Editorial – Uma edição especial sobre a Poesia. Epa lá, mas sempre temos poesia aqui no espúrio fanzininho do tio Samerson. Então, o que muda? Bem, aqui temos poemas [e frases] que FALAM sobre a poesia e o poeta, ou seja, que se desdobram sobre si mesmos, sua matéria e seu espírito. Daí [su]a metapoesia. Leia muitos outros de meus textos e livros de boa, aqui: www.linktr.ee/sreachers
No que sou, o que sou?
Escrevo éclogas, disparates feitos do mijo dos anjos
Pássaro, devoro morcegos sempre à noite, quando são mais fortes
poema é poeta após aventurado
oqueopoetaéempotência
opoemaéemato poetaareticência
poemaoespalhafato
REINAÇÕES
Crio palavras, exempli gratia: Adjistâncias: distâncias adjuntas, circumciclovalentes
Selado fui fora do cofre: Outros homens existem, eu prolifero
Narrador que desnarra, cacos de chão e céu estou no que sou; e o que sou?
Slam
Ei, mané Não vá transformar poiesis
Em tekné
Era outubro, mês revel, mas um outubro setembrino, com seu ar veloz, feliz
Obriguei-me, numa quina de rua ao simulacro ou pretensão de liberdade de um poema
Um poema!, veja você obriguei-me a um poema ao invés de deitar-me no chão ou seguir minha vida
Rimbaudiano
Não vendo explicações.
Sou um poeta: Eu alugo armas.
Samizdat
Profissão de fé
Embora eu não domine Pacificamente
A ciência de arrancá-las
Ao útero das possibilidades
Elas aqui circulam, Plasmadas.
Eu sou um poeta: Em minha dor estão contidas Todas as Literaturas.
Retorno a Porto das Caixas
Sou um escritor,
Um escandalizado pela palavra
E eles querem que eu seja claro e fluídico
E lhes traga paz
Sou um escritor,
Um amputado lá no útero
E eles esperam que eu corra,
Corra para apontar-lhes o caminho
Sou um escritor,
Um pretenso mestre do entalhe a frio em papel
Que entalha as dúvidas antes que elas me empalem, crucifiquem
E eles, os fiéis da fome, esperam que eu lhes traga os pães frescos das respostas
Sou um escritor,
Um capturado-enquanto-fugia
Pelo frio lá fora
E eles, ternos, Esperam que eu os aqueça
Os não-escandalizados, os não-mutilados, os que não duvidam:
Eles, os que escaparam do frio.
Frases e reflexões sobre a Poesia
Creio que o fim último e a causa primeira da poesia seja preparar o homem para o contato COM e a compreensão DO Divino. Gosto de entendê-la também, por isto mesmo, como a própria antecâmara da fé. Seu sentimento é sem paralelos dentre aqueles aos quais os homens são suscetíveis, pois nos abre uma porta, com suavidade sempre desconcertante rompe a nossa rocha, que permanece aberta e aberta, até que Ele, por Sua graça, se apresente: até a re-ligação. O sentimento poético é a intuição continuada de (que há um) Deus.
Deus chamou Adão e o instruiu a que desse nome aos seres viventes (Gn 2:19,20). Adão é morto, Deus nunca: Ainda hoje Ele trabalha (Jo 5:17), ainda hoje Deus chama por nomeadores; e a vida responde a cada poeta que nasce.
O poeta é uma anti engrenagem que gira, quixotesco adversário da inércia dos nomes.
Versejar é maquinar ignições.
A Poesia é o opiáceo da Língua.
Falar o que o outro não sabe, não pode, não quer ou não tem coragem: Um poeta pode muito bem assumir as funções de profeta, numa sociedade de profetas assassinados, ou pior, "cessados" pelo farisaísmo imperante. A VERDADE, ela sempre dá um jeito!
Escrevemos porque algo se perdeu – de nós ou do mundo. Verso (poesia) é fundamentalmente memória do irrecuperável.
Stálin matou [Ossip] Mandelstam e tantos outros; Franco matou [Federico] García Lorca. Pinochet desejou mas temeu matar [Pablo] Neruda; Nixon desejou mas temeu matar [Allen] Ginsberg. No Brasil, a Ditadura quase matou [Alex] Polari, mas ele também tentou matá-la, ele por isso duas vezes poeta. Veredito da história?
Uma cultura que mata seus poetas está em vias de suicidar-se. O assassinato de um poeta é como um involuntário pedido de socorro.
A poesia é um esfoliante natural para os corações empedernidos.
A poesia dá notícia da ludicidade do divino.
A poesia é uma anticasa lotérica onde desfaço apostas.
Um poema é um médio objeto mágico, facultado a qualquer neófito; talismã/muiraquitã que escapou com dano à censura da razão, de quem por sua vez roubou as ceroulas. O poema é memória e resiliência de uma arte totêmica.
O anseio ou engodo supremo da poesia, essa arte suprema do verbo, é, paradoxalmente, acessar a dimensão pré-verbal, aquela que o verbo mesmo nos roubou. E Sísifo fantasia-se de Orfeu, e Narciso, de Jasão, e embriagam-se de desespero e máscara.
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Celebração da vida e do poder de resiliência, o olhar poético desnuda mistérios, bordeja e adentra ao sagrado e extrai o melhor de tudo.
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A poesia fala do que o coração está cheio.
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A linguagem verbal é o milagre maior do Logos, oceano comum-comunicante, mare nostrum antrópico onde a prosa nada enquanto a poesia navega.
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A poesia, lugar central dos criados à imagem do Verbo.
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A Poesia é minha forma de andar nu sem aborrecer a Deus nem escandalizar a homens ou anjos.
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A Poesia é um posto avançado ou extraburgo do céu – no inferno.