10ª - Edição - Revista Gabrielle

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Ano 5 | 10ª edição | Dezembro 2019


Realize o sonho de desfilar no carnaval mais estruturado do Brasil. O Carnaval Paulistano Dúvidas entre em contato: (11) 9 9904-8009

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A

Revista Gabrielle completa seu quinto ano com sua décima edição. Cinco anos que totalizam o trabalho de dez produções de muito debate, informação e conhecimento político, ideológico e social sobre mulheres, o mundo e feminismo. Uma revista com temas e pautas não convencionais em uma desconstrução constante na busca de reafirmar que ser diferente e fora dos padrões, é um ato revolucionário. Quem nunca acompanhou os clássicos e famosos contos infantis? A branca de neve, Cinderela, Rapunzel e Bela Adormecida, sempre esteve presente a figura da bruxa madrasta que persegue a bela jovem, se tornando um importante símbolo no processo de individualização da heroína. A construção do mundo imaginário no processo de (auto) representação nas histórias dos contos de fadas, é o reflexo das relações e conflitos existentes na sociedade. Volta e outra, (re) criados e descontruídos! A Gabrielle de todos os tempos em sua primeira edição: meu cabelo, minhas regras, meu estilo! aborda desde a imposição da mídia aos padrões de beleza, quanto ao reforço e aprovação da sociedade. Meu corpo e não sua fonte de prazer! é sobre as questões do corpo, violência sexual e a cultura do estupro. “A prostituição virou um vício, me entreguei” um desabafo da marginalização e opressão de vidas que se jogaram no mundo da prostituição por diversos motivos. A sociedade impõe e nós, descontruímos- confirma o slogan da revista Gabrielle e sua função desde o início.

Amor às curvas permeia os tipos de beleza que não podem ser apagadas por uma definição de perfeição irreal e inatingível. A Violência obstétrica é a negligência do corpo e da escolha da mulher. Marielle Franco é o grito em alusão a quem não foi silenciado. As diferentes formas de amar é a transição de antigos e novos valores: e as novas configurações sendo estabelecidas. Muito além da pele é a

cor como representação. É o preconceito exacerbado, é a luta por representatividade, onde o tom de pele e as características físicas são um aspecto decisivo para a discriminação. Em mundo não cor de rosa, a décima edição traz a desmistificação dos contos de fadas. A invenção de que as mulheres só poderiam ser salvas por meio de uma relação com um homem, reforça a fantasia de salvamento e retira suas próprias capacidades e talentos. As narrativas projetam um sonho de beleza e posição social para mulheres moldado nas exigências masculinas. Em épocas e lugares distintos, o papel do sujeito mulher (mãe, madastra, filha e esposa), foi estabelecido em um mundo dominado pelas relações de poder. O era uma vez, foi reescrito. E é sabendo disso, e com muita bravura que apresento a você querido (a) leitor (a), a 10° edição da Revista Gabrielle. Que vocês possam encontrar a heroína que há dentro de você. Sinta-se em casa e construa você mesma o seu ideário de salvamento. Seja você a princesa do seu conto de fadas! A realidade de mulheres sem capas que salvam a si mesmas e umas as outras. Mulheres reais que construiram sua força e a definição de princesas e bruxas. Somos as bruxas e princesas que vocês não conseguiram ressignificar! Hoje, o conto de fadas nós escrevemos e o final feliz a gente decide! Lais Silva | Editora-chefe


Expediente EDIÇÃO Ano 05 – 10ª edição

EDITORA-CHEFE Lais Silva

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FOTOS Débora Simeão, Camila Bandeira, Sydney Sims, Alex Boyd, Taras Chernus, Victoria Strukovskaya, Emiliano Vittoriosi, Joe Desousa, Richard Jaimes, Marcelo Balestero, Luis Carlos Silva, Luan Rodrigues, Yan Santos, Morgana Festugato, Thiago J. Silva e Kauhan Teixeira

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REVISÃO Lais Silva

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO vbenatti (www.vbenatti.com.br)

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6ª edição

Revista feminista produzida dentro da Agência Experimental de Comunicação e Artes (AECA) por estudantes dos cursos de Jornalismo, Publicade e propaganda e Fotografia da FCAD/ CEUNSP, sob orientação do professor Fernando Cesarotti.

Siga-nos: @revistagabrielle

7ª edição

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Equipe Aline Priscila

Giovanna Luchim

Guilherme Dias

repórter de saúde e beleza

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editor audiovisual

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Beatriz Cunha

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Debora Simeão

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Editoria saúde e beleza

Mayara Piperno

Nayara Paiva

Eduarda Costa

repórter de arte e cultura

repórter de arte e cultura

repórter de moda e comportamento e social mídia

Editoria esporte


ÍND 07

{ Moda e comportamento

“Historinhas Malcriadas”: literatura para crianças!

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{ Arte e cultura

O mundo ilustrado pelos olhos delas

14 { Saúde e beleza

Hirsutismo e a escolha de se depilar

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{ Esporte

Esporte não define orientação sexual

{ Moda e comportamento

A desmistificação dos contos de fadas


DICE 30 34

Arte e cultura }

A dificuldade da mulher em encontrar seu espaço no audiovisual Saúde e beleza }

Vaginismo, pompoarismo, laqueadura e DIU

38 Saúde e beleza }

Sinta-se rosa

Arte e cultura }

A falsa ideia do amadurecimento precoce

42 46 Esporte }

Mulheres desafiam o ar, água e as paredes


{ Moda e comportamento

Texto: Giovanna Luchim Foto: Facebook/Divulgação; Eduardo Anizelli/Folhapress; Divulgação Entrevista: Eduarda Costa

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Moda e comportamento }

“HISTORINHAS MALCRIADAS”: LITERATURA PARA CRIANÇAS! Com 88 anos, Ruth Rocha ainda se mantém ativa

R

uth Machado Lousada Rocha, mais conhecida como Ruth Rocha – é escritora de livros infantis e considerada um dos nomes mais importantes do grupo de escritores que renovaram a literatura infantojuvenil brasileira na década de 1970. Com mais de 130 livros publicados, a escritora faz parte da vida e história de diversas crianças. Nascida em São Paulo em 2 de março de 1931, desde muito nova, já era envolvida com a literatura. Filha do doutor Álvaro e da dona Esther, Ruth ouviu as primeiras histórias de sua mãe e logo em seguida de seu avô. Adolescente, Ruth descobriu a Biblioteca; seus autores preferidos eram Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Machado de Assis e Guimarães Rosa. Aos 13 anos, ela escreveu um

trabalho sobre A cidade e as serras, o que foi muito significativo na sua paixão pelo universo literário. Ruth Rocha escolheu como formação acadêmica ciências políticas e sociais, pois acredita que a sociologia influenciou bastante sua literatura. Na faculdade conheceu Eduardo Rocha com quem se casou e viveu por 56 anos até o falecimento dele. Juntos eles tiveram uma filha, Mariana, que foi uma das inspirações para seus primeiros livros. A escritora começou trabalhando como orientadora educacional, na mesma época em que escrevia uma coluna na revista Claudia. Logo após uma amiga que conduzia a revista Recreio perceber seu talento como escritora, não demorou muito para que Ruth viesse a se tornar editora, e em seguida, coordenadora do departamento de publicações infanto-juvenis da editora Abril. Entrevistada da série Escultores de sonhos que o Estado de Minas publicou, Rocha salienta parte de sua história e de como enxerga a leitura: “Ler é sempre bom, seja jornal, revista, porque isso desenvolve a capacidade de leitura... Lia de tudo quando era criança. Lia muito quadrinhos também, que era

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{ Moda e comportamento

uma coisa meio proibida na época. Queimavam quadrinhos em praça pública, mas na minha casa era diferente. E os meninos da vizinhança todos iam para lá para ler gibi e era uma grande festa”. Atualmente, com mais de cinquenta anos de envolvimento com a literatura infantil e mais de 12 milhões de exemplares vendidos. A escritora tem mais de 200 títulos publicados e traduzidos para 25 idiomas, assina a tradução de uma centena de títulos infanto-juvenis, assim como adaptou a Ilíada e a Odisseia, de Homero, e é co-autora de livros didáticos como Pessoinhas. Entre suas obras mais famosas estão, “Marcelo, Marmelo, Martelo”, “O Reizinho Mandão”, “Bom Dia, Todas as Cores!”, “Almanaque Ruth Rocha”, “Ilíada” e “Odisseia”, “Este Admirável Mundo Louco”, “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, “Historinhas Malcriadas”, “Ninguém Gosta de Mim?”, “O Coelhinho Que Não Era de Páscoa”.

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“O Reizinho Mandão” conta como o filho mimado e bastante autoritário de um monarca cria leis absurdas para seu reino, seu autoritarismo chega a tal ponto que faz o povo perder a voz. “Bom Dia A Todas As Cores” na história um camaleão tenta mudar o tempo todo para agradar a todos com o que pensariam dele, no fim, o livro traz a lição de quem não agrada a si mesmo não agrada a ninguém. Em entrevista com Juliana Carvalho no evento FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) em 2009, Ruth respondeu algumas perguntas de crianças, entre elas uma criança perguntou como a escritora tem suas ideias e ela disse que as ideias saem da cabeça. Imediatamente as crianças perguntaram como elas entram na cabeça, a autora explicou que as ideias entram na cabeça com a leitura: lendo coisas fáceis, difíceis, coisas que a gente gosta, vendo filmes e


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peças... “Os escritores prestam atenção em como as pessoas se sentem. Eles veem isso nos livros, nas conversas, nas ruas... Assim conseguem construir personagens que vejam e sintam coisas importantes” Ruth, nessa mesma entrevista, também falou sobre a importância das bibliotecas: “Todas as cidades deveriam ter uma biblioteca, e isso deveria ser fiscalizado. Fico chateada quando ouço professores pedindo que as pessoas doem os livros de que não gostam

para que se possa montar uma biblioteca. Ora, se elas não gostaram, provavelmente os próximos leitores também não vão gostar. Para desenvolver nas crianças o gosto pela leitura, elas deveriam mandar os livros que mais amam!” Temas como o preconceito, preocupação com o próximo, política e o feminismo, são bastante presentes em seus trabalhos. Na entrevista para a série Escultores de Sonhos, Ruth diz “Minha filha não gostava dessas histórias convencionais de Gata Borralheira e

Chapeuzinho Vermelho, e um dia me perguntou por que preto era pobre. Fiquei besta com aquele questionamento, então disse para mim mesma: ‘Vou ter que começar a falar de preconceito com ela’. Aí inventei essa coisa da borboleta, sendo cada uma de uma cor. Era como Romeu e Julieta”, lembra a escritora. Aos 88 anos, Ruth Rocha ainda se mantém ativa! Gosta de escrever à mão, e apesar de ter problemas na visão não deixa de lado a leitura que diz ser o motor da criação.

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{ Arte e cultura

O MUNDO

ILUSTRADO PELOS OLHOS DELAS A arte digital é um marco crescente nos últimos tempos e dá espaço e visibilidade para aquelas que sempre os buscaram

Texto: Beatriz Cunha Foto: Acervo Pessoal

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Arte e cultura }

primeiros registros de ilustrações em livros foram no século XV, através da xilogravura. Usadas para acrescentar informação, sintetizar ou apenas decorar um texto, as ilustrações por muitas vezes têm o maior destaque e podem, por interpretação e contexto, contar muito mais do que um simples texto. Pode ser vista em várias formas, como desenhos, pinturas, colagens e até fotografias, todas essas sendo uma forma de expressão artística. Com o avanço da tecnologia e a expansão da internet, as ilustrações ficaram cada vez mais comuns e muito mais acessíveis. Artistas começaram a divulgar seus trabalhos nas redes sociais e a comunidade de artistas online tem crescido cada vez mais. Um dos grandes responsáveis por isso é o DeviantART, site onde os artistas iniciantes e consagrados podem expor, promover e compartilhar seus trabalhos através de imagens digitalizadas. É muito conhecido entre vários grupos, pois é um site de hospedagem para muitos fãs que fazem fanarts, obras baseadas em fantasia e ficção criadas por eles. E é claro que, como em muitos outros lugares importantes, as mulheres também atuam de um modo muito impactante no meio artístico com as ilustrações. Em um bate-papo com a Revista Gabrielle, Julia Tavares, de 20 anos, conta um pouco mais sobre o que é ser uma ilustradora e sobre o espaço que as profissionais têm no mercado. “Embora a internet tenha democratizado um pouco mais os espaços onde podemos nos expor, acho que as lacunas de poder e influência ainda são muito ocupadas por homens”, comenta Julia, acrescentando que houve melhoras, “mas não é o suficiente e muito menos pra mulheres com outros marcadores sociais importantes, como mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres trans, mulheres LGBT+ num geral. Acho que isso tem muito a ver com a estrutura que foi construída por séculos, então a gente não pode fingir que não viu”, destaca. Ainda sobre o protagonismo feminino no ramo, a ilustradora pontua que as mulheres sofrem de maneira geral no mercado de trabalho por vários motivos, inclusive no meio artístico. “Em primeiro lugar, isso é visível via perfis de internet, que, de cer-

ta forma, contêm um pouco da minha vida pessoal. Alguns homens não parecem me levar a sério. Já li comentários bastante sexistas ou sexualizados sobre mim no meu perfil de desenho e isso reforça, na minha opinião, o quanto nós somos desvalorizadas ou subjugadas, ainda que tentemos manter um viés profissional”, conta.

“Mesmo que o meio artístico seja difícil de maneira geral, as mulheres ainda têm esse empecilho que é ser levada a sério, não ser estereotipada e nem sexualizada.” Julia Tavares

A importância da representatividade feminina e o preconceito com a arte Julia também comentou à Gabrielle que ver mulheres trabalhando nesse ramo faz com que outras mulheres se inspirem e se animem a investir no ramo, contando sobre sua irmã mais nova que adora animação e que uma de suas ídolas é Rebecca Sugar: “ela ama “Steven Universe” e eu tenho certeza que isso faz com que ela tenha mais segurança em acreditar no próprio potencial. Eu espero que cada vez, tenhamos mais mulheres nessas posições de visibilidade, para que a gente possa não só nos assegurar de que temos essa possibilidade de crescimento, como também para incentivar outras mulheres a alcançar os sonhos delas. Mostrar que isso é possível é essencial!”. “A representatividade é muito importante. Ver mulheres tendo oportunidades e conseguindo, cada vez mais, ter sucesso nesse ramo é essencial pra meninas mais jovens que querem investir nesse sonho. Na verdade, não só meninas jovens, mas mulheres adultas também se sentem muito mais seguras com essa escolha quando a gente vê que é possível chegar a algum lugar ou tirar sua renda disso. Não é fácil, mas ajuda muito”, discorre a artista.

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{ Arte e cultura A artista também debate sobre suas inspirações e o seu processo criativo. “Eu comecei a desenhar de maneira mais “séria” bem cedo, com uns 10 ou 11 anos, e não tinha muito contato com ilustradores e desenhistas famosos, nem nada do tipo. Na verdade, minha maior inspiração, a princípio, sempre foi a minha prima, que também desenha desde que se entende por gente, e meu pai, que adorava desenhar cavalos e eu achava o máximo”, relata, adicionando que sempre seguiu seus passos e nunca parou de treinar, “alguns momentos mais, outros menos”. Inspirada por diversos artistas que segue nas redes sociais, ela conta que adora ver estilos e técnicas diferentes de desenho e, com elas, aprender algo novo. Se tratando de nomes, a profissional destaca as artistas @burdge91 (no Instagram) e @viria13 (no Twitter), ambas do site DevianArt. “Eu achava o máximo poder pegar personagens de livros e transformá-los em personagens visíveis, que eu tinha colocado no mundo, e elas me inspiraram bastante nesse sentido. Atualmente, estou explorando mais a comunidade artística nacional e tem centenas de mulheres incríveis no nosso país”, afirma, mencionando, ainda, que os artistas brasileiros “sofrem bastante com falta de apoio, primeiro por causa do estigma de “arte não é profissão” e “arte deve ser tratada como hobby”, mas também porque o brasileiro valoriza pouquíssimo a arte nacional”. “É muito comum a gente ver uma pessoa achando que uma arte era de origem “gringa” porque ela seria “boa demais para ser brasileira”. Não é bem assim, sabe? Nossos artistas são super dedicados e tão bons quanto os de qualquer outro país, mas não possuem o reconhecimento nacional”, declara a ilustradora. “É mais fácil você ver artista brasileiro sendo conhecido no exterior do que internamente, e como existe essa coisa do brasileiro valorizar pouco tanto a produção nacional quanto o fato de ela valer dinheiro, a arte acaba virando um luxo, sim, e nem porque é caro, mas

porque é considerado algo supérfluo, e eu discordo, acho que arte é algo que pode se fazer com qualquer coisa e existem milhares de artistas brasileiros incríveis, só o que falta mesmo é incentivo e reconhecimento nacional à cultura da arte”, manifesta. Sobre o preconceito na área, Julia enuncia que já sofreu por não acreditarem que ilustração é uma forma de trabalho, alegando que tratam suas produções como algo banal ou simples. “Exige muito estudo e muita dedicação e a gente tem que ser remunerado pelo nosso trabalho como qualquer outra profissão. E, claro, tem a questão da sexualização e da invalidação de coisas que a gente faz só por ser mulher. Fora isso, eu acredito que sou uma pessoa muito privilegiada”, narra. Já num papo mais pessoal, Julia articula sua relação profissional com sua dismorfia corporal, transtorno mental no qual a pessoa se preocupa e se incomoda excessivamente com um defeito que considera ter, muitas vezes a fazendo se ver de uma forma negativa demais. “Conviver com dismorfia corporal e outros distúrbios de imagem é muito difícil, porque tem dias que você simplesmente não vai se enxergar bem no espelho ou sua imagem vai se distorcer dependendo do seu humor. Desenhar sempre foi um jeito concreto de observar as coisas”, explana. “A interpretação é livre, mas eu sei que o que eu desenhar vai estar lá, no papel, visível, inclusive minhas emoções”. Ela ainda descreve que transforma suas crises em arte, “jogando-as” no papel, mas sem racionalizar, pois acha que a arte não precisa ser racional, mas sim torná-la visível, como depositá-la num local onde possa vê-la. “Além disso, quando eu desenho sobre meus problemas e coloco isso no mundo, eu também recebo várias mensagens de pessoas que passam pelas mesmas coisas que eu, e assim a gente vai vendo que não está sozinho, o que é muito bom”, encerra.

Inspirações de Julia Tavares Clara (@clarakoga); Gav (@g.avv); Dee{ (@deedrawstuff); Ana Toyoda (@crayonana); Isadora Zeferino (@imzeferino);

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Bia Sampaio (@b.i.a.sampaio);

Gabrielle Alves (@4njuzeira);

Tori Abdalla (@kersplats);

Julia Lacerda (@verypoordrawings);

Clara Mayall (@mayallclara);

Giulia Garcia (@gartchia);

Thai Moon (@thaimooncake);

Cecilia Ramos (@cartumante).


Arte e cultura }

@jub_arte @jubsdesenha

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{ Saúde e beleza

HIRSUTISMO e a ESCOLHA de se

DEPILAR O hirsutismo é uma disfunção hormonal que causa o excesso de pelos nas mulheres, podendo afetar diretamente na autoestima delas

Texto: Lorrayne Perozzo Fotos: Débora Simeão, Arquivo pessoal Harnaam Kaur (instagram @harnaamkaur).

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m um mundo onde o padrão de beleza feminino é ser o mais próximo possível de uma boneca Barbie, é visto como inadmissível ter qualquer pelo à mostra. Desde criança, somos bombardeadas com comerciais que incentivam a depilação: com lamina, com aparelhos de depilação, com cera, a laser. Não importa o método escolhido, o importante é retirar todos os pelos. A depilação feminina se tornou algo tão enraizado, que passamos a ver como um processo natural, como se nossos pelos não fossem naturais, mas a depilação sim. Faça a sobrancelha, depile o buço, raspe a perna. Faça a qualquer custo, a qualquer dor – é o que a sociedade continua cobrando, impondo.

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Além de toda a publicidade para vender produtos de remoção de pelos, há a erotização criada pela indústria pornográfica em cima de mulheres extremamente depiladas. Hoje, a depilação ainda é vista por muitos como sinônimo de higiene, de beleza, e também de desejo. Nos anos 70, com o movimento hippie, surgiu a proposta de ter o corpo em seu estado mais natural novamente, o que incluía não ter mais a necessidade de se depilar. Porém, nos anos 90, fomos consumidas mais uma vez pela onda da depilação. Atualmente, com o feminismo se iniciou um questionamento sobre essa obrigação de se depilar – e a promover a ideia de que os pelos são naturais e que somos livres para escolher remover ou permanecer com eles.


Saúde e beleza }

A aceitação dos pelos é um processo diário e uma luta contra os muitos olhares de estranheza, principalmente para as mulheres que sofrem com alguma disfunção hormonal que causa excesso de pelos. O hirsutismo é o aumento do crescimento de pelos em áreas que não são comuns para mulheres, como rosto, peito, barriga e costas. O excesso dos pelos normalmente ocorre devido a presença de hormônios masculinos, e o tratamento costuma ser feito com contraceptivo oral. Geralmente, está ligado a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) ou a causas hereditárias. As mulheres com SOP, sofrem com períodos de menstruação irregulares, acne e também com o aumento de peso.

Em entrevista com Daniele Simeão, 27 anos, ela conta como ter hirsutismo e Síndrome dos Ovários Policísticos afetou sua autoestima e como foi o processo de aceitação. L.P: Como você descobriu que tinha hirsutismo? D.S: Desde nova eu sempre tive muito pelo, mas depois da minha primeira menstruação que notei o crescimento dos pelos mais grossos e aparentes. Fiz uma pesquisa na internet e assim, tive o conheci-

mento do que era hirsutismo. Depois, tive a confirmação pelo endocrinologista: hirsutismo e SOP. L.P: Você fez ou faz algum tratamento? D.S: Meu ginecologista sempre recomendou o uso de anticoncepcional, mas eu nunca achei que estivesse resolvendo. Mudava meu humor, meu peso e os pelos continuavam crescendo. Foi então que optei por depilar o rosto com cera,

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{ Saúde e beleza mas hoje o que mais funciona é a depilação a laser. Pra SOP, minha endocrinologista recomendou a perda de peso e também uso o medicamento para ansiedade. L.P: Como foi lidar com isso durante a adolescência? D.S: Não foi fácil, passei pela adolescência me sentindo envergonhada com o meu próprio corpo, era bem tímida e não me enturmava na escola. Fazia de tudo para não ser notada e não notarem os pelos, usava blusa de frio até mesmo no calor e não tirava por nada. L.P: Você já sofreu bullying na escola? D.S: Na escola, eu não era chamada para as festas de aniversário e acabava ficando de canto. Sempre tinha algum grupo que fazia piada sobre mim e inventava algum apelido, como mulher barbada. L.P: E em relacionamento, como foi lidar com hirsutismo e a SOP? D.S: Eu sempre fui bem caseira, então costumava entrar em salas de bate papo, mas quando algum

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cara pedia pra eu mandar alguma foto minha, eu já parava de conversar com ele. Eu mesma me escondia das pessoas, e foi assim até eu conhecer meu marido. Conheci ele em uma sala de bate papo também, mas começou muito na amizade. Depois, quando começamos a ter um relacionamento, contei para ele sobre o hirsutismo, mas ele nunca ligou, sempre gostou de mim do jeito que eu sou. L.P: Hoje você se aceita muito mais, como você fez para chegar na aceitação? D.S: Levei um tempo para trabalhar a minha cabeça e me aceitar fora do padrão. Eu sentia vergonha do que as pessoas podiam falar, muita gente apontava pra mim, falando como se eu fosse uma mulher relaxada, que não se cuida. Mas hoje eu sei que não é assim, eu me cuido. Não para chegar a um padrão de beleza, mas para me sentir bem comigo mesma. E meu marido me ajudou muito também, ele nunca me olhou com olhos de julgamento e sempre me apoiou e me entendeu, então isso fez eu me sentir melhor.


Saúde e beleza } É importante lembrar que o tratamento feito com depilação é de exclusiva opção da mulher. A Daniele escolheu fazer a depilação a laser, e muitas outras mulheres se depilam com esse ou com algum outro método. Porém, a depilação não deve ser uma imposição! E no nosso corpo, só nós mesmas temos o direito de escolher tirar os pelos ou permanecer com eles. Para as mulheres com hirsutismo que decidem permanecer com os seus pelos, a britânica Harnaam Kaur é uma grande inspiração. Ela tem 137 mil seguidores no instagram, onde publica fotos que exibem seus pelos faciais. Nas fotos, ela sempre aparece maquiada, muitas vezes de batom vermelho, provando que não precisa seguir estereótipos e que pode ser feminina com ou sem pelos.

Faça como a Dani ou como a Harnaam, a escolha é toda sua. O que te torna diferente também é beleza.

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{ Esporte

ESPORTE NÃO DEFINE ORIENTAÇÃO SEXUAL A sociedade tende a rotular as pessoas interferindo na sua identidade e as colocando em caixinhas Texto: Camila Bandeira e Joyce Vieira Foto: Camila Bandeira

uando se fala em esporte, algumas mulheres ouvem coisas como “Futebol não é para meninas”. “Mulher que pratica esporte parece homem”. “Como que mulher vai praticar algum esporte?”. “Vai se machucar fácil”. “Menina que luta vira sapatão”. E assim, muitas mulheres são rotuladas por opiniões que não as definem interferindo na identidade de quem são, pelo simples fato de praticar alguma atividade física específica são vistas como lésbicas e fazendo “coisas que só homem pode”.

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Essa foi a realidade da jundiaiense, Denise Conelhero, estudante de designer gráfico na época em que praticava handebol. Ela conta que por ser um esporte considerado mais bruto, quem a assistia tiravam as próprias conclusões achando que ela era lésbica. Mesmo no meio de rótulos a ex-atleta acredita que se cada pessoa sabe quem ela é, não permite que os outros a definam “Acredito que quando não sabemos quem somos a opinião de outras pessoas nos influenciam em nossas ações”, conclui Denise.


Esporte }

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{ Esporte

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Mesmo com tantas mudanças na nossa sociedade, ainda existe uma visão de esporte para menina e para menino. Então, quando uma menina quer praticar esporte que é “considerado para menino” já é bombardeada como errada e muitas vezes por amigos próximos e familiares. Além disso, a ascensão das mulheres no esporte vem fazendo história, e o preconceito está junto com esse apontamento na identidade de cada um. A orientação sexual de cada um não define seus talentos. Mariana Magalhães, 34 anos, é professora de educação física e praticante de jiu jitsu. Ela luta desde seus 19 anos e conta que passou por alguns preconceitos por ser mulher quando começou na carreira. “No início tinham poucas meninas no Jiu jitsu, o preconceito começava na academia achando que a mulher não tinha que participar da maioria das competições”, explica Mariana. A professora de jiu jitsu, pratica outras artes marciais desde os seis anos, e hoje leva isso como profissão. Sempre teve o apoio da sua família e atualmente participa de diversas competições, conquistando medalhas em grande parte delas. Sua filha Manuella Magalhães Moretti, 7 anos, vem seguindo seus passos. Inspirado na mãe, a pequena é campeã paulista e na sua última competição, conquistou o primeiro lugar na Prime Experience. Mesmo crescendo o número de mulheres que praticam modalidades vistas como masculinas, a realidade é outra. A sociedade não está acostumada a presenciar o destaque da mulher no esporte e em outras áreas, infelizmente. Assim, se utilizam de palavras ofensivas com desencorajamento para diminuir quem são. Para a atleta Hanna Paula, o preconceito com a mulher no esporte sempre vai existir e diz que “é questão de empatia e respeito. O atleta tem que ser respeitado e se dar o respeito”. Não ligando para como as pessoas julgam, pois só assim barreiras vão sendo quebradas com mulheres que praticam esportes considerados de homens e homens praticando esporte considerado de mulheres. Gabrielle - 10ª edição


Esporte }

A carioca Hanna Paula Celestino, praticante de natação, jiu jitsu e corrida, diz que no ambiente esportivo é comum perguntar se a mulher é lésbica por praticar algo, e afirma que “Esporte não é sexualidade, é apenas uma atividade física praticada por seres humanos”.

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{ Esporte

A atleta também acredita que dependendo do esporte, muitos esportistas não contam sua orientação sexual devido ao preconceito e olhares tortos que terão que enfrentar. “Em esportes no geral, possui todo tipo de pessoas. Porém, dependendo do esporte muitos não comentam sua orientação sexual, devido ao preconceito. Nos esportes existem muitos homossexuais, mas que não falam da sua orientação pois sabem que irão sofrer represália e alguns colegas de trei-

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Esporte }

no não vão querer treinar com a pessoa.” Para Hanna, essa realidade aos poucos está mudando “lentamente as pessoas estão aprendendo a lidar e a respeitar ao próximo, o que deveria ser praticado na vida em geral.” conclui. A psicóloga Stefany Araújo afirma que “é necessário

cada ser humano conhecer sua identidade e ter liberdade para isso”. Definir as pessoas em padrões que elas não se encaixam como fosse o correto, afeta no psicológico e na autoestima delas. Não se deve definir alguém só pelo esporte que a pessoa pratica, sua forma de se vestir,

gesticular, falar etc. É preciso lembrar e entender quem a pessoa realmente é, evitando cair no senso comum e em juízo de valores, além é claro, independente da orientação sexual, cor, ou sexo, o respeito deve sempre prevalecer. Gabrielle - 10ª edição

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{ Moda e comportamento

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desmistificação dos contos de fadas O reflexo do mundo imaginário no processo de (auto) representação de príncipes, princesas e bruxas

Texto: Marina Norato, Eduarda Costa e Giovanna Luchim Foto: Débora Simeão

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Moda e comportamento }

m uma terra muito distante, havia uma bela princesa chamada Thais. Ela, assim com tantas outras donzelas do reino, foi educada para servir ao seu futuro marido, cuidar dos filhos e da casa. Por muito tempo ela esperou, até que aos 17 anos de idade o seu príncipe encantado chegou. Eles se casaram e viveram felizes para sempre…até que ela percebeu que a vida de casada não era nada disso que ela estava sonhando. “Eu sempre tive um lado romântico muito forte. […] Comecei a namorar o pai da minha filha aos 17 anos de idade e naquela época, o namoro não podia durar muito tempo. Como ele já era conhecido por todos da família, sempre tive muito apoio (para o casamento). Eu me casei, sempre com essa ideia de que seria feliz para sempre.”

Hoje, Thaís Ribeiro Sena sabe que um casamento não é nada como os filmes de princesas da Disney. E já no seu segundo casamento, ela não idealizou tanto essa ideia. Aos 41 anos de idade, com dois filhos, ela quer muito mais para sua vida do que foi passado por sua mãe; além de cuidar da casa e dos filhos, ela trabalha e está cursando a faculdade de pedagogia. “Não tem mais essa história de que a mulher não precisa fazer (faculdade), não dá mais para a mulher casar e só ficar cuidando da casa e dos filhos. Hoje se enxerga de uma forma muito mais natural, uma mulher estudar, ter uma carreira do que na minha época. […] E a gente descobriu que não existe príncipe encantado, e que você é que tem que ‘ralar’ para fazer acontecer”.

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{ Moda e comportamento

A princesa em perigo Se hoje a Disney cria princesas que quebram os padrões impostos pela sociedade, antigamente, essas personagens não tinham tanta representação assim nas telas do cinema. Afinal, princesas como Branca de Neve, eram um reflexo da sociedade contemporânea em que estavam inseridas: mulheres submissas e sem voz, que precisavam de um homem para defendê-las. Em 1939, quando o filme Branca de Neve e os sete anões foi lançado, essa personagem representava o pouco espaço que a mulher tinha na sociedade. Esse conto de fadas com séculos de idade (a história da princesa Branca de Neve apareceu escrito pela primeira vez no livro Contos da Mãe Gansa (1697), do francês Charles Perrault), demonstra como a figura da mulher evoluiu pouco durante o passar dos anos. Então, não existia uma figura feminina diferente para ser representada, a não ser essa da donzela indefesa.

O nascimento das princesas empoderadas

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Com o Movimento Feminista nos anos 60 e 70, as mulheres conseguiram revolucionar não só o mundo real, mas também o mundo dos contos de fadas. A partir desse marco, as princesas nunca mais seriam as mesmas. Afinal de contas, como continuar criando personagens femininas que são coadjuvantes de suas próprias histórias, quando as mulheres da vida real estão saindo nas ruas exigindo seus direitos? Por isso, aos poucos a Disney percebeu a necessidade de contar as histórias clássicas de uma forma que atendesse a expectativa do público atual. A primeira a representar essa mudança, foi a princesa Ariel ( A Pequena Sereia), que desafia a autoridade do pai para conhecer o mundo, já que ela não se satisfaz só com aquilo que conhece e tem vontade de conhecer tudo ao seu redor.

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Moda e comportamento } Com a personagem Bela, de A Bela e a Fera, é possível observar uma crítica ao comportamento machista e agressivo do homem, representado na figura da Fera.

A bruxa malvada x

a princesa boa Além da ideia da mulher ser o “sexo frágil” ser reforçado nos contos de fadas, a rivalidade feminina também é imposta nessas histórias. Um exemplo claro dessa rivalidade é apresentado no conto da Cinderela, que é ridicularizada por suas meia-irmãs e sua madrasta, que não a deixa ir ao baile e faz como que ela realize todos os afazeres da casa. Já na história da Branca de Neve, a fúria da madrasta é causa pela inveja da beleza da jovem, defendendo o conceito de que a beleza de uma mulher, anula a das demais. Essas disputas fortalece a ideia de que as mulheres são rivais por natureza, que existe um mal que precisa ser combatido para que essa princesa se mostre como uma pessoa boa.

A princesa que não precisa de um príncipe Mais recentemente, personagens como Mérida (Valente) e Elsa (Frozen) rompem a necessidade de um par romântico masculino para as princesas. Além de exercerem a sororidade, ajudando umas às outras a salvarem o mundo. Essas personagens são um modo de dizer as meninas que elas são boas o suficiente para fazer tudo o que querem sozinhas, já que as princesas exercem uma grande influência na vida das meninas, principalmente quando crianças, tanto no jeito de se vestir, nos acessórios, nas festas de aniversário, entre outros comportamentos. Caso essas princesas fossem colocadas em uma posição inferior em relação ao príncipe ou como frágil, não seriam mais tão bem aceitas, nem pelo público nem pela crítica. Para Mirian Graziele Lopes Alves, que aos 23 anos está no último período de psi-

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{ Moda e comportamento cologia, toda essa mudança não faz com que histórias anteriores percam sua força, mas as resignifica. “O empoderamento feminino não tem feito com que os contos de fadas percam sua força, mas sim tem resinificado tais histórias, já que o mundo atual possui demandas e sentidos diferentes. Outro olhar surge e se abre um leque de possibilidades que anteriormente não eram questionadas. A passos pequenos, hoje a mulher na sociedade está sendo notada mais facilmente, tendo a possibilidade de ser representada, livremente e independentemente. Tal representação também se torna importante para as crianças, que poderão se identificar com personagens corajosas e fortes, fazendo com que um ciclo possa ser quebrado entre os gêneros”. A estudante de psicologia que tem como sua princesa favorita a Mulan, conta que as histórias auxiliam no desenvolvimento da imaginação, na construção do pensamento e no desenvolvimento cognitivo. “Ainda com os contos de fada, as crianças poderão se identificar com os personagens e com as histórias que permeiam o cotidiano de todos, as estimulando a desenvolver seus sentimentos, a gerar hipóteses de resoluções de problemas através dos personagens mágicos, bem como em aprender a lidar com as diferentes sensações, emoções e frustações, que só poderão ser vivenciadas e compreendidas por meio do brincar e do faz de conta”. Toda essa fantasia facilita a compreensão do mundo em sua volta, e ensina os pequenos a como lidar com ele. Para ela, sua princesa favorita lhe inspirou pela coragem ao lidar com as adversidades, e por fazer de tudo para ajudar sua família e amigos. “Me inspiro nas princesas independentes, que lutam para conquistar seus sonhos. Tal como se especializar e construir uma carreira profissional, bem como lutar em prol das desigualdades sociais e de gênero presentes na sociedade”.

Escola de princesas

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Em meio a uma revolução, em um cenário de empoderamento feminino, existe uma Escola de Princesas indo na contramão de tudo. A escola busca retomar alguns padrões e resgatar a “essência feminina”, ajudando as meninas que sonham em ser princesas.

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Moda e comportamento } Nessa escola as meninas aprendem sobre etiqueta, organização e mais sobre a mudança de princesa para a rainha. Nessa transição, a menina aprende mais sobre “o passo mais importante da vida da mulher [...]. Nem mesmo a realização profissional supera as expectativas do sonho de um bom casamento.” - palavras do próprio site. Por mais que a Revista Gabrielle não acredite na ideia de um padrão único de mulher, dizer que o sonho de TODA princesa é se casar, significa reforçar o estereótipo que insiste que a mulher só será feliz e realizada ao encontrar o Príncipe Encantado, indo contra um movimento que prova totalmente ao contrário; princesas podem sim ser completas sozinhas, e não precisam de um rei para ser uma rainha.

Princesas da vida real Você sabia que duas princesas da Disney são baseadas em histórias reais? Assim como no filme, Pocahontas foi peça fundamental durante a colonização dos ingleses, durante o século 17. Ela era filha do chefe indígena Wahunsenacawh, líder dos Powhatan. Seu nome verdadeiro era Matoaka, porém ela utilizava o seu apelido de infância, Pocahontas, que na sua língua significava “metida”. Outra princesa que também inspirou o filme da Disney foi Hua Mulan, que teria vivido durante a Dinastia Wei do Norte, no século IV. A história da garota que se veste de homem para lutar na guerra, foi contratada pela primeira vez na Balada de Mulan, entretanto, não existe nenhum registro histórico de que ela realmente existiu. Não é mais preciso vestidos e coroas para que mulheres se sintam princesas, seja enfrentando batalhas no dia a dia, conquistando seu espaço e derrotando dragões no mundo real, mulheres podem reinar e se sentirem representadas pelo o que por muito tempo, foram apenas contos de fadas.

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{ Arte e cultura

A DIFICULDADE da MULHER em ENCONTRAR seu ESPAÇO no AUDIOVISUAL As mulheres ainda são minorias no audiovisual, mas elas vêm conquistando seu espaço no mercado

Texto: Mayara Piperno e Nayara Paiva Fotos: Débora Simeão

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Arte e cultura }

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esde a apresentação do cinema pelos irmãos Lumière em 1895, a mulher no cinema pouco foi vista, como a Alice Guy-Blaché, considerada como a primeira cineasta e roteirista de filmes de ficção, dirigiu mais de mil filmes durante seus 20 anos de carreira, sendo 22 deles em longa-metragem, pouco conhecida e com crédito em seus trabalhos. Alice foi importante na história do audiovisual, continua a inspirar aos poucos que a conhecem, mas que vem sendo lembradas com os movimentos feministas fazendo assim; uma justiça histórica. Somente na 82º edição do Oscar, em 2010, uma mulher ganhou pela primeira e única vez a estatueta na categoria de melhor direção, Kathryn Bigelow, por “Guerra ao Terror”. No mesmo ano, o longa foi premiado pela academia como melhor filme. O mercado audiovisual brasileiro, conforme pesquisa realizada pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema), em 2016 gerou 91.834 empregos, sendo 40% mulheres. A presença feminina no setor, pouco cresceu e se destaca em sua participação não democrática. Dados divulgados pela OCA (Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual), sobre a presença feminina no audiovisual brasileiro em 2018, destaca como ainda é muito desigual esse cenário, especialmente em grandes cargos como direção, roteiro e direção de fotografia. Na pesquisa apresentada

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{ Arte e cultura e disponível no site da ANCINE, de forma geral, entre 2.636 mil títulos produzidos, apenas 20% foram dirigidos por mulheres, em roteiro com base de 1.714 mil títulos 25% foram feitos por mulheres e em direção de fotografia entre 1.629 mil títulos, 12% foram dirigidos por mulheres, onde suas presenças são em projetos que tem orçamentos menores e não de grandes produções. Os números de participação feminina se tornam mais alarmantes quando se trata da televisão. Em direção de fotografia com base de 770 títulos, apenas 7% foram realizados por mulheres e 89% por homens. A participação feminina tem grande presença no cargo de produção executiva, em obras seriadas televisivas, teve presença de 43%, contra 35% masculina. Já no cinema, em 2018 foram 43% feminina, contra 27% masculina, porém 30% teve produção mista. Para Gisele Malafronte, 51 anos, produtora executiva a 28 anos na TV Cultura, diz que sempre viu mais mulheres na produção do que homens, pois, acredita que mulheres são mais organizadas, já os homens querem cargos com prestígios maiores, como direção, direção fotográfica, montagem, operação prática, não a organização como o cargo de produtor exige. Thais Dantas, 39 anos, assistente de produção, quando trabalhava como produtora executiva em um programa esportivo, diz que foi e é uma inserção bem difícil, por ser um público majoritariamente masculino, assim como seus colegas de equipe. Não podia agendar entrevista, pois quando fazia eram vistas como tendo conseguido de outras formas não profissio-

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nais. Outra situação lhe ocorreu quando, durante uma reunião de equipe, estava dando suas sugestões e seu chefe não a olhava, quando questionou sobre isso teve como resposta “homem não deve olhar para a mulher, pois, mulher deve ser sempre submissa e estar com a cabeça baixa”. Camila Nunes, 22 anos, editora de pós-produção, em seu início de carreira, mulher, lésbica, sentiu mais dificuldades, onde a equipe era formada por homens. Teve que provar que sabia realmente o que estava fazendo e que sabia editar matérias de jornalismo esportivo, em contrapartida, notou que as editoras de texto se sentiam mais confortáveis em ter uma mulher na edição. Camila que já passou e trabalhou em setores de produção e pós-produção, complementa que o fato de ser nova para a área, sempre pesou muito nos lugares, mas em operações tem um peso maior por ser mulher e em algumas situações, até por ser lésbica. Ludmila Azevedo, 42 anos, Jornalista e pós-graduada em cinema. Quando trabalhava com crítica de cinema, em escolhas de curtas para representar festival, era questionada sobre suas escolhas como não ideais e ainda orientavam o que deveria ser melhor. Também como jornalista, sofria assédio moral, onde seu superior questionava sobre tudo que fazia, importunava, diferente dos seus outros colegas homens que ocupavam os mesmos cargos, fragilizando a ponto de ter que tomar antidepressivos e frequentar ainda mais terapia para lidar. Essas situações mesmo com algumas ferramentas para se defender, ainda causa paralisação, pois o machismo tem o poder de

intimidar com diversas camadas de opressão e sexismo para serem quebrados. Para inclusão e participação feminina no Audiovisual, este ano a ANCINE em parceria com o SESC, realizou o 3° Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, no evento foi convidada a palestrante Barbara Rohm, diretora de cinema Alemã, na qual faz parte do ProQuoteFilm, uma organização da sociedade civil da Alemanha criada em 2014 para promover a igualdade de gênero na indústria cinematográfica e televisiva alemã. Como referência para implementação brasileira, e com finalidade de propor e debater políticas públicas para a diversidade no setor brasileiro. O preconceito não se limita apenas aos setores técnicos no audiovisual, existe também o preconceito com as atrizes, que quando atingem uma determinada idade, já não são mais consideradas estrelas para o mercado, com papéis menores e mais comportados, diferente dos personagens masculinos que passam ser senhores com mais sensualidade ao passar dos anos. Glenn Close, 72 anos, atriz, cantora e produtora, quando mais nova, interpretou diversos papéis onde era uma jovem sensual, como em Atração Fatal (1987) e Ligações Perigosas (1988). Agora em sua mais recente atuação no filme ‘A Esposa’ 2019, dirigido por Björn Runge, onde a Glenn foi indicada e ganhadora do Oscar em


Arte e cultura } 2019 como melhor atriz. O filme que conta a história de um casal, onde o seu marido Joe receberá o Prêmio Nobel de Literatura, Joan, durante a viagem se questiona sobre as decisões tomadas durante toda sua vida, incluindo ser a verdadeira escritora por trás dos livros que levavam o nome de seu marido e se tornaram best-seller, já que sendo mulher não conseguia ter suas histórias aprovadas para publicação. O longa, ainda traz a normatividade de Joe estar traindo Joan, com mulheres mais jovens e ser mais inteligente com o passar dos anos. É possível notar os questionamentos que são trazidos diariamente para as mulheres mais velhas, como ser avó, aquela que cuida e mantém o zelo dos filhos adultos, cuidar do lar e do marido sem felicidade pela

idade e sem poder ser também uma mulher ativa. Meryl Streep, 70 anos, é uma atriz de sucesso, que iniciou sua carreira ainda jovem, com papéis incríveis que renderam muitas estatuetas e indicações ao Oscar, agora que está idosa, já interpreta papéis de avó, mãe atenciosa e diretamente comportado ao que se esperar de uma mulher mais velha- diferente da jovem alegre e sensual como no filme ‘A Escolha’ de Sofia (1982). Ainda para Ludmila, é através da construção de um estereótipo, que por vezes não tem mais um lugar no meio do audiovisual. Por estarem mais velhas, essa reprodução através dos filmes,

reforçam a estrutura da mulher com corpos e beleza, reforça que o audiovisual e a comunicação devem parar de impor que a mulher tem que ser de um jeito ou de outro, ainda recomenda a leitura do livro “O Mito da Beleza- Naomi Wolf”, que aborda o conceito da visão do que é belo e referência por meio das imagens, os padrões socialmente aceitos. Ainda tem muitos lugares que as mulheres são minoria, mas esse cenário está mudando. Os espaços estão sendo conquistados, e ainda tem muito para melhorar. Tanto no audiovisual quanto em empresas, por exemplo. O mais importante é sempre correr atrás dos seus sonhos e conquistar seu lugar no ramo que deseja. Persistência e resistência são as palavras quando se relaciona a mulher e o emprego.

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{ Saúde e beleza

V A G I N I S M O , P O M P O A R I S M O ,

L A Q U E A D U R A E D I U Como funciona o DIU, laqueadura é um direito garantido por lei, o que é vaginismo e quais são os benefícios do pompoarismo

Texto: Aline Priscila e Lorrayne Perozzo Fotos: Sydney Sims ou Alex Boyd (sobre vaginismo). Diu – Débora Simeão

DIU É um dispositivo intrauterino, normalmente tem um formato parecido com um T e age como contraceptivo. Sua durabilidade é de 5 a 10 anos, e caso a mulher opte por engravidar, ela pode fazer a retirada do dispositivo com seu ginecologista. Utilizando o DIU, a taxa de gravidez é de menos de 1%. Existem dois tipos de DIU, o de cobre e o de mirena. A diferença é que o DIU de cobre, não libera hormônios, mas sim íons de cobre que dificultam

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que o espermatozoide tenha mobilidade e que não haja fecundação. Já o DIU de mirena é hormonal, e libera progesterona, também impedindo que a gravidez aconteça. Para saber qual é o mais adequado, é necessário consultar um médico ginecologista e realizar alguns exames. Por não liberar nenhum hormônio, o DIU de cobre tem a vantagem de possuir menos efeitos colaterais, não causa alterações de humor, de peso, nem diminuição de libido, além de não sofrer interferência no uso de medicamentos. Po-


Saúde e beleza } rém, pode causar o aumento do fluxo menstrual e algumas mulheres podem apresentar sensibilidade após a colocação do DIU. O DIU de mirena, por conter a liberação de hormônios, é mais semelhante a pílula concepcional. Então, pode causar alterações de humor, peso e também interferir na libido. Mas sua vantagem é reduzir a menstruação, a cólica, e também beneficia mulheres com endometriose. Além de poder proteger contra o câncer de endométrio. Apesar de não ter uma idade certa para poder colocar DIU, ele pode ser usado desde a adolescência, mesmo que a mulher ainda não tenha filhos. Há casos de mulheres que tiveram negado seu direito de usar esse método contraceptivo. Isso aconteceu com Aparecida Rastelli Vieira há aproximadamente 3 anos. Ela já tinha 40 anos e dois filhos, porém foi informada pela enfermeira do Posto de Saúde que ela só poderia colocar o dispositivo se tivesse mais filhos. Como o DIU não causa infertilidade, e basta ser retirado caso a mulher escolha ter mais filho, é orientado que ela procure um outro médico caso passe por uma situação semelhante a que Aparecida passou.

algum plano de saúde, a mulher deve procurar o Juizado Especial Civil.

Essas mulheres tem o seu direito negado, sua vontade desconsiderada e se sentem impotentes.

LAQUEADURA Também chamada de ligadura de trompas, é uma cirurgia onde as trompas da mulher são cortadas, causando a esterilização definitiva. Segundo a Lei Brasileira, pode realizar a la-

queadura as mulheres que tenham mais de 25 anos ou dois filhos vivos. Embora a lei garanta esse direito através do Sistema Público de Saúde (SUS), muitas mulheres têm seu pedido negado pelo médico. Essas mulheres, mesmo estando dentro das regras recomendadas pela lei, precisam ouvir do médico que elas vão querer ter mais filhos, que vão se casar novamente e que seu futuro marido vai querer mais um filho, ouvem que estão muito novas e que se arrependerão. Muitas precisam recorrer à justiça para conseguirem realizar a cirurgia. Para recorrer à justiça, primeiramente a mulher precisa encaminhar um documento para a Secretária da Saúde de onde mora, informando sua idade e a quantidade de filhos, em seguida relatando que o pedido de laqueadura foi negado pelo médico. Caso não receba uma resposta em até 15 dias, a mulher tem o direito de procurar a Defensoria Pública ou o Juizado Especial da Fazenda Pública. Isso caso seja pelo SUS, se for através de

VAGINISMO

Muitas mulheres sofrem com vaginismo, mas poucas conhecem sua causa e razão. Vaginismo é a dor no ato sexual, uma contração involuntária do músculo vaginal. Esses espasmos dificultam a relação sexual, tornando dolorosa e impossível de continuar. Um distúrbio que muitas mulheres desconhecem, mas sentem. Na maioria dos casos o vaginismo tem causa psicológica, muito comum em mulheres que tiveram educação muito rígida, com pouca ou zero orientação sexual e também as que sofreram abusos causando traumas. Os sintomas mais comuns são: contração involuntária da musculatura pelve no ato sexual, dor durante a relação sexual, dificuldade de manipulação da região, baixa autoestima e ansiedade. Um passo importante é procurar um ginecologista e informar os sintomas, assim o médico pode avaliar com exames se há alguma causa orgânica para as dores, como disfunção hormonal, nódulos, infecções genitais, ausência de lubrificação vaginal, entre outros. Descartados as causas orgânicas é fundamental para a paciente procurar apoio emocional, como o auxílio de psicoterapeutas, sexólogas ou fisioterapeutas especializados em assoalho pélvico. E o conhecimento do próprio corpo é fundamental para a melhora. Um exercício de grande ajuda é o Pompoarismo, que ajuda no controle dos músculos vaginais.

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POMPOARISMO: APERTA E SOLTA O Pompoarismo é uma técnica de exercícios para o fortalecimento da musculatura vaginal, uma ginástica vaginal, que traz diversos benefícios para a mulher. Os exercícios fortalecem a musculatura vaginal, aumentando assim a irrigação sanguínea da região, regulando toda a saúde intima da mulher e proporcionado mais prazer e aumento da confiança no momento da relação sexual. O pompoarismo é recomendado por ginecologistas, fisioterapeutas e até mesmo por psicólogos. O pompoarismo tem benefícios como permite que a mulher supere problemas para ter orgasmos, diminuir a dor na hora da penetração causada por vaginismo e também possibilita múltiplos orgasmos femininos. Além disso, reduz as cólicas e o período menstrual, diminui os sintomas da menopausa, ajuda gestantes na preparação para o parto e auxilia na recuperação pós-parto. Melhora o funcionamento do intestino, trata a incontinência urinária, combate a flacidez vaginal e aumenta a lubrificação e a libido. Os exercícios iniciais são contrações do canal vaginal com intervalos de descanso (exemplo: 5 séries de 30 contrações com intervalo de 1 minuto). No começo são exercícios de pouco movimento e séries, com o aumento no decorrer dos dias. São indicados também uso de acessórios como Bolas Bem-Wa, vibrador e cones vaginais. A especialista em sexualidade feminina e uroginecologia, Catia Damasceno é uma defensora e professora desta técnica, possui um canal no Youtube chamado ‘’Mulheres Bem Resolvidas’’, onde traz vídeos diários sobre sexualidade. Autora também do livro Aperta & Solta, de conteúdo sobre a técnica do pompoarismo. Cátia dá aulas também sobre a técnica,

onde já ajudou mais de 15 mil mulheres a conhecer seu próprio corpo. O curso é pago, mas tem muita informação gratuita e dicas em seu canal. Vale a pena pesquisar e aderir a técnica, porque, nós mulheres temos que ter o co-

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nhecimento e domínio do nosso próprio corpo. Empodere-se!

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{ Saúde e beleza

SINTA-SE ROSA Em pé, levante seu braço esquerdo e o apoie sobre a sua cabeça. Com a mão direita examine a mama esquerda, use as pontas dos dedos para sentir sua mama, faça movimento circulares de cima para baixo e repita os movimentos na outra mama. Prevenir é o melhor remédio.

Texto: Aline Priscila Foto: Débora Simeão

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Saúde e beleza }

ais um mês de Outubro chegou e com ele, 31 dias voltados inteiramente para a prevenção do câncer de mama. Uma doença que segundo dados do INCA em 2018, teve 59.700 novos casos no qual vitimou 16.137 (14%), é a quinta causa de morte por câncer em geral – e a causa mais frequente de morte por câncer em mulheres. Dados que ano após ano vem aumentando. O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada das células da mama, esse processo gera células anormais que se multiplicam, formando assim um tumor. Há diversos tipos de câncer de mama, alguns se desenvolvem agressivamente enquanto outros lentamente. E para falar sobre este assunto, é muito importante alertamos para os fatores que podem levar a desenvolver um tumor e meios de prevenção, pois informações como estas não devem ser só compartilhadas no mês de Outubro, mas todos os dias do ano. O INCA, disponibiliza em sua página na internet conteúdos sobre o câncer de mama, e nós como mulheres, queremos trazer um pouco disso para quem nos lê, para que essas informações e alertas atinja o maior número de leitoras.

PREVENÇÃO Cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a prática de hábitos saudáveis. Prática de atividades físicas, alimentação saudável, amamentação, entre outras, são fatores essenciais para a prevenção da doença. Outro fator importante é o autoexame, recomendado em qualquer idade. Você sabe como fazê-lo? Dr. Sérgio de Passos Ramos, ginecologista, CRM SP 17.178 nos mostra passo a passo deste simples exame que pode salvar vidas.

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{ Saúde e beleza

FATORES DE RISCO – DADOS INCA FATORES AMBIENTAIS E COMPORTAMENTAIS: Obesidade e sobrepeso após a menopausa. Sedentarismo e inatividade física; Consumo de bebida alcoólica; Exposição frequente a radiações ionizantes (raios-x).

FATORES DA HISTÓRIA REPRODUTIVA E HORMONAL: Primeira menstruação antes de 12 anos. Não ter tido filhos; Primeira gravidez após os 30 anos; Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anos;

Ter feito reposição hormonal pós-menopausa, principalmente por mais de cinco anos. Uso de contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona);

FATORES GENÉTICOS E HEREDITÁRIOS: História familiar de câncer de ovário; Casos de câncer de mama na família, principalmente antes dos 50 anos; História familiar de câncer de mama em homens; Alteração genética, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2 (genes que nos protegem do aparecimento de cânceres).

EM FRENTE AO ESPELHO: Posicione-se em frente ao espelho com os seios nus; Observe os dois seios, primeiramente com os braços caídos; Coloque as mãos na cintura fazendo força; Coloque-as atrás da cabeça e observe o tamanho, posição e forma do mamilo; Pressione levemente o mamilo e veja se há saída de secreção.

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EM PÉ: Levante seu braço esquerdo e apoie-o sobre a cabeça; Com a mão direita esticada, examine a mama esquerda; Divida o seio em faixas e analise devagar cada uma dessas faixas usando as pontas dos dedos. Sinta a mama; Faça movimentos circulares, de cima para baixo; Repita os movimentos na outra mama.

DEITADA: Coloque uma toalha dobrada sob o ombro direito para examinar a mama direita; Sinta a mama com movimentos circulares, fazendo uma leve pressão; Apalpe a metade externa da mama; Depois apalpe as axilas; Inverta o procedimento na mama esquerda.

Caso sinta algum nódulo ou mudança na textura ou tamanho, procure um médico. A mamografia é indicada anualmente para as mulheres a partir dos 40 anos de idade. A mamografia é uma radiografia; espécie de raio X das mamas. O objetivo principal é detectar o nódulo antes mesmo de serem palpáveis. Uma doença tão traiçoeira que a prevenção e hábitos saudáveis são fundamentais, quando mais cedo a descoberta maior a chance de cura.

BANCO DE PERUCAS E no meio de tanta dor, há solidariedade há empatia, há beleza. Em São Paulo a Ong Cabelegria arrecadam cabelos (tingidos e com químicas ou não), confeccionam perucas e distribuem gratuitamente para pacientes com câncer, levando perucas e auto estima para mais de 6.500 pacientes em tratamento. E para mostrar como um projeto do bem como este, traz alegria para tantas mulheres e tende a crescer cada vez mais. Em Agosto deste ano, a Ong inaugurou seu primeiro Banco de Perucas fora do estado de São Paulo. A nova instalação fica no Rio de Janeiro, no Instituto de


Saúde e beleza } pesquisa COI – Barra da Tijuca, onde pretendem atender 60 mulheres por mês.

REDESENHANDO Alex Arcodi (Criciúma), Naamã de Oliveira Rocha Camargo (Araraquara), Yurgan Barret (Rio de Janeiro) entre TANTOS outros... Sabe o que eles têm em comum? Redesenham gratuitamente a aréolas em mulheres que já passaram pelo procedimento de mastectomia, que é a remoção total ou parcial da mama. Devolvendo um pedaço que lhes foi tirado, devolvendo suas autoestima, ajudando- as a encarar com mais leveza o momento mais doloroso de suas vidas, apagando marcas tristes e trazendo o recomeço com novos trações traços.

O SINO TOCOU! Para mostrar como a vida tem suas formas de superação e recomeço, Marília Gomes deu um depoimento emocionante para o Grupo Público Cancêr de Mama do Facebook, após vencer o câncer de mama. Como forma de servir de incentivo e coragem para tantas outras que se encontram em situações parecidas. ‘’Há um ano atrás eu estava desesperada com medo de um possível diagnóstico de câncer. Senti um nódulo na minha mama esquerda e, por algum motivo, eu sabia que era “aquela doença”. Me lembro que carreguei esse medo sozinha por algumas semanas pois não queria levar preocupação aos meus amores... mas logo que começaram os exames falei com eles e colocamos

em prática o significado da palavra família”. Doze meses se passaram e hoje o sentimento é de gratidão! ‘’Hoje foi a minha última sessão de radioterapia, 25/25, e não consegui conter as lágrimas! Elas simplesmente rolaram! Sabe quando você não consegue explicar o que está sentindo? Pois é, eu só sabia sentir. Entrei naquela sala fria, olhei para a cama e a máquina, deitei e o técnico me posicionou... acho que estava tão em transe que não senti nem mesmo o desconforto de sempre! Observei atentamente cada posição da máquina e pela última vez visualizei as células cancerígenas sendo metralhadas e exterminadas do meu corpo. Saí da sala e chorei discretamente com meu marido... e quando cheguei no carro gritei e chorei descompassadamente “Acabou!!!” Que alívio!!! Que sensação mágica!!! Que gratidão!!!! Após almoçar, cheguei em casa e minha mãe estava lá, com seu amor, seu abraço, suas flores e um sino, como a clínica não tinha sino para formalizar o fim do tratamento, ela comprou um!!! Diogo pegou Miguel na escola. Meu pai também veio ao nosso encontro e comemoramos! Como Pedro não estava presente, fizemos uma videoconferência. E concluímos esta etapa como começamos... juntos!!! Olho para trás e apesar de todo sofrimento e dor que essa doença e o seu tratamento trazem, só tenho a agradecer. Agradecer a Deus por ter me fortalecido e me fazer forte através da minha fé. Nunca conversei tanto com Deus!!!

Agradecer a minha família que permaneceu ao meu lado em todas as etapas desta jornada vivenciadas até aqui, nunca estive sozinha! Nunca estive tão próxima deles! Nunca recebi e dei tanto amor! Que família sensacional que eu tenho!!! Agradecer aos meus amigos, os velhos e os novos, os meus e os que eram dos meus familiares e amigos, e se tornaram meus também! Amigos dos meus pais, amigos do meu marido, amigos dos meus amigos, hoje são nossos amigos!!! E quanta força me deram, quantas orações, quantas palavras de carinho, quanta energia boa!!! Agradecer aos desconhecidos na rua que transmitiram tanta empatia!!! Nunca recebi tantos sorrisos, olhares, abraços. Afinal, uma mulher careca, alta, de batom vermelho e argola, sempre chama atenção! (...) Sei que ainda há um longo caminho pela frente, que o tipo de câncer que me acometeu não é fácil, que ainda tenho algumas sequelas, que o meu corpo não é como antes, que as clínicas e médicos serão uma rotina na minha vida e que a medicina só vai me considerar curada daqui a 5 anos sem recidiva. Mas uma das coisas que aprendi nessa jornada é que devemos dar um passo de cada vez e comemorarmos cada vitória! Aproveitar cada momento! Assim, posso dizer que, apesar de não saber como será daqui para frente, hoje eu estou transbordando felicidade!

Esquema de tratamento concluído! Hoje o sino tocou na minha casa!’’ Gabrielle - 10ª edição

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{ Arte e cultura

Texto: Beatriz Cunha, Mayara Piperno & Nayara Paiva Foto: Taras Chernus, Victoria Strukovskaya, Emiliano Vittoriosi, Joe Desousa e Richard Jaimes

A FALSA IDEIA DO AMADURECIMENTO PRECOCE A erotização feminina sexualiza e adultiliza até mesmo crianças, infelizmente inseridas em uma sociedade misógina e machista

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Arte e cultura }

Apesar de terem um teor sexual, a pornografia é, de longe, onde mais vemos a objetificação e erotização da mulher.

I

nfelizmente, é de conhecimento comum que tudo que envolva a mulher é sexualizado, desde seu corpo a gestos e posições. Desde muito novas, as mulheres são ensinadas que precisam “amadurecer” mais rápido e que precisam lidar com coisas que talvez não tenham maturidade o suficiente. Nos últimos anos, houve muitos avanços e conquista em relação à hiperssexualização da mulher, mas essa é uma luta constante que deve sempre ser levada em conta. Um dos fatores que contribuem muito para essa erotização feminina é a mídia, na qual meninas de idades muito novas são mostradas de um ponto de vista sexualizado, fazendo com que isso seja, por muitas vezes, tomado como algo normal.

O Washington Post, no artigo “Adeus à infância”, publicou um estudo que mostra que as meninas norte-americanas estão cada vez mais sendo alimentadas por uma imensidão de produtos e imagens que promovem looks e atitudes sensuais. Segundo o WP, essa erotização começa cada vez mais cedo, principalmente pelas mensagens que as meninas recebem: “é normal que você tenha interesse em sexo. É normal você se vestir e agir de maneira sensual”. As mães das garotas entrevistadas dizem não se importar, pois nos dias de hoje é normal querer sempre estar bonita e que elas precisam disso se quiserem sucesso profissional. Gabrielle - 10ª edição

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{ Arte e cultura Essa erotização está em todos os lugares: em comerciais, novelas, anúncios, revistas, no cinema e na TV... e onde isso fica mais claro do que em qualquer outro lugar é na indústria pornográfica. Isso mesmo, na indústria pornográfica. O falso consentimento mascara o sofrimento das mulheres que estão nesse ramo e, muitas vezes, se chega a extremos absurdos apenas para agradar os telespectadores – na maioria das vezes homens.

Um exemplo sobre o uso do audiovisual para erotização e objetificação feminina é o filme “Azul é a cor mais quente” (título original “La vie d’Adèle”), lançado em 2013, baseado no romance gráfico de mesmo título. Com direção de Abdellatif Kechiche, o longa narra a história de Emma (Léa Seydoux) e Adèle (Adèle Exarchopoulos), duas garotas que se apaixonam e se envolvem no decorrer do filme. A trama é centrada na descoberta de Adèle, assim como os preconceitos e homofobia por parte da sociedade e os grupos que as cercam, mas o que se destaca é a cena de sexo entre o casal, que tem duração de sete minutos seguidos, com posições e fotografia que proporcionam satisfação masculina, reforçando os valores idealizados e massificados por parte da indústria pornográfica.

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O filme ainda teve críticas devido às condições de trabalho, como gravações extensas, sendo produzidos em apenas seis meses. Mesmo diante das críticas, no ano de lançamento ganhou diversos prêmios em festivais, como Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro.

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Arte e cultura } Em entrevista na época, as protagonistas ainda falaram sobre terem usado próteses vaginais para gravar as cenas e que muitas vezes choravam sem poder interromper a cena, na qual Abdellatif penetrava o próprio dedo nas atrizes a fim de mostrar como se fazia, gerando o comentário de que as lágrimas nas premiações eram de tristeza pela forma que foram gravadas e humilhadas. Mais tarde, ele foi acusado de abuso por uma jovem a qual não se identificou, mas sem ser julgado. O filme não é o único que usa a imagem da mulher para a satisfação masculina; existem diversos filmes que reforçam a questão cultural da submissão feminina como símbolo de um corpo feito para os prazeres sexuais. Após seis anos do lançamento de “Azul é a cor mais quente”, Abdellatif recentemente exibiu seu novo longa “Mektoub, My Love: Intermezzo”, que causou espanto com 12 minutos de cena de sexo oral, retornando e permanecendo com a erotização dos corpos femininos. Em declaração no Festival de Cannes 2019, “quis mostrar o que me faz vibrar, os corpos, ventres, capazes de me levar a outros estados”. Essa erotização já começa desde a infância. Um exemplo é a cantora Melody, de 12 anos, que sofre um processo de erotização e adultização por conta do modo que ela se porta e se veste nas redes sociais e em seus vídeos. Melody era assediada online por meio de comentários de conotação pornográfica e chegou a ter sua conta suspensa após muitas críticas quanto ao apelo sexual das fotos. Em seu último videoclipe, já fora do ar, a cantora mirim faz caras e bocas, usa um figurino sensual e aparece com a maquiagem carregada, lhe dando a aparência de uma pessoa mais velha, e isso se repete nas fotos que ela posta. Não só Melody, mas também várias garotas são vistas na internet em um nível de exposi-

ção questionável. Milly Bobby Brown, a estrela de “Stranger Things”, é outro exemplo famoso. Ela tem apenas 15 anos e se veste como uma mulher adulta, pelo que mostram os cliques feitos em alguns eventos. A infância é uma fase muito importante para o desenvolvimento humano e esse fenômeno, potencializado pela popularização da internet em meio às crianças, faz com que elas, hoje em dia, já sejam vistas e tratadas como adultas; elas acabam tendo que passar por toda a infância sem ter a parte leve e despreocupada. A erotização vai desde a infância até a fase adulta e ainda é um assunto pouco falado, mas que deveria ter um destaque na mídia. É importante que todos tenham consciência, principalmente com as crianças, que devem ter uma infância de verdade e no momento certo virar adulto – saber identificar quando as coisas passam dos limites, e se impor para que isso não aconteça ou se repita.

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{ Esporte

MULHERES DESAFIAM O AR, ÁGUA E AS PAREDES Com muita garra e determinação, elas vêm quebrando barreiras e rompendo preconceitos. Mesmo com a desvalorização e julgamentos que recebem, simplesmente mostram do que são capazes!

Texto: Camila Bandeira e Joyce Vieira Foto: Marcelo Balestero, Luis Carlos Silva, Luan Rodrigues, Yan Santos, Morgana Festugato, Thiago J. Silva e Kauhan Teixeira

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Esporte }

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encer desafios, ter a sensação de liberdade, prazer e liberar adrenalina- são uma das razões que mulheres e homens praticam esportes radicais. Além disso, a prática traz benefícios para a

musculatura do corpo, mas exige mais preparo físico que outras atividades. Outro ponto importante é a segurança. Antes de realizar algum esporte de aventura é recomendável ter conhecimento e orientações do desempenho físico e mental, boa alimentação e equipamentos adequados. Mesmo sendo rotuladas de sexo frágil, as mulheres invadem montanhas, campos de futebol, quadras de esporte, desafios de queda livre, mostrando que qualquer categoria de esporte não é só para homens. Elas também vêm se aventurando nos esportes de risco, se destacando sem abrir mão da sua feminilidade. Um dos objetivos do esporte, além da resistência física é a motivação. O aprendizado e superação que cada pessoa aprende no seu particular. Isso gera mais ousadia na mulher em busca de novos desafios no esporte radical. O esporte radical está se tornando uma fábrica de realização de sonhos, transformando vidas. Nos últimos anos, ele tem mostrando seu papel social, inclusivo e de igualdade. Enquanto isso, uma galera continua lutando por esse reconhecimento e pela garantia de seu espaço (como o homem já possui).

PARAQUEDISMO Atualmente, filiadas a CBPq (confederação brasileira de paraquedismo) existem 3543 paraquedistas, destes, 281 são mulheres. O paraquedismo conta com várias modalidades de competições, entre elas:

FORMAÇÃO EM VELAMES Realizada com o paraquedas aberto, dois ou mais atletas realizam manobras para formar coreografia e figuras com os velames (parte superior do paraquedas), proporcionando um espetáculo para quem assiste no chão.

FORMAÇÃO EM QUEDA LIVRE Equipes de quatro ou oito atletas que formam figuras com seu corpo durante a queda livre.

PRECISÃO Essa é uma das modalidades de salto mais antiga do paraquedismo, praticada com o velame (de tecido e linhas do paraquedas) aberto. O objetivo é atingir uma “mosca” no centro de um alvo determinado com 2,5 cm de raio na hora do pouso. Ana Lígia Pulgaci, é instrutora de paraquedismo e tem quase quatro mil saltos. Ela compete em grupo e sozinha pelo exército em várias modalidades. Aninha se tornou Campeã Absoluta Feminino Brasileira Militar em 2019, se consagrando a melhor atleta desse campeonato, também é campeã de precisão, campeã absoluta em time, estilo individual, entre outras conquistas. Aninha se tornou paraquedista em 2011, nunca pensou que trabalharia com o esporte, porém se apaixonou e começou a treinar para se superar a cada dia. Já passou por alguns preconceitos e ganhou elogios por praticar o esporte, como pedidos de

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{ Esporte fotos e autógrafos, o que ela acha muito gratificante. Para ela é muito importante a mulher estar ganhando cada vez mais espaços – antes considerados masculinos “prova que temos as mesmas condições. Existem muitos preconceitos e a inclusão de mulheres está mostrando que realmente somos iguais, e o mais importante, incentiva as mulheres a encarem o esporte e descobrirem que não é força e sim técnica, comenta.

MERGULHO Além do mergulho como uma forma de lazer que todo mundo conhece, o mergulho também é um esporte com competições de categorias diferentes.

LASTRO CONSTANTE Praticado no mar e em lagos, o mergulhador desce a uma determinada profundidade com a ajuda do cinto-lastro e das nadadeiras, porém não pode utilizar o cabo-guia.

IMERSÃO LIVRE Sem uso de cinto lastro ou nadadeiras, o atleta deve descer o máximo possível com apoio de um cabo guia e em apneia.

APNEIA Categoria em que o atleta fica o maior tempo possível submerso ou flutuando imóvel com as vias respiratórias imersas na água. Essa categoria é composta de várias modalidades diferentes, entre elas a apnéia estática com inalação prévia de oxigênio,

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modalidade em que a brasileira Karol Meyer entrou para o Guinness Book, batendo o recorde de 18 minutos e 32 segundos. Além do recorde, ela é a atleta que mais conquistou recordes mundiais no Brasil, sendo 8 mundiais, 2 continentais, 30 sul americanos e entre muitos outros. Karol sempre foi apaixonada pelo mar e hoje realiza um dos seus sonhos em conhecer e viver com os seres marinhos. Por outro lado, ela também questiona a desvalorização do esporte no geral “Não vemos muito apoio e incentivo ao esporte competitivo dos órgãos oficiais, mas isso é um problema para todos os esportes exceto, futebol masculino no país. Deveria ser valorizado, ainda mais com a nossa imensa costa”, diz. O mergulho não é só desfrutar com a beleza do fundo do mar, mas também, ficar atento com a segurança- pois é um dos esportes mais perigosos. Cada imersão exige um tempo de descanso na superfície evitando que o CO² prejudique a respiração pelo consumo do oxigênio. A pressão causada pode levar o atleta a desmaiar ou até morrer. A mergulhadora vem superando recordes e indo mais fundo, mostrando que a força e dedicação da mulher no esporte.

ESCALADA Força, concentração, técnica e adrenalina. São os princípios

básicos para a prática da escalada. Muitos se confundem com o rapel, mas o mesmo é apenas uma técnica de segurança para descidas utilizada em escalada em rocha. A escalada pode ser praticada individualmente ou em grupo, exigindo os equipamentos básicos de segurança corda, sapatilha para escalada, capacete e pó de magnésio para as mãos.

Gláucia Caldeira, 30 anos é carioca, esteticista e fascinada por altura e apaixonada por adrenalina “a escalada é um dos meus esportes favoritos. Me sinto livre, quase como se estivesse voando,”. É assim que ela aproveita seus finais de semana.


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VELOCIDADE OU SPEED Dois atletas correm vias idênticas de 15 m ao mesmo tempo, e quem tocar no botão no final da parede primeiro vence. A via é padrão no mundo, então existe a possibilidade de bater recordes.

DIFICULDADE OU LEAD Essa modalidade possui uma via de 20 m de altura e gradualmente vai aumenta seu nível de dificuldade. Podendo escalar só uma vez, então se o atleta cair a pontuação é validada até onde chegou. A pessoa que terminar ou chegar mais próximo do final ganha.

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de Escalada em Los Angeles, pois quem levar o prêmio é selecionado para as olimpíadas em Tóquio. Sua rotina de treino é intensa e acontece 6 vezes por semana com combinação de exercícios específicos de escalada, séries de boulder, simulados de campeonatos, treino funcional entre outros. Em entrevista, a atleta Thais Makino conta sobre a dificuldade e desvalorização da escalada no Brasil. “O esporte no país nunca teve o investimento que existe em outros países, o que resultou num abismo de diferença entre o número de praticantes de outros países e no desempenho competitivo”. Além disso, outro desafio encontrado é a falta de patrocínio com os atletas. Hoje Thais possui patrocínio da Fábrica Escalada e apoio de lojas, mas nem sempre foi assim. “Em 2018 eu ainda tinha um trabalho paralelo que ajudava em me manter, porém dificultava nos treinos, cheguei a competir sem escalar nenhuma vez no mês”, conta.

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O boulder são 5 vias de escalada diferentes em paredes de até 5 metros. A altura sendo mais baixa não facilita, pois exige concentração e menos movimentos. O atleta precisa escalar os boulders em 5 minutos de escalada e 5 minutos de descanso, não podendo ver os outros participantes escalando para evitar de pegarem dicas. É a única modalidade CURIOSIDADE • E• CU D realizada sem cordas, DA com colchões para Na escalada auxiliar na queda. Nas olimpíadas existem diversas de Tóquio 2020, modalidades será o formato Combinado que inclusive abrange as três competitivas modalidades, e a atleta de escalada Thais Makino já está se preparando para o Campeonato Pan-americano

Thais Makino é Campeã Brasileira de Boulder, Campeã Brasileira de Dificuldade, Campeão de Velocidade e Campeã Brasileira Combinado, e vem marcando essa geração mostrando a força da mulher no esporte radical.

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