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Cidade genérica
from Relatorio TH4-B
by rjgfo
O purismo do modernismo é confrontado pela realidade. A arquitetura moderna não consegue construir um mundo à imagem e semelhança da Villa Savoye, de Le Corbusier, edifício símbolo dos cinco pontos da arquitetura moderna. Rem Koolhaas, grande conhecedor da história da arquitetura, trabalha antenado nas disrupturas da sociedade contemporânea, definindo a nova cidade como cidade genérica.
Segundo o autor, o genérico pressupõe perda de qualidade, de identidade, de contato com a realidade. A ruptura da arquitetura com o urbanismo se dá pelo que ele chama de teoria da grandeza, em que a arquitetura se torna ao mesmo tempo máxima e mínima, com o objeto arquitetônico ocupando uma enormidade no espaço, porém perdendo sua autonomia e independência. Os shopping e aeroportos são exemplos paradigmáticos de edificações que se distanciam do tecido urbano.
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Shenzen, na China, como exemplo de cidade genérica A sociedade contemporânea, pautada fortemente no consumo, destruiu as qualidades específicas das cidades, seus atributos se perdendo ou tornando-se residuais, sendo a cidade genérica a condição global do mundo contemporâneo. O contexto, o entorno, o urbano é deliberadamente removido do planejamento da cidade - a ideia de pureza romantizada sai de cena e entra o realismo, o contexto de múltiplas faces e narrativas, incorporando o precário ao todo, inclusive. As construções poderiam estar em qualquer lugar sem nenhuma perda significativa para o seu significado. Destaca-se o edifício ícone: um monumento em homenagem ao consumo, à empresa, à permanência do capital.
Enquanto a identidade centraliza, as cidades tendem a se descentralizar e seu centro já não é mais centro de nada. Para Koolhaas:
A insistência no centro como núcleo de valor e significado, fonte de toda a significação, é duplamente destrutiva: não só o volume sempre crescente nas dependências é uma tensão essencialmente intolerável, como também significa que o centro tem que ser constantemente mantido, quer dizer, modernizado. (KOOLHAAS, 2010, p. 34)
Koolhaas compara a cidade genérica com um filme hollywoodiano: superficial e capaz de produzir uma nova identidade todas as manhãs. Parece ocorrer um fenômeno de homogeneização
aparentemente acidental nas cidades de todos os cantos do mundo. Seu passado é esgotado pelos próprios usuários da cidade, tornando-se menos significativo e apagando sua história. A cidade genérica, “se ficar velha, se auto destrói e se renova” (KOOLHAAS, 2010).
A grande originalidade da cidade genérica é abandonar o que não funciona, conciliando tanto o primitivo quanto o futurista - às vezes apenas essas duas coisas. (...) A cidade genérica é tudo que fica do que costumava ser a cidade. A cidade genérica é a pós-cidade que se está a preparar no lugar da ex-cidade. (KOOLHAAS, 2010, p. 42)
A rua morreu. Seu traçado urbano é fractal - uma repetição sem fim de um mesmo módulo estrutural - tendo a eficácia automobilística seu maior empenho. A cidade genérica está a passar da horizontalidade para a verticalidade. Arranha-céus parecem ser a tipologia final e definitiva. Habitação não é mais um problema - ou foi totalmente resolvida ou deixada completamente de lado. A paisagem urbana genérica é geralmente uma amálgama de setores excessivamente ordenados.
A cidade genérica é a apoteose do conceito de escolha múltipla: todas as hipóteses marcadas, uma antologia de todas as opções. As cidades específicas continuam a discutir os graves erros dos arquitetos, mas as cidades genéricas simplesmente desfrutam das vantagens das suas invenções. A cidade genérica é sociologia a acontecer. Koolhaas aponta que os escritórios não são mais tão necessários, e que dentro de cinco a dez anos, trabalharemos todos em casa. O que parecia uma crítica contundente na época, tornou-se dez anos mais tarde uma profecia.
A cidade genérica é como um filme rodando, que após o expediente, roda o filme para trás, em silêncio até sumir: “que alívio... está terminado. Esta é a história da cidade. A cidade já não existe. Agora já podemos sair do cinema” (KOOLHAAS, 2010)