Revista Singular | Edição 06

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CULTURA

TEATRO EXPERIMENTAL ITUANO EM ARQUIVO Memória documentada e fotográfica integram o acervo de um dos primeiros grupos de teatro da cidade de Itu

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ão há como falar de teatro em Itu sem mencionar Luiz Gazzola Sobrinho. Ele dedicou grande parte de sua vida a essa arte e foi um dos responsáveis por evidenciar talentos desta cidade por um longo tempo”, declama ,orgulhoso, o professor Luiz Augusto Gazzola. Declama, sim, com voz marcante e com a emoção do filho que fala do pai, o Professor mantém em seu acervo pessoal uma verdadeira relíquia para a cultura ituana. O álbum de recortes históricos, fotos, depoimentos e documentos do “Teatro Experimental Ituano (TEI)” é um verdadeiro resgate de memórias dos 17 anos em que o Grupo esteve ativo. A história começa quando Luiz Gazzola Sobrinho, até então sonoplasta do Clube Recreativo dos Comerciários (que teve suas atividades encerradas em 1948) cria o Grupo Dramático Nossa Senhora da Candelária, que contava com o apoio do monsenhor Benigno de Brito Costa, vigário na época. A primeira apresentação desta Companhia aconteceu em 1956, o drama “O mundo não me quis”. O grupo, que perdurou por mais quase quatro anos, ainda incluía em seu repertório as peças: “Feia”, “Poder das massas”, “Joaninha Buscapé”, “Chuvas de Verão”, Onde estás felicidade”, “Lágrimas de homem”, “A Canção de Bernadette”, entre outras. Teatro Experimental Ituano - O TEI foi anunciado oficialmente no dia 17 de setembro de 1961. A primeira peça apresentada pela TEI, “O Interventor”, foi encenada dez dias depois. O grupo teve seu estatuto e diretoria aprovados no ano seguinte, e as peças começaram a ser apresentadas em diversos locais da cidade, como o salão nobre do Instituto Borges de Artes e Ofícios (IBAO), no salão nobre do Instituto de Educação Regente Feijó, no salão do Cine Pirapitingui Clube (hospital Dr. Francisco Ribeiro de Arantes), no Cine Teatro Independente e até na sede da Corporação Musical “União dos Artistas”. As apresentações feitas pelo TEI, em sua grande maioria, eram gratuitas e, devido à boa relação do presidente do Grupo com o comércio ituano, havia arrecadação de brindes e sorteio durante os eventos. É comum encontrar cidadãos ituanos que se lembram de forma saudosa desses momentos, principalmente os que fizeram parte dos elencos do TEI ao longo da trajetória do grupo. Entre eles, além de Luiz Gazzola Sobrinho, passaram Júlio César Volponi Filho, Jaime Vecchiato, Valdyr Victal Daldon, Antonio Vecchiato, Francisco Barreto, Maria do Carmo Gazzola, Roberto Palermo, Geraldo Belucci, Marisa Couto

Ribeiro, Maria do Carmo Carneiro, Irene Bordini, Teresinha Francischineli, Janjão (Darci Rodrigues de Góes), ‘Canário’ Segirson de Freitas, Ulisses Bordini, Joaquim Araújo, Florindo ‘Zinho’ Mobrice, Luiz Gonzaga de Campos (Zaga), Francisco Garcia, Eliza Kalil, Nelson Siqueira, Pedro Garavello, Francisco X. Oliveira, entre tantos outros. E não apenas o público ituano conheceu o elenco de atrizes e atores do TEI. O grupo se apresentou em diversos municípios paulistas, entre eles, Cabreúva, Cerquilho, Piedade, Piracicaba, Pirapora e Tietê, tendo destaque em Sorocaba com a apresentação da peça “Toda donzela tem um pai que é uma fera”, onde ganhou o troféu “Oswaldo Zaragosa” como melhor conjunto do Festival do Teatro Amador da Região de Sorocaba (SP). Na mesma ocasião, Antonio Carlos Dal’Opio, que interpretou o papel de Porfírio, também foi premiado com medalha por ter sido escolhido o ator revelação do evento. Além desta, estavam presentes no repertório da TEI as seguintes peças: “Morre um Gato na China”, “A próxima vítima”, “Irene”, “Universitário morre às oito”, “A boneca e a princesinha”, “O coração não envelhece”, “A rosa das sete saias”, entre outros tantos sucessos. Boletim do TEI e Dificuldades - É possível realizar uma imersão no tempo folheando o acervo de Luiz Augusto Gazzola, principalmente ao reler as edições do Boletim Informativo do TEI, que iniciou circulação no ano de 1964. O jornal “A Tribuna Ituana”, edição de 14 de março de 1964, publicou: (sic) “Trata-se de Boletim que se destina a levar ao povo ituano, em nome daquele conjunto de amadores, a mensagem de trabalho, de luta e de entusiasmo. Mensagem que deixará o povo a par dos anseios, das conquistas e das dificuldades experimentadas na ingrata tarefa de oferecer um divertimento sadio à população!”. O texto refere-se ao fato de a distribuição de cultura ser uma tarefa “ingrata” pelo fato de não receber o apoio necessário para continuar com as atividades. No ano de 1967, cogitou-se a doação de um terreno pela Prefeitura ao TEI, a fim de construir sua sede. No entanto, as tratativas não evoluíram, embora o Executivo tivesse indicado terreno para esse fim, e o TEI não conseguiu ter sede própria ao longo de sua história. A sociedade ituana, simpatizante à causa da TEI, chegou até a demonstrar interesse na doação de materiais para construção da sede do teatro mediante doação do espaço. Em crise desde 1970, conforme matéria de título “O TEI está morrendo ...”, o grupo ainda resistiu até o ano de 1978, quando encenou a peça “O Inimigo das mulheres”. Na época, a imprensa ituana noticiou o fim do TEI e argumentou que o fato do Salão Paroquial ter sido transformado em Salão de Festas, deixando a cidade praticamente sem espaço para ensaios e apresentações. “Acredito, no entanto, que a entrada da TV aos lares brasileiros e ao sucesso das novelas da época foram vitais ao encerramento das atividades do grupo. O público diminuía, lamentavelmente, a cada apresentação”, afirma. “Sinto-me honrado em possuir este acervo e dividir a história da TEI com as pessoas que se interessam por cultura”, conclui Luiz Augusto Gazzola.


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