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COMO MODULAR NOSSA PERSONALIDADE E NOSSA CONSAGRAÇÃO AO LONGO DA VIDA

Há uma temática em pauta: a importância de cultivar-nos, conjugando inteligência e saúde emocional na vida religiosa e presbiteral. Ela me foi proposta. E aceita. Penso em nós, Redentoristas, caminhando para a Província Nossa Senhora Aparecida. Percebo uma chance rara de autoavaliação para cada um oferecer o melhor de si mesmo. Divido a temática em três unidades. A primeira delas é a que abordamos agora: o que pode estar trafegando no mundo interior de quem, talvez involuntariamente, perturba o cotidiano saudável da Comunidade. Psicopatias?!

O lado subjetivo do ser-e-convi ver como consagrados

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Somos humanos e, como tal, pessoas. Vidas em relação. Relativos a teias de relacionamentos. Sujeitos de metamorfoses (ou estacionados?), mediante pertinentes redefinições que, na autenticidade da Fé e da Consagra ção, significam também conversões contínuas (se estacionados, mediocri dade adaptada ao subjetivismo).

Somos sujeitos e nossas circunstâncias (em casa e na Pastoral), em gradativas transmutações para melhor. Ou não?! Cansaço psicoespiritual por vezes nos acontece. Aborrecidos. Repetitivos. Acomodados. Sendo assim, estamos enredados em nossas teias maléficas: as inverdades, os autoenganos. As muitas desculpas que pouco desculpam. Tudo somado, nós nos tornamos como somos. Construtores de nós mesmos, em meio a apoios e reconhecimento, de face para desencontros e desencantos. Afinal de contas, somos também mistério. O danoso é viver misteriosamente aos olhos dos outros, confrades e povo de Deus. A possível perda, em parte, de uma boa “saúde mental” é (e será) sempre uma história personalizada. Bem ao feitio de cada qual, em sua originalidade maltratada. Esta situação é bio-psíquica-espiritual. Tudo a ver com a estrutura individual e suas gramáticas orienta- doras de escolhas, preferências. O que pode decretar a existência de CRISE. Carecemos, então, de critérios. Eles serão apanhados onde e como? Esse quadro da vida pode receber muitos nomes. É uma realidade compósita.

Algumas atitudes e certos comportamentos denunciam um desencaixe da pessoa em relação a... (completa você, por favor!). Ah, os traços emocionais, as insatisfações queixosas, a repetitividade de desencaixes. Todos apontam para a dificuldade de bem-viver. Algo se rompeu. Alguma fratura sobreveio. Vida fragmentada, raízes não purificadas, talvez porque nunca percebidas. Ou sempre recusadas. Cicatrizes não curadas até agora? Supuram. Pessoa fazendo-se de vítima? Onde está a bendita autoestima? Onde a certeza fiducial de “Deus me ama”, “sou precioso a seus olhos”? Parece que um véu de tristeza recobre a realidade. Cobre a visão. Vale relembrar: quando o inconsciente (ele existe) perturba pelo lado sombrio, chamemos o lado criativo, a coragem de ser: levanta-te e anda. É preciso reescutar esta voz. Nós temos pulsões, tantas. Instintos, não. Que pulsão está no comando? Somos cultura, e a falta de cultiva, cria condições equivocadas. Abertas as comportas para as compulsões. Em crise de dificuldades ou desatino, a sabedoria leva-nos a verificar: o que não cultivei? Cultivo é obra de persistência, vigilância, paciência. Ah, que dificultoso é ser inconsciente de si mesmo e dos desajustes na convivência. Somos ou não vinculados ao ideal de um carisma e de uma Missão? Inspiradores da alegria de ser. Existir. Partilhar a redenção da vida. O chamado vocacional nos potencia. O testemunho de que aquele que segue a Cristo, homem perfeito, torna-se ele mesmo mais homem. Que bênção!

Sujeitos de nós mesmos e nossas habilidades relacionais

Sujeitos somos. Jamais donos do viver. O desafio: sair do egocentrismo ao “outro que guarda um segre- do: o segredo de quem sou” (Sartre). Não pode ser que os outros sejam o inferno. Como me posiciono face aos problemas, reagindo saudavelmente aos desafios? Eu preciso do olhar do outro para me conhecer, identificar-me. Companheiros são indispensáveis. Parcerias são a regra da vida. Amigos? Ah, que preciosidade. Qual o valor da fraternidade em uma vida em Comunidade?

Eu e a convivência com meus confrades: em que tonalidade está esta canção? Eu e meu entorno social no pastoreio. Não facilita em nada a saúde mental, a predominância do eu-indivíduo com raras teias relacionais dentro e fora de casa. Meu caminho: minha competência e minha adaptabilidade psicossocial. Habilidades relacionais, outras tantas faces da Caridade, amor-ágape: inteligência emocional, autocontrole, empatia e cia.

Como nos ajudam “figuras de referência”? A vocação não é vínculo de pertença? Falam de resiliência. Os romanos falavam latim: Agredi et sustine. Ousa (enfrenta) e aguenta firme. “Aquele que não me mata, me fortalece” (Nietzsche). Concorda? O rosário da vida de Jesus. Crises? Crie. Convivência renovada, longe do isolamento e da indiferença.

Convivência: afetos em turbulência. A repetição dos mesmos comportamentos inadequados desagrega. Afeta a saudabilidade. Pulsões não elaboradas podem reverter-se em compulsões deletérias, incontroláveis. Perdas de “saúde mental” sobrevêm em uma cultura de excessos. Qualquer desmedida coloca em derrapagem o trem da vida. O que há em nós, algo não identificado e assumido, como é deletério, intoxica o ambiente. Por que tanta recusa de logo buscar ajuda? As intoxicações avançam rápido. Atenção ao quarteto de plantão em nossas vidas: Saúde-Sanidade-Sabedoria-Santificação.

Faz parte do projeto de vida. Evita, muitíssimas vezes, os adoecimentos. Cultivo! Prevenção.

Conclusão

Esse tom de conversa sobre algumas fontes envenenadas, que intoxicam pessoas e a vida em Comunidade (psicopatias do cotidiano), sugerem ao leitor uma singela revisão. Não há cura quando não há prevenção. Bendita possibilidade nossa, a resiliência. Há, sim, alguns fatores de prevenção que são apontados nos livros especializados, frutos da observação clínica e de pesquisas. Eis alguns: Autoconfiança. Alegria e otimismo aprendidos na escola da vida. A boa medida em tudo. Temperança versus destemperos. Flexibilidade mental, sabendo lidar com as ambiguidades. Capacidade de suportar tensões.

Para nós, a esperança da salvação em comum. O saber recomeçar. Cito, o que me parece, uma síntese: – As pessoas mais bonitas que conhecemos são aquelas que conheceram o sofrimento, conheceram a derrota, conheceram o esforço, conheceram a perda e encontraram seu caminho para fora das profundezas. Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que as enchem de compaixão, gentileza e uma profunda preocupação amorosa.

PESSOAS

Bonitas

NÃO ACONTECEM POR ACASO (Elisabet Kübler-Ross). Se poesia, parece, também é ciência da prevenção.

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