Revista Em Família nº48

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INSPETORIA SANTA CATARINA DE SENA

Inspetoria Santa Catarina de Sena

| Ano 40 | n° 48| setembro outubro novembro e dezembro 2016 | São Paulo | SP

É tempo de amor! Renasce a esperança de um mundo melhor!


Editorial

É tempo de amor! Renasce a esperança de um mundo melhor! Queridos(as) Leitores(as), É tempo de alargar o coração e dar graças por tantas bênçãos e dons recebidos no decorrer de cada dia do ano 2016 – Ano Santo da Misericórdia! Lembremos das palavras do Papa Francisco: “As portas santas das Igrejas foram fechadas ao concluir o Ano Santo, porém, a porta do nosso coração deve permanecer sempre aberta à misericórdia”. Com alegria e gratidão, rezo com e como o salmista: - Dai graças ao Senhor por todas as Irmãs, Formandas, Educadoras, Educadores, Funcionárias e Funcionários, membros da Família Salesiana que, neste ano, condividiram conosco o carisma e a espiritualidade salesiana. – Porque eterna é a sua misericórdia! - Dai graças ao Senhor pelos jovens, adolescentes e crianças que o Senhor nos confiou nesse ano, para que fôssemos sinal e expressão de seu amor. – Porque eterna é a sua misericórdia!, - Dai graças ao Senhor por toda ação educativa-evangelizadora vivida e experenciada em nossos ambientes educativos. – Porque eterna é a sua misericórdia! - Dai graças ao Senhor por todos os encontros promovidos pela Igreja, pela Inspetoria e outras entidades tendo em vista a revitalização e atualização de nossas vidas e missão – Porque eterna é a sua misericórdia! - Dai graças ao Senhor por todos os eventos e festas vividos na Inspetoria e nas comunidades e que ajudaram a fortalecer a espiritualidade da alegria salesiana. – Porque eterna é a sua misericórdia! - Dai graças ao Senhor por todas as reflexões, buscas, mudanças e avanços no processo da nova configuração. – Porque eterna é a sua misericórdia! - Dai graças ao Senhor pelo testemunho alegre e criativo das Irmãs, revelando a alegria da consagração a Deus vivida no amor. – Porque eterna é a sua misericórdia! - Dai graças ao Senhor pelas experiências, momentos de oração, peregrinação, reconciliação vividos nesse Ano Santo da Misericórdia. – Porque eterna é a sua misericórdia! - Dai graças ao Senhor dos senhores, pelos Seus sinais em nossas vidas, pela presença materna de Maria, a Auxiliadora de todas as horas. – Porque eterna é a sua misericórdia! E, como Igreja do Brasil, temos a alegria de viver, em 2017, o Ano Mariano. A celebração dos 300 anos é uma grande ação de graças. É fantástica a expressão do Papa Francisco: “Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe”. E o Natal se aproxima! É tempo de amor! Renasce a esperança de um mundo melhor! Que o Menino de Belém, rosto misericordioso do Pai, traga, para todos, muita vida, luz, esperança e, sobretudo, muita paz para toda a humanidade! Um Natal cheio de luz e abençoado Ano Novo!

Um fraterno abraço.

Ir. Helena Gesser 2 | Em Família


Sumário

ACOMPANHAMENTO

misericórdia transforma o impossível

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ENTREVISTA

com Pe. Roque Luiz Sibioni

ARTIGO :

PASTORAL JUVENIL

a eterna infância de Deus

o nosso caminho para construção do Projeto de Vida

Editorial Artigo Entrevista A eterna infância de Deus Capa O Natal na espiritualidade de Mornese Natal em Família Pastoral Juvenil Compreendendo Edith Stein

Redação, produção e distribuição Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Andréa Pereira Projeto gráfico Andréa Pereira Capa : Banco de Imagens Revisão Ir. Maria de Lourdes Macedo Becker, Fotos Inspetoria Santa Catarina de Sena Colaboração Irmãs e Comunidades da Inspetoria Santa Catarina de Sena Contato editorial@fmabsp.org.br EM FAMÍLIA | Ano 40 | nº 48 Centro de Comunicação Marinella Castagno

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Ponto de Vista Registo Literatura É Festa Programe-se

Rua Três Rios, 362, Bom Retiro 01123-000 São Paulo | SP Tel. 55 11 3331 7003 www.salesianas.org.br Em Família é uma publicação formativa, que divulga e informa sobre o cotidiano das comunidades das Filhas de Maria Auxiliadora na Inspetoria Santa Catarina de Sena e suas frentes de trabalhos.

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Artigo

Acompanhamento misericórdia transforma o impossível Por Ir. Dulce Hirata

1 - Acompanhamento e Presença

dizendo “facciamo la metà” - façamos meio a meio. Acompanhar é portando ser presença na vida do

A palavra acompanhamento, do latim “cum

jovem. Mas não de modo espontâneo, casual, mas

panis”, sugere comer juntos do mesmo pão, daí as

de modo intencional, finalizado, ainda que jovial

palavras companheiro, companheirismo.

e familiar. A nossa é sempre (ou deveria ser) uma

Para nós salesianas e salesianos, acompanhamento

presença que educa.

tem a ver com Presença Educativa, estar com,

Além de sermos presença educativa, sempre

estar no meio de, participar, partilhar. Como Dom

enriquecida e condicionada pelo clima e pelas

Bosco ao menino Miguel Rua, estendendo sua

demais pessoas que compõem a comunidade, o

mão aberta e fazendo o gesto de parti-la ao meio,

acompanhamento salesiano exige intervenções

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Artigo grupais e pessoais. Vou deter-me sobretudo neste último tipo de intervenção. 2 - Cuidar e Prevenir “Educação é coisa do coração”, repetimos um sem número de vezes. Se educar é uma forma de amar, esta se concretiza no cuidado atento e preventivo por parte do(a) educador(a) do desenvolvimento integral do educando. Este cuidado amoroso e atento, feito de pequenos gestos e atenções no cotidiano da vida, gera a amizade e confiança entre ambas as partes, abre as portas do coração e se torna um dar e receber recíproco. A presença constante no meio dos jovens, especialmente quando estão à vontade, como no pátio e nos corredores, no lazer e nas atividades livres, nos ajudam a conhecê-los em profundidade, ouvindo seus anseios e necessidades, buscas e motivações, sofrimentos e alegrias, ao mesmo tempo que nos enseja a oportunidade de dizer aquela “palavrinha ao ouvido” que ilumina e ajuda a reler os acontecimentos e a si mesmo a partir de critérios diferentes dos que o mundo líquido e fluido oferece. Certamente, também a sala de aula, as oficinas, a catequese, a formação humana, são espaços privilegiados para acompanhar os nossos jovens. São sistemáticos, de longa duração (duram ao menos o ano todo), pensados para grupos mais ou menos homogêneos quanto à idade e nível de conhecimento. A pergunta que nos fazemos é se estamos sabendo aproveitar estes espaços formais e informais com a razão, a religião e a “amorevolezza” como nos pede o Sistema Preventivo. Em 2010, a Conferência Episcopal Italiana (CEI) publicou as Orientações pastorais, do Episcopado Italiano para o decênio 2010-2020 e escolheu como tema dessas Orientações pastorais a Educação. Falava-se então e não menos hoje, com grande

ênfase, sobre a “emergência educativa”, e creio que a situação da educação não tenha melhorado desde então, pelo contrário, ao menos aqui em nosso país, a educação passou da emergência para a U.T.I. Mons. Cesare Nosiglia, cardeal de Turim, na apresentação do documento citado acima diz textualmente: “O que mudou hoje, de modo tumultuado e rápido, foram alguns pontos de referência, antes precisos e bem fundados que a cultura e a sociedade moderna colocaram em profunda crise, razão pela qual se fala hoje de uma verdadeira “emergência educativa”. Educar nunca foi tarefa fácil, mas hoje, mais do que no passado, ela se apresenta para muitos pais, professores, sacerdotes e catequistas uma tarefa árdua e muitas vezes até impossível. Por outro lado, se abrem surpreendentes oportunidades para quem sabe colocar-se em jogo com empenho e responsabilidade e sabe gerir as relações educativas de modo novo, envolvente, que sabe enfrentar sem medo o problema, sustentado pela fé Naquele que é o primeiro educador, Deus, que jamais abandona quem Nele crê e se confia. Ocorre porém desenvolver um equilibrado e sábio discernimento sobre as raízes profundas da “emergência educativa” para encontrar também as respostas adequadas para os desafios. Talvez, a questão da “emergência educativa” tenha ficado somente no plano da análise socioeducativa do momento atual da educação, mas não tenha aterrissado no nível das relações e dos conteúdos educativos e portando do acompanhamento. 3 - Raízes da “emergência educativa” Nascer não significa somente abandonar o seio materno, mas, em certo modo é o tornar-se consciente de que toda a vida é um processo de nascimento. Na realidade, como observa Erich Fromm, «não deveríamos ser completamente setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 5


Artigo nascidos quando morremos, ainda que o trágico destino da maioria dos homens seja a de morrer antes de ter nascido». Em outras palavras, o percurso de construção da própria identidade que, em termos religiosos, pode ser visto como o percurso da realização do que somos chamados a ser, dura toda a vida. Esta tarefa fundamental de cada um de nós não é certamente um dado novo, já que, em todas as culturas em todos os tempos, a busca da própria realização caracteriza a experiência humana. Todavia, a modernidade parece ter-se fechado, levando para a maturidade a crise da subjetividade e chegando à derrota do eu, que aparece dividido, fragmentado, sem qualidade. A derrocada das ideologias, deixou o campo para o único paradigma que hoje parece dominante: o da economia de um mercado que não conhece limites seja espacial, seja ético. O nosso tempo é atravessado por seguidas transformações de uma sociedade definida complexa em que as relações se multiplicam, mas se tornam sempre mais insignificantes e superficiais e os valores de referência se relativizam, a experiência se fragmenta e a incerteza do futuro leva a pessoa debruçar-se sobre o presente sem esperança nem futuro. Emerge consequentemente uma subjetividade fraca, perplexa, insegura, medrosa diante de escolhas muito exigentes e de longa duração, provisória, abandonada ao imediato, narcisista. Nesse contexto cultural e social de massificação e, ao mesmo, tempo de individualismo exacerbado e em contínua mobilidade cultural, o pior problema a ser afrontado e que está crescendo, cada vez mais, é a dificuldade para se dar um sentido profunda para a existência, devido à perda do sentido de Deus e dos outros valores na própria vida. Existem sintomas preocupantes de desorientação, de um dobrar sobre si mesmo, um desejo insaciável de possuir os bens materiais, substitutivo de uma necessidade insatisfeita de amor, a busca do 6 | Em Família

sexo pelo sexo sem ligação com a afetividade e a responsabilidade pela vida, a ansiedade e o medo, a incapacidade de esperar pelo futuro, o multiplicarse da infelicidade e da depressão. O eu se torna o senhor absoluto da própria vida e os outros são simples acidentes úteis em certos momentos, mas sempre condicionados ao bem, ao prazer e às próprias escolhas individuais. Neste contexto de verdadeira emergência educativa, torna-se necessário educar para a superação desta falsa ideia de autonomia da pessoa como um eu completo em si mesmo porque ele se torna verdadeiramente livre, feliz e responsável somente se em relação com um tu e um nós. O mito do homem que se constrói por si mesmo acaba separando a pessoa das próprias raízes e das outras pessoas e a torna, também, pouco amante de si mesmo e da própria vida. As causas disso são múltiplas, mas no fundo de tudo existe a negação da vocação transcendente do homem e daquela relação primária que dá sentido a todas as outras: sem Deus o homem não sabe para onde andar e não consegue nem mesmo compreender quem ele é. A contribuição específica da visão cristã e salesiana da educação consiste na “esperança confiável” que deriva da Ressurreição de Cristo e que nos dá a possibilidade de testemunhar a nossa confiança na pessoa humana, na sua vida, na sua capacidade de amar. «Jesus fixou o olhar sobre ele e o amou» (Mc 10,21): todo ato educativo é antes de tudo um ato de amor e de confiança; formar, educar, fazer crescer, se enraízam em uma visão de pessoa humana carregada de esperança, oferecida a todos gratuitamente, com a única preocupação de proporcionar que todos «tenham vida, e a tenham em abundância» (Jo 10,10). E isto que podemos afirmar com todas as letras, representa um patrimônio de experiência, valores e testemunhos dos quais a Igreja sempre usufruiu e com o qual


Artigo

se consolidou no passado e continua a fazê-lo no presente. Sua história testemunha, ao longo dos séculos, a vida de grandes educadores santos, entre os quais Dom Bosco e Madre Mazzarello, que nos deixaram um precioso legado. Do seu patrimônio de experiências, podemos extrair para o hoje algumas características fundamentais para o nosso acompanhamento educativo: a autoridade do educador, a centralidade da relação pessoal, a corresponsabilidade na construção do bem comum. 4 - O problema da autossuficiência se agudiza no grande tema do amor e da liberdade A educação é o encontro de duas liberdades, a do educador com a do educando, que devem interagir e intersectar-se sem preconceitos e fechamentos. Hoje, a aumentada sensibilidade pela liberdade em todos os campos da vida é um verdadeiro sinal dos tempos.

Na pesquisa realizada recentemente pelo professor Castegnaro, sobre o mundo juvenil, se afirma, com força, o princípio que guia a vida e as escolhas dos mais jovens, também em matéria religiosa, mas não somente: valores sim, regras não. Obviamente, o sim diz respeito aos valores tidos como adequado para si mesmos e para as próprias escolhas. Todavia, não podemos esquecer que este desejo de liberdade representa um terreno favorável para o encontro com Cristo e o Evangelho. Jesus de fato, exalta a liberdade do homem novo e afirma que quem o segue conhece a verdade que o fará livre. Jesus prega e mostra com a vida, que Deus é amor e onde existe amor, existe sempre uma experiência de liberdade. A relação com Deus portanto, não constitui uma ameaça para a liberdade humana. Oportuniza sim encontrar o próprio motivo profundo e original, o fim último em grau de sustentar o caminho da vida. Portanto, na educação, a liberdade não representa um perigo, mas o pressuposto indispensável para o setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 7


Artigo

crescimento da pessoa, desde que, como adverte São Paulo, não se torne pretexto para seguir a lei da carne e não a do Espírito. Este traço, próprio da cultura contemporânea, acentua um aspecto decisivo do acompanhamento, que é também tarefa inadiável para todo educador: educar para que a pessoa faça escolhas livres e responsáveis. Para isto, desde os primeiros anos de vida, a educação deve evitar a ilusão da neutralidade para não contradizer a liberdade do sujeito, além do que, é impossível não propor valores ou ‘desvalores’ com o próprio comportamento e estilo de vida. Não seria justo eximir-se de indicar aos outros o que constitui o sentido profundo da própria vida, e seria mau mestre quem não o fizesse com paixão educativa. 5 - A fadiga do “renascer” socialmente no percurso de toda a vida Um dos primeiros problemas que o adolescente e o jovem devem afrontar é aquele do nascer 8 | Em Família

socialmente, saindo do ninho protetor da família que, por sinal, vive hoje uma situação de desconforto em relação à tarefa educativa. Desconforto que nasce do fato de que hoje a tarefa educativa exige uma superação da modalidade relacional toda construída dentro de uma dimensão afetiva envolvente, mas que corre o risco de sufocar a responsabilidade e a escolha do indivíduo. É necessário descer no difícil mas inevitavel terreno do ensinar regras de vida, regras que devem primeiramente ser testemunhadas e que colocam em jogo a própria liberdade diante da responsabilidade que dela deriva. Em uma família onde o pai é quase sempre ausente (a falta de uma autoridade de referência é altamente prejudicial à educação) e a mãe que trabalha, e que para conseguir o perdão de uma ausência forçada, tem um comportamento benévolo e vulnerável, é lógico que ambos os pais despejem nos filhos presentes de toda espécie, coisas e propostas externas que entulham a vida mas os deixam sozinhos, profundamente sozinhos consigo mesmos, com


Artigo as próprias dúvidas existenciais, com os próprios dilemas e dramas. Antigamente, os rapazes e as moças sonhavam sair de casa e ter uma vida autônoma. Hoje, especialmente nas classes média e alta, querem a própria liberdade de ação, mas sustentados e respeitados em casa pelos pais, que garantem serviços e infraestrutura a preço muito baixos. Os jovens têm medo de caminhar sozinhos, e portanto, têm medo do futuro. Estacionam de bom grado no presente, mesmo se isso produza inevitavelmente frustrações profundas, não aceitação de si (basta recordar as anorexias, bulimia) busca de transgressões, fuga da realidade em um mundo de fantasias, uso de substâncias nocivas e, nos casos mais graves, a tendência à autodestruição. O medo de não conseguir, aumenta com uma nebulosa situação de incerteza frente ao futuro. Eis o ponto decisivo: a construção de si exige uma boa relação com o passado (tradição) e uma perspectiva positiva em relação ao futuro (projeto de vida). Atualmente, não se tem mais memória e os sonhos foram ultrapassados, as ideologias se desvaneceram, a esperança parece ter desaparecido para sempre. Vive-se o presente, esmagados por ele, sem compreender o seu sentido.

Sem educadores cristão e salesianos, missionários da esperança e da alegria, em saída para uma evangelização centrada na pessoa de Jesus Cristo, não teremos acompanhamento educativo em nossas instituições e presenças. A figura do diretor(a), coordenador(a) de nossas presenças são peça chave neste processo. Não basta que sejam bons administradores pedagógicos. Necessitamos que sejam também pais e mães capazes de gerar novos educadores no mais profundo sentido cristão e salesiano. A aplicação do Sistema Preventivo exige estes novos educadores, acompanhadores não moralizantes, mas propositivos, competentes, situados na realidade contemporânea e, ao mesmo tempo, sonhadores de um mundo inclusivo, mais justo, mais colaborativo e respeitoso da natureza, das pessoas e das instituições; educadores éticos, amorosos, comprometidos com a inserção das novas gerações numa realidade não virtual, mas real. Em uma sociedade e cultura da eficiência e voltada para o lucro, para os bens materiais, utilitarista e imediatista, torna-se urgência educativa o resgate dos valores espirituais, da vocação ao transcendente, do amor gratuito e do sacrifício em pró do bem comum. Acompanhar e ser acompanhado são situações típicas de uma família que se ama, que cuida do 6 - Formação de acompanhadores bem mais precioso que tem, ou seja, das pessoas. Embora o sucesso empresarial seja também As jovens e os rapazes necessitam de educadores importante para a própria sobrevivência, não que os ajudem a conjugar de modo harmonioso conflita obrigatoriamente com a obra educativa de o passado, o presente e o futuro, para saberem acompanhar as pessoas no seu desenvolvimento projetar um amanhã como meta fascinante e humano e cristão. possível e que possibilite a renovação de si mesmo e dos demais, do mundo e da história. Infelizmente, eles se encontram diante de uma família e de adultos desiludidos, céticos, feridos pelo desmoronamento dos próprios ideais e dos próprios sonhos juvenis, incapazes de testemunharem as razões da própria vida, que suscitem amor e dedicação. Torna-se urgente o resgate dos acompanhadores. setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 9


Entrevista

Entrevista com Pe. Roque O Pe. Roque Luiz Sibioni é vice-inspetor e Delegado Inspetorial para a Pastoral Juvenil Salesiana

1. Padre Roque conte-nos um pouco da sua história vocacional. É sempre uma alegria muito grande poder partilhar o chamado de Deus na minha vida. Sou o caçula de três filhos. Nasci em uma família bastante religiosa e fomos educados por nossos Pais, na prática da vida cristã, desde pequenos. Somos de origem bastante simples e camponesa. Nascemos, crescemos e fomos educados na roça, no interior de São Paulo, no município de Urupês, próximo a Catanduva e São José do Rio Preto. Por questões de sobrevivência, minha família mudouse para a cidade de São Carlos, quando estava com 17 anos e minha irmã e meu irmão haviam-se casados. Em São Carlos, eu trabalhava, fui concluir o Ensino 10 | Em Família

Médio com mais de 20 anos e frequentava uma paróquia diocesana, dedicada a Nossa Senhora Aparecida. Envolvido em grupos de jovens, catequese de crisma e liturgia, começou a despertar, em mim, o desejo de uma vida dedicada mais integralmente aos jovens e ao serviço da Igreja. O pároco desta comunidade me fez o convite para conhecer os salesianos, que têm obra na cidade. Fomos até lá, conversamos, fui convidado a fazer uma semana de convivência vocacional em Pindamonhangaba, e na semana seguinte, eu estava iniciando a formação salesiana no Pré-noviciado, em Lorena, em 1994, juntamente com o primeiro ano de filosofia. Para mim, foi uma mudança muito radical e rápida, não compreendia, ainda muitas das coisas que vivia, mas coloquei-me nas mãos de Deus e de nossa


Entrevista Senhora para que conduzissem a minha vida e caminhada. Conclui as etapas da formação inicial, assim como chamamos, normalmente: noviciado em São Carlos, curso de filosofia em Lorena, tirocínio em São Carlos e Lorena, teologia na Lapa-Pio XI, SP. Após a ordenação sacerdotal, voltei para Lorena para trabalhar na formação dos salesianos jovens: três anos no Prénoviciado e seis anos no Pós-noviciado. Neste tempo, também fui professor no centro Unisal de Lorena. Em 2013, fui designado para São Paulo para trabalhar como delegado para a Pastoral Juvenil Salesiana e viceinspetor, serviço que realizo até o momento.

complexo, pois cabe a ela auxiliar todas as presenças salesianas para caminhar em comunhão com a Inspetoria, de modo geral, sem perder ou desconsiderar as realidades particulares de cada ambiente de missão e a realidade local, além de planejar em conjunto com os coordenadores e assessores de pastoral, de modo particular, os projetos e as ações que norteiam a vida e a missão da inspetorial e da cada presença salesiana, no anúncio da pessoa de Jesus para os jovens.

2. O que significa ser delegado de Pastoral Juvenil na Inspetoria dos SDB?

Iniciei este serviço em 2013. O maior desafio é fazer com que a Pastoral Juvenil Salesiana seja o coração pulsante de todas as obras/presenças, serviços e frentes de missão que realizamos e caminhemos conjuntamente. Os jovens são centro e o sentido da existência do carisma salesiano na Igreja e na sociedade, e também no projeto de consagração religiosa de cada salesiano. Animar, coordenar, fazer a gestão das ações da pastoral Juvenil para que haja convergência e comunhão entre as realidades locais de cada presença e a realidade inspetorial, a fim de que estejam alinhadas, em comunhão, nem sempre é fácil. Fazemos muitas coisas, mas nem sempre são articuladas, planejadas e assumidas conjuntamente. Ainda é frágil a mentalidade projetual e orgânica em vista de uma qualidade maior de propostas de evangelização nas ações educativas e culturais que realizamos. Às vezes há uma compreensão reducionista e fragmentada da pastoral juvenil como se fosse um

O Delegado para a Pastoral Juvenil, assim o de outras áreas, é uma pessoa indicada pelo P. Inspetor e seu conselho para animar, de forma geral e orgânica, os projetos e as ações da pastoral juvenil em âmbito inspetorial, sem perder de vista que a pastoral juvenil perpassa todas as obras/presenças, dimensões e serviços da ação e da missão salesiana. A congregação salesiana, propôs no último Capítulo Geral, 27o., o novo Quadro Referencial para a Pastoral Juvenil Salesiana enquanto instrumento de animação e de referência para todas as ações e ambientes da missão. Uma das tarefas do delegado de Pastoral Juvenil é auxiliar as comunidades/presenças salesianas no conhecimento, na assimilação e na aplicação do conteúdo deste instrumento em todas as CEPs da Inspetorial. O serviço de animação do delegado é bastante

3. Há quanto tempo está neste serviço e qual o maior desafio?

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Entrevista

departamento ou um setor dentro das nossas obras, ações e presenças. Mas, a responsabilidade primeira de tornar viva e pulsante a Pastoral Juvenil é da Comunidade Educativa Pastoral. Os desafios são sadios, existem para nos impulsionar e buscar juntos novos caminhos e propostas para responder às realidades sempre novas e urgentes das juventudes. Sem eles, nos acomodamos e achamos que o que já está sendo feito é suficiente.

4. Como é trabalhar com o protagonismo juvenil? O protagonismo juvenil está na raiz do carisma salesiano e das nossas congregações. É uma experiência pastoral e pedagógica que Dom Bosco e Madre Mazzarello assumiram com ousadia e coragem, desde o início da missão confiada por Deus, para eles. Eles acreditaram na pessoa de cada jovem e no potencial de cada um. Claro que isso tudo exige confiança, presença, acompanhamento, formação, confiar tarefas de forma gradual a cada um e conforme a realidade e idade deles. Esta foi uma das características originais dos nossos pais fundadores que tiveram os jovens como co-fundadores do carisma salesiano e das nossas congregações. Podemos dizer que o jovem não nasce protagonista. O Protagonismo é uma experiência de se sentir chamado, acolhido, valorizado, envolvido, acompanhado e ter oportunidades nas atividades da Comunidade Educativo-Pastoral para desenvolver os seus dons e liderança, sentindo-se parte de um projeto 12 | Em Família

e de um processo. Acompanhar os jovens no desenvolvimento de seus dons e liderança é uma experiência muito bonita e realizadora, pois eles, quando bem acompanhados e valorizados, sempre dão o melhor de si em tudo o que fazem e nos surpreendem, sempre. Claro que na experiência de protagonismo existem erros, medos, decepções, falta de perseverança, instabilidades própria da vida humana e da condição juvenil. Mas, isso tudo faz parte da vida de toda pessoa, embora, talvez, no mundo juvenil isto reflita mais fortemente pela experiência própria desta etapa da vida. Para mim, fica cada vez mais claro que os jovens, quando compreendem o que é o protagonismo, têm oportunidades e formação para exercê-lo e o vivem com alegria, são os que mais sabem encantar e atrair outros jovens para experiências profundas e bonitas de valorização da vida, da cultura e, de modo particular, na evangelização e educação de outros jovens. Temos sempre que aprender com eles, pois vivem o presente com muita intensidade, sensibilidade e alegria, sendo o termômetro da realidade.

5. Falando em protagonismo juvenil, sabemos que a Inspetoria tem um Conselho Inspetorial da AJS. Conte-nos um pouco sobre esse conselho. Qual foi o processo para formá-lo? O Conselho Inspetorial da AJS é uma realidade desejada há muito tempo na inspetoria. Já haviam sido


Entrevista dados passos em vista da constituição do Conselho, nos últimos anos, mas não foram exitosos por conta da ausência dos Conselhos Locais nas presenças salesianas, que ainda é um caminho a ser feito, na maioria das presenças salesianas da Inspetoria. Diante disso, iniciamos um caminho de conversa com os assessores e salesianos que acompanham os grupos de GAM (Grupo de Animação Missionária) nas comunidades e pedimos que cada grupo pudesse indicar um jovem para constituirmos o conselho. Os coordenadores e assessores julgaram que a iniciativa poderia ser frutuosa, e, assim o fizemos. Cada grupo, indicou o nome de um/a jovem para iniciarmos um itinerário de formação em vista da formação do conselho. Mensalmente os jovens reuniram-se no centro inspetorial para formação (fevereiro a setembro), quando aconteceu um encontro de dois dias para definir as funções, nomear os membros da coordenação por eles mesmos e já discutir um possível plano de ação para o conselho. Os jovens que compõem o Conselho foram acolhidos e empossados, oficialmente, no FEST, realizado no Colégio Santa Teresinha, no dia 15.10.2016

6. Quais as belezas de se trabalhar com os jovens do Conselho Inspetorial? São muitas. Dentre elas, poder ver o protagonismo juvenil acontecer de fato. Os jovens têm muitas coisas para nos ensinar e a oferecer no trabalho de evangelização e educação junto aos outros jovens. A disponibilidade, a ousadia, a vivencia da fé, o empenho missionário, o sentido de pertença a Igreja, a Congregação e ao carisma salesiano, a seriedade com que assumem as responsabilidades e a alegria de poder viver a fé em Jesus Cristo de um jeito muito próprio, original, alegre, criativo e comprometido.

7. Vocês lançaram a pouco tempo a 3ª edição dos princípios norteadores da AJS. Qual a importância deste documento para os salesianos? Os princípios norteadores da AJS, como o próprio título já diz, é um instrumento de orientação para as ações que tocam diretamente a vida da AJS nas inspetorias e em cada comunidade salesiana. Fruto de muitas mãos e reflexões, ele torna-se uma referência atual para auxiliar na compreensão, na formação e na constituição dos grupos e dos conselhos da AJS, além de revitalizar conceitos que estão na gênese da AJS, e ser uma proposta atual da vivência da Espiritualidade Juvenil Salesiana.

8. Como você percebe o trabalho em conjunto FMA e SDB? Eu vejo o trabalho em conjunto, cada vez mais, necessário e complementar no atendimento das juventudes. Precisamos unir cada vez mais forças, dons, recursos humanos e financeiros, iniciativas em vista do bem dos jovens. Eles são o sentido da nossa existência. Além da comunhão e complementação carismática, podemos testemunhar com mais autenticidade e alegria a consagração e a oferta da nossa vida juntos, para eles e junto com eles.

9. Deixe uma mensagem, um recadinho para as FMA. Irmãs, queridas! Primeiramente, agradeço o testemunho e a oferta da vida generosa de cada uma de vocês a Jesus Cristo para amar e servir aos jovens. A vida entregue com generosidade e alegria, a cada dia, é transformada em vida, graças e bênçãos para os jovens, por meio da ação de Deus que move e fecundada o coração e a ação de cada uma de vocês. Obrigado pelo sim de cada uma de vocês e que tenham sempre renovados na vida e na missão o amor pelas juventudes, lembrando sempre a inspiração carismática que fez pulsar o coração pastoral de Madre Mazarrelo do “a ti as confio”.

10. Para os jovens não ficarem triste, fale também algo diretamente para eles. Jovens, queridos! Saibam que nós os amamos e existimos para e por causa de cada um vocês. Queremos ser sempre seus amigos e companheiros de caminhada e apresentar a pessoa de Jesus Cristo para cada um/a para que também o conheçam e o tenham como amigo e companheiro de caminhada, nos passos de Dom Bosco e Madre Mazzarello. Ajudem-nos a não nos distanciarmos fisicamente e afetivamente de cada um de vocês. Nós também precisamos de vocês para termos sempre Jesus no centro da nossa vida e da nossa missão e com vocês, alcançar a santidade de vida. Ajudem-nos a estarmos sempre, em vosso meio! Rezem por nós para que sejamos

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Artigo

A eterna infância de Deus Por Ir. Olga de Sá

N

o último mês do ano, diante da manjedoura que

procissão dos que se ergueram contra o nome de

recebeu o Corpo pequenino do Esperado das

Cristo. Porque, afinal de contas aquela Criança foi posta

nações, é oportuno repetir a pergunta de São Paulo,

como Sinal de Contradição.

quando se encontrou com Jesus Cristo, na estrada

Isto nos sugere a ideia de que o Cristianismo não é uma

de Damasco. Essa Criança é o mais solene Enigma da

religião de sentimentalismos... Nada, no Cristianismo,

História. Os séculos, antes e depois Dela, agitaram-se,

pode assemelhar-se a uma religião de concessões.

para discutir-lhe a natureza. Há gente a favor Dela,

Nem mesmo a caridade fraterna, que é o mais doce dos

a ponto de entregar-lhe a vida inteirinha e a própria

sentimentos cristãos, pode parecer-se com esse pão de

morte. Há gente contra Ela, e também esses, muitas

chocolate de meu benzinho pra cá, meu filhinho pra lá,

vezes, se consagram à causa da contradição e morrem

coitadinho hoje, judiação amanhã, que é a linguagem

por uma mística de falimento.

habitual de muitos cristãos liquefeitos.

Em todas as épocas foi assim: cristãos existiram desde

A caridade fraterna é pão sim, mas pão de centeio,

a primeira hora daquele Nascimento. E opositores

ou de trigo bom e valente, que se come e se sente

também: basta lembrar Herodes. A História faz desfilar

no estômago, quase como um soco. É por isso que as

diante de nós, desde os primeiros séculos, a imensa

almas acostumadas a ter peninha de todos, a fazerem

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Artigo muxoxo de compaixão para tudo, não aguentam o pão substancioso da caridade de Cristo.

Quem procura no Cristianismo uma religião do conforto, não entendeu a mensagem de Jesus Cristo.

A caridade de Cristo é viril. É um abraço sincero

Certamente há muitos católicos comodistas e o

naquele próximo com quem eu não concordo, porque

capitalismo é a chaga mais dolorosa que apareceu no

somos diferentes, porque não nos entendemos.

seio do catolicismo ocidental. Mas Jesus Cristo não põe

Em suma: pode ser que nos tempos que correm, nos quais há tanta dureza de ressentimentos e de ódios

ninguém em segurança. Não dá de comer, não dá de vestir. Também Ele é pobre e nu.

nos corações, - perdoar ao meu próximo, não ter

Conheceu fundamente, durante sua vida mortal, o

inveja, apreciá-lo diante dos outros, elogiá-lo no que

mistério da rejeição: Repudiado na entrada, rejeitado

nele houver para elogiar, não sublinhar suas ideias

na saída, foi reclinado num estábulo emprestado,

pequenas, - seja mais difícil isto, repito, do que socorrer

no princípio, e num sepulcro emprestado no fim.

os pobres, visitar os doentes, enterrar os mortos...

E essa rejeição acompanha-O ainda hoje, porque

É

verdade

que

o

mundo

moderno

precisa

urgentemente das sete obras de misericórdia corporais; mas não precisará mais urgentemente ainda das espirituais?

Deus não aceita do homem senão um amor livre e voluntariamente oferecido. Vintíla Horia, no seu livro Deus nasceu no exílio, põe diante do presépio um médico grego à procura de

Essa Criança é um Sinal de contradição Ela contraria

Deus. Eis como ele fala dessa aventura: Neste momento

todas as nossas categorias de valores, quando elas

a Criança abriu os olhos e olhou para mim. Seus olhos

forem construídas segundo critérios humanos. Essa

já compreendiam, posso jurá-lo.,.

Criança, pequenina ainda, permitiu que morressem por Ela, os Santos Inocentes. A mesma Misericórdia de Deus

E a paz que invadia aquele lugar penetrou em minha alma. Ajoelhei-me, chorando de alegria...

nada tem que ver com as nossas compaixões humanas.

Depois veio a matança dos inocentes ordenada por

Misericórdia de Deus, muitas vezes, é uma Espada sobre

Herodes e o pobre médico perdeu o seu Deus de vista.

o nosso coração.

Perdeu os seus traços, procurou-O por toda parte, na

Hoje, apontamos para a gruta de Belém: aquela Criança reclinada nas palhas é a Resposta de Deus a

Palestina, no Egito, na Grécia, refez dezenas de vezes o mesmo itinerário.

todos os problemas. É inútil tentar uma solução fora

Eu tinha provavelmente a aparência de um louco,

daquele presépio, onde um Deus-Menino nasce na

esgotado como estava pelas cavalgadas, com a barba

pobreza de uma manjedoura e esconde a sua eterna

empoeirada, os olhos desesperados, e a memória

sabedoria sob os vagidos da infância.

possuída pela imagem daquela noite inesquecível. Eu

O comunismo, que se constitui numa solução para

havia encontrado Deus e O havia perdido. Eu O vira,

os males da vida, conhece a Cruz, mas não conhece o

deitado na palha, aquecido pela respiração dos animais,

presépio. Conhece a cruz, diz Fulton Sheen, enquanto

e ele me olhara um instante e esse olhar imprimiu-se-

procura instalar num mundo egoísta o sentido da

me nos olhos como uma mancha de luz.

disciplina, abnegação, trabalho duro. Mas a cruz do comunismo não tem Jesus Cristo. É sacrifício sem amor.

Que Deus nos dê essa angústia da sua Presença e que tendo encontrado o Senhor, não O percamos jamais.

Até quando os homens a suportarão? Não podemos dissociar o Calvário do presépio de Belém, porque esses são os dois pontos extremos da vida humana do Redentor. setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 15


Capa

A esperança nasce no meio da pobreza Por Ir. Ivone Brandão de Oliveira Um dos cânticos mais antigos da comunidade cristã encontra-se na carta aos filipenses: Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz (Fl 2,6-8).

O

hino fala do auto-despojamento voluntário de Jesus. Afirma que Ele não se agarrou àquilo que

é a mesma: pobreza, despojamento, identificação

lhe era próprio: despojou-se... adotou a existência de

ultrapassam nossas expectativas. Ele não precisava

escravo... igual aos homens... reconhecido homem...

pedir para que seu Filho assumisse tanta radicalidade,

rebaixou-se... fez-se obediente até a morte.

mas quis mostrar a todos nós que o caminho divino

O que esse hino tem a ver com Natal? A dinâmica 16 | Em Família

com os últimos da sociedade. As surpresas de Deus

não se encontra na grandeza, no poder, na posse


Capa de bens, mas numa vida simplesmente humana, profundamente humana, como Deus o quis: à sua imagem e semelhança Com a encarnação, Jesus revela que trilhar os caminhos de Deus está ao alcance de todos. Ele em sua misericórdia divina abraça todo ser humano, seja lá qual for sua condição social: pobre, escravo, sem moradia, preso, torturado e excluído como subversivo. Ser o último não é humilhação aos olhos de Deus. Basta que a pessoa seja profundamente humana, fiel àquela imagem de Deus estampada em sua face. Antigas profecias, amadurecidas na dor e no sofrimento das guerras e exílio, anunciavam a chegada do Messias não como rei, mas como pobre e defensor dos pobres: Eis o meu servo que eu sustento, o meu eleito, em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu espírito. Eu, Iahweh, te chamei para o serviço da justiça, tomei-te pela mão e te modelei, eu te constituí como aliança do povo, como luz das nações (Is 42,1.6). E QUANDO ELE CHEGAR... Aquele dia – oráculo de Iahweh – reunirei as estropiadas, congregarei as dispersas, e as que maltratei. Farei das estropiadas um resto, e das dispersas uma nação poderosa. E Iahweh reinará sobre elas no monte Sião, desde agora e para sempre (Mq 4,6-7). Então o resto de Sião e o remanescente de Jerusalém serão chamados santos (Is 4,3) O resto de Jacó será no meio de numerosos povos como um orvalho vindo de Iahweh, como gotas de chuva sobre a relva. (Mq 5,6) Essas e outras profecias foram realizadas e aparecem nas narrativas da infância de Jesus, em especial no evangelho de Lucas.

O NASCIMENTO DE JESUS NUMA COMUNIDADE DE POBRES Lucas ao escrever o evangelho para os gregos mostra que a salvação não está restrita ao povo de Israel, mas ela é universal. A universalidade da salvação rompe as barreiras entre as nações, os povos e as culturas. As narrativas da Infância de Jesus são portas abertas para compreender o Evangelho de Jesus. O evangelista recupera toda tradição religiosa de Israel para mostrar a novidade divina presente na história. O resto de Israel, de que falam os profetas aparece nas personagens da narrativa da infância. No cenário nos defrontamos com um grupo de pessoas que, de uma forma ou outra, são pobres e respondem ao perfil apresentado por Sofonias: Deixarei no teu seio um povo pobre e humilde, e procurará refúgio no nome de Iahweh, o Resto de Israel (3,12-13). A vida e o significado do nome dessas pessoas revelam que alimentam esperança no cumprimento das promessas divinas. Encontramos: Zacarias (= Deus se lembrou) e Isabel (=Deus jurou): ambos eram justos diante de Deus e, de modo irrepreensível, seguiam todos os mandamentos e estatutos do Senhor. Não tinham filhos, porque Isabel era estéril e os dois eram de idade avançada (Lc 1,67). A pobreza se manifestava na esterilidade de Isabel e na idade avançada. Não tendo filhos, o casal sofria humilhação, como se isso fosse castigo divino. José (= aquele que acrescenta) e Maria (= senhora soberana), comprometidos em casamento, são surpreendidos por uma gravidez inesperada, podendo colocar em risco de vida a jovem Maria e humilhação pública ao noivo José. Assumindo essa situação, eles abrem caminhos novos e surpreendentes. Simeão (= ele ouviu): homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (Lc 2,25) e Ana (= setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 17


Capa

graciosa ou cheia de graça), viúva com oitenta e quatro anos, que não deixava o Templo, servindo a Deus dia e noite com jejuns e orações (Lc 2,37), confirmam que a fidelidade a Deus e a certeza de que a Palavra de Deus se realiza quando menos se espera. Os dois pares de idosos e o casal de noivos, apresentados como justos e fiéis a Deus, representam a comunidade judaica, a comunidade de pobres, o chamado resto de Israel, que continua firme na expectativa messiânica. Aos olhos do mundo, não é possível esperar nada deles, mas o surpreendente é que justamente aí, Deus visita o seu povo. Primeiro, anuncia a Zacarias o nascimento de uma criança no ventre estéril de sua esposa Isabel; esta, surpreendida com a ação divina tirando seu opróbrio, manteve-se oculta por cinco meses até o momento do nascimento de João (= Deus concede a graça, agraciado por Deus). A novidade provoca admiração e alegria entre os vizinhos e parentes ao ouvirem dizer que Deus a cumulara com sua misericórdia. (Lc 1,58). 18 | Em Família

Para marcar que os caminhos de Deus são diferentes dos nossos, Lucas inicia solenemente a narrativa do nascimento de Jesus: Naquele dia apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo mundo habitado (Lc 2,1). Augusto era um imperador considerado como pacificador do mundo e salvador de toda a terra. Seu nascimento foi considerado o início de um novo tempo. A lógica do poder imperial é quebrada com a proclamação da chegada de tempos novos, pois a verdadeira paz do mundo foi trazida por uma frágil criança que não encontrou abrigo em Belém (= a casa do pão). Lucas é parco na narrativa do nascimento de Jesus (Deus salva): ela deu à luz seu filho primogênito, envolvendo-o com faixas e reclinando-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala (Lc 2, 7). A imagem exata que ele deseja transmitir está no detalhe sobre o enfaixamento e a manjedoura. O simbolismo da manjedoura pode ter


Capa referência a Is 1,3: O boi conhece seu dono; e o burro conhece a manjedoura de seu senhor, mas Israel não me conhece; meu povo não me entende. Agora, o Senhor e Salvador de Israel já não passa desapercebido. O centro da mensagem é a “boanova” proclamada pelo anjo do Senhor aos pastores, classe considerada desonesta e fora da lei. É para esse grupo que é proclamado:

Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o CristoSenhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recémnascido envolto em faixas, deitado numa manjedoura (Lc 2, 10-11). Os pastores crêem no anúncio e dirigem-se apressadamente até Belém para ver o que aconteceu e lá encontram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura. Tendo visto, voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito (Lc 2,20). Surpresa e espanto para todos. Lucas resgata a tradição religiosa de Israel e mostra que a Palavra de Deus se realiza e acontece onde menos se espera. Deus escolhe o que é o que é loucura no mundo para confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é (1Cor 1,27-28). Assim, o Messias nasce dentro de uma comunidade de justos, pessoas consideradas RESTO, formada por idosas, jovens, trabalhadores discriminados e pobres que sempre mantinham atenção às manifestações divinas. O que podemos aprender com essa narrativa tão singela, nesse tempo de reconfiguração inspetorial?

Estamos conscientes de nossa pobreza, de nossas idades avançadas, do pequeno número de irmãs jovens. Esse dado de realidade não nos pode desanimar. Há uma promessa feita por Deus a Dom Bosco e Madre Mazzarello. A sua Palavra continua com a mesma eficácia àquela que nossos pais da fé, profetas, sábios e fundadores receberam. Se o Filho de Deus quis nascer de uma comunidade pobre, nós também queremos participar desse grupo insignificante, esse pequeno RESTO que mantém viva a fé nas promessas divinas. Queremos cantar com nosso povo:

Da terra tão seca já brota uma flor, Afagando prantos e gritos de dor. Correntes se quebram, as cercas tombando, Uma nova era da história brotando. Dentro da noite escura, Da terra dura do povo meu, Nasce uma luz radiante No peito errante já amanheceu. Que possamos expressar nossa fé neste NATAL, proclamando nossa confiança no amor misericordioso de Deus que veio nos visitar. Queremos confessar a certeza de que o HOJE da salvação está chegando e podemos aclamar alegremente com os anjos: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama (Lc 2,14).

setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 19


Artigo

O Natal na Espiritualidade de Mornese Por Ir. Célia Apparecida da Silva

M

ornese, pequeno recanto encravado nas colinas

intervenção direta de Maria,no coração de Dom Bosco

do Monferrato! Espaço feliz onde Main e outras

Fundador.( Constituições FMA, art. 1 )

jovens camponesas, guiadas pela piedade profunda

A partir da ação do Santo Espírito em Main e em suas

de seus pais, pela sabedoria de Padre Pestarino e,

companheiras, MORNESE, a “Casa do Amor de Deus”se

ulteriormente, pela atuação carismática de Dom Bosco,

revela progressivamente casa do pequenos, dos

deixam-se iluminar pela ação do Espírito e, desde a

pobres,os prediletos de Deus !

própria pequenez vivem uma profunda espiritualidade bem encarnada na realidade eclesial. Epiritualidade: vida no Espírito ! Vida-relação que faz do mundo das relações o espaço teológico da

Mornese – berço das primeiras FMA – casa aberta, casa de amável relação de acolhida incondicional! Casa da relação íntima, da proximidade com Deus e com as crianças e jovens mais necessitados da região!

santificação. Vida-relação com o Transcendente, com

Proximidade corajosa que levara Main, anteriormente,

os outros, com a sociedade , com a magnífica natureza,

a socorrer seus familiares atingidos pelo tifo e

“nossa casa comum”. Vida-relação com o próprio eu na

necessitados de cuidados, sendo, então, contaminada

humildade que reconhece os limites pessoais e valoriza

pela grave enfermidade.

os recursos de que dispõe, colocando-os a serviço da construção do Reino!

Na “Casa do Amor de Deus” – o Colégio de Mornese – o coração materno e misericordioso de Mazzarello se

Atuante na Paróquia de Mornese como catequista,

faz olhos atentos para perceber os pezinhos doloridos

Main acolhe o chamado divino para uma vida radical

da pequena órfã que não consegue dormir no rigor

de consagração a Deus na educação de crianças e de

do inverno piemontês...se faz atenção cuidadosa ao

jovens - “Confio a você estas meninas!” foi a voz que

pobre faminto a quem, discretamente, oferece a sua

ouviu na estrada de Borgo Alto.

porção de parca refeição...Com carinho, se faz socorro

Com algumas colegas catequistas Main torna-se,

à pobreza da menina mal vestida para a qual costura

então, Filha de Maria Auxiliadora, membro ativo da

uma singela veste, servindo-se do tecido de sua própria

Família Salesiana, nascida por virtude do Espírito, com a

saia. Nota o mal estar do clérigo salesiano que, doente,

20 | Em Família


Artigo em Roma, não suporta o frio e, indo ao seu encontro, lhe

deixam vencer pela proximidade, especialmente da

oferece o chalé de lã, seu único agasalho...

Madre, são, de fato,transparência da proximidade do

Na convivência diária, a ternura de Mazzarello se

Verbo Encarnado naquele espaço de Amor fecundo, de

reveste de paciência, de teimosa esperança para acolher,

gratuidade, de acolhida, de aconchego, de adoração!...

desculpar, perdoar os modos intempestivos da jovem Corina Arigot e suas colegas que parecem não querer integrar-se na simplicidade piedosa da comunidade de Mornese... A espiritualidade mornesina se mostra, claramente,na humildade visível que não se rebela contra a frieza,

No cotidiano, espiritualidade mornesina é, pois, espiritualidade da Encarnação do Verbo, assumida e vivida nas dificuldades e alegrias do dia a dia na casa de Mornese e, aos poucos, nas demais fundações que alegremente se sucedem.

a dureza dos conterrâneos ante a atitude educativa

Jesus, na verdade, é o AMOR feito carne! É o sentido

das jovens FMA que se esforçam por se expressar “em

da vida e da história que ilumina de sentido e de

italiano” ao invés do popular e costumeiro dialeto local.

entusiasmo o viver de cada dia !

Humildade para compreender a firmeza – por

Na esperança de sermos, de fato, “MORNESE HOJE”

vezes até excessiva – de Dom Costamagna, diretor

onde quer estejamos, importa olhar para aquele

da Comunidade, em seu bem intencionado zelo na

lugarejo, um “quase nada” na geografia mundial – mas,

formação das Irmãs...

para nós, uma “central de energia” – e, plenas de júbilo,

Humildade, simplicidade, proximidade, diálogo, vida de piedade, amorevolezza, caracterizam o cotidiano de nossas Irmãs em Mornese. Querem ser, também hoje, traços da nossa fisionomia, da nossa identidade na Igreja. Traços que se fundamentam, se alicerçam solidamente na espiritualidade do NATAL, essencialmente mistério

fazer de nossa gratidão canto de louvor a Deus e serviço despretensioso aos irmãos como ensinou o Mestre: “Estou entre vós como quem serve. Vós, fazei o mesmo” No estilo de Mornese, oxalá nossas relações inter pessoais e comunitárias sejam sempre mais “natalinas”,

de gratuidade de Deus, mistério da Encarnação do

sempre mais relações de proximidade à semelhança

Verbo! Presença do Emanuel, o DEUS CONOSCO !

do “Deus conosco”. Relações de generosidade ( cfr. art.

Natal é, por excelência,

proximidade ! O Filho

Unigênito, - gerado do Pai antes de todos os séculos - assume nossa humanidade, nossa humilde natureza carnal ! Nasce para nós! Arma sua tenda entre nós ! Natal é o humano assumido de modo indissolúvel pelo divino ! Inserido em Cristo, o ser humano é, então, elevado até os altos céus ! É nova criatura ! A celebração litúrgica do Natal em Mornese – em meio à neve que tudo recobre de branco véu ( Carta M.Mazzarello, n.o 03 ) – se reveste de profundo sentido

50 constituições FMA ), no estilo do “vado io” como fez Jesus: “Eis, Pai, que venho para fazer a Tua nontade”! Ontem, em Mornese, o Natal é sempre “hoje” no coração das Irmãs e na vivência da comunidade. Nosso hoje – como o ontem mornesino - quer ser transparência deste Natal, Mistério de Amor escondido desde a eternidade no coração de Deus e, no tempo oportuno, revelado na ternura da face do Menino Deus. Mornese, pois, “já não é mais um lugar”. É uma espiritualidade centrada na Encarnação do Verbo de

místico: as orações, os cantos, as saudações cordiais aos

Deus! Um estilo de vida salesiana que tem a face da

conterrâneos que se unem, na Paróquia, na Noite Santa,

amorevolezza!

a alegria das Irmãs, das alunas, das jovens professoras

Mornese é transparência de Natal aqui e agora !

leigas, também daquelas que, apesar das resistências,se setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 21


Artigo

Natal Em Família Por João Carlos Teixeira

J

á que estamos Em Família, peço a devida licença poética para iniciar estas linhas com um breve devaneio: - Imagine-se como um ‘viajante desavisado’, que, errante, advindo de outros cantos, outros tempos, chega, próximo do ano 1 a.C., à Palestina, periferia do Império Romano, que a governa há cerca de seis décadas. O contexto é efervescente: Altos impostos; conflitos sociais; tendências religiosas opressoras e um povo destacado em castas, de acordo com suas ocupações religiosas, e/ou prestígio político junto ao Império. Numa manhã, aparentemente comum, em uma pequena cidade da região, acontece algo extraordinário, 22 | Em Família

ainda que ignorado por todo mundo. Todo mundo, exceto um homem, avisado em sonho. Na ocasião, uma jovem recebe uma visita que mudaria sua trajetória e a de toda humanidade. “De seu ventre, bendito ventre, nascerá o Salvador”, diz o visitante, um anjo. A jovem consente. Aleluia! O rincão, esquecido pela geografia humana, a moça simples, o homem avisado em sonho e o anjo... Nazaré, Maria, José e Gabriel, respectivamente. Daquele momento em diante, graças a Deus, estes nomes se tornaram parte da História de nossa Salvação, e, como é sabido, nove meses após a Anunciação, nasce o pequeno Jesus, em Belém.


Artigo Deus encarna-se, vive entre nós, anuncia que Sua Essência é a Misericórdia e o Amor! A partir de Jesus e por meio de seus seguidores, esta mensagem de esperança (Boa Notícia, Boa Nova, Euangelion, Evangelho) chega aos lugares mais remotos do planeta, e o mundo nunca mais foi o mesmo. Por isso, não obstante à data tenha sido atribuída, contemporaneamente, certa crosta comercial, a chegada do Cristo deve ser efusivamente celebrada. De fato, fazer anualmente memória à essência deste evento, pretende nos ligar, ou, numa expressão contemporânea, nos conectar, à relevância de tal acontecimento. Mircea Eliade, entre outras coisas, um dos maiores historiadores das religiões que o mundo já conheceu, em seu famoso livro “O Sagrado e o Profano”, analisa o espaço e o tempo, nas esferas religiosas e não religiosas. Sobre a celebração de eventos seminais, como o Natal é para nós, cristãos, Eliade afirma que “Toda festa religiosa, todo Tempo litúrgico, representa a reatualização de um evento sagrado que teve lugar num passado mítico, ‘nos primórdios’. Participar religiosamente de uma festa implica a saída da duração temporal ‘ordinária’ e a reintegração no Tempo mítico reatualizado pela própria festa. Aqui, há de se esclarecer que o autor trata da análise das religiões como um todo, por isso surge, entre suas colocações, o termo mito, que denota, no texto, a narrativa de uma criação abundante de uma linguagem simbólica, por vezes fantástica. Entretanto, acerca do cristianismo, o historiador pontua que “A liturgia cristã desenvolve-se num tempo histórico santificado pela encarnação do Filho de Deus. O tempo sagrado (...) das religiões pré-cristãs, é um Tempo mítico (...) não identificável no passado histórico.” O chão onde caminhou é Terra Santa, sua mãe é Bendita entre as mulheres, Sua chegada foi anunciada e preparada ao curso de séculos, conforme acompanhamos nas Sagradas Escrituras... O natal não pode ser para nós, membros desta família – Cristã – um dia como outro qualquer, ou mero pretexto para comprar e receber mimos. Ainda conforme Mircea Eliade, esta festa religiosa tem a condição ‘parmenidiana’ de nos conectar aos que, antes nós, a celebraram. Ela nos liga aos primeiros Natais celebrados nas catacumbas pelos cristãos primitivos. E, no limite, celebrar dignamente o natal posiciona a você, ‘viajante desavisado’, ali, entre um animalzinho e outro, entre a simplicidade daquela estalagem e a grandeza do acontecimento daquela noite, como testemunha do maior acontecimento de todos os tempos. Então, aproveitando, mais uma vez a condição de estarmos em família, me permita uma pergunta, só um bocado metafórica: - Sua manjedoura está preparada para receber o nascimento do menino Jesus? setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 23


Artigo

Pastoral Juvenil o nosso caminho para a construção do Projeto de Vida Por Ir. Claudia Ribeiro

P

ensando em vocês, leitores, imaginei que este artigo deveria soar como um bate-papo pastoral, por isso, trago aqui as vozes do Instituto, de algumas Irmãs da nossa Inspetoria, dos jovens e também um pouco do que sonho e acredito. Olhando para o Instituto: as constituições das FMA, no Artigo 72 nos fala: “A meta à qual deve tender a nossa ação pastoral é educar as jovens a discernir o Projeto de Deus para a sua vida e assumi-lo como uma missão. Abertas às perspectivas específicas da vocação da mulher na Igreja, procuraremos sensibilizá-las aos grandes problemas de hoje e torná-las capazes de contribuir, com competência e espírito evangélico, na edificação de uma sociedade que responda melhor às aspirações da pessoa humana”. É grande a alegria de perceber que a meta da nossa ação pastoral é tão alta que nos leva para “águas mais 24 | Em Família

profundas” e nos interpela a ser pessoas de grandes ideais e projetos, pois só podemos propor à juventude aquilo que vivemos, não é mesmo? Para educar as jovens ao discernimento do Projeto de Deus em suas vidas, há 16 anos, o Instituto das FMA lançou as Linhas Orientadoras da Missão Educativa (Lome): outro grande tesouro salesiano para nós que somos convidados a estudá-lo, aprofundá-lo, para que possamos, com toda paixão colocá-lo a serviço da juventude. As Linhas nos faz entender que a Pastoral Juvenil é a realização concreta da missão educativa do Instituto; é o nosso modo típico de manifestar a atenção da Igreja pelas novas gerações; é uma práxis que correlaciona ação educativa e ação evangelizadora; é orgânica, vocacional e missionária (cf. Lome nº4). Queridos leitores, vocês sabiam que a Lome possui um


Artigo título muito ousado? “Para que tenham vida e vida em abundância”, exprimindo “o intento de focalizar a atenção naquilo que os jovens buscam, às vezes sem saber”, como nos diz Madre Antônia Colombo na apresentação do documento. Estas linhas estão radicadas no dom e na memória carismática, fonte de esperança, de identidade e de futuro, no processo de renovamento da Igreja. Vejam que maravilha! Temos um documento completo que norteia a nossa ação, que nos dá luzes para caminhada, neste mundo tão desafiante e cheio de novidades a cada novo amanhecer. A nossa Pastoral Juvenil deixa claro que precisamos entrar na mentalidade do processo, ou seja, em movimentos vitais das pessoas e das comunidades, movimentos que devemos acompanhar, com cuidado e respeito, como nos alerta o número 102 da Lome. A ação mediante processos nos orienta a identificar estratégias adequadas que permitam flexibilidade e discernimento ao enfrentar a incerteza da realidade atual (cf.nº103 Lome). Convido-os a nos deter, por uns instantes, nestas estratégias que nos propõe a Lome, pois, na sequência, trago para vocês exemplos concretos de como de fato produzem frutos muito ricos. “As estratégias privilegiam um processo sempre em devir; levam a fazer escolhas pensadas e credíveis; são orientadas para o alcance de um objetivo” (nº103 Lome). São elas: Formar-se e trabalhar insieme; Acompanhamento dos Jovens; o Movimento Juvenil Salesiano, que no Brasil chamamos de Articulação Juvenil Salesiana (AJS); o Voluntariado e a Coordenação para a Comunhão. Dentre todas estas estratégias, sou instigada a provocá-los a refletir sobre a AJS, não que ela seja a mais importante, mas porque é inviável discorrer, neste artigo, sobre todas elas e pensando no sonho inspetorial de eleger o Conselho Inspetorial da AJS, nada mais do que justo começar por esta estratégia, não concordam? Bem, vamos a ela! A AJS é uma proposta educativa dos jovens para os jovens, os elementos que a caracterizam são: a vivência da Espiritualidade Juvenil Salesiana, o Sistema Preventivo, a coligação entre os grupos que compartilham valores e promovem iniciativas como

ocasiões significativas de diálogo, de confronto, de formação cristã e de manifestação juvenil (cf. nº124 Lome). Ela torna concreta e visível a comunhão de grupos e associações juvenis, que se inspiram em Dom Bosco e Madre Mazzarello, é aberta, e une muitos jovens, com diferentes níveis de pertença (cf. nº125). Podemos dizer que sua estrutura é como em círculos concêntricos, com diferentes níveis de pertença. Nenhuma pessoa que frequenta a casa salesiana pode ser considerado estranho a AJS (cf. Lome nº125). Algumas características são constantes na AJS, como: o espaço de protagonismo juvenil, de responsabilidade educativa e de discernimento vocacional; - o lugar onde a fé está no centro da existência;- onde se vive o cotidiano como experiência significativa de maturação e se faz do engajamento pelo Reino de Deus uma escolha de fundo em campo educativo, social e eclesial; - a espiritualidade e a práxis; - a pertença vital, numa adesão continuada dos seus membros (cf. Lome nº126). Como mencionei acima, vamos aos exemplos concretos de como a AJS bem vivida, nas comunidades educativas, produzem frutos que nos enchem os olhos e o coração de alegria e satisfação. Convidei algumas pessoas a testemunharem para nós a própria vivência como assessores ou como jovens nos grupos da AJS, no decorrer de suas histórias, nas casas salesianas. Fiz a seguinte pergunta a alguns jovens que viveram intensamente a vida de grupo: A sua participação nos grupos de pastoral do colégio ou obra social influenciou as suas escolhas, a sua vida? Se sim, em que? Sim, a Pastoral influenciou em minhas escolhas e em minha formação humana. Na medida em que vamos amadurecendo, precisamos tomar consciência de nossa condição nesta sociedade; é na fase escolar que afirmamos nossas aptidões. A Pastoral ajudou-nos a refletir sobre a importância de ser indivíduos críticos e atuantes em nosso meio. As propostas de encontro e dos projetos (voluntariado, Semana Missionária, etc.) ampliaram nossos horizontes e foram uma oportunidade para conhecer nossas habilidades/ capacidades e de nos autoconhecer, para assim poder planejar nossa vida, nossas escolhas setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 25


Artigo profissionais, posicionamentos e preparar os nossos projetos de vida. A vivência em grupo ajudou-nos a perceber a importância das experiências de comunidades, e assim entendemos que somos corresponsáveis e comprometidas como nossa sociedade e com todos em nosso meio.

. Atualmente, Luciana Gomes Roa. Colégio de Santa Inês (2003 a 2005) enadora de trabalho no Colégio de Santa Inês, nas funções de: Coord ões Humana, turma, Professora de Ensino Religioso, Professora de Relaç rCérebro. Professora de Sociologia e Professora do Método Supe para constituir o Acredito que minha formação Pastoral foi fundamental Sou muito grata que sou hoje, para a minha formação humana e espiritual. carisma salesiano a Deus, por Ele ter me oportunizado crescer em meio ao iências mudaram e às propostas Pastorais. Acredito que estas exper eu possa continuar minha forma de ver o mundo e as pessoas. Espero que Deus colocar em contribuindo, de alguma forma, na vida das pessoas que que eu tive, na Pastoral escolar! A educação é meu caminho, ajudando-as a ter esta rica oportunidade a transformação da sociedade. Todo trabalho fundamental para formação do pensamento crítico e para educação, sendo assim, necessitamos, cada vez de formação humana, necessita ser parte permanente na mais, aprofundar a proposta de Escola em Pastoral. de nosso testemunho de vida, de nossas ações Os valores cristãos manifestam-se, em nós, por meio da evangelização. Busco embasar minhas relações solidárias, colocando em prática o propósito existencial sendo, a espiritualidade, permeia todas minhas em uma gestão cristã e na pedagogia do amor, assim a e vivida de um jeito humano, solidário, simples ações, planos e projetos. A educação deve ser apresentad interativa, conjunta, vivificadora. Atualmente, e dinâmico, por meio de uma relação ensino/aprendizagem vo-me sempre nos projetos da Pastoral do meu não possuo um trabalho regular nas pastorais, mas envol a pastoral faz parte de todas as minhas atitudes, colégio e participo na minha comunidade (Igreja), mas, poder contribuir mais na formação humana e crenças e propostas como educadora. Espero, em 2017, grupo de catequese e na reanimação do Oratório religiosa dos meus alunos por meio da formação de um Salesiano em minha escola.

Fernanda Adalia dos Santos Ribeiro. Projeto Quero Crescer na Casa do Puríssimo Coração de Maria (2005-2010). Atualmente estudo Educação Física na Faculdade Esc-Esefic. Sou estagiária na Empresa Academia Corpo em Evidência de Guaratinguetá. “A minha participação no grupo da Casa do Coração influenciou sim e muito na minha vida. Ali aprendi os principais pilares que um cristão deve seguir. Conheci os caminhos de Deus e aprendi que ser semelhante a Nossa Senhora, mãe de Jesus é o melhor caminho a escolher. Hoje sou uma mulher muito religiosa, decidida, que quero levar para meus filhos tudo que aprendi e, graças ao Projeto, tudo que aprendi lá venho seguindo, meu caminho nos ensinamentos que aprendi: os de Deus”.

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Artigo Priscila Rodrigues Naves, advogada, atua na área socia l, familiar, criminal e infanto-juvenil; ex-aluna do Instituto São José (19982009), atualmente pretendendo juntar-se à Pastoral Carce rária. “Iniciei minha atuação, nos grupos de pastoral do colég io, aos 10 anos de idade. No início, o disparo foi para “auxiliar os mais pobres”, no alto de minha arrogância infantil. Conheci realidades diversas da minha, histórias diversas da minha, sentimentos diver sos dos meus e tudo era muito novo; quem passou a ser auxili ada fui eu. Fui tirada de minha limitada visão de mundo, em que repro duzia a falaciosa ideia da “meritocracia” e acreditava que pobre za e exclusão eram opções. O tempo foi passando, eu fui crescendo e o “novo” foi se tornando inquietação. Passei a olhar a sociedade e minha religião com outros olhos, voltando minha atenção para aqueles que viviam à margem do sistema, buscando uma forma de auxiliá-los a se sentirem minimamente incluídos na sociedade. Optei por estudar Direito, por militar na Pastoral da Juventude Estudantil, por me libertar das amar ras opressoras que meu mundo de classe média me proporcionava, por lutar pelas mulheres, por lutar por condições mínimas de acesso a direitos fundamentais pela juventude. Cada experiência vivida em Semanas Missi onárias, voluntariados, reuniões de PJE, estudos de materiais, participação em encontros e fórun s contribuíram para minha formação humana, cristã e cidadã. Por tudo, sem as oportunidades que tive por optar participar da pastoral no meu colégio, não seria a mulher que me tornei hoje, com as escolhas que fiz e a profissão que escolhi”.

a 2010). Advogado, pós-graduando em Iago Rodrigues Ervanovite. Instituto São José. (2004 tude Estudantil (PJE) e membro da Direito do Estado, secretário nacional da Pastoral da Juven Coordenação da Pastoral Juvenil Nacional da CNBB. percorri nos “Acredito, sinceramente, que todos os caminhos que aonde estou grupos de pastoral da minha escola me conduziram Pastoral, hoje agora e ser quem sou hoje. Muito além de “estar” na crítico, minha “sou” Pastoral, e isso ajudou a despertar meu senso pois foi na vontade de questionar e ir atrás de respostas, de agir, ia vida. Foi lá pastoral que descobri ser o protagonista da minha própr anto jovem, que descobri que posso ser protagonista desde já, enqu questionar a e não preciso esperar o futuro para isso. A partir daí, de graduação que optei por cursar. realidade e me lançar a ela, me auxiliou inclusive no curso não deixei de participar de algum até Aliás, o movimento pastoral na minha vida é tão forte que então, mesmo tendo me formado no colégio”.

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Artigo Isadora Chiliani Oliveira. Instituto Nossa Senhora Auxiliadora – BelémSP (2009-2012). Hoje sou aspirante a Filha de Maria Auxiliadora, Irmã Salesiana. “Comecei a participar dos grupos de Pastoral (PJE e Voluntariado) quando estava no 2° ano do E.M. No começo, estava “perdida”, e comecei a participar sem ter um porquê, um objetivo. E foi justamente naqueles grupos que me encontrei. Antes, não tinha consciência de que era necessário e importante dar e encontrar um sentido pra minha vida. A pastoral me ajudou nisso. Lá dentro percebi que todos nós precisamos encontrar um sentido para a nossa vida. Então fiz a minha 1ª experiência com Deus, na Semana Missionár ia. A partir disso, comecei a traçar um caminho de conhecimento de mim mesma, de Deus e das pessoas à minha volta. Mas principalmente, foi no grupos de pastoral que percebi que existia, dentro de mim, uma necessidade de construir um caminho com Deus. Então, aos poucos, a vocação religiosa foi se despertan do na minha vida, gritando dentro de mim. E no processo de dar alguns passos, fazer algumas renúncias , responder aos questionamentos que a vida e que Deus exigiam de mim, hoje estou em busca de responde r ao chamado de Deus, ao seu projeto de salvação, na Vida Religiosa Salesiana. A pastoral despertou o que já existia dentro de mim e o que eu acredito que exista em todo ser humano: A sede que temos de encontrar e experimentar Deus. Mas não só isso, ela me ajudou a abrir meus horizontes, enxergar além, perceber que existia um mundo muito maior do que aquele em que eu vivia. Descobri um mundo totalmente diferente. Tomei consciênc ia de que nem tudo eram “flores”. Os grupos me ajudaram a perceber que a fome, a violência, as desiguald ades sociais, a corrupção, enfim... a maldade realmente fazem parte do nosso mundo e da vida de pessoas que estão ao nosso lado. Mas essa percepção e consciência foram criadas de maneira que eu não me tornasse apenas uma mera espectadora. Aprendi que como cristã devo lutar pela vida, pela justiça e pela igualdade , principalmente dos mais desprovidos de nossa sociedade. Criou-se em mim um espírito e uma consciênc ia crítica de nossa realidade. A pastoral me ensinou valores, despertou e potenciou aqueles que já existiam na minha vida”.

Escutando as Irmãs que também partilharam suas percepções sobre a mesma pergunta: O que a participação dos jovens nos grupos de pastoral dos colégios e obras influencia as suas escolhas, a sua vida?

do Colégio Ir. Cleonice Lourenço, FMA. Coordenadora de pastoral Auxiliadora de Ribeirão Preto. da AJS, têm “Percebo que os jovens, que participam dos grupos vida sempre certa autonomia nas decisões e procuram definir a prejudicar o dentro de uma linha de solidariedade, de forma a não sidade de outro. Enxergam o próximo como alguém que tem neces o, querem ser acolhido como e da mesma a forma que se sente amad atizado, mas demonstrar também que amam. Ainda não sistem os valores procuram desenvolver um projeto de vida de acordo com que foram lhe transmitidos através da vida no grupo”.

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Artigo nos colégios Grande. Foi assessora de PJE allo Vas ra ado xili Au ria Ma Ir. salesianos e no Estado de SP. vida. Com os na Pastoral modificou a minha ão paç tici par a , nte me ira “Prime eles preferiam e transparente. Aprendi que ica ênt aut ser a i end apr ens jov a de liberdade. , sincera e que criasse um clim uma assessora com limitações tica. os da Revisão de Vida e da Prá m era s ivo cat nifi sig is ma s Os momento eiro crescimento de TODOS. Havia muita liberdade e verdad ens nos grupos ceber na par ticipação dos jov per o cur pro e ia ceb per que O de Pastoral: . Eles em seus dons e em seus limites er, hec con se a e end apr em o e então o jov fazemos um Trabalhamos o protagonism Sabe aqueles momentos que s. ico ênt aut is ma são e or do assess vir e não aquilo se tornam muito próximos aquilo que o adulto quer ou nde po res em jov o e de lida a rea ando o jovem consegue questionário para perceber toral são mais sinceros. Qu Pas da pam tici par que Os de que é real na vida dele... os valores que fazem par te al, suas escolhas respeitam tor Pas na nto ime rec adu o, am sumism do fazer o processo de nicação, pelos valores do con mu Co de ios Me os pel ar deixar lev sua VIDA e é impossível se iedade. em mais facilmente as egoísmo tão presentes na soc ia, mas são proativos, perceb tór his a pri pró a só não Em geral, eles assumem mudanças. Recebo muitas criativos e protagonistas de são ão; est de on nte bie s valores vividos necessidades do am timento com a vivência do me pro com um o vej e al Pastor consciente de sua mensagens de quem foi da lítica. Uma é médica e bem Po na os ativ são ios Vár al. Colégio de Santa Inês, já durante o tempo de Pastor balho social. Mesmo aqui, no tra têm as, sor fes pro são s nos para a missão – profissão. Outra palestras para motivar os alu dão que e ão fiss pro sua olvidos em recebemos ex-alunos bem res ecer”. l bem antes que o de enriqu MISSÃO e realização pessoa

Diante de testemunhos tão ricos, vemos a premente necessidade de, como Comunidade Educativa, continuar a investir nosso tempo, nossa energia, nossa credibilidade na AJS, pois assim teremos a certeza de que o objetivo prioritário da Pastoral Juvenil - de conduzir ao encontro com Jesus de Nazaré (cf.nº78 Lome) - estará sempre muito bem cuidado e vivido e com resultados muito concretos. Porém, nosso artigo ficaria incompleto se não lembrássemos que uma das certezas que orienta e acompanha a nossa vida pastoral é a presença de Maria, Mãe de Jesus Bom Pastor, que, desde a origem do Instituto, guiou a existência de Maria Domingas

Mazzarello e de Dom Bosco e continua a ser a inspiradora de toda a iniciativa em favor dos jovens (Lome nº 29). Chegou a hora de finalizar esse nosso bate-papo. Agradeço de coração às Irmãs Cleonice e Auxiliadora e a cada jovem que dispuseram alguns minutos do seu precioso tempo para essa partilha tão significativa. A você leitor (a), que também se dedicou a ler esta simples, mas, muito apaixonada reflexão sobre a Pastoral Juvenil Salesiana, meu muito obrigada e grande apelo: INVISTAMOS NOS NOSSOS GRUPOS JUVENIS!!

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Artigo III parte do artigo

Compreendendo a empatia a partir de Edith Stein Por Ir. Adair Aparecida Sberga

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Artigo A FORMAÇÃO DA PESSOA POR MEIO DA EMPATIA A formação da pessoa, que é um processo gradual em direção à atualização mais completa possível da sua forma substancial, necessita de meios e condições para se efetivar. Primeiramente, da força vital, inerente à constituição da pessoa; em seguida das relações intersubjetivas, das vivências comunitárias e das diferentes situações concretas de vida, que permitam um desabrochar pleno e harmônico da sua individualidade. Nesse processo formativo a meta a ser alcançada é chegar à constituição de um Eu, assim como afirma Pezzella, “toda relação formativa deve chegar à constituição de um eu, porque é esse o seu fim último” (2007, p. 64). Mas para isso é preciso de abertura da parte do formando(a), assim como de propostas formativas que levem em consideração todas as dimensões constitutivas do ser humano. Para isso, um instrumento privilegiado é a empatia e Stein reconhece a sua função e constata que a empatia dá sustentação e fundamento para a experiência humana. Isso se dá porque a filósofa trata a empatia como problema de constituição, ou seja, a empatia é a ponte para se constituir conscientemente a sua objetualidade de indivíduo psicofísico, de sua personalidade, assim como permite fazer o mesmo com outros seres do mesmo tipo. Em sua obra, a Estrutura da Pessoa Humana, Stein enfatiza a necessidade de o formador(a) conhecer em profundidade o(a) formando(a) e afirma que para isso ele(a) necessita de um procedimento eficaz. Também em sua tese de doutoramento, Stein já havia abordado essa mesma questão, colocando que a empatia é a via privilegiada para essa ação. Quando o(a) formador(a) reconhece o(a) formando(a) como um “tu”, cria-se a via para

o ato empático. Stein diz que é preciso do reconhecimento de “um ‘Tu’ que vive si mesmo, assim como de um eu que viva si mesmo: portanto o ‘Tu’ é um ‘outro Eu’” (1917/1998, p. 121), ou seja, o(a) formador(a) concebe o(a) formando(a) como uma alteridade, que tem uma individualidade própria, uma ipseità (si mesmo), a qual precisa ser descoberta, respeitada e valorizada em seu processo de desenvolvimento, para propiciar sua atualização, segundo suas próprias características de base ontológica (originalidade e potencialidades) e não segundo padronizações estandardizadas. Portanto, conforme afirma Pezzella, “na ação formativa, há a necessidade de entrar na subjetividade do outro para compreendê-la e eventualmente dirigi-la”, (2007, p. 53), tendo atenção para não fazer pré-julgamentos e não usar os próprios esquemas interpretativos para avaliar os(as) formandos(as). Por meio de recíprocas trocas de experiências humanas é possível compreender de modo amplo o universo da pessoa humana. A empatia é aquele ato que me consente de olhar o outro com calor, com raiva, com afeto, com simpatia, em outras palavras, de captá-lo com um olhar humano, de acolhê-lo com uma palavra humana. No mais, se dá a relação, [...], só onde existe dois seres espirituais abertos, que não consideram o(a) outro(a) como objeto, mas como sujeitos (Pezzella, 2007, p. 54). Nesse sentido, é preciso que a relação empática avance para níveis mais profundos, a fim de atingir a dimensão espiritual das pessoas e chegar ao mundo da motivação e dos valores. 4.1- DA EMPATIA À DIMENSÃO ESPIRITUAL Tendo considerado que o outro tem corpo próprio e um Eu que lhe pertence, Stein avança nessa compreensão e explica que esse Eu tem uma setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 31


Artigo consciência que o constitui o e o mundo externo é o seu correlato, sendo assim, toda percepção externa se efetua mediante atos espirituais, atos da consciência. A consciência não se mostra a nós como um evento causalmente condicionado, mas ao mesmo tempo como o que constitui um Objeto e por isso sai da relação de natureza e se coloca diante dessa: a consciência como correlato do mundo objetivo não é natureza, mas espírito (Stein, 1917/1998, p. 195). Por isso, toda percepção externa que o indivíduo recebe, ela se constitui por meio de atos espirituais. Do mesmo modo se dá com os atos de empatia, esses também penetram e alcançam o reino do espírito, porque há uma consciência que os significa. Ao observar um outro indivíduo, num primeiro momento, o sujeito que o empatiza capta pelos atos espirituais um determinado estado de ânimo, que se torna visível no corpo próprio por meio das aparições expressivas. Essas aparições, que provêm dos atos de vivências, revelam uma realidade psíquica. Então, pela corporeidade se chega à realidade psíquica e por meio dessa se chega à realidade espiritual do indivíduo. Esse processo manifesta-se da seguinte forma: a realidade psíquica se mostra por meio das qualidades pessoais, como a bondade, o espírito de sacrifício, o comportamento refinado, etc. Essas qualidades não acontecem mediante uma relação causal, mas são propriedades do sujeito, que revelam a sua estrutura pessoal, as quais também podem ser pensadas como propriedades de um sujeito espiritual. Essa estrutura pessoal se capta pelo âmbito do espírito, cuja revelação se dá de modo apropriado na “empatia como compreensão da vivência do outro” (Stein, 1917/1998, p. 53). Por meio de um ato 32 | Em Família

simples como, por exemplo, um sorriso ou uma expressão sinalizada corporalmente, se chega à dimensão psíquica, ou a um estado de ânimo, e a partir dessa é possível chegar às propriedades da alma, na dimensão do espírito. Então, pela expressão singular de um sorriso se pode “colocar um olhar no núcleo da pessoa” (Stein, 1917/1998, p. 53 e 218). O núcleo é uma estrutura pessoal, conectado com o mundo dos valores. Por exemplo, quem gosta de pesquisar, de ter conhecimentos aprofundados sobre algo e sente isso fortemente dentro de si, está diante de um valor que o impulsiona. Isso é um extrato da sua personalidade, que demonstra que a pessoa tem uma natureza de estudioso. Isso é um valor, um campo axiológico, que faz parte do núcleo essencial da pessoa. O núcleo é uma base qualitativa e Stein diz que esse é imutável, no entanto, pode-se falar da evolução da pessoa sujeita a influxo das condições na quais vive [...] só enquanto o mundo real circunstante é objeto da sua experiência axiológica, que determinam quais extratos chegam a desvelar e quais ações possíveis se tornam reais. Assim é possível que uma pessoa psicofísica seja uma realização mais ou menos perfeita da pessoa espiritual (Stein, 1917/1998, p. 220). Os extratos pessoais são o que são, não evoluem ou regridem, mas podem permanecer velados durante todo o arco de desenvolvimento psíquico da pessoa. Devido a isso, o processo formativo é de grande importância, no sentido de fazer desvelar e cultivar qualidades e propriedades próprias do sujeito, que estão em seu núcleo central. 4.2- DA EMPATIA AO MUNDO DOS VALORES


Artigo O campo axiológico é um horizonte essencial para o qual toda pessoa deve tender. Em suas concepções sobre o ato empático, Stein afirma que esse torna acessível o mundo dos valores e assim compara: “como pelos atos perceptivos se constitui a natureza física, pelo sentir se constitui um novo reino de objetos: o mundo dos valores” (Stein 1917/1998, p. 196). O mundo dos valores se manifesta por meio do sentir e dos sentimentos, vivências que se apresentam como provenientes da interioridade e que revelam um extrato do Eu pessoal. Stein afirma “nos sentimentos vivemos nós mesmos não só como seres existentes, mas como indivíduos feitos deste ou daquele modo; eles manifestam as nossas propriedades pessoais” (Stein, 1917/1998, p. 205). Por isso, segundo Stein é preciso converter o olhar para nossos sentimentos a fim de objetivá-los, buscando compreender a sua significação. Esse ‘voltar do olhar’ não se reduz a uma reflexão passageira, a um perceber algo como se percebe os fluxos de vivência, que tem um suceder que antes não existia e agora existe, mas é “objetivação de um subjetivo” (Stein, 1917/1998, p. 205), ou seja, é conhecer mais profundamente como é o Eu da pessoa, adentrar na sua interioridade para ver como ele se revela ou é capaz de se revelar.

O que a filósofa procura explicar é que o sujeito que vive si mesmo e vive seus sentimentos como proveniente da sua profundidade é o que consegue atingir as dimensões que desvendam extratos da sua propriedade pessoal. Assim também as sensações emotivas (por exemplo, o prazer que se sente diante de um toque físico) que não brotam do Eu central, mas quando são objetivadas manifestam a “sensibilidade”, que é uma propriedade psíquica constante. Como os sentimentos que são sempre o sentir diante de alguma coisa, precisa-se de um objeto ou de algo que ajude a compreender o extrato desses sentimentos, ou seja, a sensação que está provocando aquele sentimento e isso é possível por meio dos atos teoréticos. Então, todo sentir necessita de atos teoréticos. Isso pode ser exemplificado da seguinte forma: na alegria sentida por causa de uma boa ação, está-se diante da bondade dessa ação. Mas para que a pessoa sinta a alegria pela ação realizada, antes ela precisa saber que essa ação é uma bondade. O saber é o fundamento para a alegria. Esse saber pertence ao âmbito dos atos teoréticos que se pode colher por meio das leis da razão. Apesar da sua importância, os atos teoréticos são condições e não são atos constitutivos da personalidade, o que é diferente, segundo Stein, setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 33


Artigo razão e a do valor. Então, uma proposição teorética, formulada mediante uma lei geral da razão prega: quem sente um valor e pode realizá-lo, que o faça. Esta norma define uma ação, que segundo a lei é racional e justa. Portanto, continua Graças à correlação entre a valorização da experiência axiológica vivida e os extratos da pessoa podemos construir a priori, a partir de um conhecimento universal axiológico, todos os tipos possíveis de pessoas, que aparecem como realizações de pessoas empíricas. E outra parte, todo entendimento empatizante de uma personalidade significa a aquisição de um tipo ideal (Stein, 1917/1998, p. 225).

para os atos do conhecimento (Stein, 1917/1998). O ato de conhecer é ele mesmo um valor. O ato de refletir, no qual o conhecer se mostra, pode se tornar base para uma compreensão axiológica e o conhecer se torna relevante para a construção da personalidade. Isso porque o processo do conhecimento é uma ação, um ato. Ao conhecer a pessoa sente não só a alegria da ação realizada, no caso exemplificado a alegria da bondade praticada, mas ao realizá-la sente uma força, uma potência contida nela mesma, assim como sente quando quer algo ou quando está agindo. Stein ainda explica que a personalidade tem uma unidade de significados, que se constrói na experiência vivida e está subordinada às leis da razão. Com isso a filósofa afirma ter encontrado uma correlação recíproca entre a pessoa e o mundo dos valores. Sendo que não é possível fazer uma doutrina da pessoa sem uma precedente doutrina axiológica. Stein prossegue em suas análises e afirma que é preciso fazer uma distinção entre a legalidade da 34 | Em Família

É diante dessa constatação que Stein, que pesquisou alguns autores como Dilthey e outros, acabaram chegando à mesma “compreensão de que a individualidade do outro é ligada à própria e a estrutura da nossa vivência delimita a esfera disso que para nós é inteligível” (Stein, 1917/1998, p. 225). Porém, como já recordado anteriormente, a qualidade individual não pode ser colocada como base para avaliar (ou empatizar) a experiência dos outros indivíduos. Mas empatizando se percebe que o tipo mais nobre, delimitado pela inteligibilidade, se dá na pessoa espiritual ou no sujeito que vive os valores. Ainda é possível compreender o outro e suas qualidades de valor, por meio da empatia, mesmo que a pessoa não possua tal valor, como também é possível captar outros tipos de pessoas que estão fechadas ao valor. Dessa forma, ao se delinear uma estratégia para a formação pessoal, assim como para a formação de outros, é preciso ter como exemplo a vida e a personalidade de outras pessoas, que revelam tipos ideais, valores que dignificam, a fim de que isso desperte a necessidade de se colocar como Objeto de si mesmo. Quando se objetiva a própria vivência,


Ponto de vista tem-se a oportunidade de um conhecimento mais apropriado de si mesmo, o que favorece um autoconhecimento mais expressivo, uma autoavaliação e a abertura mais fundamentada para a vivência dos valores, despertada por meio da empatia. O outro se torna base de confronto para si mesmo e isso motiva o desejo de atualizar potencialidades e qualidades contidas em seu extrato humano.

relações interpessoais que desenvolve. Aliás pelo ato empático se constata o quanto uma pessoa necessita da outra para se conhecer, se formar e para perceber as sutilezas “divinas” presentes no outro e em si mesma. De outra forma, como a Trindade revela quem é Deus, assim também a vida partilhada com os outros é que aos poucos revela quem é verdadeiramente cada pessoa. REFERÊNCIAS

CONSIDERAÇÕES A empatia é um ato de vivência da natureza do ser humano, que se constitui como um expressivo recurso de capacidade comunicativa por permitir a recíproca entrada no mundo intersubjetivo. Por meio desse ato empático, as relações entre as pessoas se tornam mais profundas e autênticas, mais humanas e solidárias, além de desvendar extratos de personalidade que favorecem um contato não só no plano psicofísico, mas intencionalmente direcionado para o campo axiológico, que é o que autoriza o conhecimento do universo espiritual presente na realidade do outro ou na realidade humana. Por ser a empatia um dinamismo complexo e de grande abrangência em suas possibilidades, também Stein declara que encontrou dificuldades para ao estudá-la, categorizá-la e apresentá-la em seus escritos. Por isso, compreender e interpretar a obra Sobre o Problema da Empatia, é uma tarefa árdua, que exige muita leitura e reflexão. No contexto ocidental, devido à falta de um aprofundamento mais rigoroso nos campos da antropologia filosófica, o conceito de empatia ainda é pouco estudado nos moldes como apresenta Stein. Conhecendo melhor o dinamismo empático, as pessoas terão mais fundamentação e recursos para compreender que o ser humano se constitui com o outro e que não é indiferente as

BELLO, Angela Ales. Edith Stein: La passione per la verità. Padova: Messaggero di Santo’Antonio Editrice, 2003. ______ Edith Stein o dell’armonia. Esistenza, Pensiero, Fede. Roma: Edizioni Studium, 2009. ______ L’universo nella coscienza. Introduzione alla fenomenologia di Edmund Husserl, Edith Stein, Hedwig Conrad-Martius. Ristampa aggiornata. Pisa: Edizioni ETS, 2007. DICIONÁRIO PRIBERAN DE LÍNGUA PORTUGUESA. www.priberam.pt/dlpo/ Default.aspx? pal=empatia, 20/03/2011. PEZZELLA. Anna Maria. Lineamenti di filosofia dell’educazione. Per uma prospettiva fenomenologica dell’evento educativo. Città Del Vaticano: Lateran University Press, 2007. STEIN, Edith. Il Problema dell’Empatia. Versione italiana a cura di Elio Costantini e Erika Schulze Costantini. 2ª ed., Roma: Edizioni Studium, 1998.

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Ponto de vista

Memorial de uma Educadora Salesiana diante das transformações da educação por meio das novas tecnologias Por Meily Cassemiro Santos

A

educação não existe sem o sonho, sem a utopia e a busca pelo novo. Por isso, estou há quase 20 anos em constante caminhada, fazendo incontáveis perguntas e partilhando possíveis respostas ou outras indagações que nasceram e ainda nascem durante o percurso. Quais são os desafios da educação diante do atual contexto social? A partir das imensas transformações que caracterizam o cenário atual, qual é a minha responsabilidade como educadora salesiana para contribuir com o desenvolvimento educacional? Qual é a contribuição da tecnologia na escola nos dias de hoje? Tecnologias por si mesmas são a solução? Educação inovadora requer somente tecnologia? Atuando em escolas públicas e particulares desde a Educação Infantil até o Ensino Superior, estando em sala de aula, Coordenação Pedagógica e atualmente na Gestão Educacional do Polo São Paulo da Rede Salesiana de Escolas, sempre procurei conhecer tudo o que se refere à Educação, em seus aspectos sociológicos, psicológicos, metodológicos, científicos e administrativos. Caminhando, constatei que na sociedade globalizada, onde os recursos tecnológicos estão cada vez mais avançados, as questões 36 | Em Família


Ponto de vista sobre os acontecimentos e as consequências não podem ser absorvidos pelo silêncio e pela omissão das influências sobre a educação. O diálogo crítico da realidade deve existir e, cada vez mais, estar presente para que se consiga reintroduzir e reorientar uma política educacional que favoreça a inclusão e a preparação para a vida social, para um “Projeto de Vida”. Nos últimos anos, as especializações que fiz e os congressos nacionais e internacionais que participei declararam que a finalidade da educação é agregar valores. A UNESCO (2010, p. 31) instituiu uma Comissão Internacional sobre a Educação no Século XXI, alinhando pistas e recomendações, a partir de princípios que formam os quatro pilares da educação ao longo da vida, quais sejam: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”. O debate a respeito da definição dos conteúdos escolares, a sua boa condução e de todas as demais questões relativas à trajetória de formação dos estudantes, depende das ações das Equipes Educativo-Pastorais, podendo-se então acrescentar aos quatro pilares, já apresentados, mais os seguintes, entre os desafios a se enfrentar nas escolas salesianas: a) Aprender a conhecer o mundo contemporâneo e relacioná-lo com as demandas de cada escola (sua clientela, seus sonhos, suas necessidades, seus direitos, seus profissionais, sua vizinhança, suas condições, etc.); b) Aprender a planejar e fazer (construir, realizar) a escola que se quer (o seu projeto pedagógico); c) Aprender a conviver com tantas e diferentes pessoas, definindo e partilhando com elas um projeto de escola; d) Aprender a utilizar, sem medos, as próprias potencialidades de crescimento e de formação contínua;

e) Aprender a crer” nos valores humanos-cristãos, essenciais à convivência e à promoção da dignidade da pessoa, possibilitando-lhe a percepção de realidades que ultrapassam as realidades materiais do dia a dia. Neste momento de escolarização de massa que o país atinge e diante de tantas discussões sobre a reforma educacional do Ensino Médio, exige-se que a educação escolar se volte para a realização plena do ser humano, alcançada por meio da convivência e da ação concreta, qualificadas pelo conhecimento. Dentro da história de maneira geral, as escolas se preocuparam em desenvolver as duas primeiras aprendizagens, ou seja, aprender a conhecer e aprender a fazer, mas as duas últimas também são importantes, ou seja, aprender a conviver e aprender a ser, e estes pilares de sustentação deverão construir uma escola inovadora, que demanda uma travessia que se inicia pela passagem do âmbito dos princípios para o projeto pedagógico e desse para as práticas e ações dos educadores. Todos os envolvidos devem refletir sobre todas as decisões que dão forma à escola, desde as relativas ao currículo, passando pelas relacionadas à aula e às metodologias, até as que se referem à gestão escolar. E com isto, deve-se ter um cuidado especial à definição dos conteúdos escolares. Percebo que como protagonistas educacionais da atualidade e como educadores salesianos em constante formação, nós das escolas da Rede Salesiana de Escolas buscamos compreender as múltiplas faces da educação e da aprendizagem na sociedade cognitiva, destacando-se a importância da dimensão da função social da escola articulada aos demais âmbitos, especialmente o tecnológico. Nesta perspectiva, é necessário tomarmos, como ponto de partida, esse processo de transformação da educação por meio das novas tecnologias. setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 37


Ponto de vista Mas, de que forma isto resulta em mudança? Qual é a tarefa da escola no que se refere à finalidade da educação em agregar valores e ao mesmo tempo utilizar as novas tecnologias para promover uma aprendizagem significativa? Diante dessas mudanças históricas que se compatibilizam com os princípios e com a moral que acompanham a globalização financeira desregrada, os novos desenvolvimentos no campo da tecnologia, da eletrônica e a neoliberalização da economia mundial, eu me questiono diariamente quais são os novos saberes, habilidades e atitudes para sermos educadores inovadores. Celso Vasconcellos (2016, p. 8), de maneira clara e pertinente contribui com esta reflexão e nos alerta da importância de sermos presença:

Quais valores não podemos esquecer em nossa prática educativa?

Tognetta e Vinha (2009) alertam que a importância de se construir uma atmosfera sociomoral cooperativa no contexto educativo não pode ser esquecida. Para que possam ansiar por valores morais, os estudantes e os educadores precisam viver situações de respeito, de tolerância, de honestidade e de diálogo. Esta postura, por si só, já é suficientemente instigadora, desafiadora e inovadora para contribuir com a formação de personalidades éticas, possibilitando de fato, uma reflexão da prática com efeitos diretos no exercício das relações. Compreende-se que tais mudanças não ocorrem somente pela incorporação de novos paradigmas de Hoje em dia, com a “sociedade da informação”, comportamentos da sociedade, mas é necessário, com o avanço das tecnologias da informação e da comunicação, parece que está todo mundo com pressa sobretudo, investigar suas motivações. É importante acrescentar que, segundo Edgard de estar com pressa em outro lugar. O sujeito está ali, mas o quente mesmo está acontecendo em outro lugar. Morin (2011), é impressionante que a educação Quando chega lá, o quente mesmo... Ou seja, nunca que visa a transmitir conhecimentos seja cega está onde deveria estar. Só há um problema: educação quanto ao que é o conhecimento humano, seus não se faz sem presença! As crianças, os jovens, os adultos estão chegando na escola muito marcados dispositivos, suas enfermidades, suas dificuldades, pela fragmentação. Se não encontram alguém que suas tendências ao erro e à ilusão, e não se preocupe ao menos está buscando uma inteireza, o encontro em fazer conhecer o que é conhecer. humano fica impossível. (VASCONCELLOS, 2016, p. 8) Ciente da amplitude e importância deste “Memorial” para refletirmos juntos a relação entre Assim, observo o contexto educacional atual as metodologias ativas e as novas tecnologias, e e continuo perguntando: como as instituições não desconsiderando as nossas vivências pessoais educativas oferecem oportunidades para a e profissionais sobre as características que fazem realização de propostas de atividades sistematizadas com que sejamos reconhecidos como educadores que trabalhem os procedimentos que favoreçam salesianos, a principal intenção destas reflexões de fato o desenvolvimento das competências e é compreender que hoje o cenário educacional habilidades dos educadores e dos educandos, o sofre um decisivo processo de transformações e eu autoconhecimento e o conhecimento do outro, enxergo que estamos neste processo. Questiono a identificação e a expressão dos sentimentos, nossos objetivos, busco redefinições a todo o a aprendizagem de formas mais justas e mais momento, reconstruo minhas responsabilidades e eficazes de resolver conflitos e o desenvolvimento sinto que novos desafios estão se formando. da autonomia? Abordando os valores cristãos e salesianos, 38 | Em Família


Ponto de vista princípios e fundamentos de nossa missão e ação educativa, na perspectiva da Pedagogia Salesiana, podemos relembrar o ensinamento de Dom Bosco: em todo jovem sempre há um ponto acessível ao bem. Carlo Nanni (2014, p. 22) afirma que o sistema preventivo aposta suas cartas a partir desse “ponto” [...]. Mais: além de ponto de partida, faz dele o ponto de apoio para suscitar a vontade de fazer o bem, estimular o jovem a formas positivas de autorrealização, autênticas, humanamente dignas, para si, para os outros e para o mundo. Assim, Dom Bosco mostrava que educar a serviço de ideais e propiciar o pleno desenvolvimento em todos os indivíduos implicava em ser presença no dia a dia, com orientações e acompanhamento aos jovens. Assim, pergunto: como estamos orientando nossos jovens a utilizarem de maneira adequada os recursos tecnológicos, as mídias sociais e a conviverem nos pátios “virtuais” que são também

reais e instantâneos? Sberga (2015, p. 153) explica a riqueza de valores do Sistema Preventivo na perspectiva feminina, quando Madre Mazzarello, “por meio de um estilo condensado de sabedoria prática na arte de educar, [...] possibilita a criação de um ambiente rico de alegria, espontaneidade, simplicidade, verdade, escuta, paciência, bondade, fraternidade, amizade, serviço ao outro, amor [...]” Sabemos que hoje não existe uma receita pré-estabelecida para que isto aconteça, considerando que cada contexto tem suas particularidades e merece um projeto pensado a partir das suas características e oportunidades, mas Dom Bosco e Madre Mazzarello nos deixaram exemplos vivos que podem ser adequados ao nosso tempo; enfim, todos os espaços de convívio e de diálogo entre os educadores e educandos devem estar embebidos desse propósito: educar com o coração, com a alegria e com o entusiasmo

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Ponto de vista

diante da vida conforme nos ensina a Pedagogia Salesiana. Sejam quais forem estes desafios, sei que, como educadores salesianos em constante formação, e orientados pelos ensinamentos de Dom Bosco e Madre Mazzarello, devemos estabelecer uma mobilização entre as exigências do mundo atual e a construção de uma educação que agregue valores, no intuito de pensar, elaborar e decidir quais intervenções serão aplicadas. O que eu constato é que não é suficiente construir uma educação baseada em valores ético-sociais e tecnológicos sem refleti-los e vivenciá-los. É necessário que se acompanhe uma estrutura de personalidade razoavelmente madura com ações colaborativas, construída sob a égide de uma relação de partilhas para o fortalecimento de práticas educativas inovadoras. Quais são as características de uma educação inovadora aliada às tecnologias? É preciso ressaltar que nenhum estilo de educação inovadora aliada às tecnologias tem sentido se não estiver comprometido com valores. Zabalza (2000, p. 21) defende que são essas grandes orientações 40 | Em Família

que ajudam a dar sentido à vida, a formar-se como pessoa responsável e comprometida. Assim, a escola, enquanto instituição social e espaço de ação-reflexão, possui um papel fundamental no processo de construção e de reconstrução de projetos educacionais baseados em valores que norteiam o agir dos estudantes. É preciso compreender que este é o primeiro passo para que esse processo ocorra: que as escolas e os profissionais que nelas atuam assumam como compromisso a aliança entre as metodologias ativas e as novas tecnologias, cultivando valores que desejam compartilhar com os jovens e essa intenção passe do plano do desejo para o da vivência, da realização. Essa consideração de emergência ou desafios da escola diante do acesso imediato às informações por meio das mídias sociais está relacionada à percepção de que existe uma crise de valores e de que estes se encontram enfraquecidos, pois os estudantes sozinhos não conseguem transformar as informações em conhecimentos. Por isso, faz-se necessário que os educadores atuem como mediadores do processo de ensino aprendizagem, e não somente como transmissores de informações. Toda a atividade pedagógica inovadora que


Ponto de vista

mobilize o educador e o estudante para processos de reflexão (flexão para si mesmo) e descentração (colocar-se na perspectiva do outro), o pensar sobre, a construção de intervenções e argumentos, contra-argumentos, até chegar a consensos sobre determinados focos, são essenciais para ativar a dimensão cognitiva, ao contrário de metodologias que somente se baseiam na reprodução. Tanto para os profissionais que atuam na escola quanto para os educandos, o diálogo é fundamental para a construção do exercício público da aprendizagem significativa. Qual é o papel do educador salesiano inovador diante das transformações da educação por meio das novas tecnologias? Acredito que o papel do educador salesiano inovador é fundamental nos dias de hoje, pois ele agrega valores não apenas quando os ensina, mas, principalmente, quando os transforma em “estilo de vida”, pois os professores são sempre “modelos”, buscando ser testemunhas convictas de uma educação com propósitos. Zabalza (2000) esclarece que o professor se transforma em instrumento de persuasão, tanto consciente

quanto inconscientemente, inclusive, por meio de suas palavras. Portanto, é sendo um professor justo que se ensina o valor e o princípio da justiça, sendo respeitoso e exigindo que eles também o sejam é que se ensina o respeito, não como um conceito, mas como um princípio de conduta. Carvalho (2004), aponta que o contrário também é verdadeiro, pois se as virtudes, como o respeito, a tolerância e a justiça são ensináveis, também o são os vícios, como o desrespeito, a intolerância e a injustiça. A possibilidade de mudança está diretamente ligada a um compromisso coletivo dos agentes educacionais. Além disso, a sociedade do conhecimento clama por uma escola inovadora, por um novo jeito de ensinar e de aprender. Essa sociedade exige de mim, de todos os educadores e dos estudantes, não apenas formação continuada, diplomas ou o domínio dos equipamentos modernos e de algumas tecnologias, mas sim a excelência do nosso conhecimento, isto é, dominar o uso de equipamentos e das novas tecnologias é necessário, porém insuficiente. Os estudiosos afirmam: Não se trata aqui apenas de usar a qualquer preço as tecnologias, mas acompanhar conscientemente e deliberadamente uma mudança de civilização setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 41


Ponto de vista que recoloca profundamente em causa as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educativos tradicionais e notadamente os papéis de professor e aluno. (LÉVY , 1999, p.172 apud PENIN). Como repensar, sem preconceitos e saudosismos, a escola para essa nova civilização que desponta , nesse início de milênio, e preparar as crianças e os jovens para um mundo em que a formação inicial, em qualquer profissão, é apenas o começo de uma longa e permanente aprendizagem de novos conhecimentos, que poderá ocorrer de muitas e diferentes formas e não só por meio da escola, dado que é facilitada e mesmo democratizada pela tecnologia da comunicação? Gabriel (2013, p.109), esclarece que o fator “tecnologia” em si não é definitivo para a educação na era digital, pois ele só é diferencial positivo se contar com a participação efetiva do professor e dos planos pedagógicos. Nesta perspectiva, o professor deve deixar de ser um informador para ser um formador, caso contrário, o uso da tecnologia terá apenas aparência de modernidade. As tecnologias de informação e comunicação atuais provocam uma vertiginosa necessidade de superação constante do saber, de modo que devemos buscar novos caminhos de abertura e fluência do conhecimento para encontrarmos pontos de equilíbrio dinâmicos tanto para alunos como para professores. (GABRIEL, 2013, p. 110) Diante deste contexto, Allan (2015, p. 127-128), em seu livro “Educação.com: como as novas tecnologias estão transformando a educação na prática”, explica que no mundo da interatividade, da mobilidade e da vida conectada, é preciso também reinventar nossa visão de material didático. Além disso, destaca que o mais importante é fazer um uso criativo e pedagógico das diversas ferramentas digitais à disposição de todos. Para finalizar este “Memorial”, em “Ensaio sobre a 42 | Em Família

Cegueira”, José Saramago (1995) faz um convite ao exercício do olhar, do ver e do reparar: “Se puderes olhar, vê, e se puderes ver, repara”. Reparar significa olhar atentamente. Então, convido todos os educadores que buscam inovações em suas práticas educativas a “olharem” para a educação utilizando muito mais que a dimensão do somente “ver”, mas do reparar, que é essencial para a observação, percepção e ação de alternativas passíveis, viáveis e inovadoras de serem executadas, sem esmorecer diante dos desafios que o cenário atual apresenta. Para aprimorarmos nossos conhecimentos e aproveitarmos muito bem os recursos tecnológicos disponibilizados para qualificar nossa prática educativa, de fato, precisamos nos preparar para mudanças significativas e empreendedoras, com a determinação e o entusiasmo necessários para gerenciar nossas salas de aulas e nossas escolas, orientar e educar as crianças e os jovens, desenvolvendo projetos educativos de excelência pedagógica e pastoral. REFERÊNCIAS ALLAN, Luciana. Escola.com: como as novas tecnologias estão transformando a educação na prática. Barueri, SP: Figurati, 2015. CARVALHO, José Sérgio Fonseca. et al. Formação de professores e educação em direitos humanos e cidadania: dos conceitos às ações. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, nº 3, set./dez. 2004. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Disponível em: <http://unesdoc.unesco. org/images/0010/001095/109590por.pdf> Acesso em 15 fev. 2016. GABRIEL, Martha. Educ@r a (r)evolução digital na educação. São Paulo: Saraiva, 2013. MORIN, Edgard. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. NANNI, Carlo. O sistema preventivo de Dom Bosco,


Ponto de vista hoje. Brasília: Rede Salesiana de Escolas., 2014. Disponível em: <http:// www.edbbrasil.org.br/literaturasalesiana/files/O_Sist_Prev_Hoje_ Baixa.pdf> Acesso em: 17 de fev. de 2016. PENIN, Sonia T. Sousa. VIEIRA, Sofia Lerche. Gestão da escola: desafios a enfrentar. p. 13 a 37. Rio de Janeiro: DP&A - Biblioteca ANPAE, 2002. SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. 6 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. SBERGA, Ir. Adair Aparecida. O sistema preventivo na perspectiva feminina. In: Trilhas do Saber – Pastoral. Escola Salesiana em Pastoral: Excelência Acadêmica e Evangelizadora. 1ª Edição, Edtora Edebê Brasil, 2015. TOGNETTA, Luciene Regina Paulino. VINHA, Telma Pileggi. Valores em crise: o que nos causa indignação? In: LA TAILLE, Y. de; MENIN, M. S. de S. (Org.). Crise de valores ou valores em crise? Porto Alegre: Artmed, 2009. VASCONCELLOS, Celso dos S. Grandes Alegrias da Docência. In: Gestão da Sala de Aula. São Paulo: Libertad, 2016 (no prelo). ZABALZA, M. Como educar em valores na escola. Revista Pátio, Porto Alegre, ano 4, n. 13, jan./jul. 2000.

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Registro

XII ENCIS – Manaus Por Ir. Maria José Aparecida dos Santos

TEMA: “Vida Religiosa Inserida em processo de transformação nos tempos de Francisco”. Apelo: “Tenhamos a audácia de abrir estradas novas para o anúncio do Evangelho”. (Papa Francisco)

A

cada três anos, as F.MA. se reúnem, em nível nacional, com o objetivo principal de refletir e aprofundar nossa vida de inserção nos meios populares, para dar respostas mais incisivas e atuais aos apelos da Igreja, do Instituto e da realidade. Assim, desta vez, 60 Irmãs das 09 Inspetorias brasileiras fizeram acontecer, em Manaus, o XII ENCIS, com a assessoria de Ir. Annette Havenne, ISM, e do Prof. Raimundo Nonato Pereira da Silva. O Prof. Nonato fez a Análise de Conjuntura a partir dos questionamentos: O QUE É O BRASIL? QUEM SÃO OS BRASILEIROS? Elencou algumas obras *1 essenciais para quem deseja entender o Brasil. Delas, retirou quatro palavras geradoras – cordialidade, raça, gramática e cidadania – que embasaram sua análise, mais sócio-antropológica que política. Ofereceu-nos, porém, elementos que 44 | Em Família

possibilitam uma boa análise de nossa Conjuntura atual. Ir. Annette Havenne desenvolveu o tema, a partir da bibliografia que nos foi enviada com antecedência: Evangelii Gaudium, Laudato Si, Ano da VRC, Ano da Misericórdia, conclusões do Seminário da CRB Nacional. As Inspetorias que nos acolheram – Laura Vicuña e Santa Terezinha – foram de uma fraternidade explícita em todos os momentos: acolhida, hospedagem, organização dos vários momentos, refeições saborosas oferecendo os sabores típicos da Amazônia, a alegria de nos mostrar a beleza da região (o passeio de barco, até o encontro das águas dos rios Negro e Solimões é inesquecível, bem como a visita à Inspetoria Santa Terezinha, ao Museu do Índio e ao centro de Manaus, ao belíssimo


Registro Teatro). Por toda essa generosa fraternidade, nossa gratidão. Há que ressaltar ainda: os momentos celebrativos, bem preparados, ricos; as apresentações das formandas da Inspetoria Missionária Santa Terezinha e das crianças e jovens do Projeto Socioeducativo Mamãe Margarida: danças e expressões teatrais revelando a riqueza cultural dos povos da Amazônia. As celebrações eucarísticas: na área missionária, proposta enriquecedora pela animação propositiva do jovem pároco; no barco, pela beleza e simbolismo do momento e pela presença simples e fraterna do sacerdote salesiano que esteve conosco o dia todo; também na Casa Mornese, a presença dos irmãos salesianos, inclusive do Padre Chicão (Inspetor) e de D. Mário Antônio da Silva, bispo auxiliar de Manaus. Mais que tudo, rendemos graças por estarmos unidas, em verdadeira comunhão, na busca sincera daquilo que o Senhor reserva para nós, no esforço autêntico de – em feliz itinerância – continuar seguindo os passos do Mestre. Nós, da Inspetoria Santa Catarina de Sena, assumimos os seguintes compromissos:

Em nível nacional: Revisão e atualização do Projeto Nacional de Inserção. Em nível inspetoria: retomar a formação da consciência crítica Investir na formação para o diálogo. Local do XIII ENCIS: RECIFE. Agradecemos à nossa Inspetoria a oportunidade de participarmos do XII ENCIS. Em 2019, o XIII ENCIS acontecerá, se Deus assim o permitir, na Inspetoria do Nordeste. A caminho, com alegria, construindo a utopia, na itinerância do Reino, seguindo o Senhor!

1) Holanda, Sérgio Buarque de – RAÍZES DO HOMEM – cap.: “O homem cordial” 2) Freire, Gilberto – CASA GRANDE & SENZALA – ver o conceito de raça, democracia racial. 3) Nunes, Edson de Oliveira – GRAMÁTICA POLÍTICA DO BRASIL 4) Carvalho, José Murilo de – CIDADANIA NO BRASIL. O LONGO CAMINHO 5) Bordieu, Pierre – A REPRODUÇÃO

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Registro

Formação de Educadores é tema de Encontro Nacional Por Ana Cosenza | RSB

Nos dias 19 a 21 de setembro, equipes dos polos da Rede Salesiana de Escolas se reuniram em Brasília para o XIII ENCPOLOS. Teve início na segunda-feira, 19 de setembro, e seguiu até o dia 21, a segunda etapa do XIII Encontro de Polos da Rede Salesiana de Escolas (XIII ENCPOLOS). Com o tema central “A RSE alinhando a formação dos educadores para enfrentar os desafios do contexto contemporâneo”, animadores, gestoras e secretárias dos seis polos da RSE estiveram reunidos em Brasília, DF, para esses três dias de reflexão e aprofundamento. Os objetivos do ENCPOLOS foram: ampliar a compreensão a respeito da função da escola após 46 | Em Família

a propagação das novas tecnologias na educação; refletir sobre atuação e dinâmica das equipes dos polos; interagir com o desenvolvimento de propostas educacionais da Edebê Brasil, considerando a Plataforma Adaptativa, o MDD e outras ofertas; avaliar, sugerir e construir propostas para encontros e atividades de capacitação dos educadores da RSE; informar-se sobre as propostas do ESA IV, seus compromissos e atribuições dos participantes; e conceber conjuntamente propostas para o futuro da RSE. Para cumprir esses objetivos, o encontro teve início com a conferência “Escola.Com: Como as novas tecnologias estão transformando a educação na prática”, ministrada pela professora doutora Luciana


Registro Allan. A palestrante questionou o papel da escola na sociedade conectada, onde é possível aprender qualquer coisa, a qualquer hora e de qualquer lugar. Para ela, o advento das tecnologias digitais e da Internet, potencializado pelas oportunidades cada vez maiores de acesso a estes recursos, traz uma nova dinâmica para a sociedade, em que as palavras inovação, empreendedorismo e sustentabilidade ganham significado especial. “A educação, assim como todos os outros segmentos da sociedade, precisam rever suas práticas, buscando significado para seu propósito principal”, afirmou. Em seguida, os participantes realizaram uma oficina, conduzida por Luciana Allan, e socializaram os debates em plenária. O segundo dia do ENCPOLOS foi dedicado ao aprofundamento sobre o uso dos recursos disponíveis na Rede Salesiana de Escolas. Neste dia, foram apresentadas as soluções educacionais propostas pela Editora Edebê Brasil e realizada uma webconferência, para que professores e alunos explicassem o uso do Material Didático Digital. Também houve apresentação da equipe da Edebê e a avaliação do uso do MDD durante este ano. A apresentação das novidades do Material Didático e dos livros paradidáticos fechou a programação da manhã. À tarde, os participantes do encontro refletiram sobre o realinhamento do Projeto Pedagógico da RSE e realizaram grupos de trabalhos para construção do Plano Integrado de Formação 2017,e discutindo como aplicar o “Crescer em Rede” nos polos. O último dia do ENCPOLOS incluiu a reflexão sobre perspectivas de futuro da Rede Salesiana de Escolas, a partilha de boas práticas nos polos e as informações referentes ao IV Escola Salesiana América (IV ESA). O encontro encerrou-se às 12h30 com um almoço de confraternização.

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Registro

Um mês de novembro marcado pela economia Fonte Site Instituto | FMA

R

oma (Itália).

A Casa Geral das Filhas de

leque completo das áreas de sua competência,

Maria Auxiliadora foi, por um mês, o coração

com formações específicas que poderão orientar

‘econômico’ do Instituto, hospedando o Curso de

o compromisso destas Irmãs no serviço da

formação para 33 neoecônomas inspetoriais, de 30

Inspetoria. O clima de grande empenho criado

de outubro a 17 de novembro e o Encontro mundial

pelas participantes caracterizou-se por uma grande

das Ecônomas inspetoriais com a presença de 81

unidade de objetivos e de trabalho, que levou a

Irmãs, das quais duas convidadas, de 18 a 25 de

uma troca muito frutuosa e rica de conteúdos. O

novembro. Apenas duas inspetorias não puderam

espírito de família e de alegria acompanhou este

estar presentes.

grupo e aliviou o peso do empenho, mesmo na

O Curso de formação, animado pela Ecônoma

intensidade da reflexão inspirada na centralidade

Geral e sua equipe, com a participação de alguns

da pessoa, sempre respeitando as dinâmicas

peritos em campo financeiro, comercial e do

econômicas.

Desenvolvimento, ofereceu às participantes um 48 | Em Família

O encontro mundial ocupou oito dias cheios


Registro

de fecundo trabalho. O objetivo era o confronto

um clima de busca profunda e apaixonante, o

sobre as Orientações que o Instituto, conforme

coração sempre voltado à missão entre os jovens,

as indicações da Igreja, quer oferecer a todas as

especialmente os mais pobres, a atenção à presença

inspetorias e especialmente aos economatos, para

do Espírito Santo, a guia da Madre, permitiram, a

uma gestão dos bens inspirada no carisma a serviço

todas, a realização de uma verdadeira experiência

da vida e da missão em cada realidade.

de pertença ao Instituto, em sua unidade real,

As observações dos 10 grupos de trabalho sobre o

mas também na riqueza da internacionalidade.

esboço das Orientações serão incluídas na redação

A recepção cuidada, generosa e fraterna das

definitiva do texto que, aprovado pela Madre Geral

Comunidades da Casa Geral e do Sagrado Coração

e seu Conselho, fará parte do direito próprio do

alimentaram o clima de família.

Instituto.

A experiência alegre de umas trinta Irmãs que

Foi muito valorizada a apresentação da plataforma

concluem este encontro com a peregrinação a

para uma gestão informatizada e sintética de

Mornese e aos lugares das origens, é uma bela

dados econômicos e financeiros, que permitirá

expressão do nosso viver como ecônomas no

uma colaboração atualizada e compartilhada

coração da espiritualidade salesiana.

entre Comunidades, obras, Inspetorias e centro

Voltamos todas mais fortes e felizes, decididas a

do Instituto, mesmo respeitando as normais

crescer na comunhão e na solidariedade, para o

autonomias e níveis de responsabilidade. A

bem e a difusão do Reino.

plataforma, ainda a ser estruturada em seus detalhes, será aplicada progressivamente às nossas realidades. Outras intervenções de peritos e, especialmente, o acompanhamento diário, atento e participativo da Madre ofereceram segurança e tranquilidade a todas nos processos. A alta qualidade de participação das ecônomas, setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 49


Registro

XXIX Assebleia Inspetorial aborda tema: Novas Configurações: caminho de misericórdia a ser percorrido Por Irmã Maria de Lourdes Becker

N

os dias 04 a 06 de novembro, no Colégio de Santa Inês, nós, as Filhas de Maria Auxiliadora da Inspetoria Santa Catarina de Sena, vivemos a XXIX Assembleia Inspetorial com o tema “Nova Configuração: caminho de misericórdia a ser percorrido”. O início do evento, tão significativo para vida e a caminhada da Inspetoria, foi marcado por um almoço tecido pela fraternidade, alegria e agradecimento por mais um ano vivido. Toda a tarde do dia 04, foi uma grande Celebração Penitencial, “Travessia para uma vida em misericórdia”, de autoria de Irmã Ivone Brandão de Oliveira e conduzida pelo Padre Maurício Tadeu Miranda e Irmã Dorcelina Fátima Rampi, respondendo ao apelo da 50 | Em Família

Madre, na circular 958. Todo o momento celebrativo foi como uma travessia: ruptura com o que não corresponde à misericórdia e abertura para uma nova vida. Uma travessia iluminada pelos grandes momentos da História da Salvação. A noite foi especial! Um tempo de agradecimento à querida Irmã Helena Gesser que, com simplicidade, alegria, entusiasmo, nos ajuda a anunciar o Ressuscitado à juventude e a todos que convivem conosco. No sábado, dia 05, tivemos a presença de Ir. Maria Helena Morra, assessora da CIB, que desenvolveu o tema “Nova Configuração”, enfatizando que este processo exige disponibilidade e desprendimento, um ritmo de vida contemplativo, aberto aos apelos


Registro de Deus e que se deixa moldar por sua Palavra. Encerramos o dia, com a celebração “Maria, Mulher das Bem-aventuranças” que se alegra em Deus e nos chama à mesma alegria. À noite, mais uma manifestação de carinho à Irmã Helena com abertura da sala dos presentes. O domingo, dia 06, após a Celebração Eucarística, presidida pelo Inspetor dos SDB, Pe. Edson Donizetti Castilho, sempre muito fraterno, foi tempo de revisão a partir do Plano Inspetorial. A Pastoral Juvenil, por meio da criatividade das jovens aspirantes e postulante que criaram um programa de entrevista, apresentou o PPJI – Projeto Educativo de Pastoral Juvenil Inspetorial 2016-2020; a Formação Permanente, evocando as circulares da saudosa inspetora, Irmã Maria Rita de Moraes Périllier, anunciou o seu projeto para concretizar as metas da 3ª. escolha do XXIII CG: “Ser missionárias de esperança e de alegria” com o compromisso de qualificar as

Irmãs na evangelização e no aprofundamento da espiritualidade cristã-salesiana para o crescimento no testemunho, como consagradas; em nome do GREI, por meio de poesias, músicas e um vídeo com cenas da vida inspetorial, acontecida nas Casas e na Sede da Inspetoria, três membros do Conselho Inspetorial apresentaram a avaliação do Plano de Ação 2016. Também, a ecônoma inspetorial, apresentou a Prestação de Contas janeiro a julho 2016 e fez menção ao novo Estatuto da Inspetoria como Entidade Religiosa, enviado anteriormente às Comunidades para conhecimento de todas as Irmãs. Encerrando, os dias de graça, avaliação e convivência, a Comunidade do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Ribeirão Preto, na Celebração de Envio confiou a Inspetoria a Maria, companheira de caminhada, portadora de Misericórdia, Esperança e Vida.

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Registro

O Dia da Comunidade Por Pe. José Antenor Velho

N

as origens da tradição salesiana, desde o primeiro

do Concílio que pedia aos consagrados, comunidades

ano de Valdocco (1846), foi celebrada a festa

de intenso calor humano, de amizade real, de

onomástica de Dom Bosco (24 de junho). A intenção de

corresponsabilidade apostólica, de abertura ao mundo,

Dom Bosco era aumentar o sentido de gratidão para

à Igreja e ao próprio Instituto. “Constata-se, por toda

aumentar a confiança recíproca entre os jovens e ele: “a

parte, uma grande exigência de espírito de família, de

educação é coisa do coração”, “a familiaridade leva ao

relações interpessoais humanizantes, vividas antes de

amor, e o amor à confiança” (da carta de Roma).

tudo na comunidade religiosa. Para toda FMA esse é

Dom Bosco, porém, não queria que a festa fosse

o primeiro lugar de fraternidade, necessário para que

manifestação de gratidão à sua pessoa como tal, mas

os jovens possam acreditar que essas experiências são

em sua visão verticalista, gratidão ao Superior e Pai, e

possíveis”. (CG23 FMA, 26:)

aos seus colaboradores: “Eu já lhes disse outras vezes,

Estamos celebrando o “Dia da comunidade”, desta

que consagrei a minha vida a todos vocês, e o que

comunidade, festa destas Irmãs reunidas ao redor da

digo de mim, digo de todos os seus superiores que

Inspetora e da Diretora, pois uma comunidade sem

me ajudam a salvar as suas almas”. Temos aí o sentido

superior não é comunidade religiosa.

comunitário já na sua festa onomástica.

Também aqui precisamos ter presente a intenção dos

A festa tradicional de Valdocco deu origem ao “dia

nossos Capítulos: Irmãs ou Irmãos, reunidos em clima

da comunidade”, fruto da eclesiologia de comunhão

de festa, para reverem pessoalmente a própria situação

52 | Em Família


Registro e as próprias atitudes sobre o modo de viver o espírito

que os apóstolos tinham: louvar a Deus que o chamou”.

de família, de confiança recíproca, de afeto sincero, de

Por isso “é preciso aprender a descobrir a presença e

gratidão de uns para com os outros. Isso tudo é amor, e

a ação de Deus nas voltas da história, e a libertar-nos

se o amor é recíproco, verdadeiro e sentido, as pessoas

de um olhar pessimista. Quem tem Deus, quem se

vivem felizes.

encontra com Ele, olha para o futuro com confiança”

“Dom Bosco estava convicto de que a pessoa humana

(CG23 FMA, 36).

se realiza no amor e deve ser educada para amar. Em

Hoje, portanto, é o dia de abrir os olhos e ver que

Mornese, Maria Domingas e as primeiras Irmãs se

todas as Irmãs se completam reciprocamente. Que

empenhavam em construir, para as jovens e com as

todas são importantes. Dia da comunidade, então,

jovens, (e com maior razão para si mesmas) ‘a casa do

como expressão de gratidão, do “obrigado” que nasce

amor de Deus’” (CG22 FMA, 29).

do coração porque nos sentimos devedores uns dos

Portanto, este dia, ou festa, vivido à luz do seu

outros. Assim, poderemos cantar o Magnificat, como

significado e em contexto salesiano, deveria curar

sinal de reconhecimento à Auxiliadora que hoje se

eventuais feridas, pondo em prática a confiança

chama Aparecida, e que nos trouxe até aqui.

recíproca e o perdão cotidiano para se viver o espírito

O mesmo n. 36 do CG23 FMA diz que é preciso

de família em todos os momentos da vida: no trabalho

“transformar nossas comunidades em comunidades

e na oração, nas refeições e nos tempos de distensão,

de esperança: comunidades alegres, que enfrentam as

nos encontros e nas reuniões. Ainda no CG22, as Irmãs

dificuldades como oportunidades... comunidades que

comprometeram-se a “valorizar o encontro pessoal e o

realmente se esforçam para viver... a espiritualidade do

acompanhamento recíproco como meios privilegiados

Sistema preventivo... Como nós, os jovens e os leigos

de discernimento para o crescimento pessoal e

têm sede de Deus. Isso nos instiga a uma contínua

comunitário no seguimento de Jesus” (37,5).

conversão, para juntas irmos adiante na fé, como

Hoje é, também, o dia da gratidão recíproca, pois a

comunidades educativas nas quais cada membro se

vida da comunidade caminha com o trabalho de todas,

deixa evangelizar e evangeliza com seu testemunho de

embora com papéis diversos e típicos. É o dia de cada

vida”.

uma dizer à outra o seu “obrigado”, e dizê-lo de todo o coração.

Hoje, a nossa oração pela nossa comunidade seja como a de Ester: “Ser for do teu agrado, concede-me

Podemos dizer de nós e de nossas comunidades o que

a vida e a vida da minha comunidade”... E, como Maria,

o Cardeal Martini, no livro sobre o Pai-Nosso, que citei

intercedamos junto a Jesus quando percebemos a falta

sábado passado (C. M. MARTINI, Il Padre Nostro. Non

de alguma coisa na comunidade ou na vida de cada

sprecate parole, San Paolo: Cisinello Balsamo, Milão,

uma de nossas Irmãs... E poderemos aplicar ao Instituto

20162), dizia aos seus padres? “Conheci poucos padres

e à Comunidade o canto do salmista: Majestosa, a

capazes de agradecer a Deus pela sua comunidade.

princesa real vem chegando, vestida de ricos brocados

Conheci muitos deles que se lamentavam: o povo não

de ouro; em vestes vistosas ao Rei se dirige, as virgens

responde, não escuta, não frequenta. Os motivos da

amigas lhe formam cortejo, entre cantos de festa e com

insatisfação eram reais, mais eu lhes dizia: o fato de

grande alegria, ingressam, então, no palácio real”.

a sua comunidade existir já é um milagre de Deus; o fato de ela viver a fé evangélica, batismal, num mundo

Homilia da Festa da Comunidade do Colégio de

incrédulo e pagão, é um milagre de Deus. Portanto, em

Santa Inês 12/10/2016

primeiro lugar, agradeça ao Senhor por isso. É a atitude setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 53


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Ir. Olga de Sá recebe homenagem Por Assessoria de Imprensa Fatea

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om o objetivo de divulgar a cultura vale paraibana, a Fundação Olga de Sá realizou a 8ª edição de “Retratos do Vale” que esse ano homenageia Lorena. As atividades tiveram início ontem, 10 de novembro, com a abertura do evento no Teatro Teresa D’Ávila, às 19h15. Apresentações culturais, exposição, debate e sarau foram algumas das atrações dos três dias de evento: 17, 18 e 19 de novembro. Na cerimônia de abertura, foi entregue o Guia de Lorena, elaborado pela Fundação Olga de Sá e Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA). No evento o prefeito municipal Fabio Marcondes outorgou a Dra. Ir. Olga de Sá a Comenda Bernardo José de Lorena como incentivadora da Cultura de Lorena – Comendadora da Cultura.

54 | Em Família


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UNIFATEA fecha parceria com Universidade do México Por Assessoria de Imprensa Fatea

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Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA) fechou um convênio de cooperação acadêmica e científica com a Universidade Juárez Autónoma Tabasco (UJAT), no México. Trata-se de um amplo convênio institucional, que possibilita a criação de projetos de pesquisa com a graduação e pós-graduação, que podem ser de curto, médio ou longo prazo, bem como missões rápidas. A parceria vai também propiciar acordos de mobilidade, favorecendo a ida e a vinda de professores e alunos entre as duas instituições. A assinatura da parceria foi realizada em 27 de outubro, pelo Pró-reitor de Pesquisa, Pós Graduação e Extensão, Prof. Dr. Rosinei Batista Ribeiro. A UJAT foi representada por seu Reitor,

Prof. Dr. José Manuel Piña Gutiérrez, pelo Diretor da Divisão de Engenharia e Arquitetura, Prof. Dr. Candelario Bolaina Torres e pela Pesquisadora Chefe da Divisão de Engenharia e Arquitetura, Profa. Dra. Ebellia del Ángel Meraz. “Cada curso do UNIFATEA pode ver seus interesses e necessidades, de acordo com sua linha de pesquisa, e promover projetos em conjunto com essa importante universidade mexicana”, explica o pró-reitor.

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FAINC celebra a história de Dom Bosco com projeto “Museu Itinerante” Por Assessoria FAINC

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om o objetivo de celebrar a memória e tornar mais conhecida a história de Dom Bosco, a FAINC recebeu em outubro, o projeto “Museu Itinerante”. Os painéis foram dispostos em frente à Biblioteca da Faculdade. O projeto, composto de 8 painéis, demonstra grande parte da trajetória de Dom Bosco, assim como, seu trabalho com os jovens e as atividades realizadas por este santo italiano que mudou o mundo e a Igreja para sempre. O projeto é uma realização conjunta entre a Inspetoria Santa Catarina de Sena; o Instituto Coração de Jesus, de Santo André-SP; Colégio de Santa Inês, de São Paulo; Instituto Madre Mazzarello, de São Paulo; Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, de São Paulo; Com apoio do Instituto Nossa Senhora do Carmo, de Guaratinguetá-SP; Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, de Araras- SP; Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, de Ribeirão Preto-SP; e Instituto Santa Teresa, de Lorena-SP. 56 | Em Família


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Alunos de Nutrição empenham-se em Trabalho de Conclusão de Curso Por Assessoria FAINC

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TCC do curso de bacharel em Nutrição das Faculdades Integradas Coração de Jesus FAINC é a máxima expressão das competências absorvidas, durante os longos anos de aprendizado no curso, o que forma profissionais que, além de conhecimento específico, possam apresentar autonomia, senso investigativo, flexibilidade, dentre outras qualidades. O TCC suscita que o estudante empregue os saberes assimilados e ainda aponte uma contribuição efetiva no avanço científico e tecnológico referente a área de Nutrição. O mesmo vale para a apresentação, principalmente para quem tem medo de falar em público, pois esta é uma grande oportunidade de crescimento e de

melhorar suas habilidades academicamente e para seu futuro profissional, culminando numa maior segurança para ingressar no mercado de trabalho. “Parabenizo os alunos pela qualidade e empenho apresentado nos trabalhos”, declarou a Coordenadora do Curso de Nutrição, Profa. Ms. Rachel De Laquila. Títulos dos trabalhos: “Influência de fatores psicológicos na alimentação de praticantes de futebol pré e pós competições” e “Avaliação do consumo de corantes alimentares em crianças e sua relação com a hiperatividade”

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Registro

Feira Cultural Mazzarello Por Comunicação Mazzarello

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ealizada no dia 24 de setembro, a Feira Cultural envolveu alunos, familiares e visitantes, com o tema “INVENÇÕES”. Com muita criatividade, alunos e professores caminharam pela indústria alimentícia, habitação, utilidades domésticas, sem deixar de lado a música, o teatro, os transportes, a telefonia, o correio, a medicina e a transformação da morte, através de uma rica pesquisa e da vivência de alguns espaços e setores. Os ambientes da escola foram minuciosamente preparados pelas turmas de 6º ano ao Ensino Médio, que tornaram os estandes espaços de cultura, conhecimento e, também, muita alegria! Com certeza, nenhum visitante deixou a Feira, sem ter aprendido algo novo. Os alunos da Educação Infantil e do Ensino 58 | Em Família

Fundamental I pesquisaram as invenções que influenciaram e modernizaram o dia-a-dia da sociedade. As crianças dançaram e cantaram, nos diversos espaços da escola, declamaram texto e poesia, trazendo muita alegria para os presentes. Encantaram seus familiares com o Relógio, o Dinheiro, a Bicicleta e a Televisão. Os pequenos, até brincaram de telefone sem fio com seus familiares. Assim, crianças e jovens de cada segmento, a partir de suas habilidades e competências, encheram de admiração os olhos das famílias e de toda comunidade educativa, com a apresentação de trabalhos resultantes da seriedade e empenho com que se prepararam. Parabéns Mazzarello!!


Registro

Posse do Conselho local da AJS Por João Carlos Teixeira

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a manhã do dia 11 de novembro, tomou posse o Conselho Local da Articulação da Juventude Salesiana (AJS), do Colégio de Santa Inês. Os estudantes Açucena Silva, Danielle Cruz, Deyvid Monteiro Eliane Cristina, Gustavo Jinlee, Inaê Nóbrega e Vitoria Monteiro, se comprometeram, entre outras coisas, a serem testemunhas de Cristo aos jovens, em especial aos mais necessitados, e garantir manter acesa a chama salesiana nos grupos que coordenam . Ao final da cerimônia de posse, realizada pela Pastoral com a querida presença da Irmã Bernardina, FMA, os estudantes Gabriel Rocha, Açucena Silva e Ana Carolina deram um toque todo especial ao momento, apresentando seus números artísticos no Intervalo Cultural. Que o Deus do Amor continue inspirando cada vez mais jovens a se dedicarem ao anúncio da Boa Nova.

“Se a juventude viesse a faltar o rosto de deus iria mudar” – (Jorge Trevisol, O mesmo rosto).

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Literatura

Sempre Maria Por Irmã Maria José Aparecida dos Santos

Tua existência-menina minha existência penetrou. Por isso, fiz de minha vida incessante caminhar ao teu encontro, e as pedras do caminho restaram inquietas sob o urgente passar de meus pés. Busquei-te em Nazaré. Vi-te menina... Te senti mulher... E vi a tarde fremir envolta no suave mistério de teu Sim. Entardecia! Por um segundo a asa rósea do tempo entreabriu-se em cores. E um colorido arco Reafirmou no céu a quase esquecida aliança. E cantei contigo, no silêncio da tarde, a canção silenciosa do amor infinito. Encontrei-te, depois, em Belém. Era noite! Descobri-te mãe! E vi estrelas luzir enquanto a noite embalava o teu Amor. 60 | Em Família


Literatura Vi a noite cantar o mistério que a pálida sombra da aurora buscava entrever. E o suave canto da natureza reafirmava a certeza da redenção. E meditei contigo no silêncio da noite, à luz das estrelas o mistério do amor. Segui-te ao Egito! Acompanhei-te a Nazaré! Subi contigo a Jerusalém... Passos de cruz... Era meio-dia! E o peso do tempo pousou em todo o teu ser. Céu de chumbo, sem vozes... Calado, teu menino ia morrer! Sofri contigo o momento! Contigo acolhi, sofrendo, o último olhar, a voz, o lamento, o gemido, a entrega... Procurei-te na caminhada dos homens! E encontrei teu olhar amado Em cada traço da história, E percorri, a teu lado, As estradas da vida. E se fez noite! E foi dia... O galopar incessante do tempo alastrava a esteira das horas. E a vida – artesã do mundo – mostrava e escondia teus serenos passos de Paz.

Auxiliadora! E confiei em Ti! As sombras negras do nada pra sempre perderam a vez! A luz de nova aurora se faz cada dia mais forte, enquanto a história repete: “Foi Ela quem tudo fez!”

Espera Era menina, Maria. Menina, mas cheia de fé. E nos seus sonhos trazia a determinação da mulher: oferecer-se ao Senhor esperando o Salvador. Era menina, Maria. Mas era toda Amor, esperança, doação. Por isso, Deus se fez homem e achou abrigo seguro em seu casto coração. Era menina, Maria! Mas sabia distinguir Entre o que passa e o que fica, entre o passado e o porvir. Era menina, Maria. Menina, mas cheia de fé. Nela, Deus se encarnou... E nossa história mudou! Ah, Maria de Nazaré!

E encontrei-te em minha vida, Mãe... Mestra... Senhora, tão procurada, tão querida, setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 61


É Festa

Celebrando a vida - Aniversariantes DEZEMBRO

03. Odair de Abreu 04. M. Guadalupe Lara 06. Mathilde Orlando 11. Célia Regina Pinto 13. Maria Luzia Dantas 16. Therezinha Caffer 19. Rosa Maria Valente 20. M. Conceição Gomes Aldiana Moreira Cordeiro (nov.BMT) 24. Maria Antonieta Momenso 26. Cecília Fauza – Ruth Cardoso 27. Celina Carraturi – Ana Luiza da Silva Medeiros 28. Maria das Graças Alves 29. Adair Sberga – Francisca Rosa da Silva 31. Chantal M’ ukase (Conselheira Visitadora)

FEVEREIRO

02. Elza Aparecida Rodrigues – Maria Auxiliadora Barros 03. Ana Alves de Jesus Marinho 04. Heloisa Monaco do Nascimento 05. Margarida Santos 09. Teresa Crist. Pisani Domiciano Maria de Lourdes Fidelis dos Santos 11. Maria Tereza de Jesus Rodrigues Ramos 14. Ruth Wittlich 15. Violeta Horvath 22. Maria Nair de Souza 25. M. Eunice Wolff – Valentina Augusto – M. L. M.Becker 27. Asilé Elcy Fachini

JANEIRO

03. Dorcelina de Fátima Rampi 04. Márcia Mucci 05. Luzia Maria de Morais (Miziara) 06. Maria Auxiliadora Magalhães 08. Maria Luiza Miranda – (Cons. Geral) 14.Yvonne Reungoat- Madre Geral 16. Iolanda Pilotto 19. Isaura Chereguini 21. Teresinha Vicente 22. Dulce Mirian Hirata – Maria das Graças Rodrigues 27. Diomira Marcolin – Maria Lucília G. Fernandes Relva

PROGRAME-SE DEZEMBRO 16 | Início da Novena de Natal 17 e 18 | Coaching “Curso de Liderança” 25 | Natal 26 a 31| Retiro Anual - Mairiporã

10 a 15 | Encontro Nacional Vides - Guaratinguetá 17 e 18 | AEIS: Encontro de Lideranças - CSI 21 | Santa Inês - 110 anos CSI 28 | Festa de Jubileus - CMA Lorena

JANEIRO

FEVEREIRO

08 a 14 | Retiro Anual - Mairiporã 14 | 8h Entrada no Noviciado 16h Jubileus - Colégio de Santa Inês 62 | Em Família

01 a 03 | Encontro Inspetorial - Coord. PJ - Espaço Jovem 10 | Celebração de 110 anos - CSI 12 | Formação Permanente - Sensibilização - CSI


Programe-se

PROGRAME-SE

PROGRAME-SE 13 | Encontro de Gestores Polo SP - RSB Social - Insp. SDB 13 a 15 | Novinter II 14 a 15 | GT Nova Configuração - CIB - CSI 15 | Reunião Comunicação Social FMA & SDB - Liceu 18 e 19 | Coaching “Curso de Liderança” 20 | Reunião do Conselho 20 | 14h: Reunião Mantenedora Social | CSI 20 e 21 | Encontro Comitê de Animação - RSB Social - FMA &SDB 25 a 28 | Carnaval

LEMBRANÇA + 21 de novembro, Sra. Lourdes Tredezini, irmã de Irmã Cecília Tredezini. + 15 de novembro, Sr. José Augusto de Godoy, irmão da Irmã Maria Donância. + 04 de novembro, Aliamar Cristina Sberga Fascina, Irmã de Ir. Adair. + 19 setembro, Sr. João Marques, irmão da Irmã Ana Francisca. + 7 de setembro, Ir. Iracy Corrêa. + 1 de setembro, Angelina Pajola, Irmã de Ir. Ilza Malvestiti Beinotti e mãe do Pe. Pajola + 22 de agosto, Sr. Benedito, cunhado de Irmã Isaura Chereguini e Irmã Clarice Quereguini.

setembro |outubro | novembro e dezembro 2016 | 63


Que neste Novo Ano possamos caminhar cada vez mais juntos em busca de um mundo melhor, cheio de Paz, SaĂşde, CompreensĂŁo e muito Amor!


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