Jornal Santa Causa Ed. nº 42 (Mai/2016)

Ano 2016 - Nº 42 - Publicação Semestral Distribuição Gratuita

Medalha de Honra - Grau Ouro CMPVL - 19/03/1985

Diretor: Humberto Carneiro Coordenação: Mesa Administrativa Impressão: Grafipóvoa Tiragem: 8000 Design Editorial: Bsolus - Business Solutions Propriedade: Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, Rua da Misericórdia, 141 - Apart. 143 4830 Póvoa de Lanhoso Tel.: (+351) 253 639 030 Fax: (+351) 253 639 036 Depósito Legal: 296364/09

Maio de 2016 Geral

Mesa Administrativa empossada: os objetivos dos pelouros

Pág. 02 e 03 História do Hospital António Lopes (continuação)

Pág. 04 Qualidade: Valências sociais conquistam selo de qualidade EQUASS

Pág. 5 Santa Casa: Um balanço aos resultados de 2015

Pág. 6 Movimentação manual de cargas

Pág. 7 O Quadro: Contextualização da pintura realizada pelo povoense Domingos Silva

Pág. 15

Saúde

O outro lado da doença: A perspetiva do Psicólogo em Unidade de Cuidados Continuados

Pág. 12 Comissão de Controlo de Infeção

Pág. 12 Boletim da Farmácia: Ansiedade e depressão

Pág. 13

Social

Empreendedorismo na infância

Pág. 10 Convívio intergeracional: a importância do trabalho entre valências

Pág. 11

Jornal da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

Santa Casa,

um balanço à atividade O ano de 2015 selou algumas marcas determinantes para o rumo da instituição. Todo o trabalho que se conquistou está aliado ao princípio da sustentabilidade e do crescimento e é com esta visão que queremos construir o nosso futuro.

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Abril de 2016 Santa Causa

Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

Orgãos Sociais, Quadriénio 2016 -2019 No dia 09 de janeiro, os Corpos Gerentes eleitos a 12 de dezembro, tomaram posse numa cerimónia que decorreu no salão nobre do Hospital António Lopes. Este ato foi testemunhado por mais de uma centena de convidados entre as quais Irmãos/ãs, Funcionários/as e amigos/as, familiares e entidades oficiais.

Os desafios da Mesa Administrativa para o mandato Nome: Humberto Manuel Martins Carneiro Cargo: Provedor Pelouros: Área da Gestão (Hospital António Lopes e Unidade de Longa Duração e Manutenção D. Elvira Câmara Lopes), Aprovisionamento e Recursos Humanos Enquadrado no nosso compromisso de serviço e nos objetivos deste mandato pretendemos sempre ajustar-nos à realidade com que nos vamos deparando, centrando o nosso serviço na resposta às necessidades da comunidade interna e externa. Pretendemos assim: - Manter a sustentabilidade da nossa Misericórdia, com a manutenção dos Acordos de Cooperação, em vigor, nas áreas da saúde e social, complementados com o alargamento da atividade a diferentes parceiros.

- Potenciar a inovação e as boas práticas nas diferentes respostas sociais e da saúde, com o objetivo de combater eficazmente a pobreza, a exclusão social e melhorar o apoio aos mais vulneráveis, principalmente aos enfermos.

- Investir na capacitação dos recursos humanos, das diferentes valências da Instituição, para melhor responderem aos exigentes desafios que permanentemente se nos colocam e as tornar mais preparadas nas respostas às solicitações da comunidade.

- Potenciar o crescente reconhecimento da Instituição, em particular do Hospital António Lopes, pela comunidade, disponibilizando-nos de forma inequívoca e determinada, a servir a Misericórdia, em nome e defesa dos mais vulneráveis e desprotegidos da nossa comunidade.

- Promover um envolvimento, cada vez maior, dos colaboradores, utentes, famílias, parceiros e comunidade, mantendo uma liderança serena, inclusiva e com credibilidade interna e externa.

Nome: Maria Armandina Gonçalves Rodrigues Machado Cargo: Vice provedora Pelouros: Valências Sociais (Seniores) e Convivência Institucional As valências sociais seniores foi um novo desafio assumido neste mandato. Assente naquele foi o nosso compromisso de serviço é objetivo dar uma especial atenção ao envelhecimento da população e em especial ao dos utentes que integram as nossas valências. Proporcionar um serviço condigno a este público numa perspetiva de um envelhecimento ativo e melhoria de qualidade de vida é o que pretendemos.

Ao nível da Convivência Institucional, pretende-se manter a metodologia já em prática procurando dinamizar a figura da instituição no concelho e para quem nos procura.

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Abril de 2016 Santa Causa

Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso Nome: Avelino Adriano Gaspar da Silva Cargo: Mesário Pelouros: Valências sociais (Infância) A área social de infância integra um grande número que utentes que merecem a nossa especial atenção.

A preparação destas crianças dotando-as de valores de cidadania que as tornem em adultos melhores é aquilo que pretendemos.

Estamos a trabalhar para estreitar os laços existentes com a comunidade interna e externa. As crianças têm trabalhado em parceria com os utentes sénior e pretendemos que isto seja alargado à comunidade.

Fundamentalmente queremos encontrar o caminho para melhor servir.

Nome: Bernardino Silva Sousa Cruz Cargo: Tesoureiro Pelouros: Finanças e Atividades Económicas Procurar tratar e defender uma administração da tesouraria da Santa Casa de forma sustentável, com vista à sua continuidade óbvia, justificada e absolutamente imprescindível, no combate ao infortúnio e às carências humanas, praticando naturalmente as ações próprias e adequadas das Obras de Misericórdia.

Nome: Carlos Castro Pereira Cargo: Mesário Pelouros: Instalações e Equipamentos e Conservação e reparação A SCMPL tem diversos edifícios e equipamentos que pelo seu uso ou outros fatores, se vão degradando.

O pelouro que assumo visa zelar pela preservação dos edifícios e equipamentos procedendo à sua manutenção preventiva e corretiva.

Desta forma conseguimos rentabilizar os recursos existentes por um período mais longo e assim contribuir para a sustentabilidade da instituição. Pretende-se assim continuar a promover esta política de rentabilização dos recursos.

Nome: Luís Jorge Amaro da Costa Cargo: Mesário Pelouros: Património Móvel, Valências de Apoio (Cozinha e Lavandaria) e Farmácia Sendo Mesário da Farmácia e dos Serviços de Apoio da Santa Casa da Misericórdia, Serviços de Apoio que incluem a cozinha central, a lavandaria, os transportes e os espaços comuns, entendo dever referir um objetivo que é transversal a todos estas valências e que diz respeito à fundamental importância de prestar um serviço de qualidade, na defesa da misericórdia e dos seus valores sem nunca descurar as necessidades das pessoas e o cumprimento das rigorosas normas de qualidade a que, e bem, estamos sujeitos.

Nome: João António Rodrigues Marques Cargo: Mesário Pelouros: Inventário Patrimonial e Higiene, Segurança e Medicina no Trabalho Adaptar e acompanhar as necessidades de gestão do património, de acordo com a evolução física e estrutural da SCMPL, ajustando-se ao processo de crescimento e evolução com que a instituição se depara, sempre com o propósito final de melhor servir a comunidade.

Dar também seguimento à regulamentação em vigor, mantendo-se um registo rigoroso no cumprimento das normas de higiene e segurança do trabalho.

Nome: Adília Maria Ramalho Barbosa Rebelo Cargo: Mesário Pelouros: Área da Saúde (Hospital António Lopes e Unidade de Longa Duração e Manutenção D. Elvira Câmara Lopes) No que se refere à área da saúde estamos numa fase de grande desenvolvimento. Em 2013 foi iniciada uma obra que, apesar de ainda não estar concluída, já se vê e já está em funcionamento. Este projeto, de grande envergadura, permitiu obter um novo Acordo de Cooperação, fundamental para a sustentabilidade da instituição. Veio não só possibilitar converter o HAL em hospital do Serviço Nacional de Saúde, em plano de igualdade com os hospitais da rede pública, mas também estabelecer protocolos de atuação com uma diversidade de cirurgias, consultas e Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica, constituindo uma mais valia importante para a comunidade.

Nome: Nuno Frederico Almeida e Silva Aguilar Monteiro Cargo: Mesário Pelouros: Projetos e Obras A Misericórdia da Póvoa de Lanhoso tem natureza dinâmica vindo desde há uns anos a constantemente implementar novos projetos. É objetivo deste pelouro acompanhar esses projetos para que sejam executados de forma rigorosa e transparente.

Estamos em fase de conclusão da obra do HAL e para este mandato, em termos de obras, a proposta passa por remodelação e ampliação: Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, ERPI S. José; edifício S. Gonçalo; edifício N. Srª da Misericórdia, Farmácia.

Nome: Zita Gabriela Vieira da Fonseca Matos Gomes Cargo: Mesário Pelouros: Centro de Formação, Sistema de Gestão da Qualidade e Avaliação de Desempenho Os processos de avaliação associados às dinâmicas de trabalho constituem uma excelente ferramenta para a motivação e envolvimento de todos os funcionários e colaboradores na missão da SCMPL. Para este mandato é objetivo manter os Sistema de Avaliação de Desempenho e os Sistemas de Gestão de Qualidade já implementados e certificados pelas normas ISO 9001 e EQUASS. Esperamos ainda que possamos dinamizar e proporcionar formação para público interno e comunidade, através dos fundos previstos no Portugal 2020.

Nome: Paulo Jorge Pereira da Silva Cargo: Mesário Pelouros: Comunicação e Relações com o Exterior Para este mandato é objetivo dar a conhecer a atividade da instituição promovendo a comunicação com o exterior e estreitando as relações com a comunidade em que estamos inseridos.

A utilização e rentabilização dos meios disponíveis para divulgar aquilo que fazemos, é fulcral para a nossa missão.

Editorial

Dr. Humberto Carneiro

Amigas e amigos povoenses, Em janeiro passado foram empossados os novos Órgãos Sociais da Misericórdia recentemente eleitos para um novo mandato de quatro anos. Cumpre-me, em nome de toda a equipa, retribuir o voto de confiança em nós depositado, com o compromisso de continuarmos a trabalhar, de forma voluntária, transparente, responsável, com espirito de equipa, com respeito pelo legado histórico e pela identidade da nossa Misericórdia, tudo num quadro de valores assentes na Doutrina Social da Igreja. É com satisfação que olhamos para trás e percebemos o trabalho que foi realizado, tudo o que foi conquistado e as dificuldades que superamos em todo este percurso, dando-nos força e determinação para continuar este caminho.

No próximo quadriénio, propomo-nos continuar a responder positivamente, como até hoje, aos permanentes desafios que nos vão sendo colocados, em especial, às necessidades da comunidade para a qual trabalhamos.

A obra de remodelação e ampliação do Hospital António Lopes, entrou na fase de conclusão. A nova ala já abriu ao público em março passado e iniciamos a obra no “velho edifício”. Estamos, também, face aos constrangimentos impostos pelas obras em curso, a implementar faseadamente alguns dos serviços previstos no Acordo de Cooperação celebrado com a ARS Norte, nomeadamente ao nível dos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica.

Ao nível da Fisioterapia já proporcionamos, em pleno, tratamentos para o exterior, nomeadamente para os benificiários do SNS (Serviço Nacional de Saúde) através de requisição médica (P1). Estamos em fase avançada de negociações para a concretização de novos protocolos com outros subsistemas de saúde (ADSE, AdvanceCare, Multicare, Médis, SAMS, entre outros) de forma a que a nossa intervenção seja alargada.

Estamos em fase de implementação do “Cartão de Saúde das Misericórdias”, cartão que proporciona um conjunto de vantagens nos serviços prestados pelas Misericórdias aderentes, em defesa da marca “Misericórdia” e no compromisso e confiança que esta marca confere. Trabalhamos, assim, na garantia de proporcionar à população um melhor serviço!

Ao nível da área social destaco o Contrato assinado no dia 29 de abril, relativo à candidatura efetuada ao Fundo Rainha D. Leonor, com objetivo de remodelar e ampliar o edifício de S. Gonçalo. Este fundo garante-nos um apoio financeiro de 196 mil euros, para obra que deverá ser executada num prazo de 6 meses, a decorrer entre julho e dezembro deste ano. Face aos trabalhos a executar, teremos de ajustar a logística desta obra à prestação do serviço de creche e jardim de forma a que este não seja comprometido. A melhoria futura das condições de trabalho e da prestação do serviço terá reflexo na satisfação dos utentes, familiares e funcionários e, por tudo isto, estamos certos que todos compreenderão os possíveis constrangimentos que se irão verificar.

Para este ano propomo-nos, ainda, a outro desafio. No dia 5 de setembro de 2017 o Hospital António Lopes celebra 100 anos. Em honra do grande benemérito e filantropo António Ferreira Lopes e em nome do seu legado à Póvoa de Lanhoso, iremos celebrar o centenário de forma condigna, com a realização de um conjunto diversificado de eventos que terão início a 05 de setembro próximo e que se prolongarão ao longo de um ano.

Queremos com esta iniciativa fomentar o cultivo pela cultura local no que respeita a este nobre povoense bem como o conhecimento da sua história.

Este ano estamos em celebração do Ano Santo, ou ano Jubilar das Misericórdias, anunciado em março de 2015 pelo Papa Francisco. Neste enquadramento as Misericórdias estão a promover um conjunto de iniciativas das quais destaco a peregrinação ao Sameiro no dia 21 de maio e a peregrinação a Fátima, no dia 25 de junho.

Aproveito a oportunidade para convidar os Irmãos desta Santa Casa a acompanhar-nos nestas celebrações.

Com os olhos no futuro, estamos conscientes dos grandes desafios que se nos colocam, mas com humildade e espírito de serviço, estamos convictos que em nome dos que mais precisam, conseguiremos ultrapassá-los.

Assim Deus nos ajude.

O provedor, Humberto Carneiro

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Abril de 2016 Santa Causa

Hospital António Lopes

HISTÓRIA DO HOSPITAL ANTÓNIO LOPES (5) Por José Abílio Coelho*

Enfermaria masculina do hospital António Lopes (1917)

O funcionamento inicial 1. Os preparativos do grande dia Quando, em 1912, António Lopes decidiu dar corpo ao seu hospital que, como já vimos, viria a ser inaugurado em 5 de setembro de 1917 e a constituir-se como a maior Coroa de Glória do grande filantropo povoense, não o fez sem antes se ter rodeado de um grupo de conselheiros de grande conhecimento técnico-científico. Saber escolher bons especialistas para os aconselharem nas mais diversas áreas foi sempre a chave do sucesso dos grandes líderes, e António Lopes era-o, sem qualquer sombra de dúvida. Entre todos aqueles a quem solicitou apoio, os mais importantes foram, inequivocamente, alguns médicos que contava entre os seus muitos amigos, quer na Póvoa de Lanhoso, quer fora dela.

Dentre os facultativos povoenses a quem António Lopes não deixou de ter constantemente por perto, pedindo-lhe opinião sobre tudo o que respeitava ao projeto do hospital, destaque-se o Dr. Lino Vieira. Natural da quinta da Serzeda, de Águas Santas (Póvoa de Lanhoso), onde nasceu em 1851, e formado pela escola médico-cirúrgica do Porto, o clínico Lino António Vieira era um profissional distinto e admirado, desempenhando, à época, os cargos de subdelegado de saúde concelhio e de partidista da câmara municipal, bem como a clínica privada, na casa onde morava, no Largo do Amparo.

Este médico estava, aliás, talhado para ser o primeiro diretor clínico do hospital. Uma doença fulminante que o atacou poucos dias depois de enviuvar e o matou a 29 de outubro de 1913 liquidou, porém, essa hipótese. Mas a ele se devem os primeiros e talvez mais importantes conselhos seguidos por António Lopes para que a unidade de saúde que construiu na Póvoa de Lanhoso fosse, na verdadeira aceção do termo, um “hospital moderno”. A escolha do terreno, de reconhecida salubridade, e a colocação do hospital, virada a sul, com entrada de sol durante quase todo o dia, foram algumas das sugestões dadas pelo Dr. Lino Vieira, certo da velha máxima: “A luz do sol deve ser o primeiro ‘médico’ a entrar-nos porta adentro logo ao nascer do dia”.

Apenas como motivo de reflexão, diga-se muito de passagem que, durante as idades média e moderna, os hospitais – excluindo, obviamente, os chamados “hospitais gerais”, instalados nas grandes urbes – eram, quase todos, de pequenas dimensões, tendo por vezes apenas duas ou três camas. Entre estes existiam os pertencentes à Coroa, a particulares, alguns a municípios e a grande maioria, após 1498, às Santas Casas, que neles praticavam a então segunda obra de Misericórdia: Assistir os enfermos. A maioria destes hospitais, albergarias ou gafarias não tinham, sequer, até meados do século XIX português, como missão “curar”, antes agasalhar velhos pobres em fim de vida, peregrinos em viagem ou doentes sem família.

Para o filósofo e historiador francês Michel Foucault foi a partir dos finais do século XVIII que o paradigma se alterou-se completamente, primeiro em grandes cidades como Paris, Plymouth ou Liverpool, sendo, por essa altura, que o hospital passou a ser olhado como “um instrumento destinado a curar” .

Esta nova atitude concetual, que em Portugal se desenvolveu especialmente a partir da centúria de oitocentos quer com a formação de grande número de médicos após a criação das escolas médico-cirúrgicas de Lisboa e do Porto (1825), quer com o desenvolvimento da medicina higienista, quer, ainda, com a construção de novos edifícios tendo por base as novas conceções de distribuição do espaço, dentre os quais se pode destacar o Hospital de Santo António, da Misericórdia portuense (1769-1832), levou António Lopes e erigir o seu hospital com base nos conceitos científicos mais evoluídos à época, em Portugal. Construiu, assim, um edifício pavilhonar, que permitia a separação dos doentes por género e por patologia, composto por quatro blocos distintos, ligados por passadiços cobertos mas lateralmente arejados, que permitiam uma melhor assepsia. Locais de convívio, solários, jardins para passeios dos doentes, maternidade, salas para consultas em ambulatório, enfermarias para homens e mulheres e uma área reservada a doentes do foro pulmonar, juntavam-se a áreas de cozinha e de refeitório distintas.

Dr. Lino Vieira médico e conselheiro de António Lopes

2. O internamento Embora o hospital dispusesse de alguns poucos quartos privados para aqueles que podiam pagar cirurgias e internamentos, a maioria esmagadora dos doentes atendidos eram cidadãos pobres que, para serem aceites, ou tratados em ambulatório, tinham, desde o primeiro dia de funcionamento da unidade de saúde, de apresentar “atestado de pobreza”. Eram estes emitidos pelas juntas de paróquia, párocos e, mais tarde, pelas juntas de freguesia e pelos regedores. Para estes doentes possuía a unidade de saúde duas grandes enfermarias, uma destinada aos do sexo masculino outra aos do sexo feminino. Cada uma das enfermarias tinha capacidade máxima de 15 camas. O hospital dispunha ainda de uma maternidade (nela nasceram gerações de povoense, até o Estado a encerrar já depois da “nacionalização” do edifício e da sua integração no SNS), de um bloco de operações do mais moderno que existia à época, de sala de raios-x e de balneário, que traziam a procurar os serviços da casa muitas centenas de doentes em cada ano.

Quando se encontrava na Póvoa de Lanhoso (dado que grande parte do ano residia no seu palacete de Lisboa), António Lopes visitava diariamente o hospital, para se inteirar das boas condições em que os doentes eram atendidos e tratados. Ao diretor-administrativo, João Albino de Carvalho Bastos, recomendava sempre que nada faltasse ao hospital, que custeava exclusivamente do seu bolso. Não devemos esquecer-nos do tempo difícil que então se vivia. O hospital foi inaugurado ainda em plena I guerra mundial e António Lopes sustentou-o durante uma década, até ao seu falecimento em 22 de dezembro de 1927. Pelas fichas clínicas que a Santa Casa possui no seu arquivo, sabemos que a muitos dos internados era diagnosticada, como causa principal do internamento, “a fome”.

3. O quadro de pessoal Desde a primeira hora, António Lopes quis dotar o seu hospital de um quadro técnico de excelência. O diretor-administrativo era o principal responsável por todo o funcionamento, o qual só não decidia nas questões científicas, que eram da inteira responsabilidade dos médicos.

O serviço médico era prestado por dois partidistas da câmara a quem era paga uma parcela do ordenado, sendo-lhes ainda permitido utilizar os consultórios da unidade para estes atenderem os seus doentes privados, contribuindo, das verbas aí recebidas, com uma percentagem (20%) para o hospital. Tinha, para além deles, várias enfermeiras, pertencentes à ordem das Franciscanas Hospitaleiras. Como à época a lei portuguesa não facilitava o desempenho da profissão às enfermeiras das ordens religiosas, as que para cá vieram deslocaram-se desde a Galiza. Um ducheiro, vários ajudantes de enfermaria, cozinheira, pessoal de apoio e um porteiro, eram os restantes empregados do quadro do hospital

*Historiador. Coordenador do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

Abril de 2016 Santa Causa

Hospital António Lopes

Hospital António Lopes

abriu nova ala ao público

N

o passado dia 08 de março abriu ao público a nova ala do Hospital António Lopes. A entrada passou a fazer-se pela Rua da Misericórdia por forma a que as obras prossigam, agora na remodelação do “velho edifício”.

Atualmente estão em funcionamento o Piso 0 com a Medicina Física e de Reabilitação e o Piso 1 onde está em funcionamento o Serviço de Atendimento e a Consulta Externa. Em breve espera-se que a mudança ocorra no Piso 2 correspondente ao serviço de internamento em medicina/ cirurgia.

Com esta obra a unidade hospitalar passará a apresentar melhores condições de trabalho e de prestação do serviço. Permitiu também a obtenção de um Acordo de Cooperação mais alargado e com claras vantagens para a comunidade no que se refere às respostas ao nível de Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT’s), Consultas e Cirurgias. Lembre-se ainda que com isto o Hospital António Lopes é convertido a hospital do SNS (Serviço Nacional de Saúde) podendo os utentes aceder a estes serviços via referenciação pelo Médico de Família. Desde janeiro que passámos também a usufruir de Consulta de Atendimento Permanente em regime de complementaridade com o Centro de Saúde, possibilitando assim uma resposta mais alargada à nossa população.

Ao nível dos MCDT’s ainda não estão em funcionamento todas as especialidades, mas estamos a tomar todas as diligências necessárias para que o mais breve possível estas respostas sejam dadas.

SCM Póvoa de Lanhoso com reconhecimento de qualidade EQUASS F

ruto do projeto promovido pela União das Misericórdias Portuguesas, a Misericórdia da Póvoa de Lanhoso iniciou em 2013 a implementação de um novo Sistema de Gestão da Qualidade ao abrigo da norma EQUASS - European Quality in Social Services, nas suas valências sociais. Esta nova norma veio complementar o trabalho já executado e certificado pela norma ISO 9001 reforçando a qualidade dos serviços prestados nestas valências.

Após um período de implementação e maturação, em novembro do ano passado a instituição foi auditada ao abrigo desta norma tendo recentemente recebido o certificado de conformidade com data de validade até 15 de dezembro de 2017.

A Misericórdia alcança assim mais uma meta, com selo de qualidade!

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Abril de 2016 Santa Causa

Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

Santa Casa – 2015 em balanço de atividade

O

sucesso de uma atividade ou de uma instituição está determinado e condicionado a um conjunto de fatores. O uso de instrumentos de planeamento e avaliação como ferramentas de trabalho são metodologias determinantes para uma gestão estratégica eficaz e equilibrada de uma instituição. O relatório de atividades é um documento de avaliação elaborado anualmente, mas com avaliações mensais, e que tem como objetivo fazer um balanço relativo ao ano de 2015 avaliando as atividades realizadas e o impacto que as mesmas tiveram na instituição. Esta análise é efetuada com base no Plano anual de atividades para o ano de 2015, documento estratégico trabalhado por todas as valências e serviços da instituição.

Do ano de ano de 2015 destaco o alcance da certificação de qualidade ao abrigo do referencial normativo EQUASS – European Quality in Social Services, marco no Sistema de Gestão da Qualidade implementado na instituição. A qualidade é o reflexo do trabalho e empenho que todos os funcionários e colaboradores investem na sua atividade e que se traduz na satisfação dos utentes e na melhoria contínua do serviço prestado. No entanto, o ano de 2015 merece realce em outras atividades, nomeadamente: Institucional - Aprovação da atualização do Compromisso da Misericórdia, determinada pela entrada em vigor do Decreto-lei 172-A/2014. O Compromisso foi aprovado em Assembleia Geral de Irmãos, tendo posteriormente sido remetido à Cúria Arquiepiscopal de Braga, que o aprovou por Decreto de 6 de outubro de 2015 na competência de Autoridade Eclesiástica diocesana; - Continuidade à obra de remodelação e ampliação do Hospital António Lopes (HAL) dotando-o de melhores condições de trabalho e de prestação de cuidados.

Sustentabilidade - Alteração do Acordo de Cooperação do HAL convertendo-o em hospital do SNS (Serviço Nacional de Saúde), em plano de igualdade com os hospitais da rede pública. Este novo Acordo de Cooperação permite o acesso de utentes do SNS, por via do respetivo Médico de Família, a consultas, cirurgias e Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT’s) de algumas especialidades; - Aprovação de alguns projetos, nomeadamente o ON2 e o Fundo Rainha D. Leonor. O ON2 – O Novo Norte, que teve como objetivo obter verbas para cofinanciamento da obra ULDM – Unidade de Longa Duração e Manutenção D. Elvira Câmara Lopes num valor que pode ir até 1,206 milhões de euros. O Fundo Rainha D. Leonor, criado pela SCM de Lisboa e pela União das Misericórdias Portuguesas, com objetivo de financiamento, a fundo perdido, da obra de remodelação e ampliação do edifício de S. Gonçalo.

Comunidade A ação da Misericórdia da Povoa de Lanhoso é direcionada para a comunidade em que está inserida. Procuramos responder aqueles que mais necessitam através de recursos internos ou externos, primando pelo cuidado, atenção e privacidade do utente. É possível perceber ainda o papel que a instituição desempenha, pelas ações que vai tomando e pelas respostas que vai dando às necessidades dos utentes e comunidade em geral: - Refeições fornecidas pela Cantina Social: como resultado das fragilidades que muitas famílias povoenses atravessam, resultantes, em grande medida, da falta de emprego, tem-se verificado maior procura para esta resposta. Em 2015 a SCMPL serviu 33.298 refeições; - Apoio a famílias carenciadas pelo programa FEAC: Em 2015 foram apoiadas 707 pessoas (279 agregados familiares); - Pingo Doce: No ano de 2015 a SCMPL apoiou cerca de 11 famílias neste âmbito; - Fornecimento de refeições a pessoas referenciadas pelo SIGO (Serviço para a Promoção da Igualdade de Género) ou CPCJ (Comissão de Proteção de Jovens e Crianças em Risco); - Dinamização do desfile de Carnaval que além de contar com os utentes e funcionários da SCMPL, também conta com elementos de outras entidades convidadas e é sempre um momento de festa e convívio para a grande quantidade de pessoas que a ele assiste; - Participação em atividades promovidas pelo concelho, nomeadamente: Eco Espantalhos por parte do CATL; desfile etnográfico onde participam diversas instituições do concelho; procissões de S. José e N. Sr.ª do Pilar; Visita Pascal à SCMPL (elaboração do arco; receção das cruzes da vila); concurso de exposição de Maios; Comemorações diversas com outros idosos do concelho, incluído o Magusto que foi realizado no Lar; participação em atividades do projeto “bem envelhecer” em parceria com a EAPN; - Redução de mensalidade em casos específicos de necessidade; - Revisão das Tabelas de Comparticipação da infância por forma a não penalizar os Encarregados de Educação com a aplicação da Circular nº4/2014 que altera o regime de Comparticipação Familiar.

Qualidade - Certificação EQUASS (European Quality in Social Services) das valências sociais: Esta nova norma veio complementar o trabalho já executado e certificado pela norma ISO 9001, reforçando a qualidade dos serviços prestados nestas valências. Após um período de implementação e maturação do Sistema, em novembro do ano passado, a instituição foi auditada ao abrigo desta norma, tendo recentemente recebido o certificado de conformidade com data de validade até 15 de dezembro de 2017; - Avaliação da satisfação: Inserida na prática e em cumprimento com os requisitos de qualidade dos referenciais normativos pelos quais estamos certificados, a avaliação da satisfação e a adotação de procedimentos que garantam a satisfação do utente/cliente é um dos princípios que norteia o serviço que prestamos. Assim, anualmente procuramos perceber em que medida essa satisfação é garantida. Esta informação e esta perceção são obtidas através de questionários mas também através de testemunhos, elogios, reclamações, sugestões bem como através de outros instrumentos incorporados na nossa prática de trabalho. Considerando os resultados relativos ao ano de 2015, verifica-se que em termos gerais o público que nos procura está satisfeito com o serviço que prestamos.

Resultado da avaliação da satisfação – 2015 Inquiridos

Grau de satisfação

Valências sociais

88,0%

Valências da saúde

90,9%

Parceiros + Entidade financiadora

90,0%

(1) Considera-se como “satisfeito” as respostas dadas com uma classificação de “bom” e “muito bom”.

- Acolhimento de estágios através de protocolos já existentes ou de outros, para integração nas diversas valências da instituição. Em 2015 foram acolhidas 27 pessoas para estágio, mais 7 que no ano anterior.

- Relativamente ao ano de 2015 verifica-se que num universo de 452 Planos Individuais trabalhados nas valências sociais, 75% dos utentes atingiram 100% dos objetivos a que se propuseram alcançar, contribuindo assim para uma melhoria da sua qualidade de vida. Isto reflete-se no Índice de Qualidade de Vida das valências sociais (Índice obtido através de escalas/questionários de Qualidade de Vida) que no ano de 2015 foi de 73,4%.

Sónia Fernandes Responsável da Qualidade

(2) Os resultados apresentados baseiam-se na análise dos questionários relativos a uma amostra da população inquirida.

Alcance dos objetivos definidos em Plano Individual e Índice de Qualidade de Vida – 2015 Valência

Alcance dos objetivos

Índice de Qualidade de Vida

Amostra

Resultado

Amostra

Resultado

Infância

360

74,2%

310

77,7%

Sénior

92

78,3%

96

69,0%

Total/Média

452

75,0%

406

73,4%

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Abril de 2016 Santa Causa

Higiene, Segurança E Saúde No Trabalho

Movimentação Manual de Cargas “Prevenir é agir corretamente, em tempo útil” O que é a movimentação manual de cargas?

A movimentação manual de cargas é qualquer uma das seguintes actividades, executada por um ou diversos trabalhadores: levantar, agarrar, abaixar, empurrar, puxar, transportar ou deslocar uma carga.

De que forma a movimentação manual de cargas pode afectar a saúde dos trabalhadores?

- Danos cumulativos devidos à deterioração gradual e cumulativa do sistema músculo-esquelético em resultado de actividades contínuas de elevação/movimentação, por exemplo, dores lombares; - Traumatismos agudos, como cortes ou fracturas, devidos a acidentes

Os riscos de lesões lombares aumentam se as cargas forem?

- Demasiado pesadas: 20kg para mulheres e 25kg para homens; - Demasiado grandes: não é possível observar as regras básicas de elevação e transporte; - Difíceis de agarrar: pode fazer com que o objecto escorregue e provoque um acidente; - Desequilibradas ou instáveis: causam a distribuição irregular da carga pelos músculos e cansaço; - Difíceis de alcançar: se para alcançar a carga for necessário esticar os braços, dobrar ou torcer o tronco; - De forma ou dimensão que limite a visão do trabalhador, aumentando, assim, a possibilidade deste escorregar/tropeçar, cair ou colidir; Técnicas corretas de movimentação: Antes de levantar/transportar uma carga, deve planificar e preparar-se para a tarefa.

1º

2º

Atenção à posição do corpo.

Mantenha as costas direitas

Deve certificar-se de que: - Sabe para onde vai; - A área para onde se dirige está desimpedida de obstáculos; - Se vai levantar a carga com outra pessoa, ambos sabem como proceder antes de começarem

Eliana Fernandes Técnica Superior de HSST

3º

Apoie os pés firmemente

Dobre as ancas e os joelhos ao agarrar a carga.

4º

5º

Separe os pés a uma distância aproximadamente de 50cm

7º

Não levante uma carga pesada acima da cintura num só movimento

Mantenha a carga tão próxima do corpo quanto possível

8º

Aproveite o peso do corpo de forma efectiva para emprurrar ou deslocar os objectos

6º

Mantenha os braços juntos ao corpo e o mais esticado possível

9º

Quando as dimensões da carga o aconselhem, peça ajuda a um companheiro

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Em destaque SCMPL

SANTA CASA EM FESTA A Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, na sua diversidade valencial, vai dinamizando diversos eventos e atividades de animação e lazer aos seus utentes. As atividades de animação são na sua essência, vida e ação. O estímulo à participação em atividades culturais desperta a capacidade criadora de cada indivíduo. É uma forma de enriquecimento pessoal e coletivo, é um modo de desenvolvimento comunitário, tendo em vista a felicidade e qualidade de vida.

Festas de Natal das valências de infância e sénior

Concerto de Natal

Utentes de ERPI em jogo de Boccia

Cerimónia de Tomada de Posse dos Corpos Gerentes para o Quadriénio 2016 - 2019

Desfile temático das valências sociais “Quando for grande quero ser…”

Desfile temático das valências sociais “Quando for grande quero ser…”

Grupo de Cavaquinhos atua na ERPI S. José

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Desfile temático das valências sociais “Quando for grande quero ser…”

Atividades de convívio intergeracional

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Valências Sociais

“Ter ideias para mudar o mundo“

(Rui Nabeiro. 2009)

“Entendo que o empreendedorismo é o caminho do futuro, num mundo cada dia mais competitivo em termos globais, e assim, a inovação será o contributo fundamental para o desenvolvimento” Este título apelativo faz nos pensar…

Na atividade da educação pré-escolar conceitos como: ideia e respeito pela individualidade da criança e das suas ideias são adotados diariamente no desenvolvimento de atividades e na implementação de projetos que vão de encontro aos interesses e necessidades da criança. É muito importante ensinar a criança a saber escutar, ter ideias, saber partilhar e colocar a sua ideia em prática.

A SCMPL foi convidada a integrar o projeto “ter ideias para mudar o Mundo”, dinamizado pelo Centro Educativo Alice Nabeiro, entidade de reconhecimento nacional e internacional.

Considerando um interesse de futuro este projeto incide no treino para o empreendedorismo em crianças dos 3 aos 12 anos de idade.

“Empreender” é uma forma de fazer as coisas que se aprende e de traçar um caminho. Ninguém nasce empreendedor, aprende-se praticando a ser empreendedor. As pessoas empreendedoras preocupam-se em desenvolver soluções para as necessidades das pessoas que estão à sua volta (os seus colaboradores, cidadãos, amigos) de uma forma prática e inovadora. Os projetos empreendedores partem da união das pessoas que trabalham para alcançar um mesmo objetivo.

Os empreendedores desejam liderar uma mudança e comprometem-se a fazê-lo.

O ponto de partida deste projeto de empreendedorismo na infância consiste em estimular a produção de ideias ou projetos empreendedores. Pretende-se que as crianças aprendam a produzir e a visualizar uma ideia ou um projeto que poderão concretizar. A ideia desenvolve-se agrupando crianças com ideias semelhantes (“Grupo de Projeto”) de forma a que comecem a trabalhar de forma cooperativa nas suas ideias (ex: construir um castelo, promover uma exposição de pinturas ou até criar novas áreas de trabalho na sala de atividades - área das poções mágicas). Todos os projetos terão sempre presentes o desenvolvimento de capacidades investigativas na criança respondendo a questões que os projetos levantem (ex: quem vivia nos castelos, realizar visitas de estudo a um castelo, analisar os trajes utilizados numa determinada época, etc).

Para a concretização e sucesso deste projeto a escuta ativa é muito importante. Saber escutar o outro e a sua ideia e saber partilhar e dar a conhecer as ideias e os projetos de todas as crianças

é fundamental para que crianças com ideias e projetos semelhantes se liguem e partilhem de forma a desenvolver o diálogo, as conversas e os compromissos entre si. É fundamental que as crianças que se transformarão em pessoas empreendedoras, aprendam a identificar, distinguir, controlar, estimular e neutralizar os estados de espírito negativos. Os estados de espírito positivos ativam a pessoa para a ação e os negativos bloqueiam a ação e dificultam a progressão do projeto. É importante aprender a transmitir o projeto, a criança deverá ser capaz de transmitir o seu projeto aos seus pares e mesmo comunidade envolvente, num ambiente de escuta ativa.

O trabalho de equipa é muito importante no desenvolvimento de capacidades empreendedoras para a realização de projetos. Precisamos de aprender a trabalhar com os colaboradores. Como exemplo, no projeto da sala dos 4 anos “astronautas sonhadores” trabalhou-se em colaboração e parceria com alguns elementos: com os encarregados de educação nas pinturas de adereços; com outras equipas de funcionárias na elaboração de fatos e com o departamento de instalações e equipamentos da Misericórdia, na construção de um foguetão.

Esta experiência pretende enriquecer as práticas pedagógicas realizadas na Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso já assentes numa metodologia de projeto.

A aplicação do Manual “ter ideias para mudar o mundo” teve como experiência piloto a sala dos 4 anos do edifício N. Sr.ª da Misericórdia mas que a médio / longo prazo é objetivo implementar em todas as salas pois pretendemos que “ser empreendedor” seja um conceito familiar a todos os nossos utentes.

Bibliografia Ter ideias para mudar o Mundo Manual para treinar empreendedorismo em crianças dos 3 aos 12 anos Autoria Centro Educativo Alice Nabeiro. 2009

Ângela Rodrigues Coordenadora da Creche/Jardim de Infância N. Sr.ª da Misericórdia; Mediadora do projeto na SCMPL

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Valências Sociais

Atividades intergeracionais uma partilha de emoções N

uma altura em que a estrutura e as relações familiares têm sofrido grandes mudanças, e consequentemente o afastamento das gerações, a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso aposta nas atividades intergeracionais, pois acredita que estas atividades têm um enriquecimento mútuo.

Os mais velhos têm uma função de transmissão de saberes e conhecimentos, os mais novos podem transmitir conhecimentos e proporcionar momentos de bem-estar.

As atividades intergeracionais podem evitar o isolamento, fazer com que se recuperem memórias, valorizar a auto estima dos mais velhos, e dignificar a figura do avô.

Deste modo, e de modo a ajudar a envelhecer criativa e ativamente, este ano a Valência ERPI S. José intensificou as atividades intergeracionais, promovendo atividades culturais e educativas com todas as faixas etárias das Valências da Infância, com o objetivo de reforçar a partilha de valores e conhecimentos entre as gerações.

As atividades têm tido um caracter mensal e definidas por temas. Até agora, as temáticas abordadas foram os Reis, Dia dos Namorados/Amizade e Páscoa.

momento de troca de experiências com os idosos, como também permitiu vivenciar momentos onde os afetos estiveram presentes. Ainda de realçar a abordagem de valores essenciais para a vida”.

A sala dos três anos do edifício N. Srª da Misericórdia participou na atividade de decoração do Arco da Páscoa da ERPI S. José, segundo a educadora, “Esta atividade proporcionou a vivência de valores, pelo que é importante incentivar as nossas crianças à amizade, à partilha e ao respeito, porque estes valores não se aprendem nos livros, vivem-se. As crianças falam dos idosos como seus amigos.

As crianças manifestaram na sala de atividades o desejo de voltar”.

Estas atividades têm um enriquecimento mútuo, acreditamos que este contacto e esta proximidade estre as gerações possibilita um maior conhecimento para todos, bem como, pode ajudar a desmistificar o papel do idoso, valorizando assim, o seu contributo na sociedade.

Em janeiro um grupo de seniores deslocou-se às escolas públicas para cantar as janeiras às crianças do prolongamento e CATL, desejando-lhes um bom ano, foi um momento de grande alegria e partilha.

Como forma de assinalar o dia dos namorados/amizade, as crianças da sala dos 4 anos do edifício S. Gonçalo receberam, com muita alegria, um grupo de utentes da ERPI S. José, os mais pequenos representaram uma peça de teatro. Segundo a educadora “a atividade foi muito enriquecedora para a infância, pois constituiu um

Aurora Silva Animadora Social das valências sénior

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Valências Saúde

Do Outro Lado da Doença...

A família tem uma papel central na saúde e na doença, sendo um dos elementos fundamentais a envolver na prestação de cuidados e a ter em conta nos seus vários níveis, não sendo possível substituir e/ou sobrepor-se ao seu papel.

família será também garantir a continuidade de prestação de cuidados com qualidade.

Quantos foram os que com lágrimas partilharam o seu sentimento de desespero, revolta, impotência, por nada conseguir fazer pelo seu pai, mãe, avó, avô, tio, tia, amigo....

Quando alguém adoece, o sistema familiar onde se encontra inserido vai reagir, lidar e adaptar-se ao processo de doença e, tal como tem vindo a ser realçado pelos vários estudos, tal como o doente, a família manifesta reações emocionais e psicológicas as quais muito se assemelham às vivenciadas do seu familiar portador da doença, sendo os níveis de sofrimento, também eles muito próximos.

Sentimentos de culpa, ambivalência, surgem pela perda iminente e por não tolerar presenciar o sofrimento de quem se ama e não querer cair no egoísmo.

Quantas lágrimas foram partilhadas pelos familiares daqueles que na sua demência, não lembraram o seu nome, e perderam com a sua doença, a sua identidade, memórias, vivências...

Outros dados têm vindo a ser realçados, que o sistema familiar tem impacto no modo como o doente lida, perceciona e reage à sua doença, interferindo, de igual modo, na qualidade de vida e na prestação de cuidados prestados.

Jamais se esquece o sorriso do filho que ao chegar, a mãe não lembrara do nome, mas que depois de apoiada na sua memória, busca o seu amor e diz- “ És o meu amor, és o meu menino mais novo...”.

Ainda que vivenciando problemáticas diferentes, família e doente confrontam uma situação de crise que veio abalar o equilíbrio e segurança familiar, implicando perdas, adaptações, aprendizagens, redistribuição de papeis, o ter de assumir novas tarefas, manter o funcionamento familiar, ainda que com a falha de um dos elementos o qual necessita de cuidados acrescidos pela fragilidade da sua doença, sobrecarregando a dinâmica familiar, a qual na Sociedade Moderna se resume a uma família reduzida, com baixa retaguarda, o que vem aumentar os níveis de stress e burden (sobrecarga dos cuidadores) manifestados.

Quantos foram os que impedidos pelas vicissitudes da suas vidas e pela falta de recursos de apoio, partilharam a revolta e frustração de não estar, de não conseguir levar o seu familiar para casa e em equipa refletimos, tentando chegar ao melhor, quando este (doente) jamais estava nas suas capacidades para tomar as suas decisões.

No âmbito dos cuidados continuados e numa Unidade de Longa Duração e Manutenção, a família é entendida como sendo um dos elementos da equipa, mas também um alvo de intervenção que carece de cuidado e atenção.

A família, junto da equipa ajuda a humanizar e direcionar os cuidados para o doente e suas vontades, permite personalizar os cuidados e ir ao encontro das especificidades e dar continuidade às histórias pessoais e familiares. Permite, saber como cuidar, e como dar resposta para o que não temos resposta ou terapêutica, sendo o melhor analgésico (ainda que este seja necessário) e tal como ele, também com efeitos secundários adversos.

A família é sem dúvida o elemento chave na prestação de cuidados, no entanto, jamais devem ser descuradas as suas necessidades, para que estes possam fazer cumprir as suas funções e papéis. São elementos chave no apoio às famílias a validação das suas necessidades, sendo também necessário mobilizar os apoios para que possam cuidar dos seus familiares, sendo insubstituível e necessária ao longo do percurso e processo da doença.

Do outro lado da doença existe também um outro sentir, uma doença que afeta um sistema e que metastiza...

Só a família conhece a essência do ser e sentir do doente, no entanto, a sua vivência tem impacto no doente, sendo necessário também cuidar da família para que os efeitos adversos não sejam sentidos e não interfiram na qualidade e bem-estar de ambos. A família necessita de ser ouvida, entendida, apoiada, orientada, esclarecida e aceite para que com segurança esteja capaz de dar continuidade e assegurar a prestação de cuidados. No entanto, não pode ser assumido como prioridade de segundo plano a saúde mental dos familiares/cuidadores, pois o cuidar da

Cristiana Lopes Psicóloga

Comissão de Controlo de Infeção

na SCMPL A

s infeções adquiridas por doentes no decorrer da prestação de cuidados de saúde, não sendo frequentes, são uma realidade. Estas englobam todas as infeções adquiridas em consequência dos cuidados de saúde prestados, quer a nível hospitalar quer em regime de ambulatório, e são denominadas de Infeção Associada aos Cuidados de Saúde (IACS). De uma forma genérica, estas infeções serão todas as adquiridas após a admissão do doente e que se manifestem durante o seu internamento ou mesmo após a alta, desde que possam ser relacionadas de forma mais ou menos evidente com a hospitalização.

As IACS podem acontecer por vários motivos: devido ao próprio estado de doença, que deixa o indivíduo mais susceptível ao aparecimento de infeções; devido à realização de procedimentos invasivos, que facilitam a entrada de microorganismos no corpo do doente; ou até devido à limpeza ou assépsia inadequada e ao não cumprimento de medidas preventivas por parte dos profissionais que prestam cuidados.

A conjugação de todos estes fatores faz com que o conceito de IACS seja bastante abrangente, englobando as várias unidades prestadoras de cuidados de saúde, os cuidados mais ou menos diferenciados prestados em cada uma delas, os profissionais que nelas exercem funções e os próprios doentes.

Os três primeiros destes fatores representam as variáveis que, de alguma forma, se podem controlar, e é sobre estes que vão incidir as atenções dos grupos de controlo de infeção associada aos cuidados de saúde.

Na sequência de estudos internacionais que demonstram que cerca de um terço das infeções adquiridas no decurso da prestação de cuidados seriam evitáveis, foi preconizado que todos os hospitais têm que ter uma Comissão de Controlo de Infeção (CCI), cujo objetivo principal é a prevenção e o controlo da infeção cruzada, isto é, tentar impedir o aparecimento das infeções que seriam evitáveis, associadas à prestação de cuidados de saúde.

A comissão de Controlo de Infecção (CCI) é um órgão de acessória técnica de apoio à gestão, na área da prevenção e controlo de infecção, constituindo um recurso com autonomia técnica e executiva para a implementação do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infecção Associada aos cuidados de Saúde (PNCI). (Diário da Republica n.156,2ªsérie, 14 de Agosto de 2007) Estas equipas, multidisciplinares (médicos, enfermeiros e outros técnicos de saúde), dirigem o foco da sua actividade para a optimização dos recursos e implementação de estratégias preventivas, sempre de acordo com a realidade de cada hospital ou instituição e tendo em conta as directrizes da DGS. Este órgão, que se rege pelas disposições estabelecidas no despacho do Diretor-Geral de Saúde de 23/08/1996, publicado no Diário da República n.º 246, II Série, de 23/10/1996, é considerado um órgão consultivo dentro da logística hospitalar, e é dotado de autoridade institucional e autonomia técnica na definição das estratégias para prevenir e controlar as Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde.

Considerando que, existe evidência que Portugal é um dos países da União Europeia com uma das mais elevadas taxas de infeção associada aos cuidados de saúde, que a nossa prática de prescrição antibiótica apresenta dismorfias passíveis de correção, que a taxa de resistência a antimicrobianos é preocupante, e a perceção de que todos estes problemas estão intimamente relacionados e têm de ser abordados de forma global e integrada. Foi determinada a criação do programa de saúde prioritário, o Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), pelo Despacho n.° 2902/2013 de 22 de Fevereiro, publicado no Diário da República, n.° 38, de 22 de fevereiro de 2013, sendo assim objeto de fusão o Programa Nacional de Controlo de Infeção com o Programa Nacional de Prevenção das Resistências aos Antimicrobianos.

A sua atividade pode resumir-se em 5 pontos-chave: • Desenvolver atividades de vigilância epidemiológica de estruturas, de processos e resultados; • Elaboração e implementação de políticas, procedimentos e recomendações de boas práticas; • Formação e informação dos profissionais de saúde, visitas e doentes; • Corrigir/ promover boas práticas de utilização de antibióticos; • Consultadoria e apoio.

Em suma, a importância do PPCIRA reside, precisamente, no fato de permitir conjugar esforços no sentido de “evitar o evitável” no que concerne ao risco de infeção, contribuindo de forma decisiva para crescentes ganhos em saúde.

Esta é uma área de especial interesse para a Santa Casa da Misericórdia da Povoa de Lanhoso, uma vez que tem a seu cargo uma vertente da saúde importante, prezando pelo bem estar do utente, bem como a sua confiança nesta instituição.

Demos inicio recentemente à CCI desta instituição, com o principal objectivo de complementar ainda mais a prestação de cuidados perante a comunidade povoense, transmitindo segurança e serviços de qualidade. Cada vez mais o nosso “pequenino” Hospital se torna maior, sendo imperativo a criação de normas e procedimentos, que respondam às necessidades/ problemáticas atuais, sendo um desafio constante a melhoria contínua dos cuidados de saúde prestados pelos profissionais de saúde.

Fátima Rodrigues Enfª Coordenadora, Elemento do Grupo Executivo da CCI

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Valências Saúde

BOLETIM DA FARMÁCIA

A Farmácia recomenda e esclarece Ansiedade e depressão Ansiedade e depressão costumam ter sintomas confundidos. Mas, apesar de serem dois distúrbios emocionais aparentemente parecidos, são bem diferentes um do outro. É fundamental conhecê-las antes de tirar conclusões precipitadas e iniciar um tratamento que pode não ser o mais indicado.

Quando é ansiedade?

Experimentar sentimentos de ansiedade é algo perfeitamente normal em vários momentos de vida. O problema acontece quando essa sensação de nervosismo passa a ser cada vez mais constante, tomando grandes proporções e passando, assim, a controlar a nossa vida.

Outros sintomas como medo, ataques de pânico em situações que outras pessoas encaram normalmente e o sentimento de desconforto constante também podem ser encarados como excessivos. Assim, ansiedade não é apenas sentir-se preocupado ou em stress. É quando as preocupações se tornam excessivas, e o medo irracional mesmo em situações comuns do dia-a-dia.

Estas manifestações interferem com as actividades diárias, são difíceis de controlar e podem durar muito tempo. Os sintomas podem manifestar-se na infância, na adolescência e manterem-se na vida adulta. Quanto mais cedo pedir ajuda mais provável será a recuperação.

A ansiedade geralmente manifesta-se pelos seguintes sintomas: - Sentir-se preocupado, apreensivo; - Sentir-se incapaz de resolver situações do dia-a-dia; - Sentir o coração a bater muito rápido; - Suar frequentemente em repouso; - Sentir os membros a tremer; - Ter dificuldade em dormir; - Sentir cansaço e fraqueza sem explicação; - Tristeza exagerada.

Quando isto acontece deve pedir ajuda a profissionais de saúde. Estes podem aconselhar, orientar e informar os doentes e encaminha-los para o tratamento. Sintomas de gravidade moderada podem ser controlados apenas com mudanças nos hábitos e técnicas de auto-ajuda.

Sintomas de maior gravidade necessitam de psicoterapia e/ou medicamentos.

Medidas não farmacológicas a adoptar: Resolver conflitos que possam surgir; Manter o convívio com familiares e amigos; Manter um estilo de vida saudável com actividade física regular; Eliminar o consumo de álcool e outras drogas; Reduzir o consumo de álcool e tabaco; Garantir as horas de sono.

Quando é depressão?

As mudanças de humor fazem parte dos sintomas de ambas as condições, com a diferença de que numa pessoa depressiva, elas vêm acompanhadas de emoções como tristeza, falta de esperança em relação a tudo e a todos, desespero constante e raiva. Tudo isso vai consumindo o emocional do doente, fazendo com que seus níveis de energia fiquem muito baixos. E o resultado é um quadro muito semelhante ao da ansiedade exagerada: falta de vontade fazer tarefas diárias e perda total do interesse em tudo o que antes sentia prazer em fazer. É possível ter ansiedade e depressão ao mesmo tempo?

Sim. Aliás, isso é muito comum. Embora ninguém saiba exatamente o porquê, um grande número de pessoas que sofrem de depressão também sofre de distúrbio de ansiedade.

O que devo fazer?

Ser ansioso e deprimido ao mesmo tempo é um tremendo desafio. Os médicos têm observado que quando a ansiedade ocorre em conjunto com a depressão, os sintomas de ambos os distúrbios ficam mais graves do que quando acontecem de forma independente. Além disso, os sintomas da depressão levam mais tempo para serem curados, tornando a doença crónica e mais resistente ao tratamento. Quando a depressão e a ansiedade agem em conjunto, a taxa de suicídio fica muito mais elevada do que quando a depressão age sozinha. Devido à dificuldade em diagnosticar esses transtornos, é importante conversar com o médico franca e abertamente.

Geralmente a prescrição de anti-depressivos costuma ser o mais usual e o tratamento não deve ser interrompido e terá de ser feito no mínimo durante 6 meses.

Se sente algum destes sintomas não hesite peça ajuda ao seu medico e ao seu farmacêutico.

Ana Rita Oliveira Diretora Técnica da Farmácia da Misericórdia

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Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso

Sobre o quadro de Domingos, para a entrada do Hospital António Lopes INTRODUÇÃO Quando, em 5 de setembro de 1917, António Lopes abriu aos seus conterrâneos o hospital por si construído na Póvoa de Lanhoso, não deu aos doentes que nas décadas seguintes ali iriam dispor de apoio nos seus males de saúde apenas espaços de atendimento ou internamento. Quis também dotar a sua obra filantrópica de uma área mais nobre, onde as Artes estivessem presentes, sabendo o benemérito, como é certo que sabia, que a beleza organizativa de um espaço, mesmo tratando-se de um hospital, ou especialmente por se tratar de um hospital, era (e continua a ser) também um instrumento complementar de tratamento que em muito pode ajudar ao equilíbrio sempre necessário no desequilíbrio das vidas humanas.

Nessa altura, para decoração do espaçoso hall de entrada do hospital, o “brasileiro” das Casas Novas encomendou ao pintor Jorge Colaço um conjunto de oito painéis de azulejo representando cenas do quotidiano rural, bem como todo o emolduramento das mesmas, peças que constituem, hoje como desde há (quase) um século a esta parte, motivo de grande orgulho para as gentes da Póvoa de Lanhoso. Pela sua beleza e importância, o conjunto artístico foi mesmo classificado, em 24 de janeiro de 1983, como de “interesse público”. Mas o grande benemérito da Póvoa de Lanhoso foi mais longe e, do mobiliário e vasos chineses do salão nobre aos candeeiros das áreas sociais, dos bancos da entrada ao escadório que leva do rés-do-chão ao piso superior, tudo foi pensado e executado como se a Arte e a beleza decorativa fosse uma condição indispensável naquela casa de bem-fazer.

A decisão de dotar os hospitais de obras de Arte foi, aliás, uma prática bastante seguida ao tempo, não apenas nas instituições (hospitais, asilos, escolas…) fundadas por “brasileiros” como, muito especialmente e desde séculos anteriores, nas Misericórdias, sendo admirável o acervo artístico que muitas delas possuem. Talvez o gosto tenha mudado ou as condições financeiras destas instituições tenham sofrido contratempos, pelo que a compra de obras de Arte abrandou significativamente no século XX. Hoje, em pleno período de revigoração e crescimento, as Santas Casas estão, aos poucos, e bem, a voltar a essa prática. Porque os seus acervos hão de continuar a constituir-se no futuro, como até aqui aconteceu, em importante quinhão do património artístico nacional.

Como se sabe, a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso foi fundada, após morte do grande benemérito (1927), para gerir o enorme legado daquele ilustre povoense à sua terra. Desse legado constava uma farmácia, algum dinheiro vivo e cerca de dois mil contos em títulos das dívidas públicas de Portugal e do Brasil, mas, acima de tudo, a obra maior de António Lopes – o seu hospital e tudo o que lhe pertencia. Deixou então escrito que para o manter com o padrão de qualidade que lhe imprimira durante a sua vida deviam ser utilizadas as receitas da farmácia e os juros dos títulos das dívidas públicas.

Não vamos discorrer aqui sobre a história do Hospital António Lopes. Isso está já a ser feito em artigos que, de há alguns números a esta parte, vêm sendo publicados neste jornal e irão continuar a sê-lo no futuro, para que os povoenses conheçam a história desta obra de incomparável valor, do seu fundador, como a da nobre instituição que após a sua morte garantiu um futuro feliz ao velho hospital – a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso. Hoje pretendemos falar, ainda que brevemente, de um quadro do pintor Domingos Silva que a Santa Casa povoense mandou executar para decorar a entrada do novo edifício que veio juntar-se ao antigo hospital, dele se constituindo como mais uma área médica, possibilitando a prestação de mais e melhores serviços a um maior número de doentes, na senda, aliás, daquilo que o benemérito “brasileiro” havia deixado testamentado ao expressar que, se um dia o hospital dispusesse de meios para o fazer, devia alargar o espaço físico do mesmo para poder prestar mais e melhores serviços aos povoenses.

O QUADRO Façamos, então, uma curta “leitura” da obra encomendada ao artista povoense, que passou a integrar o acervo da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso.

Material: óleo sobre tela Tamanho: 2,50 m X 2,00 m.

Autor: Domingos Mendes da Silva Ano de execução: 2015.

Este quadro é uma alegoria à história das Misericórdias em geral e à da Póvoa de Lanhoso em particular. Apreciá-lo, ajuda-nos a interpretar um percurso que teve início nos finais do século XV, mais exatamente no ano de 1498 quando, no reinado de D. Manuel I, sua irmã, a rainha viúva D. Leonor, fundou em Lisboa a primeira Misericórdia portuguesa. D. Leonor tornou-se pela sua importância para as Misericórdias, a figura central deste quadro.

Na conceção do artista a fundadora surge-nos como uma mulher jovem e bela, que o não era já à época da fundação, porque, assim representada, simboliza a novidade e a frescura do seu gesto admirável: a de dar início, em Portugal, a uma rede assistencial sem paralelo em todo o mundo. A sua mão direita, aponta para a esquerda como que ensaiando um convite à entrada no hospital, como que dizendo “entrai, e sereis bens recebidos”. Na simbologia dos olhos fechados existe outra forte mensagem: a de que todos, independentemente do seu extrato social ou das suas opções filosóficas de vida, serão da mesma forma bem recebidos. À direita de D. Leonor, surgem-nos representados dois vitrais manuelinos. Por eles entra uma luz flamejante, como que iluminando a ação da rainha e das Misericórdias, que se transformou numa espécie de Sol de grande esperança para todos os necessitados portugueses, os quais passaram a dispor, tanto quando possível, daquilo que eram os pressupostos das catorze obras de misericórdia. Ao lado esquerdo da fundadora, surge-nos o brasão manuelino, símbolo de uma nação então das mais poderosas do mundo e, num plano inferior, o quadro mostra-nos a prática de algumas das catorze obras de misericórdia: dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, consolar os tristes... E como não podia deixar de ser, encontramos também uma referência à obra corporal “Assistir os enfermos”, aquela que, quase desde a fundação mas muito especialmente após os meados do século XIX, se tornou a principal fonte de atuação das Santas Casas portuguesas – a assistência nos “males do corpo” e o acolhimento de doentes nos seus hospitais.

A alegoria vai mudando de plano e o foco passa a incidir na Santa Casa da Póvoa de Lanhoso. Em lugar destacado, encontramos o retrato do grande benemérito António Lopes. Porque este “brasileiro” foi, para a Póvoa de Lanhoso e especialmente para os seus mais desprotegidos, uma luz de radiosa dádiva, um coração que investiu parte da sua fortuna e da sua vida a ajudar os que mais necessitavam. Sob o seu busto, vê-se então a “obra de vida” do filantropo, o seu hospital, na clássica arquitetura do tempo e, num outro plano, o novo edifício, o novo bloco ora inaugurado, que marca a época em que nasce – este início da vigésima primeira centúria, um século volvido sobre o nascimento do seu irmão mais velho, cujo aniversário se comemorará em 2017.

A marca que divide ambas as áreas, embora numa continuidade que reflete com maestria a ligação do passado ao presente, surge representada sob a forma de duas palmeiras. Porque a palmeira, árvore escolhida há cem anos por António Lopes para decorar as áreas exteriores do seu hospital e que a Santa Casa da Póvoa de Lanhoso tem mantido a todo o custo como lembrança viva do seu patrono, era, na simbologia das antigas civilizações, a árvore da disponibilidade e da eterna dádiva.

Um pouco, aliás, à imagem das nossas Misericórdias, sempre disponíveis e de portas abertas para o bem-fazer; trabalhando afincadamente na dádiva e na boa receção a todos os que delas necessitam. Por essa razão é que as Santas Casas da Misericórdia resistiram, como nenhuma outra instituição em Portugal, a mais de cinco séculos de desgaste, sempre com a mesma vitalidade e amor e merecendo a mesma admiração, crescendo sempre e multiplicando-se em número e em valências disponíveis.

Assim vemos nós, também, a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso: a mais importante obra social do concelho e e uma das mais desenvolvidas de todo o país. Honra aos homens e mulheres que lhe deram forma e por ela passaram ou passam, porque é dos seus feitos que a história há de falar.

José Abílio Coelho Historiador. Arquivo Histórico da SCMPL