Revista em Família nº57

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Artigo Esta capacidade a orienta a levar a sério as pessoas que encontra, a abrir-se a elas em atitude de admiração e gratidão, a desejar que cada uma seja ela mesma e descubra a melhor parte de si. No entanto ela não se ilude. Em seu realismo, que aprofunda as raízes, na cultura do campo e numa forte espiritualidade ascética, descobre em si e nos outros aquelas “ervas daninhas” (cfr. C. 50,1-2) que não cessam de crescer no jardim do coração: a vaidade, a falsidade, a tristeza, a inveja, a bajulação, a superficialidade. Para Madre Mazzarello, cada pessoa é única! Para ela nenhuma Irmã é igual à outra e nem sempre é ela mesma... A Madre percebe que, em cada uma, a mudança é sempre possível. Por isso, se adapta às pessoas e leva em conta as experiências que estão vivendo. Aceita cada pessoa como é: com suas características espirituais, físicas, sua realidade familiar, cultural, afetiva. Estabelece assim uma sintonia profunda porque consegue conhecer o coração humano em suas diferentes vibrações. Quem tem o dom de uma profunda intuição do coração, faz a pessoa se sentir compreendida. O verdadeiro amor ilumina o olhar, dilata os espaços do coração e deixa entrever o bem, mesmo sob as dobras dos limites ou imaturidades pessoais. Assim escreve à Ir. Angela Vallese que se lamentava de sua Vigária (de 19 anos!) inexperiente na animação comunitária: “Ir. Joana é muito jovem e não suficientemente prudente para exercer a função de superiora [...] Veja, precisa estudar o modo de ser das pessoas e compreendê-lo para conseguir melhorá-lo, precisa inspirar confiança” (C. 25,2). Referindo-se a uma jovem Irmã, escreve à sua diretora: “Com Ir. Vitória, precisa que você tenha paciência e lhe infunda pouco a pouco o espirito de nossa Congregação. Ela ainda

não o tem, pois esteve muito pouco tempo em Mornese. Parece-me que, se souber entendêla, dará bom resultado. Assim acontece com as outras. Cada uma tem seus defeitos, é preciso corrigi-las com caridade, mas não pretender que sejam sem defeitos e nem pretender que se corrijam de tudo numa só vez” (C. 25,3). Em geral – como é relatado pela pedagogia – as pessoas de qualquer idade, agem de acordo com o que os outros pensam delas e da confiança que lhes atribuem. Manifestar confiança está relacionado também ao cultivo da admiração diante dos outros para descobrir aspectos novos que ainda não tinham sido percebidos. Madre Mazzarello estava repleta de admiração e maravilhada ao constatar que, não obstante às limitações pessoais, a caridade reinava em toda parte, que as Irmãs estavam unidas, serenas, humildes. Reconhecia tudo como graça, aliás, uma série de “grandes graças” que, apesar de sua indignidade tinham sido concedidas às comunidades por Deus e por Maria Auxiliadora (cfr C 9,6; 26,4; 7,2). Comunhão e caridade implicam também a acolhida dos pobres que não estão entre nós. Em cada comunidade existem irmãos e irmãs pobres, frágeis, marginalizados, inseguros, em crise, doentes, imaturos, sozinhos, indiferentes. Não é fácil fazer a paz com as pobrezas da própria comunidade. Isso exige ser misericordioso, aceitar as fragilidades, promover o bem que já existe, levar os pesos, renunciar a sobressair diante dos outros, não condenar. A comunidade é escola de gratuidade e de solidariedade. Lugar onde “acontece o paciente trabalho cotidiano, de passar do eu ao nós, do meu empenho ao envolvimento comunitário, da busca dos meus interesses à busca dos interesses de Cristo”. Fotos: Google setembro | outubro| novembro e dezembro 2019


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