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Regionalismo crítico
from Relatorio TH4-B
by rjgfo
Regionalismo crítico
Casa de Chá Boa Nova - Alvaro Siza Começa-se a observar em Portugal dos anos 1950, o surgimento de um movimento que parece ir na contramão das tendências mais comuns da arquitetura do momento. Aspirando por independência cultural, econômica e política, Kenneth Frampton (2003) explica o termo regionalismo crítico como forma de ver a cultura regional como algo a ser cultivado de maneira consciente, em harmonia com o ambiente e buscando utilizar os elementos à disposição em termos de construção. As primeiras obras de Fernando Távora e Álvaro Siza, por exemplo, são profundamente marcadas pela influência da obra de Alvar Aalto e Frank Lloyd Wright, apontando a possibilidade de produzir arquitetura moderna que, ao mesmo tempo que é comprometida com uma série de aspectos característicos da modernidade, permite criar nexos com as condições produtivas e materiais limitadas que o lugar oferece, algo que Frampton destaca como ponto alto do regionalismo crítico.
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“Uma casa não deve ser colocada nem acima nem abaixo da montanha, mas sim na montanha”, seguem os dizeres de Frank Lloyd Wright, que parece ter sido a maior referência dessa corrente de pensamento. O vínculo com o lugar, a incorporação da topografia e do espaço externo ao projeto ao invés de passar por cima ou deixá-lo em segundo plano marcam um estilo de pensar arquitetura fora do padrão desenvolvimentista e dissonante com a natureza, não criando um conflito com seu contexto e disputando o lugar, mas acomodando-se reverente ao que já está construído. A maneira de se trabalhar a entrada de luz na construção, criando jogos de luz e sombra, é fortemente marcada em obras de arquitetos posteriores, como Tadao Ando, que parecem beber da fonte do regionalismo crítico. Desenvolve-se um vasto refinamento construtivo a partir da junção de diversos elementos e práticas construtivas não muito associados anteriormente à ideia de modernidade construtiva, além de um retorno à sensibilidade em relação à paisagem, elemento instrumental para a arquitetura de Álvaro Siza.
Nota-se a valorização do desenho, não apenas como um registro frio da situação, mas como forma de apreensão sensível e meticulosa, como um levantamento topográfico, muito além da arquitetura por si só. Mario Botta afirma que “o pensamento arquitetônico não deve ser restringido à disciplina arquitetônica por si só, mas sim que o arquiteto deve ter uma formação múltipla, entendendo de história, antropologia, sociologia, de forma que entenda grupos sociais e culturais distintos.”
O domínio da artesania e da construção com tijolo é muito forte na região em que se
encontram obras de Mario Botta, por exemplo. Isso decorre da existência de recursos disponíveis para tal tipo de método construtivo na região em que o projeto será executado. Essa apreensão do vernáculo potencializa a exploração e o domínio de técnicas construtivas características de determinado lugar, ao mesmo tempo em que mostra que as técnicas construtivas que utilizam majoritariamente o aço, o vidro e o concreto armado, vistas como sinônimo de progresso e empregadas massivamente no período modernista, são de certa forma superadas em prol da exploração dessa dimensão construtiva mais autoconsciente. O que não evita que Mario Botta, assim como muitos arquitetos da época, a partir dos anos 80, com o Star System se consolidando com mais força, acabem perdendo suas características que mais marcaram suas obras e inovaram o repertório arquitetônico.
As dimensões da sensibilidade e dos sentidos são exploradas a fundo, com ênfase no tátil e no visual, exemplificados com níveis variados de iluminação, de calor e frio, de umidade e deslocamentos de ar, de aromas e de sons. Isso não quer dizer que a dimensão racional seja descartada, o progresso do legado arquitetônico é repensado em conjunto com práticas vernaculares e a valorização dos materiais e técnicas construtivas originárias e características do lugar em questão. O intuito é apenas fugir do cerco da investida otimizadora da civilização universal.

Casa Rotonda - Mario Botta