Revista Ecológico - Edição 115

Page 25

FOTO: FERNANDA LIGABUE / GREENPEACE FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK

MARCELLE CANGUSSU, a primeira vítima identificada

e atitude. Além disso, devemos adotar juntos um lema: ‘Mariana nunca mais’. Que tenha sido a última vez que essa empresa esteja envolvida direta e indiretamente num desastre ecológico e social da dimensão que foi Mariana”. Mas não foi a última vez. Certamente, a consternação de Schvartsman não é maior do que a dor, a tristeza, a apreensão e a revolta dos parentes das vítimas, que passaram a se aglomerar na porta do Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte e no Centro de Convivência, em Brumadinho, aguardando a liberação de corpos e em busca de informações sobre os desaparecidos. A primeira vítima identificada foi a médica Marcelle Porto Cangussu, de 35 anos. Ela comemorou seu aniversário exatamente um dia antes da tragédia.

Bombeiros, homens da Polícia Militar e agentes da Defesa Civil ainda seguem na busca por sobreviventes. CENÁRIO DESOLADOR Bairro rural de Brumadinho, o Córrego do Feijão recebeu este nome graças a uma história inusitada. Moradores contam que, tempos atrás, um carro de boi carregado de feijão tombou no curso d’água. Agora, essa e outras memórias afetivas da comunidade estão apagadas sob a lama. Quase 12 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério desceram da barragem da Vale, que tinha 86 metros de altura e comprimento de crista de 720 metros. Além de destruir as instalações da mineradora, a lama também atingiu o Rio Paraopeba, um dos principais afluentes do Rio São Francisco.

Vários vídeos que circulam na internet mostram peixes mortos no leito do rio contaminado. Segundo a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), o Sistema Paraopeba é responsável pelo abastecimento de 43% da população da RMBH. A captação segue interrompida desde 25 de janeiro. Em manifesto publicado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, o presidente Winston Caetano ressaltou que toda a bacia foi afetada de forma brutal e significativa, com o total desaparecimento do Córrego do Feijão e suas nascentes. Ele reafirmou a responsabilidade da Vale pelo rompimento e a falta de um plano de evacuação. “Não teve plano de emergência e nem sequer foi acionada a sirene. Isso deixou a

2

JAN/FEV DE 2019 | ECOLÓGICO  25


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.