Revista Educ@cional | V. 04

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nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32). Tal cenário não é uma miragem e sim uma utopia.

capacidade de observarmos uma realidade que está dentro de nós, mas que se constrói nas relações que temos com os outros, com o mundo e com Deus”. (CANDIOTTO, 2010, p. 7).

Para que uma escola implante este novo paradigma é necessário que toda comunidade educativa entenda os fundamentos do processo de evangelização.

O princípio da participação, muito prezado por Jesus e pelas primeiras comunidades cristãs, é uma fonte inesgotável para o trabalho escolar numa perspectiva pastoral. O episódio da multiplicação dos pães (Lc 9, 10 – 17) e a vida dos primeiros cristãos (At 2, 42-47), dentre outros, são relatos paradigmáticos. Eles comunicam a boa notícia de que onde existe envolvimento de todos e respeito pelas pessoas da comunidade não falta o necessário para a sobrevivência de todos. Numa sociedade marcada pelo subjetivismo e pelo hedonismo, com a supervalorização do ter em detrimento ao ser, tal paradigma se constitui numa afronta aos dogmas do capitalismo neoliberal.

3 ELEMENTOS EVANGELIZAÇÃO

ESSENCIAIS

DA

Evangelizar é a ação de propagar o evangelho. Em nota de rodapé (a) do evangelista Marcos (1,1) a Bíblia de Jerusalém explica que evangelho é “a Boa Nova – esse é o sentido da palavra grega evangelho – é a da vinda do Reino de Deus”, apresentada por Jesus de Nazaré, que viveu na Palestina, no início da era cristã. Com sua morte, por volta do ano 30 d.C., ele incumbiu seus seguidores de continuar proclamando sua mensagem nos lugares mais distantes: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Não era sua intenção fundar uma religião, mas proclamar o reino de Deus. O surgimento de uma doutrina e, posteriormente, de uma religião foi conseqüência natural do trabalho desenvolvido por seus discípulos. O mandato de Jesus Cristo, passados vinte séculos, se cumpriu e é realidade na vida de um terço do povoamento mundial, espalhados por inúmeras denominações religiosas. Sob a perspectiva do Cristianismo vivenciado numa escola católica, que é o foco desta reflexão, cabe ressaltar que a ação evangelizadora nesse espaço comporta dois elementos essenciais: o diálogo e a participação. Tais elementos encontram nos principais documentos católicos (Concílio Vaticano II, Documentos da Conferência Episcopal Latino-Americana - Medelin, Puebla, Aparecida – e as Diretrizes da Ação Pastoral da Igreja no Brasil) sua explicitação e alcance. O diálogo e a participação, que se desdobram em muitos outros princípios, dizem respeito à Boa Notícia de Deus para o ser humano. Não são conceitos abstratos desprovidos de realidade histórica. Falam concretamente das realidades humanas vividas nos mais variados espaços, inclusive numa escola formal. “A ação evangelizadora se realiza entre seres humanos. É impossível flagrá-la em um objeto à parte das relações, do mesmo modo como flagramos uma casa, uma ponte, uma obra de arte. A possibilidade de a ação evangelizadora ser um objeto de reflexão está relacionada à

O trabalho pastoral em uma escola não é algo pronto e acabado. Ainda que existam diretrizes locais, necessárias e úteis, o princípio da participação não pode prescindir dos atores envolvidos com a comunidade educativa. Trata-se de um processo e como tal demanda o envolvimento das pessoas. Aqui é importante destacar que tal princípio não é sinônimo de “democratismo”, ou seja, a postura obtusa segundo a qual tudo tem que ser resolvido por todos, mediante argumentos e votações infindáveis. Isso inviabilizaria qualquer organização mais complexa e dinâmica. A participação é sim oportunidade de envolvimento das pessoas, liberdade de expressão de idéias, capacidade de comunicação, gestão compartilhada e responsável, enfim um exercício de protagonismo. As conquistas e os fracassos são celebrados ou assumidos, respectivamente, por todos. O diálogo, outro princípio da ação evangelizadora, tem sua força nas ações de Jesus e de seus seguidores. O desejo maior do diálogo de Deus conosco se expressou na encarnação de seu Filho. Não sem razão, São João, afirma no prólogo de seu evangelho que “A Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (1, 14a). Outro episódio rico em simbolismo envolvendo a capacidade de diálogo de Jesus se deu no caminho de Emaús. Ali Jesus experimenta o verdadeiro diálogo com dois viajantes desanimados e sem esperança que retornam à sua aldeia. Pedagogicamente, Jesus, o mestre, se coloca ao lado de dois discípulos cegos pela ilusão. Entra no mundo deles; ouve suas angústias; reporta-se às Escrituras; explica a relação entre as narrativas e os fatos; dá-se a conhecer num gesto concreto de refeição; abre-lhes os olhos e o coração e, depois, faz ressurgir neles a esperança. Uma escola em pastoral não pode prescindir deste


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