Revista Geração Bookaholic Edição #7

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deu. No fim das contas, a culpa é do autor, que não escreveu uma boa obra. Enquanto isso, a editora, que lhe prometeu realizar seus sonhos, está vendendo essa mesma falsa realização a outro autor. Trata-se de um comércio de sonhos num ciclo vicioso. O autor está num momento de fragilidade, e é exatamente neste momento que as editoras-abutres, ou editoras fantasmas, aparecem para “ajudálo”, ou seja, se alimentar dos sonhos do autor e deixar para trás apenas restos de frustração. Qual autor iniciante não passou por isso? E então, ele tenta novamente. Mas aí tem outro problema: algumas das grandes editoras não aceitam originais que já foram publicados. E ser publicado por uma editora fantasma, ainda que não tenha tido a projeção que gostaria – ou projeção alguma – já conta como publicação. O autor tenta as editoras de publicação sob demanda – que são aquelas que apenas prestam serviços ao autor, imprimindo os livros de acordo com a quantidade solicitada pelo autor, pagas previamente, e não fazem os serviços de uma editora tradicional, tais como revisão, divulgação, evento de lançamento, distribuição nas livrarias nacionais, tudo isso por conta da editora. Algumas até podem ajudar o autor com alguns desses serviços, mediante pagamento. Neste caso, esta editora é apenas uma prestadora de serviços, como uma gráfica ou um revisor freelancer. O autor percebe que está gastando muito mais dinheiro do que deveria, afinal, o trabalho já foi feito – a obra – e ele está sendo sua própria editora, fazendo todo o serviço sozinho e tendo um retorno muito pequeno. Como última instância, o autor corre para a autopublicação – se já não o fizera antes – e tenta, sozinho, abarcar toda a ____

problemática de se publicar: impressão, divulgação, lançamento, vendas, etc. Assim como foi na fase de editora sob demanda, acaba percebendo que está percorrendo um caminho inglório. Infelizmente, nesse ramo não se consegue muito, por mais seguidores que se tenha em suas redes sociais. A divulgação nunca será suficiente para atingir ao menos o mínimo de suas expectativas, que é viver de sua profissão de escritor. Mais uma vez, seu sonho precisa ser realizado e, lutando contra a frustração, o autor tenta as plataformas online de publicação gratuita, para tentar chamar a atenção de leitores, para depois vender seus livros. É o caso de sites como Wattpad, Recanto das Letras, Autores, Nyah!, Spirit, Addiction, Mesa do Editor entre outros tantos sites de publicação de histórias. O autor tenta utilizá-los como chamariz, publicando alguns capítulos ou mesmo histórias completas para fazer sua escrita conhecida, e depois, deixa um convite para conhecer seu blog ou seu livro e tentar vendê-lo. Apesar de ser uma boa estratégia, não é o mesmo que ser publicado numa editora, e assim, as vendas ainda não são suficientes para se manter e pagar suas contas. Então, o autor se vê novamente frustrado, pois não consegue dedicar-se totalmente à escrita, e deve estar entre escrever e um trabalho qualquer, seja ele qual for, mas que não é, exatamente o que gostaria para si, pois o que realmente deseja é ser reconhecido por seu talento: a escrita. E é neste momento que algo inesperado acontece: surge outra ideia. “Será que eu devo desenvolvê-la? E se não der certo?” Não, o autor não tem esses pensamentos. A escrita é mais forte que ele. Ele não pensa duas vezes e começa tudo de __

novo. Quem sabe essa nova história é aceita por alguma editora séria, que trate seu original com respeito? Meses depois, quando a nova história está pronta, começa a maratona para encontrar uma editora que se preste a ler seu original. Mas tudo acontece exatamente igual à primeira vez. Então, ele recebe um conselho: “Procure um agente literário. Ele saberá indicar uma editora que seja compatível com sua obra. Além disso, as grandes editoras recebem melhor originais através de agentes literários do que através dos próprios autores.” Na verdade, algumas das grandes editoras do Brasil só recebem originais já avaliados por um agente literário, se reservando a publicar livros inéditos desta fonte, enquanto publica livros de celebridades e traduções de best sellers, que são vendas garantidas. Para quê se arriscar em novos talentos? Neste caso, procurar um agente literário é uma boa ideia. É uma ótima ideia! E aí começam novamente os problemas. Pois os melhores agentes literários estão muito ocupados agenciando grandes e famosos autores do Brasil. O que fazer quando seu original é recusado também por agentes literários? Cansado, desmotivado e frustrado, o autor é vítima de mais um golpe: os falsos agentes. Da mesma forma que as editoras fantasmas, surgem os agentes literários que não são agentes de verdade, mas que querem também ter sua fatia nessa imensa torta, que não para de crescer, que é a quantidade de autores no Brasil. Oferecem contratos onde o autor deve pagar aos agentes um valor mensal em troca de ter seu livro oferecido às grandes editoras, ter os releases enviados aos jornais e revistas e seu trabalho divulgado. O problema é que o trabalho que um agente como __

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