Ramizul e Violeta

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Fernanda Bittar Ilustrações Jeaninne Santos
Para Júlia, Clara, Gabriel, Bernardo, Alice e Laura.

Ramizul & Violeta

Ilustrações Jeaninne Santos

Rebeca, a raposa

Fino e Dina

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Meus olhos e Grisu

Todo ano é a mesma coisa: os irmãos Ramizul e Violeta esperam ansiosos pelas férias na casa da avó.

Dona Lúcia tem uma biblioteca enorme, e eles podem fazer o que mais gostam: comer jabuticaba no pé, dormir até tarde e viajar nos livros!

Cada história é uma nova descoberta, um mundo mágico que se abre diante deles.

É como se eles viajassem de balão, conhecendo terras encantadas e animais que falam. — Violeta, vem depressa! Nosso primeiro livro vai começar! — chamou Ramizul.

A menina correu e se acomodou numa almofada., a avó pegou os óculos, sentou-se numa confortável poltrona… e a história começou:

Rebeca, a raposa

“Rebeca, a raposa, era conhecida na floresta por sua esperteza. Inteligente e astuta, todos se consultavam com ela quando tinham algum problema.

Um dia, ela estava em sua toca quando um lindo pássaro colorido apareceu.

O pássaro, cujo nome era Niko, disse que precisava de ajuda para um problema muito grave. Rebeca escutou atentamente:

— Meu irmão e eu vivíamos tranquilos na nossa árvore, até que um dia um homem capturou Bambo e o colocou numa gaiola. Não sei como ajudá-lo, pois o homem quer me pegar também.

Rebeca pensou e disse:

— Encontre comigo aqui, amanhã bem cedo.

Niko foi embora, e a raposa foi para o meio da floresta, lugar de reunião dos bichos.

Chegando lá, contou o problema dos pássaros e disse que tinha um plano, mas, para dar certo, ela precisava da ajuda de todos.

O tamanduá, o tatu e a onça logo se ofereceram. O gambá, o coelho e a capivara também. O tucano, a arara e a borboleta se juntaram ao grupo.

— Todos são importantes — lembrou a raposa.

No dia seguinte, Rebeca e seus amigos esperavam Niko e, juntos, foram para a casa do homem.

Na varanda, estava a gaiola de Bambo.

Seguindo o planejado, eles foram entrando devagar na casa do camponês e, de repente, começaram a fazer muito barulho.

O homem, que estava dormindo, acordou assustado e foi até o quintal ver o que era aquela algazarra.

Os bichos pareciam enlouquecidos, corriam para todos os lados e faziam barulhos estranhos.

Enquanto isso, a raposa abriu a gaiola e o pássaro fugiu.

Com um assobio, ela avisou que era hora de ir embora.

Eles correram para a floresta: e os irmãos estavam juntos novamente.

Os bichos estavam em plena comemoração, quando ouviram um barulho estranho na mata.

O camponês estava de volta e trazia a gaiola vazia. O homem parecia triste e chamava pelo pássaro.

Bambo, vendo aquilo, ficou comovido, mas teve medo de chegar perto.

Os bichos não gostaram, e a revolta já estava começando, quando Rebeca falou :

— Dê uma chance ao homem!

Bambo, então, reuniu toda a sua coragem e pousou no ombro do camponês.

O homem sorriu e acariciou o pássaro. Naquele momento mágico, ele entendeu que pássaros são seres livres, não devem viver em gaiolas.

Rebeca resolveu se aproximar, os bichos olhavam curiosos.

O homem abaixou-se e passou a mão no pelo macio da raposa.

Todos os dias, o camponês voltava à floresta e, aos poucos, foi ganhando a confiança dos animais.

No final de alguns meses, todos ficaram amigos.

E este é o início de uma incrível história entre uma raposa esperta, um pássaro corajoso e um homem inteligente, que havia aprendido a amar e respeitar os animais.

— Gostaram, crianças? — perguntou Dona Lúcia.

— Adoramos! Conta outra! — pediram os irmãos.

— Conto, sim, mas esta vai ser no quintal, embaixo da jabuticabeira, porque agora é hora do nosso piquenique.

A avó estendeu no chão uma toalha xadrez e colocou a cesta com bolo e frutas entre eles.

Depois de lanchar, uma nova história começou — mas desta vez, é Ramizul quem vai ler.

Fino e Dina

“O besouro Fino e a mariposa Dina formavam uma dupla e tanto. Sempre foram muito amigos.

Viviam numa árvore, num jardim muito colorido.

Também eram amigos de Téia, a aranha, e de Béia, a abelha.

Como em toda boa amizade, também tinham lá suas briguinhas, reclamações e picuinhas.

Mas briga de verdade, de não se falar mais… aquela era a primeira.

Téia aconselhava Fino:

— Pare de bobagens. Você e Dina são amigos, e amigos não ficam sem se falar, não perdem a amizade um do outro por nada deste mundo.

Você não sabe as ofensas que ela me fez. Disse que sou cascudo e que minhas asas são duras. E ainda disse que sou feio! Feia é ela! Com aquelas asas enormes…

Desajeitada. É isso que ela é: uma desajeitada —. dizia Fino, ressentido.

Téia viu que não tinha muito o que fazer ali e resolveu voltar para sua casa.

Em outro galho da árvore, era Béia quem consolava Dina:

— Vamos, Dina, procure Fino e resolva logo este assunto. Uma boa conversa não faz mal a ninguém.

— Não quero, não! Ele disse que sou desastrada e esquisita. Logo eu, sempre elegante... — suspirava Dina.

— Isso são bobagens. Pense nas coisas boas que ele tem e em como vocês se divertem juntos. Não se esqueça de todas as conversas alegres, sérias e engraçadas que vocês dois já tiveram na vida. Não era bom passear com Fino pelas flores, ver o fim de tarde, saborear uma folhinha? — insistia a abelha.

Eu já disse que não tem jeito!

Béia viu que a mariposa não queria mudar de ideia, despediu-se de Dina e foi para sua casa.

No caminho, encontrou Téia:

— Oi. Estou vindo lá da casa de Dina, e as notícias não são boas. Ela não quer saber do Fino de jeito nenhum — disse Béia, desanimada.

— Ele também está assim, magoado com Dina — respondeu a aranha.

— Já sei! Vamos marcar um encontro para eles conversarem — sugeriu Béia.

— Dina não vai se souber que é para conversar com Fino — disse Téia.

Eles ficaram lá, se olhando com cara feia, quando ouviram uma voz:

— Oba! Achei uma mariposa e um besouro. Vou pegá-los.

Era Matheus, um garoto que morava ali perto e, com sua rede, gostava de caçar insetos.

Não deu tempo de correr, nem de voar, nem de nada. Os dois já estavam presos na rede do garoto.

— Peguei! Peguei! Vou levá-los para a minha coleção.

— Coleção?! Vamos sair daqui agora! — disseram juntos.

Fino, com suas asas grossas, se encarregou de cortar a rede, e Dina, com suas asas enormes, ia aumentando o buraco, até que eles conseguiram sair. Voltaram para a árvore aliviados.

— Ainda bem que você tem essas asas grossas e duras. Foram elas que rasgaram a rede. — disse Dina.

— E ainda bem que suas asas são enormes. Foram elas que aumentaram o buraco que eu fiz.

Deste dia em diante, nunca mais houve briga. Só dois amigos que compreenderam as diferenças e aprenderam a se respeitar.

Outro dia, voltaram a se encontrar num jardim, saboreando uma deliciosa folhinha.

Ramizul e Violeta ainda estavam sonhando com o mundo de Dino e Fina, quando algumas gotas de chuva começaram a cair.

— Vamos entrar, crianças! É hora do banho e, mais tarde, o jantar.

Os irmãos correram para casa. Eles sabiam que, antes de dormir, teriam mais uma viagem para alguma terra encantada.

Já no final da noite, quando estavam deitados, a avó pegou o último livro do dia. A curiosidade dos dois era imensa.

Olhinhos brilhantes, ouvidos atentos, e Violeta começou:

Meus olhos e Grisu

Era uma vez, uma pequena e pacata cidade.

Um dia, apareceu um homem com um cavalo. O animal era de uma beleza rara: cinza e com incríveis olhos verdes.

Uma menina, que morava ali, ficou impressionada com o cavalo e, quando a noite chegava, ela ficava na janela do seu quarto, a admirá-lo.

Certa noite, quando todos estavam dormindo, o animal veio falar com ela.

— Olá! Qual o seu nome?

Ela, assustada, respondeu baixinho, quase sussurrando.

— Que lindo nome! Na língua dos cavalos, quer dizer ‘Meus Olhos’ — disse o cavalo.

Ela sorriu com os olhos, depois com a boca, e perguntou o nome dele.

— Meu nome é Grisu!

Meus Olhos e Grisu passaram a noite conversando, olhando as estrelas e escutando o canto dos pássaros.

Na noite seguinte, ele apareceu e convidou Meus Olhos para um passeio no campo.

A menina montou no cavalo e os dois atravessaram montanhas e lagos e, no silêncio da noite, apreciaram as estrelas.

O homem foi embora da cidade e levou o animal com ele, mas a menina e o cavalo já eram bons amigos.

Grisu conhecia Meus Olhos tão bem, que sabia quando ela estava triste ou alegre. Às vezes, ela estava preocupada, inquieta com as coisas da vida ou magoada com alguém.

O cavalo a escutava com atenção e, depois, corriam pelas montanhas, sentindo o vento no rosto, o perfume das flores e olhando as estrelas.

No dia seguinte, a menina amanhecia mais calma e segura, pronta para enfrentar as dores do mundo.

Mas o tempo foi passando. A menina foi crescendo, crescendo… e começou a se esquecer de Grisu.

Ele, fiel companheiro, aparecia todas as noites, mas, vendo o desinteresse dela, corria sozinho para as montanhas.

Até que, em uma noite, a janela de Meus Olhos estava vazia. Ela já era uma moça e andava muito ocupada.

Grisu ficou entristecido, mas sempre passava por ali, na esperança de reencontrá-la.

O cavalo foi se acostumando com a solidão.,

Certa vez, Meus Olhos voltou para a sua janela. Mas agora, ela tinha um bebê.

Ela olhava o filho e sorria, só que ainda não via o velho amigo.

O bebê foi crescendo e, um dia, Grisu foi surpreendido: a criança estava sorrindo para ele.

O cavalo, que estava acostumado a ser ignorado, sentiu-se profundamente feliz, e foi correndo vê-la de perto.

A criança batia palmas e estava encantada com o animal. A moça ficou tão contente com a felicidade do filho, que seus olhos se iluminaram e, olhando pela janela, ela e Grisu finalmente se reencontraram.

— Olá! Qual o nome da criança? — perguntou o cavalo.

A jovem mãe, surpresa, respondeu baixinho, quase sussurrando.

Grisu, na sua infinita sabedoria, falou:

— Que lindo nome! Na língua dos cavalos, quer dizer ‘Meus Sonhos’.

A moça sorriu com os olhos, depois com a boca, e a criança fez o mesmo.

Todas as noites, antes de dormir, dou uma olhada pela janela e vejo Meus Olhos, Meus Sonhos e Grisu atravessando alegrias e tristezas, correndo pelas montanhas e sentindo o vento no rosto. O olhar nas estrelas brilhantes e o ouvido no canto dos pássaros.

E durmo em tranquila!

A avó beijou os netos e disse:

— Durmam bem, meus amores, amanhã teremos outras histórias. O mundo dos livros é maravilhoso e vasto e, descobri-lo, é uma linda aventura!

Ramizul e Violeta dormiram sonhando com a raposa Rebeca e os bichos da floresta, com o jardim de Dino e Fina, e com a menina e seu cavalo mágico.

Bom mesmo é dormir até tarde, comer jabuticaba no pé e viajar nos livros!

Você já conheceu um cavalo com olhos verdes?

Um grilo cantor?

Uma formiga que sonha alto?

Ramizul e Violeta conheceram — tudo isso e muito mais — nas histórias encantadas que escutam durante as férias na casa da avó.

Entre livros, frutas do quintal e cochilos de rede, os irmãos descobrem que a leitura pode levar a lugares que nem o vento alcança.

Este livro é um convite para imaginar, sonhar e lembrar que toda infância cabe dentro de uma boa história.

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