Informativo da Província - março, abril e maio 2020

Órgão da Província Redentorista de São Paulo • Edição N. 268 • Março, Abril e Maio de 2020

São Clemente Maria Hofbauer:

Entrevista com o Superior-Geral, p. 13 Um Redentorista à frente de seu tempo, p. 15 Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 1

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Sumário

3 4

Palavra do Provincial O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO A Congregação do Santíssimo Redentor e sua nova reconfiguração

8

CRÔNICA Ponto de Oração

10

HISTÓRIA REDENTORISTA A vida de São Clemente Maria Hofbauer Curiosidades

13

ESPIRITUALIDADE REDENTORISTA Entrevista com o Superior-Geral

15

REFLEXÃO

17

PARTILHA MISSIONÁRIA

Um Redentorista à frente de seu tempo No Espírito do Redentor

22

A missão no Suriname SUA HISTÓRIA, NOSSA HISTÓRIA Ir. Cláudio Aparecido Teixeira, C.Ss.R.

26

ESPAÇO DIÁLOGO Repensar o sofrimento

30

CONHECER E DAR-SE A CONHECER Raio-X das Províncias: São Paulo, Rio e Bahia

Capa Órgão da Província Redentorista de São Paulo • Edição N. 268 • Março, Abril e Maio de 2020

São Clemente Maria Hofbauer:

Entrevista com o Superior-Geral, p. 13 Um Redentorista à frente de seu tempo, p. 15

EXPEDIENTE INFORMATIVO DA PROVÍNCIA Março, Abril e Maio 2020 Superior Provincial Pe. Marlos Aurélio da Silva, C.Ss.R. Editores Thamara Gomes e Fr. Jonas de Pádua, C.Ss.R. Conselho Editorial Pe. Alberto Pasquoto, C.Ss.R., e Pe. Flávio Cavalca de Castro, C.Ss.R. Copidesque Luana Galvão Revisão Sofia Machado Design e Diagramação Henrique Baltazar Email: comunica2300@gmail.com Tiragem: 800 exemplares Errata: Edição n. 267.

O Superior Vice-Provincial de Manaus é o Pe. José Amarildo Luciano da Silva, C.Ss.R. (p. 28)

São Clemente Maria Hofbauer 4 • Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020

PALAVRA DO PROVINCIAL

N

ovamente, chegamos até você por meio deste primeiro número de nossa Revista neste novo ano. É sempre uma grande alegria poder informar sobre a vida e a missão redentorista! Nossa família é grande e realiza muito, por isso se faz necessário que intensifiquemos nossa comunicação, que sempre gera comunhão entre nós no bonito ideal de anunciar que “junto de Jesus Cristo a Redenção é Copiosa”!

Neste ano, nossa família redentorista celebra os duzentos anos da morte de São Clemente Maria Hofbauer, que faleceu em 1820, em Viena, na Áustria. De modo que será um ano clementino para todo o orbe redentorista. Sabemos o quanto esse confrade santo é valioso para nossa vida missionária. Graças a sua coragem e determinação, a Congregação Redentorista pôde se expandir e estar presente em tantos lugares! Por isso é sempre oportuno conhecer mais sobre ele e sua trajetória de vida. Sem dúvida alguma, São Clemente é uma das estrelas mais reluzentes da constelação redentorista, que forma e alimenta nossa espiritualidade missionária. E como é bonito perceber a continuidade e vitalidade de seu exemplo em outros missionários que também se doam e se entregam por causa do anúncio do Evangelho. Por essa razão, tanto nas palavras do Pe. Michael Brehl (superior-geral), como no testemunho do Pe. Ricardo de Carvalho, sentimos o eco desse espírito clementino.

Ademais, um aspecto que chama nossa atenção é o quanto São Clemente permanece atual para nossos dias.

Foto: Thiago Leon

Caro(a) amigo(a),

Pe. Marlos Aurélio da Silva, C.Ss.R. Superior Provincial

Nossa Congregação está vivendo o processo da Reestruturação e Reconfiguração em vista da Missão. E para alcançar êxito nesse projeto temos muito que aprender e nos inspirar em São Clemente, pois ele foi criativo, ousado e persistente em seu tempo. Acima de tudo ele acreditou que podia anunciar o Evangelho de modo novo! Ele entendeu bem que as estruturas são sempre meios, jamais fim!

Portanto, gostaríamos de que você se deleitasse nessas páginas que preparamos com tanto carinho!

Neste ano, teremos ainda muitas outras comemorações que nossa Revista colocará a lume. São datas, fatos e lugares que revelam muito de nossa alma missionária!

Acompanhe e participe conosco dessa história que continua a ser escrita! Boa leitura!

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O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO

“Isto envolve converter mentalidades e corações, buscar novos métodos para evangelizar e estruturas renovadas”.

A CONGREGAÇÃO DO SANTÍSSIMO REDENTOR E SUA NOVA RECONFIGURAÇÃO

P

ara responder aos sinais dos tempos e a seu carisma, a Congregação do Santíssimo Redentor, desde o XXI Capítulo Geral em Itaici, Brasil (1991), ao XXV em Pattaya, Tailândia (2016), está vivenciando um processo de reestruturação em vista da missão. Isso envolve converter mentalidades e corações, buscar novos métodos para evangelizar e estruturas renovadas. Ao longo desses 28 anos, cada Capítulo Geral acentuou algum aspecto desse processo: a espiritualidade, a conversão, a missão e o mundo ferido. Postos esses pilares, o XXV Capítulo Geral tomou decisões muito precisas e práticas, incumbindo ao Governo-Geral colocá-las em movimento em toda a Congregação, que, em 2016, contava com 75 Unidades, distribuídas nas cinco Conferências: Europa, América do Norte, América Latina e Caribe, Ásia-Oceania e África-Madagascar.

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Para colocar em prática tais resoluções o Governo-Geral elaborou um Plano Estratégico (objetivos, métodos, estratégias, programas, cronogramas etc), convocou Assembleias Extraordinárias por áreas, possibilitando a interação entre diferentes Unidades. Este movimento contribuiu com o trabalho dos membros do Conselho Geral e das Comissões para o Plano Apostólico e de Reconfiguração (CARP), juntamente com os Coordenadores das Conferências, Superiores Maiores, várias Comissões e possibilitou a participação e contribuição dos confrades nas diferentes Unidades, tantas outras atividades em vistas desse processo e as decisões das Assembleias das Conferências. De julho a novembro de 2019, as cinco Conferências realizaram as reuniões de metade do sexênio e as Assembleias. Foram aprovados, então, os Planos Apostólicos, que tinham por finalidade definir as prioridades missionárias (destinatários preferenciais de nossa missão: os mais abandonados e os pobres), apostólicas (nosso

trabalho missionário e ocupações ou ministérios em que nos envolvemos – o que fazemos de forma a servir a quem somos enviados) e as fundamentais (aquelas essenciais para sustentar e levar adiante a Missão) e os Planos de Reconfiguração, tendo como fundamento as decisões do XXV Capítulo Geral, a Communicanda 1/2017, as orientações do Governo-Geral e das Assembleias de 2018 e o trabalho das CARP.

O resultado desse longo trabalho foi a redução de 75 Unidades para 36, com possibilidade de mais algumas reduções futuras. Tomando por base as 5 Conferências, atualmente temos as seguintes Províncias:

EUROPA (9100) A Europa, com suas três zonas territoriais e contextos históricos, linguístico-culturais e religiosos, optou por união, federação em vista da união e associação para cooperação. As 18 Unidades foram reduzidas para 6.

1. Europa Sul. As Províncias de Roma, Nápoles, Lisboa e França se uniram em uma única constituindo uma nova Província.

2. Europa Norte. Uma federação entre as Províncias de Londres, Dublin, São Clemente e VienaMônaco, com o objetivo de formar uma nova Província a partir de um calendário estabelecido com o GovernoGeral.

3. Europa Leste. Uma associação para a cooperação entre as Províncias de Varsóvia, Lviv, Bratislava-Praga e Vice-Província de Michalovce.

A secularização, o envelhecimento da população, a falta de vocações e a morte de confrades têm enfraquecido muitas unidades europeias.

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Todo este processo requer abertura de espírito e ao Espírito, conversão, diálogo e muito trabalho em vista da missão”.

AMÉRICA DO NORTE (9200) As 8 Unidades converteram-se em 3 Províncias: Canadá, Baltimore e Denver e uma Vice-Província: Extra-Patriam.

As três Províncias de Edmonton-Toronto, Saint-Anne de Beauprè e Yorkton formaram uma única Província de Canadá com 3 regiões. A região do Haiti, antes pertencente a Saint-Anne de Beauprè, foi incorporada à Província de San Juan; à Província de Baltimore foi incorporada a Vice-Província de Richmond e reincorporou-se também a região do Caribe de língua inglesa. A Província de Denver está em diálogo

com México que passará a pertencer à Conferência da América do Norte; a Vice-Província de Extra-Patriam continua dependendo do Governo-Geral. Baltimore, Denver e Extra-Patriam criaram comissões para discutirem as futuras colaborações e os modos de reconfiguração. A Conferência da América do Norte experimenta a redução de confrades por causa da falta de vocações.

AMÉRICA LATINA E CARIBE (9300) A América Latina optou por unir Províncias (P.) e Vice-Províncias (VP.). Das 23 antigas (Vice) Províncias e 3 missões interprovinciais, passaram-se a 7 novas Províncias e 3 missões. São: 1. P. Paraguai, P. Buenos Aires, VP. Resistencia e P. Chile e missão do Uruguai; 2. P. Campo Grande, P. Porto Alegre e VP. Manaus e Belém; 3. P. São Paulo, P. Rio de Janeiro e VP. Bahia e missão do Suriname; 4. P. Goiás, VP. Recife e VP. Fortaleza;

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Norte;

5. P. Bogotá, P. Quito e VP. Caracas; 6. P. Bolívia, VP. Peru Sul e VP. Peru

7. P. América Central, P. San Juan, Haiti e missão de Cuba. É importante destacar que a Conferência da América Latina e Caribe colaborou muito, a partir de suas decisões, com as demais Conferências.

ÁSIA-OCEANIA (9400) O contexto asiático é marcado por uma série de contextos culturais, religiosos e linguísticos, rivalidades históricas, problemáticas sociais e Unidades frágeis devido ao envelhecimento dos confrades. Em algumas Unidades como Vietnã e Indonésia, observa-se o crescimento do número de confrades. Para dar passos, considerando os fatores acima, a Conferência optou por desenvolver esse processo preliminar, acompanhado pelo Governo-Geral.

1. Estruturas Formais para a missão: a) Tailândia e Coreia. b) Indonésia e Japão. c) Em direção, associação entre Índia e Sri Lanka (Bangalore, Liguori e Majela).

2. Colaboração para a missão: a) Vietnã, Indonésia, Oceania, Colombo e China.

b) Cebu, Manila, Malásia e Cingapura, Tailândia (Santuários e ministério com migrantes).

3. Colaboração contínua para projetos específicos: a) Vietnã e Tailândia (Laos, Camboja a Mianmar: missão e ministério com os migrantes). b) Coreia, Tailândia, Cebu, Japão e Indonésia (ministério com os migrantes). c) Oceania e Vietnã para a Missão na China.

Ao longo do sexênio, novos passos serão dados a fim de consolidar novas realidades naquela região.

ÁFRICA-MADAGASCAR (9500) África-Madagascar optou pela união formando apenas duas novas Províncias e regiões.

1.A Província de África Ocidental com duas regiões: VP. Nigéria, VP. África d’Oeste e missão de Ghana.

2. A Província África do Sul-Central com três regiões linguísticas: a) P. África do Sul, região do Zimbabwe e missão do Kenya (inglês); b) VP. Matadi (Congo) e VP. Madagascar (francês); c) VP. Luanda (Angola) e Missão de Moçambique (português).

Todo esse processo requer abertura de espírito e ao Espírito, conversão, diálogo e muito trabalho em vista da missão. Não teria sentido tamanho esforço se não fosse por causa do anúncio do Evangelho aos mais pobres e abandonados. Por isso, antes de se pensar a reconfiguração das novas Unidades, cada Conferência apresentou seu Plano Apostólico com suas prioridades, a fim de responder eficazmente aos desafios aos quais somos chamados. O processo continua em vista da inauguração das novas Províncias que se dará a partir de 2022-2023 à luz do Santíssimo Redentor.

Quadro com os pioneiros da Congregação Redentorista Foto: A12

Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R. Conselheiro Geral da Congregação Redentorista Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 9

CRÔNICA

PONTO DE ORAÇÃO

C

erta vez, chegando ao Terminal Rodoviário Santo Antônio, em Sorocaba (SP), vi alguns evangélicos coletando nomes e distribuindo jornais, em que se lia: Ponto de Oração.

Concluí que todos os lugares podem ser pontos de oração.

Em frente ao Santuário São Geraldo Majella, passam três linhas de ônibus. Costumo pegar uma para ir à cidade e outra para voltar. Digo que o ônibus circular é minha capela de rezar o terço. Dá tempo de rezar dois terços, um na ida e outro na volta.

Costumo dizer que o motorista é o pastor, e nós somos os obreiros ecumênicos porque somos de muitos credos, de muitas religiões.

Portanto, cada ônibus pode ser um ponto de oração.

O quarto pode ser um ponto de oração e meditação. Mas a cama, de um modo especial, pode ser um ponto de oração.

Enquanto se espera chegar o sono, pode-se fazer uma prece ou rezar em vez de deixar a mente, o pensamento e a fantasia vagando em ideias prejudiciais e perder o sono.

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E se alguém me ama, meu Pai o amará e nós viremos a ele e faremos nele nossa morada...” (João 14,23)

Santuário São Geraldo Majella, em Sorocaba (SP) Fotos: A12

Outro ponto de oração muito importante, especialmente em meu caso, é o Seminário São Geraldo, mais precisamente o segundo andar, com a ala dos consagrados, a sala de TV, a sala da comunidade e, especialmente, a Capela do Santíssimo. São lugares de um silêncio quase absoluto.

Quando os confrades saem para fazer pastoral fico praticamente sozinho, mergulhado nesse silêncio total próprio para meditar, rezar, ler e escrever, como estou fazendo agora. Mas não fiquem com inveja de mim, o Santuário São Geraldo, em Sorocaba (SP), está à disposição de todos.

Praticamente, todos os lugares, onde você estiver, podem ser um ponto de oração. Na verdade, você deve ser o ponto principal e central da oração porque é o Templo de Deus, o sacrário do Espírito Santo.

“Não sabeis que sois o Templo de Deus e o Espírito Santo habita em vós?” Diz-nos o apóstolo Paulo.

“O melhor ponto de oração é a gente mesmo.”

Conclusão O melhor ponto de oração somos nós mesmos. Os lugares em si são uma forma de ambientação para a oração vocal e mental.

“Não vi nenhum templo na cidade, pois seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa de sol, nem de luz que a iluminem, pois a glória de Deus é sua luz e sua lâmpada é o Cordeiro”. (Ap 21,22-23) A oração transformadora é a oração humilde e perseverante. Lembremo-nos da oração de Moisés no Monte Sinai, a oração de Cristo no Monte Tabor e a oração dos apóstolos e Maria no cenáculo. Tente!

Ir. Paulo Sebastião Brasil, C.Ss.R.

Foto: Getty Images Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 11

HISTÓRIA REDENTORISTA

A VIDA DE SÃO CLEMENTE HOFBAUER

J

oão, esse era seu nome de batismo, nasceu no dia 26 de dezembro de 1751, em Taswitz, na República Tcheca. Desde pequeno, tinha o desejo de ser padre, mas a situação econômica da família era um grande obstáculo.

No período em que trabalhou em uma abadia premonstratense, os efeitos da guerra e a fome eram sentidos por muitos que acabavam procurando o mosteiro para obter ajuda.

Hofbaeur socorria, incansavelmente, os pobres e desamparados que batiam a sua porta.

Viveu como eremita, levado por sua opção de, na solidão, estar junto do Senhor. Ao receber o hábito eremítico em Tivoli, recebeu também o nome de Clemente. Após sua experiência de alguns anos como eremita, descobriu que 12 • Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020

não era essa sua vocação e voltou para Viena, buscando continuar os estudos tendo em vista o sacerdócio.

Em 1784, com seu amigo Tadeu Hubl, peregrinou até Roma, onde ambos ingressaram na Congregação do Santíssimo Redentor. Mesmo tendo pouco tempo de formação redentorista, Clemente logo assimilou profundamente os ideais da Congregação e identificou-se plenamente com eles. Entrou para o noviciado em outubro do mesmo ano, em março de 1785 professou seus votos e foi ordenado.

Teve grandes obstáculos para manter o contato com Roma e com Nápoles, pois o josefismo não tolerava a comunicação com os superiores no estrangeiro. A política estatal era simplesmente hostil à vida religiosa como tal.

Por amor à Congregação e fiel a seu chamado, contribuiu com a difusão da C.Ss.R. pelo mundo afora e conseguiu inspirar nos jovens o entusiasmo pela vida religiosa.

São Clemente adoeceu no começo do mês de março de 1820 e morreu no dia 15 de março do mesmo ano.

Foi beatificado no dia 29 de janeiro de 1888 pelo Papa Leão XIII e canonizado no dia 20 de maio de 1909. Em 1914, o Papa Pio X concedeu-lhe o título de Apóstolo e Patrono de Viena. Sua simplicidade e seu exemplo de vida, bem como a dedicação em seus serviços, fizeram transparecer a aceitação da vontade de Deus em sua vida, tornando-se modelo para nós.

Pesquisa e texto: Giovani Perina, pré-noviço Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 13

Beethoven ficou sabendo

CURIOSIDADES C.Ss.R. e a colaboração dos leigos Ultimamente se tem falado bastante da necessidade de unir leigos a nossas atividades.

Em 1788, São Clemente pensou nisso. Fundou a associação dos “Oblatos”, composta de leigos e leigas, com a finalidade de propagar e defender a fé. Queria “leigos de mentalidade apostólica, isto é, pessoas que vivessem, em suas famílias e no mundo, imitando o Salvador e atuando de modo missionário”. Procurava pessoas qualificadas, de sólida formação e vivência cristã séria. Elas, antes da admissão, faziam um ano de preparação, reuniam-se regularmente para oração, formação e partilha sobre vida e apostolado. Era quase uma “sociedade secreta”, para mais penetrar na sociedade e a influenciar.

A iniciativa de Clemente foi aprovada por Pio VII em 1804.

Quando Clemente morreu, Carlos Blöchinger, educador vienense, assim escreveu na caderneta que Beethoven surdo usava para conversar com os amigos: “Pe. Hofbauer morreu. Cabeça dessa nova seita de padrecos, os chamados Ligorianos, era um miserável dogmático fanático, que, porém, Adam Müller gostava de chamar de o maior dos teólogos” (SCHÜRMANN GEORG, Ludwig van Beethovens Konversationshefte, Berlim, 1941-43, I, 347, citado em Monumenta Hofabauriana, XV, 11-12).

Beethoven

Centro de um círculo influente

Napoleão

Um dos três grandes “Zacharias Werner atreveu-se, na época, a afirmar que havia na Europa três grandes homens contemporâneos: Goethe, Napoleão e Hofbauer.” (Heinz/24)

Mesmo simples como era, Clemente atraía e reunia em torno de si pessoas influentes, poetas, literatos, pregadores. Encontravam-se geralmente em casa de Friedrich Schlegel ou Adam Müller, ou em um Café. Eram muitos; entre outros Zacharias Werner, Clemens Brentano, Joseph Eichendorff, o pintor Friedrich von Klinkowström. F. Schlegel, por exemplo, era um erudito linguista e poeta, considerado “príncipe dos românticos”. A. Müller era naturalista, filósofo, economista e literato. E além deles, muitos jovens universitários que faziam de sua casa em Viena ponto animado de encontro e debate.

Pesquisa e texto: Pe. Flávio Cavalca, C.Ss.R.

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ESPIRITUALIDADE REDENTORISTA

Foto: cssr.news

ENTREVISTA COM O SUPERIOR-GERAL PE. MICHAEL BREHL Conversamos com o Superior-Geral da Congregação Redentorista, Pe. Michael Brehl, sobre São Clemente Hofbauer, grande inspiração em tempos de reestruturação.

Que características da personalidade e da história de São Clemente são inspiração para os Redentoristas hoje?

S

ão Clemente foi uma figura muito importante para nós, Redentoristas, sobretudo por sua perseverança. Fundou muitas casas na Alemanha, Áustria, Polônia, mas, quando ele faleceu, nenhuma continuou. Todo o seu trabalho foi destruído pelas forças políticas.

Dois meses depois de sua morte, o Imperador na Áustria reconheceu os Redentoristas e, desde esse

momento, iniciou-se, verdadeiramente, o legado de São Clemente.

Ele deu sua vida para preparar a possibilidade de isso acontecer. Então, quando celebramos 200 anos de sua morte, celebramos o momento em que os Redentoristas puderam iniciar um trabalho, que se expandiu por todo o mundo.

Fora da Itália, todos os Redentoristas vieram Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 15

Vivemos um período de reconfiguração e reestruturação.

Inspirados em São Clemente, qual a mensagem fica especialmente aos mais jovens sobre ser um Redentorista hoje?

de São Clemente, das primeiras casas, depois de sua morte. Para mim, essa é uma história incrível!

São Clemente foi também homem de oração, de missão, de pregação, sobretudo, de perseverança diante do chamado de Deus. Sabia que teria de trabalhar para assegurar o anúncio da Boa-Nova aos pobres.

“É preciso anunciar o Evangelho de um modo sempre novo”, dizia São Clemente. Como agir em favor dessa premissa hoje em dia?

Evangelizar de um modo novo hoje tem dois aspectos muito diferentes, importantes e vinculados também. O primeiro é ter de anunciar com mídias digitais, tv, rádio, um novo modo que São Clemente não conheceu.

O segundo aspecto é criar formas para pregar na linguagem de hoje, especialmente na dos jovens, que não usam o linguajar de minha geração. Isso significa pregar utilizando uma forma mais simples, sensível, a qual os jovens possam entender.

Não falar tanto de pecado, mas, do amor, de relações verdadeiras com Deus e com o outro.

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São Clemente sempre sonhou ir à Polônia, ao Canadá, à América do Norte, onde Deus chama... Esse é um sinal para nós de que sempre devemos sonhar com andar além de nossa realidade, sair de nossa zona de conforto para encontrarmos as pessoas.

Um seminarista hoje tem de sonhar pertencer a uma Congregação mundial, não apenas à Província de São Paulo, do Rio ou a qualquer que seja; um Redentorista hoje é membro de uma Congregação mundial, com uma missão internacional. Onde Deus chamar, vamos para anunciar. Podemos deixar tudo para servir. Se a Congregação pedir para permanecer em nossa região, para sermos formadores, por exemplo, ou administradores, em vista da missão, podemos fazê-lo! É a disponibilidade para fazer o que for necessário pelo Evangelho, não por nós mesmos ou por nossos interesses.

Thamara Gomes, leiga

São Clemente foi homem de oração, de missão, de pregação, sobretudo, de perseverança diante do chamado de Deus.”

REFLEXÃO

UM REDENTORISTA À FRENTE DE SEU TEMPO

N

o adventus deste novo ano, a Congregação do Santíssimo Redentor agradece à Santíssima Trindade os duzentos anos da Morte de São Clemente Maria Hofbauer (1751-1820): um ícone, um estandarte, uma estrela graúda, que, a modo da Stella Maris, aponta para um novo norte, para a Missão da Congregação Redentorista na Modernidade Líquida. O presente artigo não tem como objetivo biografar a vida do notável Clemente Hofbauer: O “modesto e incansável cuidador do corpo e da alma” (WEISS, 2011, p. 17). Sua finalidade é lançar fachos de luz sobre

Clemente, a fim de promover uma reflexão sobre os termos da modernidade fluida e explicitá-los, permitindo-nos entender como o mundo líquido-moderno funciona, para que possamos, como Redentoristas, nele operar.

Sob a batuta do Iluminismo (séculos XVII e XVIII), Clemente, o “apóstolo de Varsóvia” e “patrono de Viena” (WEISS, 2011, p. 9), sem ser um anti-iluminista, enfrentou, bravamente, os conflitos e os novos desafios impostos pelas teses iluministas, que afirmavam que a sociedade europeia se encontrava nas trevas por causa das crenças religiosas.

A Modernidade Líquida não difere do Iluminismo da era de Clemente. Seria imprudente negar que o século das luzes produziu, e que a Modernidade Líquida continua produzindo, mudanças relevantes na condição humana, na visão de mundo, na profissão de fé e na práxis religiosa. No pretérito, Clemente experimentou o que nós estamos vivenciando na sociedade da modernidade fluida: “o derretimento dos sólidos, a profanação do sagrado, o repúdio e destronamento do passado, da tradição, das verdades imutáveis, das crenças e das lealdades” (BAUMAN, 2001,

Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 17

Foto: Getty Images

A Modernidade Líquida não difere do Iluminismo da era de Clemente”. p. 9). Em tempos líquidos, interpela-nos o olhar de Clemente: estou disponível para assumir a Missão Redentorista na atualidade fluida?

Atualmente, é imprescindível que nos conscientizemos de que nuvens tenebrosas pairam sobre o horizonte epistemológico da Missão Redentorista no mundo fluido.

Por isso a necessidade de despertar a autoconsciência, a compreensão e a responsabilidade individuais e comunitárias, a fim de dar respostas novas e atuais a nossos novos destinatários: homens e mulheres emancipados, individualizados e regidos, plenamente, pela liberdade de escolha. Neste tempo de liquefação dos sólidos, a Reestruturação é uma alternativa, uma keyword que nos esclarece e fortalece. Como Mestra, a Reestruturação nos auxilia a repensar os conceitos, os esquemas cognitivos usados, até os dias de hoje, para justificar nosso modus vivendi et operandi redentorista. “A diminuição do interesse pelo bem comum, a falta de engajamento político, a alta dos sentimentos hedonísticos e do ‘eu primeiro’, as tendências ao totalitarismo e os desejos narcisísticos” (BAUMAN, 2011, p. 33, 54)

entre nós, Redentoristas, são águas revoltas e caudalosas que podem ser vencidas pela Reestruturação. Ó São Clemente Maria Hofbauer, que vive junto da Virgem Maria, interceda por todos nós neste momento de Reestruturação da Congregação do Santíssimo Redentor. Que este tempo seja para nós o momento da graça e da bênção de Deus.

Coragem! Reestruturemos para que a Missão Redentorista, bem como nosso modus operandi et vivendi possam continuar, de modo sempre novo, anunciando a Redenção junto aos pobres mais abandonados.

Neste tempo de liquefação dos sólidos, a Reestruturação é uma alternativa que nos esclarece e fortalece”.

Pe. Vinícius Ponciano, C.Ss.R.

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PARTILHA MISSIONÁRIA

Catedral Basílica de São Pedro e São Paulo, em Paramaribo Foto: arquivo pessoal

NO ESPÍRITO DO REDENTOR A MISSÃO NO SURINAME

N

o dia 15 de março de 2017, em Campinas (SP) – onde trabalhava como vigário paroquial, na paróquia Santo Afonso Maria de Ligório, e cursava o mestrado em Ciências da Religião –, fui surpreendido pela proposta do provincial da época, Pe. Inácio Medeiros. Ele chamou-me para conversar e perguntou o que eu achava da ideia de trabalhar na Missão do Suriname. Inspirado pela Constituição de número 13 de nossa amada Congregação do Santíssimo Redentor, a qual nos anima ao dinamismo na obra missionária com estas palavras: “No desempenho de sua missão, procura a Congregação agir com iniciativas audazes e com grande zelo”, respondi-lhe que havia me tornado redentorista para trabalhar

nos locais onde a Congregação necessitasse de mim.

Motivado a ampliar minha missionariedade e concluída essa primeira conversa, em julho, Pe. Inácio confirmou que, em 2018, eu iria para a nova frente missionária.

Em novembro fiz uma visita de uma semana a Paramaribo, capital do Suriname, para ter as primeiras impressões dessa nova realidade. Emergiram inúmeros sentimentos: inquietude perante a grande carência de pessoas da Igreja local; encantamento pela singularidade cultural e religiosa do país, que na época completava 42 anos de independência, enquanto colônia da Holanda; a amorosidade recíproca do Povo de Deus, que, em seu olhar, expressava uma esperança no Redentor e me gerou moções indescritíveis. Outra experiência marcante foi minha visita ao túmulo de nosso amado Beato Pedro Donders, na Catedral Basílica de São Pedro e São Paulo.

Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 19

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Catedral Basílica de São Pedro e São Paulo, em Paramaribo Foto: arquivo pessoal

Ele, um exemplo de homem e missionário redentorista, amou os mais abandonados com toda a sua vida. Quando eu rezava em seu túmulo, meu coração ardia de fé, alegria, zelo e entusiasmo pela Região Suriname.

Retornei ao Brasil, defendi minha dissertação de mestrado e, no dia 25 de fevereiro de 2018, desembarquei em terras surinamesas para iniciar essa nova fase de minha vida religiosa.

Naquele período, nossa Comunidade Redentorista era composta pelos confrades: Pe. Croon (Província de São Paulo), Pe. Gilson (Vice-Província da Bahia), Pe. Ademar (Província de Campo Grande), Frater Josivan (Vice-Província de Manaus) e eu, Pe. Ricardo (Província de São Paulo).

Pela grande complexidade cultural e religiosa do Suriname, as primeiras semanas geraram-me uma intensa inquietude criativa, pois esse país pode ser definido como um encontro de Continentes e um fomentar do diálogo inter-religioso. Povos da Índia, Indonésia, China, Europa, Estados Unidos, África, países latinos, entre outros, nutrem sua cultura e sua experiência religiosa.

Dentre as religiões mais seguidas pela ordem estão: Hindu, Islã e a Cristã.

Outro fato relevante é a língua. Por ter sido colônia holandesa, o idioma oficial é o holandês. No entanto, as pessoas mantêm suas línguas maternas, como, por exemplo, o saran tongo, um dialeto dos povos de raízes africanas. Por isso, é comum surinameses, entre as diferentes classes sociais, falarem três, quatro ou mais idiomas. Nessa grande pluralidade linguística, sinto que a linguagem que converge todas essas culturas, religiões, enfim, pessoas é a do Amor.

Depois desse processo de imersão em terras surinamesas, de julho a outubro, fui para a Holanda, onde morei por três meses na Comunidade Redentorista de Gulpen-Wittem, Província São Clemente – Província de Limburgo, extremo sul do país, tendo como capital Maastricht –, onde fiz um curso intenso de holandês.

Quando eu retornei ao Suriname, Pe. Croon regressou ao Brasil depois de oito anos de

atuação nessa frente missionária. Eu, que já exercia a função de superior da Comunidade antes de ir para a Holanda, agreguei em meu apostolado o trabalho de pároco das paróquias Maria Rainha do Mundo e São Francisco de Assis, e as Comunidades Beato Pedro Donders, São Miguel Arcanjo, além das Comunidades Hannas Lust e Sunny Point, nas quais reza-se no dialeto saran tongo. Esse trabalho tem me possibilitado integrar cada vez mais com o povo

surinamês, sendo para mim uma Graça de Deus.

No decorrer deste período de missão, aqui no Suriname, trabalharam comigo, além dos confrades já mencionados, o Pe. Cássio (Província de Campo Grande) e o Frater Sergio (Vice-Província da Bahia).

Atualmente, a Missão da Região Suriname é animada pelo Pe. Patrício (Província de Denver – Estados Unidos) e por mim. Pe. Patrício é o pároco da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, que é frequentada

basicamente por brasileiros, estimados em quarenta mil pessoas em todo o país, as quais trabalham, em sua maioria, nos garimpos de ouro do Suriname e da Guiana Francesa.

Recentemente o bispo local, Monseigneur Karel Choennie, nomeou-me como administrador da Região Sul da Capital, Paramaribo, cuidando também da paróquia Santíssimo Redentor.

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Quando eu rezava em seu túmulo, meu coração ardia em fé, alegria, zelo e entusiasmo pela Região Suriname.”

Missão pela causa da Canonização do Beato Pedro Donders A pedido do Padre Geral, Pe. Michael Brehl, recebi uma Missão especial durante a Assembleia Redentorista da América Latina e Caribe, que aconteceu em julho de 2019, na Cidade do México – México: ser o Vice-Postulador para a causa da Canonização do Beato Pedro Donders, conhecido como Apóstolo do Suriname, Apóstolo dos pobres e 22 • Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020

abandonados e Apóstolo dos leprosos. Beato Pedro Donders chegou ao Suriname em 1842. Entrou para a Congregação Redentorista em 1867, com mais de cinquenta anos, pois já era padre diocesano.

E cuidou por vinte e sete anos das pessoas com hanseníase, em Batavia, Suriname, um vilarejo onde os hansenianos eram isolados. Donders faleceu em 1887 sem contrair a hanseníase.

Redentoristas no Suriname A história Redentorista no Suriname iniciou-se com a chegada dos primeiros missionários vindos da Província de Amsterdam – Holanda – em 1866. Em 2000, o Superior-Geral da Congregação, Pe. Joseph Tobin, confiou a missão no Suriname aos cuidados da União dos Redentoristas do Brasil (URB).

Fotos: arquivo pessoal

O Suriname é um local de Missão para nós, Redentoristas, onde podemos desenvolver inúmeros apostolados: diálogo inter-religioso, trabalho com as pessoas que vivem nos garimpos, trabalhos nas Igrejas da Diocese de Paramaribo, que carece imensamente de pessoas, trabalhos formativos e vocacionais e outros conforme a inspiração divina.

Portanto, entusiasmado pelo legado do Beato Pedro Donders

e também pela inquietude criativa que motivou tantos missionários redentoristas a doarem sua vida nessa região, verdadeiramente, de Missão, almejo que o Redentor ecloda a liberdade interior ativa em nosso ser, para que tenhamos a audácia de continuar o anúncio da Boa-Nova, fomentandonos novos horizontes e valores capazes de dinamizar o sentido da vida e podermos experienciar a pedagogia do amor.

Pe. Ricardo de Carvalho, C.Ss.R.

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SUA HISTÓRIA, NOSSA HISTÓRIA Infância no Paraná Foto: arquivo pessoal

IR. CLÁUDIO APARECIDO TEIXEIRA, C.Ss.R.

N

asci no dia 1º de dezembro de 1976 no estado do Paraná, precisamente na cidade de Tomazina. Sou filho de Maria Benedita Teixeira e de Antônio Teixeira. Somos quatro irmãos, sendo três homens e uma mulher. Dois são casados e outro solteiro. Sou de uma família religiosa e humilde, que sempre se dedicou à vida de oração e à participação na comunidade.

Passei minha infância e início de minha adolescência na zona rural, ajudando meus pais nos trabalhos da lavoura e outros afazeres de nossa propriedade. Aos sete anos de idade, comecei a ir à escola rural, onde vivíamos, a conviver com as outras 24 • Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020

Em 1993, ouvindo a Rádio Aparecida, conheci os Missionários Redentoristas.”

Turma do ensino médio, no ano de 1999, em Guaratinguetá (SP) Foto: arquivo pessoal

crianças e receber a educação de meus primeiros professores.

Como vivia na zona rural, gostava de contato com a natureza, das quermesses da comunidade.

Recordo-me de que, aos domingos, meu pai ia comigo aos jogos de futebol, que aconteciam em nosso bairro, chamado Gurucaia, Barra Mansa. E também de meus amigos de infância, que hoje, mesmo não

tendo contato, ainda os trago com carinho no coração.

Desde criança, já participava da vida de comunidade, na Capela de Santa Maria Goretti, da Paróquia Santo Inocêncio.

Fiz a primeira Comunhão aos 10 anos e aos 11 anos recebi o Sacramento da Confirmação.

Em 1990, meus pais mudaramse para a cidade de São José dos

Campos (SP). Alguns parentes de minha mãe já residiam em São José dos Campos, e, devido a algumas dificuldades encontradas na região onde morávamos no Paraná, meus pais vieram tentar uma nova vida no estado de São Paulo.

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Despertar vocacional Em 1993, ouvindo a Rádio Aparecida, conheci os Missionários Redentoristas a partir de uma propaganda vocacional. Escrevi uma carta, à qual logo foi respondida, já me convidando para o primeiro encontro vocacional. Foi por meio desses encontros que conheci a vocação do Irmão Missionário Redentorista e me interessei. Os promotores vocacionais da época eram os Irmãos Manoel Aparecido, João Carlos Mendonça e ainda o Padre Luiz Rogério Carrilho Cruz.

Depois de ter feito os encontros vocacionais, fui convidado, no final de 1994, a fazer a Convivência Vocacional. No dia 14 de janeiro de 1995, ingressei no Seminário São Geraldo Majela na cidade de Potim (SP). Lembro-me de que, naquele ano, ainda passei vinte dias no Seminário Santo Afonso, na cidade de Aparecida (SP), antes de ir definitivamente para o Seminário São Geraldo, fazer um curso de verão, que funcionava como uma espécie de integração entre os dois Seminários, chamado ciclo básico.

No Seminário São Geraldo, concluí o ginásio, assim chamado na época.

Posteriormente, no Colégio do Carmo, na cidade de Guaratinguetá, cursei os três anos do ensino médio.

Portanto, vivi seis anos no antigo Seminário São Geraldo, na cidade de Potim (SP). No ano de 2001, em São Paulo, no Jardim Paulistano, fiz um curso na área de Vida Religiosa e Consagrada e também outros; nesse mesmo ano, fiz o pré-noviciado. Em 2002, fiz o noviciado Redentorista em Tietê (SP), no Seminário Santa Teresinha, e no ano de 2003, no dia 26 de janeiro, fiz minha primeira profissão religiosa. Em 2005, concluí 26 • Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020

a faculdade de Ciência das Religiões, em São Paulo, residindo na comunidade do Alfonsianum.

No dia 18 de novembro de 2006, na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, em Jacareí (SP), fiz a Profissão Perpétua. Nessa época, além dos cursos na área de vida Religiosa e Consagrada, estudei um pouco de contabilidade.

Trabalhei no Secretariado Vocacional Redentorista.

Atuei na equipe Missionária, fui formador de diferentes etapas. Em 2019, retornei a Sorocaba para ser diretor do Seminário São Geraldo, acompanhando os candidatos à vida religiosa como Irmãos Redentoristas.

Hoje me sinto feliz e realizado, ajudando tantos jovens na busca do discernimento vocacional. Essa foi a missão que Deus me confiou e que realizo com alegria e disponibilidade. Para você que pode ler o que escrevi e que deseja seguir os passos do Redentor, sendo um Missionário Redentorista, eu digo que vale a pena!

Essa foi a missão que Deus me confiou e que realizo com alegria e disponibilidade.”

Pe. Rogério Gomes e Ir. Cláudio, ainda junioristas.

Com os pais, Maria e Antônio Fotos: arquivo pessoal Profissão Perpétua Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020 • 27

ESPAÇO DIÁLOGO

Uma leitura teológica da experiência de Deus no sofrimento humano.

Foto: SXC

REPENSAR O SOFRIMENTO Por que sofremos?

N

ão há dúvida de que o sofrimento é um axioma essencialmente humano.

Nenhuma cultura, e dentro dela, nenhum indivíduo, pode escapar dessa realidade.

Isso revela o homem contingente, limitado, naturalmente imperfeito e mortal. Uma realidade desconfortável à condição natural da vida, que transpõe o ser humano a uma profunda experiência de desolação e abandono, 28 • Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020

fragilizando a experiência de fé e expondo-o a sua interioridade ferida. Evoca, tradicionalmente, dúvidas sobre a natureza e a existência de Deus, pois, racionalmente, é inconcebível a afirmação de um Deus Todo-Poderoso, que, podendo fazer o Bem, não o faz: “por que Deus permite a dor, a fome, a violência, as injustiças e morte? Se Ele criou coisas boas, como pode haver o mal no mundo? Como harmonizar a afirmação de

Por que Deus permite a dor, a fome, a violência, as injustiças e morte?”

um Deus Todo-Poderoso com a realidade do sofrimento? Diante de um mundo ferido, marcado por injustiças, violências e grandiosas tragédias, qual é a reflexão possível para um jovem estudante de Teologia?”

A tarefa da Teologia nem sempre é fácil. Ela emerge do drama humano, marcado, fortemente, pelas feridas provenientes do paradigma moderno. Sua reflexão, previamente, enquanto ciência da fé, tem como propósito compreender o relacionamento entre Deus e o homem, e, nesse diálogo inter-relacional, desdobram-se categorias morais, antropológicas, psicológicas, sociológicas, escatológicas e espirituais, que se descortinam na experiência de fé dos indivíduos.

Nesse sentido, a imagem que postulamos de Deus, necessariamente, articula-se a nossa compreensão de mundo. Isto é, concebemos o arquétipo divino, previamente, pelas experiências vivenciais e pelos conceitos de mundo que agregamos à sensibilidade da fé. Desse modo, “na experiência do sofrimento, o homem julga seu deus”1.

Diante do sofrimento, enquanto experiência concreta da dor e do abandono, parece-nos que todas as explicações são débeis e todas as linguagens parecem inadequadas. Nunca avaliaremos RIBARIC, Sérgio Alejandro. O silêncio de Deus segundo Hans Urs von Balthasar. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2011, p. 10.

1

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suficientemente o sofrimento do mundo, pois a história avança por meio da dor, nos conflitos de interesses, de classes, de raças, de indivíduos e de povos.

A Antropologia Teológica presente nas obras de Andrés Torres Queiruga nos permite considerar que sua reflexão, em diálogo com a cultura pós-moderna, evoca o esforço em ressignificar os conceitos fundamentais da Teologia Clássica, a partir do reconhecimento da autonomia das realidades naturais. Esse elemento é indispensável para a compreensão do drama humano do sofrimento e sua relação constitutiva com Deus.

Repensar as grandes verdades da fé, questionar os argumentos tradicionais e propor uma linguagem teológica mais próxima das realidades concretas da vida é a maior contribuição deixada pelo teólogo catalão. Ademais, ele nos condiciona a desvelar o mistério do sofrimento como um caminho existencial de encontro com Deus.

A reflexão proposta por Queiruga nos permite repensar o sofrimento a partir da perspectiva da esperança e da misericórdia.

Compreendemos que Deus está presente nas dores e lamentos de suas criaturas. Ele se faz próximo e solidário. Queiruga nos revela Deus crucificado, apaixonado pelo homem e misericordioso no amor. Ele faz oposição ao mal e caminha, ao lado homem, para favorecer a busca pela vida plena. Trata-se de uma nova compreensão da criação, na qual Deus não é intervencionista, 30 • Informativo da Província • Março | Abril | Maio 2020

Foto: SXC

Deus está presente nas dores e lamentos de suas criaturas”.

tampouco milagreiro, mas sustenta, por amor, a construção da realização humana na história.

Desse mesmo modo, esse posicionamento deve se manifestar em nossas práticas missionárias, na acolhida aos sofredores, no aconselhamento pastoral, na celebração dos sacramentos e, principalmente, em nossa compreensão ética na dinâmica eclesial. A Teologia, antes de tudo, deve sensibilizar nosso coração para continuarmos a missão do Redentor: “Enviou-me para evangelizar os pobres, curar os corações despedaçados e proclamar o tempo da graça do Senhor” (Lc 4,14-21). Que sejamos, cada vez mais, testemunhas do Redentor, solidários para a missão, em um mundo ferido.

Fr. Diego Antônio da Silva, C.Ss.R.

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CONHECER E DAR-SE A CONHECER

Santuário do Bom Jesus da Lapa Foto: Izauri Rocha Pereira

RAIO-X DAS PROVÍNCIAS VICE-PROVÍNCIA DA BAHIA – 1702 Redentoristas da Vice-Província:

E a mais antiga?

Padres: 36 Irmãos: 2 Junioristas: 7

Santuário do Bom Jesus da Lapa.

Formandos:

Aporá (BA), Inhambupe (BA) e Itamira (BA).

Aspirantes e postulantes: 10 Noviços: 1 Junioristas clérigos: 7

Qual a comunidade mais numerosa da Província?

Santuário do Bom Jesus da Lapa (11 Confrades).

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Missões em 2020:

Rezemos por nossos confrades!

Profissão Perpétua em 2020: Fr. Willian Sena de Oliveira e Fr. Sergio Reis Santos.

1 de março, em Pituaçu – Salvador-BA. Ordenação Diaconal e Sacerdotal: Fr. Valdeneir Alves de Brito, Fr. Willian Sena de Oliveira e Fr. Sergio Reis Santos.

Dados e informações: Pe. Roque Silva Alves, C.Ss.R.

PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO – 2600 Redentoristas da Vice-Província:

Padres: 42 Irmãos: 7 Junioristas: 4

Formandos:

Aspirantes e postulantes: 23 Noviços: 3 Junioristas irmãos: 1 Junioristas clérigos (estudantes): 3

Quantas são as comunidades da Província?

9 Comunidades.

Qual a mais numerosa?

Comunidade São José, em Belo Horizonte, MG, com 8 confrades.

E a mais antiga?

Comunidade de Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora, MG. Desde 7 de janeiro de 1894.

Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora (MG) Foto: Arquidiocese de Juiz de Fora

Conheça as Obras Sociais da Província do Rio:

Centro Nova Geração – Cariacica, ES. Obra Social Padre Nilton Fagundes Hauck – Juiz de Fora, MG. Obra Social Redentorista – Coronel Fabriciano, MG. Obra Social Sagrada Família – Campos dos Goytacazes, RJ. Obra Social São Geraldo – Curvelo, MG. Obra Social São José – Belo Horizonte, MG. Assistência Social Nossa Senhora da Glória – Juiz de Fora, MG. Casa da Convivência Nossa Senhora Mãe do Belo Amor, Rio de Janeiro, RJ.

Rezemos por nosso confrade!

Fr. Robson Araújo dos Santos.

15/03/2020: Ordenação Diaconal, em Coronel Fabriciano, MG. 1/08/2020: Ordenação Presbiteral, em Curvelo, MG. Dados e informações: Pe. Nelson Antonio, C.Ss.R., e Rafael Bertante Igreja São José, em Belo Horizonte (MG) Foto: Provincia do Rio

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PROVÍNCIA DE SÃO PAULO – 2300 Redentoristas da Província: 170

Bispos: 5 Padres: 135 Irmãos: 30

Formandos: 80

Aspirantes: 33 Postulantes: 23 Noviços: 6 Junioristas: 18 (4 irmãos + 14 clérigos).

Comunidades da Província: 19

Mais numerosa: Comunidade do Santuário Nacional, em Aparecida (SP), com 34 membros.

Mais antiga: Comunidade Pe. Gebardo, em Aparecida (SP). Desde 1894.

Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida Foto: Thiago Leon

Obras sociais:

Centro de Assistência Social Pedro Donders – Miracatu.

Centro de Assistência Social do Perpétuo Socorro – São João da Boa Vista.

Centro de Assistência Social Padre Antônio Borges – Sacramento.

Centro de Assistência Social Copiosa Redenção – Campinas.

Centro de Assistência Social Santíssimo Redentor – Aparecida.

Centro de Assistência Social São Geraldo – Potim.

Centro de Assistência Social Santo Afonso – Pq. Peruche/ São Paulo.

Centro de Assistência Social São Clemente – Sapopemba/ São Paulo.

Missões em 2020

17 a 30/04 – Araraquara (SP) e Lamim (MG).

15 a 31/05 – Americana (SP) e Araraquara (SP).

12 a 28/06 – Sacramento (MG).

7 a 23/08 – Araraquara (SP).

11 a 27/09 – Tupã (SP) e Araraquara (SP).

Dados e informações: Pe. Alberto Pasquoto, C.Ss.R., e Adriana Ribeiro Palma Comunidade Pe. Gebardo, conhecida como Convento Velho, em Aparecida (SP) Foto: Arquivo CDM

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