Revista Ecológico - Edição 96

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MONICA PERES

Diretora-geral da ONG internacional Oceana

FIQUE POR DENTRO

“A pesca depende da reposição natural, biológica. Se você aumentar o número de barcos e pescadores, vai chegar um tempo em que o estoque não consegue se repor.” ras. Em todos os países que manejam bem suas pescarias, a própria atividade de pesca subsidia a coleta, análise e pesquisa. É importante lembrar que a pesca é uma atividade diferente da agricultura, por exemplo. Na agricultura, quanto mais se investe, mais se produz. Quanto mais terra, mais sementes, mais fertilizantes e mais maquinário, maior a produção. Na pesca, você depende da capacidade de reposição natural, biológica, da população ou estoque de peixes. Se você aumentar o número de barcos e pescadores, vai chegar num ponto em que o estoque não consegue mais se repor e a produção vai começar a diminuir drasticamente. Coletar informação é importante para saber onde está esse ponto, esse nível máximo em que podemos chegar, até onde você pode pescar sem comprometer a sustentabilidade da atividade.

A extensão do litoral brasileiro, de 8 mil quilômetros, seria uma dificuldade para controlar a pesca?

Os Estados Unidos têm litoral três vezes maior e conseguem controlar e manejar a pesca. O problema do Brasil é que toda a gestão da pesca está concentrada em Brasília (DF), nos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Não há uma descentralização do manejo e controle das pescarias menores para o nível regional ou estadual. Isso sim dificulta o controle. Imagine que uma pescaria típica de um estuário ou rio, hoje, deveria ser monitorada, manejada e controlada daqui de Brasília (DF). Isso é um absurdo. Nos Estados Unidos, até uma certa distância da costa, as pescarias são manejadas pelos estados. No Brasil, que é um país com muita diversidade, com a maior parte da costa em regiões tropicais, existem mais razões ainda para pensarmos em mecanismos eficientes para essa descentralização.

Qual a principal meta da Oceana para 2017 e os anos seguintes? Nós queremos contribuir para que o país invista na qualificação de todo o sistema de gestão

A Oceana foi criada em 2001 para trabalhar exclusivamente na proteção e recuperação dos oceanos em escala global, por meio de campanhas e estudos científicos. A organização está presente em sete países e na União Europeia, que, juntos, são responsáveis por mais de 40% da produção de pescado do mundo. Atua no Brasil desde julho de 2014.

pesqueira. Temos que ter coleta e análise de informações pesqueiras e especialistas independentes responsáveis pelas recomendações científicas. Deveríamos ter uma instância, um órgão responsável pela tomada de decisão. Mas precisamos também de marco legal que defina que essas decisões devem seguir as recomendações cientificas.

É possível saber qual é a situação dos estoques pesqueiros hoje no Brasil? A situação é muito grave, pior do que em outros países, principalmente por essa fragilidade na gestão pesqueira. A maioria das pescarias e espécies-alvo está sobrepescada. Nós temos pesca excessiva e não manejada. Temos muito mais barcos do que os estoques aguentam. Sem manejo, sem fiscalização, sem informação e ciência não chegaremos a lugar nenhum. É um prejuízo imenso e uma falta de visão não fazer o que deve ser feito. Queremos que todos se juntem a nós nessa luta para que possamos reverter essa situação, porque é possível, fácil e barato. Só falta vontade. Vamos lá?  SAIBA MAIS

www.oceana.com.br

MARÇO DE 2017 | ECOLÓGICO  24


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