno do flúor na água! O problema com teorias apon­ tadas como “conspiração’ é que muitas vezes acabam sendo reco­ nhecidas como verdadeiras. Pessoas que sobreviveram ao ritual de abusos na infância declaram ser de famílias em que o satanismo já era praticado por muitas gerações. Embora nao seja fácil provar a veracidade dessas histórias, elas são em número considerável para que sejam total­ mente desprezadas. Um enorme império secreto de drogas, pornografia infantil e satanismo tem sido exposto por pessoas. Será esse fenômeno uma novidade? Há claras evidências bíblicas de que, nos dias dos israelitas em Canaã, havia civilizações que em sua totalidade adoravam o


diabo sob os nomes de Baal e Moloque. A adoração a esses deuses envolvia o sacrifício de animais (Jz 6.25), prostituição e perversão sexual (Êx. 34.15). Envolvia, também, queimar “a seus filhos e suas filhas em sacrifício” (2 Rs 17.16,17). Isto significava queimar bebês vivos nos braços incandescentes de um ídolo de ferro! Vemos que, praticamente, todos os elementos do satanismo estavam pre­ sentes muito tempo antes dos dias de Jesus. Depois dos apóstolos de Cristo, outro fator satânico surgiu, com a “Missa Negra”, ou “Missa pelos Mortos”, feita com símbo­ los blasfemos, zombando da liturgia católica. Eram rituais realiza­ dos com o propósito de amaldiçoar pessoas! Isto não é difícil de compreender quando se sabe que a liturgia católica da missa, ou eucaristia, é basicamente uma cerimônia ocultista. É o que pode ser chamado de “magia branca”. Assim, foi fácil aos satanistas adaptarem-na um pouco, transformando-a num completo ritual de magia negra. Tais missas foram condenadas pelo Concilio de Toledo em 681. O satanismo alcançou popularidade nos séculos 18 e 19, quan­ do a Missa Negra ficou na moda, com a decadente aristocracia da Europa.s No entanto, alegações de abuso infantil em rituais satânicos nunca foram tão freqüentes como agora. Isso não acontecia antes! As famílias de satanistas tradicionais são grupos isolados de pessoas perigosas ou ligados entre si de algum modo? Esta é uma questão controvertida. Poucos são os que negam que há famílias que por gerações têm sido satanistas. Mas será que tais famílias fazem parte de uma rede? No sentido absoluto da pala­ vra, a resposta é um categórico “sim !”. Jesus falou de uma cons­ piração, d irigid a p elo con su m a d o terrorista d e con sp ira ções! O Senhor advertiu-nos de que Satanás vem para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Observou, também, que o reino de Satanás não se divide contra si mesmo (M t 12.25,26). Satanás é um brilhante tático, que distribui suas tropas, tanto demoníacas como humanas, com muito cuidado! E como um jogador de


xadrez, que planeja com dezenas de lances de antecipação! Seria uma tolice pensar de outra forma. Portanto, é difícil imaginar que Satanás permitiria que milha­ res de seres humanos se pusessem em movimento se não tivessem um plano mestre por trás. Toda energia consumida ao acaso é uma energia perdida, e, louvado seja o Senhor, a energia de Satanás é limitada. Assim, não pode desperdiçá-la com um bando de ex­ cêntricos desorganizados, retalhando gatos e pessoas e tropeçan­ do uns sobre os outros. Faz sentido pela lógica (e pela Bíblia) haver um plano mestre, uma conspiração, por trás do que fazem todas essas diversas famílias de satanistas tradicionais. Carl Raschke, em seu excelente livro, mencionado anteriormente, apre­ senta um mal adicional (embora mundano) que pode estar alimentando essa conspiração: Com certeza, grupos amplamente separados uns dos outros podem muito bem ler a Bíblia Satânica, de LaVey, e fazer feitiços do clássico do ocultismo O Necronomicon. Mas eles não se associam entre si, nem “conspiram” de um modo claro e regimental. O que geralmente não se percebe, po­ rém, é que o elo de ligação entre as diversas células na sua organização cultuai pode nada ter a ver com religião. Pelo contrário, a ligação pode ser bastante mundana e comer­ cial... drogas.9 Talvez nunca venhamos a saber se esses vários grupos secre­ tos estão ligados fisicamente, mas podemos aceitar o fato de que há profundas ligações espirituais e que quase nada acontece em qualquer um deles sem o controle de Satanás. Os demônios que estão no controle dos líderes de cada grupo acham-se em cons­ tante comunicação entre si, de modo que o conjunto de todos eles vai sendo conduzido, em escala continental (e quem sabe até em escala mundial), como se fosse uma orquestra regida por um bastão invisível. Esses satanistas exultam na destruição da inocência! Regozijam-se em fazer obras más, não porque o mal seja divertido


(geralmente nao é!), mas porque sabem que tais obras são pecados e ofensas a um Deus santo. Sabem que, uma vez que Jesus ama as crianças, então, para atingi-lo, eles as afligem com malignidades inexprimíveis. O que eles portam é bem mais do que uma simples “doença mental” ou uma “patologia social”. São máquinas infer­ nais, movidas por forças que a maioria das pessoas não pode nem mesmo imaçinar. Assim como costumamos falar de cristãos totalmente entregues ao Senhor Jesus, que verdadeiramente são seus servos, de igual modo Satanás tem seus “santos satânicos” — pes­ soas que farão de tudo para servir ao seu senhor. Será que há pes­ soas assim? Infelizmente, a resposta é afirmativa. Eu fui uma delas. Os que me treinaram eram pessoas totalmente entregues ao mal, e essa iniqüidade passou para mim por contágio espiritual. D e um m odo bem claro, solicitei que dem ônios m e possuíssem. Felizmente, an­ tes de Satanás ter condições de trazer à realidade os impulsos de ódio e matar o que havia de bom em mim, fui retirado como um tição da fogueira pelo poder de Jesus, e Satanás perdeu um de seus peões. • • • Aquele a quem o Filho libertar verdadeiramente será livre (cf. Jo 8.36). Se o conteúdo deste capítulo o incomodou, isso é com­ preensível. Mas entenda que nenhum desses males é uma surpresa para Deus. Tudo foi profetizado séculos atrás na Bíblia Sagrada. O Senhor ainda está, de fato, no trono. Deus está continuamente penetrando na imundície e no la­ maçal de todas as formas de satanismo e libertando os do Seu povo — e usando experiências por eles vividas para a Sua glória, para melhor poderem ministrar aos outros. Satanás pode ser um mestre em conspiração, mas o Senhor Deus tem o poder de prevalecer sobre os planos dele com um estalar de dedos. Muitos pensam que este conflito cósmico é um jogo de xadrez entre Deus e Satanás. Mas, não haja engano a este respeito. Satanás foi derrotado há 2.000 anos, e vem até nós tomado de grande ira, sabendo que pouco


tempo lhe resta (Ap 12.12). Estamos assistindo, hoje, a milhares de anos de profecia se cumprindo. Essas coisas terríveis que acabo de descrever não são senão os estertores finais da velha serpente, com a cabeça esmagada pela cruz de Cristo. N oI as 1 Pessoas famosas, como Jayne Mansfield e o cantor e ator Sammy Davis Jr., foram reconhecidas publicamente como pertencentes à Igreja de Sa­ tanás, de Anton LaVey. Outras, como o ator e diretor Roman Polansky e sua falecida esposa, Sharon Tate, andaram bem próximo dela. A confra­ ria satânica [nos Estados Unidos] tem uma poderosa base em Hollywood e na indústria do entretenimento. 2 R aschke,

Painted Black, p. 1 2 9 - 1 3 1 .

3 Ibid., p. 4 0 4 . 4 Veja o livro do autor Wicca: Sataris Little White Lie [Wicca: a Mentirinha Branca de Satanás], Chick Pub., 19 9 0 , p. 14 -4 9 , para um conhecimento mais amplo de sua carreira na feitiçaria. Nota do Editor — No Brasil, estatísticas correspondentes são, sem dúvi­ da, incomparavelmente maiores. 5 Office o f Criminal Justice Planning Research Update [Atualização de Pes­ quisa Planejada do Gabinete de Justiça Criminal], v. 1989/90;

1,

n. 6, inverno de

Occult Crime, a Law Enforcement Primer, Sacramento, CA, p. 10.

6 R aschke, op. cit., p. 35.

7 Dr. Lawrence Pazdur. Notas de uma palestra (sem data). s F re d e r ic k s o n , B. G. Hou> to Respond to Satanism [Como Responder ao

Satanismo ]. Concordia, 19 8 8 . p. 14. 9 R aschke, p. 3 1 .


“R

C A í e d r A l

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D o r ”

Na casa da dor, há dez m il santuários. — Aleister Crowley

€ ! u nada sabia a respeito da grande batalha cósmica entre Aquino e LaVey para ter o controle do que o público pudesse pensar acerca do satanismo. Isto porque me achava profundamente envolvido no que chamávamos de “a coisa profunda”, ou “a coisa preta”. O que, definitivamente, não era “a Coisa Certa”! Do que ouvíamos dizer, por pessoas ligadas ao ocultismo, achá­ vamos que tanto Aquino como LaVey ou estavam passando de leve sobre a superfície do satanismo, ou então estariam agindo como “promotores de venda” de uma mercadoria, alardeando suas quali­ dades para o público, a fim de atraí-lo para “a coisa profunda”. De qualquer modo, não eram objeto da nossa preocupação. Estáva­ mos nos desenvolvendo sobre os fundamentos do que havíamos aprendido em nossos vários encontros satânicos e prosseguindo até além da bizarra metafísica de Aquarius. O poder da magia fluía através de mim como nunca antes. Detesto dizer isto, mas o satanismo assumido é algo muito pareci­ do com um sistema de “marketing de rede”. Ou seja, eu me senti “arremessado para cima” para vir a me tornar um distribuidor de “produtos”. Desde que conseguira os meus “sete” adeptos, que


assinaram o pacto com o diabo, fiquei em condições de ser ordena­ do no sacerdócio satânico e nos níveis mais elevados — europeus — da Maçonaria. Satanás, de fato, “honra” seus escravos enquanto estiverem lhe dando resultados. Ele começou a me conceder pequenas “gratificações adicio­ nais”, especialmente depois de ter me tornado sacerdote satânico. Narcóticos fluíam como água pelos nossos grupos. Eu tinha tudo de que necessitava e nunca pagava um centavo sequer. As coisas simplesmente apareciam, de algum modo. Pequenos “milagres”, e às vezes nao tão pequenos assim, aconteciam. Descobrimos, por meio de nossa cristalomancia (arte de visão física através de relances de olhar em espelhos, cristais ou vidros con­ vexos) que um grupo satânico rival tinha surgido, não muito distan­ te de nós, proveniente de uma igreja jesuíta. Percebemos que estavam até mesmo envolvidos com o sacrifício de crianças — uma prática que, pelo menos até então, eu considerava repreensível. Nossos grupos declararam guerra espiritual a eles por meio da magia, e maldições fluíram de nós para eles e deles para nós com enorme rapidez. Uma noite, um ataque astral entrou em nosso quarto na forma de enorme e obscura figura, toda paramentada, com um punhal na mão. Enviamos nossos demônios para atacá-la, e dela não sobrou nada. Em uma semana, o grupo rival fez as ma­ las e mudou-se da cidade; declaramos então a vitória, promovendo uma grande festa. Como sacerdote de Satanás, eu podia, agora, ministrar ceri­ mônias de pacto. Nunca me esquecerei de uma delas em particu­ lar. Havíamos estabelecido o nosso “sério” templo satânico no sótão de uma enorme casa que alugáramos, próximo da Universidade Marquette, em Milwaukee. Havíamos pintado a parede do fundo do sótao totalmente de preto e colocado um enorme círculo mági­ co sobre o chão. Este era o local onde fazíamos nossos rituais “mais pesados”, por ser o ponto mais secreto da casa. Naturalmente, não permitíamos que nenhum de nossos alunos de “feitiçaria branca” entrasse ali.


Nesse local, eu me sentava num trono e ministrava como sa­ cerdote do Desolado — “o Poderosíssimo Príncipe Lúcifer” — com as pessoas ajoelhadas diante de mim, despindo-se de seu corpo e alma e entregando-os a ele, por meu intermédio. Enquanto cum­ pria-se esse antigo ritual, eu sentia a presença de Lúcifer em todo o m eu ser. Era como estar envolto num lençol de fogo intenso, que queimava, e às vezes, meu cérebro parecia estar derretendo. Quan­ do eu falava, acreditava que era Lúcifer que estava falando por meu intermédio, embora não tenha como confirmar que era isso mes­ mo. Como já foi dito, Lúcifer — diferentemente de Deus — não pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, e, portanto, poderia ser um dos príncipes do inferno — como os chamávamos. Contudo, fosse quem fosse, dizia ser Lúcifer. Por vezes, a voz que falava fazia vibrar as vigas daquele velho porão, e pequenas porções de poeira, de teias de aranha e de pó de madeira caíam sobre nós. Eventualmente, a pessoa que estava fa­ zendo o pacto encolhia-se para trás com medo daquela voz, e eu me sentia profundamente satisfeito em meu interior. Certa noite, uma mulher não se encolheu de medo. Sem ne­ nhum constrangimento, sem receio algum, ajoelhou-se diante de seu novo “dono” no centro do círculo mágico, dentro de um triân­ gulo de manifestação. Isto não é o que normalmente ocorre. O círculo é usado pe­ los praticantes da magia e pelos feiticeiros, de modo geral, para protegê-los de ataques demoníacos (ou, no caso da Wicca, para reprimir o cone de poder que se eleva de dentro do corpo dos bruxos). O triângulo de manifestação geralmente é colocado fora do círculo, e é onde o demônio tem permissão de aparecer, nas nuvens da fumaça do incenso. Assim, o feiticeiro fica dentro do círculo mágico e a energia do demônio é retida e concentrada dentro do triângulo. Naquele tempo, entretanto, achávamos que não precisávamos de proteção alguma em relação aos demônios. Na verdade, dávamos boas-vindas à presença deles e até à posses­ são do nosso corpo.


Assim, aquela mulher ajoelhou-se bem no meio do que consi­ derávamos o “ponto de impacto” dos demônios e prostrou-se, ro­ gando que todo demônio do inferno viesse para ela. Ela jurou pertencer a Lúcifer de corpo, alma e espírito. No encerramento da cerimônia, depois de ter vestido o manto de adoradora do diabo e escrito o seu nome no pacto, o poder ficou muito mais intenso ao meu redor. As muralhas tremeluzentes de ofuscante energia branca ao meu redor penetraram, queiman­ do, na mente dela também. Então formou-se uma pirâmide de poder que se arremeteu até as vigas do teto como um rojão, e o lugar voltou a ficar escuro e em silêncio, exceto... pelo ruído ca­ racterístico de algo como uma moeda de prata de um dólar caindo no piso de madeira negra, ali onde estávamos. Nós dois abrimos os olhos e... veja! Uma medalha dourada (talvez de bronze ou latão), não muito pequena, ainda rodopiando no chão, até que parou. Ficou então com sua face voltada para cima, e nela estava estampada um dos selos de Lúcifer. Tudo o que podemos dizer é que aquela medalha surgiu do ar, pois não havia mais ninguém no templo do porão! Naturalmente, a candidata ficou emocionada, pegou o me­ dalhão e depois passou a usá-lo como um pendente, levando-o para onde quer que fosse. Ela olhou para mim com temor, pois “eu” tinha feito algo aparecer do nada (se bem que eu nem sabia como aquilo tinha acontecido). Claro que eu não mencionei nada a ela de que tudo acontecera sem meu conhecimento e participação alguma de minha parte. O que acontecera é nas áreas do espiri­ tismo, como sendo obra de um médium físico, um fenômeno bastante raro de ocorrer. Assim, ambos nos sentimos bem satis­ feitos com nós mesmos. Era mais um “ossinho” que Satanás lan­ çava para o seu cachorro (eu) a fim de mantê-lo interessado na “brincadeira”.


R Rod.A-vivA de S a Ia iiá s!

O que o astuto leitor por certo já observou na vida de pessoas como eu, praticantes do ocultismo, é que elas se encontram numa constante busca para obter mais conhecimentos ocultos, pois “apren­ dem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Tm 3.7). Isto quer dizer que eu passei minha vida indo de um lugar para outro, atrás de novas iniciações, novas ordens secretas, novos princípios do conhecimento ocultista. É verdade. Aleister Crowley, meu ídolo de então (provavelmente no sentido mais literal possível), observou certa vez que o caminho de quem conhece a magia (daquele que já está num estágio avançado) é bastante semelhante ao alpinismo — esporte que ele conhecia muito bem. Disse ele que na magia, assim como acontece no es­ porte de escalar montanhas, é tudo uma questão de permanente esforço para subir, com pouco tempo para descanso. O alpinista praticamente não tem tempo para descansar quan­ do se encontra na parte íngreme de uma grande montanha, segurando-se com os dedos ou pinos encravados na rocha. E uma situação em que ocorre um desgaste contínuo de energias até a exaustão muscular e que exige muita força de vontade. E muito raro o alpinista chegar a uma parte plana ou a um ponto sem declive em que possa finalmente descansar. E é isso que o praticante da magia vive. Se relaxar, se “afrouxar” por um pouco mais de tem­ po, corre o risco de se soltar do seu gancho e cair no “abismo”, que é, como já foi dito, o equivalente ao inferno no ocultismo, onde se acaba morrendo de “acidente” causado pela magia. Isso acontece, em parte, porque na magia há sempre quem queira ou arruinar ou acabar com a vida de outros praticantes. É tal como ser um atirador. Há sempre alguém querendo provar ser melhor do que outros. As compensações por esse tipo de interação selvagem são muitas, pois há uma crença de que quem mata outro participante da magia recebe todo o poder de que o

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morto era dotado, e ainda os seus demônios e a sua sabedoria, em herança. Deste modo, aquele que mata vários outros bem desenvolvidos na magia acaba ficando com um enorme poder. Por exemplo, quando, numa determinada ocasião, o avião em que estava LaVey desapareceu no radar , os boatos na confraria eram de que ele fora assassinado secretamente por sua filha Zeena, que assim se "beneficiaria”, recebendo toda a sabedoria do seu pai, todo o seu poder mágico e os seus poderosos demoníacos. Aparen­ temente, esses boatos não correspondiam a verdade, mas esse tipo de coisa de fato ocorre com certa freqüência com satanistas menos conhecidos. E por que não?... O que, nessa sua ética totalmente distorcida, impediria de ocorrer tais guerras para obterem mais poder? É a sobrevivência do mais forte, não é? Outra razão para dedicarmos um permanente esforço em bus­ car novas iniciações, mais conhecimentos e maior poder é que Satanás fica empurrando seus adeptos para a frente. E a velha técnica de se conseguir alguma coisa com incentivos e, depois, com ameaças, se a pessoa fraquejar. Nessa “roda-viva” de Satanás, não dá para saber nunca o que a gente está para obter. Ele é um capataz demasiadamente cruel, que espera 1 1 0 % de seus escra­ vos. Assim, o satanismo tem suas estranhas formas de legalismo, tal como ocorre em qualquer religião que Satanás tenha criado, por todos os séculos. Fica-se permanentemente sob uma forte tensão, pois, se di­ minuir um pouco que seja o ritmo do nosso progresso, então, de duas, uma: ou isso fará com que a gente caia no seu desagrado total (condição em que ele nos expulsa, com a perda de todos os seus favores, podendo ate nos matar), ou um outro adepto da magia, em ascensão, nos ultrapassará, recebendo de Satanás um “poder extra” de magia que o capacitará a matar-nos ou, pelo menos, nos reduzir à condição de um debilóide total. E tal como no jogo C alabouços e D ragões, exceto que os riscos são inimaginavelmente mais elevados.


Essa situação leva o adepto da magia a ser um superempreendedor. Isso o torna extremamente ocupado, sem condições de dar um passo para trás e não tendo tempo para considerar, de um modo crítico, o que realmente está fazendo na vida. E desse modo que Satanás gosta de ver seus servos! E no contexto dessa desesperada, quase desvairada busca por obter “mais luz, mais sabedoria, mais verdade” que o estranho episódio narrado a seguir deve ser entendido. R V in d A dos I l u m i n ó i d e s

Eu nao tinha compreendido muito bem o fenômeno dessa luz ofus­ cante que experimentara quando da evidente presença de Lúcifer (ou, pelo menos, diante de energias luciferianas). De quando em quando, Orion deixava escapar um riso de escárnio alusivo à “luz”, mas ele se mantinha irredutivelmente calado a esse respeito. Eu nunca lhe disse que, por vezes, havia passado por estranhas expe­ riências de “fundir a cuca”, e não sei se ele dispunha de outros meios para saber disso. Por vezes, ele fazia veladas referências aos Illu m in a ti (vocá­ bulo latino que significa “Iluminados”). Fora-me dito, alguns anos antes, por um grão-mestre druida, que Illu m in a ti era um termo que se referia aos níveis mais elevados da magia e do druidismo, também conhecido como “A Grande Irmandade Branca”, ou a A... A... (que significa A rgentinium A strum , ou “Ordem da Estrela de Prata”). Eu já tinha também ouvido dizer que os Illu m in a ti eram lí­ deres de uma conspiração internacional de judeus, de anciãos de Sião, de jesuítas, extraterrestres malignos, comunistas ou ban­ queiros (ou de todos eles), que procurariam destruir os Estados Unidos. Como eu me mantinha demasiadamente ocupado, não dava tempo para sequer investigar e assim descobrir se quaisquer das explicações acima tinham algo a ver com a verdade. Nos me­ ses que se seguiram à minha experiência inicial de “epifania”


daquela luz branca, quente e ardente, Orion fez obscuras refe­ rências aos Illum inatti. Então, numa noite, passei por uma experiência bastante fora do comum. Não posso dizer se foi um sonho ou se foi real, mas foi uma viagem para fora do meu corpo físico (que se chama de proje­ ção astral). O fato é que as conseqüências do que aconteceu foram definitivamente reais. Aquela altura, eu já era um “viajante astral” freqüente. Saía do meu corpo repetidas vezes, por várias razões. Eu vinha prati­ cando a projeção astral por quase dez anos. No entanto, naquele dia em particular, foi muito diferente. Fui arrancado do meu cor­ po antes que pudesse me dar conta do que estava acontecendo. A imagem que eu tinha era a de ter sido puxado para cima, indo pelos “caminhos” da Árvore da Vida em direção à região de Binah, ou Saturno .1 Essa estranha e involuntária viagem levou-me a um enorme templo escuro, em meio a estrelas que giravam próximas do que parecia ser o anelado planeta Saturno. O templo era completa­ mente escuro, sem reflexo algum em sua superfície. Era angular, estranho e diferente de qualquer estrutura que eu tivesse já visto, exceto que o motivo arquitetônico predominante era o trapézio. (O trapézio é uma das formas mais sagradas para Satanás, por motivos por demais complexos para relatar aqui.) As torres do templo inclinavam-se o suficiente para deixar qualquer um apreensivo, e, até mesmo do exterior, os ângulos e a geometria do lugar pareciam fora de padrão. Fui levado a uma porta trapezoidal, que era ainda mais escura do que o próprio tem­ plo, se é que isso seria possível. Uma vez dentro daquele templo negro, observei haver salas externas cheias de uma misteriosa luz esverdeada. O lugar parecia ser de fato real, e dei uns beliscões em mim mesmo para ver se eu não estava dormindo, mas não senti nada. O que eu sentia era a lisura do piso, gelado e negro, sob os meus pés descalços, e a pele arrepiada em todo o meu corpo como uma realidade.


A ÁRVORE DA VIDA: REGIÕES PLANETÁRIAS E “DEUSES” Turbilhões Primordiais (Centro Galáctico)

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Dor

Saturno “Kerridwen “Cronos”

Vênus “Afrodite" Rhiannon

Mercúrio “Thoth” “Hermes”

Terra “Gaia'’ Deméter'

Alguém se aproximou, vestido com um simples manto bran­ co. Era um senhor honrado e de certa idade, com uma bela cabeça de cabelos brancos e ondulados, tendo um delicado bigode bem aparado. Ele nao era, absolutamente, quem eu esperaria encontrar

M7


num lugar como aquele. Com uma voz amável e ressonante, ele cumprimentou-me e apresentou-se como sendo “Mestre H ”. Disse-me que seria o meu mentor e guia e me convidou a segui-lo, dirigindo-se às partes interiores daquela soturna cidadela negra. Nada poderia ter-me preparado para o que me esperava. A

C A t e d r A l

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D o r

O salão ao qual entrei assemelhava-se a um templo, talvez tão am­ plo quanto o de uma igreja de bom tamanho. Não havia em que sentar-se, apenas um altar em forma trapezoidal numa plataforma um pouco elevada, no centro. O altar era feito de um concreto aparente e rústico. Nele havia vigas de ferro retorcido projetandose em todas as direções e estavam visivelmente manchadas de san­ gue. Uma dessas vigas levantava-se atrás do altar formando uma rude cruz de cabeça para baixo. Por trás do altar, havia um trono, num plano mais elevado, que chamava a atenção de um modo impressionante. Era preto, absolutamente liso, e estava vago. Sen­ ti-me um pouco aliviado por não haver ninguém nele sentado. Contudo, era a única coisa naquele lugar que tinha uma aparência tranqüilizante. Meu distinto guia voltou-se para mim e começou a gesticular com muito entusiasmo, mais ou menos como se fosse o maestro de uma orquestra. E disse, então, sem alardes: — Bem-vindo à Catedral da Dor. Com estas palavras, luzes com um brilho obscuro surgiram silenciosamente por trás das paredes daquele amplo lugar, e eu fi­ quei tão assustado com o que vi que senti-me tomado de forte aflição. As paredes, que antes pareciam pedras pretas lisas e incli­ nadas, revelaram-se como sendo totalmente de vidro transparente, retendo em seu interior um fluido também transparente. Flutuan­ do dentro daquele fluido, havia dezenas, se não centenas, de cor­ pos humanos, nus! Estavam todos mortos, a maioria deles com a expressão de um intenso terror, demonstrado por uma contração


em sua face congelada. Muitos estavam mutilados, de modo tal que me causaram asco. Na sua maior parte, aquela grotesca vitrina, semelhante a um aquário, continha corpos de pessoas jovens. Quase todos pa­ reciam estar entrando na fase adulta, mas entristeci-me ao ver que havia ainda muitos meninos e meninas, e até criancinhas de menos de três anos, flutuando junto com os demais. Era como se estivessem preservados, flutuando num formaldeído ou em alguma funesta substância, tal como uma coleção de borboletas do inferno. Aquele cenário demoníaco circundava-me de todos os lados, exceto de um, daquele salão que agora dava para ver que tinha nove lados. Nove é um dos números mais apreciados pelos satanistas, pois é o único número que se reduz a si mesmo, sem­ pre .2 Somente a parede atrás do trono se mostrava ainda como sendo de pedra preta. — Esses aí são os filhos do Mestre — proclamou meu guia, com um estranho orgulho em sua voz. — Não são belos? Minha garganta ficou tão seca que eu nem conseguia dar-lhe uma resposta. É incrível, mas de um modo sinistro muitos deles eram belos. Envergonho-me de ter reagido com certa lascívia à vista de muitas das mulheres que flutuavam à minha frente. Era como se eu estivesse tendo o pesadelo mais desagradável que se possa imaginar, mas tudo me parecia ser muito real. — Todos os que morrem desta maneira são privilegiados de pertencerem ao Mestre — explicou-me H. — E agora você perrence a ele também, para sempre! Sua última afirmação foi como um mau agouro já consu­ mado, fazendo sentir-me atingido por dolorosa punhalada de terror, já me vendo flutuando atrás das paredes de vidro daque­ le maldito lugar. Antes que tivesse condições de falar ou de fazer qualquer coi­ sa, um raio de luz caiu do teto, trovejando, vindo de cavernas não vistas, atingindo o trono escuro com uma luz tão intensa e brilhan­


L ü ci fe r DeslronAdo

te que fez com que eu nao conseguisse mais ver aquelas horríveis imagens dos corpos flutuantes ao meu redor. Saindo daquele feixe de luz, surgiu um enorme ser, difícil de descrever. Vestia também um manto branco e tinha cabelos bran­ cos que caíam sobre seus ombros, dos quais saíam poderosas asas. Todavia, tudo nele se alterava a cada segundo. Num momento, parecia um homem normal, mas extremamente bonito, vistoso. No momento seguinte, a cabeça de um touro; e depois, a face de uma bela mulher. O brilho da luz e as rápidas alterações na aparên­ cia do a;Í2:antesco ser diante de mim fizeram com que meus olhos ardessem e lacrimejassem, a ponto de ter que coçá-los. Sentia uma forte disposição de mantê-los abertos e estava totalmente atônito diante da realidade daquela experiência. Meu guia, H., me fez dar uns passos para a frente e ajudou-me a deitar no piso daquele frio altar de concreto. Até me senti aliviado por ele não haver-me acorrentado ou coisa similar. Perguntava a mim mesmo como fugir dali. Eu não tinha idéia alguma de onde estava, ou se não estava em algum lugar que não fosse na minha cabeça insana. Não podia imaginar, no entanto, como a minha mente poderia ter concebido um lugar tão horrível como aquele, mesmo num pesadelo. Senti-me estranhamente estimulado enquanto deitado no al­ tar. Era como se o meu medo tivesse sido entorpecido pelo poder que fluía daquele ser cintilante no trono. De repente, surgiram dezenas de pessoas. Homens e mulheres vestidos tal como o meu guia, exceto que portavam um capuz na cabeça. Por estranho que pareça, eu ouvia o fraco som dos seus passos de pés descalços sobre o piso do templo. Começou então um cântico em Latim: “Ave, Satanas; rege, Satanas” (Salve, Satanás; reina, Satanás) em tons profundos de bai­ xo — como cantos gregorianos, mas em tons muito estranhos. — Você experimentou da iluminação do nosso Mestre, o Por­ tador da Luz, e foi achado digno de receber a Luz — disse-me o meu guia. — Você se rende à Luz?


Minha cabeça parecia estar zumbindo, mas mesmo assim senti-me calmo e relaxado. Consegui dizer “sim”, e a cantoria cresceu em intensidade. Repentinamente, o ser sobre o trono levantou-se. Fiquei impressionado ao ver como era alto. Procurou esforçada­ mente firmar-se de pé, com as pernas abertas, sobre o altar, do mesmo modo que um adulto tentasse montar num velocípede. Estendeu, então, sua mão esquerda e a colocou sobre a minha tes­ ta. Tive que fechar os olhos por causa da luz fortemente brilhante. Parecia que meus olhos estavam se transformando em ferro derretido. Minha fronte estava prestes a explodir. Senti o rasgo de uma garra no centro da minha testa, um pouco acima das sobran­ celhas, entrando até o meu cérebro, como se fosse uma barra metá­ lica incandescente. Quis gritar, mas não consegui. Todo o meu corpo sentia-se como se fosse estourar, por ter-se enchido de uma extraordinária luz ardente. Outra garra tocou em mim, e senti a dor de uma forte ferroada. Então, as duas mãos se afastaram, e uma voz falou; era a mesma voz que eu já tinha ouvido e que surgira dentro de mim várias vezes em que estava celebrando um ritual. — “A gora você m e p erten ce para sem pre!” O som de uma centena de vozes de repente ressoou por todo o salão, cantando: — “Glória e am or a L úcifer! Ódio!, ódio!, ódio! a Deus, am aldi­ çoado!, am aldiçoado!, a m aldiçoado!” Parecia que a garra ardia dentro da minha mente. Meu corpo estremecia-se todo, estendido sobre o altar, com o poder daquele cântico. Sentia-me como um peixe preso num anzol, sendo arras­ tado para fora d’água pelo meu próprio cérebro. Quis soltar um grito de dor, mas o que saiu foi: — “Glória e am or a L úcifer! Odio!, ódio!, ódio! a Deus, am aldi­ çoado!, am aldiçoado!, am ald içoa do!” O ensurdecedor estrondo de um trovão atingiu a catedral. Fui arrastado para fora do altar a uma incrível velocidade e levado para aquele terrível aquário de cadáveres. Por um segundo, pensei que


fosse ser colocado no meio deles. Por fim, consegui dar um gri­ to. Mas, antes que o grito terminasse, eu já havia ultrapassado o aquário e viajava no que parecia ser o relâmpago de um raio pas­ sando pelas nuvens e movendo-se rapidamente em direção à terra. Em menos de um segundo, achei-me deitado, de barriga para baixo, sobre a relva molhada pela chuva do quintal da minha casa, envolvido pelo inconfundível aroma do ozônio. A grama ao meu redor parecia estar estranhamente chamuscada, e uma fumaça su­ bia do sramado como se estivesse sendo assado ao calor do sol da tarde de um dia de verão. Foi tudo um sonho? Não dá para dizer. Mas, se foi, eu vim, em sonambulismo, do meu quarto para o lado de fora da casa, até o meio do jardim, debaixo de uma forte chuva, sem acordar ninguém. Nunca fui sonâmbulo. E Sharon, por sua vez, desperta ao menor ruído. Minha vida mudou profundamente a partir daquele dia. Se aquele ser com quem me defrontei era de fato Satanás, ele me dera uma marca que eu levaria por muitos anos, a partir de então. Essa marca era um sinal de que eu era propriedade dele e me fazia nun­ ca esquecer-me disso. Pode ter sido um pesadelo, mas um pesadelo do qual eu poderia ter nunca mais acordado. Not

AS

1 Na Cabala, a Árvore da Vida é composta de dez esferas, oito das quais têm o nome de um planeta. Essas esferas são ligadas por 22 caminhos, correspondendo cada um a uma letra do alfabeto hebraico. Para os ma­ gos cerimoniais, é comum a projeção astral, por meio de cartas de Tarô — que se relacionam com os caminhos — , usando-as para viajar por eles a diferentes esferas planetárias. Esta técnica avançada é chamada de “ope­ ração caminho”. 2 Na numerologia, ou gematria, do ocultismo, com o número 9 ocorre o seguinte: 27 é múltiplo de 9; 2+7=9. 63 é múltiplo de 9; 6+3=9. 9x62=558; 5+5+8=18 e 1+8=9. E muito curioso, mas este esquema funciona sempre com qualquer múltiplo de 9.


Os S A d u c e u s de H o j e

Não ameis o mundo nem as coisas que há no m un­ do. Se alguém am ar o mundo, o am or do Pai não está nele. — 1 João 2.15

f X lu ita s vezes, quando estou falando a respeito do satanismo em igrejas, surge a seguinte questão: “Por que estamos vendo todas essas coisas acontecerem atualmente? Meus pais nunca ouviram falar de adoradores de Satanás, nem de pessoas sendo possuídas pelo diabo. Se tudo isso é verdade, por que a Igreja não vem tratan­ do dessas questões há mais tempo?” É uma importante questão e que merece uma resposta séria. Isso em parte acontece porque há pessoas, tanto incrédulos como crentes sinceros, que gostariam que acreditássemos que tudo o que temos ouvido sobre satanismo e opressão demoníaca é apenas o produto de mentes perturbadas, de sensacionalismo por parte de jornalistas ou, até mesmo, de ministros do evangelho. Alguns líderes cristãos não conseguem imaginar que toda essa situação é uma realidade há vários séculos, bem debaixo do nariz da Igreja, e que ninguém tinha descoberto isso a não ser há cerca de algumas décadas. Eles questionam por que o discernimento do Espírito não teria detectado tudo isso. Também fazem perguntas


do tipo: “Onde estão os corpos e outras evidências físicas que com­ provem todos esses supostos rituais?” Ou, ainda: “Como é que es­ ses satanistas conseguem pessoas para serem sacrificadas?” Essas perguntas refletem um ingênuo entendimento tanto da história da Igreja com o dã natureza hum ana. Tais pessoas desconhe­ cem o impacto de duas heresias que andam de braços dados — o racionalismo e o cientifismo. ou cientismo — sobre a cultura oci­ dental, atingindo até mesmo a Igreja. Somos, hoje em dia, pressionados por duas cosmovisÕes: uma que vê o mundo com uma base bíblica, e outra, modernista e secular. E triste, mas são muitos os líderes da Igreja que procu­ ram ser bons servos do Senhor e que, ao mesmo tempo, ainda dobram os joelhos a Baal diante dos altares da ciência e do secularismo. E bem possível que eles se regozijem diante da res­ peitabilidade que o cristianismo tem alcançado em certas áreas da sociedade, mas ficam com um pé atrás diante das palavras de quem esteja falando sobre Satanás ou demônios, tornando-se, assim, confusos a esse respeito. Muitos desses cristãos são totalmente sinceros. Infelizmente, são tal como um peixe em relação à água em que vive: nem a per­ cebe. Não têm percepção alguma da influência negativa que a cul­ tura ocidental lhes tem impingido. Nossa cultura é contagiante e tem sido ainda mais influente com a onipresença da televisão e do rádio. A aceitação inocente, sem qualquer avaliação, de pressupos­ tos culturais pode ser a causa de sérios problemas quando a pessoa estiver face a face com as garras sanguinárias de Satanás. Os S A d u c e u s G s t l o d e V oI í a

A maioria dos cristãos, até mesmo líderes e instrutores, não leva muito em consideração a esfera espiritual. Este é o fenômeno que um missiólogo, Dr. Paul Hiebert, chamou de “o meio excluí­ do” .1 O que isto significa é, simplesmente, que a maior parte das


pessoas das nações industrializadas do Ocidente acredita no mun­ do racional de todos os dias, que inclui carros, telefones e tudo o mais, mas dão muito pouca (ou nenhuma) atenção às coisas da realidade espiritual. É certo que os cristãos do mundo ocidental acreditam em Deus e em Jesus Cristo. Reconhecem, de fato, a existência da Trindade do Pai, Filho e Espírito Santo. Crêem (assim espero) na Bíblia e nos registros históricos que ela contém. Todavia, normalmente con­ seguem ver apenas duas dimensões: 1) A do mundo “real” do dia-a-dia da vida. 2) A dimensão de Deus. Deste modo, detêm uma mentalidade essencialmente ociden­ tal, pós-racionalista (isto é, científica, empírica), que não é real­ mente bíblica. Esquecem-se de que a Bíblia é um livro oriental, escrito por homens inspirados pelo Espírito Santo (2 Pe 1 .2 1 ). A visão bíblica (ou seja, a visão do Senhor) não é particularmente, ocidental ou racionalista. É uma cosmovisão pela qual, quase todo dia, acontecem encontros do divino, angélico e humano. E é esta a mentalidade que permanece pela maior parte do mundo afora, uma mentalidade que inclui um mundo acima das atividades humanas diárias, com as quais nos ocupamos em todo o tempo, mas abaixo do mundo de Deus. E a região dos anjos (tanto eleitos como ma­ lignos) e demônios. E a região do meio, que está faltando, e que foi “excluída” do pensamento da maioria dos cristãos ocidentais. Já conversei com crentes, que são sinceros e inteligentes, mas que acham que a esfera espiritual tem muito pouco, ou nenhum, efeito sobre a vida deles. Admitem que talvez haja um demônio que por vezes atue, por exemplo, na China, e que pode acontecer que alguém, ao passar por uma grande dificuldade, possa ter a visão de um anjo. No entanto, em sua quase totalidade, rejeitam a possibilidade de uma interação diária com a esfera sobrenatu­ ral. Alguns deles a té m esm o estão totalm en te con ven cid os d e que tal interação é im possível.


De certo modo, podemos comparar tais pessoas com a antiga seita judaica dos saduceus, do tempo de Jesus. A aristocracia teoló­ gica judaica naqueles dias estava essencialmente dividida em dois grupos: os fariseus e os saduceus. O ponto que mais diferenciava a seita dos saduceus é que eles não acreditavam na ressurreição, nos anjos e nos espíritos.- (Veja Mateus 22.23; Atos 23.8.) Os saduceus eram religiosos muito devotos. Ninguém ja­ mais duvidaria da sua condição de judeus religiosos de primeira ordem. No enranto, n egavam a esfera espiritual e a ressurreição dos mortos. Embora grande parte dos cristãos de que estamos falando, que negam ou ignoram a esfera espiritual, realmente creia na ressurrei­ ção dos mortos (assim espero!), é, porém, sob vários aspectos, se­ melhante aos saduceus. São piedosos, religiosos, certamente verdadeiros crentes no Senhor Jesus Cristo. Apesar, no entanto, de seu zelo e de se apegarem à “sã doutrina”, passam por cima de tudo o que se refere à esfera de anjos e demônios, pois isso os levaria para longe da região em que se sentem confortáveis. Isso faria com que o que é divino e sobrenatural afetasse o prazer que sentem na vida, no dia-a-dia. Eles têm procurado confinar Deus dentro de uma caixa. Tal como os saduceus, erram “não conhecendo as Escri­ turas nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Contudo, para os cristãos das nações assim chamadas do “Ter­ ceiro Mundo”, cristãos que atuam na linha de frente da batalha espi­ ritual, ter encontros com agentes espirituais de Deus ou do diabo é algo comum, corriqueiro, tal como lhes é trivial, diariamente, faze­ rem uso de um fogão ou uma geladeira. E tudo uma questão de qual é o “filtro” através do qual processamos as informações de que dispo­ mos. Esses cristãos buscam evidências do poder de Deus nos aconte­ cimentos de cada dia, dando-lhe glória e louvor pelos “pequenos” milagres que Ele faz, tanto quanto pelos grandes. Os cristãos que não encontram lugar para as questões demo­ níacas e angelicais em sua vida acham-se, infelizmente, fora da re­ alidade apresentada pela B íblia e, em especial, pelo Novo


Testamento. Sem que o tenham percebido, assimilaram da menta­ lidade secular e da cultura ao seu redor. Acabaram, inocentemente, caindo na mentira de Satanás. Sua mente e seu espírito foram trei­ nados a ver qualquer evidência de uma intervenção divina em sua vida como mera e feliz coincidência. Sao eles os saduceus moder­ nos, que, em sua forma de pensar, dão toda a primazia à ciência. V e n d o o DÍAbo em T u d o ?

No que se refere à ação demoníaca dentro da esfera espiritual, há sempre o perigo de se cair no extremo oposto. C. S. Lewis faz uma conhecida observação, em seu livro The Screw tape Letters [Cartas do Inferno], de que há duas mentiras que Satanás promove de um modo especial: a plena negação da existência do diabo, ou, então, uma ênfase exagerada a Satanás e seus servos, desenvolvendo assim uma obsessão doentia. Quero dizer que não estamos promovendo a segunda alternativa, de jeito nenhum. Freqüentemente aqueles que ministram nesta difícil área são acusados de “ver demônios em tudo”. Chegam a dizer que eles vêem demônios até na própria sombra. Eu, em particular, posso dizer com segurança que nunca vi demônio algum desse jeito. Tam­ bém não quero negar que alguns dos que oram para a libertação de pessoas sob opressão demoníaca acabam deixando de ter uma po­ sição equilibrada. Não obstante, não é pelo exagero de alguns que devemos ignorar a esfera espiritual e abrir mão do nosso dever de enfrentar batalhas espirituais. Há quem exagere em suas orações por aqueles que se acham enfermos. E isso significa que não deve­ mos orar pelos doentes? Creio que bem poucos o recomendariam. No entanto, a libertação espiritual é tão importante quanto as de­ mais áreas do nosso ministério na igreja; mas tem sido negligenci­ ada, para prejuízo do rebanho. Há, porém, realmente, aqueles que atribuem tudo como sendo da esfera demoníaca. Expulsam demônios das mínimas coisas; até mesmo das frieiras nos pés. Ou culpam os demônios por


qualquer pecado da carne. Obviamente, isso não é razoável nem bíblico. Mas não podemos permitir que os abusos de alguns ve­ nham a destruir as bênçãos que são alcançadas por aqueles que realmente estejam querendo praticar o discernimento e a oração segundo a Bíblia. A verdade, porém, é que aqueles que optam por ignorar a es­ fera dos anjos e demônios — esse “meio excluído” — também tendem a negar a existência de qualquer ameaça por parte do satanismo. Evidentemente que o fato de que existe, de fato, grupos satânicos que praticam o mal constitui uma ameaça à sua cosmovisão. Abala a sua confortável e acanhada percepção do modo pelo qual a realidade funciona. í H a I C o m " 111 “

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Os relatórios que sao divulgados sobre abusos rituais e satanismo mostram um tipo de mal praticado que vai além da esfera natural. Revelam um m al sobrenatural, que chega a abalar a estrutura das pessoas, até mesmo das mais equilibradas. Uma evidência dessas indica que o diabo ainda está, de fato, vivo, e passando muito bem, intrometendo-se dia a dia nas atividades humanas. Nao é um conceito que agrade os cristãos que estão procuran­ do teologizar o diabo e seus demônios, considerando-os inexistentes ou colocando-os em alguma “prisão espiritual” até a chegada da Tribulação. Lembro-me de alguns professores meus, do Seminário Católico, que nos ensinaram que não existe algum mal com “M ” maiúsculo. Segundo eles, todo o mal que existe é um mal social (pobreza, guerra, racismo, injustiça) e humano. Um Mal nítido, puro, cósmico, seria uma concepção por de­ mais assustadora para um pensamento teológico liberal. E a ra­ zão disso, de certo modo, é que um Mal assim necessitaria da existência de uma divindade pura e cósmica — conceito do qual não têm muita certeza.


Não obstante, quando começamos a nos deparar com a malignidade dos atos praticados em crianças (e até mesmo em adul­ tos) que o satanismo apresenta, não temos como aceitar que isso seja decorrente de um mal ou neurose social. O fato é que homens como Jeffrey Daumer 3 e Adolf Hitler 4 não podem ser explicados simplesmente por má criação ou necessidades não supridas na infância. A única explicação plausível é que eles foram atingidos por uma satânica blitzk rieg [palavra alemã que significa ata q u e rep en tin o , o qual era, justamente, o que o exér­ cito de Hitler mais praticava], e esse ataque os contaminou de uma malignidade transcendental — que a mente humana nem pode imaginar. Contudo, este é um conceito que não entra na mente da nossa cultura, por estar muito próximo daquelas duas malfadadas pala­ vras “tabus”, quais sejam, “pecado” e “inferno”. Vem de encontro aos conceitos teológicos de muitos cristãos, cujo entendimento do cristianismo é que se trata de uma instituição em que se entra para ser salvo, passando a integrar o clube do “Deus Me Abençoe” e ouvir sermões e participar de eventos sobre como ser melhor pai ou mãe, como ser próspero e como melhorar a auto-estima. Esquecem-se tais cristãos de que o exemplo mais notável d e autoestim a é o d e Satanás. Esquecem-se de que o cristianismo deve ter uma voz profética na cultura, e não render-se aos valores da cultu­ ra. É muito certo e bom que os pregadores cristãos se voltem con­ tra o aborto ou contra o movimento pelos direitos dos homossexuais. No entanto, muitos desses pregadores têm-se deixado levar por valores bem mais sutis e perigosos da cultura, em aspectos bem mais insidiosos. São afetados por uma mentalidade mundana, ori­ entada por marketing, centralizado na mídia, tendo uma visão da Igreja e sua função baseada na Psicologia moderna. Tal concep­ ção não os protegerá, nem às suas ovelhas, quando os ventos de enxofre de Satanás começarem a soprar fortemente em seu santu­ ário acarpetado e provido de ar condicionado, levando o rebanho ao desespero.


Assim, precisamos estar atentos de que a nossa cosmovisão e as nossas expectativas sejam baseadas na Bíblia. Temos de reexaminar nossos pressupostos de como o universo funciona. E, acima de tudo, precisamos parar de nos ajoelharmos diante dos falsos deuses do secularismo e “da falsamente chamada ciência” (1 Tm 6.20 — Rc). Tendo estas considerações em mente, fica fácil compreender por que tais questões são levantadas sobre o satanismo. Procurare­ mos responder a estas questões, em espírito de oração. N oías

Quebrando as Correntes. Ed. Mundo Cristão, 1994. p. 33. : E lw e ll, Walter A. (Ed.) The Shaw Pocket Bible Handbook [Manual Shaw 1 A x d e rs o n . Neil T.

Bíblico de Bolso]. Wheaton, USA: Harold Shaw Publishers, 1984. p. 378. 3 Jeffrey Daumer foi condenado, em Milwaukee, por atos terríveis de tor­ tura homossexual, assassinato e possível canibalismo de jovens e meni­ nos. É apenas um dos muitos casos, ocorridos recentemente, de criminosos que cometeram “assassinatos em série”, levados, certamente, pelo Mal sobrenatural. O claro envolvimento de Daumer com o satanismo foi, evidentemente, desprezado. 4 A par dos inúmeros crimes de Hitler, e do seu pseudocatolicismo, ele era também profundamente envolvido no ocultismo. Era iniciado num gru­ po teosófico chamado Thule Gesellschafi e fez com que sua organização SS desenvolvesse uma agência para o estudo da magia e do satanismo chamado Annerbe. Para mais informações sobre o conteúdo ocultista e satânico da filosofia nazista, veja a obra de LaVey The Satanic Rituais [Rituais Satânicos]; Hitler: the Ocidt Messiah [Hitler, o Messias Ocultista], de Gerald Schuster; e ainda The Twisted Cross [A Cruz Quebrada], de Joseph Carr (autor cristão).


4’ . . . R Í I l A l d i ç Ã o s e m n l o se C u m p r e ”

Causa

T orn ei-m e um a m on stru osa m á q u in a d e aniquilação... — Ritual de Destruição, Bíblia Satânica, Anton LaVey

elizmente, para o bem da minha sanidade mental, somente fui chamado a voltar à “Catedral da Dor” umas poucas vezes. Não consegui, em nenhuma das vezes, descobrir se se tratava de um lugar real, um templo astral ou um local de encontro criado pelos satanistas. Contudo, as lembranças dessa experiência perseguiramme por muitos anos. Discuti com Sharon o que eu conseguia lembrar-me dessas viagens, e ela ficou um tanto perturbada. Por incrível que pareça, eu sentia que meu cérebro estava diferente. A impressão que me dava é que estava carregando uma peça m etálica em torno da minha cabeça. Era como se alguma coisa, de uma tecnologia alienígena, tivesse sido inserida no meu lobo frontal. Mas, não importa o que fosse, eu não havia ficado com cicatriz alguma — exceto na cabeça. Assim, como eu poderia saber o que tinha acontecido? Uma parte do meu ser e'stava temerosa, e outra parte, excita­ da. Teria sido admitido no misterioso e augusto corpo dos


IlluminatP. Se fora, o que isso significava para a minha busca de conhecimento e de poder do ocultismo? De um modo bastante estranho, essa pergunta foi respondi­ da num dia em que Orion entrou em contato comigo inespera­ dam ente. Disse-me estar vindo a M ilw aukee a negócios e perguntou se não nos importávamos se aparecesse em nossa casa. Embora nem Sharon nem eu nos entusiasmássemos muito com ele e seus acompanhantes, sentimo-nos mais ou menos obrigados a convidá-lo. Ao chegar, irrompeu portas adentro de nossa casa com sua característica risadinha sem graça, que me lembrava uma hiena. Além daqueles que normalmente trazia consigo, veio ainda um sujeito que eu não conhecia, que era de pele bem morena e de pequena estatura, com um bigode bem aparado e uma careca apa­ recendo à frente de um ondulado cabelo bem preto. Orion me chamou para ficar a sós comigo num quarto à parte, levantou as mãos e as agitou à moda daqueles antigos pregadores negros avivalistas, e disse: — Ouvi dizer que você viu a Luz! Para meu espanto, sacou de dentro do seu bolso um papel, ou melhor, um pergaminho, que declarava ser eu um membro de primeiro grau dos Illu m in a ti. Não me deu o pergaminho, mas deixou-me vê-lo. Explicou-me que iria mantê-lo consigo até que eu atingisse níveis mais elevados e provasse, assim, ser “digno” de ficar com o papel. Observei que o documento estava assinado com um estranho selo sob a forma de uma folha com letras escritas à mão. Perguntei-lhe então que assinatura era aque­ la. Seus olhos saltaram para fora, e ele deu aquele seu sorrisinho, dizendo: — E a assinatura do Mestre, meu irmão. Da mão do Mestre! Ele estava quase fora de si, de alegria. Dava até para eu imagi­ nar uma cauda batendo, saindo do traseiro dele, bastante agitada, talvez até mesmo com uma seta na ponta!


Explicou-me Orion que essa minha nova ‘ promoção” por parte das altas patentes dava-me condições de copiar e estudar mais pá­ ginas dos livros sinistros de Satanás e que teríamos de ter rituais de sangue com maior freqüência. — Você tem que se preparar para o Maior de Todos! — riu ele, com uma gargalhada casquinada. Eu sabia, por minha experiência passada, o que Orion queria dizer com “o Maior de Todos”. Referia-se ao sacrifício do que é chamado, entre os praticantes do ocultismo, de le cab rit sans cornu — em Francês, “o bode sem chifres”, ou seja, um ser humano. Embora isso fosse um elemento do satanismo e do vodu que eu sempre tivesse procurado desconsiderar em minha mente, sabia ser uma terrível realidade. As assombrosas experiências por que passa­ ra naquela apavorante “catedral”, porém, haviam-me marcado de um modo tremendo, como eu jamais poderia ter imaginado. Ti­ nha me esquivado até então de pensar no assunto e cheguei até mesmo a admitir que nunca consideraria o sacrifício humano como uma possibilidade em minha vida. Mas é impressionante como a mente humana consegue racionalizar as coisas para que possam ser aceitáveis. Um sentimento abrasador, que em mim nunca houve senti­ do, brotou, então, dentro de mim. Meu interior foi quase todo tomado por uma excitação ante a perspectiva de dar uma vida hu­ mana em culto a Satanás. Orion pôde ver, evidentemente, algo em meus olhos, pois sor­ riu tal como um gato que acaba de engolir um passarinho. — Não dá para esperar, hein? Você tem razão. É, talvez, me­ lhor até do que sexo! — disse ele, mais uma vez com o seu sorriso característico. Sentou-se ao meu lado no sofá. — Não se preocupe, meu irmãozinho, vamos iniciá-lo nisso com a maior facilidade! — prometeu.


Não sei se ele sabia quanto me irritava ser chamado de “irmãozinho”, especialmente por ele, aquele sujeitinho com cara de rato, mas com certeza essa expressão tornou-se uma coisa terrí­ vel para mim. E ele chamar-se desse modo era, também, um tanto incongruente, já que eu era uns 25 centímetros mais alto e pesava uns 30 quilos a mais do que ele. Além disso, acho que era também mais velho. Mas consegui esconder minha irritação. Pelo que sabia, podia ser um dos demônios dentro dele que falava, e esse demônio talvez fosse bem maior do que eu, ou até uma casa, e com milhares de anos de idade. De modo que aquilo me aborreceu mais do que nas vezes anteriores, mas senti não ter deixado que ele percebesse. Orion reclinou-se no sofá, demonstrando sentir-se magnâni­ mo, o que o impediu de ver qualquer problema em mim. — Não se preocupe. Muitos irmãos ficam nervosos na sua primeira vez. E mais ou menos como sexo; a primeira vez é a mais complicada. Mas temos nossos métodos. De novo sorriu ele, e parecia estar pronto para uma nova série de risadinhas, quando prosseguiu: — E necessário que você tenha um candidato para a oblação que esteja mais que disposto, quem sabe uma pessoa jovem, mas que tenha idade suficiente, ou esteja dopada, a ponto de não gritar mui­ to, que se ofereça de bom grado como uma dádiva ao Mestre. Desse jeito, fica bem mais fácil. A pessoa se dá morrendo, irmãozinho! Você nao vê a hora de fincar o punhal no coração dela! Orion sorriu de um modo que poderia parecer angelical na face de qualquer outra pessoa. E concluiu: — É como dizem: a morte é a última viagem. É por isso que as pessoas a evitam até o último momento! Fiquei conturbadamente incitado com as imagens que esse monólogo absurdo fez surgir em minha mente. Minha boca estava um tanto estranha, como que querendo alguma coisa — mas o quê? Senti um gosto metálico na boca, como se tivesse acabado de tomar uma dose de LSD. Morte? Querendo matar? Seria isso que


C u m p re se í i ão a us a

C sem íllAldiçÃo

eu estava sentindo? Uma parte do meu ser sentia uma aversão, mas era praticamente vencida pela excitação dos impulsos que agita­ vam meu interior. Orion, com um gesto de camaradagem, bateu de leve no meu joelho e disse: — Não se preocupe, não será de imediato. Temos de fazer certas coisas antes. Quem sabe começando com algumas oblações menores... — De que tipo? — consegui perguntar, mesmo com a boca totalmente seca. — Bem, em parte é por isso que estou aqui. Você viu esse cara que eu trouxe comigo? Meneci a cabeça em sinal de assentimento. — Seu nome não é importante agora. Esse sujeito é um m ehum [nossa desdenhosa palavra em código significando “mero hum ano”, isto é, um simples ser humano que me procurou em Chicago. Ele quer dar um jeito na sua ex-mulher. Pagou-me em “dinheiro vivo” para fazer um trabalho psíquico contra ela. Parece que ela está lhe causando muitos problemas; tem a custódia dos filhos, mas é um tanto desequilibrada. Você conhece esse tipo de história. Ele prosseguiu com a sua trama: — Disse-me que daria sua alma ao Mestre se conseguíssemos uma maldadezinha feita à distância. Entende o que eu quero dizer? — Sim. E qual é o meu papel, nesse caso? Orion encolheu os ombros. — Bem, achei que você gostaria de colaborar com suas energias para essa maldição. Vamos ter que fazer um ritual bem caprichado de destruição, incluindo o sacrifício de um animal. Então, quando a “ex” dele apagar, você terá parte do crédito. — “Crédito”? — Você sabe como é, irmãozinho. Todo mundo que você ma­ tar a serviço de Satanás torna-se um sacrifício para o Mestre. Não importa se for um esquartejamento num belo acidente de carro a 150 quilômetros de distância daqui, ou alguém levado amarrado a

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um altar, se retorcendo todo, com um punhal apontado no pesco­ ço. Torna-se carne morta e passa a pertencer ao Mestre para sem­ pre. E eu vou permitir que você tenha uma parte da recompensa! — ele me observou com muito interesse para ver como eu reagia. — Você já fez trabalhos de maldição antes, nao é mesmo? — apressou-se, então, a perguntar. — Claro! — respondi. Num certo sentido, era verdade. Eu tinha me envolvido com “guerras" de magia, muito freqüentes entre os feiticeiros da nossa região. Até mesmo os bruxos da linha “branca”, como os da Wicca, crêem que têm o direito de se defender por meio de magia, quando atacados. Há uma doutrina bem difundida entre os participantes da Wicca, conhecida como Lei do Tríplice Retorno. Como feiticei­ ro, a pessoa tem o direito (e até o dever) de retornar de modo triplicado qualquer bem ou mal que lhe tenha sido feito. E a sua forma parti­ cular de concepção da doutrina do carma. Assim, nos sentíamos no direito de nos defender, quando atacados. Se o que fazíamos era ou nao, realmente, uma maldição, isso era outro assunto. Além disso, uma ou duas vezes, em meus primeiros anos como feiticeiro, eu tinha amaldiçoado algumas pessoas que achei que mereciam isso, sem que tivessem me atacado antes. Uma delas foi um homem que conheci em Dubuque. Era um hippie, adepto do uso de drogas e do amor livre. Tinha alcançado grande repu­ tação de conseguir muitas garotas, mesmo bem jovens, para fazer sexo com elas, descartando-as, em seguida, de maneira rude. Di­ zia a cada uma delas que as amava e gostaria de casar com elas, seduzindo-as, para logo em seguida despachá-las como algo des­ prezível. Fez isso à irmãzinha de um amigo meu, que freqüentava um de nossos cursos na W icca. A chei que aquele “bestalhão”merecia ser punido. Para mim, ele estava pervertendo mulheres que eram imagens da Deusa-mãe que eu adorava. As­ sim, lancei uma maldição sobre ele, tornando-o incapaz de prati­ car o sexo.


ApOSl ASÍ A? Orion pediu-nos que o deixássemos usar nossa capela de missa gnóstica e thelêmica, para o ritual de maldição. Sharon concor-

p r e C u m se n l o a u s a

C sem i T l A l d i ç A o

Pelo que sei, ele ficou daquele jeito pelo menos durante o tempo em que moramos em Iowa, ou seja, por alguns anos. Presumo que o feitiço já se tenha, a esta altura, desgastado. Mas não é preciso dizer que lhe causei um grande dano. De outra vez, foi quando ainda estava radiante com o êxito da minha magia sobre esse hippie. Antes de eu ter conhecido minha esposa, havia uma moça que estava treinando para sacerdotisa da Wicca. Tinha conseguido para ela algumas jóias de bruxaria, com­ pradas numa livraria ocultista de Milwaukee. Era um bem adorna­ do colar, um anel e uma pulseira, todos de prata. Seriam suas bigghes, ou “jóias oficiais” da bruxaria, como se fossem as “jóias da coroa” do grupo de bruxaria local. Não era nada de muito caro ou requin­ tado, mas tinha para mim um grande significado espiritual. Aque­ las jóias tinham sido consagradas num Círculo de Deusas da Wicca, segundo as tradições. Durante um evento, as jóias foram roubadas da sua pentea­ deira, por uma amiga. Tanto ela como eu ficamos muito aborreci­ dos e lançamos uma bruxaria. Invocamos a Deusa, para que amaldiçoasse a ladra ou a forçasse a nos devolver as jóias. Dias depois, a moça, que certamente não tinha mais do que 18 anos, caiu e rolou pela escada do seu apartamento e ficou paralítica da cintura para baixo. Nao nos sentimos nada bem com isso. Então, tomei a resolu­ ção de que, dali em diante, não me envolveria mais com maldi­ ções. Agora, como satanista, estavam me pedindo para começar a fazer isso de novo. Desta vez, a vítima seria uma mulher, possivel­ mente inocente, cujo único crime era o de ter sido a esposa daque­ le cidadão. Isso me incomodou muito, mas eu não tinha como recusar.

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dou, com alguma insistência minha, mas com certa relutância. No entanto, decidiu não participar do ritual. Orion me pediu, então, que eu fosse conhecer melhor nosso “cliente”, enquanto ele iria preparar o lugar para o ritual. Estava até curioso, de modo que fui para a sala e me sentei ao lado do sujeito. Ele parecia estar sob uma forte tensão, fumando um cigar­ ro após outro. Apresentei-me, e ele tossiu, um tanto nervoso, di­ zendo chamar-se “Andy” (não é este seu verdadeiro nome). Tratava-se de um sujeito gentil. Sua aparência física fazia-me lembrar de algum artista de ópera italiana — tive a impressão de que, a qualquer momento, ele começaria a cantar D olce Far N iente. Mas ele não tinha nada a ver com o “bel canto”. Explicou-me sua situação, como se quisesse justificar o que estava nos pedindo que fizéssemos. O que ficou claro é que tinha filhos do seu primeiro casamento e que a ex-mulher (que descreveu era uma mistura da Lady MacBeth com Lucrécia Bórgia) tinha a custódia deles e os ensinava a odiar o pai. Andy me disse, quase com lágrimas nos olhos, que já tinha feito de tudo, mediante todos os meios legais, para obter a guarda dos filhos, mas a mulher continuava detendo esse direito. Ele havia se casado de novo, era feliz com sua nova esposa, mas o fato de poder ver seus filhos apenas por algumas horas a cada duas sema­ nas estava acabando com ele. Tinha até mesmo considerado a pos­ sibilidade de contratar uma gangue e pagar aos bandidos para acabar com ela, mas teve medo dos riscos e possíveis conseqüências. En­ tão, num dia em que estava visitando a Livraria do Ocultismo, no centro de Chicago, ouviu falar sobre certo Orion, que tinha a habilidade de amaldiçoar pessoas até a morte. Aquilo lhe pareceu ser o modo mais seguro de resolver o seu problema de voltar a ter a posse das crianças, sem nunca ser descoberto. Foi assim que veio a se achar ali, sentado em nossa sala de estar, esperando vender a sua alma a Satanás, fazendo sua parte na maldi­ ção de morte da sua ex-esposa, para poder retomar as crianças. Isso


tudo o deixava bastante preocupado. Mas, enquanto conversávamos, descobri mais algumas coisas que causavam todo o seu nervosismo. Ele era fdho de um pastor adventista do sétimo dia! Sem dúvi­ da, se considerava cristão. Sabia que o que estava por fazer seria considerado uma apostasia de sua fé, mas, para ele, não havia alter­ nativa. Segundo alegava, havia se decepcionado com sua igreja por causa do legalismo e por causa da hipocrisia que nela havia (foi esta a expressão que usou). Se eu, na época, conhecesse melhor aquela igreja, teria percebido que ele não era um adventista que levasse sua fé a sério, pois fumar é algo totalmente proibido aos adventistas. Andy parecia arrasado e cheio de conflitos. Senti pena dele. Per­ guntei-lhe quanto havia pago a Orion pelos “nossos serviços”, e ele disse que tinham sido 500 dólares. Surpreso, pensei comigo: “Nada mau para uma hora de trabalho num ritual.” Mesmo não me sentindo totalmente à vontade, preparei Andy para a cerimônia em que ele faria o seu pacto, depois da qual par­ ticiparia do ritual da destruição. Mais uma vez, senti aquela estra­ nha am bivalência dentro de mim. Uma parte do meu ser entristecia-se por causa desse trágico homem e seu desespero por ter seus filhos de volta, sujeitando-se a um processo pelo qual, achava eu, conforme sua própria crença, iria lhe custar uma grande dor por toda a eternidade. Ele não acreditava, como nós, que o inferno fosse um lugar de “gloriosas” orgias e rolar de drogas. Para ele, certamente, o inferno era um lugar de tormento.1 Mas, ao mesmo tempo, no meu íntimo, um ativo homemmáquina satânico, brilhante como a prata, e movido por uma incandescente caldeira de ira em meu cérebro, regozijava-se por mais uma alma ganha para o diabo e pela morte de uma mulher. O K í I u a I de D esI r u i ç Ã o

A cerimônia do pacto transcorreu, como sempre, sem nenhuma manifestação extraordinária. Em seguida, passamos diretamente para o ritual de amaldiçoamento. Andy tinha trazido uma foto da


sua ex-mulher, e dela Orion havia feito uma boneca de barro. Ti­ nha também conseguido alguns fios de cabelo da infeliz, retirados de uma velha escova. Estas duas coisas formavam o que os ocultistas chamam de “objetos de ligação”. E uma doutrina não só do satanismo, mas da maioria dos gru­ pos de feitiçaria e ocultismo, que é muito mais fácil amaldiçoar alguém quando se tem alguma coisa dessa pessoa que dê condição ao feiticeiro de fazer uma ligação com ela. Geralmente é algo per­ tencente à pessoa ou, melhor ainda, uma parte do seu corpo, como um fio de cabelo, uma lasca de unha. E por isso que a maioria dos praticantes da magia guardam com zelo o seu cabelo cortado e as aparas de suas unhas, assegurando-se de que não venham a cair em mãos estranhas. Orion pegou os fios de cabelo trazidos por Andy e os prendeu na cabeça da boneca, enquanto cantava, em voz baixa, em “Enoquiano”. O Enoquiano é a língua mágica do satanismo, sen­ do o Latim sua linguagem cerimonial. O Enoquiano é uma língua estranha, tipicamente satanista, restaurada pelo feiticeiro Dr. John Dee, o primeiro astrólogo da corte da rainha Elizabeth I, com a colaboração do seu médium, Edward Kelly. A última parte da B íblia Satânica contém todas as chaves enoquianas ou invocações, com a tradução feita por LaVey de cada uma delas. Os verdadeiros praticantes da magia sabem que o Enoquiano tem de ser falado de trás para a frente, para produzir o seu maior efeito. Isto é muito difícil de ser feito sem a assistência de um de­ mônio. Eu tinha demônios que me davam condições de falar em várias línguas diferentes (Grego, Hebraico, Alemão e Latim), lín­ guas que eu desconhecia (exceto algumas reminiscências do Latim escolar). Eles também me capacitavam a falar ou a cantar de trás para a frente, tanto em Inglês como em Enoquiano, com bem pouca dificuldade. Então Orion começou a purificar a câmara do ritual, fazendo o sino soar nove vezes, borrifando os quatro quadrantes com “água benta” de um borrifador cheio de urina, e traçando pentagramas


invertidos. Invocou a presença e o poder de Lúcifer para testemu­ nhar a cerimônia. Senti o poder de ferro dentro de mim aquecen­ do-se com um fogo negro. De uma caixa num dos cantos da câmara, Orion retirou um porquinho-da-índia que ele tinha comprado numa loja de animais em Chicago. Consagrou então o bichinho, que se contorcia todo, a Lúcifer e em seguida cortou sua garganta. Enquanto os jatos de sangue saíam do animalzinho, ele “batizou” a boneca com sangue, conforme o ritual de batismo católico romano, dando a ela o nome da ex-mulher de Andy. A foto dela estava fixada sobre a “face” de barro da boneca. Orion tinha instruído Andy a ficar irado quanto pudesse, lan­ çando toda a sua ira e todo o seu ódio contra a sua esposa anterior. Nós estávamos ali para reforçar o poder do seu ódio, mas, uma vez que ele a conhecia melhor, era ele quem poderia externar melhor todo o seu ódio naquela hora. Enquanto fazíamos a reza enoquiana para abrir toda desola­ ção e destruição, Andy pôs para fora toda a sua raiva e frustração que os anos passados tinham trazido à sua vida. Senti, então, que toda aquela ira se erigia em meu interior como se fosse um peque­ no punhal apontado para a cabeça daquela boneca manchada de sangue que estava sobre o altar. O calor foi aumentando naquela câmara, de modo que vi gotas de suor escorrerem em meu corpo e ensoparem o meu manto. Minha mente havia se tornado uma máquina de malignidade. Era como se um aço em brasa, derretido, fluísse pelas minhas veias, chegando até minhas mãos. Uma parte de mim estava amedrontada pelo que estava acontecendo, mas era uma parte bem pequena e que ficava cada vez menor. Todo o res­ tante do meu ser estava excitado diante do poder de uma raiva frenética! Eu estava me tornando o que LaVey chamava de “mons­ truosa máquina de aniquilaçao”, e isso me dava um enorme prazer! Meus dedos fecharam-se sobre a invisível garganta daquela mulher e, com um incrível poder, esmaguei sua traquéia como se fosse o talo de uma flor! Eu podia ouvir minha respiração ofegante, com


uma fúria que crescia num delírio cada vez maior. Se ela estivesse ali presente, eu bem que poderia tê-la estrangulado até a morte, naquela hora. Orion soltou, então, um grito agudo, cheio de ódio. Deviam ser os demônios, pois acho que ele não tinha, por si mesmo, como fazer isso. Atravessou a boneca de barro com a ponta da sua espada mágica e a ergueu diante do gigantesco símbolo de Baphomet co­ locado acima do altar, que contemplava tudo o que ali se passava. Proclamou, então, em alta voz a maldição, junto com Andy (que repetia com ele as palavras do ritual, conforme o livro). Por causa da natureza maligna daquela maldição, e por não querer ensiná-la desnecessariamente, nao vou transcrevê-la aqui. Basta dizer que Andy repetiu palavra por palavra. Orion num ato informal derrubou então a “boneca” de barro sobre o altar rugindo e grunhindo, pedindo a Andy que tomasse conta dela. Andy prosseguiu externando sua ira e frustração sobre a boneca. Pegou um punhal que estava no altar e golpeou, cheio de maldade e com toda a ira e frustração, a cabeça e o corpo da bonequinha, chorando com muita revolta, como se estivesse fora de si. Por fim, o que restou dela parecia mais um hambúrguer de barro do que uma forma humana. Andy parou, então, quase sem forças, totalmente exausto. — Shem ham forasch! — berrou Orion. — Shem ham forasch! — repetimos. Esta palavra é tida como sendo de grande poder no satanismo. Dizem que é a “palavra” por meio da qual o Senhor criou os céus e a terra, e Satanás a roubou. Agora ela é tradicionalmente usada para selar muitos dos rituais satânicos, mais ou menos como um “amém”. Naquela noite, Orion e sua comitiva foram embora, certos de que a ex-esposa de Andy morreria em breve, e de um modo bem terrível. No meu caso, sentia-me totalmente exausto e com náuseas de tudo que tínhamos feito, embora houvesse forças dentro de mim que reagiam com incrível entusiasmo.


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O interessante é que durante todo o ano que se seguiu não houve evidência alguma de que a maldição tivesse tido sucesso; a pior coisa que aconteceu com a mulher foi um resfriado. Aparente­ mente, era o primeiro fracasso de Orion (e, num grau menor, meu também). Fizemos ainda vários rituais adicionais, mas a ex-mulher de Andy demonstrou ser inatingível! Claro que Andy nunca recebeu seu dinheiro de volta. Alguma coisa estava impedindo que as maldições funcionas­ sem. Foi nessa época que comecei a ter uma premonição de que havia poderes que ultrapassavam o poder de Lúcifer. Apenas não conseguia imaginar que poderes seriam esses.

1 Naquela ocasião, eu ainda não sabia que os adventistas não acreditam num inferno eterno, mas na aniquilação total dos maus. Neste, e em diversos outros pontos importantes, carecem de uma base bíblica doutrinária. To­ davia, pessoalmente, não os considero uma seita, no mesmo sentido dos mórmons ou das testemunhas de Jeová. Muitos dos adventistas que conhe­ ci parecem-me novas criaturas em Cristo, apesar de se encontrarem presos ao seu estranho sistema legalista, que é quase um judaísmo.

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R e s p o s l A s

PergunlAs

RlguniAs Difíceis

a

Todas as perguntas são verdadeiras; todas as respos­ tas são falsas. — Provérbio satânico anônimo

C o m o mencionei alguns capítulos atrás, podemos nos referir a certas pessoas, por exemplo, os saduceus dos dias de hoje. Sao cristãos sinceros, em sua maioria, acho eu, e não aceitam o fato de que existe um satanismo espalhado por toda parte e vastas redes de satanistas de diversas gerações que torturam crianças. Essas pessoas costumam fazer determinadas perguntas que preci­ sam ser respondidas, e queremos respondê-las da melhor forma possível. O fato é que muitos membros da comunidade acadêmica e até mesmo da Igreja têm assumido uma postura de interesse cultu­ ral (e, por vezes, financeiro) de bastante ceticismo quanto a uma epidemia de satanismo. Como observa o conhecido estudioso Carl Raschke: E difícil, geralmente, avaliar incidentes e casos de satanismo, por causa dos ventos, que se cruzam, de histeria, ansiedade e do que se poderia chamar de “síndrome da negação”, de deter­ minados profissionais ligados à área de ciências sociais, que


rejeitam aprioristicamente, mesmo sem um bom motivo, to­ das as sugestões — até mesmo onde somente um comporta­ mento sobrenatural é a questão — de ação do ocultismo.1 Assim, somos forçados a considerar como suspeito o ceticis­ mo dos chamados especialistas no assunto, que, em sua maioria, preferem perder a mão direita a admitir que Satanás (ou Deus) realmente exista. Temos que manter um ceticismo saudável, verifi­ cando se as suas respostas fazem sentido. • Por Que um Tal “Avivamento Satânico” Estaria Acontecendo Justamente Agora?

Esta é uma boa pergunta, mas reflete uma falta de perspectiva histórica e, possivelmente também, bíblica. Antes de mais nada, temos de admitir a possibilidade de que isso tem acontecido sem­ pre, mas, ou ninguém tomou conhecimento maior do assunto ou nunca se preocupou antes suficientemente com essas coisas. Uma das maiores enfermidades da nossa sociedade hoje é que tendemos a ver a história com os olhos dos dias atuais. Por exemplo, no mo­ mento, todos nós reconhecemos existir sérios problemas de pedofilia e de violência para com as mulheres; no entanto, há 20 anos, o “bom senso comum” entre psiquiatras e religiosos era de que tais coisas raram ente aconteciam. E, se acaso acontecessem, seriam por obra e graça de algum excêntrico, pervertido e barbudo que teria pego alguém eventualmente num beco. Agora as estatísticas mostram que mais do que uma entre qua­ tro mulheres sofreu abuso sexual antes de atingir a idade adulta, e que nao há diferença significativa, nessas estatísticas, quanto a jo­ vens criadas em lares evangélicos e as de lares não-cristãos. O defloramento de uma jovem não é um pecado tão terrível quanto o satanismo? Então, por que os líderes cristãos não o ti­ nham detectado antes? Seria o caso de se argumentar que não exis­ te abuso de crianças nem maridos que agridem as esposas nos dias de hoje só porque os líderes de igrejas não discerniram tais coisas um século atrás.


D i f í c e i s P e r g u n l A s as

11 lg um a

R e s p o s l A s

O problema, de certo modo, é que a sociedade (cristã e nãocristã) simplesmente não havia se sensibilizado, antes, com a ques­ tão desses abusos. Por outro lado, também, até mesmo nós, os cristãos, temos a tendência de negar a ocorrência de coisas malig­ nas em nossa sociedade. O nosso coração é enganoso, mais do que todas as coisas, mais do que a nossa possibilidade d e com preendê-lo (ver Jr 17.9). Preferimos pensar que as pessoas, em princípio, são amáveis, boas e íntegras. Infelizmente, porém, afirma a Bíblia, não é nada disso (cf. Rm 3.10,23) Prevalece, assim, a possibilidade de que o abuso de crianças, a violência contra mulheres e o satanismo organizado vêm existindo há vários séculos, sem que ninguém estivesse m uito interessado em ou vir fa la r a respeito. Não faz muitos anos, se uma jovem viesse a seu pastor e lhe contasse, por exemplo, que seu pai a tinha molesta­ do sexualmente — sendo o pai alguém da liderança da igreja — , a jovem seria severamente repreendida como mentirosa. Agora, sa­ bemos que não há praticamente diferença alguma entre a ocorrên­ cia de um incesto em lares cristãos e não-cristãos. Se a Igreja pôde “perder o trem” nos casos de abuso infantil, por que não poderia tê-lo perdido no caso do satanismo? Outra possibilidade, ainda, é que Satanás está realmente p o n ­ do lenha na fogu eira nos dias de hoje, porque estamos provavel­ mente nos últimos dias. Pessoalmente, creio que o Senhor Jesus Cristo está voltando muito em breve. É uma ocasião, portanto, em que Satanás se mostra disposto a aumentar o seu ataque sobre as pessoas, individualmente, sobre as famílias e a sociedade em geral. Vale observar que, comparativamente, há bem poucas men­ ções da atividade demoníaca no Antigo Testamento. Além de inci­ dentes isolados com pessoas, como Saul, é uma ocorrência extremamente rara. No entanto, nos relatos dos evangelhos e no livro de Atos, a atividade demoníaca literalmente explode em cena. Literalmente legiões de demônios parece que são liberadas na Judéia e na Galiléia. Isso tem sido destacado por estudiosos da Bíblia, que especulam


haver Satanás intensificado sua atividade, a partir do momento em que tomou conhecimento de que Jesus se encontrava na terra. Pois bem, se esse “ativismo total” satânico ocorreu durante a primeira vinda do Senhor, não é de esperar que também ocorra antes e durante a sua segunda vinda? Sabemos que a Bíblia diz que a atividade demoníaca aumentará nos dias que antecederem o Arrebatamento e durante o período da Grande Tribulação (lTm 4.1-3; Ap 9.2-11; 16.13). Não será, portanto, esse visível aumento no satanismo, nos endemoninhamentos e nos rituais satânicos uma parte de tal fenômeno profético? Em outras palavras, tudo pode ser, até, algo novo que Satanás esteja fazendo para conseguir o maior número possível de pessoas, antes da Segunda Vinda do Senhor. Observemos, também, que as duas explicações podem ser vá­ lidas, e uma não exclui a outra. Ambas podem estar corretas. Tanto o satanismo pode existir há vários séculos (o que é demonstrado historicamente) quanto, ao mesmo tempo, o diabo pode estar ace­ lerando o seu ataque, por entender que pouco tempo lhe resta. É importante saber, ainda, que, já por alguns anos, cristãos com discernimento têm estado em oração, pedindo que essas obras das trevas venham à luz à vista de todos. O pecado precisa ser ex­ posto para que o arrependimento possa ocorrer. Esses guerreiros da oração têm bombardeado os céus com intercessões no sentido de que as tramas de Satanás sejam reveladas ao mundo, para que as pessoas tenham conhecimento disso tudo, arrependam-se e vol­ tem-se para o Deus vivo. Por mais contristadores que sejam esses relatos sobre as ativi­ dades do satanismo, bem podem significar que o Senhor está le­ vantando uma grande e tremenda fervura embaixo da sociedade. A ironia em tudo isso é que, ao mesmo tempo em que alguns cristãos têm lutado com muito empenho, fazendo poderosas ora■>ções para que sejam expostas as infrutíferas obras das trevas (Ef 5.11), outros cristãos (nominais e verdadeiros) têm respondido a essas revelações de dois modos: enterrando a cabeça na areia acadêmica ou da Psicologia, ou, até mesmo, atacando aqueles que estão ex­ pondo à luz os pecados e os crimes dos servos de Satanás.


• Por Que a Igreja Não Tem Discernido Espiritualmente Esse Problema?

Esta é uma pergunta que se relaciona, em grande parte, com o conflito cultural a que acabamos de nos referir. O motivo pelo qual tudo isso passou despercebido no passado é a Igreja ter sido contaminada por uma atitude racionalista e contrária ao sobre­ natural. Além disso, em termos de posição política, temos que consi­ derar que, em dois milênios de cristianismo, por cerca de 1.600 anos a “Igreja” foi unicamente a Igreja Católica Romana, uma ins­ tituição não muito dada a ter discernimento espiritual. Falemos de História por um momento. Do ano de 350 d.C., aproximadamente, até os anos de 1500, a Igreja Católica perse­ guiu e martirizou autênticos cristãos, que realmente criam na Bíblia. Assim, a única Igreja que teria alguma condição de agir contra o satanismo e o abuso ritual estava muito ocupada em quei­ mar bruxas (fossem de fato ou tomadas como tais) e em matar cristãos verdadeiros, crentes na Bíblia.2 Os verdadeiros cristãos formavam um movimento clandesti­ no praticamente sem poder político algum. Mesmo que tivessem discernimento dos perigos do satanismo, eles estavam muito ocu­ pados em sobreviver, sem condições de fazer qualquer coisa a res­ peito, a nao ser orar. Sob outro enfoque, a Igreja Católica criou, talvez não inten­ cionalmente, um problema. Como muitos sabem, transformou a questão de caçar adoradores de Satanás numa brincadeira sem graça, trágica, antibíblica e supersticiosa. Em vez de se guiarem por meio das Escrituras, os líderes da Igreja Católica (dominicanos, em sua maioria) apoiavam-se em superstições e em seus próprios esforços para descobrir os obreiros do diabo. Você era canhoto? Então, devia ser bruxo! (O termo “sinistro” provém de vocábulo latino que significa “mão esquerda”!) Você tinha um olho defei­ tuoso? Era outro indício! No caso de mulher, se tivesse marcas es­ tranhas no corpo, seriam por causa de seus “espíritos familiares”!


Você sofria de epilepsia? Então era bruxo, ou bruxa, com toda a certeza! Todo esse lixo supersticioso (e antibíblico) levou a cultura eu­ ropéia para os braços do racionalismo e trouxe ao cristianismo (ou melhor, ao catolicismo) uma péssima imagem! Isso favoreceu to­ talmente o jogo do diabo. Por volta do século 19, a maioria das pessoas do Ocidente, de qualquer nível de instrução, já tinha visto o suficiente em ma­ téria de caça às bruxas e aos endemoninhados. Então, os demô­ nios passaram a ser relegados à África, por “estar ainda em grandes trevas”, e a outros lugares de “nativos supersticio so s e incivilizados”, que não tinham sido expostos “à maravilhosa luz da ciência moderna”. As pessoas civilizadas com problemas de­ moníacos eram, na m aior parte dos casos, rotuladas como dementes ou com insanidade mental (apesar de que é difícil com­ preender, cientificamente, como a mente — q u e p erten ce a esfera espiritual, e não física — p o d e fic a r doente!). Por ter a Igreja Católica Romana dado à Bíblia uma imagem negativa, as pessoas passaram também a ignorar o testemunho bí­ blico sobre a realidade da ação demoníaca. Deste modo, o motivo por que a Igreja não discerniu e não agiu contra aquelas atrocida­ des não se aplica ao período após a Reforma Protestante. Ainda assim, um cuidadoso estudo da Bíblia mostra-nos que em nenhuma parte das Escrituras o Senhor promete revelar à sua Igreja tais obras de iniqüidade. A missão primordial da Igreja é pregar o evangelho aos perdidos (Mt 28.18-20). Sua missão secun­ dária é ministrar as necessidades dos santos, ajudando-os a crescer até a plenitude de Jesus. Isso, às vezes, implica ministrar a pessoas na área de libertação da opressão demoníaca. A Igreja não foi designada para ser uma força policial do tipo que faz “busca e destruição”. Toda vez que a Igreja saiu em busca de ímpios e criminosos, e os puniu, os resultados, a longo termo, foram desastrosos. Como não há evidência bíblica alguma de que o Senhor deseja que a sua Igreja saia por aí descobrindo grupos


• Onde Foram Parar os Corpos?

Esta é uma pergunta relativamente mais fácil de responder. Os satanistas, como todo bom feiticeiro, gostam de reciclar as coi­ sas. Sei que isso soa como uma terrível piada de mau gosto, mas, realmente, quase nada é desperdiçado dos corpos humanos dos que foram sacrificados. Sem entrar em detalhes horripilantes, uma grande parte da cultura do xamanismo (ancestral paleolítico do satanismo) gira em torno do consumo de partes de um corpo para fins de magia. M ui­ to pouco, ou talvez nada, é perdido. Isto é uma verdade na maioria das “denominações” satanistas.'1 Até mesmo os ossos humanos são mercadorias de alto valor para fins de magia. Muitas vezes, os ossos são usados, ou portados pelas pessoas, consigo, de modo seme­ lhante ao que faziam os índios americanos, que carregavam consi­ go os ossos de animais que consideravam como totens sagrados. Fomos informados por nossos superiores da confraria satânica que, em muitas comunidades, os satanistas procuram alcançar e “converter” (isto é, corromper) os agentes funerários oficiais, o que

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satânicos, como esperar que Ele possa estar conduzindo líderes da Igreja, de maneira sobrenatural, a expor esses grupos? Certamente que temos o direito de buscar o discernimento espiritual para detectar falsos irmãos em nosso meio (1 Co 12.10; 1 Jo 2.18,19; 4.1-4), ou identificar grupos satânicos que pos­ sam estar ameaçando os membros das igrejas locais. Infelizmente, até hoje, muitas vezes, não se buscou esse discernimento. Na verdade, o discernimento espiritual total tem sido uma parte, negligenciada do ministério do Espírito Santo na Igreja até os dias atuais. Agora que pastores e obreiros cristãos aprenderam a orar e a bus­ car esse tipo de direção do Espírito, tais coisas vêm sendo expostas! Louvado seja o Senhor! Antes, quando os cristãos ignoravam festi­ vamente tais perigos, ninguém orava por ajuda ao Espírito Santo.


irá facilitar-lhes o livre acesso aos crematórios, para dar sumiço a um corpo ou a ossos humanos. Infelizmente, não é difícil para eles praticar tal corrupção. Embora a atividade funerária seja regulamentada por lei, e a maioria dos agentes funerários seja honesta, pessoas que pres­ tam um serviço de utilidade pública estão sujeitos ao pecado. Satanás conhece nossas fraquezas melhor do que nós, e é com facilidade que, por meio de seus servos, pode apresentar uma tenta­ ção que o agente funerário considere irresistível. Isto acontece não somente com não-cristãos. Pelo que podemos observar, até mesmo “poderosos homens de Deus”, do Corpo de Cristo, podem cair em abomináveis pecados ao serem tentados. Não temos que ficar tão surpresos, assim, ao sermos informados de que um agente funerário não-cristão (ou até mesmo salvo por Cristo) foi corrompido por Sa­ tanás. Digamos que o cidadão tenha uma fraqueza pelo jogo ou pelo sexo ilícito. O grupo de satanistas, sob a direção de seus mestres demoníacos, providencia tudo o que a pessoa almeja e ainda faz fei­ tiços para torná-lo mais suscetível e vulnerável à tentação. Sabemos que isso é realmente possível de ser feito, pois no passado lançamos tais feitiços, com eficácia. Tínhamos rituais com os quais podíamos fazer com que a pessoa ficasse irresistivelmente atraída em lascívia por alguém. Era uma força com tamanho poder de compulsão que quase ninguém teria como resistir. A menos que a pessoa fosse cristã e estivesse vivendo bem próxima de Jesus, teria bem poucas defesas contra as manipulações desse tipo. O agente funerário é levado a ficar com uma enorme dívida no jogo, ou então a ter encontros sexuais comprometedores com uma moça atraente (e talvez de menor idade) do grupo satânico. Isso é filmado em videoteipe. Então chantagens e ofertas de pagar a dívida lhe são apresentadas, em troca de sua membresia e lealda­ de ao grupo. Tendo tal pessoa entrado no grupo satânico, ela é filmada em situações ainda mais agravantes (geralmente sem ter conhecimento disso), e assim a armadilha fica completa. A pessoa


fica amarrada e compelida a fazer tudo que o grupo lhe peça e não tem como recusar nada, pois do contrário, cairá em total desgraça (e talvez até mesmo seja objeto de uma ação judicial) em sua co­ munidade. Assim, levando-se em conta que partes do corpo humano (tanto de adultos como de crianças) são usadas na magia, e que para isso há “colaboradores” da atividade funerária, não é difícil saber por que, normalmente, não são encontrados os corpos dos sacrificados. Falemos agora dos corpos que são encontrados mutilados ou com sinais satânicos pintados ou marcados sobre eles. É trágico, mas são em grande número, como afirma um destacado pesquisa­ dor dessa matéria.4 Todavia, esses atos geralmente não são obra de satanistas sérios, mas sim de fanáticos, praticantes de ocultismo isolados ou satanistas adolescentes, que estão apenas começando e não se liga­ ram ainda a um grupo. Estes são apenas a ponta de um grande e hediondo iceberg. De vez em quando, a confraria satânica permite que um cor­ po seja encontrado, apenas para lançar medo na comunidade. Isso é feito de tal modo que não seja possível ligar qualquer membro do grupo ao crime. Chamo isso de terrorismo espiritual, e está se tor­ nando cada vez mais freqüente. • Como E Que os Satanistas Obtêm as Vítimas?

Sinto muito ter que dizer isto: esta pergunta é muito fácil de ser respondida. Em primeiro lugar, obviamente, depende de que tipo de vítimas estejamos falando. Os sacrifícios de crianças, que estão entre os mais “apreciados”, são muito simples de realizar. Como meu próprio mentor satânico observou, “bem poucos bens de consumo no mundo são tão fáceis, tão baratos e tão prazerosos de se produzir como um bebê”. Apesar de que esta observação possa criar calafrios na coluna de qualquer pessoa de bem, reflete a mentalidade satânica p o r excelência. Bebês são adquiridos de diversas fontes:


1. Comprados de pais dependentes de drogas, pagos com drogas. 2. Concebidos e nascidos dentro do grupo satânico; não che­ gando nem mesmo a existir legalmente, por não serem registrados em cartório. 3. Raramente, ainda, raptados. Por exemplo, 20 anos atrás recebemos um treinamento inten­ sivo em partos, para que pudéssemos dar assistência ao nascimento de crianças sem a ajuda de médico, fora de hospital e sem registros. Diziam-nos que isso era para manter quaisquer crianças que tivés­ semos fora do controle governamental, escolas comuns e de suas “más influências cristãs”. Conhecemos e temos ministrado Cristo a muitas mulheres que, no passado, foram forçadas a dar o seu bebê para uma abominação desse tipo. Muitas tinham sido criadas dentro de um grupo hereditário de satanistas. Felizmente, o Senhor Jesus Cristo tem poder para trazer cura e integridade a elas. O tão afamado sacrifício de “virgens”, geralmente meninas nem bem chegadas à puberdade, ou (mais raramente) de um me­ nino, é o segundo tipo de sacrifício mais utilizado. Esses jovens são mortos porque os satanistas (e muitos outros adeptos de ou­ tras seitas ocultistas) são convencidos de que o sangue de alguém na puberdade é especialmente carregado de “virtudes” mágicas. Isso vale, principalmente, para as moças. Esses sacrifícios são obtidos com: 1. Crianças criadas dentro do grupo até a adolescência, não registradas. 2. Crianças de rua, ou que fugiram de casa, cujo número achase na escala de milhares. 3. Jovens e crianças pegos nos muitos círculos de pornografia infantil. Tais círculos muitas vezes acham-se ligados a grupos satanistas. As crianças que “não se comportam direitinho” por ve­ zes sao usadas nos sacrifícios para ensinar os outros a se comporta­ rem — e tais sacrifícios eventualmente são filmados em filmes pornográficos infantis “pesados”.5


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4. Jovens e crianças raptados. Tais casos só sao mais raros por­ que despertam a atenção das autoridades. A condição física da vítima de ser realmente virgem nem sem­ pre é requerida, pela impossibilidade de se garantir a virgindade nestes dias de licenciosidade sexual (especialmente nas hipóteses 2 e 3 acima). Mas, quando é de fato virgem, é tida como uma oferenda com atributos excepcionais para a magia, pois Satanás e seus escra­ vos têm o maior prazer na profanação da inocência. Com freqüên­ cia, há crianças que, criadas dentro do grupo satanista, são mantidas virgens, no sentido técnico da palavra. São sim plesm ente brutalizadas de outros modos. Em seguida, na lista dos possíveis candidatos ao sacrifício, achamse os cristãos, de qualquer idade, especialmente aqueles que no pas­ sado foram servos de Satanás. São mais difíceis de serem obtidos e, geralmente, requeridos somente nos mais elevados níveis de satanismo. Tais pessoas — quase sempre adultas — têm de ser se­ qüestradas, o que torna esse tipo de sacrifício relativamente raro. E o que contribui neste sentido é que o Senhor protege seus filhos, e de igs modo geral os servos de Satanás não podem tocar neles, exceto em casos bem raros quando o Senhor permite que crentes sejam martirizados para cumprirem seus propósitos, em prol de sua glória. A última classe de vítimas são adolescentes e adultos que não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores. São os sacri­ fícios tidos como de “menor valor”, mas constituem uma solução melhor do que a de não haver sacrifício algum. E importante com­ preender que, em certos rituais, os satanistas acreditam que neces­ sitam ter a “energia mágica” de um sacrifício de sangue para apaziguar a ira do seu m estre. P ortanto, num a situação desesperadora, podem lançar mão de qualquer ser humano. As pes­ soas escolhidas poderão ser: 1. Satanistas do próprio grupo, que tenham deixado de cum­ prir, de algum modo, e em grau maior, a vontade do diabo. 2. Aqueles que não têm familiares, ou pessoas de rua, cujo desaparecimento não deixe pistas para investigação.


3. Pessoas (geralmente mulheres) seqüestradas. Mais uma vez, isto é pouco freqüente, por causa dos riscos perante as autoridades. As mulheres são consideradas mais valiosas do que os homens como vítimas, e os adultos mais jovens são de maior valor do que os da terceira idade. Do exposto, então, pode-se concluir que não faltam lugares e modos pelos quais vítimas de todas as idades possam ser obtidas para os sacrifícios. • Por Que Esses Criminosos Não São Pegos e Condenados?

Em grande parte, a resposta já foi dada em algumas das expla­ nações anteriores. A falta de evidências físicas (corpos, etc.) geral­ mente é suficiente para assegurar que ninguém seja indiciado. Satanistas que atuam com seriedade não são tolos a ponto de reali­ zar rituais desse tipo em suas casas. Geralmente os rituais que en­ volvem crimes graves são executados em lugares isolados e longínguos, ao ar livre ou em templos totalmente escondidos e secretos. Mesmo que um satanista seja acusado de um crime desses, numa investigação policial geralmente nada será encontrado que possa incriminá-lo, pois, a menos que haja orações de intercessão, muitas vezes os espíritos familiares dos satanistas (isto é, os demô­ nios) os informam com antecedência sobre qualquer ação das au­ toridades contra eles. Por exemplo, uma mulher a quem ministrei o evangelho tinha acusado seu sogro das mais pavorosas atrocidades sobre seus três filhos num ambiente satânico, e com a cumplicidade do marido dela, pai das crianças. Esses horrorosos rituais tinham se dado no porão de uma ampla casa de campo, dos parentes do marido. A polícia foi chamada, mas não encontrou prova alguma. “Por coin­ cidência”, o porão daquela mansão estava “em reforma”, para tor­ nar-se uma sala de gravações. Além disso, os satanistas sérios (como o mencionado no pará­ grafo anterior) freqüentemente são “colunas” (gente importante)


F a I I a

de Sisíem A ?

Enfim, mesmo quando esses casos são levados à Justiça, seja de abuso de crianças e rapto, seja homicídio, o conteúdo satânico ge­ ralmente é encoberto do conhecimento público. Em parte, porque a maioria dos promotores receia que, se trouxer material de rituais satânicos para dentro dos processos, isso irá desmoralizar a sua cre­ dibilidade. Por outro lado, prevalece uma situação de “negação” entre a maioria dos delegados de polícia e promotores, que acredi­ tam que tais coisas não existam. Como destaca o tenente de polícia Larry Jones, do estado de Idaho, Estados Unidos, que passou grande parte da última década investigando este fenômeno, não há legislação penal específica em que tais crimes possam ser enquadrados.7 Nos relatórios de cri­ mes, para fins estatísticos, não há campos em branco a serem pre­ enchidos com respeito a aspectos que indiquem um ato de natureza satânica. Os delegados de polícia e promotores públicos, além dis­ so, geralmente estão sobrecarregados e não têm interesse algum em

D i f í c e i s P e r g u íilA s t l l g u m A S a R e s p o n l A S

da comunidade local — médicos, advogados, juizes, clérigos, policiais. São pessoas contra as quais a maioria dos policiais nao terá muita condição de se envolver, a não ser contando com provas muito boas e evidentes. Tais provas geralmente não existem. E, se eventu­ almente descobertas, o grupo satanista pode enviar elementais de fogo (demônios) para queimá-las completamente ou consumi-las de outro modo no local em que se encontrem, antes que o caso chegue à Justiça. Além disso, as primeiras pessoas que, numa cidade, os satanis­ tas procuram atrair são oficiais de justiça e outros que atuam no judiciário. Tais pessoas são “convertidas” à confraria pelos mesmos métodos mencionados anteriormente com respeito aos agentes fu­ nerários, bem como por meio de ramos inferiores do satanismo, como, por exemplo, a Maçonaria.6 A presença dessas pessoas pra­ ticamente assegura que aqueles casos jamais sejam julgados.


D e s l r o n A d o L ú c i f e r

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se empenhar no sentido de que aspectos do ocultismo e de rituais criminosos sejam inseridos na legislação penal. Ora, se não se possui um esquema adequado para facilitar o indiciamento de crimes relacionados a práticas satanistas, então tais crimes nunca serão considerados como tais. Poderá ser instaurado um processo criminal, e até mesmo pessoas poderão vir a ser conde­ nadas. Mas, como já aconteceu com diversos réus de múltiplos cri­ mes, os elementos de satanismo nesses crimes nunca virão à tona. Enfim, a polícia não estaria, de todo modo, preparada para reconhe­ cer esses elementos e, por isso, não lhe convém tocar nesse assunto. Além do aspecto legal, há outro muito importante: qual é a cidade que está disposta a tornar-se conhecida como um lugar que acolhe satanistas e pedófilos? Pense em como tais notícias seriam desastrosas para a imagem pública de uma localidade! Até as pro­ priedades naquela cidade poderiam sofrer depreciações; para não falar da indústria do turismo... Portanto, o fato é que a maioria dos governantes locais está coberta de razões para manter esses assuntos escabrosos fora das manchetes dos jornais com relação às suas comunidades. Nós mesmos tivemos a oportunidade de conversar com vários funcionários das áreas de polícia e justiça, cristãos, frustrados com seus superiores, que tudo fizeram para dificultar investigações e esconder elementos de ocultismo em crimes, ou que simplesmente não deram atenção alguma a esse assunto. Por todas essas razões, nada é reportado a esse respeito, e os indícios do ocultismo não constam nos processos. N oI as 1 R a sc h k e . PaintedBlack, op. cit., p. 105. 2 Para obter uma exposição mais detalhada sobre este assunto triste e difí­ cil, veja o livro do autor, Wicca\ Sataris Little White Lie [Wicca: a Mentirinha Branca de Satanás]. Chick Pub., 1990, (especialmente o ca­ pítulo 4).


modo como alguns dos rituais são feitos, havendo, assim, também, diferentes formas pelas quais os restos mortais são eliminados, nos di­ ferentes grupos. 4 R a sc h k e , p. 1 0 5 .

5 Tais filmes “pesados”, produzidos clandestinamente, são vídeos de por­ nografia explícita em que pessoas, geralmente mulheres ou crianças, são sexualmente brutalizadas e em seguida mortas realmente diante das câmeras. Esses filmes são difíceis de serem produzidos e adquiridos, mas existem em grande número. Algumas lojas e certos serviços especializa­ dos da Internet são usados por pessoas pervertidas para a compra ou

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bem poucas ligações entre os vários ramos e muita diversidade no

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recebem ordens da mesma fonte — de Satanás e seus demônios. Há

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Jeová. Sua única unidade se dá em nível espiritual, uma vez que todos

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unificada, tal como acontece com os mórmons ou as testemunhas de

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3 É importante entender que os satanistas não constituem uma seita

permuta de tais filmes. 6 Veja M açonaria — Do Outro Lado da Luz, op. cit, para mais informa­ ções sobre as ligações do satanismo com a Maçonaria. Ten. Larry Jones. Arquivo 18, Boletim #91-3, p. 7-8. CCIN, Inc. P.O. Box 3696, Boise, ID, USA — 83703-0696.

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Os T ú n e i s de Ti j p Ho n

Os h u m an os são um a p resa fá cil.

— Frase de um filme de terror baseado numa obra de H. P. Lovecraft

C o m o já disse, comecei a ter consciência de que Lúcifer não era o ser mais poderoso existente. Assim, dei início a uma busca na ma­ gia, para descobrir que seres seriam mais poderosos do que o meu “Mestre”. Imaginei, então, que teria de pagar alguma coisa para estabelecer alianças também com eles. Mesmo diante do insucesso da maldição lançada sobre a exesposa de Andy, eu não me deixara abalar e continuava meus estu­ dos de satanismo e magia. Tinha uma postura um tanto filosófica diante dos questionamentos e, muitas vezes, gostava de repetir uma frase do filme Little B igM a n [Pequeno Grande Homem]: “As ve­ zes, a magia funciona; às vezes, não.” Convenci-me de que, quando as coisas não davam certo, era porque cometera algum erro ou, então, por causa de alguma coisa que não me fora ensinada ainda. Acreditava que a magia era uma verdadeira ciência. Deste modo, continuei procurando obter a sabe­ doria oculta. Com a minha promoção, tive acesso a mais informações de iniciação, especialmente nos campos da M açonaria e magia interespacial.


Há duas áreas de magia principais nos níveis mais elevados da Maçonaria européia. Uma é a busca de uma suposta imortalidade, por meio da alquimia e da ioga tântrica. A outra encontra-se em duas ciências irmãs: a megapolissomancia e a arqueometria. Antes que você corra atrás do seu dicionário, apresso-me a informar que provavelmente você não encontrará estas duas pala­ vras em dicionário algum. Suas definições são as seguintes: Megapolissomancia (Megapolis é a palavra grega para uma gran­ de cidade; o m a n cia significa magia, como em necromancia, cristalomancia [uso da bola de cristal], quiromancia [leitura de mãos], etc.) Assim, a palavra significa “magia na construção de uma cidade”. Arqueometria (que significa “medições ou medidas antigas”). Esta é a ciência da magia do que também é chamado de medidas proporcionais à Terra. Há uma crença de que construir templos, túmulos, círculos de pedra, etc. em dimensões baseadas nas di­ mensões da própria Terra é algo extremamente poderoso. Os maçons eram construtores de cidades, e a megapolisso­ mancia é a suposta arte esotérica maçônica de construir cidades e edificar templos com dimensões espaciais corretas, para que me­ lhor atraiam espíritos demoníacos. Tais construções seriam assim os mais eficientes repositórios de energias da magia. A construção de certos espaços e determinados ângulos nos aposentos criaria por­ tas de acesso a outros universos. Esses universos poderiam, então, ser penetrados e conquistados pelo mago, de modo bastante seme­ lhante ao de Colombo quando conquistou o Novo Mundo. Assim, sob a direção de meus guias (tanto humanos como espirituais de­ moníacos), dediquei-me a esses tipos de magia com que meu anti­ go mentor, Aquarius, tinha-se envolvido. Outra abordagem à mesma “ciência” pode ser feita por meio da criação de ícones. Os “icones” (do grego eikon, que significa “imagem”) são bem conhecidos na Igreja Ortodoxa. Sao pinturas de Jesus, de M aria e dos santos, consideradas sagradas. São tidos como verdadeiras “janelas para o céu”. Os ortodoxos crêem que um ícone de Jesus pode trazer sua presença real à igreja onde se encontra.


Os fiéis ortodoxos levam muito a sério os ícones. Seus pinto­ res dos ícones são considerados poderosos homens de Deus. Em algumas casas, o marido e a esposa cobrem o ícone ou o viram para a parede quando têm relações sexuais, porque se sentem embaraça­ dos diante do que o ícone possa “ver”. E conta-se a história de um ladrão que, ao entrar numa casa, virou os ícones de frente para a parede, para que não pudessem vê-los roubando. A concepção que se tem é que o ícone é uma porta aberta para uma realidade celestial. Ensinaram-me a fazer diferentes tipos de ícones. Além de ícones ortodoxos típicos que fiz, de São Pedro, São Paulo e da Virgem (lembre-se de que eu era consagrado bispo da Igreja Ortodoxa Russa), fiz também ícones que representariam portas de acesso a universos alternativos, assim como outros que retratavam seres sa­ grados da magia. Então eu me projetava de modo astral naquelas pinturas e procurava explorar outros universos. Os T e r r í v e i s S e n H o r e s d o G s p A ç o C ó s m i c o

Foi aqui que a magia, a ficção científica e a fantasia começaram a interligar-se. Um dos objetivos dessas visitas a outras dimensões do tempo e do espaço era o de contatar as entidades que mandavam por lá. Fora-nos explicado que o nosso universo é relativamente jovem em relação a outros. Assim, os seres supremos do nosso uni­ verso (Deus e Lúcifer)1 estavam ultrapassados por “seres supre­ mos” de outros universos. Isto, pensava eu, poderia ser a solução do dilema sobre quem seria mais poderoso do que Lúcifer. Meus mentores diziam haver seres nesses outros universos anteriores aos tempos em que o nosso Deus e Satanás estavam ainda de fraldas. Eram os assim chamados “Terríveis Senhores” dos espaços exteriores: o espaço que existiria além do espaço. Comunicando-me com uma entidade que dizia ser Aleister Crowley falando do além — por meio de uma incorporação — , fiquei sabendo que isso era uma parte substancial dos segredos arcanos contidos em sua obra The Book o f the Laiu [O Livro da Lei].2 Isso se confirmou posteriormente nos escritos de Kenneth


Grant, um dos sucessores de Crowley como dirigente para assun­ tos externos da O.T.O.3 Grant demonstrou que a religião de Crowley era um reavivamento do culto, feito na Antigüidade, à estrela Sirius (isto é, Set, o deusdemônio egípcio). Uma característica singular de Sirius é que ela é uma estrela binária, sendo Sirius A a brilhante estrela avermelhada que se vê na constelação Canis Major (Cão Maior), e Sirius B, uma estrela escura, totalmente invisível da Terra, exceto através de modernos radiotelescópios. Assim, Sirius A representa o deus “bom” no sistema de Crowley, Heru-Paar-Kraat. Sirius B, o deus da guerra, Ra-HoorKhuit. Além disso, no entanto, Sirius B é uma espécie de buraco ne­ gro, sendo assim a melhor porta de acesso a outras dimensões — especialmente para o celebrado universo B. Os deuses de Crowley supostamente acham-se fora do nosso universo. Usando uma palavra do autor ocultista H. E Lovecraft, eles são “transyuggothianos” (ou seja, estão além de Yuggoth, um nome ocultista para o planeta Plutão). Nosso universo não “pára” na órbita de Plutão, mas os pratican­ tes da magia solar e lunar, que operam segundo esses ritos, acreditam que além daquele planeta cessa o poder mágico de influência do Sol, e os poderes dos deuses celestiais (ou seja, Jesus, Satanás, etc.) come­ çam a diminuir substancialmente. Um novo tipo de “espaço” e de reino da magia passa a prevalecer. Meu objetivo era ir até o espaço “transyuggothiano” e manter contato com aqueles terríveis senho­ res, os “Grandes Seres da Antigüidade”, como eram chamados. 0 C 1 a m o 1-

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í h u Ihu

Howard Phillips Lovecraft tornou-se um escritor famoso entre os aficionados de livros de terror e ficção fantástica. Ele viveu cerca de 50 anos atrás e escreveu livros marcantes, com um enfoque de dé­ cadas à frente do seu tempo. Suas histórias— , por exemplo, The D u n w ich H orror [O Terror de Dunwich], The D iveller on the Threshold [O Habitante Primitivo] e The Color O ut ofS p a ce [A Cor Fora do Espaço] — eram de horror mescladas com a ficção cientí­ fica, de um modo estranhamente discreto e sóbrio, mas, mesmo assim, muito amedrontador.


AL f i D G A D

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Baphometis Sanctum SanctoriumiO.T.B.

By the Order of the Most Wise Sovereign Grand Inspector General,33?&nd in accordance with the By-Laws of the Supreme Grand Council.and the R*C, of the Supreme Grand Lodge of the luciferian Cube of the Temple of Baphomet,the Brotherhood of the Blazing Star of the Falladium.the undersigned Ills, Brother has been raised from the 18? of the honored Sovereign Princess of the Rose-Croix,to the sublime honorary degree of Grand Ancient Inspectress General and the Bride of Astaroth.This is under authority of the inner Order of the French European Grand Lodge of Co-Masonry,la Grande Loge Symbolique De France.ánd is following the tradition of the late Albert Pike,33, Grand Inspector General,of the original Grand Lodge of the Palladiura Brotherhood of Freemâsonry.

Alexandria Pendragon,33°

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July.13,1980

This is official notice of the confering of the Thirty-Third Degreerthrough the time honored bond of Brotherhood,La Chaine De Union,of the French Co-MaBonic Lodge,and is in accordance with the will of the Supreme Hierophant 97? of the inner Esoteric Orders,listed below.of the Grand Lodge of ali European Co-Freemasonic Orders.and the Brotherhood of the Illuminati. All-Seeing Eye Lodge No.13 Ordo Templi Baphomet Rose-Croix of Heredom Gnostic Brotherhood of Light Ordre Du Palladium Fraternitatis Rosae et Aureae Crucis Ancient Order of Knights of the Temple July,13.1980 Sovereign Grand Inspector Gen.,33° Illuminatis Primus, Societe Des Illumines Northern,U.S.A.

Certificado [tradução na página seguinte] que mostra Sharon Schnoebelen, com o nome de Alexandria Pendragon, tornando-se Grau 33 da Maçonaria e maçom na Irmandade Paládio. Nota: Todas as honras mais elevadas sao conferidas oralmente; nenhum certificado é conferido.


ALGDGADL’U Baphometis Sanctum Sanctorium; O. T. B. Pela ordem do Mais Sábio Soberano Grande Inspetor Geral, 33°, e de acordo com o Regimento Interno do Supremo Grande Conci­ lio, e o R*C, da Suprema Grande Loja do Cubo Luciferiano do Templo de Baphomet, a Irmandade da Estrela Brilhante do Paládio, o abaixo-assinado e ilustríssimo Irmão foi elevado do 1 8o da honra­ da Soberana Princesa de Rosa Cruz para o sublime e honorário grau de Grande e Antiga Inspetora Geral e Noiva de Astarote. Isto é feito sob a autoridade da Ordem Secreta da Grande Loja FrancoEuropéia da Co-M açonaria, La Grande Loge Symbolique de France, e segue a tradição do recém-falecido Albert Pike, 33°, Grande Ins­ petor Geral, da Grande Loja original da Irmandade de Maçonaria Paládio. Alexandria Pendragon, 33°

Alexandria P endraçon 33°

13 de julho de 19 8 0

Esta é uma notificação oficial de que foi conferido o Grau Trigési­ mo Terceiro, por meio do sempre honrado elo da Irmandade, La Chaine de Union, da Loja Co-M açônica Francesa, e em concor­ dância com a vontade do Supremo Hierofante 97°, das Secretas Ordens Esotéricas, abaixo listados, da Grande Loja de todas as O r­ dens Européias Co-M açônicas, e a Irmandade dos Illuminati. Loja do O lho O nivisor N° 13 O rdo Templi Baphomet Rosa Cruz de Heredom Irmandade Gnóstica da Luz Ordem do Paládio Fraternitatis Rosae et Aureae Crucis Antiga Ordem dos Cavaleiros Templários

Irm ão D avid D. D ePaid 33° Soberano Grande Inspetor Geral, 33° Illuminatis Primus, Societé Des Illumines Região Norte, EUA.

13 de julho de 1 9 8 0


O que talvez não se saiba tanto de Lovecraft é que, mediante seu avô, ele teve acesso a livros de ocultismo muito raros e secre­ tos. O avô de Lovecraft participava da Maçonaria egípcia. Assim, grande parte do que Lovecraft escreveu, como ficção, baseia-se em práticas reais do ocultismo,4 bastante avançadas e perigosas. Kenneth Grant (líder da O.T.O.), LaVey e outros escritores dão prova disso.5 Lovecraft pode ter experimentado pessoalmente essas formas de magia “transyuggothiana” e se aterrorizado. Sabe-se que ele teve uma vida de muito pavor, praticamente como um recluso. Nunca se casou; tinha medo de se aproximar do mar; temia descer a um subsolo. Foi muito semelhante a um grande número de protago­ nistas de suas histórias, geralmente personagens jovens e bastante sensíveis, da sua fictícia Universidade Miskatônica, que descobri­ ram horríveis livros antigos de magia negra e sabedoria da Antigüi­ dade, como O N ecronom icon. Esses seus personagens jovens são quase sempre solteiros, mui­ to eruditos, que chegam próximo da insanidade mental por cau­ sa do que descobrem no âmbito da magia “transyuggothiana”. Seus contos e novelas podem bem ser autobiográficos, como uma maneira de Lovecraft elaborar o seu terror terapeuticamente so­ bre folhas de papel. Ele fala m eticulosam ente de “rituais indescritíveis”. Alude à manipulação genética, com mutações monstruosas, muitos anos antes de tais coisas serem compreendi­ das cientificamente. Acreditávamos que esses deuses “transyuggothianos” fossem mais poderosos do que os do nosso universo e que tivessem acesso à consciência humana por meio de nossos sonhos, pesadelos e in­ sanidade mental. O bizarro panteão de supostos deuses fictícios de Lovecraft era, curiosamente, semelhante ao dos seres que os satanistas da vida real de Crowley procuravam alcançar com seus rituais. Havia Azathoth,


um deus cego e idiota que balbuciava palavras sem nexo bem no centro da galáxia. Havia Cthulhu, mestre dos sonhos e deus das águas, sepultado na cidade de R’lyeh, submersa no Pacífico. Havia Nyarlathotep, o estranho deus egípcio parecido com Set, cuja mani­ festação levaria instantaneamente qualquer ser humano à total insa­ nidade. E o pior deles, Yog Sothoth. Cheguei até mesmo a saber o nome do meu misterioso “visitante” das margens do lago ao norte de Wisconsin — aquele que me apareceu quando era adolescente e toldou as estrelas e fez com que as árvores se movessem sem que houvesse vento. Por motivos que não se sabe ao certo, as florestas setentrionais de Wisconsin são um lugar “sagrado” dessas antigas divindades, talvez por causa da influência dos índios americanos da região. Aquele que eu tive o “privilégio” de ver chamava-se Wendigo pelos indígenas, isto é, “o que anda sobre o vento”. No idioma mis­ terioso de O N ecronom icon, ele era referido como Ithaqua. O fato de que eu, então um adolescente não iniciado, tivesse sido capaz de vêlo de relance, fez com que me sentisse muito lisonjeado. Cada um desses seres impossíveis era mais maligno do que o outro. Contudo, eram também fontes de um inimaginável poder. Certamente, isso era causado pelo fato de serem de outros univer­ sos, em que as leis da Física, do tempo e do espaço eram diferentes — como também os limites entre o bem e o mal. Fomos levados a acreditar que o “mais bondoso” desses seres era tão malvado e insano que, comparado com eles, Satanás seria uma fadinha bondosa. Todavia, era de se supor que esses seres não desejavam ser ado­ rados. Simplesmente queriam obter nossa energia. Isso era verda­ de, especialmente, com respeito a Cthulhu (pronuncia-se “Tulu”). Teríamos que ir às margens do lago Michigan (a maior concentra­ ção de água mais próxima) e realizar determinados rituais para despertá-lo de seu sono na cidade da Antigüidade que se achava enterrada no fundo do oceano. A invocação de Cthulhu é na ver­ dade um dos poucos ritu ais publicados da m etafísica transyuggothiana. Evidentemente que foi LaVey quem teve a ou­ sadia de publicá-la.6


Quemetiel — “Multidão de Deuses" Belia’al — “Vileza” A’athiel — “Incerteza” Thaumiel “Deuses Gêmeos’’ Escondedores’

Golachab

Gha agsheblah

'

n

‘Inflamantes'

T ú n e i s

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Escondido'

T ijp H o n

Satariel

cc

o

Samael

A’arab Zaraq

Caluniador Gamaliel

Corvo de Dispersão”

"Traseiro .Obsceno” Túneis de Typhon Lílite

(ligando todas as

Dama da

Carapaças de Qlifoth)

Noite" ,

A ÁRVORE DO MAL OU QLIFOTH: 0 LADO TRANSYUGGOTIANO DO UNIVERSO DA MAGIA

199


Durante muitas noites, fizemos essa invocação às margens do lago, querendo despertar o Gigante Adormecido para que abrisse a porta e assim outros Seres da Antigüidade pudessem vir reinar so­ bre a Terra. O fato de realizarmos esses rituais deixaram nossa mente aberta a outras esferas bastante estranhas. Nossos sonhos passaram a ser perturbados por imagens de ventosas, tentáculos e faces de seres de uma obscenidade e um terror sem limites. Portas foram abertas para suas dimensões. Ou era assim ou estávamos sofrendo de uma insanidade mental coletiva. O que realmente cada um de nós experimentava é algo que nunca saberemos ao certo. No entanto, essas experiências criaram em nós alterações reais que, em sua maioria, nao seriam dignas de serem comentadas num círculo de pessoas educadas. Eu, particu­ larmente, passei a sentir forte desejo de praticar os mais perversos modos de relações com outros seres humanos. Explicaram que isso era porque um com ponente-chave na operação da m agia transyuggothiana é que os orifícios do corpo humano tornam-se literalmente portas de acesso a estranhas entidades infernais. O ingresso a esses bizarros universos nos possibilitava um avanço es­ petacular no poder da magia: mas a que estranho preço? Pa i *a D e n t r o d o s T ú n e i s

Sao estes os chamados “Túneis de Typhon”, nome de um antigo deus egípcio da destruição (versão mais moderna de Set). Condu­ ziam a lugares, civilizações e templos que por pouco não me leva­ ram à loucura tão-somente pela sua manifestação. Fiquei totalmente transtornado ao passar por eles. Aquela parte estranha, de fogo líquido metálico dentro de mim, aflorava à minha pele. Sentia-me como se fosse feito de ferro ou aço vivo. Depois de alguns meses, dei um nome ao ser transcendente em que eu estava me tornando: uma “metamáquina”. Quando sentia aquelas tenebrosas e impla­ cáveis forças crescer dentro de mim, dizia a mim mesmo: “Lá vem de novo minha metamáquina!”


As viagens que fazia por aqueles túneis, no entanto, não eram nada divertidas. Entrei em templos onde havia pessoas que pare­ ciam vivas, mas tremelicavam a carne adoecida, cancerosa. Esta­ vam vivas, sim, mas não realmente. Havia templos construídos sobre metais líquidos, tipo mercúrio, que se deslocavam sob os meus pés como se fossem de gelatina. Em cada lugar, havia lições de dor e tormento a serem aprendidas. Era uma espécie de estra­ nho sadomasoquismo espiritual. Comecei a gostar da dor que sentia, a fim de poder ganhar os troféus necessários para acumular em mim maior poder na magia. Algumas das experiências eram ainda piores do que aque­ las da “Catedral da Dor”, e comecei, então, a questionar comigo mesmo se aquela também nao seria outro universo acessado por esses túneis. Um

Livro

ReAlmenie

UmAldiçoAdo

Por meio de meus relacionamentos na confraria, já havia consegui­ do obter grande parte de O N ecronom icon, a principal fonte da magia e da espiritualidade transyuggothiana. Contrariamente à crença popular, nao se trata de um livro de ficção, mas de magia (um livro de trabalho) da mais tenebrosa espécie. Seu título pode­ ria ser traduzido como “O Livro dos Tons dos Mortos”, ou “O Livro das Leis dos Mortos”. Tal como as propostas de Aleister Crowley com respeito a Set e sua religião de Thelema, O N ecronom icon é conhecido a partir do antigo paganismo árabe. Supõe-se que haja sido escrito original­ mente em Árabe, nos tempos de Maomé, por Abdul Al-Hazred, também chamado de Al Azif. Consta que o texto foi ditado ao feiticeiro árabe — mais ou menos como aconteceu com o Livro da Lei de Crowley — por algum ser interdimensional. Dizem, ainda, que, ao terminar de escrever, ele foi esmagado a ponto de tornar-se uma pasta sangrenta, sendo devorado vivo por enormes bocas in­ visíveis, diante de muitas testemunhas.


Há um livro de título O N ecronom icon sendo presentemente publicado, mas que contém apenas as partes mais leves do origi­ nal completo. Mesmo assim, é incrivelmente sinistro. Tive um exemplar de uma edição limitada desse livro menor, feita com apenas 666 cópias (naturalmente) e assim dedicada: “Ad m aioram C rowley gloriam " — uma paródia às palavras que se aplicam so­ mente a Jesus, significando "a Crowley seja toda a glória”. Não obstante, é apenas um pálido reflexo da incrível malignidade con­ tida no verdadeiro livro. Seja como for, era um livro difícil de se encontrar. Meu amigo proprietário da livraria de obras ocultistas da nossa cidade contoume ter tido problemas na venda de O N ecronom icon, não por ser bastante caro (embora as edições limitadas custassem US$ 60), mas por motivos bem menos tangíveis. A primeira pessoa para quem ele vendeu um exemplar era um feiticeiro, que o levou para casa, um apartamento situado num prédio de muitos andares, em Milwaukee. Mal tinha passado pela porta, e colocado o livro sobre a mesa, um afável gato preto, seu “animal familiar” , ficou como louco. Começou a urrar, girando furiosamente em pequenos círcu­ los, no chão da sala. Então, sem mais nem menos, o gato parou de repente de rodar e foi lançado, como que por um tiro de canhão, contra o vidro reforçado da janela panorâmica da sala, caindo de uns 12 andares para morrer lá embaixo. Como a maioria dos bruxos considera seus animais como “sistema de alarme de prevenção à distância”, o feiticeiro levou o livro imediatamente de volta à livraria, pedindo a devolução do pagamento. Relato ainda mais trágico foi feito ao dono da livraria por outra pessoa que comprou o livro. Era um homem casado, que tinha uma filha de cinco anos. Quando comprou o livro, ele o levou para casa e o colocou numa prateleira. Sua filhinha não o perturbou durante toda aquela tarde, desde que ele chegou em casa com O Necronomicon. É que ela foi para o andar superior. Depois, a encontraram morta, no banho, com a garganta cortada por uma lâmina de barbear.


Eu mesmo cheguei a possuir um exemplar desse livro por mui­ tos meses — mas sem nenhum efeito negativo, o que me causou certo espanto. Hoje, esse livro é vendido em livrarias de pequenos shoppings, nos Estados Unidos, a um custo de apenas quatro dóla­ res — sendo que a maioria dos compradores são adolescentes. E é um livro incrivelmente perigoso! 0 L a (Io G s c u r o do é d e n ? 0 N ecron om icon baseia-se em grande parte na m agia negra sumeriana, da Antigüidade, a apenas algumas gerações após a fun­ dação de todás as falsas religiões posteriores ao dilúvio de Noé — a Babilônia de Ninrode. Não é coincidência que Crowley se referisse às suas mulheres como “Babalom, a Mulher Escarlata” .8 Esse livro maligno alimentou minha “metamáquina” com tudo que ela desejava. Ensinou-me a metafísica da dor, da raiva e da ira. Levou-me para a parte de trás, o lado escuro, da Arvore da Vida (mencionada anteriormente). Embora a Árvore Cabalística seja usa­ da em magia ritual, geralmente ela é tida como magia branca. To­ davia, como ocorre em todas as formas de magia e metafísica, há sempre uma dualidade. No reverso da Árvore da Vida, há um tipo de Árvore do Mal, chamada Qlifoth (pronuncia-se “cli-fót”). Esta palavra pode ser traduzida por “meretrizes” ou “cascas” (esta última acepção no sen­ tido de coisa oca, dessecada e sem vida). Todos os rabinos, mesmo os místicos, mantêm-se totalmente afastados da Qlifoth. Para mim, porém, era o que mais me agradava. Através dos túneis de Typhon, e com os rituais de O N ecronom icon, tive condições de ir até o “hiperespaço da magia” e chegar ao lado escuro da Árvore da Vida, que Kenneth Grant cha­ mou de “O Lado Escuro do Éden” (título de seu livro), um dos primeiros a abordar essa arquitetura blasfema da magia. O nível mais baixo da Árvore de Qlifoth (representando seu nível menor de malignidade) tem o nome de Lílite. Lembra-se


dela? É a demônia amante de Lúcifer e mãe de Set; a padroeira do aborto, do assassinato de crianças e da “morte do berço”. A segunda esfera planetária para a qual viajei chamava-se, por incrível que pareça, Gamaliel, e era apelidada de “Traseiro Obsce­ no”. O pináculo da Arvore do Mal era uma total, completa e perfeita Dualidade — uma zombaria à unicidade absoluta do verdadeiro Deus dos hebreus. Viajar por esses caminhos e túneis era como passar por uma tubulação de esgoto espiritual, mas isso era necessário para que eu me preparasse para o próximo grande passo. Eu tinha que superar toda a moralidade, todos os conceitos do que é bom ou mau, para poder atingir o grau ou nível seguinte, o de Adeptus Exemptus. Estaria preparado, então, para cruzar o Abismo e tornar-me um Mestre — e em condições de levar uma vida humana para os Terríveis Senhores dos Espaços Exteriores.

N o l AS

1 Os luciferianos e satanistas, em sua maioria, são, tecnicamente dualistas, ou seja, acreditam em duas divindades, essencialmente iguais, mas opos­ tas uma à outra. Isto está de acordo com a tradição dos antigos zoroastrianos,

que acreditavam em Ahuru Mazda, senhor da luz, e

Ahriman, senhor das trevas. O cristianismo, apesar de por vezes referido como dualista, na verdade não o é. Deus e Satanás não são iguais, na Bíblia Sagrada. Deus é o Criador, e Satanás é uma de suas criaturas. 2 Para uma explicação maior da revelação de Crowley, veja o capítulo 5. 3 Veja seus livros The M agical Revival [O Reavivamento da Magia], Aleister

Crowley an d the Hidden God [Aleister Crowley e o Deus Oculto], The Nightside ofE den [O Lado Escuro do Éden], etc. 4 Raschke, PaintedBlack, op. cit., p. 303. 3 Veja The Satanic Rituais [Os Rituais Satânicos\, de LaVey, e The M agical Revival [O A vivamento da Magia], de Grant. 6 The Satanic Rituais.


O “animal familiar”, desde tempos imemoriais, é um bicho de estimação, que os feiticeiros possuem, e com o qual desenvolvem afinidades de magia — tradicionalmente acariciando-o (no caso de bruxas) ou fazendo-o be­ ber o sangue do próprio feiticeiro. O animal adquire, então, suposta­ mente, poderes especiais, passando a servir de protetor e confidente. Geralmente, são “animais familiares” gatos, sapos, corvos, gralhas e, even­ tualmente, cães, lagartos e cobras. Os feiticeiros de hoje também têm

soma de 77 7 e tinha para Crowley um profundo sentido em seu sistema de magia.

de

8 Esse excêntrico jogo de palavras tem um significado mágico. Eqüivale à

Túneis

sangue ou leite humano. Nunca tivemos um.

TijpHon

seus animais familiares, embora eu não saiba se são alimentados com

co

o

2°5


Deseriores

d.As T r e v A s

(...) não é este um tição tirado do fogo? — Zacarias 3 .2

ü t é agora, estivemos examinando os vários tipos de satanistas e analisamos as origens e as fdosofias dos principais teólogos “satâni­ cos” de nossos dias. Contudo, é importante ter em mente que tais grupos são constituídos de seres hum anos vulneráveis (como eu), que têm sido e são envolvidos e enlaçados por Satanás. Como mencionei em capítulos atrás, tais pessoas não sao inimigas, mas vítimas. Até mesmo homens como LaVey e Aquino, no sentido estrito da palavra, são vítimas, embora em menor grau do que outros. É eviden­ te que eles também se venderam por uma série de vantagens ao Enganador-mor. Enganaram-se a si mesmos ou tiveram a ilusão de que o inferno é um mito e de que Jesus e sua mensagem são totalmente sem sentido. Temos que orar para a salvação de pessoas assim. Todavia, muito do que sabemos sobre praticamente todas as formas de satanismo provém de um tipo bem d iferen te d e vítim a : aquele que se envolveu com um grupo satânico, mas que decidiu sair dele. Este é um fato raro, mas que, graças a Deus, está se tor­ nando mais freqüente. Costumava-se dizer que o satanismo autêntico é como a Máfia — o único modo de se sair dele seria num caixão funerário. Jesus


Cristo tem provado, cada vez mais, que isso é mentira. Minha es­ posa e eu somos apenas dois em meio a dezenas de ex-satanistas que agora sao salvos pelo sangue do Cordeiro de Deus. Muitos de nós poderíamos apresentar relatos verídicos de ameaças de mor­ te feitas contra nós ou até mesmo de situações que puseram em risco a nossa vida, totalmente desmanteladas pelo poder de Deus. O que prova que quando um cristão é de fato Nascido de Novo, Satanás e seus servos nao podem voltar-se contra ele sem permis­ são de Jesus. Pessoalmente temos aconselhado dezenas de ex-satanistas, que agora estão tendo uma vida de vitória em Jesus Cristo. Mas alguns dos que já aconselhamos, desses desertores do satanismo, não qui­ seram, infelizmente, tornar-se novas criaturas em Cristo. Tinham somente se desligado da “religião”, do modo justamente como o seu grupo de feitiçaria os tinha ensinado e manipulado. Não en­ tenderam que Jesus deseja ter conosco um relacionamento, não uma religião. Haviam vivido muitos momentos sob intensa tortu­ ra e, por vezes, tiveram que ser internados depois, como enfermos, em sanatórios para doentes mentais. Perdemos o contato com al­ guns deles, após algum tempo, e é bem possível que tenham caído novamente nas mãos de adeptos do seu grupo. Além da pesquisa relativamente limitada que tem sido feita por historiadores e outros estudiosos, os que escaparam desses diferentes grupos ocultistas (em especial os que são novas criaturas em Cristo) são a melhor fonte de informações sobre essas seitas. Eles sao, na verdade, os que venceram “(...) por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram” (Ap 12.11). O tenente Larryjones ,1 um crente autêntico, que atua profis­ sionalmente como agente da lei, tem tido ocasião de entrevistar, ministrando mais do que o seu próprio “testemunho”, muitas pes­ soas que escaparam dos grupos satânicos. Ele destaca, com muita exatidão, que essas pessoas precisam realmente ser compreendidas pelo Corpo de Cristo. Acontece com freqüência que muitos cristãos


ficam amedrontados, desnecessariamente, com essas pessoas. Logo que minha esposa e eu saímos do satanismo, reunimo-nos com alguns crentes, que se sentiram atemorizados com a nossa presença assim que souberam do nosso passado. Seu comportamento de­ monstrava terem medo de que algum mau contágio pudesse sair de nós e atingi-los ou à sua família. Isto é muito triste. O poder do sangue de Jesus Cristo verdadeiramente é capaz de nos salvar totalm ente. Temos visto que ex-satanistas, que agora sao verdadeiros cristãos, em sua grande maioria tornaram-se mara­ vilhosos e ardorosos homens e mulheres de Deus. Muitas das pes­ soas que vêm a nos conhecer atualmente fazem afirmações como: “Não dá para acreditar que um casal tão amável como vocês tenha participado do satanismo.” E o poder de Jesus! Uma transforma­ ção de fato acontece, na grande maioria dos casos, logo após a salvação. E acontece justamente o que deveria acontecer. O velho homem, o “feiticeiro”, foi crucificado espiritualmente, no momento do novo nascimento, e agora Cristo vive em nós (G1 2 .20 ). O tenente Jones diz ainda que os ex-satanistas, salvos, devem ser considerados como de grande valor para o Corpo de Cristo. Eles provêm do campo do inimigo mortal da Igreja e foram purifi­ cados, lavados e santificados. Muitos deles, se não a maioria, po­ dem ser importantes fontes de informação. Devem ser tratados nao como inimigos, mas como amigos, tal como os governos cos­ tumam tratar os fugitivos e exilados dos regimes políticos que lhes sejam ostensivamente contrários. “ R F e i l i c e i r A N âo D e i x A r Á s V i v e r ? ”

Não é preciso convidá-los para almoçar ou jantar, nem tratá-los com grandes mesuras. Não é essa a questão. Eles só precisam ser tratados como novas criaturas em Cristo, que podem ter informa­ ções úteis e importantes a compartilhar. Devem também ser trata­ dos como pessoas que certamente foram feridas emocionalmente e até mesmo, quem sabe, fisicamente. São “feridos de guerra” da


batalha que Satanás tem travado contra a humanidade. Não de­ vem ser vistos como párias da sociedade, como algumas igrejas in­ felizmente, os têm tratado. Devem ser bem-vindos e recebidos de braços abertos, recebendo sadio ensino bíblico e discipulado. Fico perplexo ao saber que alguns pastores — graças a Deus não em grande número — têm ensinado às suas ovelhas a mentira de que os feiticeiros não podem ser salvos, que está além do poder de Jesus redimi-los. Tem-se ensinado a alguns crentes que os que fizeram um pacto com o diabo não podem ingressar no Reino de Deus. Chega-se até mesmo a citar Êxodo 22.18: “A feiticeira não deixarás viver”, como base bíblica para essa estranha doutrina. Acredite-me, sou capaz de “apostar”não ser tão rara quanto geralmente se pensa a possibilidade de uma igreja, com cerca de uns 50 freqüentadores por culto, receber no seu seio um ou mais idólatras, ou pessoas que aceitam ou até praticam atos de supersti­ ção ou bruxaria. No entanto, não é de admirar que muitos feiticei­ ros não confiem nos cristãos, pensando que o nosso desejo é matá-los ou trazer de volta a “Santa” Inquisição. Ensinos de intolerância, do púlpito, fazem com que uma pessoa supersticiosa ou mística, que busca a igreja para obter a salvação, se desespere ou se feche total­ mente contra Jesus e a salvação que Ele oferece. E o que dizer sobre compartilhar a Palavra da Verdade de maneira errada? (Veja 2 Tm 2.15.) Esse tipo de ensino é um total contra-senso; o que faz é trazer desalento àqueles que vêm do ocultismo à igreja, em busca de ajuda. Também faz com que os cristãos se sintam temerosos de testemunhar sua fé a feiticeiros e satanistas, o que não deveria aconte­ cer. O que esse tipo de ensino propicia é a glorificação de Satanás, ao admitir que ele p o d e fa z er algo que Deus não possa desfazer. E claro que temos de avaliar o que os “desertores” nos digam — do mesmo modo que temos de avaliar as informações que nos são dadas por qualquer outra pessoa. Primeiro, precisam ser exa­ minadas em conformidade com a Bíblia, tendo que estar alinhadas com a Palavra de Deus. Segundo, tanto quanto possível, devem ser avaliadas à luz de informações confirmadas e dados históricos.


Há uma infeliz tendência por parte dos sobreviventes do sata­ nismo (que não são suficientemente maduros, como poderiam ser) de exagerarem suas histórias ou colocarem os acontecimentos fora de uma ordem cronológica. O primeiro desses problemas decorre de terem vivido anos e anos como escravos do supremo egocêntrico do universo. Os satanistas, em sua maioria, costumam exagerar e mentir para pro­ tegerem sua “imagem” ou impô-la. E desse modo que funciona o seu jogo. Quando salvos, devem ser ensinados que os seus antigos sistemas vivenciais não são mais necessários nem desejáveis. Pode ser necessário ter que lutar para quebrar esses hábitos. A pessoa precisa ser lembrada, com muito carinho, de que não é mais um servo do “pai da mentira”. O que ainda lhe está muito amarrado à carne é o desejo de agradar o seu novo “círculo” de amigos na igreja. Assim, ser um Illum inatus Prim us, acha ele, causará uma impressão bem maior do que simplesmente dizer que é um simples satanista. Isso torna sua história mais atraente e também parece glorificar mais a Jesus, porque salvou alguém desse tão elevado grau de perdição. Juntandose estes dois elementos com a natureza pecaminosa da pessoa, fica mais fácil compreender por que sua história, às vezes, é um tanto exagerada ou enganosa. Isto não quer dizer que a pessoa não está salva. Apenas significa que não é perfeita. Que gran de revelação! Ê aqui que um pastor que seja bom, de doutrina sólida e dis­ cernimento espiritual, pode muito ajudar. Muitas vezes, os que vêm do ocultismo começam a vida cristã de modo errado, saindo de imediato para pregar, evangelizando, ensinando na igreja, antes de serem discipulados e amadurecerem em seu caminho com o Senhor (1 Tm 3.6). Seu interesse em querer ministrar é compreen­ sível e elogiável, mas é preciso estar, no começo, constantemente sob supervisão pastoral. Outro ponto em que aqueles que cuidam de sobreviventes do satanismo consideram um problema bastante comum nessas pessoas


D e s l r o n A d o L ú c i f e r

212

é a fragmentação da memória e um sentido de descontinuidade na história de sua vida. Assim, se as histórias do sobrevivente não se encaixam muito bem cronologicamente, ou não batem exatamen­ te com a memória de seus contemporâneos, isso poderá ser devido aos traumas que sua mente sofreu, não a uma deliberada intenção de faltar com a verdade. Mas simplesmente porque alguns tiveram problemas, não é razão para desqualificar (como muitos fazem) os testemunhos de todos os ex-satanistas. Seria o mesmo que dispensar os evangelistas só porque alguns deles sofreram grandes quedas, como tem acon­ tecido nos últimos anos. T e s l e m u n H o s N ão í l l u i l o T í p i c o s

Bem, que tipo de gente são os sobreviventes do satanismo? Há vários modos de classificá-los, mas basicamente são de quatro tipos: 1. Uma pessoa nascida e criada numa tradicional família de satanistas de muitas gerações. Há dois subgrupos: a) Os escolhidos para liderança. b) Os selecionados para a procriação, ou para serem vítimas ou sacrificadas. 2. Uma pessoa criada numa família de satanistas tradicionais, que nela entrou por adoção legal, troca, compra ou rapto. Isso ge­ ralmente ocorre entre os 4 e 6 anos de idade. Neste caso, as pessoas sao geralmente tratadas como no caso 1 -b acima. 3. Uma pessoa nascida numa família em que um dos pais (ou tutores) e/ou alguém mais dentre seus parentes são satanistas secre­ tos, mas o outro progenitor ou tutor ignora esse fato. Também, neste caso, a pessoa é tratado como em 1 -b acima. 4. Alguém que, no fmal da adolescência, ou no início de sua fase adulta, junta-se voluntariamente a um grupo satânico. Tal pes­ soa geralmente nao é por demais vitimada, embora seja, muitas vezes, manipulada em situações terríveis. Se, de algum modo, a


XrevAS ( I as

Deseriores

pessoa falhar em sua fidelidade ao grupo, é tratada de modo deplo­ rável e, em muitos casos, assassinada. Como se pode concluir, o sobrevivente ao Abuso Ritual Satâ­ nico (ARS) normalmente é do tipo 1 ao 3. São pessoas que foram sistematicamente submetidas a abusos, tanto emocional como físi­ ca e sexualmente, de maneira intensa, num período de muitos anos. Conquanto o tipo número 4 possa ter sofrido alguns traumas e problemas de ordem emocional, ou tenha se envolvido com dro­ gas ou hábitos sexuais pervertidos, normalmente não é tão severa­ mente atingido como os três primeiros. Tanto rapazes como moças podem sofrer de maus-tratos, mas as moças geralmente são vítimas mais freqüentes, por motivos diversos. Como mencionado anteriormente, existem amplas varieda­ des de satanismo no mundo ocidental. Isto significa que há gran­ des variações nos rituais, que, por sua vez, produzem diferenças significativas no que diz respeito às vítimas. Não obstante, há cer­ tas semelhanças que podem ser observadas nas pessoas que passa­ ram por ARS, mesmo naqueles posteriormente salvos. Na maioria dos casos, passaram por: • Situações em que foram forçados a tomar drogas (narcóti­ cos e alucinógenos), submeter-se à hipnose, em parte por motivos esotéricos ou alquímicos, em parte com o propósito de “desenvol­ ver o poder da mente”. • Freqüentes períodos de um forçado isolamento de seus pais e/ou de todo contato humano. • Molestaçao sexual num ritual, para assegurar a posse demo­ níaca da criança e perverter para sempre o ato sexual (que o Senhor criou para ser algo bom) em sua mente e em seu coração. Geral­ mente, a criança passa repetidamente por todo tipo possível de perversão, muitas vezes sob o efeito de drogas alucinógenas. • Participação forçada em sacrifícios rituais, tanto de animais como humanos.


• Perversões de eventos bíblicos, em rituais — sendo crucifi­ cado, açoitado, sepultado e depois “ressuscitado” pelo sumo sacer­ dote satânico. • Ritos pervertidos de batismo e comunhão, levando a ter medo de água, de banheiras e banheiros e de pessoas em trajes clericais. Crianças são “batizadas” com maior freqüência de modo a quase se afogarem na banheira. As vezes, as pessoas são imersas em sangue. • Uso de urina, drogas alucinógenas, sangue, sêmen ou fezes como elementos, de “comunhão”, “água-benta” ou “óleo de unção”. Isto causa medo de ser ungido e medo do sangue de Jesus. • Indução forçada à pornografia infantil e à prostituição. • Rituais de novo nascimento (zombaria à experiência do novo nascimento cristão), às vezes induzido por meio de alucinógenos, às vezes de um modo real. Isso significa a criança ser posta dentro da carcaça costurada de uma vaca, ou égua, morta (ou ainda, mui­ to raramente, no ventre de uma mulher grávida morta que teve o feto removido), ficando lá durante algum tempo. Então, é retirada através do canal de nascimento e “nasce de novo”, recebendo um novo nome satânico com o qual é “batizada”. • Uso de minúsculas agulhas e pinos em áreas sensíveis do corpo, especialmente naquelas relacionadas com os meridianos da acupuntura. Uso também de eletroacupuntura e choques elétricos de alta voltagem. • Abortos forçados (para jovens adolescentes) ou ser forçada a matar ritualmente o próprio filho. • A infame experiência do “buraco negro”, em que uma crian­ ça é pendurada pelos pés de cabeça para baixo num profundo e escuro buraco cheio de coisas detestáveis (gatos mortos, excrementos, etc.), ficando ali durante um dia ou dois. • Processo de fragmentação da personalidade, deliberadamente induzida.


TrevA S d as

es D e s e r t o r

Peço desculpas pelo conteúdo de mau gosto do que acabei de expor, mas foi necessário, para esclarecer alguns dos problemas que os sobreviventes do ARS enfrentam. Como se pode constatar, é um verdadeiro testemunho do poder de Jesus Cristo o fato de que tais pessoas possam até mesmo desempenhar as atividades mais simples depois de salvas dessas horríveis experiências — muitas delas ocorridas em sua infância. Algumas questões precisam ser esclarecidas, de modo que va­ mos dedicar um capítulo ao exame da base racional para uso de drogas, hipnose e fragmentação da personalidade. Além disso, há determinados sintomas físicos que podem ocorrer em pessoas que passaram por esse tipo de abuso. Há muita gente que apresenta esses sintomas sem nunca ter tido qualquer envolvimento com ARS, mas a presença de mais de um ou dois deles pode ser significativa. Alguns dos sintomas são bem conhecidos, e outros observamos em nós mesmos ou em dezenas de pessoas com quem trabalhamos: 1. Fotossensibilidade aguda — não poder olhar para a luz do sol ou luzes fortes. Também sensibilidade à iluminação fluorescente e à emissão de microondas. 2 . Anomalias químicas no sangue, incluindo o aparecimento de raras substâncias químicas nos exames de sangue, sem causa física conhecida. Também alteração do grupo sanguíneo (algo que a ciência considera impossível). 3. Epilepsia do lado direito: embora possa ser uma enfermida­ de cerebral, pode ser também sinal de a pessoa ter passado por ARS, tendo, portanto, origem de natureza espiritual. 4. Estranhos tiques nervosos nas mãos e nos dedos — sinais inconscientes, em que maldições reais estão sendo transmitidas por meio de “mudras”, isto é, posições místicas na mão e nos dedos que são uma versão ocultista da linguagem por sinais — em geral, inteiramente desconhecidas da própria vítima. 5. Peso excessivo ou alimentação desordenada. 6 . Longas falhas na memória da infância. Lembranças de ter dormido por um longo período de tempo.

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7. Dores de cabeça de origem desconhecida. 8. Problemas musculares e doenças genitais. Também disfunção sexual ocasional. Uma lista mais completa, que entra em maiores detalhes (para uso, principalmente, por pastores e conselheiros) é apresentada no Apêndice II. ÊpocAs d e P e r i g o A pessoa que se envolveu com satanismo pode ter associado certas épocas do ano a determinados eventos satânicos, tal como os cris­ tãos têm suas associações com o Natal ou com a Páscoa. Na maio­ ria dos casos, as associações que um ex-participante de ARS tem são extremamente desagradáveis. Isso porque nos eventos ou festas satânicas quase sempre a criança é forçada a tomar drogas, ou é submetida à violação sexual, violência ou tortura e até à morte. Estas lembranças não são nada iguais às que você possa ter do tipo: “Quem me dera passar o Natal novamente com a vovó!” Como existem diferentes “calendários litúrgicos” satânicos por aí, usados pelos mais diferentes satanistas, dependendo de sua tra­ dição ou linhagem, esse assunto fica um pouco mais complicado. É como se algumas igrejas cristãs celebrassem o nascimento de Cristo e outras, não. Vou começar com os eventos principais e normal­ mente celebrados, passando depois aos demais. Se você estiver ministrando a um sobrevivente de ARS, convém conhecer quando ocorrem esses eventos, pois podem representar pontos cruciais para a recuperação da pessoa. Uma pessoa suficientemente sensibilizada poderá sentir a aproximação dessas datas com vários dias de antecedência — com estresse, depressão ou medo. Poderá também sentir efeitos posteriores durante vários dias após a data. Os ocultistas chamam isso de influência do tipo “orbe”. Dependendo do grupo ou do costume do grupo, os dias dos eventos variam um pouco, ou então são celebrados no fim de semana mais próximo da data. A lista de datas do calendário satânico acha-se no Apêndice I.


s Trev.i d As D e s e r t o r e s

Uma potente arma que o inimigo tem em seu arsenal para os sobreviventes do satanismo são os “gatilhos”. Um “gatilho” é geral­ mente uma sugestão pós-hipnótica inserida profundamente na men­ te do participante de ritual satânico. Tem o propósito de enredar e prender a pessoa mentalmente e obscurecer lembranças terríveis dos principais eventos. Mais adiante, daremos detalhes acerca dos “gatilhos”. Por enquanto, eis um exemplo de como podem ser usa­ dos com relação às datas do calendário satânico. Os cristãos (e a maioria das pessoas no mundo secular) têm “gatilhos” emocionais relativos ao Natal, que lhes trazem lembran­ ças, associações e fortes sentimentos. Ao ouvir certo cântico, o “ga­ tilho” da pessoa dispara, atiçando sua memória ou despertando reações emocionais. Isso, evidentemente, é totalmente normal e inocente. Contudo, para o participante do satanismo, é possível que certas imagens, palavras, músicas ou gestos sejam usados para reforçar os comandos de esquecimento de certos acontecimentos dramáticos por que passou. Por exemplo, se a pessoa foi levada a assistir a uma cerimônia de partida de uma feiticeira num cabo de vassoura, num dia de Halloween, poderá receber um “gatilho” que posteriormente lhe bloqueie a memória do terrível ritual. Um exemplo ainda mais sinistro seria o de um “gatilho” que constitui uma palavra. Uma menina, ainda bem jovem, é drogada e/ou hipnotizada e recebe o comando de que, ao ouvir determina­ da palavra, terá de agir de certo modo. Assim, na véspera de uma festa satânica importante, ela — agora já em idade adulta — rece­ be um telefonema. Aquele que fala do outro lado da linha lhe diz então aquela palavra do “gatilho” (é sempre uma palavra especial­ mente escolhida que não de uso normal, possivelmente o nome de um demônio). Ao ouvir a palavra, a mulher entra num transe pas­ sivo, hipnótico, e sem alarde deixa a sua casa e vai para um lugar onde se encontra com o pessoal do grupo. Estes o levam, então, até um festim satânico e a forçam a participar de rituais profanos, tra­ zendo-a depois de volta para casa. Ela acorda, no dia seguinte, não se lembrando dos horrores daquela noite (exceto com uma vaga

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sensação de ter tido um terrível pesadelo). Mas ficou com nova camada de malignidade, acrescentada à sua alma, já cheia de senti­ mentos de tortura. Quando retornarmos a este assunto, mostraremos como o Senhor pode libertar a pessoa dessa prisão. Todavia, se você é um crente com um chamado para a intercessão, é importante conhecer as datas em que estas festas satânicas ocorrem, pois lhe servirá de guia quando orar, e de como fazê-lo, para derrubar as fortalezas que cercam esses eventos. Também lhe possibilitará saber como orar pela proteção do seu pastor e de líderes cristãos que venham a entrar num nível mais acirrado da batalha espiritual, nestes dias atuais, em que grupos de magia têm penetrado com maior intensi­ dade em toda parte. Outro ponto a considerar é que, além das datas de eventos, o sobrevivente do ARS tem outros momentos em sua vida em que poderá ser mais propenso a vulnerabilidade, em que pode vir a ser alvo do grupo com que tenha se envolvido, pois são dias em que procurarão fazê-lo voltar a cair na sua malha de manipulação. Um desses dias, que precisa ser vigiado com muito cuidado, é o do aniversário da pessoa, ao atingir determinadas idades. Geral­ mente, no caso de crianças que sofreram o ARS, o abuso inicia-se somente por volta do seu quarto aniversário. Por incrível que pare­ ça, é porque muitos satanistas acreditam que, antes dessa data, Deus protege seus filhinhos de um modo especial, não podendo ser corrompidos. Na maioria das seitas satânicas, são os seguintes os dias de aniversário que precisam ser especialmente vigiados: 1 . 0 4“ aniversário — quando os rituais e os abusos normal­ mente começam. 2. Aos 13 anos, meninas, e aos 14 anos, meninos (ou no aniversário de sua puberdade, o que ocorrer primeiro) — é quan­

do a criança, se possível, é dedicada outra vez, mediante “noivado” com Satanás, ou forçada, a menina, a engravidar.


3 . 2 1 2 (7 x 3 ) aniversário — em alguns grupos, é quando a

pessoa é levada de volta ao grupo para maior programação profun­ da e doutrinação. 4. 28a (7x4) aniversário — período bastante crítico, especial­ mente se a época da puberdade não foi, por alguma razão, objeto da ação ritualística do grupo. Este aniversário, tradicionalmente, implica assumir com maturidade o sacerdócio satânico (tanto para homens como para mulheres). Com freqüência, “gatilhos” pro­ fundamente inseridos na pessoa começam a disparar com muita intensidade. Se a pessoa já está em Cristo, esses dias podem vir a ser muito estressantes, com muitos pesadelos, impulsos e compor­ tamentos anormais. 5. 56- (7x8) aniversário — outro período bastante crítico. Ocorrem também “gatilhos”. Não havendo orações adequadas e intervenção pelo poder de Deus, os “gatilhos” poderão levar a pes­ soa de volta ao grupo e a situações em que se verá forçada a abusar de outras pessoas, completando assim o ciclo. A puberdade é um período extremamente importante para a criança que sofreu abusos, tanto sob o aspecto emocional como espiritual. Os feiticeiros acreditam que a puberdade é quando as habilidades mediúnicas “naturais” de uma criança começam a alcançar seu pleno poder. Especialmente para uma jovem, isso é tido como uma oportu­ nidade única para que seja explorada até o limite de sua capacida­ de, de modo a extraírem dela o máximo grau de benefícios para o grupo. Assim, é feito um esforço incrível para levar a jovem de volta ao grupo — pela sua própria vontade, se possível, ou mesmo contra sua vontade, se necessário. E claro que nenhuma dessas coisas está rigidamente determi­ nada a acontecer, e o ex-participante do grupo que foi salvo por Cristo poderá frustrar todos esses planos diabólicos. Louvado seja o Senhor! No entanto, muitas vezes será necessário que haja ora­ ção, aconselhamento e ação de libertação, para se livrar totalmente das amarras de encantamentos, impulsos e gatilhos escondidos no seu interior. Oração e vigilância são necessárias sempre para aqueles


D e s l r o n A d o L ü c i f e r

que deixaram os grupos satânicos — especialmente em certas da­ tas do ano e na época de aniversário. Se os cristãos, com muito amor, ajudarem as pessoas a se livra­ rem de suas “cargas”, elas poderão triunfar sobre as trevas que este­ jam insistindo se apossar delas e firmarem sua vida no Senhor! E disso que na verdade elas precisam, e minha oração é no sentido de que o Corpo de Cristo se faça presente para lhes ofere­ cer tudo isso! N o í AS 1 A organização de Larry Jones, Cult Crime Impact NetWork Inc., [Rede Impacto de Crimes por Rituais Religiosos] edita um excelente bole­ tim, “File 18 "[Arquivo 18]. Pedidos: P.O. Box 3696, Boise, ID — U SA 8 3 7 0 3 -0 6 9 6 .

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Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. — 1 Coríntios 10.21

os últimos anos, temos visto um repentino despertar do inte­ resse pela lenda do assim chamado Santo Graal. Filmes de sucesso, como Escalibur, O Rei Pescador e Indiana Jon es e a Última Cruzada, e ainda o livro, anterior, tão controvertido, Holy Blood, Holy Grail [no Brasil, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada\, fizeram com que o tema do Graal viesse a ser abordado fora das aulas de História ou Literatura, tornando o assunto conhecido de muita gente. Graal também fez parte da nossa jornada espiritual, e é necessário falar sobre ele, a esta altura, por causa de sua surpreendente e perigosa relação com as mais tenebrosas magias transyuggothianas, men­ cionadas nos capítulos anteriores. Meu primeiro contato com a lenda do Graal foi por meio de intenso estudo do poeta anglo-americano T. S. Eliot, quase ao final do meu período de ensino médio. Eliot dedicou-se intensamente, em sua obra literária, às lendas do Graal e do Rei Pescador, desta­ cando também as cartas de Tarô num poema, The Waste L and [A Terra Desabitada]. Considera-se geralmente a lenda do Graal como um romance medieval sobre a busca de um cálice sagrado, que Jesus teria usado


D e s l r o n A d o L ú c i f e r

ao beber na Última Ceia. Esse mesmo cálice, segundo a lenda, teria sido usado por José de Arimatéia no Gólgota para colher um pouco do sangue vertido do corpo de Jesus quando atingido por uma lança, na cruz. Depois da ressurreição e ascensão do Senhor, diz a lenda, José de Arimatéia (supostamente rico comerciante de estanho) teria le­ vado o Graal consigo num navio seu, numa viagem missionária destinada a proclamar o evangelho. Sua viagem o teria conduzido a um dos pontos mais distantes do Império Romano — a hoje Grã-Bretanha. Diz-se que ele e 12 companheiros estabeleceram-se num local da costa sudoeste da Inglaterra, perto do que hoje é o canal de Bristol. O povoado que se criou ali veio a ser conhecido como Glastonbury. Depois da morte de José e seus 12 parceiros, no início do se­ gundo século, o Graal teria se perdido. Neste ponto, a lenda se divide em diferentes versões. Algumas associam a busca do Graal, que teria acontecido então, com um misterioso Rei Pescador, que fora ferido e cujo ferimento somente poderia ser curado se o Graal lhe fosse entregue por um genuíno cavaleiro. Outras versões dizem que o Graal foi parar nas mãos do semi-místico rei Artur e seus Cavaleiros daTávola Redonda. Outros ainda o relacionam aos mis­ teriosos Cavaleiros Templários e suas cruzadas ao Oriente Médio. Mais recentemente, alguns estudiosos afirmam que toda a lenda do Graal não passa de puro paganismo com aparência cristã. J á havia antecedentes pagãos do Graal, tanto na Inglaterra como em outros lugares, sendo os mais notáveis as lendas galesas do “angus­ tiante Annwyn (expressão galesa que significa Hades, ou inferno)” e o lendário Caldeirão Negro de Cerridwen (um dos nomes e uma das faces da deusa da feitiçaria). C r i s I A o o u pAg Ão?

A Bíblia não dá a menor importância ao cálice usado pelo Senhor na Última Ceia. Mas será que o Graal é apenas uma superstição


romântica do catolicismo, semelhante à procura da relíquia da “Ver­ dadeira Cruz”? Ou será que há algo de tenebroso e sinistro por trás desse objeto? E algo cristão, pagão, ou até, quem sabe, satânico? Para entendermos isso, temos de voltar à minha dúvida pessoal. Na Wicca dos dias de hoje, a lenda do Graal é um dos mitos principais em torno do qual as bruxas alimentam sua tradição. Foi a partir das minhas iniciações na Wicca para o segundo e terceiro graus que comecei a entender por que esse assunto me fascinava tanto. Aprendi que o Graal é um símbolo da Grande Deusa, relacionando-se, particularm ente, à deusa das trevas Cerridwen e seu caldeirão. Na Wicca “oficial”, diz-se que a deusa tem três formas. E ado­ rada como Deusa Virgem (lua nova), como Deusa Mãe (lua cheia), e como decrépita Velha Sábia (lua minguante). Alguns ramos cultuam ainda a deusa como amante e como irmã, de modo a te­ rem as cinco pontas do pentagrama (estrela de cinco pontas) tão comumente visto em feitiçaria. Cerridwen é o nome tradicional da deusa Decrépita. Aprendi que na antiga lenda era ela a detentora do Caldeirão Negro da Imortalidade. Deste caldeirão bastaria apenas um gole para se ter incríveis percepções, sabedoria e poderes sobrenaturais. Dizem ter sido deste modo que o maior dos poetas druidas ,1 Taleisin, obteve poderes — com apenas um gole do caldeirão! Este mesmo caldeirão foi posteriormente “removido” (rouba­ do) do reino secreto de Annwyn por Artur e seus cavaleiros e usado para fazer ressuscitar pessoas mortas. 0

R e i de O u l r o r A e do F u t u r o ?

Quando iniciante em feitiçaria, deixei-me levar pelo idealismo das lendas do rei Artur. Na verdade, escolhi “Artur” como meu nome de magia ao me tornar membro do grupo dos druidas.


Lia tudo o que me vinha às mãos a respeito do rei. Sua vida é um dos mitos mais preservados da história dos povos de língua inglesa. Nesses últimos anos, livros como As Brumas d e Avalon, de Marion Zimmer Bradley, revelaram as profundas raízes pagãs e de bruxaria da lenda do rei Artur, mostrando, assim, por que ela é tão importante para os feiticeiros. Pode ter existido ou não realmente um rei Artur, mas isso não era o importante para nós. O que nos deleitava era o poder dos símbolos ou arquétipos místicos contidos em sua história. Teria sido Artur, como se descreve, um monarca cristão que levou a verdadeira fé à Bretanha pagã (representada no mito por personagens como Merlim — essencialmente um druida — e Morgana — uma bruxa)? Ou talvez tenha sido um rei-sacerdote mago, com um conselheiro druida, e que procurava manter viva a velha religião (Wicca) numa Inglaterra cada vez mais cristã? Não importa como a lenda fosse contada, realmente isso não tinha im­ portância. Havia muito de idealismo e nobreza, e foi isso que de início me atraiu, como jovem feiticeiro. Havia também um ele­ mento profético, quase escatológico (do fim dos tempos), naquela lenda que ressoava profundamente em meu íntimo. Segundo a lenda, o rei Artur foi ferido mortalmente numa batalha ardente, quase apocalíptica, contra seu filho ilegítimo Mordred, que era muito mau. Moribundo, ele arremessou sua es­ pada mágica, Escalibur, de volta às mãos da Senhora do Lago, e um barco veio para levá-lo num esquife. Este barco, com três mu­ lheres misteriosas (a Deusa Tríplice?), levou-o para Avalon, uma ilha mística que alguns dizem localizar-se perto da atual Glastonbury — talvez em outra dimensão. Não sabemos se de fato ele morreu ou sobreviveu. O que se diz é que quando a Inglaterra veio a passar pelo seu momento mais tenebroso, pela sua maior crise, estando prestes a ser conquistada, Artur despertou do seu esquife. Levantou-se e, toman­ do de volta Escalibur em suas mãos, lutou contra os inimigos do


país, expulsando-os e restaurando a glória de Camelot. É por isso que o rei Artur é chamado de “O Rei de Outrora e do Futuro”. Há algumas fortes semelhanças entre esta lenda e a vida, a morte, a ressurreição e a segunda vinda de Jesus Cristo. De mui­ tas maneiras, Artur é quase um anticristo, no sentido de ser um falso Cristo. Mas eu não pensava nisso, nem isso me incomoda­ va. Com ansiedade, esperava a volta do rei Artur, tal como os demais feiticeiros. A fantasia de um reino benevolente, em que a justiça e a lei prevaleciam, tendo um soberano aristocrata no trono — com druidas e cristãos trabalhando lado a lado em harmonia, era mui­ tíssimo atraente para mim. Até mesmo o episódio da trágica mu­ dança de Guinevere (a esposa do rei Artur), cometendo adultério com Lancelot (seu maior cavaleiro e amigo), e a subseqüente des­ truição da Távola Redonda continha estranhas nuanças bíblicas (Artur =Jesus, Lancelot = Judas). Toda essa nobreza, heroísmo e a alta qualidade dessa literatura (viaTennyson, Mallory, etc.) foi usada para introduzir o Santo Graal clandestinamente como um Cavalo de Tróia, em nossa vida. A busca do Graal constituía uma das duas tarefas mais importantes do rei­ no de Artur (sendo a outra a criação da Távola Redonda). Dependendo de qual seja a versão da lenda que se esteja len­ do, um ou dois dos seus cavaleiros (Galahad e/ou Percival) de fato descobrem o Graal, o que os leva a certa esfera celestial da qual eles quase nunca retornam. Algumas lendas até mesmo mencionam que Galahad morreu de êxtase e foi trasladado para o céu. Q

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Com a publicação, alguns anos atrás, de O Santo Graal e a Linha­ gem Sagrada ,2 ocorreu uma mudança repentina de rumos quanto a este mistério. Os autores, Baigent, Leigh e outros, defendem a teo­ ria de que o Graal é símbolo de um segredo que (afirmam) poderá derrubar o cristianismo. Dizem eles que a Igreja Católica tem mantido


um segredo, que compartilha com uma sociedade secreta, o Con­ vento de Sião, por quase 2.000 anos. O segredo, em resumo, é que o “Graal”, na verdade, é uma linhagem de sangue que recua ao passado até a infância de Jesus e Maria Madalena. O Convento de Sião seria uma antiga organização secreta oriunda dos Cavaleiros Templários, responsável pela custódia dessa linhagem realLSupostamente, o dirigente desse convento é um dos descendentes diretos de Jesus. Dizem os autores que a idéia de um Jesus casado é tão chocante que destruiria os fundamentos do cristianismo — e a idéia de haver pessoas andando por aí portadoras do sangue de Jesus seria algo que completaria essa destruição.', Por que eles acham que isso destruiria o cristianismo, não está muito claro. A Bíblia nada fala de Jesus ter-se casado. Se ele tivesse se casado, é, sem dúvida, totalmente estranho o fato de a Bíblia nada falar a respeito de sua esposa. A única esposa de Jesus men­ cionada no Novo Testamento é a sua Igreja — a sua verdadeira Igreja. Mas isso poderia, de certo modo, afetar o catolicismo, por­ que o seu sacerdócio celibatário (que é antibíblico) baseia-se na premissa de que Jesus não se casou e que seus sacerdotes deveriam seguir o mesmo modelo. Para a maioria dos cristãos, no entanto, uma revelação como essa — mesmo que fosse verdade — realmente não afetaria os fun­ damentos da fé. Observe-se que esses autores não crêem que Jesus é Deus. Em seus livros subseqüentes, eles se revelam como cépticos, que ale­ gam que Jesus nao passa de um personagem judeu messiânico e que nunca pretendeu criar uma Igreja. A Igreja, dizem, foi obra de Paulo. Isso nao chega a ser nem uma nova tese, mas não tem su­ porte algum na História e na Bíblia. Mas, se Jesus não é divino, então qual é a importância de sua linhagem? Os autores argumentam que o que importa é que o Vaticano acreditava que Jesus era divino e celibatário, por isso seria seu interesse permanente manter o segredo da família dele. Assim, seu gra n de segredo não é um grande trunfo. No entanto, é curioso


observar como esses autores se desviaram do verdadeiro, até mes­ mo estranho, segredo do Graal. “ ...Onde

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Considere o seguinte: todas as lendas dizem que o Graal se perdeu (ou, pelo menos, que se acha escondido, isto é, oculto) e que é um cálice do qual flui a imortalidade, a vida eterna. Quando chegamos ao Terceiro Grau da Feitiçaria, aprende­ mos que o Graal é o símbolo da Deusa, assim como o punhal do feiticeiro, ou Athame, é o símbolo do Deus Chifrudo. Quando entramos no sumo sacerdócio dos druidas, aprendemos algo bem mais significativo. O ritual sexual (chamado de “o grande rito” em certas tradi­ ções da Wicca), que geralmente acompanha a iniciação ao terceiro grau, pretende ser algo mais que um simples ato sexual. Por meio de certa postura, dentro do ritual, acredita-se que um circuito é fechado. E a fusão de dois sistemas nervosos. Do sistema nervoso da sacerdotisa (i.é., do Graal) flui uma sabedoria sobrenatural.3 O ritual, escrito por Aleister Crowley, diz em sua invocação: Abre para mim a secreta via: Onde as veredas da Inteligência estão, Entre as portas da noite e do dia, Para além do tempo e da razão. Atenta ao Mistério de modo adequado. Os Cinco Pontos de Comunhão, Onde a Lança e o Graal se unem, lado a lado, E os pés, os joelhos, os peitos e os lábios estão.4 Pelo que nos informavam, ao fazermos isso estávamos nos unin­ do a uma antiga “sucessão apostólica” de autoridade de um elevado sacerdócio, procedente de Jesus e de sua “grande sacerdotisa”,


Maria Madalena. Acreditávamos que Jesus trouxera consigo todo o poder e toda a sabedoria da corrente solar de energia; e que Ele se unira sexualmente a Maria Madalena, que possuía todas as energias da corrente lunar da magia. O resultado dessas duas ancestrais (e muitas vezes opostas) correntes de energia mística constitui algo verdadeiramente extraordinário. Por mais blasfemo que pudesse parecer — diziam — Maria Madalena “iniciou” sexualmente os 12 apóstolos. Cada um deles recebe, assim, um doze avos dessa impressionante combinação de magia. Pelos séculos afora, desde então, houve uma transferência dessa pura força, não contaminada, por meio desse ritual. Sharon foi levada, em 1973, a essa incrível cadeia de iniciação que já tinha mais de 1.900 anos. Ela, por sua vez, fez a minha iniciação. Uma experiência que me perturbou um pouco, mas não parou por aí. Anos depois, disseram-nos que teríamos que reunir as 12 linhas antigas de poder de iniciação para que realmente rece­ bêssemos o “Graal” em toda a sua plenitude. O que, então, esse Graal nos daria? Iríamos adquirir verdadeira imortalidade! Nós “beberíamos” desse Graal, totalmente cheio, e viveríamos para sempre! O “mestre” que nos levou — Sharon e eu — a tudo isso dizia ter mais de 165 anos. Nossos instrutores nos detalharam os diver­ sos pontos a respeito. Veja a seguir as “montanhas” metafísicas que teríamos de escalar para que esse alvo fosse atingido: 1 . Pedro — o sumo sacerdócio católico romano 2. André — o sumo sacerdócio druida 3. Tiago — o sumo sacerdócio ortodoxo do Leste 4. João — a ordem maçônica 5. Filipe — o sacerdócio tibetano de Bom Pa (budista) 6 . Bartolomeu — a linha africana (ashanti), o vodu de hoje 7. Tomé — o hinduísmo e a ioga tântrica 8 . Mateus — os videntes iluminados 9. Tiago — a linha dos índios americanos (cherokee)


1 0 . Tadeu — a linha árabe (alquimia), ismaelita e muçulma­

na (thelêmica) 11. Simao, o Zelote — o sacerdócio satânico 1 2 . Judas Iscariotes — o sumo sacerdócio satânico Isto talvez mostre a bizarra peregrinação que teve a nossa vida (minha e de Sharon) a partir dos anos de 1970. Envolvemo-nos com praticamente todas essas linhas religiosas, indo atrás desse “Graal”, procurando estabelecer uma união de todas elas. A “al­ quimia” que isso abarcava cresceu intensamente e, é claro, tornouse cada vez mais demoníaca. Estávamos metidos numa salada demoníaca completa! N A scido de Novo?

Muitos dos processos pelos quais passamos não dá para serem des­ critos aqui por causa das perversidades envolvidas. No entanto, com o passar dos anos, até mesmo eu comecei a ver algo por trás do charmoso véu da lenda do Graal do rei Artur. Comecei a perce­ ber como todo esse processo era cativante e mortal. Tornou-se um vício sexual letal. Àquela altura, eu já me envolvera com a magia do tipo transyuggothiana, e tínhamos acumulado quase todas as 12 correntes para alcançar nossa suposta vida eterna. O perigo (que eu percebera como algo mais) era que, a cada “corrente” a que me ligava, adquiria uma “bateria” completa de “homens fortes” demoníacos. Isso acontecia porque o sexo peca­ minoso, fora do casamento, é uma grande brecha pela qual a opressão demoníaca pode passar de uma pessoa a outra. A mentira é que aquele que bebe do Graal, consumindo ener­ gias sexuais do tantrismo (ioga sexual), tem a vida prolongada. Quem conseguir ligar completamente as 12 partes desse processo enigmático terá uma vida eterna. A pessoa torna-se um ser imortal, um deus vivo sobre a terra.


Foi durante o antepenúltimo desses relacionamentos sexuais blasfemos que senti algo que quase me levou à beira da loucura total. Enquanto praticávamos o ritual, senti como se estivesse sen­ do levado a outra realidade — um lugar e um espaço no interior de Sbaron e até além dela. Encontrei-me ajoelhado numa enorme caverna, cercado por um círculo de 13 mulheres vestidas com roupas bem estranhas. Lembravam a maneira de vestir das mulheres da época da coloni­ zação da América, só que, em vez de usarem vestidos pretos ou de cor cinza, com golas, punhos e capelos engomados de cor branca, usavam, cada qual, um vestido escarlate com um acabamento em branco. Todas elas demonstravam ser bastante severas e austeras em sua aparência. A caverna era cor-de-rosa. No centro, à minha frente, havia uma rústica fonte de água. A iluminação era difusa e também rósea e nao provinha de ponto algum. A atmosfera era úmida, pesada e muito quente. Achava-me diante de uma senhora, sentada num trono rosa, de uma beleza triste, mas não envelhecida. Suas so­ brancelhas eram escuras, e seu cabelo era preto tal como a pena de um corvo. Apesar das vestes que trajava e do ar parado do ambien­ te, nao havia suor algum em sua fronte. Parecia chefiar o grupo. Ela acenou para que eu me levantasse e fosse à frente. — Bem-vindo ao Templo do Graal — disse ela, com brandura. — Onde estou? — balbuciei. Ela apenas sorriu com um ar benigno, com um sorriso tipo Mona Lisa. — Posso perguntar quem é a senhora? — aventurei-me. — Sou aquela que estava com você desde o começo, e sou aquilo que se atinge no fim do desejo — disse a mulher. Reconheci que ela estava citando um dos rituais da Wicca, o ritual da “Descida da Lua”, palavras da própria Deusa! Senti-me sem saber o que perguntar, podendo desperdiçar aquela importan­ te oportunidade. Procurei, então, colocar minha mente perturbada


nos trilhos e lembrar-me de duas perguntas que, segundo a tradi­ ção, deveria fazer sobre o Graal. Meu pânico aumentou, e tudo de que pude lembrar-me foi perguntar: — O que é o Graal e a quem ele serve? A mulher sorriu de novo e afirmou: — Eu sou o Graal e sirvo ao Rei. Levantou-se do trono e disse: — Eu sou Maria Madalena. — Mas a senhora viveu há 2.000 anos! — mal pude exclamar. — E estou viva hoje. Jesus disse que todo aquele que comesse da sua carne e bebesse do seu sangue nunca morreria. Lembrei-me de ter lido isso em alguma parte dos evangelhos, então balancei a cabeça, em assentimento. — Agora, você está a um passo do Graal. Você terá que beber desse cálice para nascer de novo — declarou ela, apontando com a mão para a fonte rosada, rudemente lavrada, bem no centro do templo. — E então você estará em condições de ir para o décimo segundo nível de poder. Eu já tinha ouvido falar de nascer de novo, mas não sabia o que isso significava. Obviamente, pensei que fosse algo que teria de descobrir por mim mesmo. Com cuidado, então, me virei e caminhei até a fonte. Sentia o olhar de cada uma das mulheres daquele lugar fixo em mim. Abaixei-me sobre a fonte e fiquei sur­ preso ao ver que a água era quente e tinha a aparência de um caldo grosso. Esperando estar fazendo o que era certo, tomei um pouco daquela água. Ela foi doce em minha boca. Nem bem eu a tinha sorvido, vi que havia sido removido da­ quele estranho templo. Senti que me movia rapidamente, passan­ do por imensas distâncias, numa escuridão. Foi ficando mais frio. De repente, e de um modo totalmente abrupto, vi-me sendo lan­ çado no piso do templo onde fazíamos nossos rituais, em casa, encharcado de uma umidade sobrenatural. Sharon imediatamente encontrava-se ao meu lado, preocupada. Eu estava dando risadinhas,


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de um modo incontrolável. O sabor estranho daquele líquido, que me saciara, estava em meus lábios, e eu me lembrava das últimas palavras daquela mulher. Achei que eu tinha nascido de novo e que estava pronto para colocar a última peça naquele quebra-cabeça! N o l AS 1 Os druidas (palavra que significa “homens de carvalho”) eram antigos sacerdotes pagãos, poderosos entre os celtas, com centros de prepara­ ção sacerdotal espalhados por toda a Irlanda, Bretanha, partes da Fran­ ça e Bélgica e até mesmo no distante sul do Egito. São precursores espirituais da feitiçaria moderna. Praticavam sacrifícios humanos. Os bardos (poetas druidas) eram o nível mais baixo desse sacerdócio, sen­ do responsáveis pelo ensino da magia das canções, da música, da poe­ sia e dos sons vocais. 2 O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, tradução de Holy Blood, Holy Grail. 232

Publicado no Brasil pela Editora Nova Fronteira. 3 Para uma apresentação mais ampla deste ponto, e de seus grandes peri­ gos, veja Wicca, op. cit., p. 18 9 -197 . 4 Stewart Farrar, What Witches Do [O Que as Bruxas Fazem], Coward, McCann & Geoghegan, 19 7 1, p. 94.


DissipAíido

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TrevAS

C uidado q u e n in gu ém vos ven h a a en red a r com sua filo so fia e vãs sutilezas, co n fo rm e a trad ição dos hom ens, co n fo rm e os ru d im en tos do m u n d o e não segu n do Cristo. — Colossenses 2.8

6 m meio a tudo isso que estamos vendo com relação ao satanismo,

não podemos esquecer de que a nossa primeira missão ainda é ga­ nhar almas para Cristo. Nada neste livro tem o propósito de causar medo aos cristãos, embora alguns trechos possam ser um pouco atemorizantes. Os satanistas são pessoas que estão perdidas, tal como todos os demais que não estão em Cristo. Eles precisam saber o que rea lm en te significa nascer de novo! Os cristãos também não devem pensar que serão atacados ou assassinados se tentarem dar um testemunho de Jesus aos satanistas. A maioria dos satanistas que provavelmente você venha a conhecer serão satanistas enquadrados na lei. Serão do tipo de freqüentadores da Igreja de Satanás, que com muito vigor negarão qualquer envolvimento com a ilegalidade. Desse modo, eles não vão rir de você nem golpeá-lo com um punhal. Por certo, nenhum encontro evangelístico é sempre totalmen­ te seguro. Na verdade, também não o é nenhum relacionamento humano. No entanto, queremos lhe assegurar que os satanistas,


em sua maioria, não representam um risco maior, pelo que fazem, do que, digamos, as testemunhas-de-jeová. Com freqüência, se tem dito, corretamente, que, se alguém teme a Deus, não teme os ho­ mens; mas, se teme os homens, não teme a Deus. Ironicamente, aquele que fisicamente é o satanista mais “peri­ goso” é, provavelmente, o mais inofensivo em sua aparência. Pode ser um gentil companheiro de trabalho em seu escritório, de boa aparência, e não uma esquisita adolescente usando um pingente com uma cruz invertida e tendo os lábios pintados com um batom preto. E bem p ossível que atualm ente você esteja tendo contato com satanistas e nem se d ê conta disso. Apenas tenha em mente que n e­ nhum satanista p od erá tocar em você, crente, a menos que o Senhor dê permissão a ele. Em resumo: nao perm ita que este livro o amedronte, im pedindo-o d e testem unhar a tais pessoas. Se você não testemunhar, quem o fará? Deus as ama, e Jesus m orreu p o r elas, mesmo que amaldiçoem o nome do Senhor. Os ganhadores de almas percebem que todo encontro em que há um testemunho de Jesus é campo para uma batalha espiritual. Os satanistas, na verdade, não estão “mais perdidos” do que qual­ quer pessoa fora da igreja, como os mórmons, e assim por diante. A qualquer hora em que você esteja procurando ganhar quem quer que seja para Jesus, Satanás pode atacá-lo. Só que ele não pode tocar em você sem a permissão do Pai. O cristão que está sob oração e revestido da armadura de Deus nada tem a temer. Ore pela proteção do Senhor sobre você, sua família e os seus queri­ dos, e vá em Jrentel Perceba que, em parte, a razão por que eu permaneci preso a esse incrível mal por tanto tempo foi porque nenhum cristão ja m a is testem unhou para mim. Pense nisso! Passei a maior parte da minha carreira no ocultismo numa grande cidade, e mesmo assim nin­ guém se aproximou de mim com a simples mensagem do evange­ lho de Jesus Cristo.


O mais importante na vida de quem quer ganhar vidas para Cristo é... orar! O ganhador de Deus precisa orar para que Deus lhe per­ mita ter “encontros marcados”por Ele, ou seja, encontros com pes­ soas que já tenham sido preparadas pelo Espírito Santo e estejam prontas para receber a mensagem de Cristo. Se você tem em mente alguém que acha ser satanista, precisa começar a orar por tal pessoa de um modo bastante específico. Entenda que todos os que não estão salvos são idólatras. Isso não quer dizer que tal pessoa tenha estátuas de pedra de uma divindade gorda e agachada diante da qual se curve. Mas significa que, de fato, todos têm alguma coisa, em sua vida, que é o seu “deus”. Um dia eu estava testemunhando a um mórmon. Ele estava pronto a arrepender-se e entregar a sua vida a Cristo, mas teve medo de fazer isso por conhecer sua esposa e achar que ela se di­ vorciaria dele e levaria consigo as crianças. Sua família, por melhor que fosse, tornara-se seu ídolo. Ela era mais importante para ele do que fazer o que sabia ser o certo diante de Deus. Cada ídolo traz consigo um conjunto de crenças. Para um jovem executivo, seu conjunto de crenças inclui acreditar que tele­ fone celular e carros do ano são o segredo de uma vida realizada. Para quem está numa seita, o que vale é a doutrina da sua seita. Qualquer falsa doutrina ou idolatria constitui uma fortaleza que

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Mas sabia que os mórmons, por exemplo, se aproximaram de mim? A seita do Caminho Internacional também se aproximou de mim! As testemunhas-de-jeová aproximaram-se de mim! Isso, po­ rém, não aconteceu nunca por parte de um verdadeiro crente em Jesus. Talvez os crentes tivessem medo de nós. Mas não há por que ter tal medo. Esta foi uma das razões por que escrevemos este capí­ tulo: para que você possa ter alguma percepção do modo como poderá testemunhar a um satanista.


precisa ser espiritualmente derrubada (2 Co 10.4-5), para que pos­ sa ocorrer um sério avanço no testemunho. Geralmente, isso é um problema com sérias conseqüências para quem está numa seita, porque sua doutrina é efetivamente siste­ matizada e bem estudada — e, quase sempre, imposta pelos ou­ tros. E tam bém , geralm ente, assum ida com considerável investimento pessoal. Muitos dos praticantes de uma seita se vêem como radicalmente diferentes do mundo, num sentido “nobre” e “separado”, como acontece com as testemunhas-de-jeová ou, de um modo inteiramente maligno, como os satanistas. Por ter o satanista dado um passo além dos limites de uma sociedade normal, há um conteúdo emocional bem maior investi­ do em sua decisão. Por causa disso, as fortalezas da sua crença são mais difíceis de serem demolidas, porque há fortes compromissos sentimentais envolvidos. Lembro-me de que, quando fui mórmon, ao ouvir pela pri­ meira vez o verd a d eiro evangelho, como lutei com ele!... Meu primeiro pensamento, ao ouvir o evangelho da graça, foi: “P ode ser rea lm en te tão f á c i l assim ?' O pensamento deslumbrava-me, mas ao mesmo tempo me atemorizava. No entanto, meu se­ gundo pensamento foi: “O q u e é q u e m inha fa m ília e m eus a m i­ gos vão dizer?' Eu tinha feito um estardalhaço para que meus am igos se tornassem m órm ons, para que aceitassem o mormonismo como sendo a “única e verdadeira Igreja”. Che­ guei até mesmo a fazer com que cinco pessoas se tornassem mórmons! Eu me encolhia todo só de pensar em ter de ir até eles para lhes dizer que tinha me enganado redondamente. Essa luta retardou minha decisão de me render, finalmente, a Cristo, por uma semana. V í i i ho N o v o e m O d r e s N o v o s

A mesma reação ocorre com os satanistas, exceto, obviamente, que por motivos bem diferentes. Assim, recomendamos que, sempre


Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos. (Mc 222)

Embora, neste contexto, o Senhor estivesse se referindo aos velhos princípios da tradição judaica, comparando-os com o seu ensino, o mesmo pode se aplicar a qualquer outra tradição huma­ na, quando ela conflita com o evangelho da salvação. O modo de remover a velha pintura (a fortaleza) é mediante uma poderosa oração intercessória. É necessário orar para que sejam amarrados os espíritos de engano e de mentira (1 Tm 4.1), pois impedem que o satanista ouça e veja a verdade de Jesus — pelo menos por algum tempo. Em seguida, ore para que o Senhor dê a você a oportunidade de encontrar-se com a pessoa quando a interferên­ cia demoníaca esteja amarrada e minimizada, de modo que você possa falar de Jesus. Tenho visto que um procedimento assim é bastante eficaz. O que se torna patente é que, conquanto o Senhor não interfira na decisão final do livre-arbítrio da pessoa, podemos orar no sentido de que os espíritos demoníacos, que estejam impedindo a pessoa de ver a verdade, sejam amarrados o suficiente para que ela seja “toda ouvidos” para a Verdade. Muitos ficariam impressionados se vissem o que ocorre no mundo espiritual quando estão testemunhando a incrédulos. Sem

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Jesus nos explicou isso, dizendo:

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que possível, sejam feitas orações fervorosas, antes de se testemu­ nhar a alguém, sobretudo se envolvido com feitiçaria Se você pinta uma casa nova, basta passar primeiro uma tinta de fundo e depois pintá-la. Isso é semelhante a testemunhar a uma pessoa que nunca foi a uma igreja — a um “pagão”. Todavia, se você precisa repintar uma casa velha, então a coisa é diferente. A velha pintura precisa ser removida de algum modo, para depois aplicar-se a nova tinta, em várias demãos. Se você simplesmente tentar passar a nova tinta sobre a velha, sua pintura poderá ficar cheia de bolhas ou, então, descascar em pouco tempo.

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oração, nuvens de “diabinhos” ficam zunindo em torno da cabeça da pessoa como se fossem mosquitos, tentando distraí-la, confun­ di-la e até mesmo cegando-a ou ensurdecendo-a quanto puderem. Também haverá interferências externas, como um telefone que toca, crianças que choram, e assim por diante. Certa vez, testemunhávamos numa rua da “cidade mórmon”, Salt Lake City, a um jovem adepto dessa seita, e estávamos perto de levá-lo a entregar sua vida a Jesus, quando de repente irrompeu uma briga entre turmas de rua, bem perto de nós. Um sujeito gran­ dalhão, musculoso, foi nocauteado e caiu de cara contra o pavi­ mento, bem à nossa frente. O jovem a quem estávamos falando de Cristo saiu correndo, pedalando a sua bicicleta, aterrorizado, sem poder receber toda a mensagem do evangelho. Tudo o que pude­ mos fazer foi orar para que alguém mais falasse com ele, algum dia, de algum modo. Em outra ocasião, estávamos nos esforçando para que um ocultista compreendesse o evangelho da salvação. O sujeito literal­ mente nao conseguia ler Atos 16.31 [“Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”]. Ele lia o versículo 30 e o versículo 32, mas era como se Satanás tivesse apagado o texto do versículo 31, para nós totalmente visível! Paulo não estava brincando quando disse: Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes nao res­ plandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. (2 Co 4.3,4) Isto pode já ser do conhecimento de muitos; no entanto, te­ mos visto que há um grande número de crentes que se esforçam por ganhar almas, mas subestimam o poder da oração. Pensam que testemunhar é apenas uma troca de idéias — o que, em princípio, é. Todavia, antes de mais nada, e principalmente, trata-se de uma batalha espiritual, e da maior magnitude.


Recomendamos, assim, que, antes de você sair para testemu­ nhar, ore: 1. para que o Senhor coloque toda a armadura de Deus em você (e nos demais obreiros), como também em sua família e seus amigos e parentes, protegendo a todos; 2 . para que o Espírito Santo o guie em tudo o que disser — dando-lhe as palavras certas que devam ser ditas e as passagens das Escrituras que devam ser citadas — algo que você possa realmente ministrar à pessoa, na situação em que ela se encontre; 3. para que durante o testemunho, nao haja nenhum embara­ ço, nem interrupções ou perturbações; 4. para que os espíritos de engano sejam amarrados e fiquem longe da pessoa; 5. para que o sangue de Jesus prevaleça no ambiente ao redor e haja a proteção dos anjos; 6 . por fim, mas certamente da maior importância, para que o Espírito Santo traga entendimento e convencimento àquela pessoa. T r A í A n d o do Q u e nos I n í e r e s s A

Após esses aspectos gerais, vejamos agora o que especificamente pode ser feito para trazer um satanista para Cristo. Temos que re­ conhecer que não existe um método infalível de se testemunhar, que não há uma “varinha mágica” que funcione com esse objetivo. E por isso que orar pela direção do Espírito Santo é tão importan­ te! E também importante render-se a Ele e dispor-se a deixar de lado todos os demais compromissos, de modo a fazer o que Ele quer que seja feito. Por vezes, o Senhor nos mostra que devemos citar determina­ da passagem da Escritura ou dizer algo que talvez nos pareça ser totalmente “descabido”; contudo, é isso que certamente irá vencer as defesas da pessoa, como arma imbatível. Um dia, havíamos passado mais de uma hora falando com uma jovem bruxa, que possivelmente estava cogitando ser satanista.


Tínhamos feito de tudo, sem obter êxito. Ela não estava nem um pouco impressionada com a gravidade das coisas que fazia. Inespe­ radamente, senti-me levado a cantarolar a primeira estrofe do fa­ moso hino de Martinho Lutero “Castelo Forte”, que menciona Satanás:

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Com fúria pertinaz Persegue Satanás, Com artimanhas tais E astúcias tão cruéis, Que iguais não há na terra.” Assim que estas palavras a atingiram, ela recuou, visivelmente angustiada, com seu olhar nos indicando que uma porta se abrira. Seus olhos tornaram-se dóceis, e de repente era uma adolescente normal que nos ouvia. Bem, não é isso que costumamos fazer ao testemunhar. No entanto, os versos do velho hino a haviam tocado mais do que tudo o que tínhamos dito antes, e ela concordou em encontrar-se conosco mais uma vez para ouvir a Palavra. Louvado seja Deus! Temos de reconhecer que procurar ganhar um satanista para Cristo deve ser uma tarefa um tanto persistente. Diferentemente de muitos outros ocultistas, os satanistas não têm fé alguma na Bíblia, e o nome de Jesus, muitas vezes, é piada para eles. Contu­ do, há algumas áreas que podem ser exploradas. Primeiro, faça um diagnóstico. E necessário discernir que tipo de satanista temos diante de nós. Há grandes diferenças entre eles. Para ver as diversas categorias de satanistas detalhadamente, volte ao capítulo 3. Mas eis aqui um rápido resumo: 1.

Satanistas do nível mais baixo: não acreditam no diabo e se

acham “metafísicos pragmáticos” à procura do seu eu supremo, mediante uma tecnologia de magia.


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2. Satanistas do nível médio: acreditam no diabo, mas acham que ele “levou um tapa pelas costas”. Colocam-se ao lado “das tre­ vas” e crêem que por meio delas é que terão poder. 3. Satanistas de nível mais elevado: podem ser bastante ofen­ sivos aos cristãos, pois nos consideram quase “uma forma inferior devida”. Nós (e Jesus) somos tidos como “opressores do mundo”, escravos de um “deus cego e idiota”. 4. Satanistas no nível de mestre: acreditam terem ultrapassa­ do o bom e o mau, tornando-se um deus vivo e egocêntrico. Prati­ cam sacrifícios de sangue e, eventualmente, até a morte humana. Você terá que se certificar muito bem disso, ao julgar haver encon­ trado um desses. Não são muito comuns! 5. “Santos” satânicos: completamente possuídos pelo demô­ nio, com certeza já cometeram até sacrifício humano. São os equi­ valentes satânicos dos grandes homens de Deus, e extremamente raros. Se encontrar um deles, provavelmente não o reconhecerá como tal, exceto mediante o discernimento de espíritos. São astu­ tos, carismáticos, habilidosos e muito poderosos. Se você for leva­ do a compartilhar Cristo com um deles, todo o poder que ele tem ficará como nada diante da unção do Espírito Santo. Saiba que satanistas deste nível já foram salvos! Quase sempre, você conhecerá apenas satanistas dos dois pri­ meiros tipos, e eventualmente os do terceiro. E isto acontecerá ape­ nas no caso de você os procurar. Entenda que os satanistas são aves raras, embora, infelizmente, os dois primeiros níveis estejam cres­ cendo entre os jovens. A segunda parte do diagnóstico deve ser a de procurar saber como foi que a pessoa se tornou satanista. Perguntar não ofende. Tal como acontece com os cristãos, os satanistas gostam de com­ partilhar como foi que eles se “converteram” ao inimigo. Veja algu­ mas das situações mais comuns: 1. Jovens atraídos, geralmente, por promessas de poder.


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2 . O ferta de facilidades na prática do sexo e uso de drogas.

3. Desejo de sabedoria oculta ou de sentir-se fascinado pelo que é misterioso. Estes três primeiros motivos aplicam-se tanto no caso de feiti­ ceiros da magia “branca” (participantes da Wicca, por exemplo), como de satanistas. As causas a seguir referem-se unicamente aos convertidos ao satanismo: 4. Um sentido existencial de niilismo ou desespero — um sentimento de que a vida é dolorosa e sem significado, o que leva a pessoa a querer experimentar os prazeres da vida antes de morrer. 5. Um sentimento de que Deus os rejeitou para sempre ou os traiu. É trágico dizer que esta quinta razão é mais comum entre cris­ tãos (se não genuínos, pelo menos nominais), que se tornaram satanistas — muitos dos quais quando ainda jovens. Sendo este o caso, sua tarefa não será fácil. Q u e s l l o de C o n f i A n ç A

Numa abordagem com os satanistas dos dois primeiros grupos [de nível mais baixo e médio], muitas vezes é útil começar com uma indagação sobre como foi que a pessoa entrou no satanismo e por que veio a crer dessa forma. O satanismo, tal como qualquer outra seita, envolve a rejeição da autoridade de Deus, substituindo-a por alguma outra coisa (muitas vezes pelo próprio “eu”). Alguns satanistas dirão que entraram e permaneceram nessa situação porque tal heresia para eles “funcionou”, porque seus en­ sinos lhes fizeram sentido e, possivelmente ainda, porque o satanismo lhes deu “um significado para a vida”. Talvez eles te­ nham feito algum ato de magia e constataram que “funcionou”. Sua vida de algum modo deve ter sido favorecida pela magia. E um raciocínio pragmático, que pressupõe que, se algo funciona, é bom. Mas o pragmatismo não tem validade bíblica.


Sua tarefa como ganhador de almas é, então, identificar (e destronar) o principal ídolo dos satanistas e comunicar a eles certas verdades acerca de Jesus. Significa ainda que você terá que des­ mantelar os dados errados que o satanista tem sobre sua própria religião e sobre a fé cristã. No Capítulo 19, iremos considerar determinadas abordagens que reputamos de grande eficácia no que diz respeito a alcançar os satanistas.


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Das profundezas clamo a ti, Senhor. — Salm o 1 3 0 .1

11 esmo ainda não preparado para o lance final do enigma do Graal, fiquei sabendo que o “Santo Graal da Imortalidade” era, na verdade, o cálice de sangue do vampirismol Como disse no início deste livro, você não tem a menor idéia do que é despertar sentindo a necessidade do sabor de sangue em sua boca. De certo modo, as coisas me favoreciam. Éramos líderes de uma grande rede de “covens”, ou grupos de feiticeiros. Esses gru­ pos tinham sido projetados para serem círculos dentro de círculos. Naquela nossa experiência, é uma prática comum. Os círculos mais externos eram constituídos de adeptos da Wicca, homens e mulhe­ res que acreditavam estar praticando uma magia “branca”, uma feitiçaria “para o bem”. Quando eles chegavam ao nível do sumo sacerdócio é que começariam a compreender os mistérios de Lúcifer. Os círculos internos estavam envolvidos com Thelema, a religião de Aleister Crowley. Nos círculos mais internos, havia mulheres selecionadas, que eram consagradas, dedicadas e dispostas a deixar que chupassem seu sangue, e o faziam com prazer. Como eram em número suficiente, nenhuma corria o risco de perder sangue a ponto de afetar a sua saúde. Tinham prazer naquele


ato, e eu era suprido. Desse modo, não era preciso sair dos círculos de magia, a fim de caçar mulheres em busca do seu sangue. Pelo menos, no começo... Os círculos mais internos viviam num mundo em que tudo era invertido. O prazer era a dor, e a dor, o prazer. As trevas eram a luz, e o bem era o mal. Assistíamos a filmes tais como O Exorcista e 0 Presságio e torcíamos pelos demônios e pelo anticristo. Diaria­ mente, eu fazia magias e rituais de dor, poder e perversidade para apressar a vinda da Grande Besta. üpocAlipse Tenebroso

No momento em que este livro era escrito, outro ciclo de produ­ ções está glorificando aquele que é o padroeiro do vampirismo, Vladislau Basarab — também conhecido como Vlad Tepes (Vlad, o Empalador) ou Vlad Drácula. Um filme que se destaca nessa linha é o que foi produzido por um diretor de renome, que fez uso de custosos cenários, vestuários e efeitos especiais, visando a sedu­ zir ainda, por mais de uma década, muita gente para “templos” cinematográficos profanos. A cada dez anos mais ou menos, pode-se contar com o fato de Hollywood fazer ressuscitar Drácula, e assim temos uma nova en­ xurrada de filmes sobre vampiros. O que estão querendo nos ven­ der? A mentira da juventude eterna e da beleza eterna nunca foi tão sedutora, e seu custo nunca foi tão grande como agora. Sei disso, porque eu mesmo fui totalmente enganado por essa menti­ ra. E vi qual é o inimaginável preço a ser pago. Como foi que cheguei ao ponto de desejar deixar de lado tudo o que é normal na humanidade para provar o gosto do que eu acreditava ser a imortalidade? Não acordei numa certa manhã sen­ do “um vampiro em treinamento”. Como vimos, foi um processo gradual de sedução, achando eu que estava juntando as peças de um imenso e altamente secreto quebra-cabeça cósmico. Natural­ mente, as forças das trevas que me manipulavam não tinham mise­ ricórdia alguma para comigo.


Inferno do fAlAndo

Começando com a prádca de um modesto mal na Wicca e no espiritismo, fui descendo — em dez anos — a um emaranhado de terror sangrento, do qual eu já duvidava que pudesse escapar. Mas, na m aior parte do tempo, nem mesmo queria escapar. A “metamáquina” dentro de mim era que me governava quase que inteiramente. Eu me encontrava postado numa verdadeira encru­ zilhada, sedento de sangue. O culto vampirista — pois era isso mesmo — seria o passo final, o mais abominável de todos, em minha participação no satanismo. Por um estranho fato acidental, logo depois do meu encontro com “Maria Madalena” as terríveis asas negras desse culto vieram bater contra mim numa Igreja ortodoxa russa da cidade de Chicago. A primeira vez que fui levado para lá foi pelo homem que me consagrara como bispo gnóstico na Igreja Católica Romana Antiga de rito sírio-jacobita. A igreja Católica Gnóstica é uma mistura do catolicismo romano com a Igreja Ortodoxa e o satanismo de Crowley. Foi nessa igreja que eu acabei fazendo contato com os poderes que me levaram mais a fundo no ramo do vampirismo, dentro da confraria. Um princípio básico que tanto o antigo como o moderno gnosticismo adotam é o princípio do dualismo (a absoluta necessi­ dade do bem e do mal). Fui levado a acreditar que Vlad Drácula era necessário como um “Cristo” das trevas, um Cristo “antimatéria” — para usar palavras da Física moderna — , a fim de contrabalan­ çar o sacerdócio de luz branca de Jesus. Era vital, assim, que eu vestisse o manto da ordem do sacerdó­ cio de Drácula, tal como eu pensava ter vestido o manto do sacer­ dócio de Jesus por meio do catolicismo e da Igreja Ortodoxa.1 Seria a linha final da autoridade apostólica que eu buscava. Para tanto, teria de receber treinamento e me desenvolver nes­ se sacerdócio. Designaram-me um mentor que me ensinou uma forma de cristianismo incrivelmente distorcida. Fui ensinado que o Evangelho de João era um documento secreto com tremendos “segredos gnósticos” nele ocultos e que o

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seu autor, o apóstolo, ainda caminha na terra nos dias de hoje, como um vampiro, com cerca de 2.000 anos, tendo sido iniciado no vampirismo pelo próprio Jesus! O apostolado de João, embora enraizado no que hoje é a Maçonaria, teria levado seus devotos a uma consumação sacramental de sangue e órgãos humanos para propiciar a vida eterna. Fui ensinado também que o primeiro Nosferatu (palavra românica/valáquia que significa “não-morto” ou “vampiro”) foi Lázaro, a quem Jesus ressuscitou dos mortos por um poder oculto: o que se encontra, naturalmente, no Evangelho de João. Seria um ato intencional de Jesus estabelecer uma linha ininterrupta de “su­ cessão apostólica”, procedente de João e Lázaro, mediante um sacerdócio secreto dentro do próprio sacerdócio. Era esta uma ir­ mandade dos vampiros, escondida cuidadosamente dentro do sa­ cerdócio ortodoxo por todos esses séculos e desconhecida até mesmo da maioria dos padres. Isso explicaria as profundas diferenças entre o evangelho de João e os outros três. Por que nesse evangelho foi colocada essa ênfase de os mortos ouvirem a voz de Cristo e ressuscitarem? Que final misterioso era o dele sugerindo que João viveria até a segunda vinda do Senhor? A resposta que me deram foi que o evangelho joanino era um projeto de vida eterna a ser obtida mediante práti­ ca do “Sacerdócio de Nosferatu”, isto é, do vampirismo. O SAíigue É

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VidA

A pedra angular da existência e sobrevivência do culto satanista está realmente no ritual central do catolicismo e da Igreja Ortodoxa, ou seja, na eucaristia (missa), ou “liturgia divina”. Em pouco tem­ po, descobri o elo vital entre N osferatu e a do utrina da transubstanciação (que é a crença de que o pão e o vinho literal­ m ente se transformam no corpo e sangue de Cristo). Com muita avidez, fiz com que meu corpo se alterasse gradu­ almente, mediante injeções de certas ervas e drogas, acreditando


estar seguindo os passos de João, o discípulo amado. Gradualmen­ te, meu apetite para comer começou a diminuir, e minha sensibili­ dade à luz do sol marcantemente aumentou. Finalmente, numa noite especial foi-me dado permissão para eu chupar o sangue das veias do meu mentor. Desse modo, o “ví­ rus” do vampirismo me foi passado. Comecei a querer apenas san­ gue, e quase nada mais me dava vontade de comer ou beber. E lá, numa capela sem janelas, iluminada apenas à luz de velas e carre­ gada de ícones ortodoxos, foi que aprendi o verdadeiro significado da “divina liturgia”. Acredita-se, no vampirismo, que um vampiro para sobreviver tem que ingerir uma substancial quantidade de sangue a cada dia, do mesmo modo que os humanos têm de ingerir alimentos. O ideal seria consumir, a cada dois dias, o volume equivalente de sangue que há num corpo humano, para não adoecer ou morrer de fome. Assim, a “solução de Jesus” para o seu sacerdócio vampírico teria sido a “magia” da transubstanciação. A doutrina católica e ortodoxa ensina que todo o corpo de Jesus acha-se contido na hós­ tia. Do mesmo modo, todo o sangue de Jesus — o sangue de um jovem de 33 anos do sexo masculino, ou seja, cerca de 4 litros e meio, está miraculosamente contido dentro de um cálice de vinho. Ora, como todos os membros do sacerdócio nosferático são também sacerdotes católicos ou do rito ortodoxo oriental, todos teriam o poder de produzir, em sua liturgia, a cada dia, mais do que o necessário de “sangue” sacramental para satisfazer sua sede. E san­ gue verdadeiro (pelo que acreditávamos). Os sacerdotes católicos devem, pela lei canônica, celebrar a missa a cada dia, exceto por motivo de enfermidade ou devido a alguma séria emergência. Assim, no sacramento do vinho transfor­ mado em sangue, tínhamos um suprimento fácil para a nossa ne­ cessidade, sem ter que sair por aí atacando as pessoas como fazem os vampiros dos filmes. A única razão para chupar sangue de uma pessoa viva era ou por simples prazer ou para iniciá-la no culto do vampirismo.


D e s l r o n A d o L ú c i f e r

Em poucos dias, constatei que vivia quase que exclusivamente dos elementos do rito da comunhão, mais o uso eventual do san­ gue das voluntárias sacerdotisas do nosso grupo. Também me foi ensinado que eu teria de criar um espaço sagrado no altar (espécie de ataúde), com determinadas medidas específicas, para que nele periodicamente me deitasse para restaurar as energias. Era sobre esse altar/ataúde que as missas eram celebradas, muitas vezes estando eu (ou outra pessoa) deitado naquela tumba. Esta seria a verdadeira razão, disseram-me, para o uso das relíquias nas igrejas católicas: ossos ou outras peças dos corpos dos “santos” na pedra do altar. Seria uma tradição herdada da época em que a liturgia era comumente celebrada sobre o corpo (dentro do altar) de um sacerdote nosferático “não-morto”. Ensinaram-me outras liturgias, principalmente, o Rito de São João Crisóstomo, usado na maioria das igrejas ortodoxas. Aprendi também outras cerimônias secretas, como missas dedicadas a Vlad Drácula e a todo um panteão de “santos” vampíricos. Esses ritos eram imitações das cerimônias das Igrejas Ortodoxa e Católica, sendo que a única diferença era Drácula e outros vampiros famo­ sos, como o lendário Lammia, Vrykolak e Lílite, serem exaltados no lugar da Virgem Maria e Jesus. U m a V i s i l A d e D i-á c u I a ?

Estas práticas começaram a se espalhar entre os participantes de nossos grupos de feitiçaria num círculo cada vez maior. De modo geral, tornaram-se mais populares entre as mulheres do que entre os homens, talvez porque os homens se intimidassem diante da possibilidade de perder a sexualidade. Infelizmente, pelo menos dois casais tiveram que se separar porque a esposa optou pelo vampirismo em vez de seu marido. Era muito grande o poder voluptuoso de desejar e dar sangue. Duas de nossas sacerdotisas chegaram até mesmo a exigir de nós que for­ malmente as iniciássemos nos mistérios nosferáticos. Isso exigia a


Inferno do FAl Ando

celebração de uma “missa de São Vlad”, na qual um rum sacra­ mental era usado no lugar do tradicional vinho vermelho. Era, essencialmente, bastante semelhante à liturgia ortodoxa, exceto por óbvias diferenças. O “rito da comunhão” consistia de uma blasfe­ ma paródia do que aconteceu com Jesus na cruz. De início, eu chupava o pescoço da iniciante até que ela desmaiasse, pela perda de sangue. Em seguida, abria o meu peito, e a candidata chupava muito do meu sangue. Isso supostamente transmitia uma estranha e demoníaca “enzima” para o corpo dela, passando, então, a transformá-la numa sacerdotisa de Nosferatu. Por fim, a missa ter­ minava fazendo com que ardesse em chamas o líquido alcoólico usado no sacramento (supostamente transubstanciado no sangue do próprio Drácula). Invocávamos, então, Vlad para vir e sorrir diante da criação de sua nova “filha”. Criamos que, após a morte, tanto eu como as mulheres inicia­ das ressuscitariam como um Nosferatu de puro sangue. Seriamos seres imortais que viveríamos por séculos, não mais na condição híbrida de meio-vampiro e meio-homem. Com a última mulher com quem fizemos essa iniciação, acon­ teceu um fato extraordinário, que nos apavorou. Chupamos san­ gue um do outro, como sempre fazíamos, mas no final do ritual, quando eu tinha começado a invocação de Vlad e acendi o cálice cheio do rum sacramental, ele resplandeceu com um brilho maior do que um maçarico de acetileno. Não havia nada de especial na­ quele rum; era da mesma garrafa que sempre usávamos. Entretan­ to, a chama, zunindo, ficou com quase um metro de comprimento a partir da taça. O local encheu-se de chamas multicoloridas e exó­ ticas, como nunca tínhamos visto. Consegui com dificuldade terminar a invocação. O calor e o poder naquela sala ficou tão opressivo que quase caímos de joe­ lhos. O cálice começou a derreter com o forte calor. Podia sentir o poder de Drácula sendo derramado sobre mim como se fosse um sangue fervente e fumegante.

251


L ú c i f e r

D e s l r o n A d o

A mulher que estava sendo iniciada sentiu isso também. Pare­ cia uma “bênção” especial que nunca fora dada antes. Ela ficou excitada com aquela experiência fora do comum. E eu iria ver, em breve, como o que tinha acontecido afetaria de um modo bastante incomum a minha vida.

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C olH en do TempesíAde

Mudanças reais aconteceram em mim. Todo o meu desejo sexual foi substituído por uma idéia fixa em sangue. Como já disse, perdi o ape­ tite para comer, além dos elementos da eucaristia diária. Passava gran­ de parte do meu tempo, durante o dia, em nossa capela, à luz de velas, com devoções católicas. Expor-me ao sol por mais de alguns poucos minutos causava-me fortes queimaduras e bolhas na pele (o que não me acontecia antes), e desenvolvera excelente visão na escuridão. Sentia-me mais forte com o consumo de sangue. Todavia, nun­ ca consegui transformar-me em morcego ou passar, como fumaça ou neblina, por baixo de portas. Não sei ao certo, mas acho que essas coisas são invenções de Hollywood para enfeitar suas histórias. Certo dia, quando estava “doando” sangue, soube, quase ca­ sualmente, que meu tipo sanguíneo tinha mudado, o que é consi­ derado impossível pela ciência. Tornei-me cada vez mais fascinado com filmes sanguinolentos de terror, de todo tipo, e muitas vezes ficava no “escurinho do cinema” o dia inteiro, esperando que o sol se escondesse, para vol­ tar para casa. Era uma vida muito estranha a que eu estava levan­ do. Logo descobri que o vinho da comunhão não estava mais me satisfazendo no propósito que dele esperava. A cada semana, o de­ sejo de sangue ficava cada vez maior. Por vezes, celebrava a missa mais de uma vez num dia, do começo ao fim, só para ver se me sentia suprido. Minhas fantasias tinham se tornado totalmente violentas, e eu me sentia constantemente compelido a ir “caçar” mulheres, além da meia dúzia de nossas feiticeiras que se dispu­ nham voluntariamente a ser minhas “presas”.


I n f e r n o do f i l A n d o

Sinceramente, foi apenas o meu amor por minha esposa que me impediu de sair por aí pegando mulheres como louco. Eu nunca tinha tido segredo que Sharon não soubesse e tinha absoluta certeza de que ela ficaria horrorizada caso soubesse que eu estava me contendo para não ser um predador sexual com sede de sangue. Sabia que nossa vida se arruinaria se eu cedesse àqueles poderosos impulsos de concupiscência e fosse pego pela polícia. Por fim, um dia, quase me excedi com uma das sacerdotisas. Foi impressionante, pois ela estava tendo tanto prazer naquilo que não queria parar, mas eu perdi o controle e chupei tanto do seu sangue que ela ficou inconsciente. Ficou tão pálida e inerte que pensei que a tivesse matado. Felizmente, ela voltou a si e até mes­ mo afirmou ter tido uma experiência mística durante o tempo em que ficou “apagada”. Saiu da capela enfraquecida, sem noção algu­ ma do que havia acontecido. Comecei a ficar apavorado! Minhas jornadas noturnas pela cidade de Milwaukee, no meu serviço de entrega de jornais, cada vez me torturavam mais. Acontecia principalmente quando eu via uma prostituta, tendo que lutar contra um ímpeto animalesco que surgia dentro de mim, um forte desejo de que ela ficasse sozinha para eu cair em cima dela como um leão em cima de uma gazela. Sabia que era apenas uma questão de tempo para ceder aos impulsos que agora me dominavam em todo o tempo em que esta­ va acordado. Procurava evitar o noticiário, agora, insistente de ca­ sos de mulheres que apareciam assassinadas em circunstâncias misteriosas e sem solução. Cheguei a pensar que tivesse uma dupla personalidade, e que era eu quem estava lá matando aquelas mu­ lheres, à noite. Nunca houve evidência alguma de que isso fosse verdade — louvado seja o Senhor! No entanto, enquanto a culpa me atormentava, a máquina monstruosa dentro de mim exultavase com a lascívia pelo sangue. Senti que estava amarrado a um ciclo descendente, que somente poderia terminar com a morte, ou a loucura ou a prisão.

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Foi nesse tempo de desespero que o Senhor Jesus Cristo en­ trou em minha vida. Os capítulos finais deste livro vão demonstrar e testemunhar o fato de que Jesus pode salvar totalmente até mes­ mo alguém tão horrendo e desgraçado como eu tinha me tornado!

I.ú cife r

D e s t r o t i i d o

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K r A f f l - G b b i n g <± Ç í a .: U m P ó s - 6 s c r i l o

Embora a idéia de vampiros, para a maioria dos que vivem hoje, no século 21, seja algo em que não dá para acreditar, a verdade é que de fato há pessoas que o são. Não sei se esses vampiros têm todos os poderes e habilidades que lhes são atribuídos pelos filmes de Hollywood e pelo folclore da Europa oriental. Mas é uma reali­ dade registrada cientificamente que eles existem, e atualmente há muitos casos documentados. Não se trata de pessoas que se transformaram em morcegos, mas sim homens viciados em tomar sangue, porque os casos de mulheres são raros: elas normalmente se cortam e chupam o seu próprio sangue. O famoso (na opinião de alguns, o infame) neuro­ logista e psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebbing (1840-1902) foi o autor de uma monumental obra sobre perversão sexual, Psychopathia Sexualis [Psicopatia Sexual], que contém diversos ca­ sos apresentados do que ele chama de “assassinos lascivos”, na ver­ dade, casos de vam pirism o.2São registros do que é chamado “vampirismo clínico”3 ou “síndrome de Renfield” (nome de um personagem psicopata da famosa obra de ficção Drácula, de Bram Stoker, o qual é um suposto vampiro a serviço do próprio conde).'1 Outro médico escritor salienta o fato de que o vampirismo é um fenômeno clínico em que o mito, a fantasia e a realidade se confundem .’ Uma definição médica do fenômeno pode ser a seguinte:


O vam pirism o clínico é uma designação extraída do vam pi­ ro lendário, sendo uma entidade clínica reconhecível — em­ bora rara — , caracterizada por uma compulsão periódica de tom ar sangue, afinidade com os m ortos e identidade incer­ ta. H ipoteticam ente, é a expressão de um m ito arcaico her­ dado, sendo o ato de tom ar sangue um ritual que oferece alívio tem porário.

tados), eles se cortam e chupam o seu próprio sangue, ou ingerem o sangue de um animal, para conseguir superar fo r­ te desejo ou devaneio pelo derram am ento de sangue, tudo isso associado aos m ortos e a uma identidade inconstante. São pessoas inteligentes, sem casos de patologia m ental ou

do

na infância (conform e quatro casos reais posteriorm ente ci­

F a 1 a n d o

à crença na existência de vam piros sobrenaturais (...). A inda

I n f e r n o

Desde os tempos antigos, os vampiristas têm dado força

social em sua fam ília (...). O vampirismo pode ser a causa de repetidos e imprevisíveis casos de assaltos e assassinatos e deve ser detectado em crimi­ nosos violentos que se mutilam a si mesmos. Não se conhece um tratamento específico.6

Não estou afirmando que os psiquiatras teriam todas, ou até mesmo algumas, das respostas para esse problema. Mas têm perfei­ to conhecimento do fenômeno. Não tenho como dizer com certeza se o vampirismo que vivi era uma forma de psicose ou se teve origens somente sobrenaturais (satânicas). Alguns dos sintomas (como aversão à luz do sol, etc.) podem ter sido psicogênicos (com origem na mente). No entanto, o meu caso foi, em grande parte, atípico na literatura psiquiátrica. Tudo o que sei é que estava cheio de demônios e me tornando um perigo mortal para mim mesmo, para minha família e para os outros e, não importa o que fosse, Jesus Cristo era a minha única possibilidade de cura. Louvado seja o seu maravilhoso Nome!

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Os ritos latinos das Igrejas Católica e Ortodoxa consideram possuir o sacerdócio especial da ordem de Melquisedeque, que os capacitaria a oferecer sobre o altar o sacrifício sem sangue de pão e vinho transforma­ dos no corpo e no sangue de Jesus (o que não é bíblico). K rafft-E bbing . Richard von

Psychopathia Sexualis. Edição de 1892. p.

62-64.

Vampirism, Legendary or ClinicaiPhenomena?', M edicine, Science, an d the Laiu [Vampirismo, Lenda ou Fenômenos Clínicos; P rins . Herschel

Medicina, Ciência e a Lei], 1984, 24, p. 283-293.

Vampires, Werewolves and Demons — Twentieth Century Reports in the Psychiatric Literature [Vampiros, Lobisomens e Demônios N oll . Richard

— Registro, no Século 20, na Literatura Psiquiátrica], 1992, p. 16-18. BOURGUIGNON. A. “Vampirism and Autovampirism” [Vampirismo e

Autovampirismo], publicado em Sexual Dynamics ofAnti-Social Behavior [Dinâmica Sexual do Comportamento Anti-Social], Schelesinger & Revitts, editores, 1983.

Hemphill R. E. & Zabow. T. Clinicai Vampirism [Vampirismo Clíni­ co], uma apresentação de três casos e reavaliação do caso de Haigh, o “Assassino dos Banhos de Ácido” — South African Medicai Journal, 1983, v. 63, p. 2 7 8 -2 8 1.


a um H d o r A d o r do Di A b o

TestemuíiHAíido

E eu, quando fo r levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. — João 12:32

D a n d o continuidade em como apresentar o evangelho aos satanistas, precisamos nos lembrar de que eles, em sua maioria, não têm idéia alguma sobre quem é Deus, o que a Bíblia ensina, nem quanto ao que Jesus lhes oferece, exceto no caso de cristãos que apostataram da fé, conforme mencionado. Eu não sabia nada disso. Passei 16 anos de minha vida juntan­ do um grande volume de informações metafísicas que continham muitas mentiras acerca da Bíblia e do cristianismo. Veja a seguir algumas das mentiras mais comuns que são transmitidas aos satanistas: 1. Tudo o que Deus pretende é nos humilhar e nos impedir de nos divertirmos. 2. A Bíblia foi de tal forma censurada e adulterada por antigos monges e concílios da Igreja que o que ela diz sobre Jesus, sua vida e mensagem não tem valor algum. 3. A Bíblia não pode ser compreendida senão como um livro cabalístico, escrito em linguagem codificada, que somente pode ser decifrada por bruxos e adeptos da feitiçaria de elevado grau de


ocultismo. Assim, os crentes não têm como compreender seu ver­ dadeiro significado. 4. O Deus apresentado na Bíblia é, na verdade, uma divinda­ de secundária, tribal, criada no deserto. Divindades como Os Gran­ des Deuses da Antiguidade, Deuses Ancestrais, Senhores das Sombras, etc., do satanismo, são muito antigas e mais poderosas. Assim, faz mais sentido servir-lhe. Evidentemente, um satanista não tira suas idéias do nada. Ele lê ou lhe é ensinado algo a respeito. Exceto quanto ao primeiro engano acima, essas idéias, em sua maior parte, não são divulgadas sem “ajuda” de livros, televisão, banda de rock ou um mentor. Assim que essas objeções forem sendo apresentadas, o que você tem a fazer é, com muito jeito, desafiá-las. Muitos jovens costu­ mam aceitar como verdades absolutas o que lêem ou ouvem, prin­ cipalmente de eminentes personagens que tenham uma postura contrária aos padrões tradicionais da sociedade. Os mesmos jovens ou adultos que escarnecem dos cristãos pela sua “fé cega” acredi­ tam nos mais grotescos conceitos, bem mais irracionais. Assim, o que você tem de fazer é despertar na mente do satanista a questão da confiança: “Por que você acredita que essa informação é verdadeira? Con­ siderando a natureza eterna dessas questões, em que você baseia a sua confiança de que esse seu modo de pensar está correto?” Pergunte-lhe quem escreveu o livro ou lhe ensinou tais coisas. Às vezes, a pessoa nem sabe como foi que recebeu essas idéias. Eu mesmo tinha uma quantidade enorme de pensamentos absurdos em minha mente por ter lido “milhares” de livros do ocultismo, mas não conseguia identificar de que livro tinha tirado tal ou qual idéia. Se a pessoa lhe disser que foi Crowley, LaVey ou qualquer outro que lhe tenha revelado isso, pergunte-lhe por que considera que se deve acreditar nesse autor. Destaque que há várias possibilidades: Ia —Que o que ele disse é a verdade.


2a —O autor pode ter-lhe dito o que acha ser a verdade, mas pode estar enganado. 3a - O autor pode ter misturado algumas verdades com falsi­ dades ou erros. 4a —Pode ter mentido intencionalmente. Isto significa que, na melhor das hipóteses, há 75% de probabi­ lidade de a pessoa estar enganada — tanto intencional como aciden­ talmente. Mostre que esses livros foram escritos por homens ou mulheres, e que os seres humanos podem estar errados e serem enga­ nados. Pergunte-lhe qual a razão para confiar nas opiniões dessas pessoas. As respostas do satanista poderão estar entre as seguintes: Ia - “Isso me parece estar certo.” 2a- “O que ele escreve faz sentido, neste mundo tão sem sentido.” 3a - “São magos ou sábios e poderosos, e devem saber o que estão dizendo.” 4a - “Os rituais da magia que me ensinaram funcionam. Por isso, creio que eles têm entendimento sobre o cosmo.” Esta pode ser uma boa oportunidade para você dizer que po­ derá indicar-lhe um livro que foi escrito por Alguém bem mais sábio e inteligente do que aquele autor. Explique as razões que autenticam o seu livro de um modo que nenhum autor da magia não pode nem pretender chegar perto. R Ho i

a

do “ D u e l o "

Esta é a hora de pôr a Bíblia Sagrada à prova. Faça com que o satanista perceba que há um modo objetivo e cie n tífico (refor­ ce bem esta palavra) para determinar quem deve merecer nos­ sa confiança: os “gurus” satânicos, que escarnecem de Deus e da Bíblia, ou Jesus Cristo e sua Palavra. A pessoa certamente concordará que as duas posições são mutuamente excludentes: ou uma ou outra.


Em outras palavras, mostre-lhe que, logicamente, é impossí­ vel que o satanismo tenha uma teologia correta e, ao mesmo tem­ po, que a Bíblia seja verdadeira. Os satanistas obviamente não têm respeito algum pela Bíblia; assim, é por aqui que você pode come­ çar a detonar os “pastores idólatras” deles, exaltando a Palavra de Deus. É sempre uma melhor estratégia — tanto espiritual como psicologicamente — começar a louvar o que é precioso para Deus do que atacar o que é “sagrado” para os satanistas. Explique que a Bíblia é a Palavra de Deus e foi escrita pelo próprio Deus (veja 2 Timóteo 3.l6ss). Em mais d e 600 vezes, a Bíblia diz de si mesma ser as próprias palavras d e Deus. Bem, um livro verdadeiramente escrito por Deus seguramente tem qualida­ des divinas e incomuns. Uma dessas qualidades é poder transfor­ mar a vida e o coração dos seres humanos. Diga ao satanista, com poucas palavras, como a Palavra de Deus fez isso em sua vida. Também, de modo contrário ao que sempre fizeram, em to­ dos os séculos, os satanistas e apologistas anticristãos em suas argu­ mentações, a Bíblia diz de si mesma que não pode ser alterada nem adulterada (vejaM t 5.18; lPe 1.25; Is 40.8; 51.6; SI 12.6,7; 19.7,8; 111.7; 119.89; Lc 16.17). Os ocultistas, na maioria dos casos, aprendem que várias das crenças do ocultismo — como a reencarnaçao, por exemplo — fo­ ram censuradas e retiradas da Bíblia por volta do segundo ou tercei­ ro séculos. Não há evidência alguma, em qualquer registro histórico, que haja, no entanto, ocorrido tal censura. Se a Bíblia foi verdadeira­ mente escrita por Deus, então ela não teria alterada por sacerdotes, monges ou concílios da Igreja, como ensinam os satanistas. Valendo-nos da lógica, que ser humano teria condições de al­ terar o que um Ser onipotente prometeu preservar? Pode-se de­ monstrar que, por toda a História, os escribas tiveram um cuidado extremo, incrível, quase sobrenatural, de copiarem à mão as Escri­ turas, antes do aparecimento da imprensa. Suas precauções, como as que são mencionadas a seguir, tornaram praticamente impossí­ vel que erros tenham se imiscuído sorrateiramente no texto:


T e s t e m u n H i n d o

a

um

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D ÍA b o

• Todo escriba contava o número de palavras e o de letras da cópia e do original. Os dois números tinham que bater, um com o outro. • Todo escriba fazia com que o tamanho médio das letras na cópia fosse o mesmo que o do original. • Um borrão qualquer de tinta sobre a cópia a invalidava to­ talmente, e ela era destruída no fogo. Isso por causa, sobretudo, da natureza da grafia do hebraico, que consiste de pequenos traços com a pena, que poderiam ser confundidos com pequenas man­ chas de tinta. • Não era permitido que o escriba copiasse mais do que uma única palavra por vez; a cada palavra, ele tinha que olhar para o original. • O escriba obtinha, também, o valor total numérico da pági­ na, somando o valor de cada letra, pois as letras hebraicas represen­ tam também números. A soma da página original tinha que ser igual à da cópia. Outra prova de que foi Deus quem escreveu a Bíblia é que ela 261 prevê o futuro com 100% de precisão. Diga a seu amigo satanista que, diferentemente dos médiuns e feiticeiros, como se vê na im­ prensa secular, a Bíblia tem centenas de profecias, e o cumprimen­ to de cada uma delas já ocorreu, sem falha alguma. O próprio Deus nos pede que usemos suas profecias como teste, comparando-O com outros “deuses”: Declarai e apresentai as vossas razões. Que tom em conselho uns com os outros. Quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde aquele tempo o anunciou? Porventura, não o fiz eu, o Senhor? Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim. (Is 4 5 .2 1 )

Uma apresentação completa das profecias da Bíblia e de sua impressionante precisão constituiria um outro livro. O evangelizado interessado pode consultar obras como E vidence That D em ands a Verdict [Evidência Que Exige uma Decisão], de Josh MacDowell1,


para ter mais informações sobre o modo vital e científico de esta­ belecer a autoridade da Bíblia. Mas aqui estão algumas dessas “pe­ pitas” tão valiosas: 1 . O nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus são o cumprimento de 322 profecias diferentes do Antigo Testamento. Ape­ nas considere 48 das profecias, que seriam as mais difíceis de serem fraudadas: aquelas que Jesus e seus discípulos não tiveram controle algum sobre seu cumprimento. Dentre elas, vejam-se, por exemplo: • Jesus ter nascido na cidade de Belém (Miquéias 5.2); • Reis do Oriente terem ido adorá-lo (Salmo 72.10); • A crucificação deu-se entre dois ladrões (Isaías 53.12); • As mãos de Jesus foram feridas por aqueles que deveriam ter sido seus amigos (Zacarias 13.6); • Trinta moedas de prata foi o preço de sua traição (Zacarias 11.12); • A repartição de suas vestes e o sorteio de sua capa (Salmo 22.18). A chance de pessoas humanas cumprirem essas profecias é de 1 para 10 iy7 (isto é, 10 seguido de 157 zeros)!2 Este é um número astronômico. A probabilidade de você acertar na loteria ou ser atin­ gido por um raio é muito maior do que essa. Para se poder ainda comparar a chance daquelas profecias se cumprirem ao acaso, sai­ ba que há milhões de elétrons — que são partículas subatômicas — no corpo humano. Entretanto, em toda a vastidão do universo conhecido, não haveria espaço para 1 0 l3 elétrons! 2. Ezequiel 26.3.21 faz uma profecia (em cerca de 592 — 570 a.C.), sobre a cidade de Tiro. Tudo se cumpriu nos mínimos deta­ lhes. Apesar disso, os estudiosos determinaram que apenas uma profecia (em meio a outras centenas), por ser tão precisa pela sabe­ doria humana, tinha uma enorme probabilidade de não se cum­ prir: 1 em 75.000 .0 00 !3 Ezequiel fez muitas outras profecias semelhantes sobre a destruição de cidades. Todas elas foram literal­ mente cumpridas. Se o satanista procurar alegar que essas profecias foram escri­ tas após os fatos ou falsificadas de algum modo, você poderá destacar


D Í A b o do d o i- a d o r

ll um

a T e s l e m u n H A n d o

que, graças aos pergaminhos do mar Morto, temos prova de que todas as profecias em Isaías sobre Jesus (por exemplo) foram feitas centenas de anos antes de Ele ter nascido. Assim, as profecias não foram escritas posteriormente aos fatos. Destaque ainda para o satanista que a Bíblia é o manuscrito antigo mais bem examinado e atestado. Isto significa que o número de cópias antigas que temos das Escrituras para fazer comparações cruzadas são substanciais (mi­ lhares, na verdade), e de datas relativamente bem próximas do tempo em que os eventos foram escritos. Por exemplo, a precisão histórica e a verdade da Bíblia têm uma comprovação muito maior do que, digamos, as obras de Homero (A Ilíada ou A Odisséia). Assim, são os satanistas que têm de apresentar provas, para refutar a veracida­ de da Bíblia. Por outro lado, destaque que os “heróis” deles (LaVey, Crowley, Aquino, etc.) e os seus “livros sagrados” fizeram bem poucas profecias, para não dizer nenhuma, e que os registros de cumprimento delas são absolutamente desanimadores. Por exem­ plo, LaVey escreveu em seu livro The S atanic Rituais [Rituais Sa­ tânicos] (1972)4 a respeito do avanço da idéia de Jesus Cristo na cultura ocidental. De acordo com sua predição, no final da déca­ da de 1980 Jesus seria apenas uma memória desvanecente de um conto de fadas na mente da sociedade. Evidentemente, isso não aconteceu. A Igreja cristã está viva, e muito bem viva, e dezenas de milhares de novos crentes estão surgindo a cada dia. Jesus não é apenas uma saudosa lembrança ultrapassada. É a força mais vital na sociedade de hoje. Se Satanás fosse esse grande deus, como dizem, por que nem ele nem seus “profetas” são capazes de predizer com precisão o fu­ turo? Por que não dão ao seu povo senão vagos pronunciamentos públicos de descontentamento, batendo no peito como um decrépito gorila de idade avançada tentando impressionar alguém? Por que não lhes dá algo em termos científicos e com números que possam ser examinados?


O satanista precisa encarar essa questão, se está disposto a exa­ minar os fatos com honestidade. Nosso Deus pode predizer o futu­ ro com uma precisão absoluta e impressionante. O deus deles não pode fazer isso. Um a zero para o Deus da Bíblia! füostre-lH es o SenHor

Uma segunda área que descobrimos ser muito importante é exal­ tar e glorificar o nome de Jesus Cristo. Como já mencionado, a maioria dos satanistas quase nada sabe sobre a real personalidade de Jesus. Infelizmente, até muitos satanistas recrutados de lares de cristãos nominais (e até mesmo autênticos) têm uma distor­ cida versão do verdadeiro Cristo. Apenas 1 0 % dos satanistas com quem temos nos relacionado vieram de famílias cristãs. A maioria deles foi criada em lares ex trem am en te legalistas. Assim, infelizmente, têm uma imagem de Jesus como um capataz seve­ ro esperando a primeira oportunidade para castigá-los diante do menor deslize — estrondeando juízos desde os céus por eles cortarem o cabelo de modo supostamente errado ou enfeitar-se com jóias. Agora, por favor... não estou dizendo que os pais não devem criar seus filhos na educação e na admoestação do Senhor. Nem estou condenando a verdadeira santidade e uma vida genuinamen­ te cristã. Para os cristãos, a paternidade não é nada fácil e está fi­ cando cada vez mais difícil. Contudo, muitos jovens estão recebendo a mensagem distorcida de que Jesus não lhes oferece alegria algu­ ma, apenas uma rígida disciplina, e que irá castigá-los por qual­ quer desvio do caminho certo. Os pais precisam procurar, com muita oração, um equilíbrio entre a disciplina e a graça! Como João nos lembra no seu evangelho: Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. (Jo 1.17 )


Observe que a palavra é para ensinar a criança no caminho em que ela d eve andar, não no caminho em que você quer que ela ande. Seu filho pode estar num caminho que lhe foi aberto pelo Espírito Santo, e pode ser que não seja o que você planejou para ele. Como pais, temos que ter cuidado para não desempenharmos o papel que compete ao Espírito Santo, com nossos filhos. Com isso, não estou dizendo que, se um fdho envolver-se com o que, segundo a Bíblia, é claramente pecaminoso, temos de deixá-lo desviar-se para a perdição. No entanto, muitas vezes não é bom usarmos de seve­ ridade e ficarmos inflexíveis com coisas relativamente de menor importância sob a perspectiva divina. Tendo dito tudo isso, e voltando para os satanistas, é importan­ te transmitirmos a eles uma autêntica e vital imagem de Jesus Cristo. Não é preciso “adoçar” a nossa apresentação, porque os satanistas estão num iminente perigo de irem para o fogo do inferno, e preci­ sam conhecer a verdade. É necessário, porém, ter o cuidado de não enfatizarmos a graça mais do que a lei. Foi o que Paulo fez. E extremamente importante comunicarmos aos satanistas cinco aspectos centrais sobre Jesus Cristo: 1. Jesus E o Deus Todo-Poderoso Que Encarnou

Muito satanistas não sabem disso, ou, se o sabem, não com­ preendem direito. Explique ao satanista, da melhor maneira que puder, que Jesus é Deus feito carne (Jo 1 . 1 ,2 ; At 20.28; Cl 1.15; 2.9; 1 Tm 3.16). Jesus é o Ser que literalmente criou todo o univer­ so (Jo 1.1,14; Cl 1.16). Ele é aquele que mantém o universo unido.

D ÍA b o do fldoi-Ador um

do for velho, não se desviará dele. (Pv 22.6)

a

Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quan­

T e s l e m u n H A n d o

Se for apresentada à criança apenas uma severa disciplina e julgamento, sem a liberdade e a alegria de Jesus, a adolescência poderá tornar-se um tempo bastante turbulento •— especialmente quando as crises surgirem — , abalando a fé juvenil. É importante lembrarmos o que temos de fazer:

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Todas as forças da gravidade, da atração e da repulsão de polarida­ des estão sob o seu controle (Cl 1.17). Explique ainda a ele que, sendo grandioso e onipotente, Cristo esvaziou-se de sua glória di­ vina e tornou-se como um de nós — para comunicar-se conosco e nos redimir (Fp 2.6,8). Às vezes, uma conhecida historinha, das formigas, ajuda-nos a mostrar a grandeza do que o Senhor fez por nós, tornando-se homem: Um pai e seu fdho olhavam para um formigueiro, que alguém tinha pisado em cima. O fdho estava pesaroso, vendo aquelas pe­ quenas criaturas dispersando-se por todos os lados, e o seu desejo foi o de poder comunicar-se com elas. Seu pai explicou-lhe que as formigas não podiam compreender a fala humana, nem havia como escrever a elas. A simples presença de um ser humano no formi­ gueiro lhes traria um grande terror, inimaginável. Juntos chega­ ram, então, à conclusão de que o único meio de se comunicarem com elas seria o fdho transformar-se numa formiga, indo para o meio delas como tal. Somente desse modo, elas confiariam nele e ouviriam a sua palavra. Foi isto que Jesus fez por nós, ao tornar-se um ser humano. Não se pode ficar em cima do muro com respeito à divindade de Jesus de Nazaré. Ele disse ser Deus (Jo 8.58); recebeu adoração como Deus (Mt 8.2; 9.18; 14.33; Jo 9.38); declarou ser o único caminho para se chegar a Deus (Jo 14.6). Quando alguém diz ser Deus, há pela lógica apenas três alter­ nativas: 1 ) É um lunático, tal como aquele que diz ser Napoleão ou um ovo quente. 2 ) E um mentiroso. 3) É realmente Deus. A maioria das pessoas, até mesmo os ocultistas e muitos satanistas, impressionam-se com o carisma e o poder da personali­ dade e das obras de Jesus. Há um consenso geral de que é total­ mente improvável ter sido ele mentiroso e enganador, embora muitos satanistas o caracterizem desse modo. Também a tendência


É-me dado todo o poder no céu e na terra. (M t 2 8 .1 8 —

rc)

Pois bem, se Jesus tem 100% do poder do universo, que por­ centagem restou para Satanás? Zero! O que você diz sobre isso? Gosto de explicar aos satanistas que o diabo é como um ca­ chorro que late muito, preso numa coleira de guia bem curta. Pode latir estridentemente e incomodar bastante, mas Jesus o mantém com rédeas curtas. Todo dano que ele realiza é sob a permissão do Senhor, e normalmente, de algum modo, acaba revertendo para servir aos propósitos de Deus, especialmente quando procura ata­ car os crentes (cf. Gn 50.20; Rm 8.28).

D ÍA b o do â d o r A d o r um

A maioria dos satanistas tem uma imagem de Jesus como um palerma sem importância, efeminado, que se veste com saias e abraça e acaricia o tempo todo suas ovelhas. Infelizmente, algumas obras de arte cristãs — especialmente as de estilo antiquado e as pinturas católicas — de modo geral reforçam esse pretenso caráter efeminado do Senhor. É necessário destacar que Jesus trabalhou como carpin­ teiro na maior parte da sua vida adulta. Ninguém fica com um físico delicado lidando com grandes vigas e troncos de madeira e trabalhando com ferramentas de carpintaria o dia todo. Outro aspecto que precisa ser enfatizado é o poder sobrenatu­ ral de Jesus. Ele acalmou uma forte tempestade num lago, com uma só palavra. Fez com que demônios ficassem cheios de abjeto terror, só em entrar num povoado. Ressuscitou mortos! Será que Satanás (ou um de seus subordinados) pode fazer o mesmo? Os satanistas, em sua maioria, respeitam o poder, mas apren­ deram que Satanás é que é a fonte do poder. Assim, o poder de Jesus precisa ser enfatizado. Ele disse:

a

2. Jesus Deve Ser Glorificado como a Fonte de Todo o Poder

T e s l e m u n H A n d o

é admitir que é bastante improvável que um homem que agiu e ensinou como Ele o fez fosse um desequilibrado, conquanto al­ guns satanistas acreditem que ele fosse demente. Assim, para muitas pessoas, a alternativa é que Jesus foi, e é, quem Ele declarou ser: o Deus Todo-Poderoso!


Diga aos satanistas que o poder que eles talvez tenham visto proceder do diabo é principalmente porque Satanás fica com uma correia maior quando se trata de nao-cristaos. Se o satanista esti­ ver com medo do que o diabo lhe possa vir a fazer, afirme que ele pode ser salvo e ficar sob a cobertura do manto de Jesus Cristo, que tem realm ente todo o poder (veja tam bém Jo 3 .35; Ef 1.10,11). 3. Jesus Deve Ser Glorificado como a Fonte de Toda a Sabedoria

Como já disse, a maioria dos satanistas que não está muito inte­ ressada em ter poder está interessada em ter sabedoria. Assim, preci­ sa ouvir de você que Jesus Cristo tem mais sabedoria a oferecer do que Satanás e suas bolorentas e antiquadas revelações das trevas. Um dos problemas que enfrenta quem compartilha o evan­ gelho é que a sabedoria bíblica não tem a mesma fascinação e o mesmo ar misterioso da sabedoria ocultista. A percepção que a maioria dos satanistas tem é considerar que os cristãos não pas­ sam de “mehuns”, não distinguindo os verdadeiros cristãos dos apenas nominais e achando que o cristianismo nada tem a ofere­ cer de significativo. Primeiro, explique, com toda a gentileza, o que é um verda­ deiro cristão, e que os verdadeiros cristãos são em número bem menor. O verdadeiro cristão não é alguém que simplesmente per­ tença a alguma igreja ou tenha sido batizado quando criança. Ex­ plique que esta sabedoria sobrenatural provém de se estudar a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. Diga aos satanistas que assim como alguns deles se esforçam em seus estudos mais do que outros, tam­ bém alguns cristãos esforçam-se mais em seus estudos da Bíblia. Desse modo, não é justo julgar Jesus e o cristianismo olhando só para determinados cristãos ou igrejas. Mostre ainda que muitas vezes o que é considerado sabedoria pelos homens, na verdade é loucura para Deus, e vice-versa (1 Co 3.19; Is 55.8,9). Explique que, por Deus ser quem é, não dá para


Aqui chegamos a um ponto em que as pessoas não se sentem bem à vontade, e muitos não querem falar a respeito disso, especi­ almente no caso de um satanista. Ele é geralmente agressivo e ego­ ísta, considerando isso uma virtude. E por isso que, em muitos casos, os satanistas nunca viram o amor ágape, altruísta, em ação. Esclareça que Cristo não rejeita ninguém que vem a Ele, nem mesmo quem o tenha rejeitado, como no caso do satanista. Ele sofreu uma terrível e pavorosa execução, morrendo por todos, in­ clusive pelos satanistas. Muitos satanistas não receberão esta pala­ vra ou até mesmo zombarão dela. No entanto, alguns serão realmente tocados por ela, e outros serão influenciados, embora não o demonstrem de imediato. Diga ao satanista que mesmo que fosse ele a única pessoa no mundo que necessitasse de salvação, Jesus teria morrido por ele. E que Ele deu a sua vida mesmo sendo Deus. Mostre que a morte de Jesus não foi um sacrifício humano para Lúcifer coisa alguma, mas foi o modo pelo qual Deus nos mostrou quanto Ele nos amou e, assim, satisfez as exigências de sua perfeita justiça. Todos esses pontos são praticamente iguais aos que seriam abordados em qualquer diálogo em que se esteja buscando ganhar almas. Apenas é preciso enfatizar que os satanistas (como qualquer outra pessoa) são muito carentes de amor, de um amor não egoísta.

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4. Jesus Deve Ser Glorificado como Aquele Que nos Amou a Ponto de Morrer por Nós (Rm 5.8)

T e s l e m u n H A n d o

compreender tudo o que Ele tenha para nos ensinar. Usando de novo a história das formigas, é como se pudéssemos perguntar a uma delas o que pensa a respeito de cálculo integral! Se o satanista não foi muito longe pela estrada da rebeldia, pode-se mencionar ainda que muitas das leis feitas pelos homens baseiam-se na sabedoria da Bíblia (veja ainda 1 Co 1.24; Cl 2.2,3; Pv 8.22-36).


Estão acostumados a não serem amados, e sim manipulados e abu­ sados. Este assunto de fato os impressiona. Não tenha medo de falar com eles sobre isso! 5. Jesus Deve Ser Glorificado como o Unico Diante de Quem Satanás um Dia Vai Se Dobrar (Fp 2 .9,10 , Isaías 45.23)

Faça o satanista lembrar-se da incrível precisão dos escritos proféticos de Deus. Explique-lhe que, contrariamente ao que lhe disseram, Satanás não vai ganhar esta batalha. Pergunte-lhe se tem uma evidência concreta que seja para mostrar que o Livro de Deus está errado e por que Satanás triunfará. Onde estão os grandes profetas de Satanás? Onde está a evidência de que ele realmente pode controlar o futuro, e não o que ele é, isto é, um pobre viralata na coleira, com guia curta? Diga ao satanista, amavelmente mas com firmeza, que a Bíblia deixa claro que um dia ele, assim como também Satanás, terá de dobrar os joelhos e confessar que Jesus é o Senhor do uni­ verso. Satanás não tem saída; não lhe resta opção. Mas o satanista, enquanto estiver vivo, tem uma opção. Pode escolher inclinar-se diante de Jesus e confessá-lo como seu Senhor e Salvador agora mesmo, escapando assim das conseqüências do eterno fogo do in­ ferno. Isso nos leva a um desafio... Quer RposlAr?

Embora esta não seja a única maneira de fazer com que um satanista ou feiticeiro “se renda” a Jesus Cristo, a abordagem descrita a se­ guir costuma ser bastante eficaz. E uma abordagem clássica e ba­ seia-se na obra de Blaise Pascal, o grande filósofo, cientista e matemático cristão. A linguagem de programação chamada Pascal tem esse nome por causa dele. Esta abordagem é chamada de “Aposta de Pascal”, porque basicamente ela reduz a eternidade a um jogo. Em última análise, todo mundo faz o jogo de Pascal, quer saiba disso ou não. Todos nós escolhemos “apostar” em um dentre


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T e s l e m u n H A n d o

dois concorrentes: o disputante chamado “o cristianismo é verdadei­ ro” ou seu adversário, “o cristianismo é falso”. Eis como se procede. Diga ao satanista: “Se o cristianismo for falso, não sendo o único caminho’, e se você seguir seus ensinos e Senhor, o que tem a perder? Seus princí­ pios éticos são admiráveis. Por observar os Dez Mandamentos e as Bem-Aventuranças, isso não prejudica em nada o seu “carma”, não é? Você terá uma vida pacífica e alegre, e por fim partirá, até a sua (suposta) próxima reencarnação. Na pior das hipóteses, o cristia­ nismo e seus ensinos melhorariam, até, o seu carma. “Por outro lado, se o satanismo for falso, e a declaração de Jesus — que ninguém vai ao Pai a não ser por Ele (Jo 14.6) — é verdadeira, e você seguir o satanismo, então estará num tremendo perigo espiritual! Você estará fora da vontade de Deus e adorando falsos deuses. Então, estará correndo um grande risco! Enfim, se você seguir o cristianismo e tiver sido enganado, não perderá quase nada. Mas, se seguir o satanismo, e estiver enga­ nado, perderá tudo!” É um lance que só possui duas alternativas. Mas essas alterna­ tivas são, na verdade, a vida ou morte eternas. Se o satanista estiver errado, passará a eternidade no inferno. Alguns satanistas poderão querer negar a existência do inferno ou então dizer que o inferno é uma festa. Apresente-lhe de novo a pergunta: “Por que você acredita nisso? Qual é a evidência mate­ mática e científica de que você dispõe para descartar o que Jesus e a Bíblia dizem com tanta clareza?” Outros satanistas vão querer discutir sobre como um Deus supostamente tão bom pode fazer um lugar assim como o inferno e mandar pessoas para lá. Mostre que Deus não fez o inferno para os seres humanos, mas para o diabo e seus anjos (Mt 25.41). Além disso, deixe claro que as pessoas é que se deixam ir para lá, pois rejeitam a oferta de vida eterna que Deus lhes oferece de um modo incrivelmente fácil e de graça. Se Jesus tivesse tornado a salvação


algo muito difícil de alcançar, então as pessoas teriam argumentos e questionamentos válidos. Mas Ele fez com que a salvação seja tão fácil que até mesmo uma criancinha do jardim da infância pode entendê-la. Mostre que, diferentemente de Satanás, Deus não é esnobe. Ele aceita as pessoas como estão e as salva de seus pecados: — basta que lhe dêem o seu consentimento. Esta escolha, quem tem de fazer é o satanista. Concluindo, esse pode ser um longo processo. A oração con­ tribuirá para facilitar a decisão, mas não são muitos os satanistas que são salvos no primeiro contato. Pelo que me lembro, levei seis anos, desde o dia em que pela primeira vez fui tocado pela graça e 0 poder de Deus até o dia em que finalmente cheguei à cruz. E disso que estaremos tratando nos próximos capítulos. No í AS 1 M a c D o w e ll Josh. E vidence ThatD emands a Verdict, v. I e II. Heres Life Publishers, 1989. 2 Ibid., p. 167. 3 S t o n e r Peter. Science Speaks, An Evaluation ofC ertain Christian Evidences [A Ciência Fala, Uma Avaliação de Certas Evidências Cristãs], Moody Press, 1963, p. 80. 4 L aV ey Anton.

The Satanic Rituais. Avon Book, 1972.


Descendo

ü a

Co n t r a m à o

... dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões. — Atos 26.14

ü s coisas estavam se complicando cada vez mais em minha vida. Nossos grupos de feiticeiros estavam crescendo, e o meu próprio poder na magia também aumentava. Sharon e eu estávamos sendo convidados cada vez mais para outras reuniões de feitiçaria. Os espíritos guias nos fizeram escrever a Gavin e Yvonne Frost, da Igreja da W icca, e chegamos a conhecê-los. Eles nos convidaram a fazer uma avaliação crítica do meu curso de feitiçaria. Eu me sentia mais saudável como nunca! Contudo, via mi­ nhas energias se esgotarem por causa da luta diária contra a compulsão para começar a assassinar mulheres à noite. Eu sabia, com um misto de terror e satisfação, que era apenas uma questão de tempo para que a lascívia por sangue vencesse a prudência. Fi­ caria, então, do jeito sangrento que a “metamáquina” dentro de mim queria. Além disso, Orion não via a hora de cumprir sua promessa de me dar (usando suas palavras) “um azinha preparada” para eu sacri­ ficar no seu altar. Eu não teria como escapar. Satanás estava cui­ dando para que isso acontecesse. Mas escapar para onde?


Pelo que eu sabia, havia apenas três escolhas: católicos, protes­ tantes e ortodoxos. A Igreja Católica Romana, tanto quanto mi­ nha experiência me mostrava, estava envolvida com a magia negra, assassinato e vampirismo. A Igreja Ortodoxa não estava muito lon­ ge disso (pelo menos o seu ramo russo). Meu conhecimento acerca dos protestantes era muito pequeno; para mim, pareciam uns tolos chatos que negligenciavam todos os esmerados rituais, as vestes clericais e os vitrais coloridos, para ficarem apenas com um monó­ tono e constante estudo bíblico. Tinham-me dito — tanto os católicos como os irmãos da con­ fraria de Satanás — que nunca pusesse os pés numa igreja de pro­ testantes. Por isso nunca os procurei. Eles nem mesmo eram cogitados como solução para meus problemas. Além disso, pensa­ va que Jesus fosse um rei-vampiro, fdho do próprio Satanás! Para escapar de meu dilema, por que iria me voltar para uma pessoa assim? Ele era a pessoa que tinha dado início a muitas das práticas nas quais eu estava enredado; era o que eu pensava. “R e A l m e n i e N e A í i d e r t A Ü ”

Quando eu estava enfrentando esse dilema, recebi um bilhete que mudaria para sempre o curso da minha vida. Por mais curioso que possa ser, o que veio mudar minha vida era uma simples corres­ pondência bancária. Dentro dela, estavam os meus cheques já com­ pensados, que sistematicamente o banco me devolvia. Quando os peguei para conferir com os meus controles pessoais, um deles cha­ mou a minha atenção. Era um cheque que eu havia enviado para a Igreja de Satanás. No cheque, escrito com uma letra de mulher, havia a frase: “Vou orar por você, em nome de Jesus.” Presumi que deveria ser uma pessoa cristã achando que eu estaria enfrentando problemas e que, por essa razão, tinha enviado dinheiro para a Igreja de Satanás. Deveria ser um “mehum” totalmente “por fora”, pensei eu, não entendendo que Jesus na realidade era um feiticeiro. Apenas dei


C onlrABiio nA

Descendo

uma risada e coloquei o cheque em meus arquivos. Mas meu riso não durou muito. Nos dias seguintes, senti como se alguém tivesse desligado todo o meu poder por meio da magia. Senti-me doente, fraco e desolado! Como o tipo de magia com o qual estava envolvi­ do era extremamente poderoso e compulsivo, eu estava sob uma forte aflição! Imagine o que deve um viciado em drogas sentir quando é forçado a interromper seu vício, e multiplique isso vá­ rias vezes. Então, perdi meu segundo emprego em tempo parcial, que tinha arrumado, como guarda-noturno. Por incrível que pareça, eu não sentia mais aqueles opressivos desejos da “metamáquina” em meu interior, e isso me preocupava também. No fundo, sentia também certo alívio por causa disso. Que conflito! As contas não pagas começaram a se avolumar, e eu achava que se tratava de alguma coisa que os demônios tinham feito co­ migo, pois a situação piorava a cada dia. Não conseguia, porém, entender o que estava acontecendo. Assim, como todo bom feiti­ ceiro, busquei presságios e sinais. Fui ao meu templo e caí de rosto no chão, clamando a Lúcifer por um sinal. O que tinha feito de errado? Eu havia assinado o Pacto! Eu tinha levado tantos outros — muitos, na verdade — a assinarem o Pacto! Eu me esforçara o máximo para crescer e ser um digno escravo de Satanás. Eu tinha de saber o que fazer. Embora tivesse orado a Satanás, quem me respondeu, porém, foi Deus! No dia seguinte, veja quem aparece em minha casa: duas mo­ ças, discípulas de Orion, muito envolvidas no satanismo e com discos voadores. Tinham ouvido falar que estávamos interessados em discos voadores e ligados à magia sexual e quiseram nos conhe­ cer. Mas trouxeram consigo algo muito estranho e incomodativo: três revistas cristãs de histórias em quadrinhos: Anjo d e Luz, En­ cantam ento e Sabotagem}. Duas delas abordavam especificamente Satanás e a Irmandade.

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Elas as tinham encontrado em algum lugar e as traziam só para se divertir. A mais velha das moças passou-me, rindo, as revis­ tas dizendo: — Você precisa ver isso, rapaz. Eles são do tempo de Neandertal! Dei uma rápida olhada nas revistas e vi que ela tinha feito uns sórdidos acréscimos nos desenhos. Eram palavrões e outras anota­ ções satíricas nas margens, dentes pintados de preto em algumas das personagens e também chifres do diabo desenhados em algu­ mas figuras de pregadores. Observei brevemente que uma das re­ vistas dizia, na última página: “É: ou Cristo ou Satanás... e somente um tolo escolheria Satanás!” '‘Deus o ama e deseja que você tenha paz e vida eterna no céu.” Estas frases eram seguidas por um quadro que continha ins­ truções sobre “como receber Jesus Cristo como seu Salvador pesso­ al”. Eu simplesmente dei um sorriso de escárnio. Aqueles “bobos”, que tinham escrito aquelas coisas, nada sabiam quanto a eu j á ter nascido d e novo p elo m odo verdadeiro e secreto, p o r m eio d e M aria M adalena:! Que ousadia quererem me atingir com aquele estúpido “papo-furado”! Eu não tinha percebido que Deus tinha estendido sua mão do céu usando devotos discípulos de Satanás para trazerem à minha vida, justamente, a informação de que necessitava para escapar daquela terrível espiral pela qual eu caía vertiginosamente. Peguei as revistas e as joguei dentro de uma gaveta. Eu estava muito ocu­ pado — impressionando e entretendo aquelas “fãs” satanistas — para me preocupar com histórias em quadrinhos do tipo “Neandertal”. Então, como se já não tivesse problemas suficientes, recebi um telefonema, por meio do qual fui informado que o meu “Ipsissimus — Sumo Sacerdote e Rei da Estrela da Manhã”, da alta esfera satânica, tinha sofrido um sério acidente num caminhão e estava em condições críticas. (Ele foi tirado de minha vida por quase um ano.) O que estava acontecendo comigo?


GspiriluAl

Naturalmente, Satanás (tal como a natureza) detesta o vácuo. Nem bem um dia tinha se passado, desde a hora em que joguei as revis­ tas dentro daquela gaveta, e alguém bateu à minha porta. Sharon e eu estávamos prestes a sair de casa para fazer compras numa mer­ cearia. Ela abriu a porta e deparou com dois jovens de rostos forte­ mente rosados, bem apresentados e saudáveis, com camisas brancas, gravatas e calças escuras. Tinham um distintivo na lapela que os identificava com o nome e uma posição. Sharon disse: — Vocês são mórmons, não são? Eles deram um passo para trás, quase assustados com sua saudação. — Sim, se-senhora — gaguejou um deles. — Somos missio­ nários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A senhora pode nos dar alguns minutos? Dissemos-lhes que estávamos para sair, mas que eles pode­ riam voltar outra hora, e teríamos prazer em conversar com eles. Os rapazes concordaram conosco de voltarem no dia seguinte, à tarde. Sharon fechou a porta e, quando eles foram embora, ela olhou para mim com um estranho olhar. Por que teríamos nós, ferrenhos feiticeiros, tão prontamente acedido aos missionários mórmons, que são o cúmulo da retidão e da chatice? Por que Sharon e eu tão facilmente concordamos em recebê-los no dia seguinte? Sharon sabia da resistente crise espiritual que eu vinha enfren­ tando nas últimas semanas. Ela sabia — como eu também — que nos fora dito, cerca de seis anos antes, pelo “Grão-Mestre Druida” (a quem já nos referimos), que se, por acaso, um dia, entrássemos em séria crise espiritual, nos filiássemos à Igreja Mórmon! Embora Sharon não simpatizasse muito com os mórmons, aventamos a possibilidade de que eles teriam a chave para solucionar o nosso problema. Esse hierarca druida, de nome Enoque (não é seu verdadeiro nome), era ligado a membros de alto nível dessa Igreja. Chegou

C onlrimlo

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De s c e n d o

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mesmo a nos mostrar fotografias suas em reuniões com o entáo profeta da organização, Harold B. Lee. Garantiu-nos que a Igreja Mórmon fora fundada por feiticeiros como um lugar em que bru­ xos como nós poderíamos encontrar abrigo quando estivéssemos sob ataque .1 Ele nos tinha ensinado que muitas das doutrinas da Wicca e dos druidas são totalmente idênticas às dos mórmons. Por exem­ plo, tanto os referidos feiticeiros quanto os mórmons crêem: • numa divindade masculina e feminina (deus e deusa); • na preexistência como filhos espirituais; • que a pessoa pode evoluir para tornar-se um deus ou uma deusa; • no casamento para agora e a eternidade; • em rituais iniciatórios secretos.2 Assim, Enoque explicou-me que poderíamos tornar-nos mórmons e, ao mesmo tempo, mantermos praticamente todas as nossas crenças como feiticeiros. Além disso, revelou-nos que os rituais secretos dessa Igreja seriam uma incrível fonte de poder do ocultismo. Portanto, parecia que a chegada daqueles missionários era uma resposta às nossas orações... a Satanás. Assim, quando os missionários voltaram, sentamo-nos e pa­ cientemente prestamos atenção à apresentação que eles fizeram, com muita encenação, e diversos diagramas ilustrativos. Nós os surpreendemos por verem quanto já sabíamos da doutrina da Igre­ ja dos Santos dos Últimos Dias e, dentro de uma semana, já tínha­ mos submetido a eles o nosso pedido para sermos batizados e nos tornarmos membros de uma igreja mórmon. Fomos entrevistados e aprovados por um “líder regional”, e depois informaram-nos por telefone que seriamos batizados den­ tro de algumas semanas. Senti uma forte e rara emoção ao receber aquela notícia, ao desligar o telefone. Parecia-me uma chance de começar tudo de novo. Os mórmons ensinam que o batismo libera a pessoa de todos os pecados. Isso significava para nós uma oportu­ nidade de limpar tudo e recomeçar zero-quilômetro!


Eu vinha me sentindo muito sujo e ainda me via sendo usado em minhas experiências com os vampiros e minhas atividades sa­ tânicas. Tive para mim que algum tipo de milagre havia aconteci­ do, uma vez que minha vontade de tomar sangue tinha acabado totalmente e meu apetite normal estava retornando. Seria esta, real­ mente, a chance para começar tudo de novo? A impressão que eu tinha era que não havia nada a perder! Se Enoque estava certo, então eu alcançaria um novo marco em meu poder luciferiano ao passar pelos rituais no templo mórmon. Isso seria uma solução para o misterioso esvaziamento que eu vinha sentindo ultimamente em minhas reservas de poder por meio da magia. Se Enoque estava enganado, então eu estaria me unindo à verdadeira Igreja cristã! Aquela altura, eu acreditava que as duas alternativas seriam possíveis ao mesmo tempo. Parecia bom demais para ser verdade! Será que de fato, por meio dos rituais mórmons, eu iria me encontrar com o Jesus que vinha procurando durante todos aqueles anos? Os rostos sorriden­ tes e saudáveis dos missionários comunicaram-me uma paz que eu não conhecera nos últimos dez anos, uma paz firmada no entendi­ mento de que eu estava fazendo a vontade de Deus. Desde que meus professores universitários detonaram as bases da minha fé na Bíblia, passara a ter dificuldade em crer, e procurei Jesus nos luga­ res mais improváveis de encontrá-lo. O lugar mais óbvio de todos seria o lugar certo? A instituição que se chama Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias teria como me dar este Jesus? Naquela noite, quando fui dormir, orei para que isso acontecesse. Com lágrimas de esperança, orei com todo o meu coração que assim fosse. Um

So

11 h o

IIIaI

G niendido

O Senhor não desiste nunca, este crédito eu lhe dou! Enquanto eu dormia naquela noite, tive um sonho bem agitado. Ele falava co­ migo, mesmo estando eu prestes a me ligar a um culto religioso. Chamava-me de volta, da beira de um precipício.


O sonho começou estando eu na parte mais alta de uma mon­ tanha. Era noite, e havia nuvens movimentando-se rapidamente, com estrondos de trovões. De quando em quando, eu era ilumina­ do naquele íngreme pico pelos clarões de relâmpagos sobre os quais nao conseguia ter quase nenhum controle com a minha magia. Estava frio e ventava naquele lugar elevado, todo tomado pela tem­ pestade; contudo, eu sentia prazer pelo poder que tinha. Durante um rápido momento em que a tempestade se acal­ mou, ouvi o som de um cântico vindo do sopé da montanha. Vol­ tei, então, o meu olhar para o vale lá embaixo e vislumbrei algumas luzes. Assim que as nuvens que circundavam o pico se dispersa­ ram, pude ver claramente de onde vinham as luzes e o som daque­ les cânticos. Eram de uma pequena igreja evangélica naquele vale escuro, com suas despretensiosas janelas lançando nas trevas calo­ rosos raios de uma iluminação amiga. Ela estava repleta de pessoas, e senti uma pontada de solidão. Estavam cantando um dos poucos hinos evangélicos que eu já tinha ouvido “Amazing Grace” “Mara­ vilhosa Graça”, de John Newton, um dos hinos mais conhecidos e cantados nos Estados Unidos]. De todo o coração, minha vontade era sair do lugar onde me encontrava e ir até lá misturar-me com aquela gente. A cruz que havia sobre a porta da igreja parecia estar acenando para mim. Mas uma parte dentro de mim me puxava para trás: — Não seja tolo! Você é um feiticeiro, um p ra tica n te da m agia! Faz p a rte da sua condição d e feiticeiro estar isolado, afastado das m ul­ tidões. Seu d ever é trazer relâm pagos dos céus para que a hum anidade não p erca o seu senso d e m agia! Em meu sonho, protestei: — Mas estou cansado de tudo isso! Já “dei duro” por muitos anos. Não tenho direito a um descanso? De algum modo, finalmente reconheci o timbre da voz do meu interlocutor no sonho como sendo a voz de Aleister Crowley: — A m agia é com o subir num a m ontanha. Você nao p o d e parar para descansar nunca, ou você despencará e se destruirá todo.


— Nunca? — lamentei, chorando, com muita tristeza. — Não, a té que você alca n ce o p on to mais alto e se torne um Ipsissimus, com o eu — um deus encarnado! — Mas estou cansado e sinto-me só. Quero descer e juntarme àquelas pessoas naquele lugar tão caloroso e acolhedor. — Esses a í são os tolos que os hom ens adoram ser, tanto seus deuses com o eles mesmos são tolos!... Em meu sonho, Crowley sorria com descaso e citou seu Livro da Lei: — Vá a té lá, ju n te-se a eles e p erca tudo que você conquistou. Torne-se um deles, e eles o amarão. Então você p od erá “m orrer nas covas com os cães da razão’’'. Senti como se estivesse tremendo de frio, e os raios dos trovões caíam cada vez mais perto de mim. “Se eu ficar aqui, vou morrer” — pensei. Crowley proclamou: — Se você descer a té lá, hom enzinho, sua m en te será a d e um otário total em m enos d e 15 dias. Os relâmpagos caíam mais perto ainda. De algum modo, o som do hino começou a extinguir a sarcástica fúria de “Crowley” em meu sonho. O hino parecia falar comigo e dizer: “Você não precisa ficar aí como uma vara de condão humana, lançando relâmpagos, a fim de salvar a humanidade. Jesus já fez tudo por você. Desça e juntese a nós, na família de Deus.” Tremendo de frio, comecei a descer. Indo para baixo aos tro­ peços, naquele precipício, em direção às convidativas luzes daque­ la igreja, ouvi ainda a voz crítica de Crowley ecoando às minhas costas: — Você vai se arrepender! Você está com etendo um gra n d e erro. Vai cair no abism o!— advertiu-me ele, referindo-se à versão ocultista do inferno, o “abismo”, onde caíram aqueles que não conseguiram tornar-se um deus. Ora, como praticante da magia, as únicas pes­ soas que eu tinha ouvido falar terem caído no abismo eram aquelas


que tinham ousado tornarem-se crentes em Jesus. Foi com esse triste pensamento que acordei. Infelizmente, minha ignorância sobre hinos evangélicos era quase tão grande quanto de Teologia. Interpretei mal o meu so­ nho, achando que havia uma bênção sobre minha decisão de ficar ao lado daqueles jovens mórmons de rostos tão ardentes, ingres­ sando em sua Igreja. Naquela época, não sabia que os mórmons não cantam o hino com que eu havia sonhado, tampouco em suas igrejas se encontra o símbolo da cruz! Minha falta de conhecimento bíblico também fez com que a advertência de Deus passasse por mim sem que a entendesse. Sen­ tia-me muito feliz pensando que, por ter encontrado o Cristo dos mórmons, tinha encontrado o Jesus de meus mais devotados sonhos. Nem imaginava que, na realidade, estava prestes a parti­ cipar de uma das contrafacções mais bem engendradas e cruéis de Satanás! Assim, em 8 de agosto de 1980, fui batizado numa igreja mórmon por dois missionários anciãos, que ensinaram a Sharon e a mim as “discussões” (lições missionárias). Ela e eu havíamos con­ versado sobre isso, e Sharon concordara em ser batizada também; todavia, estipulou a condição de que deixaríamos aquela seita se os rituais do templo não fossem o que estávamos esperando, ou se nada resolvessem por mais de um ano. BeirA

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Não há tempo nem espaço neste livro para narrar tudo o que acon­ teceu nos meus estranhos cinco anos de aventuras como mórmon. No entanto, uma vez mais, embora Satanás tenha tentado usar o mormonismo como nova artimanha espiritual para me enganar e armar cilada contra mim — , Deus fez uso desse tempo para um propósito muito mais nobre. Ele o usou para mostrar-me que eu era pecador.


Os mórmons, como toda gente sabe, não são más pessoas. Eles, afinal, se esforçam por viver vidas íntegras. Como feiticeiro e satanista, isso realmente não estava entre os primeiros pontos da minha lista de prioridades. Como satanista, eu não tinha consci­ ência alguma quanto a ser pecador. Com efeito, no dia em que não cometia um gra n de pecado, achava que tinha sido um mau dia. Naquele tempo, eu vivia praticando adultério, bebendo sangue e usando entorpecentes como um demônio, ano após ano! Quando, porém, me filiei à Igreja dos Santos dos Últimos Dias, percebi que havia um esquema de regras bem diferente que eu tinha de observar. Para me qualificar de poder ir ao templo supersecreto — a que tinham direito apenas alguns poucos mórmons pertencentes à elite, portadores de cartões de recomen­ dação para entrar no templo — , eu sabia que seria entrevistado sobre a minha guarda de todos os mandamentos. Tomei a resolução, então, de “entrar na linha”, na minha nova religião. Uma misteriosa força havia retirado de mim a dependên­ cia de sangue. (Agora, olhando para o passado, entendo que deve ter sido pelas orações daquela moça do banco, a que escrevera no cheque, por mim.) Paralelamente, meu desejo por maconha e co­ caína diminuíra substancialmente. Isso era bom, pois o código dietético mórmon proíbe toda bebida alcoólica e também drogas, café, chá e cigarro. Eu nunca fumei, raramente bebia uma bebida forte e quase nunca tomávamos café ou chá preto (éramos vegeta­ rianos, consumindo apenas alimentos naturais). Com m uita força de vontade (e certamente a ajuda daquela moça do banco, que orava por mim), consegui largar o vício das drogas em poucas semanas, após o meu batismo mórmon. Alguns dos meus outros hábitos pecaminosos eram um pouco mais difí­ ceis de vencer. Pela primeira vez na vida, tive que enfrentar o desa­ fio de não mentir, não ver pornografia (isso não era nada fácil para quem havia passado 12 anos cultuando em plena nudez com deze­ nas de moças formosas!), não perder as estribeiras, nem tomar o nome do Senhor em vão.


Pela primeira vez em 12 anos, tive que enfrentar o pecado, em minha vida, como um inimigo a ser vencido, em vez de tê-lo como um companheiro com quem “festejar com muita alegria”. Isso não era nada divertido! Ficar lá com os mórmons ajudava um pouco. Eram pessoas admiráveis, que não liam revistas do tipo Playboy e costumavam alertar-me para ter cuidado com o meu linguajar. Não obstante, por acreditarmos que a Igreja Mórmon era dirigida por druidas do grau mais elevado, não tínhamos deixado de praticar a feitiçaria. Com efeito, em 1981, Sharon e eu tivemos uma entrevista em Salt Lake City com um “apóstolo” da Igreja (um dos 15 homens de sua cúpula mundial). Por termos podido dar-lhe algumas “chaves” e “sinais” especiais, que nos tinham sido passados pelo Mestre Druida, ele se abriu para nós. Solenemente, assegurou-nos que nossas intuições e informações estavam certas. Lúcifer é, de fato, o deus adorado no templo mórmon .3 Ele nos advertiu que corríamos certo perigo. Fomos “aconse­ lhados”, sob p en a d e m orte, a nunca falar do que fora tratado na­ quela reunião com nenhum oficial da Igreja de nível inferior ao de apóstolo. Também nos deu a entender que, se mudássemos para o estado de Utah, onde fica a sede da Igreja Mórmon, teríamos, cer­ tamente, um lugar na hierarquia. Concluímos, assim, que o mormonismo não passa de uma feitiçaria “cristianizada”. Então o que fizemos foi “mormonizar” um pouco nossos gru­ pos de feitiçaria e deixamos de nos considerar satanistas. Assumi­ mos, porém, que agora éramos luciferianos. Como fazíamos parte dos poucos mórmons que pertenciam à “elite” do templo ,4 tínha­ mos que usar uma veste especial sagrada debaixo da nossa roupa (na verdade uma veste secreta). Sharon e eu começamos a realizar nossas reuniões do grupo vestidos com mantos, e não, como fa­ zíamos antes, com “vestes celestes” (o termo Wicca para estarmos nus). Em pouco tempo, sem que disséssemos nada a respeito, o uso de mantos tornou-se um símbolo de status, tal é o poder de uma liderança.


onlrAUiio

C nA

Descendo

Deixamos de beber vinho em nossos sabás. No lugar do vi­ nho, passamos a tomar suco de uva. (Isso nos alegrou bastante, pois, na verdade, detestávamos vinho e outras bebidas alcoólicas...) Chegamos até a levar alguns de nossos melhores participantes de nossos grupos a ingressarem na Igreja Mórmon! Outras mudanças menores também ocorreram. Quando Sharon e eu nos conhecemos, tínhamos feito um acor­ do entre nós de que cada um buscaria desenvolver-se na magia à sua maneira, da forma como se sentisse dirigido para isso. Respei­ távamos os princípios um do outro e contávamos com a integrida­ de pessoal um do outro para perseverarmos em nossos objetivos e ideais. Desde que entrei no satanismo, por exemplo, Sharon parti­ cipou apenas daquelas atividades consideradas absolutamente ne­ cessárias. Era o caso de rituais em que havia algumas outras sacerdotisas nos grupos, que invejavam sua posição. Percebeu que tinha de se envolver um pouco ou ficaria para trás. Nosso pessoal a considerava quase uma segunda mãe, e havia entre nós uma união como de uma família. Achavam, porém, que mesmo que ela não demonstrasse interesse por determinada “prá­ tica das trevas”, teriam a porta aberta para pessoalmente ingressa­ rem naquela corrente de magia. No entanto, ela trabalhava em outras áreas da feitiçaria e continuamente procurava “trazer luz” às nossas atividades. Em vez de rituais satânicos, incentivava a pes­ quisa na alquimia e em ciências tais como a cristalografia e sua matemática. Em vez de drogas (um dos oito maiores raios da roda dos bruxos), instruía a respeito de vegetarianismo, saúde e ioga. Em vez de dispor os círculos de magia branca com os quatro deu­ ses pagãos, como fazíamos, ela passou a invocar os vigias do grupo com os nomes dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Fa­ zendo agora uma retrospectiva do passado, na verdade sua tênue oposição tornou-se a cada nível sutilmente visível. Logo depois que isso começou, Sharon passou por uma expe­ riência fora do comum. A reunião do círculo do sabá desenvolviase normalmente. O círculo havia sido feito, os vigias estabelecidos,

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e, como era uma noite de lua cheia, começamos a fazer a invocação para trazer até nós a essência da deusa à grande sacerdotisa: “Fa­ zendo Descer a Lua”. Não era algo raro de acontecer, mas também não era comum Sharon “entrar em transe” e incorporar a deusa, como aconteceu naquela noite. Então, um espírito totalmente novo veio sobre ela, e ela começou a falar numa linguagem desconheci­ da. Tinha assumido o que se chama a “posição de deusa” (uma postura em pentagrama) para a invocação. De repente, caiu de joelhos, chorando e falando sobre o quê, não sabíamos! Estávamos acostumados a esperar que qualquer coisa pudesse acontecer, mas não foi “qualquer coisa” que aconteceu. Ela (a deusa, pelo que cri­ amos) impôs as mãos sobre cada um de nós, abençoando, e em seguida passou a lavar nossos pés com a água consagrada que tí­ nhamos usado para fazer o círculo. Isso perturbou muitos de nossos iniciantes, porque se tratava de algo muito próximo de lembranças que eles procuravam esque­ cer! Mais da metade deles tinha sido criada no catolicismo e teste­ munhado a cerimônia do lava-pés na quinta-feira santa. Algum tempo depois, Sharon começou a falar de sair total­ mente do grupo, tornando-se uma pessoa “normal”: talvez voltan­ do a estudar, arranjando um emprego, fazendo uma reviravolta total em sua vida. Nenhum de nós percebeu que algo muito incomum havia acontecido. Era agora uma mulher diferente. Es­ tava muito confusa, mas, certamente, tinha mudado. Embora as mudanças parecessem ser para melhor, eu nem suspeitava que um novo desafio, vindo do céu, em pouco tempo nos alcançaria. N oI as 1 Numa pesquisa posterior, feita tanto por mórmons, como D. Michael Quinn, que foi professor numa universidade dessa Igreja, como por cris­ tãos ex-mórmons, como Ed Decker, Chuck Sackett e eu, foi constatado que Josepli Smith (18 0 4 -18 4 4 ), o fundador, envolvera-se com o ocultis-


mo desde muito jovem. Ele era uma espécie de mago popular, que pra­ ticava astrologia, adivinhação, sacrifício de animais e necromancia. Os ritos secretos da Igreja Mórmon estão cheios de feitiçaria e simbolismos maçônicos e satânicos. Veja o monumental trabalho de Quinn: Early

M ormonism an d the M agic World View [O Mormonismo em Seu Início e a Cosmovisão Mágica], Signature Books, 1987; assim como: The God Makers [Os Que Fabricam Deus], por Ed Decker e Dave Hunt, Harvest House, 1984; M ormonisms Temple ofD oom [O Templo Mórmon da Per­ dição] e W hited Sepulchers [Sepulcros Caiados], por Jim Spencer e eu, Triple J Books, 19 8 7 ,19 9 0 . Para mais informações a respeito, veja o livro, já citado, M ormonisms

Temple ofD oom [O Templo Mórmon da Perdição]. Esta entrevista com o “apóstolo” mórmon causou uma controvérsia. Veja “ The L úcifer-G od D octrine, Shadow or R eality ’ [A Doutrina de Lúcifer como Deus, Som bra ou Realidade], de Ed Decker e Bill Schnoebelen, disponível em: Saints Alive in Jesus, Box 10 7 6 , Issaquah, WA. 9 8 0 2 7 , U S A Registros oficiais da Igreja Mórmon do final da década de 1980 (pois depois desse ano passaram a não mais divulgar os dados da Igreja) mos­ tram que somente cerca de 25% de toda a membresia vão ao templo, ao menos uma vez! Dos que vão, a metade nunca mais retorna. E a ida ao templo da igreja é tida como a principal experiência espiritual e o dever de um mórmon fiel, sendo considerada absolutamente essencial para a sua salvação. Desses, 13% , apenas a metade, possuem as creden­ ciais para entrar no templo e o freqüentam conforme seus líderes dese­ jam. Isto significa que 93 a 94% dos membros estão condenados. Nunca serão considerados dignos da “vida eterna”, segundo a própria doutri­ na mórmon.


f i e g e n e r A d o s , C HAi r i Ados e C omissionAdos!

Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nom e do Filho de Deus. — João 5.13

IT X eu único problema (além da minha natureza pecaminosa) era que Sharon desde o início não gostou muito do mormonismo, e sua aversão crescia a cada dia. A grande diferença (exterior) entre a Wicca e o mormonismo é que, enquanto a Wicca era militante­ mente feminista e matriarcal, a Igreja dos Santos dos Últimos Dias era, cinicamente, patriarcal. Ignorante das coisas espirituais como eu era, presumi que Sharon não gostasse da Igreja Mórmon por ser discriminatória em relação ao sexo feminino, tratando as mulheres como tolas e dominadas. Tornado cego, pelo meu próprio espírito religioso, não perce­ bi que Sharon divisava além da falsidade do mormonismo e queria para si o verdadeiro cristianismo. Em sua infância, ela tivera um encontro de fé salvadora com o verdadeiro Jesus Cristo. No entan­ to, como fora educada em escolas católicas, as freiras forçaram-na, sob terríveis ameaças, a crer que o catolicismo era o único modo de seguir a Jesus, a Quem ela cultuava e adorava.


Sem discipulado, sem estudos bíblicos, Sharon foi intimidada assim a acreditar que o catolicismo era o verdadeiro caminho para Deus. Então, quando adolescente, começou a ver, por meio das falácias e hipocrisias do Vaticano, que isso não era verdade; não tinha idéia alguma para onde ir. Morava em Dubuque, Iowa, cida­ de 90% católica. Desiludida, foi alcançada pela onda cultural do movimento hippie e do ocultismo. Saiu do catolicismo para a fei­ tiçaria e, depois de alguns anos, me conheceu. Todavia, a grande diferença entre nós era que eu nunca tinha nascido de novo em Cristo, mas ela tinha! Era por isso que podia expulsar demônios de pessoas, quando todos os meus rituais e todas as minhas “santas ordens" católicas falhavam. S a I vo p e l A “Í I l o c i n H A ”!

Depois de ter passado alguns anos como mórmon, Sharon, arrasa­ da, viu-se mais perto ainda do seu relacionamento inicial com Jesus, mas estava ainda a anos-luz de distância. Lendo a Bíblia, embora na versão mórmon, passou a se prover de um conhecimento cada vez maior do verdadeiro cristianismo. Diferentemente de mim, ela havia se desligado quase que inteiramente das obras de feitiçaria, por ver tais práticas como contrárias ao que a Bíblia ensina. Passou a delegar a outros, cada vez mais, suas responsabilidades no ocul­ tismo e a falar sobre acabar com todos os nossos elos com a magia, todas as iniciações e relacionamentos com grupos de feitiçaria, até mesmo sobre nos desligarmos do mormonismo! Falava comigo com muito empenho sobre deixarmos a Igreja, Mórmon, mas eu não lhe dava ouvidos. Estava encantado com o meu chamado especial para o sacerdócio da ordem de Melquisedeque e com o recém-descoberto senso de retidão própria. Sharon percebeu que o único modo pelo qual poderia fazer alguma coisa para me ajudar a me libertar do mormonismo seria forçar-me a perder o meu sistema de apoio. Ela tomou, então, todas as providências para mudar-se de Milwaukee, onde morá­


P o d e S e r T ão F á c í I f l s s i m ?

Nossa mudança deve ter sido o que o Espírito Santo estava plane­ jando no segundo dia após minha chegada a Dubuque. Coloca­ ram um folheto à nossa porta, anunciando um Seminário sobre

C o m i s s i o n A d o s ! e HAlHAdos

C R e g e n e r A d o s .

vamos, voltando para Dubuque, de forma a continuar seus estu­ dos. Convidou-me a tomar a decisão de mudar-me também, indo com ela. O tempo todo, ela estava confiando no Senhor e orava secretamente para que, uma vez longe dos meus companheiros do sacerdócio mórmon, pudesse falar seriamente comigo. Sharon estava “abalando os céus” por minha causa, para que eu percebesse quão distante da verdade o mormonismo realmente se encontrava. Protestei com ela quanto à mudança, dizendo-lhe que eu ti­ nha assumido a responsabilidade de ensinar Novo Testamento no instituto da Igreja Mórmon, mas não teve jeito! Já estava decidida, de modo que eu acabei concordando, embora isso significasse per­ der meu emprego e mudar-me para uma área de Iowa onde pode­ ria não ser fácil achar um trabalho. O que Sharon não sabia é que eu também tinha encontrado algumas contradições dentro do próprio mormonismo, mas temia discutir esse assunto com ela. Sabia que ela já via a Igreja Mórmon com certo descrédito e eu não queria afastá-la ainda mais da Igreja. Em meu ministério nessa Igreja, conheci muita gente que não estava sendo ajudada pelo mormonismo e vi que muitos ainda es­ tavam vivendo uma vida muito aquém do padrão, não cumprindo os 4.000 mandamentos ali preceituados. Além disso, eu fora chamado a ensinar Novo Testamento na instituição de ensino da Igreja,1 mas havia muitas passagens — especialmente em Romanos e Gálatas — que me atormentavam. Todavia, eu não sabia para onde me dirigir. Quando o primeiro semestre letivo do meu contrato terminou, também me mudei para Dubuque.


D e s l r o n A d o

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Profecias, que seria realizado num parque da cidade. Sabia que não era um evento mórmon, mas eu havia dedicado muito tempo estu­ dando o livro de Apocalipse, principalmente por causa do curso de Novo Testamento que teria de ministrar. Achei, também, que pos­ sivelmente teria ali uma oportunidade de ganhar algumas pessoas para a Igreja Mórmon. Afinal, eu pertencia a uma Igreja dirigida por um “profeta vivo”! Depois de assistir às reuniões algumas noites, comecei a sentir estranha excitação no meu coração. O pregador era alguém que citava passagens e mais passagens da Bíblia, e algo me atingiu quan­ do ele falou sobre o sangue de Jesus. Finalmente, abordei o mais jovem dentre os dois pregadores que estavam dando o seminário e procurei convencê-lo da doutrina mórmon. Eu queria convencê-lo de que, para alguém receber o batismo, era necessária uma autori­ dade sacerdotal para ministrá-lo. Essa questão da autoridade, se­ gundo os mórmons, era vital, argumentando eles que os protestantes e toda a sua “laia” ficariam numa terrível situação, que os levaria à morte, por não terem sacerdócio. Finalmente, perguntei-lhe como tinha recebido autoridade para batizar. Com um bondoso sorriso, ele simplesmente me respondeu: — Recebi de Jesus Cristo, como todo cristão a recebe. Então, citou Atos 16.31, dizendo que nem mesmo o batismo era necessário para ser salvo: Crê no Senhor Jesus e serás salvo,

tu e tua casa. (At 16.31)

Esta passagem bíblica penetrou a fortaleza do meu testemu­ nho mórmon como um foguete Exocet, detonando todas as mi­ nhas defesas. Aquilo nao saía da minha cabeça durante todo o tempo em que voltava para casa naquela noite: “E se ele estiver certo?... É tão fá c il assim ? Era um pensamento que me incitava. Senti-me como um condenado que apenas ouve o rumor de que pode vir a ser perdoado. Meu coração não ousava se arriscar. E se aquela palavra nao fosse verdadeira e os mórmons estivessem com a razão? Eu poderia crer naquela palavra, ou teria de descartá-la?


C o m i s s i o n A d o s ! e H A H u d o s

C R e g e n e r A d o s .

Como precisava garantir meu sustento, comecei a procurar emprego. Tive pouco sucesso, de modo que em todo o meu tempo livre voltei a trabalhar com um livro que resolvera escrever para provar a verdade do mormonismo. Essa minha ocupação me fazia esquecer temporariamente do testemunho que eu tinha acabado de receber. A palavra, porém, aninhou-se silenciosamente em meu coração, como uma semente. Concluí vários capítulos do meu livro e dei início a um capí­ tulo sobre os antecedentes pagãos da Igreja Católica. Então, num lampejo, lembrei-me daquelas revistas em quadrinhos cristãs, pois mencionavam a Igreja Católica. Eu as li e observei, com grande interesse, todas as questões que me seriam úteis ao escrever o capí­ tulo sobre o catolicismo. Uma vez mais, porém, senti uma palpita­ ção de esperança ao ler a “versão protestante” do evangelho. Parecia fácil demais! Boa demais para ser verdade! Verifiquei que poderia fazer um pedido de publicações diver­ sas àquela editora, e assim fiz. Quando chegaram os livros, revistas e folhetos que encomendara, os “devorei” com avidez. Constatei, então, que despertavam certas percepções nada agradáveis em meu coração. Aqueles livros apresentavam uma doutrina que eu nunca ouvira antes, exceto com conotação totalm ente depreciativa. O que eu li foi que uma pessoa pode ser salva apenas por confiar em Jesus Cristo, e que sacramentos, templos, rituais ocultistas, sacerdócios, tudo isso é totalmente desnecessário — e até mesmo pernicioso — para você ter a vida eterna. Fiquei meditando sobre isso por um bom tempo, mas tive que parar um pouco com a minha pesquisa. Consegui um trabalho de vendedor de aspiradores de pó, como autônomo. Durante sema­ nas, eu me excedi nesse trabalho, mas não conseguia vender nada, e estava gastando um bom dinheiro com gasolina, indo por toda parte da cidade. Enquanto dirigia, porém, tive bastante tempo para pensar e orar. Passei por zonas rurais, locais de uma natureza fasci­ nante naquele início de verão, e orei pedindo por orientação. Pas­ sei também em frente de pequenas igrejas do interior e, em vez de

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um condescendente escárnio de outrora, olhei atentamente para elas, como se fossem um tesouro raro que, de algum modo, eu tinha necessidade. Secretamente, em meu coração, era aquilo que eu queria. O sonho que eu tinha tido, quando desci a montanha em direção àquela igrejinha que cantava o hino evangélico, estava o tempo todo em minha mente. Li, então, Romanos com muita ansiedade, comparando-o com o que os folhetos e os livros me diziam. Vi como tudo era tão simples. Li e reli várias vezes, e comecei a jejuar e orar para ter certeza de que esta era, de fato, a verdade. Quatro dias depois, decidi tentar uma abordagem diferente. Peguei uma daquelas revistas cristãs em quadrinhos. É que me lem­ brei de que, na última página, havia uma oração específica para receber Jesus como Salvador e Senhor. Dobrei-me e, ajoelhado ao lado de minha cama, fiz aquela oração com todo o meu coração. Inclusive dei uma paradinha e retirei, naquela hora, a vestimenta mórmon que usava por baixo da roupa, para que nao houvesse nenhuma “interferência espiri­ tual” em minha oração. Confessei ao Senhor que eu era de fato um pecador, talvez o principal dos pecadores (veja Romanos 3.23). E com sinceridade renunciei os meus pecados e me arrependi (Lc 13.5), confessando que Jesus Cristo morreu na cruz por meus pecados e ressuscitou dos mortos para que eu pudesse ter vida eterna (Rm 10.9,10). Pedi a Jesus que me salvasse de meus peca­ dos (Rm 10.13) e passasse a ser o Senhor absoluto da minha vida (Rm 12.1,2). Não ouvi nenhum coro celestial cantar naquele momento. Mas senti, de fato, uma tranqüilidade e uma paz extraordinária vindo sobre mim; uma paz que até agora flui de meu interior quando escrevo estas linhas, anos depois! Era uma paz como nunca, mas nunca mesmo, eu tinha experimentado, em mais de 30 anos de vida. Antes eu nem mesmo sabia quão vazio estava, até o momen­ to em que me enchi desta paz.


D e s í r o n A í i d o o DÍAbo

Eu estava ainda pensando sobre que tipo de igreja deveríamos ago­ ra freqüentar, uma vez que os mórmons estavam errados. Sabia que queria uma igreja em que a Bíblia, e apenas a Bíblia, fosse usada como autoridade para estabelecer o que é a verdade. Além disso, meu novo Amigo, o Espírito Santo, incomodava-me com respeito ao enorme volume de livros ocultos, e de toda a parafernália do ocultismo que ainda permaneciam num armário, fechado à cha­ ve, em nosso depósito, no andar de cima. Milagrosamente, o Espírito levou-me (pela primeira vez) a uma livraria evangélica. Meus líderes mórmons sempre me diziam que

h a m ad os e ComissionAdos!

C RegenerAdos.

Senti-me, então, muito melhor, mas ainda tinha algumas dú­ vidas. Decidi que iria “testar” tudo isso. Primeiro, deixei de lado a vestimenta de magia mórmon. Sharon estava ainda na Escola de Enfermagem, de modo que fiquei sozinho com meus pensamen­ tos. Senti que precisava conversar com alguém, mas não me veio à mente o nome de quem quer que fosse que pudesse me compreen­ der, a não ser o nome dela. Naquela noite, conversamos bastante. Sharon estava exultante de alegria pelo fato de eu ter finalmente encontrado o caminho cer­ to. Eu tinha sido salvo pela graça e liberto pelo sangue do Cordeiro. Ao explicar-lhe o que tinha descoberto na Bíblia, nos folhetos e nas revistas, ela sorriu, demonstrando que se sentia muito feliz. Expli­ cou-me, então, que fora desse modo que ela acreditara no princípio, e que sua experiência, naquele tempo, tinha sido igual à minha. Dis­ se-me que vinha em busca dessa fé que ela havia perdido desde que viu a hipocrisia que há na Igreja Católica, tantos anos atrás. Ficamos exultantes ao vermos que nós dois, por caminhos in­ dependentes, tínhamos chegado às mesmas conclusões. Depois disso, passaram ainda alguns meses para nos desembaraçarmos da Igreja Mórmon. Mas havia ainda algumas medidas que precisariam ser tomadas.

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eu nao deveria entrar nessas livrarias, pois estavam cheias de lixo, com materiais renegados e sectários. Assim, fiquei por algum tem­ po do lado de fora e dei uma volta naquele quarteirão, até certificar-me de que ninguém conhecido estava por perto; então, entrei apressadamente na loja. Lá dentro, fui andando por entre as estantes de livros, quando de repente um livro literalmente caiu da prateleira em minhas mãos. Era o livro The B eau tifu l Side ofE vil,2 de Joanna Michaelsen [pu­ blicado no Brasil sob o título A Face A traente do Mal, pela Editora Candeia]. Com um pouco de nervosismo, folheei rapidamente o livro e vi que continha exatamente os ensinamentos de que estava precisando. Ainda com algum receio de que poderia estar sendo visto por um mórmon, fui ao caixa, sentindo-me como se estivesse comprando uma obra pornográfica da pesada. Assim que ele em­ brulhou o livro e eu o paguei, lancei-me para fora da loja como se o diabo estivesse correndo atrás de mim. Quando cheguei a casa, tive ainda algum receio quanto ao que Sharon poderia dizer; assim, disfarcei e procurei esconder minha com­ pra. Mas ela é muito observadora e perguntou o que eu tinha compra­ do para ler. Mostrei-lhe, então, o livro, e ela sorriu e disse: — Ótimo! Quem sabe ele não irá colocar algum juízo em sua cabeça? Aquele livro ajudou-me bastante. Explicou-me que o “Jesus” do ocultismo e do espiritismo é um falso Jesus, assim como o “Jesus” do mormonismo. Também me ensinou que eu deveria orar e renunciar aos meus poderes do ocultismo e que eu teria de quei­ mar todo o meu material de magia que estava escondido. Decidi, entao, telefonar para várias igrejas da cidade, que achei que seriam bíblicas. Disse-lhes: “Sou um ex-satanista e mórmon e tenho um montão de livros do ocultismo. Gostaria que vocês me ajudassem a queimá-los.” Como seria de esperar, muitos deles desligaram o telefone na minha cara. Outros me disseram que o pastor não se encontrava ou que não poderia aten­ der-me naquela hora. Finalmente, consegui encontrar um pastor


R e g e n e r A d o s ,

C HAi n Ado s

e

C o m i s s i o n A d o s !

que realmente cria na Bíblia, num bairro afastado do centro da cidade. Ao me ouvir, ele disse: — Louvado seja o Senhor! Traga-os com você, que vamos quei­ mar tudo! Sentindo-me de repente atemorizado, sem que houvesse razão para isso, enchi todo o porta-malas não só com caixas de livros, mas também punhais, espadas, mantos e incensórios. Dava para eu quase ouvir sedutores sussurros daquelas caixas, dizendo: “Não nos queim e. Você não p o d e viver sem nós?1Engolindo um nó na gar­ ganta do tamanho de uma bola de golfe, fechei rapidamente o porta-malas e me pus a caminho. Enquanto me dirigia para a igreja, pude quase sentir terremo­ tos acontecendo ao meu redor e a estrada abrindo-se para a minha passagem. Parecia que um raio poderia cair sobre o carro a qual­ quer momento. Fiquei encharcado com o suor frio de um terror apavorante quando nem mesmo três quadras tinha percorrido. Não percebi na hora, mas o fato é que estava sob um ataque demonía­ co. Felizmente, o pastor estava em seu gabinete orando por mim! 297 Foi com um alívio tão grande, para o qual não tenho palavras, que finalmente entrei na área de estacionamento da igreja. O pre­ gador veio, então, cumprimentar-me. Surpreendi-me ao ver que ele era um jovem robusto, cheio de entusiasmo, de camisa esporte e barbado. A idéia que eu tinha feito era a de um fanático vestido de terno preto, cabelos grisalhos e austero. O jeito de ele se com­ portar me foi uma agradável surpresa. Ele realmente estava satisfei­ to consigo mesmo. Eu nao sabia que os cristãos tinham permissão para serem daquele jeito... Ele me ajudou a tirar tudo aquilo do porta-malas e, em segui­ da, levou-me para o seu gabinete e me pediu que sentasse. Depois de algumas perguntas para certificar-se de que eu de fato tinha nascido de novo em Cristo, ele começou a responder às minhas perguntas. Finalmente, senti que estava no caminho certo. Eu ha­ via destronado Lúcifer da minha vida e tinha entronizado o Senhor Jesus Cristo em seu lugar!


D e s t r o í i A d o

Depois de um ano freqüentando aquela igreja, circunstâncias nos levaram a nos transferir para outra congregação. Lá, o rebanho era pastoreado por um casal, o pastor e sua esposa, que tinha uma considerável experiência em aconselhamento espiritual. Discerniram corretamente que, embora estivéssemos salvos e a caminho da gló­ ria, havia ainda algumas fortalezas demoníacas em nós por causa de todo o mal que havíamos praticado no ocultismo, e com o qual nos tínhamos deleitado. Louvado seja o Senhor, pois eles investiram tempo conosco, discipulando-nos e ajudando-nos realmente a entender a Bíblia. Além disso, sentaram-se conosco por várias horas, numa noite, em nosso apartamento, e nos ministraram a renunciar ao satanismo, à feitiçaria, ao mormonismo, ao espiritismo, à mediunidade e, até mesmo, ao catolicismo. Expulsaram, em nome de Jesus, espíritos imundos que ainda estavam em nós. Eles realmente nos ajudaram, dando-nos condições para que pudéssemos andar com nossas pró­ prias pernas. Um ano depois de termos sido assim ministrados, o Senhor nos chamou para o ministério, e desde 1986 temos trabalhado para levar o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo aos ocultistas e adeptos das seitas.. Nos últimos anos, o Senhor nos mostrou como é necessário o segundo passo, a libertação da escravidão ainda mantida pelos es­ píritos das trevas nas pessoas que se convertem. É a destronização final de Satanás! Isto é especialmente necessário para aqueles que vêm do ocultismo, da feitiçaria, ou que tenham ascendentes prati­ cantes da magia (Êx 20.5). Cremos que Jesus Cristo nos libertou das incríveis trevas e do mal, de modo que agora podemos testemunhar a quem queira ouvir que Ele pode salvar, de fato, até o pior pecador e libertar sua alma da luta contra toda opressão espiritual.


p o d e r é m a is d o q u e s u f ic ie n t e !

S ua

s a b e d o r ia é perfeita e c o n s o l a d o r a !

S eu

a m o r e n c h e r á até m e s m o o c o r a ç ã o m a is v a z io ! r is t o é o

Senhor!

o a m a d

ConclusÃo

s

e

J e su s C

C o m i s s i o n A d o s !

S eu

R e g e n e r A d o s .

C

h

Oramos para que este livro seja, antes de tudo, um testemunho do poder totalmente suficiente e capaz do amor do Senhor Jesus Cristo para salvar! E evidente, pela nossa narrativa, que estivemos envol­ vidos com os poderes das trevas num grau bastante elevado. Entre­ gamos totalmente a nossa vida ao estudo da “magia negra” por quase 16 anos. Mas, por meio de simples orações, o céu desenredou tudo que o inferno tinha tentado fazer. Se você, leitor, está envolvido com satanismo, feitiçaria, candomblé ou qualquer tipo de ocultismo ou espiritismo, tem um desafio à sua frente. 299 O testemunho da Bíblia contra as práticas de feitiçaria e ma­ gia é definitivo e bem claro: Q uanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abominá­ veis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (Ap 2 1.8 ).

Queira compreender o que estamos dizendo! Estas palavras são de um livro que até hoje ninguém provou estar errado, nem jamais o fará! Se a Bíblia estava certa ao predizer a vinda de Jesus Cristo milhares de anos antes de isso acontecer, e... Se a Bíblia estava certa na previsão do aparecimento de um rei chamado Ciro, que libertaria o povo hebreu do seu cativeiro na Babilônia, ocorrido há mais de cem anos antes do nascimento des­ se rei, então por que erraria quanto ao destino daqueles que prati­ cam feitiçaria e satanismo?


D e s l r o n A d o L ú c i f e r

3ÒÒ

É por isso que Satanás treme cada vez que o Senhor Jesus en­ tra em cena, pois sabe que, independentemente das suas artima­ nhas, o Senhor sairá plenamente bem-sucedido. Satanás não é estúpido. Sabe muito bem qual é o destino que o aguarda! Ele só quer fazer com que você ignore qual é o seu. Se você quiser deixar de lado suas obras de feitiçaria e tornarse servo do verdadeiro Deus, Jesus Cristo, nada mais simples: 1. Confesse a Deus que você é pecador. Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. (Rm 3.23 — n v i ) . 2. A rrependa-se (literalmente, repense) por haver cometido to­ dos os seus pecados — especialmente o pecado da feitiçaria, do ocultismo, do satanismo — e disponha-se a renunciar a eles e rejeitálos, totalmente. (...) mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. (Lc 13.5) 3. Creia de todo o coração que o Senhor Jesus Cristo morreu na cruz, derramou seu sangue para pagar o preço pelos seus peca­ dos e ressuscitou dos mortos para dar-lhe vida eterna. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. (Rm 10.9,10) 4. Peça ao Senhor que o salve de seus pecados. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será sal­ vo. (Rm 10.13) 5. Peça a fesu s Cristo que assuma o controle total da sua vida e seja 0 seu Senhor\


este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa men­ te, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Rm 12 .1,2 )

Como você acabou de ler, se possui livros ocultistas, artefatos, mantos, imagens e outras quinquilharias, deve destruir tudo isso no fogo, tão logo seja possível. (Veja Atos 19.19.) Não apenas os jogue fora, pois outras pessoas poderão encontrar esses objetos e serem enganadas por eles. Se você não tiver como queimá-los, peça a um pastor da sua localidade que o ajude. Como você viu nesta narrativa, precisa ser persistente, telefonando para diversas igrejas. Se você seguiu estes cinco passos, tão simples, para receber Cristo, é agora um nascido de novo, em Cristo, um fdho de Deus, tendo a certeza de que Satanás não poderá nunca mais arrebatá-lo das mãos de Jesus! Você está nas mãos de Alguém infinitamente mais poderoso do que o diabo! Para crescer como cristão, é importante ler a Bíblia Sagrada e orar. Orar é apenas falar com Deus. É também vital que você en­ contre uma igreja em que Jesus Cristo seja exaltado como Senhor e Deus. Como mencionamos anteriormente, nem todas as igrejas que se declaram cristãs são verdadeiramente cristãs. Portanto, pro­ cure encontrar uma igreja que se enquadre nos seguintes pontos: 1. Creia em um só Deus, eterno e triúno — o Pai, o Filho e o Espírito Santo — três distintas Pessoas em um só Deus. (Veja 1 João 5.13; Mateus 28.19; Deuteronômio 6.4). 2. Creia que Jesus Cristo é Deus Todo-Poderoso, verdadei­ ro Deus e verdadeiro homem, que morreu na cruz para nos sal­ var dos nossos pecados e ressuscitou literalmente dos mortos, no terceiro dia. (Veja 1 Timóteo 3.16; Romanos 10.9-13; 1 Coríntios 15.1-5.)

e ComissionAdos!

Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com

C HAi nAdos

senteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a

egenerAdos,

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apre­

3Ó:|


3. Creia que a salvação não é alcançada por qualquer coisa que possamos fazer, mas, sim — e apenas — , por pedir a Jesus que aplique em nós o que já fez na cruz. Para ser verdadeiramente cren­ te, uma nova criatura em Cristo, não são necessárias “boas obras”, nem “ser simplesmente membro de uma igreja”, nem mesmo o batismo. (Veja Efésios 2.8,9; Gálatas 2.16; 3.10.) 4. Creia que a Bíblia Sagrada nos foi dada pela inspiração de Deus, e portanto ela não é maculada, mas inteiramente perfeita e singularmente sem erros. E que ela deve ser o único padrão pelo qual a conduta, a doutrina e os princípios da igreja sejam aferidos. (Veja 2 Timóteo 3.16,17; Mateus 5.18; 24.35; Lucas 9.26; João 6.63.) Estes são os pontos fundamentais da fé cristã que “não são ne­ gociáveis”, e que toda igreja cristã firmada na Bíblia tem de aceitar. Agora, para todos os crentes, salvos pelo sangue do Cordeiro, que tiveram uma origem de práticas pecaminosas no ocultismo, na feitiçaria, no candomblé ou na umbanda, no espiritismo, esoterismo ou satanismo, o que se segue é especialmente para vocês. Muitos, mas não todos, os crentes egressos do ocultismo têm problemas que os impedem de ter um caminhar pleno e vitorioso com Jesus Cristo. Talvez você tenha problemas em ler a Bíblia ou orar regularmente. Talvez haja certos pecados que ainda estejam sendo constantemente praticados, e que você tenha dificuldade em vencê-los. Ou, quem sabe, há enfermidades ou depressões em sua vida? Descobrimos, orando por centenas de pessoas — todos cris­ tãos — , que, se você teve ancestrais que participaram de seitas ou do ocultismo, ou se você mesmo praticou tais coisas, romper com elas, formalmente, perante o Senhor para ser totalmente liberto de envolvimentos carnais. Isto não significa que você não seja salvo e que não esteja a caminho do céu. E claro que você é salvo! Apenas significa que Satanás está procurando atingi-lo na carne. Se você achar que esta parte do livro está falando com você —


Mediante o sangue de Jesus, sou santificado, tornado santo, separado para Deus, pois sou membro de uma raça eleita, de um sacerdócio real, de uma nação santa, de um povo de pro­ priedade exclusiva de Deus. Que eu proclame as tuas virtudes, Senhor Deus, pois tu me chamaste das trevas para a tua mara­ vilhosa luz! (1 Pe 2.9). Meu corpo é templo do Espírito Santo, remido e purificado pelo sangue de Jesus. Eu pertenço ao Senhor Jesus Cristo — corpo, alma e espí­ rito. Seu sangue me protege de todo mal. Em nome de Je­ sus, repreendo agora todos os mentirosos e enganadores espíritos de... (mencione, conforme o seu caso: ocultismo, astrologia, Nova Era, cartas de tarô, artes marciais, adivinha­ ção, quiromancia, trabalhos de magia, operações espirituais, espiritismo de mesa ou de terreiro, esoterismo, maçonaria, seitas heréticas, incorporação, mediunidade, feitiçaria, satanismo...) ...os quais podem achar que ainda têm algum direito sobre mim ou minha família. Em nome de Jesus, renuncio a esses espíritos de Satanás e declaro que não têm mais poder algum sobre mim, pois fui comprado e pago pelo sangue de Jesus derramado no Calvário.

e ComissionAdos! HAi nAdos

C

Em nome do Senhor Jesus Cristo, e com a autoridade que me foi dada por crer nele, declaro que sou remido das mãos do diabo. Mediante o sangue de Jesus, todos os meus pecados estão perdoados. O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, está me purificando agora de todo pecado. Mediante esse san­ gue, sou justificado, como se nunca tivesse pecado.

RegenerAdos.

especialmente se tem uma origem no ocultismo ou na feitiçaria — , o que precisa fazer é dobrar os joelhos diante de nosso Pai e fazer esta simples oração:


você foi feiticeiro, bruxo, pai-de-santo ou satanista, ore ainda

“Renuncio a todos e quaisquer juramentos (se houve) feitos por mim ou em meu favor no altar de Satanás — conhecidos ou desconhecidos por mim —, no santo nome de Jesus e pelo poder do seu sangue derramado. Peço ao Senhor Jesus Cristo que quebre todos os pactos, contratos, dedicações, encargos, trabalhos e consagrações que tenham sido feitos por mim ou para mim, por outros, nos altares do satanismo e da feitiçaria — conhecidos ou desconhecidos — e que use de todo o poder da Cruz, da Ressurreição, da Ascensão, da Glorificação e da Segunda Vinda para destruir o poder de tais coisas sobre mim. Renuncio também a todo pecado e às amarras das gerações ante­ riores que ainda estejam me oprimindo por causa de juramentos feitos por meus pais e ancestrais, e peço que o Senhor Jesus Cristo purifique minha linhagem familiar com o seu sangue derramado. Cravo todas essas coisas na cruz de Cristo. Por causa do sangue de Jesus, Satanás não tem mais poder sobre mim, nem sobre minha família, e nao tem mais lugar em nós. Renuncio inteiramente a Satanás e a suas hostes e declaro que eles são meus inimigos. Em nome de Jesus, exerço a autoridade que me foi dada, expulso todos os espíritos ma­ lignos, e resisto a todos os inimigos de Jesus Cristo que este­ jam operando contra mim (e contra meus filhos). Eu corto toda relação com vocês, espíritos de Satanás, e quebro todo poder que vocês têm sobre a minha vida. Pelo poder do nome de Jesus Cristo de Nazaré, retiro o direito de afligirem a mim e a meus filhos e proclamo o juízo de Deus sobre vocês. Com a autoridade de Cristo, amarro agora todos


(...) esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristojesus. (Fp 3.13,14)

Nol

C o m i s s i o n A d o s ! e H A m A d o s

C

Também peço a ti, ó Pai, que feches todas as brechas pelas quais os demônios tiveram acesso a mim, por quaisquer pecados, de todos os modos, e peço-te que seles estas brechas para sempre com o sangue do Cordeiro, derramado na cruz do Calvário. Agradeço-te por fazeres isto, no poderoso nome de Jesus.

g e n e r A d o s .

os espíritos malignos presentes, num laço só, e ordeno que vocês vão para o lugar que Jesus Cristo os enviar, pela voz do Espírito Santo. Ordeno que todos vocês saiam de mim agora, de acor­ do com a Palavra de Deus e em nome de Jesus.

AS

305

1 O Instituto de Religião Mórmon é um programa educacional religioso para adultos mantido pela Igreja. Eu fora contratado para lecionar dois semestres de Novo Testamento em Milwaukee.


O Ca l e n d Á r i o SaIãíiíco

_GLs principais festas (chamadas sabás), comuns à Wicca e ao sata­

nismo, são as que se seguem. Nos grupos satânicos, as festas que envolvem pelo menos sacrifícios de animais são identificadas com o símbolo (t). As que envolvem sacrifício humano e que são parti­ cularmente perigosas são identificadas com o símbolo ($ í). O sím­ bolo ( t t t ) indica a necessidade de se ter extremo cuidado: 1. Imbolc (ou da Candelária):

Em 2 de fevereiro ($). Nos grupos satanistas, geralmente é requerido um sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, entre 7 e 17 anos) e sacrifício de animal. 2. Equinócio do Outono (no hemisfério norte, da Primavera): Em 21 de março. Nos grupos satanistas, geralmente são requeridas orgias. 3. Beltano (ou W alpurgisnacht): Em Ia de maio ($$). Os grupos satanistas exigem sacrifício humano (do sexo feminino, entre 1 e 25 anos).


4. Do Inverno (no hemisfério norte, do Verão): Em 22 de junho. Geralmente são requeridas orgias. 5. Lammas:

Entre 29 de julho e l 2 de agosto (t). Os grupos satanistas geralmente exigem sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, en­ tre 7 e 17 anos) e sacrifício de animal. 6. Equinócio da Primavera (no hemisfério norte, do Outono): Em 22 de setembro (?t). Nos grupos satanistas, requerem um sacrifício humano (homem, sexualmente maduro) e orgias. 7. Samhain (Véspera do Dia de Todos os Santos): Em 31 de outubro ( í t t ) . Os grupos satanistas requerem sa­ crifício humano (qualquer pessoa) e um sacrifício sexual para os demônios. 8. Yule (Época do Natal — Solstício):

Em 23 de dezembro ( t t t ) . Os grupos satanistas requerem um sacrifício humano (homem ou mulher, preferivelmente um cristão ou fdho de um cristão). Também há orgias. Adicionalmente, tanto para os grupos satanistas como para os de feiticeiros, há as festas lunares, que são em número de 26 por ano. São os “esbás”, celebrados nos dias de lua nova e lua cheia. Geralmente é feita magia negra (isto é, para o mal) em datas próxi­ mas ou no dia da lua nova, e magia branca (curas, feitiços para finanças, empregos, fertilidade) em data próxima ou no dia da lua cheia. P esíA S

S a í Ai i Í cas 6 s p e c Í A Í s - p A r l e í :

Sao as seguintes as festas crowleyanas (thelêmicas) e as que se rela­ cionam com o culto a Set:


1. Equinócio dos Deuses:

Entre 8 e 10 de abril. Aniversário do lançamento do Liber Al. Às vezes celebrado com drogas e orgias. 2. Festa de Sothis (A estrela Sirius em seu apogeu): Em 23 de julho. Alguns grupos celebram com sacrifício de animal (cão), mas isso é raro. 3. Festa do Profeta e Sua Noiva:

Em 12 de agosto. No dia do aniversário de casamento de Crowley com Rose Kelly. Celebrado com magia sexual. 4. Festa de Tahuti:

Em 7 de setembro. Veja também a festa da Besta, abaixo. Ce­ lebrada com magia sexual de natureza homossexual. 5. “Crowleyana”:

12 de outubro. Festa do aniversário de Crowley. Forma de celebração não estabelecida. F e s í A s S a Iâ i i í c a s 6 s p e c Í A Í s - p A r t e 2 : Festas satânicas diversas. São celebradas por alguns grupos, não todos. 1. Dia de Nascimento do Próprio Satanista 2. Principais Festas do Catolicismo Romano

Em especial, Páscoa (festa de Ishtar), Sexta-Feira Santa, Natal (festa do Sol Invicto) e noite de São João ($$$)> normalmente re­ querendo um sacrifício humano (de qualquer sexo), de preferência um ministro cristão, ou cristão ex-satanista ou um fdho de cristão. Também há orgias.


3. O dia 13 e o dia 31 (quando ocorrer) do mês: Também em toda sexta-feira 13. E feita magia, mas não ne­ cessariamente perigosa fisicamente. 4. Dia de São Winebald:

Entre 1 e 7 de janeiro (t±). Os grupos requerem sacrifício animal ou humano (do sexo masculino, tendo entre 15 e 33 anos). O sacrifício é no dia 7. 5. Festim Satânico:

Em 17 de janeiro ($$)• Requer um sacrifício (do sexo femini­ no, entre 7 e 17 anos). 6. São Eischstadt:

Em Ia de março ($). Um animal (geralmente um cachorro) é esquartejado e sacrificado. Sua carne é consumida como sacramento. 7. Grande Clímax:

Preparação entre 19 e 26 de abril, festa entre 26 e 30 ($$$). Sacrifícios humano e sexual são requeridos (do sexo feminino, cris­ tã, entre 1 e 25 anos). 8. Festim Demoníaco:

Em l 2 de julho. Sacrifícios humano e sexual (moça, entre 7 e 17 anos). Também magia sexual com espíritos demoníacos. 9. Festa da Besta:

Em 7 de setembro, mas apenas a cada 27 anos. O último foi em 1982; o próximo será em 2009 ( t t ) .1 Sacrifícios humano e sexual e desmembramento (moça com menos de 21 anos, devendo ser virgem). 10. O Hospedeiro da Meia-Noite E m 2 0 de setem b ro ( t $ ) . S acrifício h u m an o e am putação (m oça, com m enos de 2 1 anos). As m ãos sao cortadas com a pes­ soa ain d a v iv a e enterradas ritu alm en te.


11. Festim Satânico:

Lawrence Pazdur, M .D., Congdon & Lattés, 19 8 0 (edição de livro de bolso), p. 266. Embora este livro contenha erros, não tendo uma pers­ pectiva bíblica adequada (os “rapazes” são todos clérigos e leigos católicos), é um livro histórico, o primeiro publicado narrando a história do sobrevivente de um ARS.

êndice

1 Véja M ichelle Remembers [Memórias de Michelle] — Michelle Smith &

I

-

N oIa

C A le n d A r io

Em 24 de dezembro ($M ). E requerido sacrifício humano (qualquer sexo, qualquer idade, desde que seja cristão).

O

12. Grande e Alto Clímax:

SAtAnico

Em 4 de novembro ($). E requerido sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, entre 7 e 17 anos).

^


I n d í c i o s de um Possível Rbu s o

Eis, a seguir, a maioria dos sintomas de sobreviventes do ARS (Abuso Ritual Satânico), tao pouco conhecidos e muitas vezes ignorados, ou­ tros sintomas relativamente bem conhecidos da comunidade média. Obviamente, apenas um ou dois dos sintomas não são sufici­ entes para despertar uma suspeita, mas, se ocorrerem vários deles, convém investigar. (Podem tornar-se mais fortes durante os prin­ cipais períodos de rituais.) 1. Sintomas Fisiológicos (no Corpo)

1) Forte sensibilidade à luz. 2) Anomalias na química sanguínea (mudanças no tipo sanguí­ neo). Isto é supostamente impossível, mas acontece. 3) Epilepsia do lado direito. P ode (e não necessariamente é!) ser indicativa de uma séria opressão demoníaca. 4) Estranhos tiques nas mãos e nos dedos (sinalizações incons­ cientes de maldições). 5) Peso excessivo ou anormalidades na alimentação. 6) Estranhos comportamentos compulsivos: desejo de tomar san­ gue; masturbação compulsiva, etc.


7) Dores de cabeça de origem desconhecida. 8) Enfermidades musculares ou genitais. 2. Sinais a Observar na Anatomia

1) Cicatrizes incomuns, exóticas ou inexplicáveis: • Cicatrizes muito finas no osso chamado esterno. • Cicatriz no períneo (de pessoa do sexo masculino). • Cicatrizes no abdome, muitas vezes com formas do ocultismo. • Cicatrizes no pulso ou antebraço esquerdo. • Grandes lábios cirurgicamente perfurados, em pes­ soa do sexo feminino. • Cicatrizes no interior das coxas, especialmente em pessoas do sexo masculino. • Cortes e puncturas no pescoço, especialmente na re­ gião da artéria carótida. • Sangue ou trauma em partes íntimas, perda da vir­ gindade em moça, irritabilidade fora do comum em rapaz. • Exame físico pediátrico revelando esfíncter anal muito relaxado ou cicatrizes no local (em rapaz ou moça). 2) Perda de partes do corpo, em especial, partes de dedos. • Falta de mamilos ou existência de mamilos a mais. • Num rapaz, perda da primeira falange do polegar e do indicador. • Numa moça, perda do dedo anelar da mão esquerda. • Falta do dedo mínimo, na mão esquerda (ambos os sexos). 3) Pequenas e obscuras tatuagens em lugares fora do comum. • Na parte superior da cabeça. • Na palma da mão. • No plexo solar ou no osso esterno.


• Na região pubiana. • Acima do cóccix. 3. Sinais de Comportamento em Crianças entre 4 e 9 anos.

1) Com respeito à sexualidade: • Fala sobre sexo ou faz uso de palavras não apropria­ das à idade; entendimento da atividade ou da anato­ mia sexual (por meio de desenhos, etc.). • Toca os outros sexualmente; age de modo provocativo ou sedutor. • Medo de alguém segurar ou lavar suas partes íntimas. • Uso de palavras para as partes do corpo normalmen­ te não usadas no âmbito familiar. • Medo de se despir na hora do banho ou de ir para a cama. • Masturbação compulsiva, até mesmo em público. • A menina dizer que está casada, noiva, ou esperando um bebê. 2) Comportamento no banheiro: • Queixa-se de que está queimando ou que sente dor em partes íntimas quando está tomando banho. • Diz aos pais que alguém o(a) despiu ou se mostrou nu para ele ou ela. • Diz aos pais que alguém passou a mão em suas partes íntimas. • Descreve com precisão atos sexuais com outras pes­ soas, ou entre outros adultos, outras crianças, entre animais. • Tem medo do banheiro e não quer usar o vaso. Re­ cusa-se a tomar banho na frente do pai ou da mãe. • Preocupação em ter o corpo superlimpo. Troca as peças íntimas desnecessariamente.


• Medo fora do comum de se afogar no banho de ba­ nheira, aceitando só o chuveiro. • Recusa práticas usuais: não quer ir ao banheiro, não quer enxugar-se, não quer sair de casa, não quer ir para a sala. • Fala de comer excrementos humanos ou faz isso. 3) Problemas no consultório médico ou odontológico: • Tem medo anormal de médicos ou enfermeiras. • Fala de médicos “maus” mexendo com ele (ou ela), dando-lhe más “injeções”, etc. • Fala de dentistas “maus” passando o motor ou fazen­ do o seu dente doer, sem anestesia. • Temores fora do normal quanto a se despir diante do médico, ou temores de que vai ter que desfilar em frente de pessoas nuas. • Comportamentos sexualmente provocantes com o médico ou com a enfermeira durante o exame, ou demonstra estar na expectativa de ter um contato sexual com eles. • Fala de “maus” médicos (cirurgiões) terem feito aber­ turas no seu corpo e colocando coisas (bombas, bi­ chos, aranhas, agulhas ou pinos, etc.) em seu interior. 4) Problemas emocionais e mentais: • Hiperativo ou violento. • Emoções instáveis ou, estranhamente, sem m ani­ festação. • Dislexia ou outras perturbações na aprendizagem, es­ pecialmente lendo letras ou palavras de trás para a frente. • Demonstra um comportamento excessivamente an­ sioso (ralhando dentes, roendo unhas, tremedeiras, choro incontrolado).


• Rebeldia. • Temeroso, pegajoso (nao larga da mãe ou do pai); se faz de bebê, tendo um comportamento anormal para a sua idade. • Terrores noturnos, suores, pesadelos freqüentes ou horríveis. • Tem um comportamento agressivo para consigo mes­ mo (bate a cabeça contra a parede, fere-se a si mes­ mo; propenso a sofrer acidentes, etc.) • Acha que é uma pessoa má, maligna, estúpida e que merece ser punida sempre. 5) Problemas na alimentação da criança: • Fala de comer ou beber sangue, partes de animais, partes do corpo humano ou excrementos. • Problemas ao se alimentar: vômitos, bebe demais, etc. • Recusa-se a comer certos alimentos, especialmente carnes malpassadas e sangrentas. • Recusa-se a comer ou beber certos alimentos colori­ dos (vermelho [sangue] ou marrom ou amarelo). • Obsessão com a idéia de que a comida está ou enve­ nenada ou com drogas. Age como se os pais quises­ sem envenená-lo (a) ou drogá-lo(a). 6) Problemas na associação de cores: • Expressa desgosto por certas cores, especialmente pelo preto, vermelho e verde. • Quer vestir-se de preto, sem uma razão plausível. • Diz ter estado em salas pintadas totalmente de verme­ lho, ou preto, ou verde, ou uma outra cor estranha, quando tais salas não são do conhecimento dos pais. • Diz ter “visto” cores ou luzes coloridas flutuando em torno das pessoas.


• Fala de um uso litúrgico do preto, do vermelho ou do verde quando em sua igreja não são usadas essas cores e rituais.

L ii c i f e r

D e s l r o n A d o

7) P ersonalidade m ú ltip la ou desordem de disfunção desassociativa: • Momentos em que dá “um branco” na memória. • P roced im entos sexuais com pu lsivos, em especial a m asturbação.

• Pouca ou nenhuma lembrança da infância. • C o m p o rta m e n to s de a u to m u tila ç ã o ; p e n sa m en to s de su ic íd io .

• Medo extremado de autoridades (policiais, clérigos, médicos, etc.). • Fortes pesadelos, insônia.

• Narcolepsia: sono fora de hora ou incontrolável. • Alterações repentinas no comportamento ou no hu­ mor, muitas vezes diagnosticado como bipolar, mas que pode ser causado por “gatilhos”.


61e foi

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d e fro n tA r

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S a Ia u á s.

William Schnoebelen foi um sacerdote satanista e conheceu de perto o que está por trás do ocultismo. Porém, a sua maior experiência foi ser transformado, profundamente, pelo poder de Cristo Jesus.

Lúcifer Destronado revela os segredos do mais profundo satanismo. Você vai entender a grande rede de ligações entre as sociedades secretas, a mídia, o poder político-econômico e as seitas envolvidas com o satanismo. Ç .s t e l i v r o I r A z r e v e t a ç ó e s fo r te s , d if e r e n t e d e iu d o o ( j u e \o < ‘ ê j í l e u . 6 1 e é provA

< ju e n i n g u é m

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e stl

l o n g e o li \ s t , \ n l e . c ju e n l o possA

s e r A lc A n ç A d o p e t a íjrA Ç A d e D e u .» .

Nestas páginas você conhecerá o relato de um "sobrevivente" do engano das trevas e a verdadeira história de um financiador do movimento satanista na Terra. Um homem cego pela escuridão, possuidor de poder e riqueza, cuja vida era encharcada pelo sangue dos rituais macabros, pôde abrir os braços, se ajoelhar, pedir perdão e se reconciliar com o Pai.

Sobre os Autores Em resposta à crescente necessidade de um trabalho de oração e aconselhamento com pessoas envolvidas com o satanismo, ocultismo e outras seitas, oriundas deles, William e Sharon Schnoebelen fundaram o With One A ccord Ministries, em 1992. Um ministério dedicado a treinar os cristãos na evangelização de adeptos das mais diversas seitas, os ensinando a defenderem a Bíblia como a perfeita autoridade em todas as questões de fé e prática cristã. Como ex-praticantes do ocultismo, Bill e Sharon têm autoridade para aconselhar os seguidores do mundo das trevas. Junto com a equipe de oração têm atendido centenas de pessoas todos os dias, levando mensagens de fé e trazendo a esperança na transformação de tantas vidas que pareciam perdidas. William Schnoebelen também é autor do livro M açonaria do Outro Lado da Luz publicado pela Editora Luz e Vida.


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