1ª - Edição - Revista Gabrielle

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MEU CABELO, MINHAS REGRAS, MEU ESTILO!

Era pra ser só um corte de cabelo, mas acabei me descobrindo” Luana Castilho 1


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m meio ao caos do mundo contemporâneo, diversos assuntos são deixados de lado e substituídos por verdades impostas. Assim acontece com os padrões de beleza. Este nada mais é do que um segmento imposto pela mídia e aprovado pela sociedade onde só é bonito o que agrada e rende lucro. Não é preciso mencionar a diversidade, tão pouco mostrar que a beleza verdadeira está na essência de cada ser. É quase proibido pensar como ‘quem não se encaixa nos padrões’ se sente em relação a essa exclusão social que sem exagero nenhum -, acontece todos os dias.

Pensando justamente nisso, nas imposições da mídia, na forma ignorante do pensar social que criamos a nossa revista. Gabrielle é uma revista feminina fora do convencional, que veio para quebrar tabus e falar sobre assuntos diversificados, com foco na mulher e em sua luta diária pela liberdade de ser. Aqui, dizemos não ao machismo, não a diferença de gêneros, não ao padrão e não a opressão. Não a tudo que é rotulado. E como diria Millôr Fernandes: “nada é mais falso do que uma verdade estabelecida”. Nossa revista irá te surpreender! Ana Gasparotto

EXPEDIENTE EDITORAS Ana Gasparotto Jaqueline Krauczuk

REPÓRTERES Amanda Souza Aparecida Aquino Beatriz Faggian Beatriz Rodrigues Bruna Balmante Camila Lyberal Lucélia Vitoriano

MÍDIA Bruna Balmante Aparecida Aquino Amanda Souza Beatriz Faggian

PROJETO GRÁFICO


nessa edição

10 OS PERIGOS DO CANDY LIPZ

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GABRIELLE DE TODOS OS TEMPOS

BELEZA ATRAVÉS DA HISTÓRIA

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MODA DO BEM

MEU CORPO, MEU AMOR

14 CABELO AFRO, SUPERANDO PARADIGMAS

20 BRECHÓS GANHAM O MERCADO E OS CONSUMIDORES

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BREVE HISTÓRIA DO FEMINISMO

TENDÊNCIAS NA VIDA REAL

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LEVE VOCÊ A CAMISINHA

A FREBE DOS CINQUENTA TONS

28 MELANCIA


REPORTAGEM Beatriz Rodrigues FOTOGRAFIA Reprodução Internet

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e pobre a magnata, Gabrielle Coco Chanel revolucionou a moda feminina e entrou para a história. Fundadora de uma marca mundialmente conhecida e conceituada, ela quebrou barreiras e reposicionou a mulher perante a sociedade. Coco sempre foi atemporal e desprendia-se das regras impostas pela ditadura da moda e dos costumes: vestia blazers e calças, peças que eram destinadas apenas para os homens na época.

o grande amor da sua vida. Arthur ajudou Gabrielle a montar o seu primeiro negócio na cidade, uma chapelaria. O sucesso da loja foi tão grande que ela abriu uma filial em Paris.

Gabrielle Bonheur Chanel nasceu no dia 19 de agosto de 1883, na cidade de Samur na França. Filha de uma lavadeira e de um vendedor de rua, teve uma infância bem pobre junto com os seus quatro irmãos. Quando completou doze anos de idade, sua mãe morreu de bronquite, e seu pai, sem condições financeiras, decidiu colocar ela e uma irmã em um orfanato.

Angustiada com a morte do amante, Chanel que já era influente na região, decidiu abrir um ateliê com o objetivo de oferecer roupas confortáveis para mulheres, já que naquela época nenhuma estilista se aventurava a esse estilo de roupa. Nesse meio tempo, inventou a calça feminina, aperfeiçoou a moda praia e continuou com a fabricação de chapéus. Foi em 1922 que ela se tornou milionária, com a criação do famoso perfume Chanel n° 5, que é sucesso até hoje.

Ao completar 18 anos, Chanel decidiu mudar-se para um pensionato de mulheres católicas na cidade de Moullins. Foi seu grande começo, o lugar onde teve a oportunidade de mostrar seus talentos com a costura. No pensionato reencontrou-se com uma tia, e começaram a costurar juntas. O reconhecimento das duas com seus dotes para a costura não demorou a vir: foram indicadas para um ateliê que costurava enxovais. Assim, Gabrielle conquistou a sua independência alugando um apartamento com sua tia. Para ajudar no sustento elas também se apresentavam como cantoras em um café, que era frequentado por oficiais da cavalaria local. Um dos oficiais lhe deu o apelido que foi eternizado por causa de uma música que ela sempre cantava. A breve carreira de cantora no café também lhe rendeu um caso amoroso com um rico militar. Após o fim do breve romance, envolveu-se com o industrial inglês Arthur Capel, que seria

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Capel e Coco viveram uma longa e proibida história de amor, afinal, ele era casado com outra mulher. O relacionamento durou cerca de dez anos e foi interrompido quando um acidente de carro tirou a vida do rapaz.

Na Segunda Guerra Mundial, com a França ocupada pelos nazistas, ela decidiu fechar suas lojas e mudou-se para o hotel Ritz, onde conheceu o alemão Hans Dincklage, militar do exército de Hitler, com quem começou outra história de amor. O romance desagradou os parisienses, que deixaram de investir em suas roupas, porém, sua moda foi bem recebida pelos americanos que se tornaram os seus maiores compradores. Chanel se mudou para a Suíça e só voltou a Paris em 1954, quando ela já era um ícone em todo o mundo. Gabrielle Coco Chanel morreu em 10 de janeiro de 1971, aos 87 anos, em sua suíte particular no hotel Ritz, deixando uma das marcas mais importantes do mundo e um pontapé inicial no que viria a ser conhecido como feminismo. É por esse caráter, lutador, que decidimos dar seu nome de batismo a nossa revista.


GA BRI ELLE DE TODOS OS TEMPOS 5


BELEZA

REPORTAGEM Aparecida Aquino FOTOGRAFIA Reprodução Internet

ATRAVÉS DA

A

HISTÓRIA

s mulheres vêm sofrendo cada vez mais imposições sobre a sua beleza. A cada dia surgem padrões para definir o que é ‘belo’ e como se portar para atingir esse patamar. Entretanto, esse acontecimento não é exclusivo da era contemporânea, pois as exigências sobre a beleza feminina começaram desde os primórdios do surgimento humano.

PRÉ-HISTÓRIA: Durante o período pré-histórico a importância feminina era a de ser a progenitora. Devido a esse fato, as mulheres mais belas eram aquelas que possuíam características que mostravam que era fértil, como as encontradas na estátua de Vênus de Willendorf, utilizada em rituais de fertilidade pelos homens pré-históricos. A escultura possui traços muito curvilíneos, com um corpo cheio e farto que simbolizava a abundância. EGÍPCIOS E GREGOS: Passados os períodos pré-históricos, começaram o surgimento das primeiras civilizações antigas. Dentre elas, destacamos a egípcia e a grega, que tinham conceitos de beleza bem distintos. Os egípcios gostavam de belezas exóticas, prezavam corpos femininos delgados e altos, rostos finos e simétricos com grande uso de acessórios, maquiagens e até mesmo protótipos de esmaltes nas unhas. Os gregos por sua vez, tinham os princípios de harmonia e simetria. Para a sociedade romana a mulher era a versão “desfigurada” do homem. A deusa Vênus de Milo (ou Afrodite) era o padrão de beleza mais adequado para época, com quadris largos e seios fartos. IDADE MÉDIA: Indo para a Idade Média, devido à grande influência da Igreja Católica, os cuidados com o corpo eram deixados de lado, pois eram considerados pecados. Então, o lado estético das mulheres não era tão valorizado, nem existiam grandes ex-

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igências, a tal ponto que a maioria das mulheres andavam com a maior parte possível dos seus corpos vestidos, simbolizando a devoção e religiosidade. Contudo, há registros de que o corpo ideal da mulher seria seios pequenos, barriga saliente e olhos negros com uma face rosada. RENASCIMENTO: Com a decaída da influência da Igreja, surgiram os primeiros renascentistas no século 14 desafiando os dogmas propostos pela religião. Como no Renascimento, o princípio era o resgate de valores das civilizações antigas como a grega, onde o padrão de beleza da mulher voltou para a base da Vênus de Milo com a pele alva, ombros e seios fortes, bem marcada na época com o quadro “O nascimento de Vênus” de Botticelli.

No final do Renascimento as transformações exigidas no corpo da mulher foram bem drásticas. No século 17, uma mulher bela deveria ter traços delicados e cintura fina, por isso o uso de espartilho aumentou drasticamente junto aqueles vestidos longos que davam a mulher uma forma de ampulheta. O rosto ainda era alvo e os cabelos longos marcavam ainda mais o padrão da época. NEOCLÁSSICA: Esse padrão mudou radicalmente com o início das grandes navegações e o surgimento mais intensificado do comércio que formou uma nova classe social: A burguesia. A mulher Neoclássica trouxe um ideal de corpo farto como um todo, naturalmente cheio e rosto rechonchudo, que quanto mais acentuado e avantajado, mais riqueza representava. CONTEMPORÂNEA: O início século 20 foi marcado pela revolução feminina. As mulheres começaram a adquirir um corpo magro e o uso de espartilho foi abandonado dando a preferência ao sutiã. Coco Chanel teve

um grande papel na década de 1920 introduzindo saias na altura dos joelhos e cintura desmarcada. Os cabelos curtos eram a moda e o conceito de “sex- appeal” explodiu com a maior emancipação feminina que começou a adentrar o mercado de trabalho, preferindo realçar a personalidade e o gosto do que as suas formas corporais. MULHER HOLLYWOODIANA: Duas décadas se passaram e Hollywood entrou em cena formando uma nova ideia do que é um corpo feminino bonito. Em 1940 o símbolo de beleza era a Marylin Monroe, que possuía seios, quadris e pernas avantajadas com a cintura fina. O corpo violão continuou em alta até a década de 70 com o surgimento dos andróginos que levantaram o ideal de magreza tanto para os homens quanto para as mulheres. A modelo Twiggy era um exemplo disso. ATUAL: Da década de 90 em diante, a mulher busca um corpo atlético, seja magro ou curvilíneo, sempre definido. Exemplos desse modelo seriam Angelina Jolie e Madonna. A diversidade de opiniões do que é belo para uma mulher só mostra que não existe um conceito verdadeiro de beleza e que tudo se baseia no contexto histórico. É visível que todos os corpos possuem uma beleza natural, porém, a influência externa da mídia e ícones famosos, leva a um padrão que nem sempre é alcançável pela maioria. Vale ressaltar que a beleza não é só um conceito relativo das formas mas sim o que deixa as mulheres confortáveis. Portanto cada mulher tem o direito e o dever de decidir o que é melhor para si e não se massificar como vem acontecendo ao longo da história. É hora da liberdade, é hora de mostrar que mais bonito do que todos esses padrões é, sobretudo, a diversidade.


CONTEMPORÂNEA

GREGOS

EGÍPCIOS

RENASCIMENTO

ATUAL

MULHER HOLLYWOODIANA

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MEU CORPO, MEU

AMOR REPORTAGEM Bruna Balmante FOTOGRAFIA Reprodução Internet

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As modelos plus size quebram barreiras e ganham espaço na indústria da moda


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uitas mulheres estão se levantando para acabar com a padronização de corpos e voltar à valorização do amor próprio pelo corpo, seja como ele for. Mulheres que trazem forças umas para as outras, expressando a autoestima e a segurança de si mesmas, deixando a mensagem que “quem dita as regras é você e não a mídia”. A mulher do século 21 não luta apenas pelo espaço que ao longo do tempo vem conquistando, mas também contra a ditadura da beleza imposta pela sociedade, um padrão que muitas mulheres têm sido absorvidas como valor em suas vidas e tem causado doenças físicas e psicológicas. As modelos Plus Size, também conhecidas como “tamanhos especiais”, ou seja, um número maior do que estipulado pela indústria da moda, são mulheres corajosas que aceitam e assumem as curvas do seu corpo sem vergonha nenhuma, que aboliram as ditaduras e os preconceitos, e aderiram ao amor próprio. Essas mulheres usam e abusam do espaço que vêm conquistando, nas músicas, passarelas e editoriais de moda em várias revistas importantes pelo mundo. Uma das lutas é mostrar que toda mulher é linda e que elas não podem ser classificadas como “especiais”, pois também há preconceito embutido nessa mensagem. A marca norte americana Lane Bryant, especializada em peças de lingerie plus size, lançou uma campanha chamada #IamNoAngel (NãoSouAngel), reunindo mulheres do mercado Plus, provocando a grife Victoria’s Secret, famosa por suas modelos magras conhecidas como “angels”. Também começou uma nova campanha #droptheplus, para retirada da classificação do plus size, que difere os tamanhos de roupas. A ex apresenta-

dora de TV Ajay Rochester começou a campanha depois do caso da modelo australiana Robyn Lawley, que foi alvo de polêmica após posar para a revista “Sports Illustrated”, por vestir tamanho 40 e não aceitar a classificação. "Eu não sei se me considero ou não. Eu sou apenas uma modelo porque estou tentando ajudar as mulheres a aceitarem os seus corpos do jeito que são", disse Roby em entrevista À revista “Time”. A mulher pode se reinventar a cada dia. Esse poder de escolher ser diferente em todos os momentos cabe somente a elas. Essa segurança que faz dominar cada passo em cima de um salto agulha, de colocar qualquer biquíni e de não ligar para as opiniões alheias. Rachel Hollis, mãe de três filhos e escritora no blog Estilo de vida (The Chic Site), publicou recentemente no seu blog uma foto dela tirada pelo marido, mostrando as marcas do corpo depois de três gestações, com direito a uma legenda que rendeu 370 mil curtidas. “Tenho estrias e uso biquíni. Tenho uma barriga que é permanentemente flácida de ter gestado três bebês e eu uso um biquíni. Meu umbigo é flácido (que é algo que eu nem sabia que era possível antes!) e eu uso um biquíni. Eu uso um biquíni, porque eu estou orgulhosa deste corpo e de cada marca nele. Essas marcas provam que eu fui abençoada o suficiente de carregar meus filhos e que a barriga flácida significa que eu trabalhei duro para perder o peso que eu podia. Eu uso um biquíni porque o único homem cuja opinião importa sabe pelo que eu passei para estar assim. Esse mesmo homem diz que nunca viu nada mais sexy do que o meu corpo, com marcas e tudo. Elas não são cicatrizes, moças, são estrias e você as ganhou. Ostente esse corpo com orgulho! #HollisHoliday” Em 1968 as mulheres já não aceitavam ser considerados produtos e serem

rotuladas, foi quando aconteceu a manifestação conhecida como ‘A Queima do Sutiã’ que reuniu 400 ativistas, em protesto contra um concurso de Miss Americana em Atlantic City, EUA. A moda e a beleza dos corpos femininos se juntaram e fazem hoje grandes negócios. Aquela moda para garotas magras pode não ser a ideal, o mercado começou a mexer e proporcionou produtos para outro perfil. Algumas marcas de roupas já modificaram os perfis e o corpo cheio de curvas está começando a aparecer com frequência. Carolina Martins, de 21 anos, estudante de marketing do CEUNSP, diz que ama se ver no espelho e que para ela não existe padrões. “Você é o que é, pois se eu me sinto bem e confortável, não preciso desse padrão para me sentir feliz, estou bem e muito feliz da maneira que estou. Se existe padrão, gosto do meu”. A moda faz uma diversidade muito grande de consumidores e, portanto, uma grande variedade de padrões. As campanhas para o segmento plus size têm ajudado nisso, mas em contrapartida, as grandes marcas produtoras de artigos de moda ainda continuam a prestar um ‘desserviço’ ao investir sempre num mesmo perfil físico, diz Reginaldo A. Silva, Produtor de Moda. Para Carolina, se sentir bem é o importante. “Quando eu era mais gordinha sentia certo desconforto, depois emagreci e me senti muito mais desconfortável. Tem pessoas que dizem que não quer que eu emagreça para não perder a beleza”. O amor próprio está acima de qualquer preconceito e padrões estipulados por revistas, mídias e pessoas. O importante é se sentir bem consigo mesma, olhar no espelho e gostar do que vê e ter a garantia de uma vida saudável.

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OS PERIGOS DO

CANDY LIPZ REPORTAGEM Jaqueline Krauczuk FOTOGRAFIA Reprodução Internet

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té onde você vai para obter resultados esteticamente favoráveis? Lançado há pouco mais de um ano, a fama do Candy Lipz começou depois que a jovem Kylie Jenner, irmã da socialite e atriz norte-americana Kim Kardashian, apareceu com seus lábios surpreendentemente mais volumosos que o normal. Para quem não conhece, Candy Lipz é um aparelho que usa o método de sucção para inchar os lábios, deixando-os, em tese, carnudos e sensuais. Mas não é bem assim: a sucção pode deixar sequelas, já que os lábios são uma mucosa e não pele, tanto que testes outra parte do corpo não têm o mesmo efeito. O novo método tem duração de 2 horas e não pode ser repetido várias vezes ao dia, pois o uso contínuo causa hematomas, deixando os lábios roxeados de 10 a 14 dias, o que deixa grande quantidade de usuárias insatisfeitas com o resultado do aparelho. Isso certamente o site do Candy Lipz não diz; eles informam apenas que o aparelho foi desenvolvido para rejuvenescer a boca das mulheres.

Para piorar, pessoas tentam chegar a um resultado semelhante ao Candy Lipz usando métodos absurdos e arriscados: bocas de garrafas e copos de vidro. Não é preciso mencionar o perigo envolvido no ato, afinal, além de chegar ao pico do extremismo, os efeitos variam de pessoa para pessoa e geram problemas de saúde. Para quem quer optar por mudanças estéticas, o mais indicado em qualquer circunstância é a consulta de um médico especialista que indicará o procedimento correto para cada pessoa. Algumas vítimas do “padrão” de beleza hoje estão com a boca deformada e ainda mais insatisfeitas com sua aparência. A questão que fica é: até onde um ser humano vai para estar dentro de certos padrões impostos pela sociedade? Se arriscar com métodos inapropriados vale mais do que ter orgulho da beleza natural? Não é possível ser sensual do jeito que viemos ao mundo? Vale refletir.

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MODA DO BEM REPORTAGEM Lucélia Vitoriano FOTOGRAFIA Revista Gabrielle e Reprodução Internet

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e sentir mal com algo vindo de um lugar ruim, seja um doce que foi extraviado, furtado e vendido na feirinha da esquina, a um vestido caríssimo, produzido através do trabalho escravo, nos remete a situações que não gostaríamos de estar ou até sentimentos que nos deixam mal. Mas é o que nos leva a melhorar nossos sentidos, aprimorar os faros e ir à caça de uma boa compra consciente e agradável aos olhos de todos, e principalmente aos nossos. Pensando nisso, que tal algumas inspirações conscientes, agradáveis, de grande estilo e com os bastidores vindo de lugares encantadores? Sendo assim, veja alguns artistas que usam desde a simples e eficaz natureza a estampas, livros e cenas para fazer suas peças, que vêm cheias de alegria e com um toque de conscientização. Raphael Falci é um designer de acessórios que fotografa azulejos, paredes e objetos de decoração, mais precisamente aqueles que ninguém da importância. Um bom observador que gosta de dar vida de um modo inusitado a

coisas que já foram vistas e esquecidas, desde um simples envelope de carta a imagens e anotações que o faz criar lindas joias. Algumas de suas criações são braceletes, pulseiras, colares e brincos, com a estampa de uma porcelana chinesa da dinastia Ming, uma inspiração vinda de longe Paris com grande estilo e inovação. Já com uma pegada um pouco mais inusitada, temos Sandra Choi que no meio de um desenho a outro, fotografias de Helmut Newton vinham em sua cabeça fazendo com que ela criasse uma linha de sapatos e sandálias voltada ao luxo e ao erotismo feminino, com lindo designer e cortes perfeitos. É com variações e inspirações deste tipo, que muitas mulheres inusitadas procuram se vestir. Com uma base acima daquilo que os outros possam pensar ou montar opiniões, mas com peças que as tragam a vida de forma inusitada e que as preencha de forma que as diferencie deste mundão a fora e as coloque no dia a dia com mais vida e estilo.

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LUANA CASTILHO

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CABELO

AFRO, SUPERANDO PARADIGMAS REPORTAGEM Aparecida Aquino FOTOGRAFIA Danilo Antunes

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aturais, relaxados, com dreads ou com o famoso black power, o cabelo afro atravessou barreiras e hoje não é apenas a identidade de um povo, mas sim sinônimo de liberdade! A história dessas madeixas começou nas tribos africanas, onde o cabelo significava estado civil, idade, religião, riqueza e etnia. Mais tarde durante os períodos de escravidão, os cabelos eram simplesmente raspados deixando o significado inicial. Só na década de 70 que a cabeleira negra voltou à tona com os poderosos black powers e os dread locks. Entretanto, com o passar dos anos o movimento perdeu força e o padrão europeu voltou a se sobressair embutido com preconceito, que de forma ‘sutil’ permanece até os dias de hoje. O fato é que em pleno século 21, ainda há quem acredita que cabelo bom é só cabelo liso. Mulheres nos contam histórias sobre o racismo despejado sob suas cabeleiras. “Sim, de acordo com os padrões, o cabelo liso é um quesito para um cabelo bonito. Como a maioria das adolescentes, detestava os meus cabelos. Ouvia na escola que meu cabelo

era feio, era grosso, era ruim”, disse Iraciane Silva estudante de Eventos. Marcela Goes também estudante de eventos nos conta: “eu cresci numa escola particular onde a maioria dos alunos eram brancos. Eu era negra com o cabelo bem crespo, e minha mãe o cortava bem curtinho. Eu tinha vergonha porque estava acostumada a ver as meninas todas de cabelo liso, às vezes eu colocava uma toalha e fingia que era meu cabelo”, conta. Vítimas do padrão, mulheres - assim como elas - aderiram ao alisamento e disseram adeus aos seus cabelos naturais em uma tentativa de se encaixar nas ‘regras’ e conviver sem ouvir comentários repletos de preconceito. Iraciane relembra como foi essa mudança, “o pior de tudo, é que durante muito tempo eu realmente acreditei que o meu cabelo não era legal. Comecei a alisa-lo em 98 quando vim da Bahia para Salto, mas te juro que não me sentia bem com o cabelo liso, pois para mim era como ter vergonha da minha origem.” Marcela adotou a mes-

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Uma mulher me parou e disse: ‘Nossa que lindo, mas tem que ter muita coragem’

MARCELA GOES

IRACIANE SILVA

TAÍS DE JESUS SANTOS

ma opção, “quando cresci comecei a alisar meu cabelo, porque achava que era o correto já que tinha visto em toda a minha infância”. Contudo, surgiram muitos grupos de mulheres que resolveram enfrentar o desafio e parar de alisar seus cabelos, usar químicas e aceitar a beleza natural. Marcela que entrou em transição faz 8 meses diz que queria ser ela mesma. “Eu queria ser o que realmente sou, por isso resolvi deixar meu cabelo natural, deixar de ser o que as pessoas queriam que eu fosse. E na rua, no trabalho, eu ouvia: ‘Nossa você é louca’. Acho

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que tive 3 pessoas que me apoiaram”, relembra. Dentre tantas experiências, Marcela relata: “depois que fiz o segundo corte, comecei a usar o turbante e fiquei curiosa para saber a reação das pessoas, fui no centro da cidade e uma mulher me parou e disse: ‘Nossa que lindo, mas tem que ter muita coragem para usar’. Então percebi que ainda há preconceito, mesmo que embutido, o olhar não esconde as pessoas. Eu gosto do turbante, uso quase todos os dias e não vou deixar de usá-lo, por fim, deixei de me importar com os olhares alheios “.

Atualmente, o cabelo afro tem ganho espaço no mundo da moda, onde virou tendência nas passarelas tanto do SPFW, como em outros eventos. Muitas celebridades assumiram a textura e a forma de seus cabelos o que acarretou em uma alta procura por apliques afro. “Hoje os salões especializados em cabelos afro, recebem muitas pessoas brancas que também querem enrolar ou deixar o cabelo crespo e fazer um Black Power”, afirmou Iraciane. Sendo tendência de moda ou não, uma certeza Iraciane tem, “eu tenho orgulho

A ” primeir aceitação foi a minh


ra o ha

Eu queria ser o que realmente sou, por isso resolvi deixar meu cabelo natural, deixar de ser o que as pessoas queriam que eu fosse

MÁRILIN FERREIRA

TAILA CRISTINA

de quem eu sou e sei que passo essa sensação para as pessoas. Hoje, chamar meu cabelo de ‘bombril’ não vai me fazer ser a adolescente isolada no intervalo, nem me obrigar a ir rápido para casa dar um jeito nesse cabelo. É minha raiz e faz parte da minha história”. Portanto, por mais que o cabelo afro sofra com os olhares maldosos, ele é forte, ele é traço de um povo e é lindo. “A primeira aceitação foi a minha, vale muito a pena porque condiz com o que eu sou”, finaliza Marcela. Viva a diversidade!

MAKING OF

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COMO ADAPTAR

TENDÊNCIAS PARA A

VIDA

REAL? REPORTAGEM Beatriz Faggian FOTOGRAFIA Revista Gabrielle e Reprodução Internet

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rimeiramente, o que é tendência de moda? Tendência são previsões e especulações sobre determinado corte de roupa, tecido, cores e estampas, que estarão em alta na próxima estação. Mas essas previsões não são sem base, elas fazem parte do que chamamos de ciclo da moda. São obtidas através de pesquisas desde o consumo até o interesse particular do consumidor. Para as tendências chegarem até nossos guarda roupas, existe um longo processo. O Brasil sofre influência da Europa e dos Estados Unidos, pois estes antecipam uma estação em relação a nossa, por isso o que foi tendência lá, influenciará nossa tendência aqui. Mas afinal, como podemos trazer essas tendências para nosso dia a dia? Não é difícil ouvir alguém dizendo que jamais usaria as roupas apresentadas nas passarelas, realmente, a maioria de nós não usaria aquelas roupas propriamente como são mostradas. Tudo não se passa de tendências, um mix de ideias misturadas e exageradas. Precisamos entender que um look composto inteiro com peças de Poá, não significa que ele é para ser usado daquela forma, isso é apenas um jeito de maximizar as tendências, querendo dizer, “Poá será uma tendência na próxima estação”.

A tendência tem vida curta, antes falávamos que duravam seis meses, hoje já podemos dizer que dura apenas três. As tendências vêm e vão, mas tudo se transforma, por isso vale guardar aquela calça de cintura alta e as bocas de sino, pode demorar, mas com certeza voltará à moda de uma forma repaginada. Aí vale uma customização e a sua criatividade.

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Precisamos entender que um look composto inteiro com peças de Poá, não significa que ele é para ser usado daquela forma, isso é apenas um jeito de maximizar as tendências, querendo dizer, “Poá será uma tendência na próxima estação”. A tendência tem vida curta, antes falávamos que duravam seis meses, hoje já podemos dizer que dura apenas três. As tendências vêm e vão, mas tudo se transforma, por isso vale guardar aquela calça de cintura alta e as bocas de sino, pode demorar, mas com certeza voltará à moda de uma forma repaginada. Aí vale uma customização e a sua criatividade. Para entender melhor, Ed Flávio, estudante do primeiro semestre de Design de Moda da FCAD, fala como as tendências influenciam o mundo. Como você acha que as tendências influenciam as pessoas hoje em dia? As tendências hoje influenciam de tal maneira que atinge as pessoas não só na moda mas também na música, artes, gastronomia etc. Isto é o resultado das pessoas desejarem cada vez mais a sua semelhança com determinados grupos ou pessoas que admiram. Por isso para difundir uma nova tendência, usam grupos ou pessoas com muita visibilidade e com um gigantesco número de seguidores, para conseguirem melhor aceitação e difusão de novas ideias. E você? Como ela te influencia? Bom, digamos que não me influencia por completo. Na verdade não costumo aderir as tendências por inteiro, adapto as tendências de moda ao meu estilo. Procuro apenas usufruir dessas novas “ondas”. Analiso não só o corte de uma peça, mas sim, desde

a estampa ou cor até a modelagem. Procuro sempre fugir de modinhas que estouram rapidamente, pois são peças descartáveis que provavelmente não usarei por um longo período. Podemos dizer que a grande massa se preocupa em estar dentro das tendências de moda? Digamos que para a grande massa as tendências chegam bastante diluídas, o motivo é de fato o acesso. A TV, que por sua vez já dita uma moda pronta e bastante diluída, por exemplo, abarrota as lojas de varejo e lojas de fácil acesso. O que você acha sobre o vai e vem das tendências? Por um lado é ótimo, pelo fato de podermos reciclar aquela peça do fundo do nosso closet. Por outro lado, mostra essa total evolução do modismo, onde tudo é de rápido acesso e logo fatigado, fazendo com que cada vez mais a moda “mude” repentinamente, assim não dando tempo para criar e evoluir, tendo que transformar e reciclar tendências anteriores e cada vez mais usando o termo “nada se cria, tudo se transforma”. Você acredita no termo que diz “nada se cria, tudo se transforma” dentro do mundo da moda? Na verdade acredito no termo Evolução e Criação, acho que o ser humano possui uma genialidade que possibilita a criar. Mas o mundo da moda está tão saturado, que é mais cômodo “transformar” do que “criar”. Outro fator é a grande pressão que tem a Moda para “inovar” e apresentar novas tendências o mais rápido possível ao consumo. Mesmo assim ainda temos grandes gênios no mundo da moda que buscam sempre que possível essa “evolução”, criando novas e legítimas tendências no ramo têxtil.

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BRE CHÓS

GANHAM O MERCADO E OS CONSUMIDORES

REPORTAGEM Beatriz Faggian FOTOGRAFIA Camila Borges

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m lugar de roupas velhas sem valor algum? Esqueça: brechós hoje em dia são sinônimo de roupas boas e baratas, modernidade e até mesmo consciência ecológica e sustentabilidade. A influência do exterior fez com que a visão de que brechós são casas de velharias fosse substituída por uma tendência mais moderna: as pessoas já conseguem ver que existem muitas coisas úteis e reaproveitáveis nos brechós. Com um pouquinho de paciência é possível achar coisas boas até no bazar da igreja perto da sua casa. Se você não gosta da ideia de usar roupas que já foram vestidas por outras pessoas, saiba que muitas peças podem ser encontradas sem uso e até com a etiqueta. Para quem gosta de exclusividade, não achará melhor lugar, já que dificilmente você encontrará alguém usando uma roupa igual à sua.

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A conscientização sobre a sustentabilidade também reflete para esse tipo de comércio, pois comprando roupas que já pertenceram a outra pessoa evita a geração de lixo e ajuda também na economia doméstica. Uma peça vendida por R$ 100 não vai custar mais do que R$ 50 numa casa de roupas usadas – mesmo que ela ainda esteja novinha. Existem brechós para todos os estilos e também para todos os bolsos – até mesmo os de luxo. Há lugares em que podem ser encontradas peças de grandes marcas por preços mais acessíveis: por exemplo, uma bolsa da Louis Vuitton nova no Brasil sairia por não menos que R$ 7 mil, mas num brechó de luxo ela pode ser encontrada por cerca de R$ 2 mil. A maioria das lojas faz consignação com antigas proprietárias, que ganham uma porcentagem em cima do valor.


O desapego que virou loja Ana Paula Be, 20 anos, estudante de Moda do CEUNSP, admite que sempre foi consumista e comprar acabou virando sua terapia. Mas assim como muitas de nós, acabava usando sempre as mesmas roupas e as novas ficavam escondidas dentro do armário. “Sempre que amigas minhas iam em casa, queriam minhas roupas emprestadas ou muitas vezes falavam que queriam comprá-las”, conta Ana. Foi então que um dia resolveu se desapegar dessas roupas que não lhe tinham mais utilidade – nada menos do que 30 peças. Com o apoio de amigos e familiares, ela decidiu criar uma página no Facebook com o nome Desapegos da Be, divulgando cerca de uma ou duas peças por dia. Amigas da faculdade e pessoas de todos os cantos queriam as roupas – algumas antes de serem postadas já estavam vendidas. O

Alguns fatores para comprar em brechós que você nunca imaginou: - Menos energia e menos produtos químicos É necessário um grande consumo de energia para se transportar algodão das lavouras para as tecelagens, para o varejo e finalmente para os consumidores. Também há gastos de energia com os processos de lavagem, dimensionamento, branqueamento, enxague, tingimento, impressão e finalização. Comprar em brechó evita que as roupas acabem tendo um destino inadequado para o planeta, como aterros sanitários. - Redução no consumo de água A água é necessária em quase todos os processos da fabricação de roupas. Para a produção de um quilo de algodão são utilizados cerca de vinte mil litros de água,

sucesso foi ficando maior com o passar dos dias e com menos de um mês sua página já estava com mais de 500 likes. “O desapego me rendeu mais de mil reais! E as peças eram baratinhas, porque de qualquer forma tinha que ser preço de usada, não de roupa nova de loja”. A procura foi tão grande que a estudante decidiu que traria novidades para suas consumidoras - e o desapego passaria a ser uma loja com roupas novas. O Desapego da Be virou Roupas da Be. “Agora, compro peças novas e revendo com um valor pequeno de lucro, pois não é meu sustento, apenas meu hobby. Amo vender, e agora a pagina está crescendo cada vez mais! Estou amando muito”, conclui.

que também é necessária para gerar a eletricidade da fabricação, embalagem e transporte. Uma calça jeans gasta cerca de 10 mil litros de água para ser produzida. - Consumo Responsável Antes de comprar muitas roupas verifique se realmente está precisando ou se ficará parada no guarda-roupa; isso também é uma forma de poupar. - Economia Tendo critério e bom senso é possível economizar muito dinheiro. As compras em brechós requerem mais tempo e consideração. - Um bem para a comunidade Assim como comprar, doar também faz parte desse processo, compartilhar com a comunidade e promover a reutilização de algo abandonado no seu armário é um bem que irá refletir para todos – inclusive você mesma.

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UMA BREVE HISTÓRIA DO

FEMINISMO Queremos igualdade na sociedade e na sexualidade!

REPORTAGEM Bruna Balmante FOTOGRAFIA Reprodução Internet

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porta já está aberta para a liberdade. A menina se transformou em mulher, cansou de ser sufocada, engolida e camuflada, quer de ser ouvida. Dona de casa foi o meu passado, o meu presente anseia o meu lugar na sociedade. Não lutamos contra os homens, mas estamos em guerra contra o sexismo. O movimento feminista teve início no século 19 e provocou grandes mudanças no comportamento político e social: trata-se de buscar direitos e lutar por eles. Com garra e competência, ao longo do tempo o modelo da mulher forte, posicionada e inquieta ganhou influência entre as mulheres do século 20 e entrou com força total no século atual. É uma luta inglória e de longo prazo. Ainda hoje mulheres ganham menos que homens para ocupar os mesmos cargos, especialmente os de gerência, mas se tornou mais comum ver mundo afora mulheres assumindo posições que antes eram quase que exclusivas dos homens: presidentes de grandes empresas, mestres de obras, primeiras-ministras como a alemã Angela Merkel, presidentes como a brasileira Dilma Rousseff e a chilena Michele Bachelet. Vale lembrar que o feminismo busca equilíbrio na

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sociedade e não uma briga. É a busca pela inclusão das mulheres em todos os ambientes e esferas da sociedade. Maria Carolina Marigo, 22 anos e estudante de Jornalismo do CEUNSP, conta como conheceu e entrou nessa luta. “Eu me tornei feminista quando li pela primeira vez sobre o assunto. Estudando Sartre para uma aula da faculdade, conheci a Simone de Bouvoiur e o feminismo. Sempre senti que era injusto a mulher ser inferiorizada na sociedade como é desde sempre. Depois de saber que o movimento existia, fui estudar, ler o ‘Segundo sexo”, da Simone e o ‘Mito da beleza’, de Naomi Wolf. Fiquei apaixonada pela causa e desde então participo de grupos feministas, estudo e escrevo sobre. Ser feminista dá uma força enorme pra mulher! No feminismo aprendemos que somos capazes de tudo juntas, que somos todas irmãs e devemos nos proteger do machismo!”, avisa. No ano de 2000, o Brasil foi um dos 159 países a aderir a Marcha Mundial das Mulheres, que organizou uma campanha internacional contra a pobreza e a violência sexista com o tema ‘Quem cala não consente’, aconteceu no ano passado, em várias cidades do país, a 4* Marchas da Vadias - que teve

início em 2011 no Canadá. Ativistas foram para as ruas protestar contra o machismo e contra as crenças de que as mulheres são vítimas de estupros por conta de seu comportamento e roupas. Existem homens que apoiam o movimento feminista. “Hoje em dia as mulheres fazem tantas coisas que muitos de nós homens não fazemos, trabalham, estudam e ainda têm tempo para sair, fora que elas já ganham pelo fato de poder fazer duas coisas ao mesmo tempo, coisa que eu não consigo’, diz Felipe Ramos de 24 anos. As mulheres ainda encaram muitos dilemas padronizados no mundo; como a diferença salarial entre gêneros. Na pesquisa divulgada pela Revista “IstoÉ”, o salário de mulheres entre 2000 e 2010 aumentou 13,5% e de homens 4,1% - e mesmo assim elas continuam ganhando 26% a menos que eles. No Brasil o movimento se destacou com mulheres indo às ruas protestarem na época da ditadura militar. Uma pesquisa feita pela empresa Expertise revelou que 62% dos brasileiros reconhecem a legitimidade do movimento e mostra que o Brasil tem uma boa aceitação das feministas. É uma luta que não pode parar.

Confira algumas vitórias das feministas no Brasil: - O Código da Mulher Casada foi suprimido em 1962 do Código Civil e ela deixou de ser considerada relativamente incapaz, como são juridicamente os menores de idade; - O novo Código Civil, de 2002, acabou com a possibilidade de o homem mover ação para anular o casamento, caso descobrisse que a mulher não era virgem; - Antiga reinvindicação das feministas, a Lei do Divórcio foi aprovada em 1977; - O termo “mulher honesta”, que denotava que para ser considerada vítima de estupro ela deveria ter uma conduta social padronizada, foi retirado dos artigos do Código Penal em 2004; - A Constituição de 1988, garantiu a igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres nas relações conjugais, o que abarcava tanto questões relacionadas aos bens do casal quanto à responsabilidade com os filhos; - A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006 e aumentou o rigor nas punições para agressão doméstica às mulheres; - O Supremo Tribunal Federal considera legal , em 2012, o aborto de fetos anencéfalos.


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Nossa pesquisa constatou que apenas 10% das entrevistadas andam com preservativos.

LEVE VOCĂŠ A

CAMISINH REPORTAGEM Beatriz Rodrigues FOTOGRAFIA Revista Gabrielle

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P

or incrível que pareça, nos dias de hoje, muitas mulheres ainda sentem vergonha de andar com camisinhas na bolsa e na carteira. Isso acontece porque a sociedade não amadureceu a ideia de uma mulher pensar em sexo a tal ponto de colocar a camisinha na carteira. “Eu acredito que é pelo preconceito da própria sociedade. Uma mulher que anda com camisinha dentro da bolsa, seria aos olhos da sociedade vulgar, oferecida e outros adjetivos vulgares nada agradáveis. O que na verdade não é, e sim uma proteção, uma mulher prevenida e moderna” explica a Psicóloga Danusa. O problema é que essa ideia é totalmente ultrapassada. Nos dias de hoje devemos sim levar uma camisinha, nunca sabemos quando vai ou não ac-

Gonorréia

É uma infecção causada por bactérias que podem atingir o órgão genital feminino e masculino. A gonorréia pode infectar o pênis, o colo do útero, o reto (canal anal), a garganta e os olhos. Quando não tratadas, essas doenças podem causar infertilidade (dificuldade para ter filhos), dor durante as relações sexuais, gravidez nas trompas, entre outros danos à saúde.

Herpes

É uma doença causada por um vírus que, apesar de não ter cura, tem tratamento. Seus sintomas são geralmente pequenas bolhas agrupadas que se rompem e se transformam em feridas. Em homens e mulheres, os sintomas geralmente aparecem na região genital (pênis, ânus, vagina, colo do útero).

Hepatites

A hepatite B é uma doença transmitida pelo vírus VHB, que atacam as células do fígado e começam a se multiplicar,

ontecer uma relação e nem sabemos se o nosso parceiro veio preparado para tal ato. E por isso devemos estar preparadas porque a camisinha é o único meio que temos de nos proteger de doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV sem chance de cura. Em uma pesquisa feita em um grupo fechado feminino, 70% das meninas não responderam por se sentirem constrangidas. 20% disseram que o marido e o namorado se encarregam de levar a camisinha na carteira. E apenas 10 % levam a camisinha consigo. Não devemos deixar que uma sociedade machista imponha regras, daquelas que só homens andam com proteção. Saúde não é brincadeira. Se proteger é se essencial, se cuidar é amor próprio.

levando à inflamação do órgão. Geralmente, os sintomas de hepatite B surgem entre dois a quatro meses após o contato com o vírus, e sua intensidade varia de pessoa para pessoa.

HPV

O condiloma acuminado, conhecido também como verruga genital, crista de galo, figueira ou cavalo de crista, é uma DST causada pelo Papilomavírus humano (HPV). Atualmente, existem mais de 100 tipos de HPV - alguns deles podendo causar câncer, principalmente no colo do útero e no ânus.

AIDS

Aids é uma doença que ataca o sistema imunológico devido à destruição dos glóbulos brancos (linfócitos T CD4+). A Aids é considerada um dos maiores problemas da atualidade pelo seu caráter pandêmico (ataca ao mesmo tempo muitas pessoas numa mesma região) e sua gravidade. E sem chances de cura.

“ HA

Eu levo sempre camisinha, pois acredito que ambos precisam andar preparados, não tem o porquê se sentir envergonhada de levar uma sempre, não é obrigação só do homem sempre estar preparado. Por mais que ainda exista esse tabu entre as meninas, eu acho que todas deveriam estar prevenidas. Quando ganhei minha primeira camisinha, aos 15 anos, ainda não precisava, mas desde então não fico sem” Jenny Lays, 25 anos 25


REPORTAGEM Jaqueline Krauczuk FOTOGRAFIA Reprodução Internet

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le me enche de certezas e depois me cobre de dúvidas”, confessa Anastasia Steele pensando em seu amor, Christian Grey. O filme, que estreou em fevereiro deste ano, já arrecadou mais de US$ 550 milhões pelo mundo e ainda gera grande repercussão não só pelas cenas ‘quentes’ apresentadas, mas pelas polêmicas por trás do longa-metragem envolvendo conflitos de direção e a esperada sequência. Após a saída da diretora Sam Taylor-Johnson, “Cinquenta Tons Mais Escuros” ainda não tem um diretor designado; o roteiro ficou a cargo do marido da escritora E.L James, Niall Leonard. O filme tem estreia marcada para fevereiro de 2017. Apesar de todos esperarem por cenas polêmicas no próximo filme, a produtora executiva deixou claro que a sequência terá uma pegada de “thriller”. Quem leu a série de livros, porém, sabe que não é bem assim: ele é romântico e tem um toque de suspense envolvido, o que causa ainda mais expectativa e ansiedade nos espectadores. Outra polêmica: após o lançamento do filme o caso de pessoas se perdendo em loucuras sexuais ganhou destaque na imprensa.

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Houve gente nos hospitais tentando tirar as bolinas de prata perdidas pelo corpo, bombeiros socorrendo pessoas algemadas, camisinhas usadas encontradas em salas de cinema e muito mais. A lista é interminável e as equipes de polícia e os bombeiros advertem para evitar chegar a situações extremas, ter cautela com os devidos brinquedos que desejam usar e pesquisar como manejar os instrumentos. Por fim, grupos de feministas deixaram claro que, em sua visão, trata-se de um filme machista – num tempo em que as mulheres lutam por igualdade e qualidade de vida, Cinquenta Tons de Cinza é um fenômeno mundial que exalta a submissão feminina e a dominação masculina. Muitas mulheres acreditam que o filme seja uma afirmação de que o público feminino se deixa levar pelo dinheiro e pela posição social que o homem representa. Não foram só milhões de dólares que o filme arrecadou, mas diversas polêmicas conflituosas que geram reflexões. Há diversas opiniões sobre a história de Anastasia e Grey. Dominação, submissão, a descoberta do amor e do sexo, a mudança comportamental e tantas outras. E para você, o que o filme representa?

CINQ Submissão da mulher ou a descoberta do amor?

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A FREBRE DOS

QUENTA

TONS

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ME LAN CIA

Livro incentiva mulheres a superar obstáculos e recomeçar

REPORTAGEM Camila Liberal

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ão deve ter sido muito fácil para Claire Walsh o dia do nascimento de sua filha, Kate. Foi nesse dia que James, seu então marido, resolveu abrir o coração ainda na sala de parto, ao lado de sua cama, e dizer que há seis meses vinha tendo um relacionamento extraconjugal com a vizinha, também casada e mãe de dois filhos, e que, por consequência, não poderia mais ficar em um relacionamento com Claire – nem mesmo por amor a Kate. Esse é o mote inicial de Melancia, romance de estreia da irlandesa Marian Keyes, publicado em 1995 e que, 20 anos depois, continua atual. Com 29 anos, um bebê nos braços, a sensação de que se parece com uma melancia e o coração despedaçado pela ausência do marido, Claire deixa Londres e viaja até Dublin para retornar à casa dos pais.

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É uma família aparentemente perfeita, mas nada funcional: sua mãe odeia cozinhar e ama novelas e romances açucarados; o pai, com os nervos sempre à beira de um colapso; sua irmã Anna, que vive num mundo muito peculiar, envolto por fadas, duendes, unicórnios e substancias alucinógenas; a caçula Helen, vaidosa, egocêntrica, sem travas na língua e arrasadora de corações com muito orgulho; e mais duas irmãs. Margareth, que vive com o marido e o filho e é o estereótipo da mulher certinha e metódica, e Rachel, uma dependente química que não faz mal a ninguém, envolvida em seu próprio mundo de Valium e outras drogas. É com esse cenário pouco acolhedor para um recém-nascido que Claire

se depara quando pisa em Dublin e a depressão a acerta em cheio. Depois de dias sem sair da cama, e quando a camisola já era quase sua nova pele, ela decide parar de chorar e enfrentar a vida, mesmo que esta seja dura e cruel. Em meio a discussões, loucuras e situações embaraçosas, ela se levanta e resolve que irá criar Kate mesmo sem pai. No sótão, descobre uma antiga bicicleta ergométrica, e resolve descontar nela parte de seu estresse. Quando menos percebe, está com um corpo muito bonito, está cuidando de Kate muito bem e a família Walsh está se portando melhor. E então a vida coloca em seu caminho Adam, um rapaz lindo e com um filho, mas que encanta Claire até ela se derreter de paixão. Tudo vai muito bem entre ela e Adam, mas numa bela manhã

James, o marido, bate na porta da casa dos Walsh arrependido, arrasado, frustrado e com um fio de esperança, querendo reaver o amor de sua esposa e conhecer a filha. O que acontece depois? Leia para conferir... Melancia não é uma comedia romântica. É um relato de uma mulher que poderia ser qualquer uma de nós: Claire é uma mulher de beleza comum, com uma vida comum, até que é surpreendida por tantas situações que nem ela mesma acredita que possa suportar ou vencer. O livro fala de depressão pós-parto, traição, mudança e aceitação do corpo após uma gravidez, voltar a morar na casa dos pais, conhecer um novo amor e perdoar as pessoas. Com a mulher no centro da narrativa, Marian Keyes mostra como superar os problemas sem deixar de lado a feminilidade e o amor.


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