Revista Estilo 58

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Ano 12 N 0 58 R$ 4,50

NEW YORK PARA VER E PARA VIVER ÁREAS EXTERNAS PERFEITAS PARA CURTIR O VERÃO

frescas saudáveis

e gostosas

RECEITAS DE

SALADAS MUITO ESPECIAIS


bem fresquinho Economizar ĂŠ comprar


NOTA

DO

EDITOR

Verão delícia!

"POA 40o, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos!" Ué, não é assim a letra da música? Ah, mas bem que a Fernanda Abreu poderia autorizar essa versão porto-alegrense... faz todo o sentido! Aliás, versões adaptadas às mais diversas grandes cidades brasileiras poderiam rodar nas rádios: "Sampa 40o, cidade maravilha, purgatório da riqueza e do caos!", "Caxias 40o, cidade maravilha, purgatório do sabor e do caos!" (hehehe, tomara que a cantora nunca chegue a ler esses nossos delírios criativos...). Em resumo, o calor e a confusão são comuns a todas as localidades deste imenso país, especialmente quando o calendário acusa a chegada do verão. É fato: nos próximos meses, teremos que conviver com o calor escaldante. Mas, com boas ideias, o "castigo" pode virar uma grande diversão! Dá pra curtir o verão mesmo sem sair de casa, simplesmente tirando partido de áreas ao ar livre que costumam ser pouco aproveitadas, como sacadas de apartamentos, varandas, pequenos recantos em que o vento circula livremente. Irene Marcondes, nossa especialista em bem-viver, encontrou três exemplos de ambientes externos capazes de tornar muito mais agradáveis as tardes de janeiro, fevereiro, março e por aí afora. Vera Moreira, que sabe tudo de gastronomia e escreve magistralmente, foi conversar com três grandes chefs e descolou para os leitores da Estilo Zaffari receitas de saladas especialíssimas. Nada do trivial alface+tomate+cenoura, embora essa seja uma combinação sempre saborosa. Luciano Lunkes, Carlos Christensen e Neka Menna Barreto vão muito além na escolha de ingredientes e no modo de preparo. O resultado? Saladas que dão água na boca, que valem por refeições inteiras, capazes de saciar completamente o apetite dos mais exigentes gourmets. E se a ideia é dar uma escapada, fugir um pouco dos 40º, a Estilo Zaffari leva seus leitores a passear por New York, outra cidade maravilhosa e caótica... O mestre Fernando Bueno fez um ensaio lindo na Big Apple, usando filme P&B vencido, o que garantiu uma granulação especial às imagens e um efeito estético muito interessante. E Cris Berger, nossa viajante oficial, percorreu NY com olhos apaixonados, captando momentos, lugares e personagens sensacionais. Juntas, as duas matérias fazem a gente ter vontade de arrumar as malas e ir pra lá correndo. Querido leitor, estimada leitora, esperamos que esta edição possa fazer parte da sua temporada de verão e que ela espalhe boas ideias para você curtir de verdade os meses de calor, férias, viagens. Boa leitura e bom verão! OS EDITORES


Correio

Milene Leal milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Cris Berger, Irene Marcondes, Milene Leal, Vera Moreira

REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade

Prezada Milene Aprecio a revista Estilo Zaffari desde o seu número inaugural. O bom gosto dita a sua essência. Fico na expectativa da nova revista. Meus olhos brilham quando a vejo na prateleira. Trago a revista pra casa como se fosse uma iguaria a ser apreciada bem devagarinho, e me delicio de capa a capa. É um espetáculo!!! Parabéns pela revista. ANDRÉA HOFFMANN GREZZANA

luciane@contextomkt.com.br

ILUSTRAÇÕES Guilherme Dable FOTOGRAFIA Letícia Remião, Fernando Bueno, Cris Berger COLUNISTAS Carla Pernambuco, Cherrine Cardoso, Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Roberta Gerhardt, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS)

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 487/40 andar – Porto Alegre/RS – Brasil – 90440 000 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

Bom dia, Izabella!!!!! Dia 25 de novembro fizeste a gentileza de conseguir as revistas de números 55 e 56 que estavam faltando em minha coleção. Ontem, dia 9, fui pegá-las e, para minha grande surpresa, a senhora que me atendeu disse que eram gratuitas. Se já estava feliz por têlas conseguido para mim, mais feliz fiquei com o tratamento a mim dispensado. Muito, mas muito mesmo, obrigado!!! E ainda tive a sorte de ir na loja em frente e comprar a de n0 57. Agora estou em dia. Parabéns pelo ótimo atendimento de todos. SILVIO SOARES


MENSAGENS QUERIDAS QUE RECEBEMOS PELO FACEBOOK, NA FAN PAGE DA ESTILO ZAFFARI: (REFERENTES À ESTILO ZAFFARI 57)

Já te falei, mas volto a dizer. Essa revista é de uma qualidade e bom gosto incríveis. Parabéns!! ROBERTO SCHULTZ PANTALEÃO Só agora adquiri minha “Estilo Zaffari”! Parabéns à equipe da revista. Milene, ficou show a matéria da Normandia, mas como sempre toda a revista tá tri! Parabéns! Já está aqui na pousada pro povo ler... MARCIO BONATTI DO AMARAL A nossa Normandia na Estilo Zaffari é tudo, Milene! Beijão para vocês, gurias!! Não vejo a hora de entrar no “meu Zaffari” e sair com a revista na mão!! FLAVIA DE MELLO

Adooooro quando chega a Estilo nova no Zaffari. Compro duas: uma minha e outra para a minha irmã que mora em Pelotas e não tem o privilégio de ter o Zaffari por lá. KARIN SALAMONI Queridas Izabella Truda Boaz e Milene Kraemer Leal, adorei... ficou show a apresentação da Arte Freddo na revista 87... estou aqui emocionada... Obrigada! Senti enquanto estava lendo que vocês colocam todo o carinho e paixão nesse trabalho, por isso é tão lindo e a cada edição se supera... Parabéns!!! bjs. ANA GASPARY, ARTE FREDDO SORVETES Não vejo a hora de ir ao Bourbon e pegar a minha!!! E ainda com um presente: matéria com os queridos chefs dos bistrôs mais fofos de Porto Alegre! Muito bem!!! DANIELA VICENTE DA COSTA Parabéns, Milene! Matérias muito interessantes e bem selecionadas... Abraço!! FRANCISCO FRESINA

Milene, querida! AMEIIIIIII a reportagem da ESTILO ZAFFARI sobre a Normandia, eu o Andre ficamos no DÊS ILES, visitamos Cherbourg, o Jardim “do Éden”, o castelo, entre outros, tudo na companhia da incansável e maravilhosa Flávia. Acho que devem erguer uma estátua para ela naquela cidade, ela é a heroína e benfeitora da região, levou vida, energia, bom gosto, requinte e muuuuito charme para aquele pedacinho da França tão pouco explorado pelos brasileiros. Revivi minha estada lá, deu saudades de tudo e principalmente da Flávia ... PARABÉNS PELA REPORTAGEM, PELA EMOÇÃO PASSADA ATRAVÉS DAS PALAVRAS e parabéns à CRIS BERGER, que conseguiu registrar com maestria as cores, belezas e os detalhes, sim, os detalhes que fazem toda diferença daquela região. Beijos. NATÁLIA VERDI


A TELA EM BRANCO DOS CHEFS

TWO BLOCKS AROUND EAST HOUSTON

Saladas permitem infinitas combinações, sabores, ideias. São a obra de arte dos chefs e opção perfeita para o verão

Com filme P&B vencido, Fernando Bueno fez lindas imagens de New York, que reunimos sob a forma de ensaio

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O PRAZER DE VIVER AO AR LIVRE

ESTAR NA BIG APPLE É ESTAR NO MUNDO

Varandas, sacadas, terraços, decks... use as áreas livres da sua casa para curtir o verão

Cris Berger faz um passeio delicioso pelo Central Park, Soho e Meatpacking District

Cartas 4

Cesta Básica 8

Coluna Equilíbrio 54 Moda 86

34

Cotidiano 16

Gusto 30

O Sabor e o Saber 70

Mulheres que Amamos 88

Humanas Criaturas 32

56 Bom Conselho 44

Saúde: As 7 Maravilhas do Mundo da Alimentação 74

Especial Toronto 92

Palavra 98


Cesta básica

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, CINEMA, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

RELAIS & CHÂTEAUX LANÇA SEU GUIA 2012 A prestigiada associação Relais & Châteaux, que já soma mais de 50 anos de atuação e 518 propriedades localizadas em mais de 60 países, está lançando a edição 2012 do seu Guia, com diversas e boas novidades. O ano se revelou um período de expansão recorde: 45 novas propriedades, entre hotéis e restaurantes, passaram a integrar a R&C. Maior associação de destinos de luxo do mundo, a Relais & Châteaux escolheu um brasileiro como embaixador de seu Guia 2012. O escritor Paulo Coelho, conhecido mundialmente como viajante e peregrino, sucede o ator Richard Gere e a atriz Carole Bouquet na função. “Através do contato com os outros, viajar nos revela internamente. Aprendemos sobre nossos pensamentos, a capacidade de nos adaptarmos e de encontrar um balanço entre nossa personalidade e esse novo ambiente. Nós somos enriquecidos por isso”, afirma o embaixador do Guia 2012, Paulo Coelho. No Brasil, apenas três hotéis fazem parte da R&C: Ponta dos Ganchos Resort, em Santa Catarina (foto acima); Hotel Santa Tereza, no Rio de Janeiro; Pousada Estrela D’Água, em Trancoso, Bahia.


LOURIVAL BAR JÁ TEM SUA PRÓPRIA CERVEJA PILSEN Um dos bares mais tradicionais do Rio Grande do Sul, aberto desde 1953 em Porto Alegre, o Lourival agora terá sua própria cerveja de produção artesanal. A iniciativa partiu do proprietário do estabelecimento, o empresário Leandro Rodriguez, com o objetivo inicial de celebrar a rica história e o aniversário de 58 anos do Lourival Bar, oferecendo aos seus cativos frequentadores uma cerveja exclusiva. A microcervejaria catarinense Saint Bier, localizada na cidade de Forquilhinha, foi a escolhida para ser parceira do Lourival no projeto. A cerveja do Lourival Bar será do tipo Pilsen, que se caracteriza pelo amargor, coloração dourada e transparência. É o gênero de cerveja mais consumido em todo o mundo. Para seus frequentadores, o Lourival Bar é sinônimo de cerveja gelada, bate-papo em boa companhia, comidinha gostosa e ambiente acolhedor. O lugar conserva o aspecto de “botecão” e mantém clientela fidelíssima. Sua carta de cervejas possui pedidas para todos os gostos. São mais de 60 rótulos de cervejas belgas, alemãs, inglesas, irlandesas, francesas e brasileiras, entre outras. Para acompanhar, petiscos saborosos em porções generosas, além de mais de 20 pratos que servem duas pessoas. E, no almoço, o Lourival ainda oferece buffet de comida caseira, com grelhados, saladas, pratos quentes e sobremesa. Lourival Bar: rua 24 de Outubro, 1624 – P orto Alegre/RS Porto www w.. l o u r i v a l b a rr.. c o m . b r

CASA VETRO, NOVO ESPAÇO DE EVENTOS EM PORTO ALEGRE O belo projeto arquitetônico de traços modernos e harmoniosos, assinado por José de Barros Lima, é uma das grandes virtudes da Casa Vetro, novo espaço de festas de Porto Alegre. A arquitetura de interiores, concebida para abrigar com conforto, estilo e charme todos os tipos de comemorações, é outro ponto alto da casa. A arquiteta Cláudia Palludo e os proprietários trabalharam juntos para montar um espaço flexível e multifuncional, perfeito para atender eventos sociais, corporativos e culturais. Na cozinha, mais qualidade: os chefs Marta Fedrizzi e Rogério Luce, da Basilic Gastronomia & Eventos, são os responsáveis pelas iguarias servidas aos clientes. A Casa Vetro está localizada no Jardim Europa, em área nobre e de fácil acesso. Inaugurado em outubro de 2011, o espaço já foi cenário de várias festas de grande porte, organizadas pela equipe da casa desde a concepção até a execução. 55 51 4101.2171 – 8173 1510 contato@casavetro.com.br Jardim Europa – Porto Alegre – Brasil


Cesta básica PUNTA DEL ESTE EM DELICIOSOS DROPS

69 HORAS EM PUNTA DEL LESTE 88 páginas R$ 24,90 À venda nas principais livrarias do Brasil

Em suas andanças mundo afora, um dia a fotógrafa e jornalista Cris Berger descobriu Punta del Este. Gostou tanto de lá que voltou, voltou e voltou, diversas vezes. E então, em um outro certo dia, ela teve a ideia de incluir Punta em sua exitosa série de livros batizada de “69”. Dessa data até o momento em que o livro saiu montadinho das máquinas da gráfica transcorreu cerca de um mês. É, a Cris sabe ser diligente e rápida quando resolve se dedicar a um projeto... O resultado dessa imersão é o pocket book 69 Horas em Punta del Este, um fluente e gostoso passeio pelos melhores spots do charmosérrimo balneário. Com pequenos textos, muitas dicas, depoimentos apaixonados e fotos lindas, Cris faz a gente ficar com vontade de sair correndo para Punta del Este. O que nunca é má ideia, certo?

MILENE LEAL, JORNALISTA


EDIPO E LA SFINGE, 1968 INTERNO METAFISICO CON TESTA DI MERCURIO, 1969 ARCHEOLOGI, 1968

O ITALIANO DE CHIRICO NA FUNDAÇÃO IBERÊ Os felizardos que ficam em Porto Alegre no verão têm um programa mais do que perfeito para tornar inesquecíveis as tardes abafadas da capital: a mostra “De Chirico – O sentimento da arquitetura”, em cartaz na Fundação Iberê Camargo. A exposição itinerante, integrada às comemorações do “Momento Itália/Brasil 2011-2012”, se inicia pela capital gaúcha, onde permanece até 4 de março de 2012. É a mais expressiva coleção de obras do mestre da arte metafísica Giorgio de Chirico (1888-1978) já exposta no país e tem curadoria assinada pela também italiana Maddalena d’Alfonso, crítica de arte e arquitetura. As obras foram cedidas pela Fondazione Giorgio e Isa de Chirico e fazem parte da última aventura expressiva do artista: a neometafísica. Os trabalhos desse período começam a ser produzidos nos anos 60 e se caracterizam pelas cores e o caráter poético do tratamento dos protagonistas. Demonstram o especial e inovador uso do espaço como palco da relação entre o homem e o seu mundo. Neles estão presentes as praças da Itália, tema comum a muitas obras, e os interiores metafísicos que funcionam como metáforas da complexidade do homem moderno. A mostra reúne 45 pinturas e 11 esculturas, além de 66 litografias de 1930, apresentadas juntas pela primeira vez. A arquitetura é um dos motivos centrais da pintura do italiano e está presente em toda a exposição. Ao visitante, é oferecida uma leitura do espaço urbano “dechirichiano” e como ele estabelece a relação entre a figura e o espaço arquitetônico. Nas suas obras, o imaginário urbano e a cidade encarnam a dimensão interior e psicológica do homem moderno. Quer um resumo da mostra? É simplesmente imperdível. Local: Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000. Porto Alegre) Horário: Terça a domingo, das 12h às 19h, e quinta, das 12h às 21h. Informações: 3247 8000 ou pelo site www.iberecamargo.org.br


Cesta básica VALE MUITO MAIS DO QUE PESA

CAFÉ DA MANHÃ COLONIAL NO HOTEL ALPESTRE Para quem está na Serra gaúcha, uma das maiores atrações é a gastronomia. Não adianta, Gramado, Canela e arredores simplesmente não combinam com dieta... Pois os amantes da boa mesa vão adorar a novidade criada pelo Hotel Alpestre: um café da manhã tematizado, tendo como maior atração os produtos coloniais produzidos lá mesmo, na Serra. Um dos destaques da reformulação do cardápio do café da manhã é a linha de charcuteria, com salames, copas e linguiças, as tradicionais geleias caseiras e schmier, além das deliciosas bolachas. Com inspiração nos cafés da colônia, o hotel pretende oferecer um café da manhã especial nos finais de semana. O chef de cozinha do Hotel Alpestre, Lucas Casarin, se propôs a dar um cunho de alta gastronomia na primeira refeição dos hóspedes. Para isso, utiliza produtos regionais e apresenta algumas receitas exclusivas. Todas as novidades têm o toque do chef Jorge Nascimento, consultor do hotel, que se preocupou ainda com a seleção dos melhores produtos coloniais, portadores do selos de qualidade das secretarias de saúde. Hotel Alpestre: rua Leopoldo Rosenfeld, 67 54 3286 1311 – Gramado/RS www.hotelalpestre.com.br

O Di Pietro, restaurante no coração de Gramado, desafia a lógica do vale quanto pesa dos bufês a quilo. As comidas oferecidas pela casa no almoço agregam valor extra ao seu prato com ingredientes de primeiríssima linha, como alcachofras, funghi secci, cogumelos frescos, grãos variados (favas, grão de bico, soja, feijão azuki), palmito, aspargos, pimentões vermelho, amarelo e verde, arroz selvagem, massas recheadas, molhos de manteiga, nozes e sálvia, de gorgonzola... E não faltam os tradicionais feijão com arroz e spaghetti ao sugo. Na grelha, uma festa para os amantes do mar com ótimos peixes, como bacalhau fresco, truta, anchova negra, salmão e muitas vezes uma deliciosa paeja. Mas se você prefere carne vermelha, é só pedir ao assador a de sua preferência entre os cortes nobres de picanha, cordeiro e outros. E mais provolone, polenta e berinjela na chapa, molho de champignons e alcaparras no azeite de oliva, etc. O bufê de sobremesas é outro atrativo, sempre com opção de frutas frescas, mousse de chocolate escuro, ambrosia, doces em calda, como de figo e abóbora, e, claro, o eterno sagu com creme da Serra gaúcha. O Di Pietro agrega ao valor do seu bufê também um belo ambiente. Depois de uma grande reforma, a casa ganhou mais um salão e decoração inspirada nos santos da Igreja Matriz São Pedro, sua vizinha de porta. Merecem destaque o delicado tecido que reveste as paredes e as cadeiras e os lavabos, com pia horizontal toda estilosa e iluminação difusa, e sempre impecáveis. Apaixonado por gastronomia, o proprietário, Josiano Schmidt, esbanja simpatia ao receber os clientes junto com sua esposa, Isabel, e mantém olho atento no bufê e no atendimento. À noite, o Di Pietro oferece um bufê livre de sopas e cremes, também com receitas diferenciadas e ingredientes de primeira. Aproveite esta época de veraneio, mais tranquila na Serra, para desfrutar as delícias deste restaurante disputadíssimo de Gramado. Rua Pedro Benetti, 05 – Gramado/RS Fone: 54 3286 4077 – www.dipietro.com.br

VERA MOREIRA, JORNALISTA


PARA QUEM GOSTA DA BOA MÚSICA BRASILEIRA

OS GUIAS DE VIAGEM DESCOLADOS DA PULP Uma jornalista, uma publicitária e um profissional de turismo-hotelaria-jornalismo-fotografia. Um trio curitibano inquieto e com uma paixão em comum: viajar, viajar e viajar. Pois esses três jovens se uniram e, em pouco tempo, lançaram uma coleção de guias pockets com conteúdo diferenciado dos demais nas prateleiras das livrarias. Europa de Cinema, Minha NY da Didi Wagner, Manual de Viagem e Buenos Aires com Crianças são alguns dos títulos da Pulp. Em breve, um grande artista brasileiro – que vive fora – vai lançar mais um guia para essa supercoleção. Para uma palhinha, pode-se também navegar (ou “viajar”) nos muitos vídeos de viagens da Pulp publicados no You Tube. Atenção, senhores leitores e internautas, preparar para decolar!

ALEXANDRA ARANOVICH, PUBLICITÁRIA

O resgate da musicalidade de um dos maiores compositores brasileiros pode ser conferido de perto com o projeto Villa-Lobos in Jazz. Formado pelos músicos Felipe Poli (violão), Fernando Corona (piano), Otávio Garcia (bateria) e Pedro Aune (baixo), o grupo, que executa uma abordagem jazzística da obra do maestro célebre por unir música com sons naturais, tem feito shows e participado de festivais por todo o Brasil. Gravado no Rio de Janeiro, o DVD Villa-Lobos in Jazz reúne um repertório que inclui músicas de domínio público com arranjos de Villa-Lobos, como “Samba Lelê”, “Sapo Cururu” e “Se essa rua fosse minha”, além de obras próprias do compositor, como “Trenzinho Caipira” e Bachiana n0 5. Para divulgar seu trabalho, o grupo esteve recentemente na Europa, onde lançou o CD Projeto Villa Lobos in Jazz. O álbum é composto de músicas como “Mulher Rendeira”, “Passa, Passa Gavião” e “Escravos de Jó”, além de outros sucessos. Vale a pena conferir a homenagem e deixar-se emocionar com os versos de Villa-Lobos. Além de valorizar a cultura brasileira, é um som que encanta os ouvidos e a alma.

CRISTINA RISPOLI D'AZEVEDO, JORNALISTA


Cesta básica PARQUE DO GAÚCHO É A NOVA ATRAÇÃO DE GRAMADO O Parque do Gaúcho mal inaugurou e já se tornou parada obrigatória em Gramado. O Parque impressiona primeiro por seu tamanho: são 6 mil metros quadrados de área coberta (portanto, choveu? Corre para lá). Embora inaugurado, o empreendimento ainda não está totalmente pronto. Mesmo assim, já proporciona diversão garantida para os visitantes. O superprojeto é resultado de dois anos de pesquisa pelo estado afora. Dos mesmos idealizadores do Gramado Zoo, o Parque do Gaúcho oferece memorial – com detalhes do passado e costumes do gaúcho – , espaço para apresentações, restaurante com churrasco e pratos campeiros, sorvete caseiro de butiá e pitanga, Galpão Mirim, animais crioulos, horta orgânica, entre outros atrativos acompanhados de um bom chimarrão. Em breve, a “piazada” poderá andar de charrete, cavalo, pônei, alimentar os animais e provar sobremesas e pratos campeiros no segundo restaurante do complexo. Programão para toda a família, escolas e até para os turistas que desejam conhecer um pouco mais sobre as tradições do RS. Certamente, mais um motivo para enaltecer o tal #orgulhogaúcho.

ALEXANDRA ARANOVICH, PUBLICITÁRIA

PARA AGRADAR AO CORPO E À ALMA A Rua Visconde do Rio Branco, naquela parte da Floresta que já ganhou o apelido de “Baixo Moinhos” (assim como o Baixo Leblon e o Baixo Gávea no Rio de Janeiro), ganhou um toque especial com a chegada do Celare Armazém. A iniciativa é do jovem empresário Cristiano Reis. Ele criou um mix de cafeteria e armazém gourmet que já virou ponto de encontro de fotógrafos e artistas que frequentam a Sulfotos e a Bolsa de Artes no outro lado da calçada. A especialização em cafés moídos na hora é um dos focos do Celare Armazém, que trabalha com o Café da Casa, o Villa Borghese, o Café do Mercado, o orgânico da Native, além dos diversos tipos preparados a pedido do cliente, como o French Press, os cafés com essências, mocaccinos, cappuccinos e o uruguaio com dulce de leche. Para comer, uma variedade de quiches, tortas salgadas e doces, bolos, sanduíches de presunto parma, queijo brie com geleia de damasco, frankfurters e opções naturais como salada verde, sucos e salada de fruta. Entre os Produtos do Armazém merecem destaque os vinhos, na sua maioria provenientes de pequenos produtores da Argentina. Visconde Celare Armazém: V isconde do Rio Branco, 350. P edidos pelo fone 51 3207 7015 e no site Pedidos

LILIANA REID, JORNALISTA


OLHAR INVESTIGATIVO SOBRE A NATUREZA O catarinense Pedro Petry nasceu em Joinville em 1955. Tempos em que a palavra sustentabilidade talvez nem existisse no dicionário, muito menos no mercado. Graduado em Administração de Empresas, marceneiro por talento e designer de objetos, além de artista plástico por trajetória, Petry é pioneiro na pesquisa e na utilização de madeiras como matéria-prima de seus projetos. Troncos de árvores frutíferas, sob o olhar investigativo do ecodesigner, são transformados em mesas, biombos, fruteiras e inúmeros objetos de decoração, com uma particularidade: nós e rachaduras, em vez de defeitos, são, para Petry, a maior riqueza de sua matéria-prima, pois oferecem exclusividade a cada peça. Nenhuma de suas criações se assemelha a qualquer outra. O trabalho curioso e integrado à natureza de Petry sempre chamou a atenção em outros países. Além de ser notícia em dezenas de publicações especializadas, em 2001 participou da exposição Metamorphosen, na feira LIGNA Plus em Hannover, Alemanha. A experiência na indagação em relação ao uso da madeira, no respeito ao seu sustento e à preservação da mata nativa também rendeu a Petry a participação em uma exposição em Milão. O designer sempre apostou em procedimentos ambientalmente adequados, socialmente justos e economicamente viáveis. Para ele, é preciso flexibilizar conceitos e padrões, a fim de estabelecer um novo paradigma de consumo. Veja mais do seu trabalho em www.pedropetry.com.br

MILENA FISCHER, JORNALISTA

MIL NOVIDADES NO SANTAS BISTRÔ E CHAMPANHARIA O endereço é o mesmo, mas tudo o mais mudou. O bistrô As Santas virou Santas Bistrô e Champanharia e reinaugurou em novembro de 2011 com um novo conceito, novos ambientes, novo cardápio, novas ideias. Renovação total. Táty Rússo, a proprietária, quer fazer do Santas o destino certo para quem procura uma gastronomia requintada, mas sempre moderna e ágil. Neste início de ano começa a funcionar o Salon de Té, para receber clientes durante toda a tarde com iguarias especiais como waffles, clericot, doces, chás diversos e cafés. Para esses momentos de inspiração francesa, nada melhor do que a nova calçada do Santas, que ganhou mesinhas, cadeiras e poltronas supercharmosas. A partir de fevereiro, a Champanharia começa a funcionar a pleno. E nas noites de quinta e domingo, música ao vivo em estilo jazz lounge. Horários elásticos são outra atração do local. A cozinha do Santas nunca fecha antes da meia-noite e trinta, o almoço de final de semana não tem hora pra terminar e a casa só fecha à uma da manhã. Cheia de ideias, Táty Rússo lançou no final de 2011 o Santas Sitting Dogs, convidando os proprietários de cães a frequentar o bistrô acompanhados de seus pets. No ambiente da calçada os bichinhos são sempre bem-vindos. Santas Bistrô e Champanharia: rua Hilário Ribeiro, 287 51 3019 7997 – Moinhos de Vento, Porto Alegre/RS


Cotidiano MAR THA MEDEIR OS

PLANO B

Ela, entre todas suas amigas, era a que mais tinha o sonho de casar. Era criança ainda, a mais nova entre três irmãos, nem sabia cortar sozinha o próprio bife e já pensava em ter marido, uma casa e três filhos ela própria. Teria que ser uma casa grande, porque além dos filhos ela sonhava com um labrador que se chamaria Valdique, e constava do sonho um jardim com muitas plantas e uma piscina também, ou seja, morar em apartamento nem pensar. Mas a casa podia ser em outro país. Ela era adolescente quando começou a aprender idiomas e descobriu que tinha facilidade pra coisa: espanhol, inglês, francês, aos 22 anos falava tudo isso e um português mais que caprichado. Tinha um emprego que não era apaixonante, mas crescia, viajava, era promovida, elogiada, virou chefe aos 24, morou na Inglaterra aos 26, o salário sobrava, pensava em desacelerar apenas depois dos 50, quando então, com o dinheiro economizado, desistiria do seu estrelato empresarial para abrir uma pequena livraria e passar mais tempo em sua casa na serra, de preferência com o mesmo marido. O foguete da sua vida subia, ela intuía que seria assim pra sempre, tudo dando certo, tudo como o planejado. Mas alguma coisa não funcionou. Ao voltar para o Brasil, não se acertou mais na empresa em que trabalhava, foi demitida, ficou difícil pagar as contas sozinha, resolveu morar com uma ex-colega meio maluca, não casou, não teve filhos, hoje sobrevive fazendo pulseiras, não tem dinheiro para um cinema, está totalmente sem ação. O que aconteceu? Faltou um plano B. 16

Estilo Zaffari

A matéria-prima segue ali: uma mulher inteligente, batalhadora e capaz. Mas a incredulidade a paralisou, até hoje não consegue acreditar que seus sonhos de menina tenham sido interrompidos sem que o destino a tenha consultado. Onde estão o marido, os filhos, o cachorro, as plantas, as viagens, a casa na serra, a paz de espírito? Chegou aos 50 fazendo pulseirinha de miçanga, contando o dinheiro pro ônibus, vendo filmes de madrugada, sozinha, totalmente catatônica diante deste final de história inesperado. Não precisa ser o final da história, mas ela ainda não tem um plano B. Ela não cogitou a possibilidade de ser feliz de outra forma. Não se preparou pra isso. Não sabe como se faz. Alguém sabe como se faz? Há várias crianças arquitetando um futuro dentro de seus quartos. Pequenos sonhadores: “Um dia eu serei isso e aquilo, e farei assim, e dará certo”. Tomara. Mas que eles nunca se esqueçam de ter um plano B, um plano C, um plano D, mantendo as vias de acesso à realização totalmente abertas. Há muitas maneiras de encontrar alegria de viver sem ficar preso a um único e clássico projeto. Que venha o imprevisível, que venha o inesperado, que venha o incomum, e que nos encontre igualmente preparados.

MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA



Sabor

A tela em

branco dos chefs P O R

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Estilo Zaffari

V E R A

M O R E I R A

F O T O S

L E T Ă? C I A

R E M I Ăƒ O



Sabor

LUCIANO LUNKES

Por séculos as saladas amargaram repulsa – a comida crua era uma ameaça, devido à higiene precária na cozinha, sendo o fogo o principal recurso na prevenção de doenças. Depois as saladas ganharam papel coadjuvante na gastronomia – não sem motivo também, pois a imaginação, acanhada até para ingredientes mais inspiradores, passava ao largo das folhas verdes. Mas nas últimas décadas, com a vertiginosa evolução das técnicas de cozinha e ingredientes sequer cogitados no passado – inclusive flores foram descobertas comestíveis –, o prato de salada se ofereceu como uma tela em branco ao artista. E os chefs se esbaldaram a criar. Talvez só as sopas se equiparem às saladas em possibilidades tão vastas de combinações, mas nos caldos é mais difícil equilibrar os tempos de cozimento de cada ingrediente; e a aparência é bem mais limitada. Nas saladas, tudo pode ser resolvido previamente com segurança, reservando ao gran finale uma conjunção perfeita de texturas, cores e sabores, com alternativas insuperáveis de beleza visual. “Os olhos, como todos sabem, são o hall de entrada do estômago. Se o prato for visualmente desinteressante, o apetite fará ‘beicinho’, na certa. Uma salada ‘sexy’, ao meu entender, deve estar provida, acima de tudo, de produtos extremamente frescos, vívidos, vistosos, coloridos e bem-aparados. Os orgânicos, apesar de bastante vagos – e até suspeitos em vários casos –, têm um apelo importante. Deve-se apostar também na maneira como as saladas serão empratadas, verticalizando suas apresentações, dentro do possível. As saladas ‘altas’, de volume vertical e aerado, tendem a exercer maior apelo visual aos comensais”, ensina o chef Luciano Lunkes.

AS SALADAS PERMITEM


De coadjuvantes, as saladas ascenderam a protagonistas na cena gastronômica. Especialmente no verão, destacam-se como prato principal, ou mesmo como único prato, incluindo porções de carnes e frutos do mar, por exemplo. Não há receita que se harmonize melhor com a estação do calor, quando tudo inspira leveza, frescor, luminosidade. Some-se a isso o bem-estar físico e mental de uma refeição de saladas, menos calórica. A medicina – sempre pesquisando a relação entre genética, nutrição e longevidade – agora já explica por que comer uma quantidade reduzida de calorias diminui o risco de doenças degenerativas. Menos comida = menor produção de radicais livres, as moléculas que contribuem para o envelhecimento precoce das células. “Quem tem saúde tem tudo, de nada adianta cinco minutos de prazer na boca e o resto da vida te incomodando. Nosso pensar flui melhor se a gente come mais leve, ainda mais no calor. É bom ter a possibilidade de estar com fome daqui a quatro horas”, comenta a banqueteira gaúcha radicada em São Paulo, Neka Menna Barreto. Pois além da quantidade reduzida de calorias, as saladas são a expressão máxima da comida fresca. Daí a enorme relevância da origem dos produtos. “Uma das coisas mais importantes para qualquer ingrediente é a qualidade dele. No caso das folhas e frutas mais ainda, pois quando frescas apresentam sabor, textura e apresentação totalmente perceptíveis, e perdem essas qualidades com dois ou três dias. Por esse motivo é importantíssimo contar com produtores locais, com produtos orgânicos e consciência ecológica”, explica o chef Carlos Kristensen, do restaurante Hashi. Nunca é demais lembrar que os órgãos de vigilância sanitária e de

saúde alertam, constantemente, sobre os índices escandalosos de contaminação em hortifrutigranjeiros, que já causam milhões de mortes, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). É preciso, portanto, buscar no supermercado os produtos com reconhecimento de origem e de produtores locais confiáveis. Nas embalagens encontramos informações, e quanto mais detalhadas tanto melhor, pois nos permitem identificar e pesquisar os produtores e suas práticas. Uma boa dica também é conversar com os atendentes e gerentes das lojas, que podem nos auxiliar nas escolhas. “Valorizar a produção local, além de um investimento inteligente na economia da própria comunidade, aumenta as chances de acesso a produtos frescos, colhidos dentro de um prazo razoavelmente curto. O ganho nessa aposta se reflete em importantes tópicos como sabor, nutrientes e textura, entre outros não menos importantes. Todos são beneficiados”, afirma Luciano Lunkes. Carlos Kristensen também pensa nessa linha: “Acredito que faz parte da consciência de um chef de cozinha procurar desenvolver e fomentar pequenos produtores locais, a fim de obter produtos melhores e mais frescos para o seu negócio”. A colega Neka faz coro: “Estudei o slow food e gosto da ideia de comidas que venham de um raio próximo de onde vivemos. É mais responsável. Estou fazendo uma campanha de colocarmos no cardápio de onde vem a cenoura, etc. Vem do sítio tal, da família tal ou de uma fazenda biodinâmica. Saber de onde vem o que entra na nossa boca sempre!”, diz Neka, que incentiva os pequenos agricultores: “Muitas vezes são a sétima geração de famílias que trabalham com a terra, sem agrotóxico, acho maravilhoso!”.

INÚMERAS COMBINAÇÕES, SABORES, IDEIAS

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Sabor CONFIRA A SEGUIR O QUE OS CHEFS RECOMENDAM PARA O PREPARO DA SUA SALADA QUAIS INGREDIENTES NÃO PODEM FALTAR NUMA SALADA? CARLOS KRISTENSEN: Gosto muito de utilizar as folhas babies, mínis e brotos por suas características mais frescas e suaves. Baby rúcula e baby agrião, miniflores, broto de rabanete e trigo sarraceno são ingredientes que fazem maravilhas em qualquer salada. Além do frescor das folhas, é importante a diversidade de sabores e cores. Acho interessante também sempre ter uma textura diferente das folhas, como um ingrediente crocante, por exemplo. CARLOS KRISTENSEN

LUCIANO LUNKES: Na língua inglesa, o vinagrete é chamado de dressing, ou seja, vestimenta. E uma roupa bacana, como sempre digo, faz toda a diferença. Aposte, então, no poder sedutor dessas roupas aromáticas. Para tal tarefa, invista nos mais diversos tipos de vinagres, como, por exemplo, os de jerez, de champagne, de moscato e outros vinhos marcantes e naqueles aromatizados à base de frutas como peras, framboesa, figos e cítricas. Aposte também nos aromas inebriantes dos óleos de nozes, de castanha-de-caju, de argan, de oliva, de trufas, entre tantos outros. É gol, na certa. NEKA MENNA BARRETO: Todos os ingredientes da estação! Vivemos num Brasil tropical, nosso clima combina com saladas! Acho que não podem faltar o frescor e o colorido. E tem que lavar direitinho a salada, o que pode se transformar em um exercício de meditação. Tem que ter cor também, então um dia podes colocar verdurinhas cruas, outro dia folhas e frutas, frutas doces e gostosas, enfim, variar pra não enjoar de comer paisagem. E as saladas são mais metabolizadas quando usamos óleo, eles lubrificam as articulações e são solúveis. Podemos variar no azeite extravirgem, usar gergelim, castanha, uva... É

DICAS DE CHEF: ESCOLHER SEMPRE BONS


importante usar um bom óleo, investe em ti! A gente sente no corpo, nos sonhos... Como é bom usarmos bons ingredientes! QUAIS SERIAM BOAS DICAS PARA PREPARAR UMA SALADA EM CASA? CARLOS KRISTENSEN: Escolha sempre bons ingredientes. Quando se pensa em saladas é importantíssimo pensar sempre em combinações saudáveis e leves. Normalmente é o que as pessoas buscam quando escolhem comer saladas. Para isso acho fundamental conhecer a origem dos ingredientes e escolher fornecedores de confiança. E ouse nas cores, nos sabores e nas texturas. Uma salada assim fica não só mais saborosa como enche os olhos de quem vai prová-la. LUCIANO LUNKES: Surpreender os paladares, proporcionando sensações inusitadas e contrastantes. Para isso, jogue com a rica diversidade das texturas, das temperaturas, dos sabores salgado-versus-doce-versus-azedo-versus-amargo. Enfim, arrisque-se.

NEKA MENNA BARRETO

NEKA MENNA BARRETO: Fazer uma granola salgada é legal, com um mix de várias sementes. Invista também em vinagres, de vinhos tintos antigos, de morango, de framboesa, de álcool, balsâmico, de maçã... Usar uma fruta, como maracujá, em vez de vinagre também vale. A variedade que faz a gente não enjoar. E um bom estado de espírito, uma vida de exercício, leitura, trabalho e comidas frescas e gostosas completam uma vida mais feliz.

CARLOS KRISTENSEN

Restaurante Hashi - Rua Desembargador Augusto Loureiro Lima, 151 Petrópolis - Porto Alegre/RS - Tel.: 51 3328-0005. Site: ww.hashi.com.br

LUCIANO LUNKES

Blog: http://opatoempratado.blogspot.com/ E-mail: llunkes@hotmail.com

NEKA MENNA BARRETO Neka Gastronomias - Rua Caminho do Engenho, 354 - Ferreira São Paulo / SP - Tel.: 11 3751-3333/4579. Site: ww.neka.com.br

INGREDIENTES, SURPREENDER OS PALADARES


Sabor

P O R

C A R L O S

K R I S T E N S E N

Carpaccio de Magret de Pato Defumado com Saladinha de Brotos e Babies 150 G DE PEITO DE PATO DEFUMADO

¼ DE MAÇO DE ALECRIM

50 G DE BABY AGRIÃO

20 ML DE AZEITE DE OLIVA

50 G DE BABY RÚCULA

SAL E PIMENTA A GOSTO

50 G DE BABY RADITE 20 G DE BROTO DE TRIGO SARRACENO 20 G DE BROTO DE RABANETE 10 G DE BROTO DE CEBOLA 60 ML DE MOLHO DEMI-GLACÊ 20 ML DE VINHO BRANCO ¼ DE MAÇO DE TOMILHO FRESCO

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Modo de fazer o molho: Reduza o demi-glacê e o vinho branco com o tomilho e o alecrim, em infusão, acrescente sal e pimenta a gosto e deixe esfriar. Emulsione o molho com o azeite de oliva extravirgem. Reserve. Modo de fazer o molho magret de pato: Corte o peito de pato em fatias bem finas e disponha sobre um prato em formato circular. Montagem: No centro do prato coloque a baby rúcula, o baby agrião e o baby radite, o broto de rabanete e o de cebola. Disponha o molho em forma de grandes gotas em cada uma das fatias de pato. Finalize decorando as bordas do prato com o broto de trigo sarraceno.



Sabor

P O R

N E K A

M E N N A

B A R R E T O


Salada de Palmito com Manga

Salada Caprese

300 G DE BROTO DE ALFAFA

250 G DE CENOURA

130 G DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM

100 G DE MANJERICÃO

300 G DE CEBOLA ROXA

620 G DE MUSSARELA DE BÚFALA CEREJINHA

30 ML DE LIMÃO TAHITI

370 G DE RÚCULA

500 G DE MANGA

125 G DE SALSINHA

30 G DE MANTEIGA CLARIFICADA

625 G DE TOMATE-CEREJA

600 G DE PALMITO FRESCO

380 G DE ACETO BALSÂMICO

6 G DE PIMENTA SÍRIA

90 ML DE VINAGRE DE VINHO BRANCO

10 G DE SAL MARINHO Modo de fazer o molho: Fatie as mangas e grelhe-as no azeite, a manteiga clarificada e a pimenta síria. Corte o palmito à julianne, tempere com limão, sal e cebola roxa. Coloque o palmito sobre as mangas grelhadas e decore com os brotos.

Modo de fazer o molho: Faça o molho misturando o aceto balsâmico com o vinagre de vinho branco e a salsinha bem picada. Rale a cenoura, retire os talos da rúcula e separe as folhas do manjericão. Junte todos os ingredientes e tempere com o molho.

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Sabor

P O R

L U C I A N O

L U N K E S

Salada Mista com Salmão Defumado, Confit de Alho e Vinagrete de Jerez e Limão PARA A SALADA

PARA O VINAGRETE

2 CORAÇÕES DE ALCACHOFRAS CONGELADOS

4 COLHERES (SOPA) DE VINAGRE DE JEREZ OU DE VINHO BRANCO

6 HASTES DE ASPARGOS VERDES, COM 4 CM DA BASE REMOVIDOS E DESCARTADOS

1 COLHER (CHÁ) RASA DE MOSTARDA DIJON

80 G DE FEIJÃO-VAGEM AMARELO

1/5 COLHER (CHÁ) DE AÇÚCAR OU MEL

1 ABOBRINHA PEQUENA, CORTADA EM TIRAS FINAS LONGITUDINAIS

1 FILEZINHO DE ANCHOVA, TRITURADO, OU 1 COLHER (SOPA) DE MOLHO DE PEIXE TAILANDÊS

60 G DE FAVAS CONGELADAS

RASPAS DE 1 LIMÃO SICILIANO PEQUENO

1 PUNHADO DE AGRIÃO HIDROPÔNICO

DE ½ A ¾ DE XÍCARA DE ÓLEO DE OLIVA EXTRAVIRGEM

¼ DE CEBOLA BRANCA, CORTADA EM TIRAS BEM FINAS 1 PUNHADO DE ALFACE AMERICANA, PARTIDA EM PEDAÇOS PEQUENOS 4 COLHERES DE QUEIJO QUARK, DRENADO EM UMA PENEIRA 100 G DE SALMÃO DEFUMADO, RASGADO EM PEDAÇOS PARA O CONFIT DE ALHO 1 CABEÇA DE ALHO, DENTES SEPARADOS E COM A CASCA RAMINHO DE ALECRIM OU TOMILHO 1 FOLHA DE LOURO ÓLEO DE OLIVA EXTRAVIRGEM

Modo de fazer a salada: Cozinhe, separadamente, as alcachofras, os aspargos e o feijão-vagem em água salgada até ficarem macios. Mergulhe-os em água fria, escorra e corte as alcachofras em tiras e os aspargos em bastões. Reserve. Cozinhe as tiras de abobrinha em água fervente com sal por 30 segundos. Mergulhe-as, imediatamente, em água fria. Escorra, seque as tiras e reserve. Cozinhe as favas por uns 4 minutos. Coloque-as em água fria. Escorra e retire a pele de cada fava. Reserve. Modo de fazer o confit de alho: Coloque o alho, o louro e o alecrim em uma forma refratária pequena. Cubra-os com óleo de oliva o quanto baste para cobrir o alho. Acrescente uma pitada de sal. Cubra com papel-alumínio e leve ao forno a 1600C por uma hora, ou até ficarem macios e cheirosos. Deixe esfriar e retire a pele de cada dente cuidadosamente. Reserve os dentes fora do óleo (o alho preparado dessa maneira fica muito suave e adocicado). Modo de fazer o vinagrete: Misture o vinagre, a mostarda, o açúcar e o filezinho de anchova. Com o auxílio de um batedor de ovos, acrescente o óleo em um fio, sempre mexendo até incorporar. Acrescente as raspas de limão. Para servir: Misture as verduras e folhas da salada; com exceção do quark. Inclua os dentes de alho assado e o salmão. Coloque um pouco de sal e pimenta preta. Tempere com o vinagrete a gosto. Sirva em 4 pratos fundos e distribua o quark em cada prato. Sirva imediatamente. Bom proveito.



Gusto

C A RLA P E RN AMB UCO

w w w. c a r l o t a . c o m . b r

Muito além de tulipas e arenques... Acabei de chegar de Amsterdã, mais um destino que visitei.E olha, apesar de já ter passado pela cidade anos atrás, me surpreendi e estou com o queixo caído até agora. Para quem acha que Amsterdã não entra para o circuito da boa comida mundial, muito se engana! E as experiências vividas durante meus poucos dias na cidade provam isso. Fora que a capital holandesa é uma cidade antiga em que você sente a tecnologia de uma cidade moderna. Amei o ritmo de lá, a maneira vertical de se viver e trabalhar, o humor afetivo... É daqueles lugares que te fazem ter esperança de, em algum dia, poder viver dessa forma.

RESTAURANTE VINKELES

Nessa estada, me hospedei no The Dylan www.dylanamsterdam.com, um hotel superbacana no coração da cidade, cheio de luxo, charme e conforto. E é por aqui que começo a minha jornada gastronômica. Para o meu deleite, o restaurante Vinkeles www.vinkeles.com, uma estrela no Guia Michelin, fica nas dependências do hotel e, em uma noite, pude me emocionar com o seu menu degustação, de quatro atos, cujo valor me surpreendeu pela qualidade da comida que provei: 70 euros mais 37,50 para quem opta por acompanhar a refeição com vinho. Entre as surpresas da noite, um nhoque entra para a minha lista de pratos inesquecíveis. A massa chegou à mesa incrivelmente cheirosa e colorida, porque é feita com uma diversidade de legumes que dão vários tons ao prato, fugindo da cor clássica da receita italiana. O molho à base de gemas e trufas brancas raladas é um estouro e sustenta a colocação de ponto máximo da refeição (e talvez da viagem toda). Saí de lá em êxtase... Aliás, a localização estratégica do hotel me

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pôs em contato com mais uma superdescoberta. Na mesma rua fica a escola de cozinha KeizerCulinair www.keizerculinair.nl/english. Eles têm um programa de aulas bem interessante em que, nas chamadas cooking sessions, os participantes aprendem a cozinhar determinados tipos de receitas e, ao final, há um jantar com os pratos elaborados pelos “alunos-chefs”. Uma maneira sábia de se misturar teoria com prática. Participei de um desses jantares e simplesmente adorei o resultado. Apesar de não ter me hospedado ali, outra refeição surpreendente na cidade aconteceu no restaurante de outro hotel, o The College www.thecollegehotel.com. Construído nas dependências de um antigo colégio do século 19, trata-se de um acolhedor hotelboutique, marcado pelo que funciona também como centro de ensino para jovens das diversas disciplinas englobadas pela área de hospitalidade. No restaurante, localizado no antigo ginásio do colégio, o ambiente é sofisticado e moderno e o cardápio valoriza a tradição da

ESCOLA DE COZINHA KEIZERCULINAIR

RIJSTTAFEL (MESA DE ARROZ)

cozinha holandesa, porém com toques ousados da cozinha contemporânea, dando uma cara única ao lugar. E por falar em cozinha holandesa, esta, em geral, reúne uma série de sabores influenciados pelos períodos de colonização e pela mescla de sua população. Entre eles, uma das principais refeições típicas encontradas por ali é um banquete conhecido como Rijsttafel (Mesa de Arroz). A refeição vem da Indonésia e foi incorporada ao cardápio holandês durante os séculos em que o país asiático foi colônia. Originalmente, as pessoas se sentavam ao redor de um prato de arroz e nele eram incluídos porções de carne, mariscos ou vegetais, sempre acompanhados por um molho picante. No decorrer dos anos, outros ingredientes foram complementando a refeição, como as batatas, e hoje, um dos mais fartos banquetes conta com carne de porco, peixes, frango, camarão, entre outras cositas más... um exagero de dar água na boca, que pude provar num excelente restaurante chamado Tempo Doeloe www.tempodoeloerestaurant.nl


ANDANÇAS

POR

AMSTERDÃ

Como se vê, Amsterdã vale muito a visita. E olha que ainda nem falei do que fiz andando pelas ruas de Amsterdã, que revelam muitas surpresas. E não estou falando dos coffee shops... Falo de alguns segredinhos gastronômicos dos deuses. A começar pelos tais broodje haring, por exemplo, que são sanduíches recheados com arenque cru, cebola picadinha e picles, vendidos em barraquinhas por todos os lados. Uma delícia, ainda que exótico para alguns paladares. O peixe é característico da região e muito popular nas refeições holandesas.

Outro quitute encontrado pelos quatro cantos é uma espécie de croquete de carne, com recheio cremoso e casquinha crocante, que fica armazenado em gavetinhas de vidro... basta colocar uma moedinha de um euro e eles caem quentinhos em sua mão. Além disso, a batata frita, cheia de maionese, servida em porções fartas, é ótimo petisco (não muito saudável, é verdade, mas se estiver de férias vale tudo, não é mesmo?) enquanto se percorre o Red Light District: conjunto de ruas da cidade que reúne as mundialmente famosas vitrines vivas de mulheres seminuas oferecendo seus serviços...

Agora,de todas essas guloseimas, minha preferida é o hagelslad, que em bom português pode ser entendido como aquele granulado de chocolate do nosso brigadeiro. Só que por lá eles o colocam sobre a manteiga em suas torradas matinais e levam a coisa muito a sério: diferente do que encontramos por aqui, geralmente feitos com chocolates de pouca qualidade, hidrogenados, lá, o confeito é feito à base de chocolates gourmet, superpremium... e podem ser vistos com diversos teores de cacau. Claro que não resisti e trouxe alguns pacotinhos na mala pra me deliciar por aqui.

PANQUECA HOLANDESA MASSA 150 g de farinha uma pitada de sal (para a massa doce, colocar duas colheres de sopa de açúcar) pimenta noz-moscada 2 ovos 100 g de manteiga 300 ml de leite COBERTURA SALGADA 150 g de queijo gouda em tiras de 2 cm 150 g de presunto artesanal Se preferir, pode acrescentar à massa tomatinhos, legumes, outros tipos de queijo e fiambres.

Pra completar esse meu roteiro de comidinhas de rua de Amsterdã, não dá pra deixar de lado outra paixão dos holandeses, a panqueca... O prato, que é supertradicional na Holanda e que provei de diversas maneiras por lá, encheu a minha cabeça de ideias para novidades nos cardápios dos meus restaurantes. É diferente da forma que consumimos a panqueca no Brasil. Aqui, ela foi adaptada ao gosto popular e é comumente servida com a massa finíssima, enrolando algum recheio, seja ele salgado ou doce. Na Holanda, a massa é enorme e ganha mais consistência, É servida aberta, de duas formas: a Pannenkoeken, tradicionalmente apreciada no jantar, tem a massa feita juntamente com a cobertura, resultando em uma espécie de omelete, cujos ingredientes mais comuns são presunto, bacon, queijo, banana, maçã e abacaxi, em versões doces e salgadas; Já as Poffertjes se aproximam da receita norte-americana, mas são menores e possuem massa mais doce, acompanhadas por manteiga e açúcar, ou caldas como chocolate e mel – essas são mais pedidas no café da manhã. Também em Amsterdã, provei as panquecas da The Pancake Bakery, que serve uma infinidade de sabores e ainda dá destaque para as variedades do prato em diversos países. Mas a cidade é cheia de outros bons lugares para provar o quitute. Vale bater perna por lá e pedir algumas dicas aos moradores, que sempre têm seus segredinhos. E para você não ficar apenas com água na boca aí vai... bom apetite, fé na cumbuca e pé na cozinha!

COBERTURA DOCE 2 maçãs verdes raladas 2 colheres (sopa) de uva passa Raspas de 1 limão siciliano 1 colher (sopa) de açúcar mascavo 1 colher (chá) de canela MODO DE FAZER VERSÃO SALGADA Reserve o queijo e o presunto. No liquidificador, bata os demais ingredientes e deixe a massa descansar por 30 minutos. Em uma frigideira antiaderente ou panquequeira, coloque os pedaços de presunto e de queijo e, imediatamente, despeje a massa da panqueca por cima, adicionando uma concha de cada vez. Esta versão de panqueca é feita como uma omelete e, em minha opinião, fica muito mais gostosa que a versão mais americana. MODO DE FAZER VERSÃO DOCE Mesmo procedimento da massa salgada, mas em vez do sal, adicione o açúcar. Para a cobertura, tempere as maçãs com o açúcar, a canela e as raspas de limão. Doure ligeiramente as maçãs temperadas, acrescente a uva passa e espalhe a cobertura na frigideira. Derrame a massa por cima e desvire como uma tarte tatin. A ideia é que as maçãs fiquem por cima da massa, que deve ficar bem fininha e crocante. SEGREDINHO Para que a massa doce fique crocante, adicione à mistura duas colheres de rum ou de licor Grand Manier.

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Humanas criaturas TETÊ PACHECO

UMA NOVA ERA (LIKE IT OR NOT) Em 2011, resolvi fazer um ano sabático. Não para sair viajando, ou lendo livros, ou passando mais tempo na beira do mar – o que, aliás, são ótimas ideias. Mas para simplesmente não mais atender às demandas alheias, que deixaram de combinar com minha forma de pensar e agir. Me propus a atender somente a necessidades básicas e tentar não empreender nada que não fosse muito próximo daquilo que eu acredito que seja certo. No mundo de concessões em que vivemos hoje, a proposta soou até meio esquisita. Conto a vocês uma das experiências que essa proposta me rendeu. Em primeiro lugar, leve-se em consideração que eu tinha à disposição todas as ferramentas de que precisava:um iPad, um iPhone e um computador. Comecei o ano olhando para uma questão que ne pareceu central. A nossa total e absoluta solidão. Não essa que cultivamos de vez em quando, nem essa que fica bonita em filmes ou comerciais de TV do tipo cenografia da vida real. Falo de sentir-se só para resolver as questões práticas da vida, dividir um sentimento, uma insegurança, uma necessidade, um desejo, um telefone do melhor marceneiro. Uma solidão que carece especialmente de generosos e disponíveis amigos. E de, em alguns casos, uma boa agenda de endereços. Foi assim que, em março, comecei no Facebook, em São Paulo, um grupo de ajuda online chamado Agenda Amiga. Uma ideia simples, que foi amplamente abraçada por uma rede de mulheres incríveis e que hoje, nem um ano depois, está na maioria das capitais brasileiras e em algumas importantes cidades do exterior. No total são quase 5 mil mulheres que têm suas demandas diárias familiares, profissionais e domésticas atendidas. Digo que a Agenda Amiga se tornou mais que agenda, virou amiga. É ombro, braço direito… enfim. Mais do que dicas, coisa que nem valorizo tanto, este é um grupo de ajuda. Onde uma precisa de algo, centenas estão lá para ajudar na hora. Com a rapidez que só a vida online pode oferecer. O empreendimento digital que é um

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verdadeiro sucesso nos tempos onde tantos querem faturar espaços e disputar autorias nas mídias sociais é praticamene uma ong, foi feito e é mantido sem dinheiro. Agenda Amiga é uma marca, sim, mas pratica valores que não estão muito à disposição no mercado: transparência, simpatia, acolhimento, sinceridade. E que repudia outros que encontramos em balaio. Ganância, para citar apenas um. Como alguém que trabalha há anos com comunicação, não posso ignorar a força desse exemplo. Muita gente me fala da antipatia com relação às redes sociais, mas não conheço ninguém que, uma vez dentro, não acabe se sentindo, de um jeito ou de outro, acolhido. Seja porque nunca antes recebeu tantos parabéns no aniversário ou porque de nenhuma outra forma reencontraria os amigos da escola. Não importa. Temos que olhar apenas para o que já sabemos: estamos sós. Qualquer marca ou iniciativa, de ordem pública ou privada, do ambiente on ou offline, que se dispuser a acolher esta questão será um sucesso. Não podemos olhar para o Mark Zukemberg (criador do Facebook) como um gênio da programação. Mais interessante seria olhá-lo como um nerd solitário, muito a fim de ser popular, arranjar uma namorada bacana ou mesmo mostrar para a ex que ela estava errada em dar um fora nele. Um bom movimento pessoal ou profissional nessa nova era é se desapegar de regras e princípios que nos levam a repetir fórmulas sem pensar em com quem estamos nos relacionando. E passar a olhar para aquilo que nós mesmos estamos sentindo. A probabilidade de, ao olhar para nós mesmos, entender o que os outros precisam é grande. Nenhuma pesquisa de mercado pode ser mais profunda do que uma sincera análise no espelho. Eu disse sincera. Uma coisa que só um ano inteiro de dedicação a algo que não gerou lucro pode me devolver como o máximo da riqueza: somos todos frágeis. Mas somos muitos.

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Casa

O prazer

de estar ao ar livre A varanda costuma ser, na sua essência, a continuidade da residência – a extensão da casa que ganha ares de jardim, de convívio ao ar livre, de cantinho para o descanso. Este espaço serve também como moldura para as mais lindas paisagens ou os mais efervescentes cenários urbanos. Não importa qual o estilo: clássico, contemporâneo, étnico... Fundamental é que ali nossos horizontes sejam ampliados e que, mesmo por breves instantes, tenhamos a sensação de estar no quintal de casa.

P O R

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I R E N E

M A R C O N D E S

F O T O S

L E T Í C I A

R E M I Ã O



Casa


OBRAS DE ARTE E OBJETOS GARIMPADOS PELO DONO TORNAM ESTE ESPAÇO ÚNICO VARANDA COM UMA PERSONALIDADE INCONFUNDÍVEL O decorador gaúcho Renato Bing abriu as portas da sua própria varanda, em Porto Alegre. A extensão da sala ganhou uma decoração mais descontraída e étnica e recebeu ladrilhos hidráulicos no piso para reforçar o conceito de quintal. A passagem do interior da casa para o jardim não poderia ser mais agradável. Uma transição harmoniosa entre os espaços e que acabou tornando-se o principal ponto de convívio nos meses quentes do ano. “Mesmo no frio a varanda não perde a sua função, que é a de ampliar a vista da sala com muita elegância e beleza”, comenta. A exuberância das folhagens é outro ponto fundamental no projeto. Resistentes e fáceis de manter, elas reforçam a importância do paisagismo que toda boa varanda precisa ter. Os vasos tropicais alinhados no imenso aparador com tampo de folhas de flandres fazem contraponto a uma das espécies mais antigas de árvores do mundo – a oliveira, que surge exuberante no jardim. O mobiliário conta ainda com poltronas brancas originais da década de 50 e uma clássica daybed do final do século XIX. O banquinho de pátina branca parece até singelo em meio a tantas peças poderosas, que incluem obras de arte centenárias. Mas ele faz bonito: ganhou a vestimenta de uma exclusiva tapeçaria turca bordada à mão.

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Casa


O IMENSO LUSTRE FOI CONSTRUÍDO COM MANGAS INDIANAS DE VIDRO. ESTAS REDOMAS PROTEGEM AS VELAS DO VENTO, GARANTINDO UMA ILUMINAÇÃO INTIMISTA E MUITO CHARMOSA Estilo Zaffari

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Casa

SE NÃO FOSSE PELA VISTA DA CIDADE, ESTA COBERTURA SE CONFUNDIRIA COM UMA CASA AROMAS DE FRUTAS E FLORES Dos vasos plantados nesta varanda brotam limões e laranjas japonesas que vão para a cozinha e viram deliciosos temperos e geleias. Aos convidados, a moradora serve sucos e drinks feitos na hora com maracujá colhido do pé. O interessante é que esta gostosa rotina acontece no terraço de uma cobertura, em Porto Alegre. Nem mesmo a quantidade de prédios erguidos ao redor tira a graça do espaço. Uma parede de brises de madeira grápia, formada por haletas móveis que podem abrir-se e fechar-se, garante a privacidade necessária enquanto a família promove encontros entre amigos. “Os moradores são muito autênticos e por isso pensamos em um projeto que fosse limpo, mas ao mesmo tempo bem-resolvido e com soluções funcionais e bonitas”, conta o paisagista Frederico Karam, que assina o projeto ao lado da arquiteta Fernanda Pereira da Silva. Dois elementos fundamentais marcam a obra: a escolha de espécies frutíferas compondo o portfólio de plantas e a imensa estrutura de madeira que contorna o espaço. Desta estrutura surge o pergolado, que muito em breve estará coberto pelo pé de maracujá – garantia de uma agradável sombra sobre a mesa de madeira. A aparente singeleza, porém, esconde algumas raridades. Próximo ao parapeito eis que surge uma espécie rara de Aloe, a Aloe plicatilis, originária da África do Sul. Notas de jasmim e de outras flores igualmente perfumadas quebram a rigidez da arquitetura contemporânea e imprimem uma agradável sensação de frescor que se estende pelo ano inteiro. 40

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Casa


NO 130 ANDAR, ESTA SACADA RECEBE O SOL, EXPÕE O VERDE E DEIXA A BRISA PASSAR LOUNGE MONTADO EM ÁREA ABERTA Com ares de gazebo, esta varanda está sempre em movimento. Café da manhã, happy hour entre amigos com comidinhas gostosas, leituras no sofá ou momentos de dolce far niente... Tudo aqui foi pensado de modo que a família pudesse desfrutar de agradáveis momentos ao ar livre, mesmo que morando no 130 andar de um prédio, em Porto Alegre. Foi justamente a generosa altura do imóvel que ditou regras do projeto. “A sensação de estarem expostos e desprotegidos era marcante para os moradores, e por isso desenhamos as treliças – um ripado de madeira que emoldura o espaço e proporciona uma sensação de aconchego”, descreve o arquiteto Luis Henrique Roehe, da LA Arquitetura, que pensou nas boas ideias desta varanda ao lado da sócia, a arquiteta Andrea Costa. A dupla desenhou tudo com exclusividade. Mimo é o detalhe do aparador-orquidário que exibe nichos onde a moradora planta ervas aromáticas. Manjericão, alecrim e outras especiarias saem dali fresquinhas e seguem direto para a cozinha. E como resistir a uma esticadinha no sofá? O pot-pourri de tecidos é, sem dúvida, um detalhe que faz toda a diferença. Mas o destaque está mesmo na profundidade da peça – 1,20 m2, –, que deixa qualquer um esparramar-se sem a menor cerimônia.

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Bom conselho POR

MALU

COELHO

VERÃO: ESTAÇÃO DA PAIXÃO Está aí o verão, estação primeira que é a cara do Brasil. Época ideal para festas ao ar livre, na serra, na praia ou mesmo no pátio das casas, valorizando cada pedacinho da natureza. Não é de se estranhar que nesta estação tudo se modifique com a mesma intensidade do sol, provocando mudanças de hábitos. E como as mudanças acontecem, a adoção de um planejamento para este período é importante, principalmente na alimentação. Devemos consumir à vontade legumes, verduras e frutas, por serem alimentos de fácil digestão. As saladas são uma ótima opção, mas é preciso ter cuidado com a higienização! Tempere com azeite, vinagre e limão, evite molhos muito condimentados. É bom deixar de lado nestes dias mais quentes alimentos ricos em gorduras, como manteigas, creme de leite, margarinas e óleos vegetais. Melhor optar por petiscos sem frituras e aproveitar legumes (pepinos, aspargos, por exemplo) ou queijo branco, que ficam saborosos quando temperados apenas com azeite e orégano. Não deixe de tomar muito líquido e dê preferência para a água e sucos naturais. Melhor ainda, procure carregar uma garrafinha de água a tiracolo. Corpo hidratado é mais resistente para o “pique” do calor. Já os sorvetes são a cara do verão, mas como possuem muito açúcar e gordura, uma boa pedida são os sorvetes caseiros. Utilize os de origem conhecida ou opte por preparar uma receitinha. Lembra de sua primeira banana split? Era o luxo! DICAS PARA PREPARAR O SORVETE No preparo dos sorvetes e dos sucos de frutas misture água filtrada pura; O aroma e sabor devem corresponder ao cheiro e ao gosto da fruta utilizada; Evite o uso de corantes e excesso de essências aromáticas; Todos os sorvetes depois de congelados ficam mais gostosos e cremosos se forem batidos de novo e recolocados no congelador. Aproveite esta dica simples, pouco calórica e fácil de preparar: SORVETE LIGHT 1 COPO DE LEITE DE COCO 1 COPO DE ÁGUA 2 CLARAS EM NEVE 1 FRUTA DE SUA ESCOLHA. SACARINA LÍQUIDA OU EM PÓ

Bata no liquidificador a fruta que escolher, adoçando a gosto com a sacarina, acrescentando em seguida o leite de coco, a água e as claras em neve. Em seguida leve ao congelador.

CURTA ESTA LINDA ESTAÇÃO COM AMOR, ALEGRIA E TRANQÜILIDADE, JUNTO AOS SEUS QUERIDOS. DIVIRTA-SE, MAS SEM ESQUECER OS CUIDADOS QUE O VERÃO REQUER!

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Ensaio

TWO

BLOCKS

AROUND

EAST HOUSTON P O R

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F E R N A N D O

B U E N O


EMPIRE STATES VISTO DA FOURTH AVE.


Ensaio

VISTA DA BLEECKER ST. COM A SECOND AVE. AO LADO, LOJA NA BOND ST. COM BROADWAY

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Ensaio

GRAFITE EAST HOUSTON COM LAFAYETTE ST.

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MURAL NA SECOND AVE.

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Ensaio Sabor


PUBLIC GARDEN NA EAST HOUSTON COM ELIZABETH ST.

TODAS ESTAS FOTOS FORAM FEITAS EM DUAS SAÍDAS DE 1 HORA CADA UMA. USANDO FILMES VENCIDOS PB, PLUX KODAK E NEOPAN FUJI. APROVEITEI MINHA IDA À FEIRA PHOTO PLUS EM NYC E VOLTEI A SER FOTÓGRAFO POR DUAS HORAS. USEI UMA ÁREA LIMITADA DE DOIS QUARTEIRÕES NA EAST HOUSTON, ENTRE LAFAYETTE E A SECOND AVE. FOTOGRAFEI UM DIA PELA MANHÃ E UM DIA À TARDE.

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Equilíbrio CHE RRIN E

C A RD OS O

A FORÇA E O PODER DE UMA EGRÉGORA 54

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Será que você já ouviu alguma vez aquela frase que diz que o grupo é o bicho mais lento? Pois é, ele é mesmo, mas sem dúvida é o que vai mais longe ou o que mais influência seu modo de agir e pensar. Egrégora é isso. É grupo. Desde que você nasceu sofre a influência dos grupos pelo qual habita. A tradução desse termo, uma palavra grega da terminologia egregoroi, diz que é o conjunto de formas-pensamentos de duas ou mais pessoas voltadas para algum propósito. Diz também que todo grupamento humano possui uma, seja ele uma empresa, clube, família ou até de ordem iniciática. Passamos por vários ao longo da vida. É o grupo do jardim de infância, dos vizinhos, do colégio, da família, da faculdade, do trabalho, da noite, das festas, dos estudos. Enfim, uma única pessoa pode no decorrer de anos migrar de grupos diversas vezes. Muitos deles interferem tanto que, sem que se dê conta, essa pessoa já mudou de estilo, de vocabulário, de atitudes e nem percebeu. A egrégora é capaz de atuar nas escolhas, nas vontades, nas decisões de um indivíduo, para o bem e para o mal. Pergunto até se temos mesmo livre-arbítrio. Porque analisando como é o comportamento social vejo que egrégoras são tão fortes e produzem uma influência tão gritante, que fica difícil definir até que ponto escolhas são mesmo individuais. Todo ser humano vive mesmo de espelhos, e até que encontre a imagem que realmente deseja ver refletida vai seguir buscando. É por meio desses grupos que moldamos nossa personalidade e identidade, que buscamos descobrir aquilo de que realmente gostamos. O indivíduo segue moda, tendência, comportamento, hábitos, costumes, e isso tudo é o que determina de qual grupo ele faz parte. Perceba que você mesmo consegue distinguir, só de olhar, passeando por um bairro ou shopping ou parque, de qual grupo certa pessoa faz parte. Reconhece pelo tipo de roupa, pelos acessórios, pelas gesticulações e sabe identificar se é uma pessoa refinada ou não. Talvez até a que grupo social ela pertence. Juntamente com o conceito de egrégora, um outro bem forte caminha junto, que é o karma. Diferentemente do que muitos pensam, karma representa apenas ação e reação. Representa que tudo aquilo que você promove a sua volta vai gerar uma energia de reação.

Se suas atitudes forem positivas, as reações a elas também serão. E vice-versa. Para um indivíduo comum, a percepção sobre karma é muito pequena se comparada a um que trabalha a expansão da consciência. Quando você tem ciência dos seus atos, já sabendo que eles promoverão uma reação natural, certamente se preocupa mais, ficando mais atento àquilo que faz, diz e até pensa. A busca por essa consciência expandida se dá através de conceitos e técnicas. Trabalhando e percebendo melhor seu corpo físico, energético, emocional e até mental, toma-se mais conhecimento das reações às suas escolhas. Para pertencer a uma egrégora, basta pensar de forma semelhante ao grupo, principalmente aquelas às quais se pertence sem perceber. Até mesmo assistir a um programa de TV ou ler um livro já o faz pertencer a uma egrégora. Quando você aprende a trabalhar com as egrégoras, ganha uma valiosa ferramenta para a melhoria da sua qualidade de vida, já que determina em qual grupo você quer estar para que isso se torne efetivo! Repense agora se você está onde realmente quer estar. Se faz aquilo que realmente quer fazer, sem ser forçado a tomar suas atitudes. Repense se não se comporta do jeito que a sociedade quer que você se comporte, indo contra seus valores e instintos pessoais. E se não estiver no grupo compatível com aquilo que deseja, você tem a opção e a capacidade de mudar. Como é bom ter essa possibilidade, não é? De saber que você pode buscar o que te motiva, o que te deixa feliz. Porém, a reflexão maior é: o que eu vou construir com essas mudanças? Qual será meu legado, meu registro neste mundo? Aproveite a virada do ano e faça reflexões importantes para 2012. Escolha onde você quer estar, em qual grupo, em qual emprego (ou se quer continuar sendo um empregado!), em quais relações afetivas e humanas, etc. Escolha sua egrégora, mesmo que para esta virada a opção tenha que ser descobrir uma nova. NASCIDA EM SÃO PAULO, CHERRINE CARDOSO É FORMADA EM JORNALISMO PELA UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI. FEZ ESPECIALIZAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA E EM MARKETING. HOJE É DIRETORA DE UMA DAS ESCOLAS DA REDE DEROSE EM PORTO ALEGRE. NA UNIDADE MONT'SERRAT ELA DIFUNDE, POR MEIO DE UMA PROPOSTA DE LIFE STYLE COACHING, UM JEITO DIFERENTE DE SE CUIDAR E DE VIVER. WWW.DEROSEPORTOALEGRE.COM.BR

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Estar na Big Apple ĂŠ estar 56

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no mundo


T E X T O E F O T O S P O R C R I S B E R G E R

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CENTRAL PARK


NOVA YORK É UMA CIDADE QUE DEVE SER VISITADA INÚMERAS VEZES E EM DIFERENTES MOMENTOS Sabe do que mais gosto em Nova York? Gosto das pessoas, do ar multicultural e cosmopolita da cidade. E olha que eu gosto de muitas e muitas coisas na Big Apple. Da arquitetura, da arte, das galerias, dos museus, dos shows, dos músicos de rua, do Central Park, da gastronomia, dos restaurantes, das lojas e das ideias que sempre trazemos de lá. Em Nova York me sinto em total ponto de ebulição, munida de tantas informações e referências... Tudo isso me faz ficar com frio na barriga toda vez que penso na grande maçã. Bem, nem preciso dizer que Nova York é uma cidade que deve ser visitada inúmeras vezes. Não só em distintas estações do ano como em diferentes fases da vida. Quanto mais a gente amadurece, mais entende sua magnitude e valor. Nesta viagem que faremos, eu e você, nas próximas linhas, vou sugerir um roteiro modesto, de apenas quatro lugares, ok? Vamos visitar o Central Park, a Brookling Bridge e os bairros do Soho e Meatpacking District. Mesmo que a cidade gire a mil por hora, você tem o privilégio de determinar seu tempo e ritmo, então, aceite o meu conselho: morda a maçã com calma e saboreie cada minuto. Nova York é uma cidade de estações bem-definidas e diferentes sabores, conforme a época do ano. As imagens e a história desta reportagem foram capturadas em março de 2010. Espero aguçar sua vontade de viajar para a cidade “que nunca dorme” na primavera. Março é lindo porque todos já estão cansados do frio, a temperatura começa a aumentar e as ruas se enchem de gente, o clima é de festa. O Central Park está com um cenário bucólico, galhos nus e tons marrons. Os músicos de rua já podem tocar, livremente, sem medo de congelar, o público agradece e joga moedinhas nos chapéus. A luz dourada do entardecer é comovente, colore prédios, o horizonte e o parque. Tudo fica tão poético!

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CENTRAL PARK

O CENTRAL PARK É A VIDA QUE PULSA DE MIL MANEIRAS, COM MIL DIFERENTES PERSONAGENS 60

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CENTRAL PARK, A ALMA DE MANHATTAN

O Central Park me faz suspirar... É nesse cenário que projeto mil vontades, desejos, ideias. Apaixonados por corrida, caminhada, bicicleta e patins podem imaginar lugar mais agradável e estimulante do que o Central Park? Gosto de me imaginar correndo por lá, todos os dias, descobrindo atalhos, pontes, novos ângulos de ver a cidade. Observando os arranha-céus por detrás das árvores, a arquitetura dos prédios elegantes da Quinta Avenida, as estátuas, o lago, os saxofonistas, as bandas, as crianças brincando junto à estátua de bronze de Alice no País nas Maravilhas, os namorados abraçadinhos em cima de pedras, os casais de velhinhos sentados nos bancos, amigos passeando de canoa, turistas curiosos, malucos e yuppies cortando caminho, cachorros e seus donos em passeios matinais, carruagens puxadas por cavalos, outras por bicicletas, gente lendo e usando notebooks, esquilinhos saltitantes. Ufa! Quanta vida pulsa nesse parque, que é considerado o pulmão da cidade. Eu vou

além, digo que o Central Park é a alma de New York. Nenhum programa me parece mais interessante do que comprar um sanduíche em uma deli, escolher um banquinho, acomodar-se e almoçar escutando música ao vivo, ao ar livre. O couvert artístico fica a seu critério, claro, mas não há como não retribuir o show dos artistas de rua com várias moedas! Eu sempre compro CDs de quem usa a arte para ganhar a vida e alegrar o dia da gente. Outra forma de viver o Central Park – e, atenção, esta é uma dica especial, muito up to date – é subir no 35° andar da Columbus Circle número 80 e jantar no Asiate. Um restaurante absolutamente deslumbrante e caro. Se você achar que vale o investimento, eu dou a garantia de satisfação plena: o ambiente é lindo, chique e a vista para o parque é de tirar o fôlego. Chegue na hora do pôr do sol e veja a noite chegar em grande estilo. Depois, delicie-se com a alta gastronomia, a cozinha contemporânea, uma carta espetacular de vinhos e atendimento digno de reis.

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EMPIRE STATES E, NA PÁGINA AO LADO, ESTÁTUA DA LIBERDADE

ATRAVESSEI A BROOKLIN BRIDGE A PÉ E PAREI MILHÕES DE VEZES PARA FOTOGRAFAR... BROOKLIN BRIDGE E A PIZZA DO GRIMALDI'S

Escolha um dia com sol. Pegue o metrô e vá até Wall Street, a parte financeira, onde estavam as torres do World Trade Center antes de 11 de setembro. Desembarque e rume para o bairro do Brooklin, tudo bem pertinho. Desta vez, minha sugestão de programa está focada na ponte, apenas nela. Quando eu fui, atravessei caminhando e parando um milhão de vezes para fotografar uma das pontes mais cenográficas da minha vida! No começo você fica até zonzo: “Vou fotografar o horizonte, os cabos, os tipos mais exóticos que passam, vou pedir para alguém tirar uma fotografia minha, ai quero voltar e fazer tudo de novo”. A sensação é mais ou menos essa e no entardecer você vai à total loucura: são as luzinhas de Wall Street acesas, o céu amarelado, a Estátua da Liberdade em silhueta, o Empire State Building iluminado, os barquinhos num vai e vem constante, os prédios do Brooklin coloridos pelos últimos raios de sol e o barulho do trem. Aquela quantidade de cabos de aço parece mais uma grande obra de arte! Num nível abaixo estão os carros que cruzam Manhattan em direção ao Brooklin e ao

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estado vizinho de New Jersey. Esportistas de plantão, reservem um retorno à ponte para cruzá-la correndo, esta foi uma das coisas que prometi fazer e em breve cumprirei. Um pouco antes do final da Brooklin Bridge há uma escada que leva ao térreo: desça e vá para o píer, de onde você vê a ponte e o skyline de Manhattan no mesmo enquadramento. Lindo de morrer! Ali perto está a pizzaria Grimaldi’s, que eu descobri por acaso e logo fiquei sabendo que é febre entre os nova-iorquinos. Se você chegar pelas 19h saiba que vai encarar uma fila, do lado de fora, de duas horas. Nem pense em reclamar, é assim, mesmo. Resolveu chegar pelas 21h? Sábia decisão, a fila vai estar bem menor ou até mesmo acabando, mas quando o relógio bater as 12 badaladas (se for sexta ou sábado), a equipe da casa vai começar a colocar as cadeiras em cima das mesas e a varrer o chão. Ache graça, leve na esportiva! Esse é o espírito! Comi uma pizza bem fininha, com a melhor azeitona preta que já experimentei, um molho de tomate com gosto de “feito pelo vovó” e rúculas fresquinhas! De comer de joelhos e pensar em alugar um apartamento na vizinhança.



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SOHO

SABE AQUELE LUGAR ONDE VOCÊ VAI ENCONTRAR DE TUDO, TUDO MESMO? ASSIM É O SOHO

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SOHO DE MIL E UM SIGNIFICADOS

Sabe aquele lugar onde você vai encontrar de tudo, tudo mesmo? As lojas mais tradicionais e loucas? Grifes chiquérrimas e brechós? Lojinha do MoMA (Museu de Arte Moderna) e loja de caveiras, de botões, de chapéus, de velas, de temperos, de roupas para cachorros, última moda, onde pouca importa a moda e tudo mais que você pode imaginar? Assim é o Soho. Restaurantes deliciosos, descolados, premiados, desconhecidos, superamericanos e de imigrantes vão estar no meio do cenário. Sei que você vai, e deve, fazer suas descobertas, mas vou contar sobre dois lugares que adorei: conheci por acaso o espanhol Boqueria e por indicação o clássico e ótimo Balthazar. Não faltarão cafés com gente estudando, lendo, trabalhando, paquerando, fazendo nada e olhando o movimento (o meu e o seu caso). Vai dizer que em viagem a gente não fica assim, meio de boca aberta, tentando absorver e registrar tantos conceitos e jeitos novos de viver? Apesar de o comércio ser forte e ter muitos escritórios, há também uma boa quantidade de endereços residenciais, quase todos nos simpáticos prédios com as escadas para fora, os famosos estúdios que a gente vê em filmes e seriados americanos.



ACIMA, HIGH LINE (MEATPACKING DISTRICT), EMBAIXO, CENAS DO MEATPACKING DISTRICT

MANHATTAN RECRIA BAIRROS, TRANSFORMA O DECADENTE EM IN, O VELHO EM ESSENCIAL 66

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O CHARMOSO MEATPACKING DISTRICT

Manhattan se reinventa, ou melhor, recria ambientes e bairros, transforma o decadente em in e o velho em essencial. Foi assim com o Meatpacking District. No passado esta era a região dos açougues (daí o meat, carne em inglês), de frigoríficos e depósitos de grãos. Imagino que a necessidade da cidade crescer fez com que um cenário novo surgisse, e hoje esse é um dos pontos mais descolados da ilha. O Chelsea Market é um desses lugares que eu adoraria ir todo domingo. Nesta espécie de galpão você encontra casas de chá, cafés, restaurantes, lojas de vinhos, mercearias, lojas de roupas, docerias, livrarias e algo mais que eu devo estar esquecendo. Se o tempo estiver bom, compre algumas comidinhas (as ofertas são muitas, há desde lagosta até sanduíches, além dos famosos cup cakes), suba as escadas e procure um lugar na High Line: nada mais, nada menos do que a antiga linha aérea dos trens que levavam as carnes para dentro dos depósitos. Um projeto incrível de paisagismo transformou o lugar. Bancos e espreguiçadeiras de madeira, mais a linda vista para o rio Hudson, deixam esse espaço, a céu aberto, absolutamente irresistível. Ali nas redondezas está o restaurante Spyce Market, um dos meus preferidos para jantar. A decoração vai transportar você para a Ásia e lá pelas tantas você entende que estar na Big Apple é como estar no mundo, ser cidadão do planeta. Dá uma emoção danada...

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HOTEL THE SURREY E, NA PÁGINA AO LADO, MOMENTO RELAX NO MEATPACKING DISTRICT

ENDEREÇO PERFEITO: UPPER EAST SIDE, A DUAS QUADRAS DO CENTRAL PARK 68

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ONDE FICAR?

Eu me hospedei no Hotel The Surrey. Ele fica no Upper East Side, a duas quadras do Central Park. É para você se sentir morador de Manhattan. Este bairro residencial é chique e tranquilo. Fica ao lado do Guggenheim Museum, do Metropolitan e da loja da Taschen. O hotel foi construído em 1926, época em que era um prédio residencial onde moraram JFK, Bette Davis e Claudette Colbert. O Café Boulud fica ao lado e serve os hóspedes desde o café da manhã. Os quartos são espaçosos e imensamente confortáveis, decorados em tons creme e tapete na cor chumbo, com fotografias em preto e branco com imagens do Central Park e uma supercama confortável. Perfeito para ser sua “casa” no final de um dia excitante pela cidade! E é pet friendly!



O sabor e o saber FERNANDO LOKSCHIN

ÁGUA, A FELICIDADE O homem é tão violento como era o tiranossauro, tem mais inteligência do que o golfinho e goza uma sexualidade menor só que a do macaco bonobo. Mas não foram a agressividade, o raciocínio ou a fertilidade que tornaram o homem dominante, foi a adaptação. Seu recurso de sobrevivência sem equivalência nas outras espécies vivas é a adaptação. Nem a mosca tem uma capacidade afim – o frio diminui suas funções vitais, a mosca congela tão fácil como uma gota d’água. A sobrevivência não é a do mais forte, é a do mais adaptável. O homem resistiu à seca de Atacama, ao frio da Sibéria e ao calor do Irã. Conquistou as montanhas dos Andes, as florestas do Amazonas e as areias do Saara. Não há geografia na qual o homem não tenha dado um jeito de sobreviver. Todos somos ‘afrodescendentes’. A civilização pode ser resumida como uma marcha iniciada na mama-África rumo leste a oeste, do equador aos polos, margeando sempre o fluxo da água. Como a vida, a civilização é hidrófila, segue o leito dos rios. Não é à toa que a Mesopotâmia, ‘entre dois rios’ – o Eufrates e o Tigre, é a vertente da História, lá surgiram todos os fundamentos existenciais: agricultura, pecuária, escrita, roda, arado, cidade, estado, exército, polícia e imposto. A mítica entende o valor da água. A Bíblia detalha a bacia hidrográfica do Éden, o hábitat ideal: “Um rio nascia no Éden e ia regar o jardim, dividindo-se a seguir em quatro braços” (Gn 2:10), situando-o inclusive na Mesopotâmia: “O nome do terceiro é o Tigre, e corre ao oriente de Assíria. O quarto é o Eufrates.” (Gn 2:14). Paris embeleza o Sena, São Paulo polui o Tietê. Em-

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bora seu rio famoso seja o Ganges, a Índia deve o nome ao Indo. Jordânia invoca o Jordão (H. Iordan, ‘rio’). Madri parece vir do L. matrice (<L. mater, ‘mãe’), ‘manancial’. Reno é a palavra celta para ‘fonte’, Tibre significa ‘rio’ em etrusco, e Rioja é Rio Oja, ‘Rio das Folhas’. Uruguai (‘rio dos caracóis’), Paraguai (‘rio grande’) e Senegal (‘navegável’) herdaram os nomes dos seus principais rios. Para Rousseau, a água foi “origem tanto das querelas como dos tratados entre os homens”, motivo de união e discórdia: rival deriva do L. rivus, ‘rio’, aliás deriva também deriva. O Rio Grande do Sul nasceu e se criou como praça de guerra na tentativa de tornar o Rio da Prata a fronteira sul do Brasil. É irônico que um planeta cujo predicado seja água se chame Terra; ao menos seus moradores são terráqueos, o que leva em conta os dois elementos. A vida surgiu nos oceanos, a sopa vital, e continuou sempre banhada em água. Não existe forma de vida que dela não dependa. Catabolismo, anabolismo, respiração e fotossíntese exigem a participação de moléculas de água. Qualquer organismo – e todo o alimento – é proteína, carboidrato e lipídio em solução aquosa. A carne é 75% água, frutas e vegetais, 95%. O processo digestivo desconstrói os corpos nesses quatro constituintes básicos para fins de reaproveitamento. Não escapou aos antigos a intimidade da água com a vida, sejam as enchentes, ‘dádivas do Nilo’, sejam as chuvas, ‘nuvens ordenhadas’, no verso de Nietzsche. Primavera, a estação da fecundidade, nos idiomas germânicos é spring, ‘fonte’. Ninfas, as deusas das fontes, personificam a sensualidade e fertilidade (o G. nephe, ‘noiva’ é afim ao L. lympha, ‘água’). Ao olhar o ‘Saara verde’ do pampa gaúcho


SIMPLES é possível se inferir a existência de uma vertente ou córrego pela moldura viço e mata nativa que a acompanha. “Todos os poderes da Terra são dádivas da água”, escreve Plínio (séc. I), e conta da água onde nada flutua, tudo afunda, do lago africano onde nada afunda, tudo flutua. Havia a água que deixava branca a ovelha negra, a que tornava a voz mais bela, a que inebriava mais que álcool e a que, em vez de molhar, incendiava quem jurasse em falso. Na Judeia existia um rio religioso que a cada shabat parava de correr! A poluição da água não é um fato moderno, foi a primeira das pragas do Egito –“feridas pelo Senhor”, as águas viraram sangue, “os peixes morreram, as águas se tornaram infectadas e os egípcios não as podiam beber”. (Ex 7:21) Curioso que, até o séc. XIX, não haja muitos registros de doenças transmitidas pela água, mesmo em grandes centros urbanos com aquedutos e cisternas. A água era purificada com vinagre ou vinho. Avicena já recomendava a fervura. Havia a filtragem em lã, areia, cerâmica, tecido ou farelo de pão. Cebola, centeio e cera eram misturados à água para que absorvessem suas impurezas. Os marinheiros dessalinizavam a água do mar com peles de carneiro e potes da barro. A bebida única do animal, a água foi a primeira e a mais natural das bebidas do homem. O prazer da sede saciada foi descrito por Saint-Exupéry como “felicidade infinitamente simples”. Se hoje a moda é que se beba mais água do que pede a sede (e se coma menos do que pede a fome), antes era o inverso: beba com moderação. Avicena proibia a água na refeição, durante a noite e depois do jejum, banho, exercício ou sexo.

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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

A água está no corpo e alma da comida e da bebida. O chá e o café preparados com água sem conservantes (cloro) ou aditivos (flúor) têm mais leveza. A sopa, o feijão e o arroz campeiros são mais saborosos por causa da água de poço. Não é preciso ser gourmand para perceber a diferença na massa cozida na água mineral – um segredo da boa cozinha. Até o pão e a pizza são mais saborosos se receberem água não tratada. Levou 30 anos para o autor entender o amigo espanhol que, morando em Londres, sempre que viajava a seu pueblo de lá trazia o ingrediente mais precioso da paella, um garrafão de água. O solvente universal, a água traz em si toda a tabela periódica, do Alumínio ao Zinco passando pelo Césio e Mercúrio. Tem também muita bactéria. Observando no microscópio uma gota de sua saliva, Leewenhoek (1674) afirmou: “Na minha boca há mais seres vivos do que na Holanda”. Imaginam quantos há em um copo d’água. Até o álcool depende da água. As destilarias escocesas convidam o visitante a provar o uísque e também a água com que é fabricado, o segredo da sua qualidade. As cervejarias da Baviera e Tchecoslováquia localizam-se junto a fontes de água de excepcional limpidez – são precisos 15 litros de água para se obter 1 de cerveja. Apesar do ditado, há mais afinidade do que diferença entre a água e o vinho. Escançor era o especialista grego que determinava quanto de água era misturada a cada jarra vinho. O copo d’água escolta o de vinho à mesa como um coadjuvante que divide o palco com a estrela. É agradável refrescar e diluir uma taça de vinho branco de verão com gelo, como fazia Romy Schneider: “Há séculos que nós, alemães, nos deliciamos assim”, dizia a atriz aos chocados franceses. Alexandre Dumas conta do bispo que tentou pregar uma peça num monge lhe oferecendo água como sendo o mais cristalino vinho branco. O monge pediu ao bispo que abençoasse a bebida e, logo após o sinal da cruz, o esperto monge passou a taça a um serviçal dizendo sorridente: “Paneloux, leve isto para a igreja, não se deve beber água benta”. Se o séc. XX foi o da cola carbonatada, o XXI é o da água – até a Coca-Cola (Dasani) e a Pepsi (Aquafina) estão no mercado. Transparente, límpida, leve e acalórica, a água mineral de fonte é a re-

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presentação do gastronomicamente correto. A água engarrafada pode ser cristalina mas a embalagem – muitas vezes pet (politereftalado de etileno), o material imortal – a torna muito poluidora. As águas rolaram para um líquido definido como incolor, inodoro e insípido. Custando pelo menos 100 vezes mais do que a da torneira, a água mineral virou artigo de luxo, prova de sofisticação. Já em 1873, Alexandre Dumas dizia haver apreciadores de água como os de vinho, desfrutando “das mesmas delícias ao tomar uma água fresca como um amante do Grand-Lafite ou Chambertin”. Restaurantes têm carta de águas junto à de vinhos, e proliferam afetados water bars onde as águas são degustadas, desde a Glace, água de iceberg, até a Exousia, com partículas de ouro – e a urina do bebedor, como a de Midas, mais dourada do que nunca. Há uma Tasmanian Rain, chuva tropical engarrafada, e a Lauquen, gelo andino liquefeito. E que acham da Clud Juice? Cada garrafa trazendo a sua boca 4.875 gotas da mais límpida chuva de floresta africana? A francesa Perrier, a italiana San Pellegrino, a brasileira São Lourenço e a uruguaia Salus são de ótima qualidade. A marca Evian é a mais consumida; para descrever quem paga tanto para beber uma Evian – e seu gosto de sabão, pela alcalinidade –, basta ler o nome ao contrário. O marketing, como a aparência, engana. A norueguesa Voss, ‘superpremium water’, a de preço mais alto, recebeu a avaliação mais baixa em um teste de sabor finlandês, perdendo até para a água encanada de Helsinque. Talvez a May, esposa do autor, soubesse do concurso (e ignorasse os 60 euros do custo...) quando abriu a Voss que decorava com mau gosto um quarto de hotel para escovar os dentes. Fecho a torneira antes que transborde o texto com o verso de Hoffmann de Fallersleben (1794-1874) que enaltece a água, bebe o vinho e – surpreendentemente para o autor do hino alemão – ignora a cerveja. “Diz-me. Quem fez a água, quem o vinho? / Enche de água o copo cristalino / A água é obra do poder divino / A água é celestial, humano é o vinho. / Mais vale a água, muito mais que vinho / Enche de água o copo cristalino / Eu sou modesto, humilde o meu caminho / Enalteço a água, mas bebo o vinho.” FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br


bem docinha Economizar ĂŠ comprar


Saúde

As 7 maravilhas

do mundo da alimentação

P O R

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B E AT R I Z

G U I M A R Ã E S



Saúde A alimentação prazerosa definitivamente faz parte de uma vida saudável. E isso inclui os pequenos rituais – como mesa bem-posta, velas, toalhas bonitas, flores, música, vinho –, a participação de familiares, amigos e convidados em geral, o planejamento da refeição e o tempo que passamos nesses encontros. Pode não parecer, mas esses rituais têm um efeito enorme no nosso bem-estar e na quebra da rotina do dia a dia. Por outro lado, milhares de decisões importantes são tomadas diariamente nas grandes cidades do mundo todo durante os chamados almoços de negócios. Em torno de mesas elegantes, com pratos leves e delicados, o objetivo é tornar a seriedade e a magnitude de grandes negócios mais agradáveis e mais convincentes, sensibilizando, dessa forma, os possíveis parceiros. Repartir o alimento, desde os tempos mais remotos, cria laços de confiança e de amizade. Portanto, a alimentação não serve apenas para nutrir o corpo, mas definitivamente serve para encher os olhos, estimular o olfato, agradar ao paladar e alimentar a alma com alegria e com prazer. A alimentação é o retrato do seu tempo e do seu povo, e certamente é uma das mais completas expressões culturais. No mundo moderno – para usar uma imagem simples – há duas tendências opostas em termos de alimentação: uma é a da produção altamente industrializada de alimentos, inclusive de alimentos prontos e congelados para facilitar a vida das pessoas, e a outra é a da busca por alimentos mais saudáveis, orgânicos, saborosos, preparados de forma tradicional, que alguns chamam de slow food. O mercado de orgânicos e de alimentos “funcionais” cresce de forma constante e sólida. E dentro dessa filosofia, cada vez mais os hábitos alimentares estão mudando na direção de uma dieta mais completa, saudável e equilibrada. A seguir, algumas sugestões de alimentos que podem fazer parte da nossa rotina alimentar:

AZEITE

2

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LIMÃO O limão é uma fruta preciosa, pois apresenta um grande poder curativo. É um verdadeiro presente da natureza. Embora seja ácido, depois de ingerido o limão transforma-se em alcalino, combatendo, dessa forma, a acidez do organismo, tornando-se excelente recurso na cura da gastrite e de inúmeros males do aparelho digestivo. Combate também o ácido úrico, descongestionando e desintoxicando o corpo, e auxilia nas doenças reumáticas e artríticas. Também atua na regeneração de tecidos inflamados, normalizando o aparelho digestivo. Além disso, é um purificador do aparelho urinário, pois elimina toxinas presentes no organismo. O limão atua na prevenção e na cura de inúmeras doenças, já que é um agente bactericida, fungicida e desintoxicante. Também controla a diarreia e ajuda na má digestão, além de ser uma bebida refrescante e restauradora. As principais vitaminas presentes no limão são a C e as do complexo B. O limão também apresenta sais minerais, como o fósforo, o cálcio e o ferro.

O azeite surgiu na região do Mediterrâneo e acredita-se que seja conhecido há mais de 6 mil anos. As oliveiras já fazem parte da paisagem de muitos países do Mediterrâneo, embora atualmente sejam cultivadas também na Argentina, no Chile, no Uruguai, e mais recentemente no Brasil (no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais). É considerado um dos alimentos mais importantes por suas qualidades nutritivas. Possui vitaminas A, D, K e especialmente a vitamina E, que é muito benéfica. O azeite também apresenta um efeito tônico e protetor da pele, promove a absorção do cálcio, além de reduzir o colesterol graças aos ácidos monoinsaturados. 76

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Saúde


VINHO

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Cada vez mais se descobrem os benefícios do vinho para a saúde. Desde a Antiguidade o vinho já era empregado como tônico medicinal. E hoje, de acordo com inúmeros estudos, ficou comprovado o papel saudável desta bebida como protetora das doenças coronárias, reduzindo as mortes por infartos, como redutor dos cálculos renais, como redutor da degeneração macular (olhos) e, por meio do resveratrol encontrado no vinho, apresentando substâncias antioxidantes que são regeneradoras e anticancerígenas. Além disso, ajuda a absorver o ferro combatendo a anemia e é benéfico para aqueles que apresentam diabetes tipo 2, pois ajuda na absorção da insulina e no aproveitamento dos carboidratos. O vinho tomado antes das refeições pode despertar o apetite e tornar as refeições mais digestivas. O vinho também é uma bebida agregadora, pois torna o encontro de amigos e de familiares mais alegre e prazeroso. Recomendam-se de um a dois cálices por dia.

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CAFÉ O café, uma das bebidas mais populares no mundo todo, é um energético e tônico que atua na prevenção de doenças cardíacas. É um vasodilatador que ativa a circulação, atua também como um hepatoprotetor importante, e ainda funciona como diurético e antioxidante. Mas como qualquer alimento, deve ser consumido com moderação e sempre preparado na hora. Além disso, o aroma do café é capaz de ativar a serotonina, um neurotransmissor importante, promovendo uma sensação de bem-estar e ativando as áreas de prazer. O Brasil é um dos maiores produtores de café do mundo. Nos últimos anos, o mercado brasileiro tem se tornado bastante exigente em relação à qualidade do café. O café, cada vez mais, está se transformando numa bebida indispensável e muito saudável. Além do mais, o famoso cafezinho é uma bebida agregadora, que promove a socialização e a interação entre as pessoas.

ARROZ INTEGRAL

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O arroz integral é uma fonte importante de carboidratos. Rico em vitaminas e sais minerais, possui princípios bioativos, que previnem as cardiopatias, a obesidade, o diabetes, entre outras doenças. É também um alimento não alergênico, antioxidante (que protege contra o envelhecimento das células), rico em fibras e, além disso, possui propriedades que diminuem o colesterol. A região Sul produz vários tipos de arroz integral de excelente qualidade. Nas culturas de arroz orgânico são usados patos ou peixes, que consomem as ervas daninhas e as pragas, eliminando ou diminuindo, dessa forma, o uso de agrotóxicos. O arroz pode perfeitamente servir de base alimentar, substituindo os alimentos feitos com trigo.

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Saúde


UVA

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A uva talvez seja uma das frutas mais completas e surpreendentes que há. Tem potássio, ferro, cálcio, fósforo, magnésio e cobre, entre muitos outros sais minerais fundamentais para a saúde, e vitaminas do complexo B e C. Além disso, tem o papel de desintoxicar o organismo, e por meio de substâncias como o resveratrol pode regenerar tecidos danificados, limpar as artérias, a bexiga e também funcionar como um laxante moderado. O resveratrol é uma substância encontrada na casca, na semente e nos derivados da uva. Cada vez mais descobrem-se maravilhas sobre esta substância. Quanto mais escura for a cor da fruta, maior a quantidade de resveratrol. A uva atua como antioxidante, como anticancerígeno e tem propriedades curativas. A casca da uva é muito nutritiva e também contém o resveratrol. Como apresenta altos níveis de glicose, deve ser consumida com moderação por diabéticos. Até a semente da uva tem sido usada na indústria de cosméticos e na produção de remédios.

PEIXES

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Os peixes são alimentos completos. São saborosos, fáceis de preparar e possuem um teor de gordura baixo, além de apresentar proteínas de alta qualidade. O ômega 3, presente na carne de peixe, é muito benéfico para o coração e para os triglicerídeos, além de combater os sintomas da artrite reumatoide por ter propriedades anti-inflamatórias. Além do mais, o peixe ajuda a manter o peso e apresenta vitaminas A, E, D e niacina. Como sais minerais há o ferro, o iodo, o magnésio, o cálcio, o sódio, o fósforo, o potássio, o flúor, o manganês, o cobalto, entre outros. No entanto, o peixe deve ser comido preferencialmente muito fresco. Além de manter suas propriedades, o peixe fresco é muito mais saboroso. Deve ser cozido rapidamente para que não perca os seus nutrientes. Procure sempre um fornecedor que tenha produtos de qualidade, e que sejam bem armazenados e frescos.

OUTROS ALIMENTOS SAUDÁVEIS Além dos alimentos já mencionados, há outros menos conhecidos, mas que merecem uma menção também.

ALFARROBA A alfarroba provém de uma árvore nativa da costa do mediterrâneo chamada alfarrobeira. O nome vem do árabe alkarob. A farinha feita dos grãos tostados da vagem é um alimento muito nutritivo, muito saboroso e pode substituir o cacau com muitas vantagens. A alfarroba contém apenas 0,7% de gordura e tem em torno de 38 a 45% de açúcares naturais. É um alimento rico em vitaminas B1, Niacina, A, B2, cálcio, magnésio e ferro. Não é um alimento alergênico e não contém glúten nem estimulantes, e suas fibras servem de proteção à flora intestinal. A alfarroba é usada na indústria farmacêutica, na de cosméticos e na alimentícia devido às suas propriedades espessantes e nutritivas. O seu potencial antioxidante é semelhante ao do azeite e do vinho. A farinha de alfarroba é muito semelhante ao cacau em pó e pode substituí-lo com muito sucesso. Possui um sabor delicado e pode ser encontrada em lojas e farmácias de produtos naturais.

MIRTILO O mirtilo é uma frutinha silvestre originária da América do Norte e foi introduzida no Brasil em 1983 pela Embrapa-Pelotas. É conhecida como a fruta da longevidade por ser um antioxidante importante, por ter propriedades medicinais (visão, febres, antibactericida, antidiarreico) e pela versatilidade do seu uso, como no preparo de geleias, no de doces e de bolos, além de poder ser consumida fresca nos cereais matinais. O seu consumo aumenta em torno de 20% anualmente e o Rio Grande do Sul é responsável por 75% de sua produção no Brasil.


Sabor Saúde Arroz Integral com Castanhas e Limão O ARROZ INTEGRAL, TIPO CATETO, PODE TAMBÉM SER USADO PARA FAZER O RISOTO ITALIANO “NÃO ORTODOXO”. DEVE-SE APENAS ACRESCENTAR MAIS CALDO E FINALIZAR COM MANTEIGA, SE FOR O CASO. A TEXTURA E O SABOR SÃO EXCELENTES. AQUI APRESENTAMOS UMA VERSÃO MAIS BRASILEIRA DO ARROZ INTEGRAL.

1 XÍCARA DE ARROZ INTEGRAL 2 XÍCARAS DE ÁGUA FERVENTE OU DE CALDO DE LEGUMES 2 COLHERES DE AZEITE 1 CEBOLA PICADA CASTANHA-DO-PARÁ, 5 A 6 UNIDADES PICADAS RASPA E GOTAS DE 1 LIMÃO SICILIANO

Creme de Limão (Lemon Curd) SOBREMESA TRADICIONAL INGLESA, O CREME DE LIMÃO SERVE COMO RECHEIO, COMO COBERTURA PARA BOLOS, TORTAS E BISCOITOS, OU PODE SER SERVIDO SIMPLESMENTE SOZINHO, SEM ACOMPANHAMENTO.

1 CENOURA PICADA

6 GEMAS

2 COLHERES DE CEBOLINHA VERDE PICADA

1 XÍCARA DE AÇÚCAR

1 COLHERINHA DE SAL

RASPA DE 1 LIMÃO SICILIANO

Modo de fazer: Ferver a água, ou o caldo, e reservar. Enquanto isso, numa panela colocar o azeite e refogar ligeiramente a cebola. Acrescentar o arroz e em seguida a água fervente evitando “fritar” o arroz. Abaixar o fogo e tampar a panela e deixar cozinhando por uns 20 a 25 minutos. A seguir acrescentar as castanhas, a cenoura, o sal, a raspa de limão e a cebolinha, mexer e deixar por mais uns 10 minutos. Caso seja necessário, acrescentar mais um pouco de água fervente para que não fique muito seco. É importante acrescentar o sal no final para que não endureça o arroz. Se preferir, antes de servir o arroz colocar umas gotinhas de limão e finalizar com um pouco mais de azeite.

1/3 DE XÍCARA DE SUCO FRESCO DE LIMÃO ½ XÍCARA DE MANTEIGA EM CUBOS 1 CUBA DE INOX Modo de fazer: Com o batedor misturar bem as gemas com o açúcar até adquirir uma coloração pálida. Acrescentar a raspa e o suco de limão e mexer até misturar bem. Levar a cuba para aquecer no banho-maria em fogo brando. Mexer constantemente por 7 a 10 minutos, tendo o cuidado de não deixar talhar. Colocar, então, um pedaço de manteiga por vez: deixar absorver o primeiro pedaço para depois acrescentar o seguinte. Finalmente o creme de limão estará pronto para ir para a geladeira. Cobrir com filme e reservar.


Biscoitos de Café PERFEITOS PARA ACOMPANHAR O CAFÉ DA TARDE, ESTES BISCOITOS APRESENTAM UM FORMATO DE GRÃO DE CAFÉ DEPOIS DE PRONTOS. DELICADOS E ORIGINAIS.

230 G DE FARINHA DE TRIGO 150 G DE MANTEIGA MACIA 120 G DE AÇÚCAR 1 COLHER (CHÁ) DE CACAU EM PÓ 3 COLHERES (CHÁ) DE CAFÉ PASSADO Modo de fazer: Bater a manteiga com o açúcar até formar um creme. Dissolver o cacau no café e acrescentar ao creme. Adicionar a farinha formando uma massa homogênea. Reservar a massa no refrigerador por 2 horas. Depois, retirar do refrigerador e formar bolinhas do tamanho de uma noz, moldando os biscoitos em formato oval. Colocar em tabuleiro forrado com papel-manteiga untado e levar novamente ao refrigerador por 10 minutos. Fazer um pequeno talho vertical no meio de cada biscoito para imitar um grão de café. Levar ao forno a 1700C por 20 minutos. Deixar esfriar antes de retirar da forma.

Molho Verde com Azeite ExtraVirgem O MOLHO VERDE É TÍPICO DO NORTE DA ITÁLIA E PODE SER SERVIDO COM PASTA. PODE ACOMPANHAR CARNES, PEIXES OU MESMO NO PÃO, COMO BRUSCHETTA. AQUI O AZEITE DE BOA QUALIDADE É FUNDAMENTAL.

2 FILÉS DE ALICI 2 COLHERES (CHÁ) DE VINAGRE DE VINHO 1 DENTE DE ALHO AMASSADO 1 COLHER DE ALCAPARRAS (LAVADAS PARA TIRAR O SAL) 3 A 4 COLHERES (SOPA) DE AZEITE EXTRAVIRGEM 1 MAÇO DE SALSINHA (SOMENTE AS FOLHAS) FARINHA DE ROSCA CASEIRA (TORRAR O PÃO, TRITURAR COM O ROLO E PENEIRAR) Modo de fazer: Colocar no processador o alici, o vinagre, o alho, as alcaparras, as folhas da salsinha e o azeite. O molho não deve ficar muito líquido, para isso, equilibrar com a farinha de rosca, se for preciso. Cobrir com filme e reservar.

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Saúde Sabor Frango Caipira ao Vinho Tinto O FRANGO, OU A GALINHA CAIPIRA, TEM UMA ALIMENTAÇÃO MAIS NATURAL E MAIS VARIADA, ALÉM DISSO, ESTÁ MAIS ACOSTUMADO A CISCAR E A SE EXERCITAR E, PORTANTO, APRESENTA UMA CARNE MAIS FIRME E MUITO MAIS SABOROSA. EMBORA SEJA UM POUCO MAIS CARO QUE O COMUM, A QUALIDADE É INCOMPARÁVEL E VALE A PENA CADA CENTAVO PAGO A MAIS.

1 FRANGO CAIPIRA EM PEDAÇOS 1 CEBOLA PICADA

Tainha na Brasa

1 COLHER (SOPA) DE AZEITE

A TAINHA, ASSIM COMO A ANCHOVA, É PERFEITA PARA ASSAR NA CHURRASQUEIRA, JÁ QUE É UMA CARNE BASTANTE NUTRITIVA. É RECOMENDÁVEL MANTER AS ESCAMAS PARA NÃO QUEIMAR A CARNE DELICADA DO PEIXE. UMA OPÇÃO SIMPLES E DELICIOSA.

1 COLHER (SOPA) DE GENGIBRE PICADO

2 A 3 TAINHAS DE 500 G CADA SAL GROSSO FOLHAS DE SÁLVIA (OPCIONAL) GRELHA Modo de fazer: Acender o fogo e, assim que ficar em brasas, salgar as tainhas e, se quiser, colocar algumas folhas de sálvia dentro do peixe. Pôr na grelha e levar à churrasqueira para assar por uns 15 a 20 minutos de cada lado, ou até a pele ficar dourada. Retirar do fogo e servir em seguida.

1 CENOURA PICADA 3 COLHERES (SOPA) DE SALSÃO PICADO 3 COLHERES (SOBREMESA) DE CEBOLINHA VERDE PICADA 3 COLHERES (SOBREMESA) DE SALSINHA PICADA 1 COPO DE VINHO TINTO SAL ÁGUA FERVENTE, OU CALDO DE GALINHA PREPARADO PREVIAMENTE Modo de fazer: Numa panela grande aquecer o azeite e dourar os pedaços de frango. Em seguida adicionar a cebola e deixar dourar. Depois acrescentar a cenoura, o salsão e o gengibre (se preferir um sabor mais picante, adicionar o gengibre no final). Acrescentar o vinho e a água fervente, ou o caldo, até cobrir tudo. Abaixar o fogo, tampar a panela e deixar cozinhar lentamente por uns 40 minutos. Mexer de vez em quando e não deixar secar. Quando o caldo ficar reduzido, acrescentar mais água fervente. Quando estiver macio, adicionar a cebolinha, a salsinha e o sal. Desligar e deixar marinando por alguns minutos antes de servir.

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Creme de Baunilha (Crème Pâtissière) com Mirtilo O CREME DE BAUNILHA, OU CRÈME PÂTISSIÈRE, É UM CLÁSSICO DA CONFEITARIA. PODE SER USADO COMO RECHEIO, COBERTURA E ACOMPANHAMENTO PARA INÚMERAS SOBREMESAS. EXCELENTE COMO SOBREMESA DE VERÃO, AQUI O CONTRASTE DAS CORES JÁ ANUNCIA A COMBINAÇÃO PERFEITA DE CORES E DE SABORES.

Geleia de Uva A GELEIA OU, COMO É CONHECIDA NO RIO GRANDE DO SUL, A SCHMIER DE UVA É UMA EXCELENTE OPORTUNIDADE DE APROVEITAR A ABUNDÂNCIA DA FRUTA NO VERÃO E CONSERVÁ-LA POR MAIS TEMPO. IDEAL PARA A REFEIÇÃO MATINAL NO ACOMPANHAMENTO DE PÃES, IOGURTES E CEREAIS, TAMBÉM PODE SER USADA NO RECHEIO DE BOLOS.

2 XÍCARAS DE LEITE FRESCO INTEGRAL ½ XÍCARA DE AÇÚCAR REFINADO 2 GOTAS DE ESSÊNCIA DE BAUNILHA (OU BAUNILHA EM FAVA, COMO MELHOR OPÇÃO) 1 PITADA DE SAL 4 GEMAS

500 G DE UVA PRETA

¼ DE XÍCARA DE MAISENA

180 G DE AÇÚCAR CRISTAL

2 COLHERES (SOBREMESA) DE MANTEIGA EM TEMPERATURA AMBIENTE

ÁGUA Modo de fazer: Lavar bem as uvas e retirá-las do cacho. Colocar numa panela com água suficiente para cobrir a fruta. Aferventar a uva por uns 10 minutos. Deixar esfriar, passar na peneira, ou no molino manual, e levar novamente à panela, acrescentando o açúcar. Deixar em fogo baixo e mexer sempre. Assim que engrossar, retirar do fogo e colocar em recipiente de vidro, e cobrir com filme.

2 COLHERES (SOBREMESA) DE AÇÚCAR DE CONFEITEIRO (IMPALPÁVEL) FOLHAS DE HORTELÃ (OPCIONAL) Modo de fazer: Ferver o leite com a metade do açúcar, as gotas de baunilha (ou a fava que deve ser retirada depois) e a pitada de sal. Enquanto isso, bater bem as gemas com a outra metade do açúcar e a maisena. Quando o leite ferver, deixar esfriar um pouco e derramar lentamente uma parte do leite sobre a mistura das gemas, mexendo sempre, cuidando para não empelotar. Finalmente, acrescentar o restante do leite sobre as gemas até incorporar bem. Retornar essa mistura ao fogo, cozinhar em fogo médio, mexendo constantemente por uns dois minutos até começar a engrossar. Retirar do fogo e acrescentar a manteiga, mexendo sempre até dissolver completamente. Despejar sobre um recipiente de vidro, cobrir com filme e refrigerar por pelo menos 2 horas. Servir em taças e finalizar com os mirtilos frescos e folhas de hortelã sobre o creme. Peneirar um pouco de açúcar de confeiteiro (impalpável) sobre o mirtilo e servir imediatamente.

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Ser & Vestir ROBER TA GERHARDT

UMA BOA APOSTA: O TERNO DE VERÃO Sabe aquela combinação de bermuda com camisa e blazer? Pois nesta última temporada, as fashions weeks internacionais apostaram firme nesta tendência para o verão 2012. A ideia é o homem antenado ter o seu terno de verão, porém numa versão ousada: em vez de calça comprida, uma clássica bermuda, com ou sem gravata. Para quem gosta, pode e quer aderir, vamos a algumas dicas básicas. Primeiro de tudo: não pode ser qualquer bermuda, viu? Nada de achar que aquela bermuda bem esportiva que você usa nos finais de semana com camisetas é a que vale. Não. Nada disso. A bermuda precisa ser no estilo alfaiataria, com um comprimento logo abaixo da altura dos joelhos e, se possível, sem bolsos. Ela precisa ter aquela aparência elegante. O blazer ou o paletó também devem seguir o mesmo estilo elegante da bermuda. Você pode e deve brincar com as cores e padronagens de estampas. Mas se a ideia é valorizar seu tipo físico, então, quanto mais parecidos forem os tons e padrões do blazer e da bermuda a ilusão ótica será de uma silhueta mais alongada e magra. Esta proposta atual é um traje perfeito para uma descontraída festa, em lugares abertos, durante o dia. Mas alto lá! Nada de usar bermuda com paletó à noite, viu? E nem pense em usar em momentos formais, como em festas tradicionais ou em casamentos mesmo durante o dia, ao ar livre. Aproveite essa proposta para fazer o maior charme nos dias quentes de verão.

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dicas PARA A COMBINAÇÃO DE PALETÓ COM BERMUDA SEM O USO DA GRAVATA, O SAPATO IDEAL É O MOCASSIM SEM MEIA. JÁ PARA A COMBINAÇÃO COM GRAVATA, O SAPATO PERFEITO É O DE AMARRAR, BEM TRADICIONAL, COM OU SEM MEIA ESCURA. PARA OS MAIS OUSADOS, SAPATO EM TONS METALIZADOS E SEM MEIA FICAM SUPERLEGAIS. OS ACESSÓRIOS QUE ACOMPANHAM O LOOK MERECEM ATENÇÃO ESPECIAL E PODEM SER BEM COLORIDOS. O USO DE UM LENÇO NA LAPELA DO PALETÓ, CINTOS COM FIVELAS DIVERTIDAS OU MESMO UM CHAPÉU NO ESTILO PANAMÁ DEIXAM O LOOK UM ARRASO! SE A IDEIA FOR UM LOOK MAIS DESCONTRAÍDO, TROQUE A CAMISA PELA T-SHIRT. ELA PODE TER CORES BEM FORTES PARA FICAR EM DESTAQUE. SE O SAPATO TIVER O MESMO TOM DA T-SHIRT, VOCÊ VAI PARECER MAIS ALTO.


dicas USAR CAMISA DE SEDA BEM FECHADINHA ATÉ O PESCOÇO É SUPERATUAL. O QUE PARECIA SÉRIO DEMAIS AGORA É SINÔNIMO DE COOL. E PRESTE ATENÇÃO NOS BOTÕES DA CAMISA: DEPENDENDO DO MODELO ELES PODEM SUBSTITUIR OS ACESSÓRIOS; MAS AO CONTRÁRIO, SE FOREM DISCRETOS, AUTORIZAM BRINCOS E COLARES BEM OUSADOS. AS LISTRAS EM ROUPAS PLISSADAS FORMAM UM EFEITO BEM INTERESSANTE E SÃO UMA PROPOSTA SUPERATUAL. JÁ AS ESTAMPAS FLORAIS APARECEM EM CALÇAS QUE AGORA ESTÃO MAIS AMPLAS E CURTAS. MAS CUIDADO: SÓ AS MAGRAS E ALTAS PODEM ADERIR A ESSA SUGESTÃO DA MODA. O SHORT SUBSTITUI DE VEZ A MÍNI. PARA UM VISUAL BEM PRÁTICO E ELEGANTE, COMBINE-O COM CAMISA DE SEDA, MAXICARTEIRA ESTRUTURADA E SAPATO DE SALTO BEM ALTO E QUADRADO. A MISTURA DE MATERIAIS LEVES COM RÍGIDOS PERMANECE EM ALTA.

ATENÇÃO PARA OS TECIDOS E CORES Toda mulher aprecia o conforto, mas poucas conseguem encontrá-lo nas roupas que vestem sem ficar com um visual simples demais. Nos looks de festa então... Como é raro encontrar mulheres seguras vestindo roupas superconfortáveis, práticas e sofisticadas ao mesmo tempo – e tudo na medida certa que a ocasião exige. Existe uma fórmula certeira para resolver esta equação no dia a dia do guarda-roupa de modo bem pontual em cada caso. Mas aqui vou trazer alguns segredinhos, pois a moda atual também nos dá uma forcinha. Vamos aos exemplos? Comece prestando atenção em aspectos como: tecidos, recortes e cores. Hoje a indústria têxtil apresenta inúmeras opções de tecidos sofisticados e com alta tecnologia que facilitam muito no visual descomplicado. Há o linho que não amassa, há a seda que acompanha o cotidiano corrido sempre com a aparência impecável. O corte da roupa confortável e elegante também é fundamental. A moda preconiza a alfaitaria, então, aposte num corte bem ousado, num jeitão mais jovial, inesperado e descontraído para o visual ficar mais prático. As cores também são elemento fundamental para o look confortável e elegante. Quando bem combinadas, criam efeito tal que podem até dispensar acessórios sem deixar o look pobre. Quer mais praticidade do que isso? E a clássica combinação de cores neutras é sempre uma aposta certeira. As variações de beges, brancos com toques vibrantes de turquesa e vermelho estão em alta. Aproveite! ROBERTA GERHARDT É CONSULTORA DE MODA E ESTILO E COMPORTAMENTO rober tagerhardt@terra.com.br

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mulheres que amamos

QUEM ACOMPANHA A ESTILO ZAFFARI JÁ SABE: O NOME MULHERES QUE AMAMOS NÓS ROUBAMOS DA REVISTA PLAYBOY. MAS, AO CONTRÁRIO DA PRESTIGIADA REVISTA MASCULINA, NÓS MOSTRAMOS NOSSAS MULHERES SEMPRE BEM-VESTIDAS, E SEMPRE ESPETACULARES, IRRESISTÍVEIS. NESTA EDIÇÃO APRESENTAMOS ANA ZITA FERNANDES, HELOISA CROCCO E DIDI WAGNER, TRÊS ARTISTAS DE DIFERENTES RAMOS: GASTRONOMIA, ARTES PLÁSTICAS E COMUNICAÇÃO. CONHEÇA NOSSAS AMADAS:

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UMA TARDE COM HELOISA A primeira vez que estive no atelier-casa da Heloisa Crocco foi seguindo a varinha de condão da Letícia Remião. Ela disse: você vai adorar a Heloisa. E adivinha? Era inverno e fomos recebidas com sorrisos por uma criatura encantada, com cabelos repletos de história, alta como sequoias. Tudo em volta da Heloisa é feito de uma matéria-prima em extinção: coerência. Uma coerência afetiva, como se ela tivesse acordado um dia e dito para si mesma: só vou fazersentir-vestir-cantar o que for da minha própria natureza. O resultado disso é a paz. Viver num ambiente onde o que você ama e produz está de acordo com aquilo que você é e sente é o maior e mais raro dos privilégios. A casa da Heloisa tem paz, uma paz branca como a cor dos cabelos dela, que não só por senso estético combinam com a madeira escolhida, com as linhas retas da arquitetura e os pensamentos que saem direto de dentro do coração. Sentamos próximas do fogão, como se isso fosse necessário para aquecer a experiência que já é por si só um aconchego na alma. E tomamos café e comemos um pão com geleia. E falamos da vida, dos filhos, das viagens, do trabalho que a deixa lindamente entusiasmada. As ideias da Heloisa têm textura, vinco. Não são tolinhas, não nasceram ontem. Devem incomodar alguns, imagino. E libertar outros. Mas lá do meio da floresta encantada em que vive, ela parece não se importar. Seu trabalho com a madeira acaba por traduzir muito da sua própria essência. Uma natureza firme. Com raiz. Que não é qualquer vento que arranca do chão. TETÊ PACHECO, PUBLICITÁRIA



mulheres que amamos

PADEIRA ARTEIRA Ela já foi chamada de “Dama do Pão” e ficou toda orgulhosa com o título. Formada em Engenharia de Alimentos e padeira graças a uma desbragada paixão, Ana Zita Fernandes criou em Porto Alegre uma verdadeira grife de pães, a Barbarela Bakery. Instalada no coração do Moinhos de Vento, a padaria de Ana Zita tem uma clientela fiel, assídua e altíssimo astral. Os frequentadores do sobrado são fãs não só das diversas receitas desenvolvidas pela padeira como do ambiente descontraído, que reflete com exatidão a personalidade da dona: um pouco de arte, um pouco de cinema (a personagem Barbarela está presente em pinturas espalhadas pelas paredes da casa), um pouco de yoga, um tantinho de surf, um quê de gastronomia francesa, um toque esperto da culinária do improviso, um viés pop, outro de erudição, cor, filosofia, música, informalidade, alegria. Quem olha para Ana Zita, loirinha, miúda, sorridente, cara de menina arteira, não imagina ter diante de si uma autêntica gaúcha “faca na bota”. Mas ela faz jus também a esse título, tocando sozinha e com permanente sucesso um negócio que exige dedicação quase full time, paciência infinita e sabedoria de monge budista. Já se vão quase 10 anos (2012 é o ano da dezena!) e a Barbarela Bakery segue firme e forte, espalhando cheirinho de pão fresco e charme pelo Moinhos afora. POR MILENE LEAL, JORNALISTA

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DIDI WAGNER. MULHER (IN)COMUM Didi Wagner esteve em Porto Alegre recentemente para autografar o seu guia “Minha Nova York”. A ex-modelo Didi ganhou fama como VJ da MTV, e atualmente é apresentadora do canal pago Multishow. Tive a sorte de bater um papo com essa celebridade tão invejada por nós, mulheres – e tão amada por vocês, homens. Verdade seja dita: Didi é linda, descolada, antenada, viajada, faceira, bem-casada, bemvestida, vaidosa (põe vaidosa nisso!) e superfamília. Sim, ela tem três filhas – uma de 8, outra de 6 e a caçula de 2 anos e meio de idade. Como se não bastassem todos esses atributos, ela ainda é... simpática (puxa!). E mais: curte música e adora comer bem. Gostou tanto de fazer o seu Guia de NY que logo, logo terá outro saindo do forno. Didi morou com a família durante cinco anos em NY. E foi de lá que

comandou o programa de TV Lugar (In)Comum (do canal Multishow) com dicas garimpadas da Big Apple, regadas a trilha sonora escolhida a dedo. Falando em música, ela ainda está se recuperando de dois grandes eventos que apresentou em 2011 no Brasil: o Rock In Rio e SWU. E para 2012, Didi? “Tem um novo projeto que estreia em breve no Multishow. Vai ser mais elaborado e terá mais aporte”– comentou ela em tom de suspense. Sente falta de NY? “Falta da facilidade do metrô, do cappuccino gelado, do bagel com cream cheese e do banana pudding da Magnolia Bakery. Esse pudding é animal.” É, mulheres, temos que concordar com os homens e os 115 mil seguidores da Didi no twitter: ela é uma mulher apaixonante. ALEXANDRA ARANOVICH, PUBLICITÁRIA


Especial

Made in

Brazil TEXTO

E

FOTOS

POR

CRIS

BERGER


UM CRAQUE CHAMADO HELENO: O ATOR RODRIGO SANTORO RECRIA COM PRECISÃO A TRAJETÓRIA DO MAIS TORTO E TRÁGICO DOS ANJOS DO FUTEBOL BRASILEIRO EM FILME DIRIGIDO POR JOSÉ HENRIQUE FONSECA E EXIBIDO COM SUCESSO NO TIFF, EM TORONTO

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O TIFF, TORONTO INTERNATIONAL FILM FESTIVAL, Meados de julho e recebo o convite para viajar a Toronto em setembro. Confesso que não fiquei muito animada. O leste do Canadá não estava entre os cinco destinos que eu mais desejada conhecer, mas minha religião me proíbe perder oportunidades. Topei. As semanas passaram voando e quando eu vi estava embarcada para Toronto com uma credencial pendurada no pescoço me dando livre acesso a um dos festivais de cinema mais importantes do mundo: o TIFF, Toronto Internacional Film Festival, considerado um rival de Cannes e vitrine dos filmes que concorrerão ao Oscar. Comecei a gostar… Descobri uma Toronto cosmopolitana, multicultural, moderna, alternativa, rica, limpa e organizada. A presença dos chineses é evidente e Chinatown é ponto obrigatório de visita. Logo você percebe que ela parece uma cidade de muitas nacionalidades, costumes, hábitos e um incrível respeito ao próximo e a liberdade de expressão. A arte parece estar em todos os cantos, ela invade espaços públicos, calçadas em relevo, paredes grafitadas, esculturas pelas ruas, mostras itinerantes, cinemas e os festivais! É uma lista de festivais impressionante, e aqui começa a história de hoje... 94

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O TIFF, TORONTO INTERNATIONAL FILM FESTIVAL, Meados de julho e recebo o convite para viajar a Toronto em setembro. Confesso que não fiquei muito animada. O leste do Canadá não estava entre os cinco destinos que eu mais desejada conhecer, mas minha religião me proíbe perder oportunidades. Topei. As semanas passaram voando e quando eu vi estava embarcada para Toronto com uma credencial pendurada no pescoço me dando livre acesso a um dos festivais de cinema mais importantes do mundo: o TIFF, Toronto Internacional Film Festival, considerado um rival de Cannes e vitrine dos filmes que concorrerão ao Oscar. Comecei a gostar… Descobri uma Toronto cosmopolitana, multicultural, moderna, alternativa, rica, limpa e organizada. A presença dos chineses é evidente e Chinatown é ponto obrigatório de visita. Logo você percebe que ela parece uma cidade de muitas nacionalidades, costumes, hábitos e um incrível respeito ao próximo e a liberdade de expressão. A arte parece estar em todos os cantos, ela invade espaços públicos, calçadas em relevo, paredes grafitadas, esculturas pelas ruas, mostras itinerantes, cinemas e os festivais! É uma lista de festivais impressionante, e aqui começa a história de hoje... 94

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Especial

ceias O FILME

HELENO ARREBATOU A PLATEIA DO TIFF

jogamos pipoca, vamos atrás, vamos defender a pátria!”. E olha que ele nem é gaúcho! Mais risadas. Passadinha rápida no hotel para trocar de roupa. Publico uma foto da exclusiva no Facebook para atiçar o público. Rodrigo Santoro sempre gera muitos comentários… Tela grande, altíssima qualidade de imagem, escurinho, silêncio. O filme começa, todo em preto e branco, Santoro arrasa, me faz odiar Heleno, arrebata a plateia. A fotografia de Walter Carvalho é forte, marcante como a película. Fonseca filmou uma grande obra de arte. The end. Todos estão encantados. Passo uma mensagem de texto pelo meu celular dizendo: um dos melhores filmes que já vi. O orgulho brota, é nosso cinema, do nosso país, fazendo bonito no TIFF. E daí vem a lembrança: algumas horas antes eu estava com o diretor e o astro, conversando, fotografando, e eu dizendo para Fonseca: “Confia em mim!”. Os dois são chamados ao palco, a plateia começa a fazer perguntas. Canadenses, estrangeiros querendo saber mais, assim como nós, de boca aberta e queixo caído, impressionados com o belo filme, tão cheio de paixão e intensidade. Simplesmente: Made in Brazil. Toronto jamais será esquecida!

A JORNALISTA VIAJOU A CONVITE DO TURISMO DE TORONTO

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Palavra

LUÍS AUGUSTO FISCHER

DE DERRETER CATEDRAIS Prepare seu coração para o centenário mais interessante do país neste ano que começa, no campo cultural: em 1912, precisamente em 23 de agosto, nascia, no Recife, Nelson Falcão Rodrigues, o dramaturgo genial, o narrador insinuante, o cronista filósofo que interpretou a alma brasileira como poucos. Sua trajetória pessoal é uma montanha-russa das grandes. Filho de jornalista combativo em Pernambuco, já na infância desceu para o Rio de Janeiro com mãe e irmãos, vindo a conhecer dificuldades de toda ordem. Alguns anos depois, seu pai já é proprietário de jornal na então capital federal, dispondo de poder e dinheiro; mas toma o lado politicamente mais difícil, quando da ascensão de Getúlio, e vem a perder quase tudo, inaugurando mais um período de baixa para a família. Já trabalhando no jornal de seu pai desde os 13 anos, Nelson acompanha, na flor da juventude, outros solavancos: um irmão morre assassinado; o pai morre logo depois, de desgosto; o próprio Nelson, junto com outro irmão, é vítima de tuberculose, doença que naquela época matava, mas que milagrosamente poupa o futuro escritor. Tudo isso antes de ele começar a escrever teatro, mas já com a leitura de Dostoiévski feita e refeita, numa prova de afinidade de temperamento que o tempo confirmaria. (Há uma excelente biografia dele, feita por Ruy Castro: O anjo pornográfico, da Cia. das Letras.) Nos anos 40, Nelson se dedica a fazer uma revolução nos palcos brasileiros, especialmente com Vestido de noiva, peça que consagrou o autor pela inventividade (o espectador acompanha simultaneamente três planos de tempo) e pela força de linguagem (ele foi o primeiro dramaturgo a botar na boca dos personagens a linguagem suada das ruas brasileiras, contra o sotaque empolado que ainda imperava). Dali por diante, sucederam-se várias outras peças, todas de excelente nível, dezenas de contos, alguns romances e milhares de crônicas – e estas são a sugestão de leitura para o ano. Se o prezado leitor não conhece, recomendo que se dê este presente: ler O óbvio ululante, A cabra vadia, O reacionário, ou as me-

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Estilo Zaffari

mórias de A menina sem estrela, ou algo de sua produção cronística ligada ao futebol. Ali a gente encontra o Brasil que gira em torno do Rio de Janeiro, o Brasil da vida urbana carioca, da cultura letrada, do futebol tricampeão mundial de futebol (ele só acompanhou os três primeiros canecos, em 58, 62 e 70, porque faleceu em 1980). Sua crônica, que para mim é parente do nobre gênero do ensaio (escrevi um longo estudo sobre esse parentesco: Inteligência com dor – Nelson Rodrigues ensaísta, pela editora Arquipélago), floresceu nos anos 1960, ele já maduro, tendo como cenário aquela turbulência que resultou do choque entre a energia da revolução de costumes – feminismo, rock’n’roll, televisão, tropicalismo, etc. – e o travamento geral que foi a ditadura militar no Brasil. Nelson adorava confrontar o pensamento dos jovens de então com suas ideias claramente conservadoras, debaixo das quais estava sua notável inteligência, sua aguda capacidade de comentar a vida, seu sentido alerta para o drama humano. Exagerado, hiperbólico, Nelson cunhou expressões de grande eloquência, como o frio de rachar catedrais, oposto ao calor de derreter as mesmas catedrais. E suas frases? “O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem.” “O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: – a imaturidade.” “A pior forma de solidão é a companhia de um paulista.” E por ele ia, por aí foi, numa obra que, olha, sem querer exagerar, ou a gente conhece, ou deveria cair de quatro, para nunca mais levantar. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR



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