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EUCARISTIA E IGREJA: FORMAMOS EM CRISTO UM SÓ CORPO
Neste ano, completam-se 20 anos da encíclica Ecclesia de Eucharistia, que foi escrita pelo Papa São João Paulo II, em 2003, para expressar a íntima relação entre Eucaristia e Igreja. Com efeito, a Eucaristia é o maior e mais excelso bem da Igreja, fonte e ápice da vida cristã e eclesial (cf. LG, n. 11), sacramento da unidade (cf. EE, n. 23), vínculo da caridade (cf. At 2,42-47). Toda a vida sacramental da Igreja se une à Eucaristia e a ela se ordena, porque neste augusto mistério se encontra o próprio Cristo, nossa Páscoa. É na Eucaristia e pela Eucaristia que o Senhor se dá a nós como alimento para a vida eterna (cf. Jo 6,44-51). Santo Afonso a define como “fornalha de amor”, uma vez que neste sacramento admirável experimentamos o amor de Deus que a todos quer alcançar.
Como reforça o Magistério sempre vivo da Igreja, a Eucaristia é memorial da morte e da ressurreição do Senhor. Usualmente, a palavra memorial (do grego anámnesis) exprime o ato de recordar-se de algo que já passou. Contudo, do ponto de vista litúrgico e teológico, fazer memória não é meramente girar em torno de um pregresso e que está cada vez mais distante, mas é trazer o evento memorado para bem perto de quem o celebra, atualizando-o e reconhecendo que a ação de Deus permanece no presente. Dizer, portanto, que a Eucaristia é memorial da morte e da ressurreição do Senhor significa que ela se torna presente e atualiza o evento pascal de Cristo morto e ressuscitado. O Espírito Santo, que, durante séculos, ficou no olvido, presentifica e atualiza o memorial eucarístico. É por isso que, em toda celebração eucarística, unida à anamnese está a epiclese. Aquela que recorda o evento salvífico ocorrido no passado, que sempre incluiu esta, ou seja, a invocação do Espírito Santo, para que atualize, no aqui e agora da celebração, a salvação trazida por Jesus Cristo.
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A Sacrosanctum Concilium, primeiro documento votado e aprovado pelos Padres conciliares, trouxe o termo Mistério pascal para o centro da liturgia cristã. Realmente, o Mistério pascal nos conduz ao coração da História da Salvação e, por esse motivo, constituiu o objeto principal da celebração eucarística, posto que este Mistério envolve toda a vida de Cristo, assim como a vida de todos os fiéis que o celebram com fé. Assim, a Igreja, fiel ao mandato de Jesus na Última Ceia – “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11,24) –, celebra, com súplicas e preces, a Eucaristia, memorial da morte pascal do Senhor. O Mistério Pascal é, portanto, o núcleo de toda ação litúrgica da Igreja. Todo o agir cristão consiste em realizar na vida o Mistério pascal que se celebra nos sacramentos. Desse modo, a celebração litúrgica, de modo especial a Eucaristia, sintetiza a vida cotidiana do cristão, tornando-a extensão de toda a vida de Cristo; de sua morte e ressurreição.
O Mistério pascal encontra sua força quando vivido e celebrado de modo dinâmico e participativo. O envolvimento dos fiéis em torno do Mistério, que é o próprio Cristo, fundamenta a actuosa participatio (participação ativa) desejada pelo Concílio Vaticano II. O alcance da consciência em torno do Mistério celebrado se revela na ecclesia; local, por excelência, do encontro pessoal

“com Cristo. A celebração eucarística é, e sempre será, comunitária, porque a Eucaristia faz-nos descobrir que Cristo morto e ressuscitado se manifesta como nosso contemporâneo no mistério da Igreja, seu Corpo. Assim, a celebração eucarística deverá ser compreendida como celebração da Igreja – Cabeça e membros. Na verdade, quando participamos da celebração eucarística, a cruz e a ressurreição de Jesus estão presentes.
Destarte, a celebração eucarística é o momento no qual, por meio do memorial e da invocação do Espírito Santo, recorda-se e presentifica o Mistério pascal, centro da liturgia cristã. Os fiéis batizados, em virtude de sua participação ativa, plena, consciente e frutuosa na ação sagrada, experimentam, concreta e profundamente, o Mistério central da fé cristã, saboreando, assim, o “fruto da nossa Redenção” (SC, n. 2). É, realmente, lapidar o ensinamento do Papa São João Paulo II: “A Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia” (EE, n. 26). Somos chamados, pois, a renovar nossa fé em tão sublime mistério e a fazermos de nossa vida missionária uma vida mais eucarística.







