7ª - Edição - Revista Gabrielle

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Ano 4 | 7ª edição | Maio 2018

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APRESENTAÇÃO

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revista que nasceu de um projeto lindo e da ideia de transformar a vida das mulheres que tiverem acesso à ela já passou por diferentes editorias, transformações e agora na sua 7ª edição representa mais do que nunca que nós mulheres somos a voz do Brasil, somos a revolução. O voto foi um direito conquistado e merecido, há cerca de 80 anos atrás já haviam mulheres que buscavam pelo nosso direito de sermos cidadãs, não só do Brasil, mas cidadãs do mundo! O feminismo possibilitou e possibilita que mulheres tenham acesso não apenas ao voto, mas até mesmo a ocupar cargos políticos. Mas, nós não percebemos o quão marginalizadas ainda somos. Pense: quantas mulheres você já viu exercendo cargos como o de presidente de um país? Não precisamos ir longe para perceber que até mesmo em empresas nós não somos presidentes. Dois mil e dezoito, conhecido como ano de copa e ano de decisão política no Brasil. Para nós, mais uma oportunidade de mostrarmos que temos que estar nos campos, nas urnas, nas ruas. Resistindo por um país melhor e por um país onde as bancadas nos representem. Que elas traduzam as mulheres que somos: empresárias, políticas, jogadoras, empoderadas e sim, FEMINISTAS! Vocês vão se orgulhar da 7ª edição da Revista Gabrielle, sabemos da importância de cada diferença no mundo e buscamos através dessa revista respeitá-las e representá-las. Erika Bomfim | Editora-chefe


Emily Lisboa

Joyce Vieira

Repórter

Repórter

Larissa Daniele Repórter

Marina Norato

Repórter e assessora de eventos

Lais Silva

Editora assistente

Sabrina Dias Repórter

Erika Bomfim Editora-chefe

Wayzzy Franco Repórter

Giovanna Luchim Repórter de moda

Eduarda Costa

Repórter de celebridades

Aline Correa

Repórter fotográfica

Camila Moreira Repórter

Paula Queiroz Repórter e cronista

Giovanna Santaterra Repórter


INDICE 4 | Gabrielle

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A voz do Brasil

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A razão das mulheres não serem feministas

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Mulheres na política

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Representatividade LGBT na política

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Representatividade das mulheres na copa

23

A imposição da cirurgia plástica

26

Marcas fundadas por mulheres

29

Aqui homem não entra

32

O casamento imposto e a infelicidade camuflada

35

Lugar de mulher é na cozinha


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A VOZ DO

BRASIL

Elis Regina, a mulher que revolucionou a música popular brasileira Texto: Larissa Daniele

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lis Regina de Carvalho Costa, mais conhecida como Elis Regina, nascida em 1945 em Porto Alegre, Rio Grande do sul, foi uma grande cantora brasileira, para muitos até considerada a “melhor cantora do Brasil”. Começou a cantar ainda quando criança, com onze anos de idade já se apresentava no programa de rádio “No clube do Guri”. Em 1959 assinou contrato com a “Rádio Gaúcha “, um ano após sua entrada na rádio lançou seu primeiro disco “Viva a Brotolândia”. Em 1964, Elis Regina sai de Porto Alegre acompanhada de seu pai em busca da fama certeira, chegam ao Rio de Janeiro onde conhecem Ronaldo Bôscoli e Luís Carlos Miele, então Elis começa a se apresentar em um clube boêmio muito conhecido no Rio, o Beco das Garrafas. Lá também conhece o coreografo Lennie Dale que a ensinou alguns movimentos corporais que seriam essências mais tarde na carreira de Elis. Em 1965, conheceu o produtor Solano Ribeiro, responsável pelos festivais de MPB da Tv Record, ela assinou o contrato com a tv e começou a apresentar o programa “O Fino da Bossa” ao lado de Jair Rodrigues. Na sua estreia na Record, Elis se apresentou com a música “Arrastão” de Edu Lobo e Vinicius de Moraes e ganhou os prêmios “Berimbau de Ouro” e o “Troféu Roquette Pinto”, nesse mesmo ano é eleita a melhor cantora do ano. Teve seu primeiro casamento com Ronaldo Bôscoli, no qual teve seu primeiro filho João Marcelo Bôscoli (1970). Após um casamento conturbado com brigas e traições, Elis e Ronaldo se divorciaram. Seus filhos Pedro Camargo Mariano (1975) e Maria Rita (1977) foram frutos de seu segundo casamento com o pianista César Camargo Mariano.

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A cantora era muito envolvida com a política, foi uma ativista na campanha pela Anistia de exilados brasileiros. Em 1969, quando viajou para a Europa dando inicio ao seu eixo internacional se apresentando no Olympia em Paris, deu uma entrevista na qual criticava a ditadura e dizia que o Brasil era governado por “gorilas”, o que causou grande desavença com os militares brasileiros que mais tarde acabaram obrigando Elis a cantar o Hino Nacional em um estádio, o que provocou grande ira à esquerda do país. Destaca-se o fato de que em 1981, Elis Regina filiou-se ao PT. Também era uma defensora dos interpretes brasileiros e foi presidente da Assim (Associação de Interpretes e Músicos), uma associação que funciona até os dias atuais. Seu gênero musical era a MPB e a Bossa Nova era a sua paixão, gravou com Tom Jobim o disco Elis & Tom (1974), um dos discos mais influentes da Música Popular Brasileira. Mas ao longo dos anos com o surgimento de novos ritmos mais agitados dos anos 70, como o movimento Tropicalista no Brasil, Elis teve que se adaptar ao que o público queria, já que enfrentava uma plateia indiferente e fria. Nesses anos aprimorou sua técnica vocal e começou a gravar musicas com sons de guitarras – que era algo que ela não simpatizava. Em 1975 lançou o grande marco de sua carreira, o espetáculo “Falso Brilhante” ficando um ano e cinco meses em cartaz, com uma produção independente que realizou ao lado de seu marido Cesar Camargo Mariano e de uma grande equipe de maquiadores, cinegrafistas e artistas. Lançou músicas de vários grandes compositores atuais que até então eram desconhecidos na época, como Milton Nascimento, Tim Maia, Gilberto Gil, João Bosco, Sueli Costa, Belchior, entre outros.


intensidade, era visível em suas apresentações que ela podia expressar muita felicidade e melancolia em um mesmo show, chegando até a chorar em algumas canções. Devido a um momento de crise após a o seu ultimo divórcio com o pianista Cesar Camargo, as coisas na vida de Elis foram ficando mais intensas, o que causou nela o começo de um vicio em bebidas e drogas, já estava preparando um novo álbum quando teve sua morte precoce aos 36 anos, causada por uma overdose de bebida alcoólica e cocaína. Elis faleceu em São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1982 e teve seu velório no Teatro Bandeirantes. Uma morte que comoveu o país, deixando fãs e amigos desolados. Elis nos deixou um grande tesouro musical e teve um papel importante na construção da MPB, também nos deixou um exemplo de força e dedicação ao ir atrás de todos os seus sonhos.

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Foto: Internet

Elis era conhecida por ser uma mulher de atitude, e por ter uma estatura baixa, foi apelidada de “pimentinha” por Tom Jobim. Seu gênio forte a mostrava como uma mulher com um pensamento muito a frente de seu tempo, nas entrevistas que dava para as emissoras de tv e rádio, Elis sempre mostrou interesse nas lutas de classe e representatividade feminina – principalmente no meio musical. Participou do Especial Mulher 80 da Rede Globo, cujo tema era a mulher e o papel feminino na sociedade, quando abordado o tema da música nacional e vozes femininas, participaram do programa outras grandes cantoras como Maria Bethânia, Fafá de Belém, Rita Lee e Gal Gosta. Elis sempre dizia o quanto gostava de ser mãe, em uma entrevista para a TV Mulher em 1980, disse que se emocionou no nascimento de sua filha Maria Rita, pois estava esperando um menino, e quando viu que era uma menina, começou a compreender mais os cuidados de sua mãe e a ter uma proteção maior sobre ela, dizendo que “A barra não está muito pra gente, né?! O mundo é dos homens, ele é administrado por homens, os empresários são homens, os diretores de tv são homens (...). De repente a Maria Rita me deu outra visão de batalhar para que o lado dela fosse mais simplificado...”. Também mostrou ser a favor da legalização do aborto, através de uma entrevista da RBS. Apesar de parecer uma pessoa rígida e mal humorada como muitos a descreviam, Elis tinha um coração enorme, chegou a ajudar Rita Lee quando estava grávida na prisão, usando de sua popularidade para exigir a liberdade da cantora, um episódio onde nasceu uma amizade entre Elis e Rita, que acabariam dividindo o palco mais tarde. O cantor e compositor Belchior contou em uma entrevista que Elis era de uma generosidade tamanha e quando o cantor disse que não tinha condições financeiras de ir até a casa dela gravar as músicas que ela tinha pedido, Elis mandou um carro para buscá-lo e deixou que usasse todos os seus equipamentos de gravação para Belchior gravar o seu disco “Alucinação”. Muitos diziam que a cantora era uma pessoa competitiva e queria ser a melhor naquilo que fazia, se dedicava de corpo e alma e logo que ouvia uma música pela primeira vez já tinha a certeza que queria interpreta-la. Como todo artista que desenvolve seu trabalho com muita


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RAZÃO das

MULHERES NÃO serem FEMINISTAS

O movimento feminista é bastante discutido em diversos países, mas nem todas as mulheres apoiam a causa, e por qual motivo? Texto: Lais Silva e Wayzzy Franco

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esmo com todo o acesso à informação que temos hoje, é comum que várias dúvidas ainda venham à tona quando ouvimos a palavra “feminismo”. Muitas mulheres não se consideram feministas, e são inúmeras as razões que implicam este conceito. Como por exemplo, a falta de conhecimento sobre o tema, o não entendimento do real significado da palavra, o pensamento de que se declarar como tal é ter algo contra o sexo oposto, ou até mesmo, o fato de não se autodeclarar como parte pertencente de um grupo/movimento entre tantos outros motivos. O movimento surgiu com o objetivo de defender os direitos da mulher, questionando o poder social, político e econômico monopolizado pelos homens. Além de empoderar e unir as mulheres para que juntas lutem por respeito e liberdade de escolha, seja ele no espaço público quanto no pessoal, e assim consigam desconstruir os padrões estabelecidos por uma sociedade machista. A luta feminina por direitos equânimes ocorre há muito tempo, e diferentemente do que muitos pensam, feminismo não é o contrário de machismo e nem uma luta sexista, é a busca pela igualdade de gênero. Em entrevista com algumas mulheres, buscamos esclarecer os dois pontos de vista, e qual a razão delas se declararem ou não feministas. Mergulhamos no entendimento de cada posição, como forma de entender melhor seus posicionamentos perante o assunto. Katarina Dias, 19, mora em São Paulo (SP). Katarina é defensora do movimento feminista e explica o motivo pelo qual defende o movimento. “Me considero feminista,

pois acho necessário um movimento que lute pela equidade de direitos entre homens e mulheres e que represente a mulher. Ser feminista é não se conformar com o tratamento da sociedade para com as mulheres, e estar disposta a mudar isso através da resistência e conscientização”, conclui. A escritora e também poetisa Renata Pilger, 22, mora em Indaiatuba (SP) e pensa diferente sobre o assunto. Renata explica de forma geral, que seu questionamento vai de encontro ao seu conhecimento e visão de vida, e reforça que para ela, nada se define como absoluto nessa vida, e é por essa razão que não se define em ser feminista ou machista. “Não por não aceitar ou defender direitos, pois acredito no respeito, além de toda a desigualdade que existe no mundo sobre as diversidades, desde raciais, religiosas, de classes, e afins”. Sua visão é mais ligada ao que é chamado de misticismo, do que em questão de movimentos, ideias, dogmas ou até mesmo teorias. Renata sempre se propõe a enxergar as coisas

além do que dizem. “Acreditam ou querem que pensamos ou participemos, e por essa razão tenho em mim, a busca de um olhar mais amplo, ao menos a que faz mais sentido para mim”, explica. No oriente essa visão é mais aceita do que aqui no ocidente explica, mas que a partir do momento em que tentamos comparar a energia da natureza e seus segredos com o mundo e ser humano, conseguimos enxergar as falhas e o que precisa ser mudado. A questão é simplesmente essa, existe uma energia feminina que está para se manifestar e desenvolver-se. Mas tudo isso não é tão simples como pensamos, e ela reforça que não podemos esquecer parte do que somos como seres divinos e não fazer como os homens e destruir tudo. “ (...) é como ser como a Mãe natureza e destruir quando se deve, mas com isso reconstruir e renovar tudo aquilo que foi exposto

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e jogado ali, e cabe a nós mulheres isso, e também aos homens com uma nova percepção, pois em nós existe essa dualidade”. Stephanie Franco, 23, mora em Itupeva (SP). Stephanie não só se considera feminista, como acredita e defende a necessidade da luta. “Sou feminista e a favor da igualdade de gênero. As mulheres precisam ser tratadas com o mesmo respeito e valor que os homens. Nós não lutamos para sermos melhores ou estarmos acima, e sim para que estejamos no mesmo patamar, para concorrermos às mesmas vagas de emprego, ganharmos os mesmos salários e sairmos nas ruas sem medo de sermos estupradas por estarmos usando uma roupa curta ou decotada. Me tornei feminista pelo simples fato de acreditar que a luta de todas as nossas antepassadas não foi em vão, mulheres ocupavam os mesmos cargos que os homens e ganhavam salários inferiores, não tinham direito ao voto e nem participavam das decisões políticas e econômicas do país, e embora muita coisa tenha mudado, ainda não conseguimos a igualdade, e é por ela que lutamos diariamente”, finaliza Stephanie Franco. Existem muitas controvérsias sobre o movimento e suas reivindicações. Desde já, muitos protagonizam as mulheres como propulsoras do ódio e destruidoras dos papéis da sociedade tradicional. Entretanto, é importante compreender as divergências de opinião, sem desqualificar quem pensa diferente e desmerecer os resultados da luta que o mesmo alcançou. Somente assim, é possível desconstruir vários clichês antifeministas que se espalham pelas redes e são repassados por muitas pessoas que em geral, desconhecem a causa feminina e transmitem discursos enraizados ainda na cultura machista e conservadora. Como também, tenhamos a consciência que respeitar e entender é melhor que oprimir e odiar. Ademais, muitas pessoas tem uma visão distorcida sobre o feminismo e o consideram uma forma de doutrinação visto que, para eles, impõe posicionamentos e opiniões sobre temáticas relacionadas às mulheres como um todo ‘determinante’ na sociedade. O que na realidade, o mesmo não nasceu como teoria inatingível, mas de uma constante necessidade, ou seja, é um parâmetro e direcionamento que pretende mostrar e ajudar muitas mulheres. O feminismo não é o mesmo que o machismo, um não é sinônimo do outro, e talvez a confusão e distanciamento se dê pelo mesmo fato. Sua força é carregada pelo nome, e seu significado é invertido pela radicalização da luta.

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Separar homens e mulheres, odiar e priorizar uma opressão de gênero sob outra, não é feminismo. Existem várias vertentes do feminismo, essas se diferenciam e ao mesmo tempo se entrecruzam constantemente, a partir do momento que buscam a liberdade e direito das mulheres, juntamente quando o fazem de acordo com suas reinvindicações que cabem a elas escolherem, em detrimento do contexto e espaço social que ocupam e buscam transformar. Não estamos aqui para dizer o que é certo ou errado, essas mulheres lutam por uma causa que acreditam, concordando ou não, existe um motivo, uma ideia e um objetivo a ser defendido e alcançado. Deixe, respeite e entenda o que muitas mulheres pretendem, e encontre você mesmo a sua razão. Lavínia Rocha, 20, mora em Belo Horizonte (Minas Gerais), é escritora e estudante de História. Lavínia se considera feminista e acredita que as mulheres são prejudicadas por todo um sistema que oprime e mata por sentir a necessidade de exigir mudanças. Por conhecer o movimento e os objetivos, ela luta diariamente para propagar as ideias.

Qual sua opinião sobre direitos iguais para homens e mulheres? Há uma diferença entre igualdade e equidade. Igualdade é aquilo que buscamos para o futuro, para que um dia homens e mulheres não tenham seus valores medidos por gênero. Mas, enquanto isso, precisamos de equidade, o que significa tratar as desigualdades


de forma específica. Por exemplo, igualdade seria haver uma lei Maria da Penha para homens também, no entanto, homens não morrem simplesmente por serem homens (morrem por outras questões, como raciais, por exemplo), já as mulheres sim. Os altos índices de Feminicídio (especialmente contra as negras) nos mostram que uma lei assim é bastante necessária. Por isso penso que “direitos iguais” é um termo perigoso, que abarca outros sentidos e dá margem para interpretações complicadas.

blemas, como a falta das mulheres negras. Para se ter uma ideia, na esmagadora maioria dos eventos em que vou, minha pele é a mais escura entre os escritores (e olha que sou uma negra da pele clara), o que revela uma questão complicada. Se pensarmos na Academia Brasileira de Letras e em prêmios importantes, a presença dominante ainda é branca e masculina, então há muito para mudar tratando de representatividade.

Muitas escritoras surgiram para Como escritora, é darem voz ao possível dizer que a feminismo e para representatividade a sua escrita, hoje da mulher na escrita – se considera aumentou? parte disso?Como avalia o cenário das Minha proximidade é com a mulheres na escrita literatura jovem, e nesse meio e no mundo? percebo certa presença feminina, mas ainda vejo uma série de pro-

nos um pouco, nossa realidade. Atualmente meu ativismo vem em forma de histórias (fantasias, romances, aventuras) em que uso como pano de fundo debates sobre minorias, e também em forma de palestras. Há um ano ministro a palestra “Feminismo não é palavrão” em fundações cultuais, escolas, eventos literários. Acredito que, no fundo, todas as mulheres desejam alcançar um mundo igual para si e para todas que as rodeiam, mas a imagem que propagam do feminismo é tão cruel, que acaba afastando muitas. Mas não tenhamos medo, a roda precisa girar! Se hoje podemos votar, por exemplo, é porque lutaram pela gente no passado, é necessário continuar movimentando o mundo para as mulheres que virão, finaliza Lavínia.

Ainda estou trilhando o meu caminho, mas todo o meu trabalho hoje é focado em questionar e mudar, pelo me-

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MULHERES na POLĂ?TICA Presente a voz que ecoa

Texto: Eduarda Costa e Lais Silva

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luta das mulheres ganhou força nos últimos anos, entretanto, sua trajetória não começou recentemente e muito menos alcançou suas reinvindicações em totalidade. O tempo foi o responsável em marcar todo o contexto histórico e explicar os motivos que fizeram com que muitas mulheres saíssem de suas casas, para manifestar sua voz e não calar diante de muitas injustiças e desigualdades que passavam. Na Grécia e Roma antiga, cidadania e voto sempre estiveram ligados. O homem usufruía de condições cidadãs e participava da esfera pública e política. Esse comportamento se prolongou em muitas esferas da sociedade durante os anos, infelizmente a mulher perdia participação, e seu papel era exclusivamente para afazeres de casa. No século XVIII, o ideal ocidental era baseado nos princípios de liberdade, participação e igualdade para todas as pessoas. O que se caracterizou no século XIX nas lutas por direitos, porém, apenas homens brancos e ricos eram portadores de direitos civis, políticos e sociais. Ademais, esse cenário e estrutura centralizadora, só fortificou a luta feminina pelo sufrágio universal e o reconhecimento de todas enquanto também cidadãs. Em meio a um cenário de constante transformações, ativistas ganharam espaço por se mobilizarem pelo direito ao voto feminino e à participação política, no que ficaram conhecidas como sufragistas. Os movimentos feministas e lutas do século XIX e início do XX, transformaram a condição da mulher e deram visibilidade a ela, o que foi

capaz de se difundir e conquistar proporções mundiais, principalmente intensificadas no momento da industrialização. ‘Deixe o voto para os homens e deixamos a casa para vocês’, essa frase era muito frequente e normal de ser pronunciada durante uma época. Esse trecho é do filme As Sufragistas (Suffragette), filme britânico de 2015, com direção de Sarah Gavron, que reconstrói a trajetória e luta do que se caracterizou o “movimento Sufragista” e todos seus métodos reivindicativos por direitos civis e sociais. O filme permeia a história de mulheres que trabalham em fábricas em péssimas condições, acendendo em algumas a chama de enfrentar seus limites com a esperança de uma vida melhor. A luta por igualdade e pelo direito do voto no século XIX, é manifestado por elas de forma pacífica, muitas foram às ruas e resistiram à opressão, mas a agressão crescente da polícia e pessoas contra o movimento foi o passaporte para decidirem que não deveriam parar por ali.

Sufrágio e a conquista do voto feminino O movimento sufragista feminino no Reino Unido teve início em 1897, liderado pela educadora britânica e fundadora da “União Nacional pelo Sufrágio Feminino”, Millicent Fawcett, que de forma pacífica lutava pelos direitos das mulheres. Em tempos pós-revolução industrial, tal movimento revelou o sexismo em que a sociedade britânica vivia, e para ser levado a sério e ter devido reconhecimento, teve de se tornar mais agressivo, mostrando a todos os reais objetivos e a força daquelas

que lutavam pelos seus direitos e lugares na sociedade. Foi Emmeline Pankhurst, que fundou a União social e política das mulheres e tornou os movimentos mais decisivos. Mesmo sendo detida diversas vezes, liderou muitas manifestações, e como forma de protesto por serem tratadas brutalmente, elas faziam greves de fome para chamar a atenção do sistema. Esse ato preocupava o governo que temia que uma possível morte fizesse a mídia trazer à tona a luta do movimento pela participação política da mulher. Em 1913, em uma tentativa desesperada de conseguir chamar a atenção da imprensa, a militante Emily Davison, entrou na frente do cavalo do rei Jorge V- o que resultou em sua morte. Isso fez com que a opinião pública se voltasse para o movimento sufragista e ele ganhasse mais força. O voto feminino foi aprovado no ano de 1918, através da lei britânica “Representation of the people act’, possibilitando que mulheres acima de 30 anos que dispunham 5 libras de propriedade, ou fossem casadas pudessem votar. A lei britânica foi o estopim para que às mulheres em outros países, buscassem o direito ao voto. No Brasil o direito ao voto feminino só foi assegurado em 1932. Porém, a constituição em seus artigos impedia que mulheres solteiras, sem autorização de seu cônjuge, ou viúvas sem renda própria exercessem esse direito. Em 1934 essas restrições foram eliminadas do código eleitoral, mas a obrigatoriedade continuava a não ser regra. Em 1928, Maria Ernestina Carneiro Santiago de Souza, mais

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conhecida como Mietta Santiago, conquistou o direito ao voto após descobrir que o veto contrariava o artigo 70 da constituição federal, votando em si mesma para o cargo de deputada federal. (o que muitos não sabem, é que Celina Guimaraes Viana, invocou o artitgo 17 da lei eleitoral do Rio Grande do Norte e foi a 1º eleitora do país em 1927). Carlos Drummond de Andrade fez um poema em sua homenagem, chamado “Mulher Eleitora”. Mietta Santiago loura poeta bacharel Conquista, por sentença de Juiz, direito de votar e ser votada para vereador, deputado, senador, e até Presidente da República, Mulher votando? Mulher, quem sabe, Chefe da Nação? O escândalo abafa a Mantiqueira, faz tremerem os trilhos da Central e acende no Bairro dos Funcionários, melhor: na cidade inteira funcionária, a suspeita de que Minas endoidece, já endoideceu: o mundo acaba. – Poema Mulher Eleitora: Carlos Drummond de Andrade!

Outros nomes que também ficaram reconhecidos pelo sufrágio feminino no Brasil, foram a das manauenses Elisa de Faria Souto, Olimpa Fonseca e Filomena Amorin, mulheres que faziam parte da elite branca da época, e fundaram a sociedade das “Amazonenses Libertadoras”, que tinha como objetivo a emancipação dos escravos, o que foi conquistado no estado um ano antes da lei Áurea, graças a seus esforços. As sufragistas Leolinda Daltro e Gilka Machado fundaram em 1910 no Rio de Janeiro, o “Partido Repu-

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blicano Feminino” que tinha como objetivo “promover a cooperação entre as mulheres na defesa de causas que fomentam o progresso do país”, e de certa forma iniciaram o sufrágio no país, através de seus objetivos e reivindicações. A paulista Bertha Lutz, foi uma cientista, líder feminista e ajudou a fundar a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher e a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), em 1922. Considerada umas das primeiras sufragistas brasileira que representou o país no exterior, levando a luta feminina para a imprensa e lançando candidaturas.

O Grande Desafio Com todos esses impasses, a participação da mulher na política continua sendo um grande desafio. O sufrágio feminino possibilitou inserir a mulher na esfera política, mesmo que não definitivamente. O direito ao voto no Brasil em 1932 foi finalmente estabelecido mesmo com restrições. Em 1934 sua obrigatoriedade não constava em seu artigo, mas as mulheres fariam isso valer o seu decreto. Olhar o papel da mulher na sociedade intriga analisar as ações e resultados que tiveram muitos feitos passados. Principalmente no âmbito da política, já que a mesma, ocupava lugares secundários, onde o patriarcado e a cultura machista ganhavam espaço público e político e as mulheres o privado, vetadas de terem escolhas e participação, mas isso não duraria por muito tempo. • Em 1929, Alzira Soriano torna-se a primeira mulher a tomar posse como prefeita de

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um munícipio brasileiro. Ela foi eleita em 1928 para o cargo de prefeita da cidade de Lages (RN). Em 1932, as mulheres brasileiras conquistam o direito de participar das eleições como eleitoras e candidatas. Em 1933, Carlota Pereira de Queirós tornou-se a primeira deputada federal brasileira. Em 1934, a professora Antonieta de Barros, filha de uma escrava liberta, foi eleita para a Assembleia de Santa Catarina. Ela foi a primeira parlamentar negra da História do Brasil. Em 1975, ocorre a fundação do Centro da Mulher Brasileira. Em 1979, Euníce Michiles tornou-se a primeira senadora do Brasil. Entre 24 de agosto de 1982 e 15 de março de 1985, o Brasil teve a primeira mulher ministra. Foi Esther de Figueiredo Ferraz, ocupando a pasta da Educação e Cultura. Em 1985, ocorre a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Em 1989, ocorre a primeira candidatura de uma mulher para a presidência da República. A candidata era Maria Pio de Abreu, do PN (Partido Nacional). Em 1995, Roseana Sarney tornou-se a primeira governadora brasileira.

A força e representatividade feminina é importantíssima para a sociedade e o fortalecimento da democracia. Uma vez que é presenciado o preconceito, violência e exclusão sobre elas. As mulheres são maiorias no eleitorado brasileiro cerca de 52% segundo dados do governo federal. Em contrapartida a essa porcentagem, o nú-


mero de mulheres na política não reverte em representatividade de candidaturas, mas esse dado vem se transformando e ganhando espaço, sendo um indicador do grau de amadurecimento em relação a reduzir as diferenças entre homens e mulheres. Nas últimas eleições municipais, em 2016, apenas 31,89% dos brasileiros que se candidataram eram mulheres. A primeira vez que as candidaturas femininas alcançaram 30% do total de candidaturas de um pleito no país foi nas eleições de 2012. Entretanto, desde 2009, a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997) estabelece, em seu artigo 10, que, nas eleições proporcionais (para os cargos de deputado federal, estadual e distrital e de vereador), “(...) cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”. Ou seja, mesmo depois de sua criação as chamadas “cotas de gênero”, alcançou pouco mais que o mínimo exigido. Mas será que o aumento na participação do voto para as mulheres é a confirmação da conquista por seu espaço? Pois bem, a lei de cotas, resultado de políticas para ampliar a participação feminina aos partidos, mostra que não. Os partidos são obrigados a reservarem uma participação de, no mínimo 30% para cada sexo. Dessa forma, essa medida foi resultado da revolucionária luta das mulheres e do movimento sufragista. Tal proporção de reconhecimento mostrou a obrigatoriedade de uma lei eleitoral.

Fraudes e candidatas laranjas Em 2016, houve alguns resultados de apuração das urnas que

contestaram a veracidade das eleições e registro de votos. Com mais de 16 mil candidatos que terminaram a eleição, sequer receberam um voto, ou seja, nem o próprio candidato votou em si, mesmo que tenha concorrido com o registro deferido. Nesse total de candidatos sem votos, 14.417 eram mulheres e apenas 1.714 eram homens. Isso levou o Ministério Público Eleitoral a orientar os procuradores a apurar os dados das candidaturas. Caso comprovado essas irregularidades nos registros, os responsáveis seriam acusados por falsidade ideológica, já que muitas mulheres não sabiam, que eram candidatas. Com relação a 2016, do total de 5.568 municípios, em 1.286 cidades não houve nenhuma mulher eleita para o cargo de vereador (a). Além disso, apenas em 24 municípios as mulheres representam a maioria dos eleitos para o legislativo municipal. Para solucionar esse desequilíbrio na disputa, seria com que os partidos assegurarem que homens e mulheres disputassem eleições com igualdade efetiva de chances. Entretanto, só isso não é o bastante, é necessário que incentivem as mulheres a se candidatar e também invistam em suas candidaturas, oferecendo verbas para campanha, tempo de propaganda no rádio e na televisão, entre outras garantias de espaço dentro das agremiações. De acordo com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, “o Brasil, apesar de ser um país democrático, com uma ampla participação feminina, está muito atrás de muitos outros países na nossa região e no mundo no tocante à participação das mulheres no Parlamento”.

Em sua opinião, este é um nicho da atuação na área eleitoral que precisa ser corrigido e incentivado. “Queremos mais mulheres na política”, disse ela ao destacar que as mulheres podem contribuir muito nessa área. “Temos menos de 100 anos com participação da mulher na política. Em 1932 foi garantido às mulheres que elas poderiam votar e ser votadas, no entanto, a lei que garante às mulheres melhores condições para serem votadas ainda é uma lei muito recente. O que nós queremos é que os recursos públicos destinados à participação das mulheres sejam efetivamente empregados financiando campanhas femininas”, concluiu. A primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff auxiliou para dar visibilidade e motivar mais mulheres a se candidatarem. Dilma ocupou lugar em um do cenário absolutamente masculino, ao qual ao longo da história e do perfil atual, está relacionado ao homem. Embora o termo ‘presidenta’ exista na norma culta portuguesa, Dilma preferia ser chamada como tal, porém, alguns cargos políticos ainda não adotaram o verbete “feminino” como uma regra relativa ao sexo. E nessa pequena parcela, as mulheres estão sempre acompanhadas de uma figura do sexo oposto. As lutas por representatividade das mulheres continuam, e a injustiças para com a mesmas também.

Marielle Franco Marielle Francisco da Silva, mas conhecida como Marielle Franco, foi uma socióloga, feminista, militante dos direitos humanos e política brasileira. Marielle era vereadora (PSOL) do Rio de Janeiro, e pode presenciar da pior forma

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possível, a resistência da mulher negra, periférica, e representante forte das classes excluídas e das mulheres em geral na política. A vereadora Marielle e seu motorista Anderson Gomes, foram assassinados no dia 14 de março de 2018. Sua voz dentre tantas que ela representada foi cortada naquele momento de ódio e violência. Entre tudo, ela acendeu a chama e plantou a semente em muitas mulheres e pessoas que buscam fazer a diferença, e que não descansarão. Marielle de corpo foi levada em mais uma das noites turbulentas do Rio de Janeiro, exatamente às 21h30 min de março, a comunidade viria a presenciar mais um dia de crime e injustiça. Entre tiros, vítima e mortes, encontrou-se dois corpos resultado da violência, sem comprovações ou explicativas

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para tal barbárie. Marielle e Anderson situavam-se já sem respiração, movimento ou voz. Nem mesmo um grito de socorro seria possível de ser escutado e atendido em míseros segundos da ação, pois nem o mais rápido dos reflexos seria capaz de defende-los. Marielle com apenas 38 anos e tantos de luta e repressão, foi cessada de continuar sua luta avante. A mulher que escrevia sua história, faz parte dela hoje, e o mundo toda a conhece. Sua alma permanece ligada e a chama acendida para com tantas causas que lutava. Em pleno ano de eleição é notório o efeito que tudo isso significa. Presente a voz que ecoa, avante mulheres na política.


Representatividade

LGBT na

POLÍTICA É hora de nos juntarmos a outros grupos minorizados e elergermos a nós mesmos Texto: Larissa Daniele e Emily Lisboa

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Foto: Yannis Papanastasopoulo

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representatividade LGBT é mínima na politica brasileira, esse fato ocorre na maioria das vezes por conta de casos de timidez ou medo de enfrentar fortes bancadas religiosas e conservadoras na Casa. Essa notabilidade cresce no mundo, mas não no Brasil, onde o único representante LGBT na Câmara dos Deputados é Jean Wyllys (PSOL) que é constantemente atacado pelos seus colegas conservadores de parlamento. Segundo pesquisas da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), 377 cidadãos LGBTs concorreram em eleições municipais em 2016. Desses, somente 25 vereadores e um prefeito foram eleitos.


Cotas Em 2018, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu que candidatos transexuais devem contar para cotas nas eleições e concorrer com seu nome social. Os candidatos (as) ainda não tinham conseguido retificar seus documentos e tiveram seus nomes de registro divulgados pelo TSE, até então, eles podiam usar o nome social, mas funcionava apenas como um tipo de apelido nas urnas. Para a candidatura de cada sexo a legislação determina um percentual mínimo de 30% a 70% e o objetivo é garantir a participação feminina nas eleições. Tathiane Araújo é a primeira mulher trans a fazer parte do comando do PSB e disse ao jornal Estadão que pretende trabalhar com o tema da criminalização da homofobia como prioridade no Congresso: “A lei que criminaliza o racismo, por exemplo, é um instrumento para se fazer justiça ao discriminado. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que merece”.

Foto: Joshwilburne

O candidato a prefeito Wirley Rodrigues Reis (PHS), conhecido como Têko, foi eleito na cidade de Itapecerica (MG). Wirley é homossexual e ligado à causa LGBT, disse que durante a sua campanha, sofreu ofensas relacionadas à sua sexualidade, mas que isso deu mais forças para que ele continuasse batalhando e seguindo com a campanha. O diretor executivo do Grupo Dignidade, Toni Reis, afirma que esses políticos precisam enfrentar além das dificuldades de candidatura, os estigmas de “pecadores” e “doentes”. Cleyton Feitosa, doutorando em Ciência Política pela UnB, aponta a predominância da cultura masculinizada e heterossexual na esfera pública e nos filtros do partido, que nem sempre acolhem essas candidaturas. E acrescentou: “Esse conjunto de fatores e obstáculos operam diretamente na ausência de motivação e ambição política para que a população LGBT se lance na disputa eleitoral, assim como outros sujeitos e sujeitas discriminados socialmente. Sendo assim, não se trata de “não gostar” da política, mas sim de não ver nela um horizonte de possibilidades concretas alcançáveis”.

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Apenas Rede e o PSB tem transexuais em suas executivas. A advogada Giowana Cambrone foi a primeira trans em um cargo de direção. Ela que é da Rede Sustentabilidade e do Raps, movimento de renovação política, estuda a possibilidade de se candidatar a deputada federal. Para Giowana, a Câmara é especialmente conservadora. “Nossos principais avanços nas questões de gênero foram conquistados por meio do Judiciário e não por leis aprovadas no Congresso”, afirma em entrevista.

RJ). Então, aumentar a bancada em 100% é sonhar com pelo menos dois eleitos”. Além dos pré-candidatos LGBT, existem também os aliados à causa, como a pré-candidata à Presidência, Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), na lista dos pré-candidatos, Manuela entra como “outros”, porque apesar de não ser gay, ela é uma aliada conectada com as causas. Em 2018 a pauta do voto LGBT vem ganhando cada vez mais força com o passar do tempo, a ONG APOGLBT que é responsável pela parada do orgulho LGBT em São Paulo (que é considerada a maior do mundo) tem como tema da parada desse ano as eleições. ‘’Poder para LGBTI+, nosso voto, nossa voz’’ é o slogan escolhido pelas ONGs, coletivos e militantes autônomos responsáveis pelo evento. A intenção desse movimento é que, a partir dessas eleições, as vozes dessas minorias sejam ouvidas nas urnas e fora delas, e que os seus votos sejam devidamente representados. Em declarações publicadas no site da ONG APOLGBT eles dizem: ‘’ É hora de nos juntarmos a outros grupos minorizados e minoritários e elegermos a nós mesmos e ás pessoas aliadas.’’ A vigésima segunda edição da parada do orgulho LGBT de São Paulo acontecerá no dia 3 de junho de 2018. Mesmo que agora, apoiar ou fazer parte dessa causa não seja considerado motivo de abominação, no cenário político atual são poucos os políticos heterossexuais que são aliados e abraçam as pauta LGBT+. Em 2018, o voto terá maior poder na mão dessas minorias e será preciso usar isso a favor para que possam eleger políticos que os enxerguem e os representes de forma devida.

O pedido para que o TSE passasse a considerar a identidade de gênero dos candidatos e não o sexo biológico ocorreu após uma consulta pública feita pela Senadora Fátima Bezerra (PT-RN), a pedido do coletivo #VoteLGBT. O coletivo #VoteLGBT é um movimento que desde 2014 visa aumentar a representatividade de transexuais, travestis, lésbicas e gays na politica institucional brasileira. A cada eleição o coletivo tem dois objetivos: dar visibilidade a candidatura pró-LGBT e incentivar as pessoas, LGBT ou não, a incluírem demandas de respeito à diversidade sexual e de gênero nos critérios que as fazem decidir seu voto. Nas eleições de 2018, a Aliança Nacional LGBTI+ começou um mapeamento dos précandidatos assumidamente homossexuais e aliados. O levantamento aponta 93 nomes divididos entre gays, mulheres e homens transexuais, lésbicas, bissexuais, travestis e outros (entre esses, os aliados – que podem ser heterossexuais mas são considerados defensores da causa). O partido com mais précandidatos LGBT é o PSOL (19), seguido do PCdoB (14) e o PT (11). O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, disse: “Nossa esperança é aumentar a bancada na Câmara em pelo menos 100%”, diz Reis. “Parece muito, mas na verdade hoje só temos um deputado assumidamente gay, o Jean Wyllys (PSOL-

Foto: Humberto Pradera

#VoteLGBT

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Representatividade DAS

MULHERES NA

COPA Qual lugar as mulheres estão ocupando no futebol? E onde ocuparão na copa?

Foto: Getty Imagens/ESPN

Texto: Joyce Vieira e Sabrina Dias

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opa do mundo chegando, apreensão para nós brasileiras depois do fatídico 7x1. Porém, o questionamento que também vem é: onde a mulher estará nesta copa? Elas estarão comandando times, preparando jogadores, apitando jogos, ou só limpando as sujeiras dos homens?

No Brasil as mulheres já foram até proibidas de praticar futebol A proibição da prática do futebol para mulheres, foi um corolário das ideologias que implicava a importância dos cuidados com o corpo da mulher, visto como frágil, e assim continuaria com sua “função” de procriadora e por consequência melhorando a raça branca no Brasil. Mas por trás dessa suposta proteção há o que chamamos de mise-en-jeux das fronteiras, que cria um lugar social para a mulher, reforça a ideia de mãe, que cuida e mantém um corpo roliço, sem músculos fortes e mobilidade limitada. Correspondendo a um padrão feminino social: passivo e submisso. Inicialmente essa exclusão do futebol foi aceita por grande parte das mulheres. Quando a antropóloga norte-americana Janet Lever esteve no Brasil nos anos de 1980 pesquisando futebol, sentiu falta das mulheres no esporte e a grande falta de interesse entre elas. Janet ouviu rumores de que a prática era proibida e questionou um funcionário da Confederação Brasileira de futebol se era verídico que existia essa lei. O funcionário foi direto e disse que não era essencialmente a lei que proibia pois as mulheres nunca iriam se interessar por futebol elas conheciam o seu lugar. O que deveria ser liberdade simples, sofreu preconceito assinado pelo poder público. Apenas em 1979 o futebol feminino deixou de ser proibido em lei e voltou a atuar novamente, o futebol feminino representa enfim a busca pela igualdade. Mas hoje há ainda duas questões importantes a serem discutidas: 1° Dificilmente há mulheres em programas de debate ou mesas-redondas, que discutam questões técnicas do futebol e não apenas as notícias. É muito normal ver mulheres apresentarem programas de futebol ou cobrirem jogos, mas elas nunca discutem sobre a escolha de jogadores, a escalação de times ou até mesmo a questão tática dos jogos.

2° As mulheres seguem padrões estéticos bem mais que os homens. Em qualquer canal que fazia cobertura da copa ou tv aberta era possível perceber homens d e todos os tipos: jovens, velhos, magros, gordos, altos, baixos, magros e brancos. Havia uma diversidade grande de homens, há no caso das lugares existia um padrão a ser seguido: jovem, feminina, magra, sem deficiência e branca. Infelizmente, junto às tantas torcedoras mulheres, o machismo, o assédio e o abuso sexual está escancarado. Além das mulheres não conseguirem espaço na publicidade da copa e em alguns programas, o trabalho das jornalistas ainda é desrespeitado nos estádios. É evidente que em partidas femininas não haja lotação de um estádio e a torcida não vibra da mesmo forma, e por consequência as jogadoras recebem um salário muito inferior aos jogadores homens. Ao longo dos anos foram quebrados muitos tabus em relação à mulher, o futebol está sendo um deles, mas, ainda falta apoio, incentivo e patrocínio para se tornar algo com maior visibilidade.

Mas porque a copa do mundo feminina não tem a mesma visibilidade que a dos homens? A conversa a respeito das causas e consequências da falta de visibilidade vem circulando: não existe interesse porque não está na mídia; não está na mídia por falta de investimento; falta investimento porque não existe interesse, ou qualquer outro questionamento desses fatores. Pois a raiz inicial desse problema precede futebol, mídia e investimentos. A declaração do coordenador de futebol feminino da CBF Marco Aurélio Cunha, celebra ‘shorts mais curtos’ e ‘penteados mais bem-feitos’ como melhoria no esporte praticado por mulheres, acabou por demonstrar a falta de compreensão à respeito dos conceitos ‘melhorias e ‘esporte. Se penteados fosse sinal de progresso a seleção masculina já estaria classificada para a final. Contudo, nunca ouve-se ninguém dizer que o comprimento dos shorts dos garotos pudesse atrair mais ou menos investidores. Na comissão técnica em grandes clubes, as mulheres são minoria, enquanto há 25 ou 30 homens, há só 3 ou 4 mulheres, e sempre em posições de nutricionista, fisioterapeuta ou psicóloga, dificilmente

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em posições denominadas socialmente como “masculinas”. No jornalismo pelo menos, a realidade será um pouco diferente, veremos mulheres narrando os jogos, debatendo escalações e opções técnicas. Mas será que elas terão o mesmo prestígio dos homens, ou serão questionadas por serem mulheres? Na copa de 2014 no Brasil, a repórter Sabina Simonato fazia reportagem na Casa de Portugal para o Bom Dia SP quando foi beijada no rosto de surpresa pela segunda vez, ela já tinha sido beijada por um torcedor da Croácia, visivelmente constrangida, nas duas vezes, ela falou que eram todos muito simpáticos. Mas isso não foi um fato que aconteceu somente na copa, aconteceu tanto que recentemente foi lançado um manifesto nas redes sociais, o “Deixa Ela Trabalhar”, uma iniciativa de 52 jornalistas que trabalham com o esporte, entre apresentadoras, repórteres, produtoras e assessoras de vários veículos e emissoras. Já com as jogadoras o preconceito também é recorrente: “muitas pessoas acham que por nós mulheres sermos pequenas ou até mesmo magras ou cheinha, não conseguiremos fazer bonito quando jogamos futebol” relatou Geovanna Aquino (25), moradora de São Félix do Araguaia, MT. Mas e sobre a seleção masculina que disputará a copa esse ano? Quais são as expectativas? Segundo a torcedora Marise dos Santos, 16 anos moradora da cidade de Lagarto em Sergipe são altas: “As expectativas estão bem altas, até porque o Brasil foi um dos primeiros países a se classificar para copa do mundo, porém uma coisa é jogar nas eliminatórias e outra é jogar a copa.O Brasil tem melhorado bastante e tem muita capacidade para ganhar essa copa de 2018. Espero que ganhe, mas não será muito fácil”. Vale a pena ressaltar que a Fox Sport deu início a um processo seletivo para que mulheres narrem os jogos da copa do mundo 2018. Inicialmente esse projeto criou grande repercussão, pois além de pedirem um áudio narrando algum jogo com lance de gol, eles também pediram que as inscritas enviassem foto de rosto e de corpo.

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Entretanto a produtora do evento diz que o propósito de pedir a foto era pela diversidade de pessoas no processo. A empresa se desculpou pelo ocorrido. “Lamentamos o ocorrido e pedimos desculpas a todas pessoas que se sentiram ofendidas. Vamos estar atentos para que nossa comunicação reflita o verdadeiro propósito do trabalho que vamos realizar: uma iniciativa pela igualdade de oportunidades entre homens e mulheres em todos os campos profissionais” escreveram em comunicado público. O responsável pela seleção editou a mensagem e excluiu o trecho que pedia fotos. Torna-se evidente que mais uma vez o papel da mulher na copa será visto ainda principalmente como torcedora ou em atuações coadjuvantes. Para uma mulher que trabalha na área esportiva, todo dia é um 7x1 diferente.


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imposição da CIRURGIA PLÁSTICA A insegurança é um dos maiores meios recorrentes para se tornar “bonita”.

Texto: Giovanna Luchim e Paula Queiroz

Fotos: Aline Co

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cirurgia plástica surgiu a partir da necessidade de reparar lesões de homens que passaram pelas guerras, primeiramente na Ásia, anos após foi se aperfeiçoando na Roma. Logo, a notícia se espalhou por toda Europa, porém, o método só foi se tornar um ato médico após a Primeira Guerra Mundial em que muitos soldados precisaram reparar os inúmeros danos causados pelas armas de fogo. Atualmente a cirurgia plástica não é vista mais apenas como um meio de reparar feridas, mas lhe foi dada uma conotação muito mais estética, as pessoas optam pela cirurgia plástica muito mais por questões de insatisfação com o próprio corpo do que para reparar lesões. A emwpresária Maria do Carmo (57), contou que escolheu fazer uma cirurgia de redução das

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mamas, porque não gostava do tamanho delas, então diminuiu um pouco, disse: “Não ficou do jeito que queria, tirei pouco para que as pessoas não reparassem, não sabia o que iam pensar sobre. Hoje em dia penso que deveria ter feito do jeito que realmente queria”. De acordo com uma pesquisa realizada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking, logo atrás dos Estados Unidos. Em 2015 foram realizados no país cerca de 1,2 milhões de cirurgias plásticas e 1,1 milhões de procedimentos estéticos, parte desse número se deve ao fato do crescimento da busca pela cirurgia do público masculino que cada vez mais assumem a vaidade com o corpo. Em entrevista com o cirurgião plástico Dr. Daniel Branco ele afirma que a cirurgia mais procurada são as de implantes de mama, silicone, “dentro da minha clientela, 50% é para implante de mama” diz. A questão que deve ser levada em consideração é “Por que as pessoas têm buscado tanto cirurgias para mudar o corpo?”.

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A força que a mídia conquistou ao passar dos anos deu a ela poder de influenciar, principalmente quando falado sobre insatisfação com a vida. Através de redes sociais, revistas, jornais, televisão, propagandas, é transmitida a imagem de um corpo ideal, estilo sublime, vida impecável, tanto para homens quanto mulheres, e isso, às vezes inconscientemente, gera um sentimento de infelicidade, trazendo uma necessidade de mudança para a possibilidade de se encaixar na sociedade, e é assim que muitos recorrem às cirurgias plásticas. A aeromoça Myrella Zozolotto (36) já fez duas cirurgias plásticas e apesar de relatar que o pós-operatório foi ‘horrível’ ela faria outras cirurgias, porque adora e o motivo seria estética mesmo. A respeito da imposição do corpo perfeito o Cirurgião Plástico Dr. Daniel Branco* diz: “Hoje as mídias sociais cobram de uma maneira exagerada o corpo ideal. O que precisamos entender é, que o corpo perfeito é o nosso. Nenhum corpo é mais perfeito que o nosso, para diminuir esse padrão de beleza excessiva. O nosso é o melhor, é o perfeito. Se você quer ser algo que não é, algumas características genéticas não permitem que você tenha aquilo que vê, causando uma frustração.” Ainda existe uma grande parcela de pessoas que, às vezes sem notar, são levadas a acreditar que da forma que seus corpos estão não são o suficiente para serem considerados bonitos e recorrem às cirurgias para transformar seu corpo naquilo que acham que é bonito sem mui-


to esforço, obtendo assim um resultado imediato. Muitas vezes os resultados não são os esperados, como o Dr. Daniel Branco cita, cada corpo tem características únicas e nem sempre o resultado é o esperado já que nem tudo se encaixa com qualquer tipo de corpo e genética, trazendo frustração e o desejo de consertar o que foi feito, e então surgem pessoas que fazem vários procedimentos estéticos tornando um ciclo vicioso. Quando questionado a respeito de pessoas viciadas em cirurgias o Dr. Daniel diz “Existe o vício pelo corpo, isso se chama transtorno dismórfico corporal, ou seja, a pessoa tem um transtorno de não enxergar o limite, faz uma coisa e nada a deixa satisfeita. Hoje na minha clínica existe um índice de suspensão em cirurgia, ocorre quando percebo que o desejo, a expectativa, contradiz o que estou vendo. Acontece em pessoas normalmente vaidosas que se acham horrorosas. São doenças psiquiátricas e devem ser tratadas com psicoterapia”. Em casos de pessoas que não gostavam do seu próprio corpo como era e optaram por fazer mudanças extremas podemos citar Valeria Lukianova, uma mulher cuja o corpo foi modificado para que ela se parecesse com a boneca Barbie e Andressa Urach, ex-dançarina e modelo que fez 14 cirurgias plás-

ticas em apenas 4 anos para ter o tão almejado corpo perfeito, o que acabou resultando em sérios problemas de saúde. Entretanto, a cirurgia plástica não só pode como também deve ser vista como positiva em certos casos, a mulher se sente bem quando vê algo melhorado em seu corpo, e tudo na medida certa e aplicado da forma correta, tende a ser bom para quem utiliza. Deixando de lado os exageros e a dependência emocional por procedimentos estéticos as decisões tomadas de forma sadia levam a bons resultados. Por isso, a cirurgia plástica deve ser levada em consideração sim, mas nunca como um escape para fugir das imperfeições do próprio corpo, e sim para melhorar aquilo que já é bom, aceitando as imperfeições e se amando da forma que cada um é, e atrelando a cuidados com o corpo e bem estar, tais como dieta e exercícios físicos. *CRM-SP: 106023

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MARCAS FUNDADAS por MULHERES Conheça marcas de sucesso comandadas por grandes empreendedoras.

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s mulheres estão cada dia mais independentes e buscando crescimento no mercado de trabalho. Muitas sempre sonharam em montar seu próprio negócio, e é claro que isso não acontece da noite para o dia e muito menos é uma tarefa fácil, é necessário todo um planejamento e muita dedicação para se destacar nesse meio. Cada vez mais, figuras femininas têm ganhado destaque no mundo dos negócios, são mulheres de histórias inspiradoras que batalham pelo sucesso e reconhecimento de seu trabalho. O mundo da moda está em constante processo de inovação, e a população em busca de novidades que lhes chamem atenção, por esse motivo muitas empreendedoras apostam nesse setor para firmar suas ideias no mercado. Confira algumas marcas fundadas por mulheres e se inspire:

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Foto: Free stock photos - Pexels

Texto: Wayzzy Franco


DUDALINA

CHANEL S.A. Fundada por Gabrielle Bonheur Chanel (mais conhecida como Coco Chanel), a empresa é especializada em alta-costura, bens de luxo e acessórios de moda, é considerada a quinta marca mais valiosa da França. Ao trabalhar como designer de moda, Coco queria fornecer às mulheres roupas elegantes e de aparência simples, seus vestidos caros e repletos de originalidade revolucionaram a indústria da moda. Desde o início, Coco Chanel ocupava o cargo de Designer Chefe, até o seu falecimento, em 1971. A marca se tornou famosa mundialmente em 1915, por conta da simplicidade de Gabrielle ao desenhar as peças. Hoje, conta com uma enorme diversidade de produtos como bolsas, perfumes, maquiagens, jóias e é claro, as incríveis roupas que fazem sucesso no mundo todo.

É uma empresa de confecções de alto padrão e moda do Brasil. Fundada no ano de 1957 em Santa Catarina, o nome da empresa é a junção dos nomes da fundadora Adelina Hess e de seu marido, mais conhecido como “Duda”. Apesar de fazer muito sucesso com suas camisas sociais, a marca fabrica também calças, malhas, blusas, saias, peças em tricô, entre outros itens. A empresa utiliza uma seleção exclusiva de matériasprimas diferenciadas que garantem a sofisticação de seus produtos para satisfazer os mais exigentes clientes, somados ao design de origem italiana, trazem elegância à quem veste suas camisas, ressaltando o bom gosto e o requinte do homem moderno e da mulher contemporânea. Possui mais de 105 lojas no Brasil, Equador, Itália, Suécia, Suíça e Panamá e comercializa para outros 55 países.

ANTIX A marca Antix foi criada por uma publicitária chamada Patrícia Ju Hee Ha, uma coreana radicada no Brasil. Fundada no Bom Retiro, bairro comercial de São Paulo, a marca surgiu para atender ao público atacadista da região, mas acabou se destacando pela qualidade e estampas lúdicas. Com o tempo, notaram que o atacado tinha carência muito grande de estampas e foi então que começaram a fabricar peças estampadas, porém ainda não possuíam estampas exclusivas, mas com a contratação de uma equipe de estilo, a marca ganhou sua própria identidade. As coleções trazem estampas baseadas em histórias, temáticas e referências de fora, a Antix alia o romantismo ao vintage pensando na consumidora jovem e feminina. Depois de algum tempo, com a ajuda das redes sociais, foi que decidiram abrir uma loja de varejo e em outubro de 2011, inauguraram a primeira loja, dentro do shopping Vila Olímpia, em São Paulo. Hoje a empresa conta com cerca de 10 lojas espalhadas pelo Brasil.

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LE LIS BLANC Tudo começou em 1982, quando a Restoque Comércio de Roupas Ltda. foi fundada na cidade de São Paulo como um outlet de marcas famosas por Rahyja Calixto Afrange, que comprava e revendia roupas e Waltraut Guida, uma ex-balconista, ambas com vasta experiência nesse setor. Em 1988, Waltraut, responsável pela parte de estilo e desenvolvimento de produtos, e Rahyja, que cuidava da área comercial, resolveram criar a marca Le Lis Blanc Deux (inicialmente batizada assim), com o objetivo de desenvolver um negócio de moda feminina direcionada ao público de alto padrão aquisitivo. As duas já começaram arriscando com uma loja no sofisticado Shopping Iguatemi, em São Paulo. Não demorou muito para o pequeno ponto localizado no último andar de um dos maiores e mais badalados shoppings da cidade chamar a atenção do público feminino. A marca possui hoje mais de 50 lojas e atende todos os estados do Brasil.

LOLITTA Fundada em 2008 no estado de São Paulo, a grife nasceu a partir do desejo da estilista Lolita Hannud de criar uma marca jovem e feminina com DNA em tricô, propondo modelagens especiais, cortes impecáveis e um trabalho manual único. O caminho da estilista para a moda foi natural, já que cresceu vendo sua mãe, proprietária de uma tradicional malharia de luxo, atuar nesse universo. Consolidada no mercado brasileiro, as coleções Lolitta são apresentadas na maior semana de moda brasileira, a São Paulo Fashion Week e trazem uma identidade forte, de uma marca jovem e ousada. O trabalho artesanal é uma característica marcante da estilista, que investe especialmente no corte e caimento em suas peças, que já foram vistas em personalidades como Gisele Bündchen e até em uma personagem do seriado norte-americano Gossip Girl. A empresária é considerada uma influenciadora da moda brasileira.

A presença de mulheres no empreendedorismo traz uma nova visão para o mundo dos negócios, cada uma com sua personalidade, busca inspirar outras mulheres que possuem o mesmo sonho a encará-lo sem medo e nos mostram que com potencial e persistência são capazes de se destacar no mercado, conquistando cada vez mais clientes. O melhor é saber que tudo foi alcançando por mérito próprio. Sem dúvidas, é um mundo onde há muita concorrência, mas com força de vontade e competência, todas são capazes de conquistar seu espaço e tirar de vez da mente das pessoas a ideia de que somente homem pode empreender.

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AQUI HOMEM NÃO ENTRA! Espaço de coworking em Nova Iorque SÓ para mulheres ajuda promover os negócios

Foto: Susanna Howe

Texto: Marina Norato

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á pensou chegar um dia na sua empresa e todos os homens estão desaparecidos? E na parede um aviso: “PROIBIDA ENTRADA DE HOMENS!”. Como você se sentiria por trabalhar em um lugar onde não há nenhum homem? Onde as mulheres podem trabalhar juntas, ajudando umas às outras em um clima de harmonia e sororidade! É exatamente isso que isso que o The Wing em Nova Iorque propõe.

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O que é o The Wing? O The Wing é um espaço de coworking e comunidade feito para mulheres empresárias, inspirado nos clubes de mulheres que começaram a surgir no fim do século 19 (exemplo, as Sufragistas). Audrey Gelman e Lauren Kassan, ambas de 30 anos de idade, são responsáveis por esse verdadeiro paraíso. Como muitas nós que trabalham o dia inteiro, elas sentiam falta de um lugar onde pudessem se arrumar, tomar banho e descansar durante os intervalos de trabalho. Então, em 2016, procuraram alguns investidores e conseguiram abrir a primeira unidade em Flatiron (bairro na cidade de Nova Iorque). Hoje já são quatro unidades no país, sendo três em Nova Iorque e uma na capital Washington. As parceiras do The Wing podem desfrutar de uma biblioteca, o seu próprio espaço para trabalhar, um barzinho para drinks, comidas fitness, uma sala de amamentação e um lugar para se arrumar (patrocinado pela Channel!) e tomar banho.

Por que espaços como o The Wing são tão importante para nós mulheres? Quando você trabalha em um espaço de coworking normal, as empresas não precisam necessariamente interagir umas com as outras. Essa é a

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diferença do The Wing: as mulheres criam uma rede de apoio, o que ajuda a promover seus trabalhos. E todas nós sabemos como é difícil manter uma relação saudável em um ambiente de trabalho quando só há mulheres! Não adianta negar: a competitividade entre nós é cruel! Mas é por causa disso mesmo, da competição. Passamos muito tempo tentando ser mais do que a outra, quando o que deveríamos fazer era apoiar.

Qualquer empresária pode ter um espaço? Lá no The Wing, você pode encontrar professoras, chefs, designers de moda, entre outras. Para ser um membro deste clube, você precisa fazer uma inscrição e pagar uma parcela mensal: 215 dólares para ter acesso à uma locação, e 250 dólares para ter acesso a todas da cidade. Até novembro do ano passado (2017), de acordo com o New York Times, o clube e espaço co-working já contava com mais de 1.500 membros.

Homens não podem participar mesmo? De jeito nenhum! Não importa se for marido, filho ou investidor: homem não entra!


Revista própria! Recém lançada pelo The Wing, a revista No Man’s Land (em tradução livre Terra Sem Homem) aborda assuntos feministas. Comportamento, culinária e moda são uns dos temas principais da revista.

Clube das mulheres em outros países O The Wing não é o único espaço de coworking no mundo. Já existem o Shecosystem (Canadá), The Working Women’s Club (Los Angeles) e o The Sorority (Londres).

O que nós estamos esperando para ter um desses aqui no Brasil? No Brasil, existem muitas mulheres que são donas de seus próprio negócio. Imagina todas juntas em um mesmo lugar apoiando umas às outras? Gostaram da ideia meninas?

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O

CASAMENTO e a

IMPOSTO “O melhor estado civil é o feliz” Texto: Emily Lisboa

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INFELICIDADE a CAMUFLADA O

casamento é um momento aguardado pela grande maioria das pessoas já que, desde sempre ouvimos que a vida perfeita tem o seguinte roteiro: 1

2

estudar

trabalhar

3

4

namorar

casar

5

ter filhos

Então desde cedo começa a busca para tentar se encaixar em mais um padrão. Apesar de que essa pressão social seja dirigida a ambos os sexos, mais uma vez as mulheres sofrem dobrado com mais uma imposição. Mulheres são ensinadas a agradar e a obedecer, desde pequenas ganhando brinquedos como ‘’minicozinha’’ ou ‘’utensílios domésticos’’ e sendo privadas de muitas coisas, tudo isso às preparando para o casamento.

Durante toda a vida as mulheres escutam comentários machistas do tipo: ‘’nossa já sabe cozinhar, já está pronta pra casar hein?” ou então ‘’nossa, você já tem essa idade? Já está na hora de arrumar um marido!’’ e inconscientemente o corpo de amigos e familiares vão impondo o casamento para todas elas, queiram elas ou não construir um laço com outra pessoa. As coisas estão supostamente mais fáceis, já que a sociedade está mais consciente quanto à liberdade de escolha da mulher, ela tem mais arbítrio para escolher o momento de se casar ou não. Porém, há mais ou menos 100 anos atrás as coisas no mundo e até mesmo no Brasil, eram bem diferentes. A mulher não tinha nem o direito de escolher o marido pois os casamentos eram combinados entre os pais dos noivos. Era muito comum ver casais com grande diferença de idade já que naquela época não importava a vontade da noiva e sim status social. Ao buscar em alguns grupos de mulheres no Facebook ou até mesmo fazer uma pequena pesquisa a nossa volta, podemos perceber como esses anos de imposição mais rigorosa ao casamento impactou a vida de várias. “Me casei com 17 anos e tive meu

filho com 18, não me arrependo de meu filho porém o casamento foi infeliz, eu queria me divorciar mas ninguém me apoiou. Tive que aturar me deitar com um homem que eu tinha nojo. No começo ele até me tratava bem mas com o passar do tempo vieram as brigas e agressões. Tentei novamente pedir ajuda a minha família para sair dessa situação mas me disseram que eu tinha que ficar com ele pois eu não tinha para onde ir” relatou uma entrevista que preferiu não se identificar. Uma coisa muito comum são meninas jovens que casam após terem engravidado, em grande maioria dos casos os pais não as aceitam e as garotas precisam buscar outras alternativas. Como é o caso de Larissa Silva (22), ela tinha 17 anos quando engravidou pela primeira vez e ao ser expulsa de casa se viu imposta a casar e foi isso o que fez: “Minha mãe não aceitou que eu tivesse engravidado tão nova e acabou não sabendo lidar com a situação, vi que me casando seria a única forma de poder criar minha filha e ter algum suporte’’. O mesmo aconteceu com Tatiane Antunes: ‘”Acho um absurdo e não aconselho meninas casando contra a própria vontade, fui morar com meu ex marido (pai da minha filha) quando eu tinha

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vitória para as mulheres, já que o país de mais de 1 bilhão de habitantes é considerado um dos locais mais hostis para uma mulher viver e registra em média um estupro a cada 21 minutos. No ocidente, o casamento não tem completa ligação com amor, felicidade e derivados, já que a união matrimonial tem mais a ver com governo e religião. Na grande maioria dos casos é a perda de liberdade e privacidade tudo por conta de uma pressão social já que, pessoas solteiras são mal vistas pela sociedade e são julgadas constantemente por fazer essa escolha, principalmente se a pessoa em questão esteja na faixa dos 30 anos. Uma pessoa solteira é ligada à solidão e infelicidade. Então, cria-se uma ilusão de que para ser feliz é necessário estar em um relacionamento, ter um (a) companheiro (a). Para as mulheres, não sonhar com um príncipe encantado e construir nosso próprio castelo é um grande ato de quebra de imposição da sociedade e graças à grande atividade do feminismo em pautas como essas, cada vez mais mulheres obtêm o acesso ao poder de escolha. O casamento não é errado, mas é sabido que a sociedade precisa se conscientizar em relação ao ato que mesmo sendo muitas vezes feito por amor, ainda aprisiona homens e mulheres.

Fotos: Allison Joyce (India), Anadolu Agency (África), Sthephanie Sinclair (Nepal)

16 anos. Parei de estudar e hoje penso que deveria ter terminado meus estudos já que parei no segundo colegial, só não me arrependo pela minha filha. Apesar dos pesares eu e meu e marido ficamos 16 anos juntos”. Ao redor do mundo o casamento tem suas devidas características dependendo da cultura predominante na região. Quando falamos em culturas, temos que lembrar que estamos lidando com tradições, crenças, leis, costumes, dentre outras características. Sabe-se que na maioria das vezes são paradigmas difíceis de serem quebrados. Uma das características culturais que não é bem vista, são os casamentos infantis, algo recorrente nos países do oriente. Países como Afeganistão e Etiópia estão entre os países em que esta é uma prática constante e bem mais severa, pois as crianças podem se casar com rapazes, viúvos ou homens que podem ser de sua própria família. A vida da mulher vale tão pouco nesses países que uma noiva infantil pode servir tanto apaziguar uma briga entre famílias, como para pagar uma dívida. Mesmo com todas essas péssimas condições em que as mulheres do oriente são submetidas, em 2018 finalmente foi criada a lei na Índia de que sexo com menor de idade passa a ser considerado estupro mesmo dentro do casamento. O que é uma grande


LUGAR DE

MULHER COZINHA ร NA

Conheรงa as mulheres da cozinha profissional Texto: Camila Moreira

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cozinha é um local que, historicamente, pertence às mulheres. Por muito tempo houve-se a popularização do ditado de que “lugar de mulher é na cozinha” e até hoje quando vamos nos referir à comida boa fazemos referência às mulheres de nossas famílias, como, a comida da avó. Mas quantas mulheres chefs de cozinha você conhece? Para os leigos em gastronomia, muito possivelmente só ouviram dizer da chef Paola Carosella, que faz parte do time de jurados do programa de gastronomia MasterChef Brasil. Na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, o site Agenda Sorocaba, produziu, para sua página do Facebook, um série de vídeos que visa mostrar a história dos principais chefs da cidade, dos 4 episódios, nenhum continha uma mulher. Maria Ângela Severino, é coordenadora de um curso de gastronomia, e diz em entrevista que o perfil dos estudantes de gastronomia vem mudando, está mais variado, não se assemelha ao início, quando somente profissionais da área que frequentavam as aulas para se aperfeiçoar. Samanta Souza e Camila Trematore, recém-formadas e chefs de cozinha do restaurante Veganlicia, em Sorocaba, dizem que há certa discrepância entre o mercado de trabalho e o curso de gastronomia, pois, enquanto no mercado não se vê muitas mulheres trabalhando, as faculdades apresentam turmas bem homogêneas. A dupla afirma que: “aqui na cidade existem muitas possibilidades de trabalho na área gastronômica, mas, além de priorizarem somente os homens durante o processo seletivo, é exigida muita experiência para as vagas iniciantes”.

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Enquanto em cozinhas de restaurantes há o predomínio do sexo masculino na confeitaria isso é menos perceptível, pelo menos no ponto de vista de Sophia Souza, que é dona e confeiteira na Brigaderia Love Candy. Dentro da gastronomia, a confeitaria realmente emprega mais mulheres, na cidade de Sorocaba temos dois grandes exemplos, a doceria Brumas e a Colombina que são comandadas e empregam mulheres. Mas mesmo com exemplos assim na cidade, a produção que visa mostrar os chefs da cidade resolveu dar como exemplo um confeiteiro. A taxa de empreendedorismo nesta área é relativamente alta, é comum se deparar com novos negócios na área de gastronomia, sejam eles, restaurantes, food trucks ou confeitarias. Mesmo quem já trabalha na área tem o interesse de ter o próprio negócio, as nossas entrevistadas Samantha Souza e Camila Trematore pretendem abrir um restaurante de comidas típicas e Sophia Souza pretende abrir a sua doceria, é através dessas iniciativas empreendedoras que a força feminina entra no mercado.

Na mídia Em uma breve pesquisa pela internet e alguns canais de TV é possível encontrar alguns nomes femininos nos programas culinários e no comando de alguns restaurantes. Você reconhece alguns dos nomes abaixo? O maior nome da gastronomia brasileira é Helena Rizzo, gaúcha que já foi modelo, estudou arquitetura, mas se encontrou na gastronomia. Em


2013, o seu restaurante ficou na posição 46º, de 50, dos melhores restaurantes do mundo no ranking organizado pela revista Restaurant, que também deu a Helena o troféu de melhor chef mulher da América Latina. Paolla Carosella, argentina que escolheu o Brasil como lar, é uma das juradas do programa MasterChef Brasil. Recebeu o prêmio de chef revelação pela revista Gula em 2005, já em 2010 foi a chef do ano pela mesma revista e nos anos de 2009 e 2010

a Veja São Paulo Comer e Beber escolheu seu restaurante como o melhor restaurante variado. Rita Lobo, chef, apresentadora e empresária. Possui um programa culinário semanal, mantém um canal no youtube e tem diversos livros publicados. O que norteia seu trabalho? Ensinar o brasileiro a cozinhar. Em seu escritório, o Panelinha, onde tudo que Rita faz é produzido, existem 20 funcionários, somente 2 são homens. Bela Gil é conhecida pela filosofia de vida, alimentação saudável e o famoso churrasco de melancia. Hoje comanda programas de alimentação saudável em um canal da Tv paga e se dedica a produção dos seus livros de receita.

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