Revista de Agronegócios - Edição nº 111

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AGRISHOW 2015

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FOTO DE CAPA

FENICAFÉ 2016. Aspecto do ambiente interno da Fenicafé, em 2015, mostrando os estandes das empresas. Foto: Henrique Vieira / Foto Geraldo

MÁQUINAS

Feira Nacional de Cafeicultura Irrigada em Araguari (MG)

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Considerada como referência nacional e internacional, a FENICAFÉ – Feira Nacional de Cafeicultura Irrigada reúne todos os anos em Araguari, no Triangulo Mineiro, especialistas, estudantes e produtores de café. É uma grande oportunidade para discussão de aspectos relevantes da cafeicultura irrigada e tem contribuído para o crescente cultivo dessa modalidade no Brasil. Em 2016, o evento chega à sua 21ª edição e será realizada de 08 a 10 de março, no Pica Pau Country Club, na cidade de Araguari (MG).

Resultados de 2015 foram positivos para a LS Tractor

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Aumento da rede de concessionários, exportação para a África, consolidação do Barter como modalidade de financiamento, ampliação do portifólio, são algumas das razões para o sucesso.

LEITE

Avaliação genética na produção de leite

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Artigo de Glayk Humberto e Vânia Mirele, que abordam a importância da avaliação genética, que tem por objetivo estimar o mérito genético dos animais, identificando os melhores.

Principais dúvidas sobre a efetividade da Tecnologia Bt

GRÃOS

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Em março de 2014 foi confirmada pela DuPont Pioneer a quebra da resistência da Lagarta-doCartucho à tecnologia Herculex®. Desde então uma nova proposta de refúgio foi apresentada.

Incidência de ferrugem tardia causa perdas

CAFÉ

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esmo com todas as intempéries dos últimos meses (alterações climáticas, medidas econômicas desastrosas, câmbio), o Agronegócio Brasileiro mantém o seu ritmo e mostra a sua força já desde o começo do ano. Durante todo o ano, são várias as feiras agropecuárias em todo o País. A primeira, que merece destaque, é a Show Rural Coopavel, que aconteceu em Cascavel (PR) e recebeu mais de 235 mil visitantes. Neste mês de fevereiro, destaque para a INOVASHOW Ma Shou Tao, maior encontro técnico de campo do Brasil Central, que reúne os melhores especialistas do setor agropecuário, que vão compartilhar os resultados de pesquisas e experiências na área, agregando eficiência e produtividade à gestão das fazendas. Destaque, também, para a 5ª FEMEC - Feira de Agronegócio do Estado de Minas Gerais, que acontece em março em Uberlândia (MG); para a 15ª FEMAGRI - Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas da Cooxupé, que acontece em março em Guaxupé (MG); a 15ª TECNOSHOW COMIGO, que acontece em abril em Rio Verde (GO) e a FENICAFÉ - Feira Nacional de Cafeicultura Irrigada, que acontece em março em Araguari (MG). Na pecuária leiteira, publicamos artigo do Engº Agrº Daniel Dias, da Agronomics Consulting, que aborda a “força” do produtor de leite no Brasil, que ignora todas as adversidades e continua na atividade. Na criação de equinos, destacamos dois artigos para a criação de potros. O primeiro, aborda a importância e os caminhos de se cuidar de um potro órfão. Já no segundo, a Médica Veterinária Cláudia Ceola aborda as doenças ortopédicas que prejudicam o desenvolvimento dos potros. Já para a produção de grãos, destaque para um novo artigo de pesquisadores da Pioneer, que abordam as principais dúvidas a respeito da efetividade do refúgio na durabilidade da Tecnologia Bt. Na cafeicultura, publicamos vários artigos e matérias. Destaque para a colheita superprecoce da O´Coffe, em Pedregulho (SP) e para o para o artigo do pesquisador Celso Vegro: “O Levante da Catação”, que aborda a importância de se rever a questão da Estimativa de Produção, da qual, pelos números que vemos hoje, estão completamente fora da realidade. Destaque, também, para o Circuito Tecnológico Syngenta 2016, realizado na Agropecuária Conquista, em Jeriquara (SP), de propriedade do cafeicultor Rodrigo de Freitas. A técnica do Ultra-Adensamento no plantio de citros é destaque na fruticultura, juntamente com a técnica da adoção da luz ultravioleta no combate da Podridão do Melão. Na horticultura, destaque para o projeto da EMBRAPA Hortaliças que contempla ações de prevenção de doenças que afetam o cultivo do alho e da cebola, bem como para o artigo que mostra a inclusão de linhagens de Berinjela ‘Ciça’ no processo de certificação do MAPA. Boa leitura a todos!!!!

ORGÂNICOS

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Grandes Feiras movimentam o agronegócio em todo o país

DESTAQUE: FENICAFÉ 2016

EDITORIAL

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Artigo da equipe do NECAF/ GHPD, que aborda as grandes perdas aos cafeicultores em decorrência da incidência da Ferrugem Tardia, causada pelo fungo Hemileia vastratix.

Linhagens da berinjela ‘Ciça’ são certificadas pelo MAPA

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Híbrido originário do cruzamento entre genótipos resistentes a doenças, como a antracnose e à podridão-de-fomopsis, a berinjela “Ciça” foi lançada em 1991 pela Embrapa Hortaliças.


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contatos

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HENRIQUE SANTOS AUGUSTO (henrique.agrosant@hotmail.com) Engenheiro Agrônomo - Conceição da Aparecida (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. MARCOS ROBERTO A. LOURENÇO (marcoslourenco777@gmail.com) Técnico em Agropecuária e em Cafeicultura - Itamogi (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. LARA DA SILVA VERÍSSIMO (laraverissimo@yahoo.com.br) Técnica em Agropecuária - Franca (SP). “Gostaria de assinar a Revista Attalea”. ROUALLI TRINDADE (roualli.trindade@gmail.com) Agricultor Orgânico - São Paulo (SP). “Trabalho a Agricultura Orgânica no interior de Minas Gerais e gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. GABRIEL CARDOZO ALMEIDA LARA Engº Agrônomo - São Gonçalo do Rio Abaixo (MG). “Solicito alteração do meu endereço para continuar recebendo a Revista Attalea”. RONAN DE PÁDUA SILVA DE LIMA (ronanpadua@yahoo.com.br) Engenheiro Agrônomo - Ribeirão Preto (SP). “Sou consultor em cafeicultura e em pecuária pela empresa Via Verde, de São Sebastião do Paraíso (MG) e gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. ANDERSON OLIVEIRA DE AVILLA (andersonavilla1@hotmail.com) Produtor Rural - Carazinho (RS). “Quero receber a Revista Attalea Agronegócios”.

SOC. EDUCACIONAL CONCORDIA (financeiro@facc.com.br) Faculdade Agronomia - Concórdia (SC). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”.

YAGO HENRIQUE COUTO FREITAS (yago-henrique123@hotmail.com) Engenheiro Agrônomo - Ipuiuna (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”.

HUMBERTO SILVEIRA MACEDO (humbertoespigao@artefinal.com.br) Engenheiro Agrônomo - Alfenas (MG). “Sou produtor de café e gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”.

CLEIDE JUSTINA BRAND (cleide_brand@sicredi.com.br) Gerente de Negócios Sicredi Serrana Garibaldi (RS). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”.

BRUNA MINUSCULI ZANATTA (bru.mzanatta@outlook.com) Técnica em Agropecuária - Bento Gonçalves (RS). “Sou representante comercial e gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”.

CATIA ARAUJO (rp@obahdesign.com.br) Design de Embalagens - Belo Horizonte (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”.

PAULO SÉRGIO NUNES (psnunes74@gmail.com) Engenheiro Agrônomo - Campo Mourão (PR). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. ANTONIO A. ALVARENGA CARVALHO (estiva@emater.mg.gov.br) Extensionista Agropecuário - Estiva (MG). “Gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”. LUCIANO SILVA LEMOS (ilicinea_@hotmail.com) Produtor Rural - Boa Esperança (MG). “Sou produtor rural de café e leite e gostaria de receber a Revista Attalea”.

MARCOS ANDRÉ ORZECHOSKI (marcosandre@coopermil.com.br) Revenda - Santa Rosa (RS). “Gostaria de receber a Revista Attalea Agronegócios”. SUZANA SILVEIRA GOMES (suzana.gomes@fatec.sp.gov.br) Estudante - Franca (SP). “Faço o curso de agronegócios da FATEC de Mogi das Cruzes e gostaria de assinar a Revista Attalea”. PAULO MARCELO SANTOS RIBEIRO (pmarcelo_st@yahoo.com.br) Produtor Rural - São Luís (MA). “Trabalho com fruticultura, apicultura e olericultura e gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”.

RENATA LETÍCIA DUTRA (renataldutra@hotmail.com) Estudante de Agronomia - Ilicínea (MG). “Gostaria de receber a Revista Attalea”.

VINICIUS RISTOW VARGAS (vinicius.ristowvargas@yahoo.com) Técnico em Agropecuária - Santo Antônio das Missões (RS). “gostaria de assinar a Revista Attalea Agronegócios”.

GLAUCO RAFAEL C. MADUREIRA (agropaisprojetos@hotmail.com) Consultor - Combinado (TO). “Gostaria de receber a Revista Attalea”.

MATEUS LEVI FÉLIX DE LIMA (mateuslevilima@gmail.com) Pequeno Produtor - Franca (SP). “Gostaria de assinar a Revista Attalea”.


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MÁQUINAS

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umento da rede de concessionários, exportação para a África, consolidação do Barter como modalidade de financiamento para aquisição de tratores na cafeicultura, ampliação do portifólio de produtos, prêmio Trator do Ano na categoria Especial, para o modelo R60, são algumas das razões para que o ano de 2015 tenha trazido um fechamento positivo para a fabricante de tratores sul-coreana LS Tractor. Conforme o diretor comercial da empresa, André Rorato, diferente da maioria das montadoras, a marca fechou o ano com um crescimento de 10% sobre as vendas de 2014 “e projeta um 2016 no mínimo, semelhante ao ano passado”, acredita. Para Rorato a abertura de novos pontos de vendas em regiões e estados com grande atuação na agropecuária contribuiu sem dúvida alguma para a conquista do resultado passado. “Abrimos 50 lojas em 14 estados ao longo destes dois anos que estamos no Brasil, sendo mais de 50% no ano passado. Isto é significativo para uma marca entrante no mercado de tratores”, assinala o executivo. Ele acrescenta que, além disto, ser escolhido por compradores da África foi importante para iniciar a abertura de negócios no exterior. “Agora estamos trabalhando na montagem de uma base comercial no México para atender toda a América Central e do Norte a partir da fábrica brasileira, isto deve abrir novas oportunidades em termos de exportação, a curto espaço de tempo”, assegura Rorato. Com as alterações nas linhas de crédito oficial ao produtor rural, a LS Tractor desenvolveu, em parceria com uma trading especializada em negócios com café, uma modalidade de financiamento, o Barter, que permitiu aos cafeicultores adquirirem tratores da LS. “Fomos pioneiros em 2014 e obtivemos um resultado muito importante com o faturamento em torno de R$ 10 milhões em vendas. Agora, consolidamos e crescemos 50% sobre este faturamento”, assinala o diretor comercial, acres-

FOTOS: Divulgação LS Tractor

Resultados de 2015 foram positivos para a LS Tractor

centando que também contribuiu para isto o lançamento de dois modelos focados no mercado de café, o R60 e o G40 estreito, excelentes para culturas de ruas adensadas. “Aliás, temos que destacar também que além destes dois modelos, lançamos em final de agosto, durante a Expointer 2015, uma das principais feiras agropecuárias do País, o modelo R60C (cabinado) que veio completar o portfólio de produtos da LS Tractor”, acrescenta Rorato. Com isto, a marca chega a 18 modelos em quatro séries, G,R,U e P, ampliando a oferta de produtos, de média e baixa potência, fabricados no Brasil. “Percebemos que os diferenciais tecnológicos que trouxemos para o Brasil, atenderam às expectativas dos produtores rurais, este também foi um dos motivos para os nossos resultados positivos”, afirma Rorato, acrescentando que, por conta disto, a LS já desenvolve estudos de viabilidade para novos modelos ou séries.


PECUÁRIA

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LEITE

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Glayk Humberto Vilela Barbosa1 e Vânia Mirele Ferreira Carrijo2

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FOTO: ABCZ

Avaliação genética para produção de leite avaliação genética é processo integrante de um programa de seleção e tem por objetivo estimar o mérito genético dos animais, identificarem os melhores e, assim, orientar as decisões de acasalamento. A precisão das avaliações genéticas e os acertos das decisões de acasalamento são, entre outros fatores, determinantes das taxas de progresso genético que indicam a eficácia dos programas de seleção. A seleção para características desejáveis tem sido praticada em bovinos desde sua domesticação, ocorrida há, aproximadamente, 7.500 a 10.000 anos. Até o início do século passado, entretanto, tal seleção era feita com base na avaliação visual. A partir de 1930, começaram a serem estabelecidos os métodos científicos, estatísticos e computacionais para avaliação genética de animais domésticos. Dessa forma, o melhoramento tradicional, tem assegurado ganho genético contínuo na maioria das características de interesse econômico na pecuária de leite. Comparados às outras espécies de animais domésticos, os bovinos, em especial os explorados para produção de leite, apresentam algumas particularidades em termos do valor de cada animal, do longo intervalo de gerações e da limitada fertilidade das fêmeas. Desse modo, os programas de melhoramento de gado de leite são baseados na seleção dentro de populações comerciais ou nos cruzamentos entre animais de duas ou mais raças. Na maioria dos países europeus, nos Estados Unidos e no Canadá, tais programas são baseados em teste de progênie, delineamento mais apropriado para grandes e médias populações, o qual objetivo predizer, com alta confiabilidade, a contribuição genética média de um reprodutor para a fu-

AUTORES

1 - Zootecnista, B.Sc. Mestrando em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia. Jurado Efetivo de Raças Zebuínas e Assessor de Pecuária Leiteira. Email: glaykhumbertovilela@yahoo.com.br 2 - Médica Veterinária, M.Sc. Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia. Docente do Centro Paula Souza. Atua na área de sanidade, escrituração zootécnica e biotecnologia da reprodução.

tura progênie (PTA - Habilidade de Transmissão Predita). Torna-se importante, então, saber interpretar e usar adequadamente a PTA e a confiabilidade associada a ela. Por ser um país de dimensões continentais, o Brasil apresenta uma enorme variação de clima e de manejo nos rebanhos leiteiros. Assim, sistemas produtivos em que se utilizam raças européias especializadas, com a Holandesa, a Jersey ou a Parda- Suíça, podem apresentar bom desempenho zootécnico e econômico em determinadas regiões, mas os animais são mais exigentes em manejo, principalmente no que se refere à alimentação e sanidade. Assim, a adoção de uma estratégia de cruzamento entre animais de raças européias e zebuínas pode ser interessante, tendo como finalidade reunir em um só animal as características desejáveis de duas ou mais raças, como a rusticidade dos animais das raças zebuínas, como a Gir Leiteiro, Guzerá, Indubrasil e o Sindi, e o potencial produtivo das raças européias. É importante dizer que, nas duas últimas décadas, as pesquisas em melhoramento genético têm sido direcionadas também no sentido de incorporar as informações de marcadores de DNA que estejam associados às características de importância econômica, ao processo de seleção, o qual é chamado seleção genômica. A inclusão de marcadores ao processo de seleção pode duplicar os ganhos genéticos e diminuir os custos de testes de progênie tradicionais em até 92%. Nos últimos anos, as avaliações genéticas no Brasil de touros são disponibilizados em um Sumário, no qual são apresentadas as informações sobre o mérito genético de cada um. O conjunto dos resultados indica o nível genético


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que está sendo alcançado pelo uso de sêmen desses touros nos rebanhos nacionais. Havendo mais filhas ou progênies de touros melhores classificados, maior é o nível genético dos rebanhos. Esse nível genético pode ser observado na maior produção de leite das filhas e, por conseguinte, na maior produtividade dos rebanhos. Portanto, os resultados apresentados no Sumário orientam os criadores e produtores sobre os touros que eles têm utilizado, possibilitando verificar se efetivamente estão promovendo melhoria genética em seus rebanhos, os quais, no seu conjunto, indicam a melhoria genética dos rebanhos leiteiros no Brasil. A estrutura das bases de dados de desempenho produtivo, utilizadas nas avaliações genéticas são produção de leite, proteína e gordura. A estratégia de integração dos serviços de controle leiteiro aos laboratórios de qualidade do leite, mediante o envio de amostras de leite das vacas sob controle para análise, tem favorecido o crescimento contínuo de dados sobre o conteúdo de proteína e também da contagem de células somáticas (CCS). As avaliações genéticas para CCS é indicador de resistência a mastite. A medida padrão de produção de leite mais usada nas avaliações genéticas de vacas e touros é a produção até 305 dias de lactação (P305). A produção de cada mês, calculada com base na produção de leite no dia do controle, é acumulada com o total de meses anteriores, para estimação da produção até 305 dias. Mesmo em países de pecuária leiteira mais tecnificada, até recentemente, uma vez estimada esta produção, os controles mensais eram descartados, em virtude da falta de recursos computacionais para armazenamento

(Ptak & Schaeffer, 1993; Wiggans & Goddard, 1997). Com os recentes avanços na área de informática, este descarte não é mais necessário. Os controles podem, então, ser usados em estudos da curva de lactação de fatores que afetam cada controle e para avaliações genéticas dos animais. Além disso, os modelos para controle leiteiro podem considerar a forma da curva de lactação, o efeito do número de dias em produção, o efeito peculiar do dia do controle para todas as vacas e os efeitos específicos para cada vaca no dia do controle, tais como número de ordenhas, duração do período seco, duração do período de serviço anterior e corrente, prenhez ou doença. As vacas podem ser avaliadas antes que suas lactações sejam encerradas, sem necessidade da utilização de fatores de ajustamento ou projeção da produção. Também, os touros podem ser avaliados com maior confiabilidade, uma vez que poderá haver maior número de filhas com produção (Ptak & Schaeffer, 1993; Swalve, 1995b). Com a calculada com base na produção de leite no dia do controle é possível avaliar os animais mais cedo, permitindo a seleção dos melhores para a reprodução no início da vida útil, possibilitando redução no intervalo de gerações. Cresce o interesse pela execução de programas de melhoramento genético em raças leiteiras no Brasil e o mercado tem respondido positivamente aos resultados alcançados. Estes resultados têm sido animadores, como pode ser observado pelo grande crescimento nos valores genéticos dos animais participantes dos programas. Alguns fatores dificultam uma maior expansão dos programas, tais como a dimensão continental do País, baixa utilização rotineira de controle leiteiro nos rebanhos e reduzido uso da inseminação artificial. Estes fatores conduzem à necessidade de se procurar o envolvimento de um maior número de rebanhos colaboradores e de arcar com grandes despesas para realização do controle leiteiro e zootécnico nestes rebanhos. Apesar das dificuldades, acredita-se que os programas de melhoramento tendem a crescer cada vez mais, em conseqüência dos benefícios econômicos e sociais propiciados pela execução continuada dos mesmos.


LEITE

“O produtor de leite brasileiro é um verdadeiro guerreiro!”

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FOTO: Sindileite

Daniel Dias1

produtor de leite brasileiro é um verdadeiro guerreiro! Como pode sobreviver a uma atividade que está pagando atualmente R$ 0,96 pelo litro do leite enquanto a indústria vende o leite longa vida a R$ 3,19, o litro do acholatado a R$ 9,29 e o quilo do queijo a R$ 32,79. A situação se agrava ainda mais quando olhamos para os custos de produção, onde alguns itens que o compõem subiram entre 45% e 117%? Somados a isso temos uma inflação de mais de 11% ao ano. Ou seja, em valores reais o produtor brasileiro de leite recebe bem menos do que recebia 4 anos atrás. Este artigo está se propondo a mostrar alguns gargalos que a cadeia produtiva do leite enfrenta, criticamos abertamente a falta de política agrícola para o setor e principalmente lamentamos a falta de “zelo” para com o produtor rural!

das apresentam retração nos preços pagos ao produtor. Em Goiás, por exemplo, os preços atuais são 10% mais baixos do PREÇOS PAGOS AOS PRODUTORES - Em dezembro que os preços pagos em 2012. de 2015 no BLOG do DANIEL DIAS, escrevi um artigo claE a pergunta que fazemos a qualquer pessoa leiga que mando por mudanças na política agrícola para a cadeia lei- esteja lendo este artigo é: E quanto subiram os custos de produção teira. Gostaria muitíssimo de solicitar que, para entendermos neste mesmo período (2012 a 2016)? Quanto subiu o preço do leite ainda mais sobre esta mazela, os senhores leitores o lessem longa vida na prateleira do supermercado desde 2012? novamente para alinharmos as premissas aqui desenvolvidas. Com a alta dos preços do milho e da soja, devido ao Acreditando que todos os leitores que estiverem lendo câmbio acima dos R$4,00 por dólar, bem como o reajuste este artigo neste momento, tenham lido novamente o artigo de do salário mínimo, da tarifa da energia elétrica e princidezembro. Sendo assim entenderão que de antemão podemos palmente as altas dos preços dos combustíveis, os custos de já afirmar que, com relação a preços pagos aos produtores e produção do leite subiram significativamente. (Tabela 2) custo de produção de leite as coisas só pioraram de dezembro Ao analisarem a planilha dos preços pagos pelo litro de 2015 até fevereiro de 2016! Acompanhe na Tabela 1. do leite nas principais praças produtoras de leite e comparar O produtor de leite já está recebendo em 2016 menos com estes principais custos de produção do leite, não precisa pelo litro de leite do que recebia em média em 2015! Em ser “mágico” nem mesmo “cientista” para entender o que comparação aos últimos 4 anos, todas as praças pesquisa- está se passando com os produtores de leite no Brasil. Em 2015, fiz um estudo bem reTabela 1 - Preços pagos pelo litro de leite aos produtores entre 2012 a 2016 alístico onde uma propriedade que proVARIAÇÃO PREÇOS PAGOS PELO LITRO DE LEITE AOS PRODUTORES duzia entre 200 e 500 litros diários, com 2012 a 2016 2012 2013 2014 2016* janeiro 2015 média tecnologia e ordenha mecânica, BRASIL 1,01 1,12 1,10 0,96 - 4,95% 0,99 sendo que seu leite era resfriado dentro -3,87% SP 1,06 1,15 1,15 1,02 1,04 da propriedade, trabalhava com custos -6,54% MG 1,04 1,16 1,15 0,97 1,02 ao redor de R$0,93/litro de leite. Com -2,08% PR 1,01 1,12 1,12 0,99 0,97 as altas abruptas dos principais itens que -0,10% RS 0,99 1,06 1,06 0,99 0,95 compuseram este estudo, mostrados na -10,66% GO 1,06 1,19 1,15 0,95 1,04 tabela acima, com certeza neste início de 8,98% BA 0,98 1,09 1,16 1,07 1,02 fevereiro é possível afirmar que estes SC

0,99

1,11

1,08

0,98

0,94

-4,75%

RJ

1,06

1,21

1,14

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-11,13%

MS

0,93

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ES

1,01

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CE

1,05

1,13

1,09

1,02

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Fonte: CEPEA

AUTOR

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1 - Engenheiro Agrônomo especializado em análise de mercado e conjuntura agroeconômica. Atuou em empresas internacionais e nacionais nos setores de agronegócio e meio ambiente. Sócio-diretor da Agroconomics Consulting, com foco em projetos de análise de negócios e palestras. * Publicado no Blog do Canal Rural. http://blogs.canalrural.com.br/danieldias/


LEITE custos extrapolaram R$1,00/litro de leite.

Tabela 2 - Referência para Custo de Produção de Leite 2016*

FOTO: Sindileite

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VARIAÇÃO

ITEM 2015 2010 A INDÚSTRIA E OS SUPERMERCADOS janeiro 2010 a 2016 - As Indústrias e Laticínios do Brasil são os que 20,78 117% MILHO - Base Campinas (R$/sc) 34,00 45,00 mais têm ganhado com esta situação. Como o 42,34 94% SOJA - Base Porto Santos (R$/sc) 70,34 82,00 leite é um alimento que in natura tem uma pere510,00 788,00 880,00 73% SAL.MÍNIMO - Ref. Nacional (R$/mês) cibilidade muito alta, e a produção é diária, o 79% ENERGIA ELÉTRICA - Média Nacional (R$/Kwh) 0,28574 0,4647 0,5104 produtor perde literalmente o poder de “bar1,984 2,5990 2,8855 45% PREÇO DO ÓLEO DIESEL - R$/Litro ganha” na comercialização junto aos laticínios e Fonte: ANEEL/Fontes de Mercado/Ministério da Fazenda. indústrias lácteas. Neste momento é que deveriam entrar as Políti- muito mais dinheiro do que a cadeia produtiva. De maneira cas Agrícolas Governamentais que garantiriam a renda grosseira e genérica estamos falando em margens que variam do produtor. Quanto mais endividados ou “apertados” os entre 200 até 1437%!!! produtores estiverem, menos eles poderão “barganhar” na Vejam bem, o elo produtivo da cadeia do leite, que gasua comercialização. rante toda a indústria e o consumo da população, trabalha Outro fator muito difícil nesta atividade quando não com o risco bruto da atividade e tem que sobreviver de uma existe um programa de renda da política agrícola, é que os margem bruta aproximada de 3%. custos da produção do leite vêm antes do recebimento do Já a indústria, que tem o risco da atividade muito bem pagamento do leite. O que dificulta e muito a vida do agri- reduzida e altamente precificada… De uma ponta a outra, cultor, que ao receber o pagamento do leite, muitas vezes tem a possibilidade de a cada passo, vir a usufruir de “fatias” fica sem dinheiro para comprar o ração dos seus animais, de uma margem que pode chegar até a 1400%… Como no uma vez que ele prioriza o salário dos seus funcionários, a caso dos achocolatados… energia elétrica e suas despesas pessoais essenciais. Neste Importante ressaltar que não somos contra a indústria, cenário crítico ele (o produtor) entra no que chamamos de tão pouco as redes de supermercado! Muito pelo contrário… círculo vicioso. Onde ele recebe pouco pelo leite, não com- Queremos estes segmentos cada vez mais fortes, mais atupra ração, e consequentemente passa a produzir cada vez antes e dando ainda mais vazão aos produtos produzidos pelos menos. Assim encarece seus custos de produção e trabalha agricultores. As empresas têm como obrigação gerar lucros! cada vez mais na margem negativa. Nossa indignação é que cabe ao Governo, desenvolver Geralmente neste caso, depois de descapitalizado ele políticas agrícolas específicas para cada segmento. E no caso começa a vender suas vacas, para fazer dinheiro e sobreviver do leite, não temos nenhuma forma de intervir no mercana atividade. Isso realmente é a pior coisa que existe para um do e atuar de forma a dar mais sustentação aos preços. Nos produtor de leite. grãos com AGF, EGF, PEP entre outras ferramentas é posNas Tabelas 3, 4 e 5 procurei trazer algumas imagens sível retirar por um período determinado, quantidades de e análises que mostram o quanto está discrepante a situação grãos e com isso solucionar qualquer sobre oferta. Da mesma dos produtores perante as altas margens praticadas pela in- forma o contrário… Quando algum preço sobe por escassez dústria e supermercados: ou mesmo falta de produto, o Governo promove leilões de estoques públicos e com isso consegue de alguma forma soCONCLUSÕES - As indústrias estão em uma situação lucionar os problemas. muito mais confortável do que os produtores. EvidenteDessa forma vemos que, com a falta de possibilidade mente que estas margens apresentadas nos quadros acima, de estocagem do leite “in natura”, somados a falta de liquinão contemplam impostos, mão de obra, insumos, amortiza- dez do mercado nos últimos 4 anos, a industria facilmente ção de investimentos, depreciação de equipamentos, custo precifica o produto e pressiona o produtor a entregar sua do capital, energia elétrica, etc. etc. etc… produção ao preço que tiver… E não no preço que ele preMas comparando com a margem dos produtores, que cisa para no mínimo sobreviver na atividade. atualmente não passa de 3%, as indústrias têm muito mais “gordura” para “queimar” e com certeza ganham muito, mais POLÍTICA AGRÍCOLA - Eu realmente fico indignado quando leio que a diligência do Ministro da Agricultura,

Tabela 3 - Preços do leite Longa Vida no supermercado em 02/02/2016. MARGEM DE LUCRO DA INDÚSTRIA Preço de compra do leite pela Indústria (pago ao produtor) Preço de venda do Leite Longa Vida Integral Shefa Margem de Lucro da Indústria MARGEM DE LUCRO DA INDÚSTRIA Preço de compra do leite pela Indústria (pago ao produtor) Preço de venda do Leite Longa Vida Integral Elege Margem de Lucro da Indústria MARGEM DE LUCRO DA INDÚSTRIA Preço de compra do leite pela Indústria (pago ao produtor) Preço de venda do Leite Longa Vida Integral Parmalat Margem de Lucro da Indústria Fonte: Agronomic Consulting.

R$/Litro 0,96 2,89 1,93 ou 201% R$/Litro 0,96 2,99 2,03 ou 211% R$/Litro 0,96 3,19 2,23 ou 248%


LEITE Tabela 4 - Preços de diferentes tipos de queijo no supermercado em 31/01/2016. MARGEM DE LUCRO DOS LATICÍNIOS - QUEIJO MINAS (1kg de queijo são 10 litros de leite) Preço de compra do leite pelo Laticínio (pago ao produtor) Preço de venda do quilo do Queijo Minas Frescal Margem de Lucro da Indústria MARGEM DE LUCRO DOS LATICÍNIOS - QUEIJO PRATO (1kg de queijo são 10 litros de leite) Preço de compra do leite pelo Laticínio (pago ao produtor) Preço de venda do quilo do Queijo Prato Margem de Lucro da Indústria MARGEM DE LUCRO DOS LATICÍNIOS - MUSSARELA (1kg de queijo são 10 litros de leite) Preço de compra do leite pelo Laticínio (pago ao produtor) Preço de venda do quilo do Queijo Mussarela Margem de Lucro da Indústria

R$/Litro 9,6 21,9 12,30 ou 128% R$/Litro 9,6 32,79 23,10 ou 241% R$/Litro 9,6 21,9 12,30 ou 128%

Fonte: Agronomic Consulting.

está em missão para países do Leste Europeu, da Ásia, do Japão e de quantos outros países tratando de embargos sobre os nossos Laticínio e produtos lácteos, em busca da nossa expansão no mercado internacional de lácteos. É evidente que os embargos são uma cortina de fumaça para desviar a atenção dos órgãos regulamentadores internacionais sobre os subsídios a cadeia produtiva do leite dos países ricos. Esse subsídio existe a mais de 50 anos e continuará existindo, por questões de sobrevivência destes países na atividade devido às questões mais sociais do que agrícolas. O Brasil precisa entrar nesta briga não diplomaticamente como tem feito, mas fundamentalmente como agente financiador desta atividade. Ou criamos uma política agrícola voltada à garantia de renda aos produtores de leite de forma ativa e profissional ou literalmente iremos sucumbir nossos produtores ao traba-

Tabela 5 - Preços do achocolatado no supermercado em 02/02/2016. MARGEM DE LUCRO DA INDÚSTRIA - ACHOCOLATADO Preço de compra do leite pela Indústria (pago ao produtor) Preço de venda do Todinho Tradicional Longa Vida - 200ml Margem de Lucro da Indústria MARGEM DE LUCRO DA INDÚSTRIA - ACHOCOLATADO Preço de compra do leite pela Indústria (pago ao produtor) Preço de venda do Todinho Garrafinha - 250ml Margem de Lucro da Indústria MARGEM DE LUCRO DA INDÚSTRIA - ACHOCOLATADO Preço de compra do leite pela Indústria (pago ao produtor) Preço de venda do Todinho em Litro Margem de Lucro da Indústria

R$/Litro 0,192 1,89 1,69 ou 884% R$/Litro 0,24 3,69 3,45 ou 1.437% R$/Litro 0,96 9,29 8,33 ou 867,7%

Fonte: Agronomic Consulting.

lho de “formiguinhas” para sempre… Onde eles trabalham no verão simplesmente para terem condições de estocarem comida para o inverno e posteriormente entrarem na primavera com forças para recomeçar tudo de novo… Sem a menor perspectiva de estarem “vivos” até o próximo inverno. O governo deveria ter algumas Fábricas de leite em pó, espalhadas nos principais estados produtores de leite. Em tempos como estes, deveriam captar leite “in natura” a preços remuneradores a seus produtores, mais altos do que os praticados pela industrias e laticínios… Obrigando-os a remarcarem seus preços na briga pela matéria prima… O governo poderia até, estocar o leite em pó. Em tempos de escassez do produto ou preços altos demais, o Governo venderia este leite em pó para as indústrias a preços mais baixos que os de mercado. Ou mesmo usaria este leite em pó para ser distribuído nos programas sociais de combate a pobreza, a desnutrição infantil, nas merendas escolares e etc. Precisamos agir e garantir imediatamente a competitividade do produtor nacional.

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EQUINOS

Como cuidar de um potro órfão FEV/2016

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FOTO: Divulgação

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Natalia Telles Schmidt1

estação de monta dos equinos, criados no hemisfério sul, se inicia em setembro e segue até fevereiro na maioria das raças, que é exatamente a época onde ocorrem os cios mais férteis devido ao maior fotoperíodo. No caso do quarto de milha, por exemplo, a estação começa no dia primeiro de julho e vai até dia 31 de dezembro. Os cavalos fazem “aniversário” todos ao mesmo tempo, independente do mês do nascimento, isso é o chamado ano hípico. Isso significa que podem competir na mesma categoria mesmo tendo nascidos com diferença de seis meses. Por isso que na equideocultura é tão importante que a égua emprenhe no início da estação, pois além dos potros terem a vantagem de desenvolvimento sobre seus concorrentes, a égua possui mais tempo para se emprenhar durante a estação. Portanto, o nascimento dos potros acontece no segundo semestre do ano seguinte. Neste período, entre gestação e o nascimento do potro é necessário que os criatórios ofereçam manejo adequado para as éguas prenhas e cuidados nutricionais e sanitários aos potros - desde sua concepção - para que tenha bom desenvolvimento. Mas mesmo com todas estas precauções, é muito importante que o criador esteja preparado para um possível óbito da mãe ou mesmo a rejeição do potro por parte da égua. Lembrando que toda a transferência de imunidade ao potro é realizada através do colostro materno. A não ingestão, assim como a baixa concentração de imunoglobulinas, o deixará suscetível a enfermidades e poderá levá-lo à morte, caso não sejam instituídos alguns cuidados. Essas cautelas envolvem a avaliação do estágio em que o filhote tornou-se órfão e se foi possível a ingestão do colostro. O ideal é que os haras tenham um banco de colostro para essas eventualidades. A eficácia do colostro depende de seu conteúdo de imunoglobulinas. Após 24h, a concentração de anticorpos reduz consideravelmente. Dessa forma, para criação de um banco de colostro, o leite congelado deverá ser de uma égua que tenha parido neste intervalo. Se estiver congelado e armazenado no chamado banco de colostro, o conteúdo deve ser consumido imediatamente ao seu aquecimento para evitar crescimento bacteriano. O animal deverá receber cerca de 500ml de colostro por mamadeiras ou sonda nasogástrica a cada hora antes das 12h de vida. Caso não tenha colostro disponível, deve-se adminis-

AUTORA

1 - Médica Veterinária e Assistente Técnica de Equinos na Guabi. Site: www. guabi.com.br

trar lentamente o plasma hipermune por via intravenosa. O objetivo dessa administração é oferecer anticorpos que deveriam ser provenientes do colostro materno. Após este processo, o haras pode tentar introduzir o potro em outra égua parida ou oferecer o aleitamento artificial em caso de rejeição ao órfão. O aleitamento artificial pode ser realizado com 750ml de leite de vaca ou de leite semidesnatado, 250ml de água filtrada, 30g de Dextrosol, 5g de carbonato de cálcio e uma gema de ovo. Oferecer 2,5L do leite a cada duas horas. O cavalo jovem possui exigência nutricional bastante alta, necessitando para sua taxa de crescimento normal 110 a 130kcal/kg, o que corresponde a cerca de 3,5 vezes o exigido para um cavalo adulto em manutenção. Portanto, chega a mamar o equivalente entre 20 e 25% do seu peso vivo. Caso seja realizado o aleitamento artificial, iniciar com 10% a 15% do peso vivo do filhote e elevar gradualmente 1 a 2% ao dia. Sete dias após o nascimento, pode ser inserida a ração na alimentação do potro. O recomendado é um produto balanceado que contenha com 19% de proteína bruta e extrusado a fim de facilitar a absorção dos nutrientes. Se a introdução da ração for realizada precocemente, em torno do sétimo dia de vida, iniciar o fornecimento com 100g ao dia e aumentar gradativamente. Em média os potros chegam à fase de desmama consumindo em torno de 1kg. Os potros, em geral, consumirão cerca de 2kg/dia quando estiver com aproximadamente cinco meses. Mas, essas quantidades devem ser ajustadas por um profissional especializado. Ainda existe a crença que potros órfãos não apresentam o desenvolvimento esperado. No entanto, com medidas rápidas e corretas eles podem atingir igual ou até maior crescimento e desempenho que aqueles criados por suas mães.


Doenças ortopédicas prejudicam desenvolvimento dos potros Cláudia Ceola1

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s Doenças Ortopédicas do Desenvolvimento (DODs), que ocorrem nos potros, são consideradas uma das maiores dificuldades encontradas pelos criadores em todo o mundo, pela grande incidência entre estes animais, que podem comprometer seu desempenho atlético. O termo DOD refere-se a qualquer distúrbio hereditário ou adquirido, que interfira no desenvolvimento, formação dos ossos e articulações dos potros em crescimento. Durante o crescimento ósseo, ocorre uma alteração no processo de ossificação endocondral. As DODs mais comuns são: Fisites, Osteocondrose (Lesões Subcondrais Císticas e Osteocondrite Dissecante), Deformidades Angulares e Deformidades Flexurais. Existem diversos fatores que contribuem para a formação das doenças ortopédicas: hereditários (genéticos); nutricionais; traumas; exercício físico precoce e/ou em terrenos duros e disfunção hormonal (hipotireoidismo). Quanto aos fatores hereditários, podemos considerar a raça do animal - as de grande porte apresentam taxa de crescimento maior do que as demais; problemas de conformação; tipo corpóreo; estrutura óssea e massa corporal - que são características transmitidas geneticamente e podem gerar pressão excessiva na placa de crescimento. Já o fator nutricional é um dos principais vilões no desenvolvimento das DODs. O fornecimento de dietas ricas em energia acelera a taxa de crescimento do animal e faz com que o processo de diferenciação celular da cartilagem seja insuficiente. Isto provoca falha na ossificação endocondral e deixa a placa metafisária espessada. Além disso, a aceleração do crescimento faz com que os tecidos moles não acompanhem os ossos. Outro fator importante relacionado à alimentação é iniciar o fornecimento de ração para os potros que ainda são amamentados, no máximo com três meses de idade - nesta fase o leite da égua já não é mais nutricionalmente eficaz e o potro ainda não terá uma perda de peso tão significativa quando for desmamado. Normalmente, na fase do desmame, o potro tem uma grande perda de peso - que geralmente é compensada com o início do fornecimento ou um aumento da quantidade de ração. Isso faz com que o animal ganhe peso de uma só vez - chamado de ganho de peso compensatório - um dos momentos mais marcantes de início das DODs, pois, além do ganho de peso abrupto, ocorre também um crescimento rápido. O desbalanço mineral está ligado não só às quantidades

AUTORA

1 - Médica Veterinária e Supervisora Técnica de Equinos da Guabi.

EQUINOS

dos minerais contidos nas rações, mas também, na sua capacidade de absorção pelo organismo. Muitas dietas contêm níveis adequados de minerais, porém, a digestibilidade é baixa e a quantidade suficiente para a manutenção do animal não está sendo absorvida; se ele ainda estiver na fase de crescimento há possibilidade de iniciarem alterações no desenvolvimento. Os principais minerais relacionados às alterações na ossificação endocondral são: cálcio, fósforo, zinco e cobre. O excesso de fósforo na dieta imobiliza a utilização do cálcio pelo organismo e promove sua deficiência. O cálcio é fundamental para o processo de ossificação, logo, sua falta predispõe à DOD. O consumo insuficiente de cobre também é prejudicial à formação óssea, já que e ste se encontra envolvido na estabilização do colágeno e na síntese de elastina óssea. A sua deficiência pode levar às Fisites e contratura dos tendões flexores. A ingestão excessiva do zinco diminui a absorção do cálcio e do cobre, que também está ligado às doenças de desenvolvimento. Desta forma, podemos concluir que a prevenção das doenças ortopédicas do desenvolvimento começa com uma boa alimentação da égua em gestação, que deve receber um produto com um nível maior de proteína, a fim de produzir um leite de boa qualidade e nutritivo para o potro. Porém, devemos evitar obesidade nas éguas que pode auxiliar na formação de deformidades angular e flexurais devido à diminuição do espaço intra-uterino. A prevenção continua com a nutrição balanceada dos potros desde o nascimento, iniciando o fornecimento a partir de 30 dias de idade, com um produto apropriado para potros em crescimento com boa digestibilidade até os 18 meses de vida. Além disso, é fundamental um bom manejo e criação, evitar o trabalho precoce (antes de 10 meses de idade) e realizar bons cruzamentos genéticos.

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TECNOLOGIA

Informação de Precisão - Desafios 18

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Mário Arias Martinez1

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a edição passada, abordamos o tema Informação de Precisão. Nesta oportunidade, observamos que a próxima evolução tecnológica no agronegócio tem como um de seus mais fortes componentes a geração de informações precisas, que venham a nortear as tomadas de decisões dos produtores rurais com ganhos expressivos em assertividade e tempo; fatores estes fundamentais para a redução de custos, aumento de produtividade e otimização de processos. Diferentemente das tecnologias voltadas à produção, como equipamentos e insumos que se espalham rapidamente por todo o setor, envolvendo produtores de todos os portes, o uso de Informação de Precisão apresenta um padrão um pouco diferente. Atualmente no Brasil, os grandes produtores já avançaram no tema, inclusive com alto nível de automação na coleta de dados. Mais abaixo na escala, encontramos os produtores de médio porte que ainda se encontram divididos, tendo alguns com alto grau de utilização e outros ainda na “idade da agenda”. Já nos pequenos produtores, o assunto ainda é tratado como algo de menor importância ou visto como de difícil implementação. É natural que seja desta forma. Mas o cenário atual, repleto de eventos externos tais como instabilidade monetária, crise econômica e mudanças climáticas, nos leva a crer que em poucos anos a gestão baseada em Informação de Precisão será obrigatória para a sobrevivência na atividade. Assim, resta aos produtores que ainda não caminharam nesta estrada começar a pensar no assunto e a enfrentar os obstáculos que esta nova era impõe. Quando pensamos na implantação de um processo de controle administrativo e de custos em nossa atividade rural, logo nos deparamos com alguns desafios, sendo os principais: • Coleta de Dados: apontamentos de campo, abastecimentos, etc. • Entrada de Dados: digitação e geração das informações • Aplicação das Informações Geradas: curva de aprendizado. Estes desafios - apesar de reais - são muitas vezes vistos como maiores do que realmente são. Ao explorarmos cada um deles, veremos que na maioria dos casos já realizamos muitas das tarefas exigidas, vejamos: O primeiro item (coleta de dados) é de fato o mais complexo pois exige o envolvimento do pessoal de campo, operadores, tratoristas e técnicos. Mas normalmente tratam-se de dados já coletados ou que podem ser tratados de maneira bastante simplificada. Os principais apontamentos são:

AUTOR

1 - Diretor Comercial CHB Sistemas, graduado na Universidade de Franca e pós graduado na Uni-Facef.

• Notas Fiscais de compras = com a indicação dos veículos no caso de peças; • Utilização de materiais em veículos = Lubrificantes, pneus, filtros, etc..; • Abastecimentos = litragem e km/hora do veículo; • Aplicação de insumos no campo = produto, quantidade, propriedade e talhão; • Operações realizadas no campo = operação (gradagem, subsolagem, adubação etc..), quantidade de horas, propriedade, talhão e veículo que a executou. Se observarmos atentamente são dados bastante simples que podem ser coletados manualmente, a princípio, e posteriormente via automação, através de coletores de dados, tablets, computadores de bordo etc.. Outro ponto importante que observamos é que muitas vezes estes dados são coletados nas propriedades e armazenados em planilhas eletrônicas ou arquivados em fichas permanecendo assim sem integridade e mantendo-se nas condições de dados, enquanto deveriam ser processados e transformados em informações. O segundo desafio é a inserção destes dados em um sistema de controle. Para os casos iniciais, onde toda a coleta é manual, faz-se necessário que estes sejam inseridos através da digitação individual e, tratando-se do conjunto apresentado acima, é um trabalho que pode ser realizado por uma ou duas pessoas que atuem na administração da propriedade. Não há qualquer dificuldade neste processo. Apenas a necessidade de um treinamento adequado no software a ser utilizado. Realizadas a coleta e a inserção dos dados em um sistema de controle, este efetuará o processamento transformando-os em informações de precisão, como: médias de consumo por veículo, custo de hora máquina, custo de operação, custo do produto final, média de produção, etc… O terceiro desafio é justamente aprender a utilizar estas informações na tomada de decisão. Trata-se de uma curva de aprendizado praticamente sem volta pois, à medida que o produtor começa a decidir a partir da análise das informações geradas, passa também a perceber maior assertividade nestas decisões e ainda conta com o bônus da diminuição do tempo entre o fato e a decisão. Por exemplo: sem informações precisas, muitas vezes operamos com veículos cujo custo está acima da média por um período longo, até que ocorra um fato explícito que nos faça refletir se é o momento de substituirmos este equipamento. Com o uso da informação em tempo real, passamos a avaliar este veículo a partir do momento em que seu custo se aproxima da média, podendo efetuar a substituição antes que ele drene parte de nossos recursos financeiros. Podemos relutar, postergar o progresso, mas jamais freá-lo. Sob pena de transformarmo-nos em produtores sem competitividade enfrentado, assim, dificuldade em nos manter na atividade.


GRテグS

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GRÃOS

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Marcelo Braga da Silva¹

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om o uso de biotecnologias Bt, muitos produtores estão questionando a verdadeira efetividade do refúgio para a contribuição da longevidade da eficácia no controle de pragas da ordem lepidóptera. Em março de 2014, após algumas safras do lançamento, foi confirmada pela DuPont Pioneer a quebra da resistência da Lagarta-do-Cartucho (Spodoptera frugiperda) à tecnologia Herculex®. Desde então uma nova proposta de refúgio foi apresentada, o refúgio estruturado efetivo. Todavia, ainda assim, muito tem se questionado a verdadeira efetividade da utilização dessa prática para o prolongamento da vida útil das novas tecnologias. Para responder esses questionamentos, inicialmente precisamos lembrar de alguns fatores importantes que podem ter levado a essa quebra da resistência:• Rápida adoção da tecnologia – em 4 anos tivemos a adoção de 85% das áreas com o milho Bt, o que resultou em uma elevada pressão de seleção nos indivíduos resistentes; • O refúgio, quando realizado, não era efetivo – várias aplicações de inseticida eram feitas na área e, com isso, não acontecia a produção de insetos suscetíveis.

ILUSTRAÇÃO: Pioneer

Outro questionamento dos produtores está relacionado ao fato de que, mesmo em regiões que o milho convencional representava mais de 20% da área plantada, houve a quebra da resistência. Neste caso é importante lembrar que milho convencional manejado com mais de duas aplicações de inseticida na fase vegetativa não tem efeito de refúgio estruturado, já que a estratégia do refúgio passa pela necessidade de fornecer indivíduos suscetíveis, mantendo a vari-

ILUSTRAÇÃO: Pioneer

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Confira as principais dúvidas sobre a efetividade do refúgio na durabilidade das Tecnologias Bt

abilidade genética da população, a fim de evitar a seleção da resistência. Esta sequência de pequenas falhas, entre outras, provocou a rápida seleção de indivíduos resistentes. Como será a efetividade do refúgio para estas novas biotecnologias? Os dados dos modelos matemáticos nos permitem dizer que, com a contribuição da grande maioria dos produtores adotando o refúgio estruturado efetivo, há maior chance de prolongar a vida útil das novas tecnologias. E também temos a convicção de que não adianta pensar que apenas o refúgio estruturado efetivo será responsável por isso, é fundamental atentar para a adoção das boas práticas de manejo, que de maneira indireta, irão favorecer a diminuição da pressão da praga na lavoura e melhorar o desenvolvimento da cultura. Quais são as 6 boas práticas de manejo e como elas contribuem para o manejo da resistência de insetos? DESSECAÇÃO ANTECIPADA:- A dessecação antecipada faz com que a pressão inicial de pragas de maiores instares seja menor. Outro ponto que se destaca é que a dessecação antecipada resulta em uma melhora no desenvolvimento da cultura do milho.

AUTOR

1 - Gerente de Agronomia na DuPont Pioneer

TRATAMENTO DE SEMENTES:- O tratamento de semente, com produtos específicos para pragas mastigadoras, protege a cultura nas fases iniciais. É nesta fase que a cultura está mais suscetível ao ataque das pragas. REFÚGIO ESTRUTURADO EFETIVO:- Assim como já comentamos, a função do refúgio estruturado efetivo


CANA DE AÇÚCAR

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GRÃOS

MONITORAMENTO DE PRAGAS E TOMADA DE DECISÃO:- O monitoramento de pragas na lavoura é fundamental na tomada de decisão. Essa prática determina a situação das pragas na cultura através da avaliação adequada de incidência e pressão de pragas, danos e prejuízos que podem estar ocorrendo e da definição do momento da aplicação de inseticida. O monitoramento de pragas deve ser realizado de forma que todo o campo seja avaliado, para que a tomada de decisão seja apropriada. Na figura 1, temos quais são os níveis de ação para cada tecnologia, bem como para o refúgio estruturado e efetivo. ROTAÇÃO DE CULTURA:- Rotação de culturas tratase da prática de alternar o plantio de diferentes espécies da cultura na mesma área agrícola. Como ferramenta de MIP e MRI, a escolha das espécies para a rotação de culturas deve focar em culturas diferentes, que não expressem a(s) mesma(s) proteínas Bt, ou culturas que não sejam hospedeiras das pragas de maior importância na área, visando a quebra da janela de exposição e redução na pressão de população. O estabelecimento de uma janela livre de hospedeiros ajuda a reduzir a densidade de pragas e a seleção de resistência. O QUE É REFÚGIO ESTRUTURADO EFETIVO? É manter uma área de cultivo de milho convencional

ILUSTRAÇÃO: Pioneer

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CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS E VOLUNTÁRIAS:- Algumas plantas daninhas podem ser importantes hospedeiras para insetos-praga das culturas subsequentes, permitindo que uma quantidade significativa de insetos sobreviva nas áreas de cultivo no período de entressafra. Além disso, as plantas daninhas podem ser fonte de lagartas em instares mais avançados, as quais apresentam maior dificuldade de controle pelas tecnologias Bt.

ILUSTRAÇÃO: Pioneer

é produzir insetos suscetíveis, diminuindo assim a população de insetos resistentes.

(sem a presença da tecnologia Bt) com o objetivo de produzir insetos suscetíveis às tecnologias do ambiente, mantendo a população de insetos resistentes em uma frequência natural. COMO FAZER A ÁREA DE REFÚGIO ESTRUTURADO? A proposta de manejo de áreas de refúgio estruturado em milho, com o objetivo de aumentar a sua efetividade como ferramenta de MRI - Manejo de Resistência de Insetos (figuras 1 e 2), baseia-se nas seguintes recomendações: tivo;

1. Adoção de 10% de área de refúgio estruturado efe-

2. O plantio da área de refúgio estruturado efetivo pode ser feito de diversas maneiras (figura 3), desde que seja mantida uma distância máxima de 800 metros da área com milho Bt. Entretanto, para maior efetividade da área de refúgio como ferramenta de MRI, recomenda-se a sua implantação em faixas, ou dentro do mesmo bloco, favorecendo, assim, o acasalamento aleatório entre indivíduos provenientes das áreas de Bt e refúgio; 3. Uso opcional de TS com inseticida para controle de lagartas; 4. Uso de inseticidas – Nas áreas de refúgio (milho não Bt), para o controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) as aplicações de inseticidas deverão ser feitas quando 20% das plantas atingirem o nível 3 da Escala Davis (raspagens iniciais). Para garantir a efetividade do refúgio como ferramenta de MRI, recomendam-se no máximo duas pulverizações até o estágio V6 (seis folhas verdadeiras). Idealmente, as pulverizações da área de refúgio devem acontecer simultaneamente às pulverizações da área com milho Bt. Consideramos ser essa a melhor relação entre o dano econômico e o refúgio estruturado efetivo como produtor de insetos suscetíveis.


CAFÉ

Produção de café orgânico recebe certificação no PR

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cidade de Quedas do Iguaçu (PR) deverá ter nos próximos dias a entrega de certificação para 21 propriedades agrícolas, que estão habilitadas para produção orgânica. O projeto está sendo desenvolvido pela Prefeitura, Secretaria de Agricultura e Sebrae. A produção de café orgânico no assentamento “Celso Furtado”, em Quedas do Iguaçu, está entre as propriedades que terão o selo de qualidade orgânica. “Atividade com o café surgiu a partir do momento que tivemos alguns prejuízos com o leite. Na região, até então, ninguém estava trabalhando neste cultivo, que nos levou a preparar e buscar as técnicas necessárias para o cultura”, explica Josuel Evaristo Gomes, da comunidade 10 de Maio, onde possui 220 pés de café da espécie “Conilon 385”, em fase de produção. Segundo ele, os pés de café estão com idade de 2 anos, sendo que são necessários 5 anos para atingir o tamanho ideal e a produção em escala maior. “Acredito que vamos colher 20 sacas neste ano, num preço que pretendemos comercializar em torno de R$ 20 o quilo do produto já na embalagem”, comentou o agricultor. As sacas são de 60 quilos. A ideia é ir colocando o produto em alguns pontos comerciais, hotéis e cafeterias da região. De acordo com o produtor, a margem de lucro de comercialização fica acima de 30%, do café tradicional.

Josuel Evaristo parabenizou a iniciativa da secretaria de Agricultura, na certificação de algumas propriedades agrícolas, pelo fato dos produtores não terem os recursos necessários e onde buscar a certificação dos produtos. “É preciso lembrar que só a certificação das propriedades não é o suficiente para nós. Há necessidade da disponibilização de técnicos no acompanhamento do plano de manejo da cultura agrícola”, chama atenção o assentado. Quanto a questão do frio, Josuel explicou que algumas técnicas de barreiras foram implantadas, como o plantio de outras cultivares em meio aos pés de cafés. Outra dificuldade enfrentada pelo agricultor é quanto á utilização de agrotóxicos em plantações de outras lavouras vizinhas, que exige muita atenção e cuidado, para que o veneno não chegue até as plantas trazidas pelo vento. O projeto de produção orgânica conta com apoio do Ministério Desenvolvimento Agrário (MDA) e governo federal. O Secretário de Agricultura do Município, Ladislau Stachelski destacou algumas ações da secretaria junto aos agricultores, como do incentivo da emissão das notas na comercialização de produtos agrícolas pelas famílias de agricultores, este projeto de certificação orgânica que deverá ser estendido para outras propriedades agrícolas e o programa de inseminação para gado de corte e leiteiro. (FONTE: Correio do Povo do Paraná).

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EVENTOS

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15ª Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas – FEMAGRI 2016, promovida pela COOXUPÉ - Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé (MG), será realizada entre os dias 16 e 18 de março próximo. Os organizadores do evento trabalham com a expectativa de atrair cerca de 35 mil pessoas, o que equivalerá a um acréscimo de 16% em relação ao público da edição anterior. Em meio ao ‘fantasma da crise político-econômica’, cafeicultores do Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Alta Mogiana e do Vale do Rio Pardo (no Estado de São Paulo) demonstram cada vez mais que o momento é de investimento (visando a redução dos custos). “A grande rotatividade de público aliada à grande variedade de ofertas resulta em vendas que superam as expectativas todos os anos. Esses números são comemorados pelos expositores, que recebem um grande retorno pelo investimento feito nos 3 dias do evento. É por todos esses números que a FEMAGRI já é um dos maiores eventos em agronegócio do Brasil”, disse Reymar de Andrade, presidente da Pinhalense. “Os resultados nos mostram que o nosso cooperado está buscando uma atividade cada vez mais sustentável”, disse o presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa, o qual não esconde a ansiedade pela edição deste ano da Feira A FEMAGRI 2016 será realizada no mesmo local das anteriores (próximo ao Complexo Japy, na saída da cidade), com estrutura de ponta, variedade em segmentos comerciais e uma série de novidades. Na edição do ano passado, a FEMAGRI registrou um crescimento de 100% a mais do que em 2014, quando foram efetuados R$ 55 milhões em negócios. Informações: www.cooxupe.com.br

FOTO: Cristiano Borges

FOTO: Marco Antônio

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COOXUPÉ já prepara TECNOSHOW COMIGO sua FEMAGRI 2016 acontece em abril

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oltada para a geração e a difusão de tecnologias, além de oportunidade para ampliar o conhecimento técnico de produtores rurais, profissionais da área, estudantes, entre outros, a TECNOSHOW COMIGO chega a sua 15ª edição em 2016 e será realizada de 11 a 15 de abril, no Centro Tecnológico COMIGO (CTC), em Rio Verde (GO). Consolidada como uma das principais feiras de tecnologia rural do Brasil, sendo a maior do Centro-Oeste, a TECNOSHOW COMIGO 2016 terá em sua programação atividades como palestras, dinâmicas de pecuária e de máquinas, exposição de produtos e serviços, demonstrações de tecnologias e animais de diferentes raças. A Feira oferecerá aos visitantes o que há de mais moderno em máquinas, veículos e equipamentos agropecuários, insumos, plots agrícolas com vários experimentos, além de demonstrações de resultados de pesquisas, lançamentos de novas variedades para diversas culturas, ações socioambientais, entre outras atividades. Instituições financeiras também estarão presentes com linhas de crédito e financiamento voltadas para o produtor rural. O presidente da COMIGO - Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano, Antonio Chavaglia, destaca que a TECNOSHOW COMIGO é hoje referência no que diz respeito a novidades tecnológicas e informação para o produtor rural, discutindo temas e apresentando inovações que podem trazer mais eficiência e produtividade para o agronegócio. “Serão cinco dias de demonstrações em campo, de debates com os principais nomes do cenário agrícola e da pecuária no Brasil e no mundo, além de permitir a troca de experiências entre produtores e outros públicos. Apesar do cenário econômico, que é de cautela, estamos otimistas em relação à feira deste ano”, afirma Chavaglia. A estimativa da COMIGO, realizadora da feira, é que a edição de 2016 supere os resultados alcançados no ano passado, quando o evento recebeu 104 mil pessoas, que visitaram os 540 expositores e movimentaram mais de R$ 1,1 bilhão em negócios. Informações: www.tecnoshowcomigo.com.br


EVENTOS

5ª FEMEC em Uberlândia (MG) terá novidades para produtores rurais

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FEMEC - Feira do Agronegócio do Estado de Minas Gerais, será realizada de 29 de março a 1º de abril, em Uberlândia (MG) e terá novidades para produtores rurais em sua 5ª edição. O evento que reúne os principais fornecedores de máquinas, equipamentos, implementos, insumos agrícolas, veículos utilitários e de passeio, receberá também duas atrações inéditas este ano. Já estão confirmadas pelas respectivas associações das raças, a 56ª Exposição Estadual de Minas Gerais do Cavalo Mangalarga Marchador e a EXPOINEL - Exposição Especializada da Raça Nelore. A feira será realizada pelo Sindicato Rural de Uberlândia, no Parque de Exposições do Camaru, com entrada gratuita, das 8h às 20h. Para o presidente da instituição, Thiago Soares Fonseca, a expectativa para a FEMEC 2016 é positiva considerando que 2015 foi um ano bom para o setor agropecuário. “Com chuvas regulares, as perspectivas de uma ótima safra e de colheita é muito boa, por isso ficamos animados e esperando que o produtor venha para a Femec e faça negócios”, afirmou. A FEMEC se consolidou no calendário nacional das grandes feiras de agronegócios e está entre as 20 maiores do país. Em termos percentuais, o evento apresentou o maior crescimento, 38%, entre as seis de maior expressão. O movimento de negócios na feira passou de R$ 202 milhões em 2014, para R$ 280 milhões em 2015. O público visitante também teve importante variação, saindo de 23 mil em 2014, para 31 mil visitantes em 2015. O evento que tem suas atividades concentradas em negócios e conhecimento promoverá ainda palestras gratuitas, campos demonstrativos de sementes e insumos, feira de equinos e feira de touros e fêmeas do Pró-Genética. A FEMEC recebe ainda as principais instituições financeiras públicas e privadas que viabilizam a realização de negócios. Produtores rurais poderão conhecer o que há de mais avançado no mercado de Tratamento de Semente Industrial (TSI) para variedades de soja, milho e sorgo nos Campos Demonstrativos, que também servirão para demonstrar resul-

tados do uso de fertilizantes e defensivos. A área de 7 mil m² foi dividida em 10 plotes que serão ocupados por empresas que apresentarão diferentes variedades de sementes. A ideia é dar a chance para o produtor conhecer as cultivares que se adaptarão melhor em sua propriedade. Com as plantas já adultas na época da feira, o público poderá observar as vantagens do uso de TSI, técnica que prepara os grãos a serem plantados com camadas de polímeros, elementos químicos e nutricionais que ajudam no desenvolvimento da planta. A área receberá também produtos das marcas Dupont, Pioneer, Sementes Gurupi, Nidera, Advanta Sementes, SeedCorp, entre outras. O coordenador da FEMEC, João Carlos Semenzini, ao idealizar o projeto, viu a possibilidade de permitir que agricultores conheçam opções de sementes que normalmente são apresentadas somente em grandes “Dias de Campo” promovidos pelas empresas em fazendas e com acesso restrito. A programação do evento está no site www.femec. com.br, outras informações podem ser obtidas pelo telefone (34) 3292 8840.

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EVENTOS

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onsiderada como referência nacional e internacional, a FENICAFÉ – Feira Nacional de Cafeicultura Irrigada reúne todos os anos em Araguari, no Triângulo Mineiro, especialistas, estudantes e produtores de café. É uma grande oportunidade para discussão de aspectos relevantes da cafeicultura irrigada e tem contribuído para o crescente cultivo dessa modalidade no Brasil. Em 2016, o evento chega à sua 21ª edição e será realizada de 08 a 10 de março, no Pica Pau Country Club. Promovida pela Associação dos Cafeicultores de Araguari (ACA), a FENICAFÉ é dividida em três partes: o Encontro Nacional de Irrigação da Cafeicultura do Cerrado, a Feira Nacional de Irrigação em Cafeicultura e o Simpósio de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada. Para Claudio Morales Garcia, presidente da ACA, exposição é um lugar para troca de experiências e de divulgação de novas técnicas de plantio, cuidados e colheita de um dos principais produtos produzidos no Brasil. Em 2016, a organização espera um público médio de 25 mil pessoas. Com cerca de 60 expositores, que ocupam mais de 90 stands, a Feira espera um volume de negócios superiores a 35 milhões de reais. Serão três dias de evento com palestras, painéis, workshop e debates, contribuindo com informações necessárias para a melhoria contínua da produção do café nacional. Os debates trazem a tecnologia para facilitar o processo cafeeiro e o conhecimento para que o café tenha cada vez mais qualidade, valor diante do consumidor e maior poder de comercialização, com lavouras ambiental e socialmente corretas. A Fenicafé é promovida pela ACA e Federação dos Cafeicultores do Cerrado com apoio do Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA), Embrapa Café, Prefeitura e Câmara Municipal de Araguari. Para conhecer mais sobre a feira, visite as páginas do evento na internet e nas redes sociais: www.fenicafe.com. br, www.facebook.com/fenicafe, www.youtube.com/fenicafeari.

FOTOS: Henrique Vieira/Foto Geraldo

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FENICAFÉ reúne especialistas, estudantes e produtores de café em Araguari (MG)

RELAÇÃO DE PALESTRAS DA FENICAFÉ DIA 08 DE MARÇO “Perspectivas do Mercado de Café a Médio e Longo Prazos” Palestrante: Jefferson Carvalho, analista econômico Rabobank Debate: João Faria da Silva (Terra Forte Exportação de Cafés); Carlos Alberto Santana (Eisa Exportadora) e Nelson F. da S. Carvalhaes (Presidente do Conselho Deliberativo - CECAFÉ) “Qualidade do Café na Visão dos Produtores Empresários”, Palestrante: Isabela Paschoal Becker, diretora da Daterra PAINEL:- “Produção Sustentável de Café na Região do Cerrado Mineiro”. DIA 09 DE MARÇO Abertura do XVIII Simpósio Brasileiro de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada. “A Importância do Acompanhamento da Lavoura na Fertirrigação do Cafeeiro” Palestrante:- Prof. Dr. Roberto Lyra Villas Bôas (UNESP/Botucatu); “Fertilizantes em Fertirrigação: Aproveitamento pelo Cafeeiro e Vantagens/ Desvantagens da Nutrição Exclusiva Via Sistema de Irrigação” Palestrante:- Luiz Dimenstein (consultor de Fertirrigação ICL Brasil) “Manejo de Irrigação Visando o Máximo Aproveitamento Técnico e Econômico dos Sistemas de Irrigação para o Cafeeiro” Palestrante:- Dr. Everardo Chartuni Mantovani (UFV); “Qualidade Sensorial do Café Condicionada ao Déficit Hídrico” Palestrante: Dr. Pierre Marraccini (Cenargen Embrapa). DIA 10 DE MARÇO “Importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP) no Manejo de Resistência dos Defensivos Agrícolas” Palestrante:- Prof. Dr. Geraldo Papa (UNESP Ilha Solteira) “Disponibilização dos Nutrientes ao Cafeeiro pelos Microrganismos do Solo” Palestrante:- Prof. Dr. Fernando Andreote (Depto Ciência do Solo, ESALQ/USP) “Queda de Frutos Chumbinhos: Motivos Fisiológicos e o Que Fazer para um Melhor Aproveitamento e Pegamento da Florada” Palestrante:- Prof Dr. José Donizete Alves (UFLA) “Nutrição na Pós-Colheita do Café e Relações com a Fitossanidade” Palestrante:- Roberto Santinato (MAPA Procafé) “O Impacto do manejo de plantas daninhas na produtividade e aproveitamento dos nutrientes pelo cafeeiro” Palestrante:- Prof. Dr. Cláudio Pagotto Ronchi (UFV - Campus Florestal).


GRテグS

Ocorrテェncia de acamamento em plantas de milho

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CAFÉ

Colheita superprecoce na O´Coffee devido ao clima

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FOTOS: Divulgação O´Coffee

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s alterações no clima estão mudando a rotina nas fazendas da O’Coffee, em Pedregulho (SP), região da Alta Mogiana. “Pela primeira vez na história da propriedade, foi iniciada a colheita de vários pés de cafés que já atingiram maturação ideal para passar por colheita seletiva. Enquanto os grãos estão granando na maior parte da fazenda, uma área da variedade Bourbon Amarelo está em fase adiantada. Os lotes serão secos em terreiros suspensos e pátios cobertos e, em seguida, avaliados sensorialmente. O inicio da colheita busca evitar que os grãos sequem naturalmente nos pés de café e caiam, perdendo assim qualidade no chão”, informou Edgar Bressani, CEO da O´Coffee.

Clima irregular compromete chumbinhos no ES O

clima irregular continua sendo uma preocupação dos cafeicultores no Espírito Santo e já afeta o desenvolvimento dos chumbinhos. Com isso, a safra 2016/17 do café arábica em Vargem Alta é uma incógnita e dependerá do comportamento das chuvas. As precipitações ocorreram no final de novembro do ano passado e só retornaram à região na 2ª quinzena de janeiro/16. E com o déficit hídrico considerável, o produtor rural do município, Amarildo José Sartori, destaca que as floradas foram espaçadas e os grãos estão em diferentes estágios de desenvolvimento. “Uns estão mais adiantados, enquanto que outros são pequenos. A falta de tratos culturais no momento correto prejudica o desenvolvimento e o enchimento dos grãos. Ainda é prematuro fazer qualquer perspectiva em relação à colheita”, afirma. Além disso, alguns produtores reduziram o parque

cafeeiro e, inclusive introduzindo outras culturas características de montanha como o abacate, renovando muitas lavouras. “Consequentemente, diminui o volume de safra que poderia ser colhida, caso todas as lavouras estivessem em franca produção. Também é preciso destacar que ano passado tivemos perdas em função do clima adverso. A falta de chuvas e o sol forte comprometeram a qualidade dos grãos”, completa o produtor. PRODUÇÃO DE CONILLON - No Norte do estado, o destaque é a produção de café conillon, que também sofreu com a falta de chuvas. “O período de seca impediu que houvesse a retirada de água de mananciais e rios para a irrigação dos cafezais, pois o Governo priorizou o consumo humano. A perspectiva é que em algumas áreas as quebras deverão ser consideráveis”, relata. (Fonte: Notícias Agrícolas)


CAFÉ

MAPA libera mais dois produtos para combate da Broca do Café

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omo sequência dos trabalhos empenhados pelo CNC - Conselho Nacional do Café junto ao Governo Federal para a disponibilização de mais princípios ativos e produtos destinados ao combate à broca do café no Brasil, a Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou em 27 de janeiro, no Diário Oficial da União, o Ato nº 1, definindo os produtos priorizados para atendimento às pragas de maior importância econômica no Brasil descritas na Portaria DSV nº 5 de 21 de agosto de 2015. De acordo com a publicação, o Metaflumizone (ingrediente ativo do produto Verismo, da Basf) e a combinação dos princípios Bifentrina + Acetamiprido (que compõem o UPL 138 FP BR, da empresa UPL/United Phosphorus), ambos destinados ao combate da broca do café, estão entre as prioridades estipuladas pelo Departamento. Outro princípio recomendado, o Fluensulfone (ingrediente ativo do Nimitz, da Adama), voltado ao combate de nematóides no café e nas culturas de soja, cana-de-açúcar,

citros e batata, também foi inserido como prioritário. O CNC, por sua vez, noticia que a CoordenaçãoGeral de Agrotóxicos e Afins do Ministério da Agricultura encaminhará a lista dos produtos priorizados para ciência e providência dos demais órgãos anuentes no registro de agrotóxicos e afins no Brasil e que o andamento dos registros referentes às prioridades elencadas será monitorado, em conjunto pelo Departamento de Sanidade Vegetal (DSV) e pelo DFIA, a cada três meses. Por fim, ao tempo em que o CNC elogia os esforços realizados pela Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, também lembra que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) necessitam dar parecer favorável para que esses princípios ativos sejam registrados e os produtos à sua base possam ser comercializados, dando mais opções e melhores condições de mercado aos produtores do País. (Fonte: Revista Cafeicultura)

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O Levante da Catação

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Celso Luis Rodrigues VegroA e Eduardo Heron dos SantosB

aunay na “Pequena História do Café no Brasil”1, registra que o primeiro embarque de café, realizado em 1616, pela Companhia das Índias Orientais com destino à Holanda, proveio da região denominada à época de Levante, ou Grande Síria, território que englobava o atual País mais a Jordânia, Israel e a Palestina. Curiosamente, o Levante voltou ao momento histórico atual, em razão de se assemelhar ao território reivindicado pelo Estado Islâmico para a constituição de seu pretenso califado. Se por um lado a conexão entre o Levante e o comércio de café possa ser historicamente estabelecido, a deficiência do levante (amento), no caso estatístico, da safra de café brasileira, por outro, teima em perdurar. Por dois anos consecutivos, 2014 e 2015, o Brasil embarcou rumo ao exterior quantidades recordes de café que, quando acrescentadas ao consumo interno (estimativa de entidade privada provavelmente alavancada2) e a estimativa pública dos estoques de passagem (também bastante imprecisa) produz inconsistência abissal frente a estimativa de produção. O cadastro de estabelecimentos rurais, empregado no processo de amostragem estatística para a elaboração de estimativa da produção, provém do Censo Agropecuário de 2006. Após dez anos essa base defasou, amplificando desvios em qualquer tentativa metodologicamente consistente de constituição de amostra representativa dessa população3. Lamentavelmente, com o derretimento fiscal do Estado, a esperança de que um novo recenseamento seja brevemente conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é praticamente nula. Para além dessa deficiência de dados estatísticos, outro

AUTORES

A - Eng. Agr., M.S., Pesquisador Científico do IEA - Instituto de Economia Agrícola. E-mail: celvegro@iea.sp.gov.br B - Cientista da Computação, Diretor Técnico do CECAFÉ - Conselho dos Exportadores de Café do Brasil. E-mail: eduardo@cecafe.com.br

aspecto que poderia oferecer ajustamento mais preciso para a safra brasileira de café seria a contabilização da chamada catação. Com o avanço tecnológico/agronômico dos últimos 25 anos, lavouras em segunda metade da fase de formação (18 a 30 meses após o plantio) exibem catações em quantidades que, por vezes, superam a média de lavouras em fase de produção, especialmente quando irrigadas. Tal constatação é mais efetiva para o conilon do que para o arábica, tendo em vista o salto de produtividade obtido a partir dos sistemas de produção com emprego das variedades clonais. Esforço em calcular subjetivamente a quantidade oriunda da catação foi conduzido a partir dos dados finais da previsão de safra 2015/2016 da CONAB4. Pelo relatório apresentado, havia no País 324.205 ha de lavouras em formação, repartidos entre 287.109 de arábica e 37.096 de conilon. Considerando como primeiro critério5 que 40% dessa área encontra-se na etapa mais adiantada da formação, ou seja, entre 18 a 30 meses do plantio, pode-se extrair área provável ocupada por lavouras nesse perfil. Ademais, como segundo critério, pode-se imputar, tanto para arábica quanto para conilon, percentuais para o manejo agronômico da irrigação. Adotados esses critérios, obteve-se que a área em formação das lavouras entre 18 a 30 meses cultivadas sob sequeiro somaria área de 98.721 ha sendo outros 30.960 ha cultivados sob irrigação (Tabela 1) Para o caso do conilon entendeu-se apropriado segmentar essa lavoura em dois grupos. O primeiro, mais Tabela 1 - Estimativa de área em formação, lavouras entre 18 e 30 anos, Arabica e Conilon, Brasil, 2015. ITEM Arabica

Lavouras Em Manejo Agronômico (18 a 30 meses) Formação 40% da área ....................................... em hectares ....................................... SEQUEIRO (85%) IRRIGADO (15%) 287.109 114.843 97.616

(BR) Conilon

12.077

SEQUEIRO (0%) IRRIGADO (100%)

6.904

2.762

SEQUEIRO (40%) IRRIGADO (60%)

--

(ES+BA) Conilon (RO)

17.226

30.192

1.105

Fonte: Previsão e estimativa de safra cafeeira, 4º Levantamento, CONAB 2015.

12.077 1.657


CAFÉ Tabela 2 - Estimativa subjetiva de catação, lavouras entre 18 e 30 anos, Arabica e Conilon, Brasil, 2015. PRODUTIVIDADE: lavouras entre 18 e 30 meses ITEM Arabica

IRRIGADO (cenário A e B - sc/ha)

SEQUEIRO (cenário A e B - sc/ha) A: 10

B: 20

A: 30

B: 40

976.160 sc

1.952.320 sc

516.780 sc

689.040 sc

Conilon

--

--

A: 45

B: 650

(ES+BA)

--

--

543.465 sc

785.005 sc

(BR)

Conilon (RO)

A: 10

B: 15

A: 15

B: 30

11.050 sc

16.575 sc

24.855 sc

49.710 sc

Fonte: Elaborada a partir de estimativa de área e subjetiva de produtividade.

tecnologicamente avançado, estabelecido no norte capixaba e sul da Bahia e o segundo, relativamente menos evoluído, em Rondônia. Ademais, adotou-se menor cobertura para a irrigação para o cinturão rondoniense em razão do clima tipicamente amazônico com grande incidência de precipitações bem distribuídas ao longo do ano. De posse das estimativas de área e de manejo, partiu-se para a simulação de produção a partir de dois cenários para a produtividade: A (pessimista) e B (otimista), mantendo o critério de manejo agronômico de condução sob sequeiro ou irrigado (Tabela 2). Pelas estimativas obtidas a catação das lavouras entre 18 a 30 meses em arábica sequeiro podem oscilar entre 976 mil e 1,95 milhão de sacas de café beneficiado apenas para a safra 2015/2016. Para a mesma variedade, porém sob manejo irrigado, a catação alcançaria entre 517 e 689 mil sacas. Totalizando a catação obtida em arábica e conilon sob o manejo de sequeiro e irrigado, seriam acrescentados à produção 2,07 milhões sacas no cenário pessimista (A). Por sua vez, no cenário otimista (B), a catação de lavouras em sequeiro e irrigadas poderia render até 3,49 milhões de sacas (Tabela 3). Provavelmente, a produção real oriunda da catação em 2015/2016 deva se situar entre os dois números estimados. A previsão efetuada concentrou-se na última safra apenas, que casualmente foi a que maior área em formação exibiu na atual década. Portanto, para as safras passadas o intervalo entre os cenários deve posicionar-se em patamares inferiores ao obtido nessa simulação. O avanço tecnológico observado no manejo agronômico das lavouras de café exige que se reveja o modo como se constroem as estimativas de produção. Desprezar a quantidade colhida oriunda da catação obtida em lavouras em fase adiantada de formação, aparentemente, consiste em falha que pode ser corrigida a partir da agregação de mais uma pergunta na enquete aos cafeicultores ou, alternativamente, passar-se a considerar lavouras comerciais todas aquelas com mais de 18 meses de plantio agregando à produção comercial aquela oriunda da catação. Tabela 3 - Incremento da produção a partir da estimativa subjetiva de catação, lavouras entre 18 e 30 anos, Arabica e Conilon, Brasil, 2015. ITEM

....................................... em sacas ....................................... TOTAL IRRIGADO SEQUEIRO

Hipótese A

987.210

--

1.085.100

--

2.072.310

Hipótese B

--

1.968.895

--

1.523.755

3.492.650

Fonte: Elaborada a partir de estimativa de área e subjetiva de produtividade.

BIBLIOGRAFIA 1 TAUNAY, Affonso de E. Pequena História do Café no Brasil (1727-1940). Instituto Brasileiro do Café, 1943. 480p. 2 Ao menos a estimativa de consumo nas propriedades produtoras de café avaliada, pela entidade que a produz, em um milhão de sacas, pode conter entre 600 a 800 mil sacas de sobrestimativa, conforme já se averiguou a partir de recenseamento realizado para o caso paulista. 3 A Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Minas Gerais em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla) iniciou, em 2015, projeto de georreferenciamento da cafeicultura estadual. Convêm salientar que o ajuste da área que será obtido pela técnica carece ainda de visitas de campo para mensuração da produtividade. Detalhes em: http://revistagloborural.globo.com/ Noticias/Agricultura/Cafe/noticia/2015/06/mg-investira-r5-mi-em-georreferenciamento-de-parque-cafeeiro.html > 4 Relatório disponível em: http://www.conab.gov.br/ OlalaCMS/uploads/arquivos/15_12_17_09_02_47_boletim_ cafe_dezembro_2015_2.pdf > 5 Todo critério é arbitrário, portanto, passível de contestação a partir de perspectivas alternativas. Como enfatizado, trata-se de esforço subjetivo com intuito de aprimoramento da estatística de produção. 6 O objetivo em estratificar a elaboração da estimativa, orientou-se no sentido de produzir aproximações mais reais, embora a subjetividade do método permaneça como principal limitação.

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Influência do boro no controle das doenças do cafeeiro 32

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Renato Passos Brandão1 e Raphael Roxo Bianco Rodrigues2

s nutrientes, elementos químicos essenciais à vida das plantas, são utilizados pelos produtores rurais com o intuito de aumentar a produtividade das culturas e a qualidade dos produtos

agrícolas. Entretanto, o estado nutricional das plantas tem uma grande influência sobre a ocorrência e a intensidade das doenças nas plantas. Normalmente, as plantas bem nutridas são mais tolerantes às doenças. Neste artigo será abordada a influência do boro (B) no controle das doenças na cultura do cafeeiro. FUNÇÕES DO BORO NAS PLANTAS É um nutriente requerido em pequenas quantidades pela cultura do cafeeiro. Entretanto, é essencial para o crescimento das plantas e a resistência às doenças. O B atua na síntese das paredes celulares (pectina, hemicelulose e precursores de lignina) e no alongamento celular, sendo que a maioria do B celular está localizado na parede celular. Portanto, o B atua na biossíntese das células auxiliando o Ca na deposição e na formação dos pectatos e é fundamental na manutenção da integridade da parede celular. Fazendo uma analogia, o Ca é o tijolo de uma casa e o B é a argamassa ou cimento. O B facilita o transporte dos açúcares formando um complexo borato-açúcar com os carboidratos, mais solúvel nas membranas das plantas. Além disso, o B tem efeito positivo na manutenção da estrutura e funcionamento dos vasos condutores. Sob condições de deficiência de B, ocorre redução no transporte da sacarose das folhas para outras partes da planta, devido a maior produção de calose, ocasionando a obstrução do floema. O B também está envolvido no metabolismo dos fenóis e na formação da lignina conferindo maior resistência do cafeeiro às doenças. A deficiência de B causa acumulo de fenóis que por sua vez, acelera a degradação do AIA e a formação de quinonas tóxicas que causam a morte dos pontos de crescimento e necrose das folhas do cafeeiro. Têm importante atuação na fase reprodutiva do cafeeiro auxiliando no crescimento do tubo polínico e na formação dos grãos. Em cafeeiro, é comum a presença de frutos chochos na colheita. Essa anomalia fisiológica pode ser causada por diversos fatores, dentre os quais, a deficiência de B. Este nu-

triente é importante na fertilização dos óvulos e no crescimento cultura preparando as plantas para o florescimento. O B deve ser aplicado no solo sob a forma de ulexita granulada (Gran Boro 10) e nas adubações foliares (NHT® P-Boro-P). A época mais adequada para o fornecimento do B ao cafeeiro é durante a estação de crescimento da cultura e não na época do florescimento do cafeeiro. DINÂMICA DO BORO NOS SOLOS

Os solos localizados nas regiões tropicais possuem baixos teores de B. É um elemento químico solúvel em água e os minerais contendo o B possuem baixa dureza. São encontrados em depósitos evaporíticos em regiões desérticas aonde eram anteriormente lagoas ou praias, dentre as quais, Altiplano Boliviano, deserto do Atacama, no Chile e Norte da Argentina. A disponibilidade do B do solo às plantas é afetada por diversos fatores, dentre os quais, material de origem, o pH do solo, precipitações pluviométricas, matéria orgânica, temperatura e atividade microbiana do solo. A matéria orgânica do solo é a principal fonte de B às plantas. Grande parte do B disponível é retido de forma bastante forte pela matéria orgânica. Os solos com baixo teor de matéria orgânica e/ou baixa taxa de mineralização da matéria orgânica podem apresentar concentrações de B insuficiente para atender as necessidades do cafeeiro. Além disso, regiões com alta pluviosidade, em solos arenosos, podem promover altas taxas de lixiviação do B (Prado, 2008). A disponibilidade do B ao cafeeiro também é afetada pelo pH do solo. A maior disponibilidade do B ocorre na faixa de pH entre 5 e 7 (Figura 1).

AUTORES

1 - Engº Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas pela UFLA e Gestor Agronômico da Bio Soja. E-mail: renatobrandao@biosoja.com.br 2 - Estagiário do Departamento Agronômico da Bio Soja.

Figura 1. Efeito do pH na disponibilidade do boro às plantas.


EFEITO DO BORO NAS DOENÇAS DO CAFEEIRO Conforme comentado anteriormente, as plantas com deficiência de B possuem menores teores de Ca nas paredes celulares reduzindo a sua integridade. Os pectatos de cálcio não se formam na ausência do B e os materiais pécticos da parede celular e lamela média tornam-se mais susceptíveis a hidrólise pelas enzimas pécticas produzidas pelos fungos. Portanto, o B desempenha um importante papel estrutural das paredes celulares mantendo a sua integridade funcional e ocasionando uma maior resistência das paredes celulares ao ataque das enzimas dos fungos. Em 1991, Graham e Webb foram os primeiros pesquisadores a relatarem a influência do B na redução do crescimento das hifas dos fungos no córtex das plantas. MANEJO DA NUTRIÇÃO COM BORO Normalmente, os solos tropicais possuem baixos teores de B e aqueles com menores teores de argila são mais susceptíveis as perdas deste nutriente por lixiviação. Portanto, é necessário que os cafeicultores realizem o fornecimento de B no solo e complementem o fornecimento deste nutriente nas pulverizações foliares. Inicialmente, realizar a análise de solo para a avaliação do teor de B no solo. Em solos com baixos teores de B, realizar a aplicação do nutriente no solo na dose de 2 a 4 kg/ha antes do início da estação das chuvas. Realizar duas adubações foliares com o NHT® P-Boro-P antes e após o florescimento do cafeeiro na dose de 1 L/ha. As demais adubações foliares só devem ser realizadas após a análise foliar do cafeeiro. Se o teor de B nas folhas do cafeeiro estiver abaixo da faixa adequada, realizar mais 2 adubações foliares na mesma dose.

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Além disso, se houver necessidade, realizar também a segunda adubação boratada no solo. FERTILIZANTES FORNECEDORES DE BORO AO CAFEEIRO A Bio Soja Fertilizantes possui uma linha completa de fertilizantes de solo e foliares fornecedores de B ao cafeeiro. O Gran Boro 10 é um fertilizante granulado de solo com 10% de B com liberação gradativa do nutriente. Possui 60% do B solúvel em água e o restante é liberado no ciclo do cafeeiro. Este diferencial de solubilidade do Gran Boro 10 reduz as perdas do nutriente por lixiviação. O NHT® P-Boro-P é um fertilizante foliar fluido fornecedor de B ao cafeeiro com uma formulação diferenciada. Possui 105,4 g de B/L. O B é complexado com polióis, garantindo maior translocação do nutriente no floema do cafeeiro e proporcionando um melhor aproveitamento pela cultura. CONSIDERAÇÕES FINAIS A deficiência do B pode reduzir significativamente a produtividade e a qualidade dos grãos reduzindo o tamanho e o peso. O cafeeiro com suprimento adequado de B possui maior resistência às doenças. O B atua na síntese e na integridade da parede celular (pectina, hemicelulose e precursores de lignina). Ocorre maior lignificação formando barreiras a penetração das hifas dos fungos. Em solos com baixa disponibilidade do B, realizar o fornecimento do nutriente no solo e adubações foliares iniciando as pulverizações antes do florescimento do cafeeiro.

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m Assembleia Geral realizada no início de fevereiro, em Ribeirão Preto (SP), as cooperativas associadas do CNC - Conselho Nacional do Café reconduziram, por unanimidade, a atual diretoria para um novo mandato de dois anos e aprovaram alguns ajustes no estatuto e no regimento interno do CNC para dar mais celeridade às ações. Em meio à reeleição, nós, da diretoria, agradecemos o apoio e a efetiva participação das cooperativas associadas na direção dos serviços do Conselho, destacando a satisfação de trabalhar em sintonia com representantes proativos, os quais contribuem positivamente para o alcance de resultados que beneficiam todo o setor cafeeiro. Para o biênio 2016-2018, comporão o Conselho Diretor do CNC: Carlos Alberto Paulino da Costa (Cooxupé); Esthério Colnago (OCB/ES); Francisco Miranda (Cocatrel); Francisco Sérgio de Assis (Federação dos Cafeicultores do Cerrado); José Vicente da Silva (Coopercitrus); Luciano Ribeiro Machado (Bancoob); Osvaldo Henrique Paiva Ribeiro (Minasul) e Tarcísio Rabelo (Coccamig). Maurício Miarelli (Cocapec) foi mantido no cargo de coordenador do Conselho e o deputado federal Silas Brasileiro aceitou o convite para continuar presidindo a entidade no exercício de fevereiro de 2016 a janeiro de 2018. FOTO: Divulgação CNC

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Assembléia Geral reconduz atual diretoria do CNC para o biênio 2016-2018

RECURSOS NA HORA CERTA — No dia 3 de fevereiro, a diretoria do CNC realizou audiência com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, para discutir pleitos de interesse do setor, entre eles a necessidade de disponibilização imediata, antes do lançamento do Plano de Safra, dos recursos destinados para as linhas de crédito do Funcafé em 2016. Para formalizar essa demanda, o presidente executivo do CNC, Silas Brasileiro, e o presidente da Comissão Nacional do Café da CNA, Breno Mesquita, enviaram à ministra um ofício conjunto ratificando a necessidade de acesso aos recursos do Funcafé pelos produtores rurais e suas cooperativas em tempo hábil para efetuar a colheita que se aproxima, bem como para promover o ordenamento da oferta da próxima temporada. Lembramos que os trabalhos de cata do café conilon se iniciarão a partir do final do próximo mês e que os cafeicultores do Espírito Santo, principal Estado produtor da variedade, enfrentam dificuldades financeiras devido à quebra de safra resultante da estiagem severa e prolongada, a qual

também reduzirá sensivelmente a produtividade no ciclo 2016/17. A diretoria do CNC alertou, também, que as regiões brasileiras de café arábica se preparam para uma recuperação dos volumes produzidos após duas quebras de safra consecutivas e, além disso, que há perspectiva de antecipação da colheita em relação ao ano anterior. “Assim, é fundamental que os recursos do Funcafé sejam disponibilizados de imediato para que o Fundo possa cumprir suas funções principais: (i) capitalizar os produtores e suas cooperativas para a colheita, atividade dispendiosa devido à necessidade de contratação de mão de obra; e (ii) financiar a estocagem, evitando excesso de oferta de café no mercado entre os meses de abril a julho e, consequentemente, o aviltamento da renda dos produtores”, elencou Silas Brasileiro Foi destacado, ainda, que os estoques brasileiros vêm apresentando sensível redução e na passagem para a safra 2016/17 (final de março) se aproximarão do nível mínimo histórico, condição favorável para a sustentação dos preços recebidos pelos produtores. Porém, se os recursos do Funcafé não forem disponibilizados de imediato, essa oportunidade será perdida, já que os cafeicultores terão que vender as sacas recém-colhidas para financiar a própria colheita, criando pico de oferta no mercado e, consequentemente, aviltando os preços. Tal cenário seria inaceitável em um País que conta com um fundo exclusivo para financiar o custeio e o ordenamento da oferta da cafeicultura, o qual possui orçamento aprovado para este fim de R$ 4,632 bilhões na temporada 2016/17. Para que esses recursos cumpram a sua função, precisamos apenas de agilidade nos trâmites governamentais necessários para que sua disponibilização aos cafeicultores e suas cooperativas ocorra até o mês de março deste ano. (FONTE: CNC)


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COCAPEC lança loja online de suas marcas de café

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s cafés da Cocapec há anos fazem parte da mesa do brasileiro atuando principalmente no Estado de São Paulo. Mas a partir de agora o país todo poderá tomar um dos melhores grãos do mundo, produzidos pelos cooperados da Alta Mogiana, pois a cooperativa acaba de colocar no ar sua loja virtual. O endereço eletrônico é o www.senhorcafe.com.br e pode ser acessado através de vários dispositivos como computador, notebook, smartphone e tablets. O site possui um visual moderno e navegação intuitiva para facilitar a escolha e compra dos produtos, permitindo incluir quantos itens quiser. São aceitos diversos cartões de crédito, além da opção em pagamento em boleto bancário. A loja online é totalmente segura, garantindo por certificados como o Norton Secured e Secured By RapidSSL. Atualmente estão disponíveis as marcas Senhor Café, Tulha Velha e Cocapec, em todas as suas versões. Além disso, lindas xícaras personalizadas também podem ser adquiridas dando um charme a mais na hora de servir a bebida. São encontradas também máquinas de espresso de alta qualidade para consumidores que queiram apreciar seu cafezinho de formas diferentes. A efetivação da loja virtual faz parte do “Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias II – Acesso

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ao Mercado”, uma ação do Governo do Estado de São Paulo, conduzido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, através da Coordenadoria de Assistência Integral (CATI) e diversos órgãos ambientais. O objetivo do projeto é ampliar a competitividade e proporcionar o acesso ao mercado aos agricultores familiares organizados em associações e cooperativas paulistas. Acesse agora mesmo o www.senhorcafe.com.br e tenha uma nova experiência na hora de comprar o seu cafezinho do dia a dia.


AS EXPORTAÇÕES DE CAFÉ DO BRASIL André Luis da Cunha - Cafeicultor, diretor-presidente da AMSC - Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Alta Mogiana [ altamogiana@amsc.com.br ]

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a coluna do último mês, o tema abordado foi o da demanda por cafés especiais, um mercado em franca expansão no mundo. É de grande valia, portanto, abordar alguns detalhes das exportações de café efetivadas pelo Brasil e algumas características dos mercados que o país tem acessado. Sabe-se que além de maior produtor mundial de café, o Brasil é também o principal exportador do grão, com exportações em 2013 de um total de US$ 4.582 milhões de café, referente a 28.319 mil sacas. Quase metade desse valor ficou concentrada em mercados tidos como tradicionais importadores: 19% tiveram os Estados Unidos como destino, outros 19% a Alemanha, e 10% para o Japão. O Brasil também marca presença nos “novos” consumidores – que têm chamado cada vez mais atenção do comércio mundial. Exportamos, naquele mesmo ano, para a Austrália, 186 mil sacas de 60kg; para a Coréia do Sul, um total de 328 mil sacas; e para a China 28 mil sacas. Lembrando que muito do café brasileiro pode chegar à China de uma forma indireta, como, por exemplo, através da própria Coréia do Sul. Além de saber o quanto exportamos para esses países, é preciso conhecer o quanto representamos das importações de café deles e quem são os principais concorrentes dos grãos brasileiros. Nos mercados tradicionais, aproximadamente, 30% do valor importado por Alemanha e Japão são oriundos do Brasil. Esse percentual cai para 19% quando se trata de Estados Unidos, maior consumidor mundial de café, que importa outros 19% dos grãos consumidos do principal concorrente, a Colômbia. Nos “novos” consumidores, chama a atenção o fato de o Brasil contribuir com apenas 5% das importações de café da China. Um mercado com enorme potencial consumidor,no qual,por exemplo, a Starbucks anunciou recentemente a abertura de mais 500 cafeterias em 2016, como parte da meta de atingir 3.400 estabeleciFOTO: Divulgação AMSC

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mentos até 2019, representando uma expansão de 70% neste mercado. Sabe-se também que apesar de serem atualmente grandes consumidores do café commodity, nesse país há os chamados “bolsões” de consumo dos cafés especiais em Xangai, Pequim e Guangzhou, onde há concentração de pessoas que viajam frequentemente ao exterior e estão incorporando o conhecimento sobre qualidade em café. Lembrando apenas que a China adquiriu 58% do seu café do Vietnã e que apresenta uma das maiores taxas de crescimento de gastos dos consumidores que, entre 2008 a 2013, ficou em média 10% a.a.. Outro país que surge como destaque quando se trata de consumo de cafés especiais é o Canadá. Um país que consumiu, em 2013, 3,5 milhões de sacas de café, tem elevado índice per capita de consumo de café e PIB, mas que compra apenas 16% dos seus grãos do Brasil, mas 26% da Colômbia. E quanto às projeções para o futuro? Alguns “novos” consumidores, como é de se esperar, apresentam taxas mais significativas. China e Coréia do Sul, por exemplo, tem, respectivamente, perspectiva de um crescimento médio anual de cafeterias entre 2014 a 2019 de 18% e 7%. Austrália vem logo atrás com 6% e Estados Unidos com 5%. Essas informações são indicativas de que há várias oportunidades no comércio mundial de café. Como país, deve se atentar a como manter a participação de mercado em tradicionais consumidores – com possibilidade de expansão em alguns; e como melhor acessar os mercados emergentes com estratégias de médio e longo prazo. Como Região da Alta Mogiana, a análise é análoga. Daí a importância de traçar metas sobre como a Região quer se posicionar diante das oportunidades que se apresentam. *Os dados citados nesta coluna tem como fonte o MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio; ou APEX – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, disponibilizados pela BSCA – Associação Brasileira de Cafés Especiais.


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Cafés Especiais da Região da Alta Mogiana acessam mercados de alto valor agregado

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m dos principais resultados almejados com os cafés especiais é o acesso a mercados que reconheçam a qualidade diferenciada do grão e que a mesma seja remunerada através de um ágio no preço em relação a commodity. Nos últimos cinco meses foi possível comprovar que a Região da Alta Mogiana tem cafés com o potencial para estar nesses mercados através dos bons resultados das vendas dos lotes dos concursos de qualidade, no mercado nacional e internacional. Também como conseqüência desse destaque e igualmente importante, está a consolidação da Região como Origem de Cafés Especiais, o que atrai novos compradores para as safras futuras. A tabela retrata o que pode ser considerado um dos melhores desempenhos dos cafés especiais da Região da Alta

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Mogiana, fruto do resultado do trabalho de cafeicultores associados da AMSC em parceria com a Associação. Os valores das sacas vendidas em concursos são apenas uma mostra do potencial que os grãos de qualidade podem atingir e uma forma de valorizar o trabalho e motivar a cafeicultura da Região a investir na melhoria dos processos produtivos com foco no café especial. A agregação de valor e a conseqüente elevação da rentabilidade virão com uma cadeia produtiva engajada e atenta a qualificação dos profissionais e inovações em manejo e equipamentos, promovendo melhores resultados a todos seus agentes.


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J.B. Matiello1, S.R. Almeida1, R. N. Paiva1 e C. Landi Pereira2

FOTOS: Fundação PROCAFÉ

Cercospora precoce ataca frutos de café cercosporiose é uma doença que ataca folhas e frutos do cafeeiro. Nas folhas causa lesões que, rapidamente, provocam a queda delas e, nos frutos, as lesões causam a maturação forçada, o chochamento e, boa parte deles,acaba caindo antes da colheita. As condições que favorecem o ataque da cercosporiose são a fraqueza das plantas, muito associada à deficiência de nitrogênio, as altas insolações e temperaturas. Assim, lavouras mal nutridas e aquelas com carga mais alta são mais sujeitas à doença. Neste ano agrícola 2015/16, com o adianCercosporiose precoce, neste ano, em meados de janeiro/16, provocando lesões e a maturatamento da floração e, em consequência, tam- ção forçada dos frutos de café. bém uma antecipação no processo de granação e O controle químico da cercosporiose é mais efetivo maturação dos frutos, especialmente nas regiões de altitudes mais baixas, essas fases, onde a planta mais exige reservas, com o uso de fungicidas protetivos, especialmente no caso para o desenvolvimento dos frutos/grãos, está coincidindo da doença em frutos, já que não se tem fungicidas de ação em um período quente, em janeiro, quando, também, vem sistêmica contra essa doença. O controle vem sendo praticado de forma associada ao controle da ferrugem, onde as ocorrendo muitas chuvas. Deste modo, vem acontecendo uma condição muito formulações de estrobilurinas+triazóis tem o duplo efeito. favorável à ocorrência do que se chama de cercosporiose Ocorre que a época dessas aplicações, contra a ferrugem, precoce, antes da época normal da doença, a qual teria inicio não tem sido as ideais para o controle da cercosporiose, as com a efetiva maturação dos frutos. Essa condição acontece quais, necessárias de forma mais preventiva, pela própria napelas altas temperaturas e pelas fortes chuvas, estas prejudi- tureza protetiva dos fungicidas, deveriam ser iniciadas mais cando pela lavagem, em profundidade, do nitrogênio, apli- cedo, especialmente num ano como o atual. Deste modo, uma das indicações que julgamos adequacado pelas adubações. da, seria iniciar o controle usando um fungicida cúprico ou AUTORES outro protetivo ou associá-lo nas aplicações normais, das for1 - Engenheiros Agrônomos da Fundação PROCAFÉ. Site: www.fundacaopromulações de triazóis + estrobilurinas. Ultimamente tem havido cafe.com.br restrição ao uso associado, por parte de alguns pesquisadores, 2 - Engenheiro Agrônomo da FSH. no entanto, a experimentação e a prática tem mostrado efeito benéfico dessa associação. Finalmente, uma observação nova sobre o prejuízo da cercosporiose em frutos. Trata-se da sua influência sobre a qualidade do café. Com as lesões da doença provocando a necrose da casca dos frutos, eles ficam mais sujeitos ao ataque de fungos saprófitas, dos gêneros Penicillium, Fusarium e outros, que podem provocar fermentações prejudiciais à bebida do café. Isto além do seu já conhecido efeito prejudicial, sobre o Lesão da cercosporiose em folha, que provoca rápida rendimento e o tipo do café. Lesão inicial da cercospora em fruto verde. desfolha


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Pesquisa descobre café sabor ‘menta mentolado’

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o café de coador ao café expresso, do café simples ao gourmet, nenhum mostra ainda toda a variedade de sabores oferecida pelos grãos. Cientistas de São Paulo descobriram que é possível encontrar na natureza cafés mentolados. Tem café com gosto de alecrim, eucalipto, menta, hortelã e especiarias, que permitem uma reconfiguração dos cafezais à indústria. O resultado dessas pesquisas vem sendo divulgado pelo Instituto Agronômico (IAC). O Programa de Cafés Especiais do IAC desenvolve pesquisas relacionadas à melhoria da qualidade do café, com ênfase à identificação de cultivares de Coffea arabica com perfil sensorial diferenciado. Durante pesquisas recentes, os degustadores profissionais ficaram impressionados e surpresos com os “novos” aromas, segundo o IAC. Os grãos foram classificados como exóticos. Os próprios especialistas não conheciam cafés com esses sabores. Para que cheguem aos consumidores, no entanto, devem ser necessários pares de anos. As sementes são de plantas de cafés arábicas selvagens, ou seja, que tiveram suas características formadas e preservadas pela própria natureza. Porém, também podem ser alcançadas por meio do cruzamento de cultivares específicas. Trata-se de “cultivares elite com alguns acessos que fazem parte do germoplasma de Coffea spp mantido pelo Instituto”, divulgou o IAC. O banco de cafés inclui materiais gené-

ticos de países como a Etiópia. Hoje, a cafeicultura brasileira usa largamente as sementes desenvolvidas pelo IAC. O instituto estima que sua participação seja de 90%. O Gerson Silva Giomo, especialista em tecnologia de processamento e qualidade que coordena o projeto, conta que “houve confirmação de que realmente existem cafés com perfil sensorial bastante diferenciado dos cafés tradicionalmente cultivados no Brasil”. A descoberta mostra que o foco das pesquisas não é mais só volume, mas também qualidade. Giomo define cafés exóticos como “cafés que, além da excelente qualidade de bebida, possuem sabores e/ou aromas complementares que lhe conferem mais complexidade sensorial e os tornam raros e diferenciados dos demais cafés”. Daí a expectativa de abertura de novos mercados e linhas de produção. “Os cafés exóticos podem apresentar mais de uma característica sensorial diferenciadora ao mesmo tempo”, acrescenta. Ele diz que ainda é muito cedo para falar de seleção e multiplicação dessas cultivares. “É um processo de alta complexidade que se executa em longo prazo (...) Os testes em campo deverão contemplar diversos ambientes de produção e diferentes formas de processamento.” As sementes terão de atingir padrões técnicos para se tornarem cultivares do IAC.

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o último dia 21 de janeiro foi realizado o Circuito Tecnológico Syngenta 2016 na Agropecuária Conquista, em Jeriquara (SP), de propriedade do cafeicultor Rodrigo de Freitas. A equipe técnica da Syngenta apresentou as novidades do portifólio da empresa. O evento também contou com o apoio da COCAPEC – Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Franca que, através dos seus profissionais de campo, também apresentou informação atualizadas sobre o cultivo de café. Ao todo, mais de 80 cafeicultores da região participaram do evento e foram em busca de adquirir novos conhecimentos e tirar dúvidas com profissionais altamente qualificados. Além disto, puderam conhecer os novos produtos e fortalecer os laços com a empresa multinacional Syngenta. O evento consistiu em “4 Estações”, onde que cada técnico relatava a eficácia de cada produto e todos os serviços prestados pela Syngenta. A 1ª ESTAÇÃO, teve a explanação

do Flávio Nascimento (Assistente Técnico de Vendas), que abordou a forma de aplicação de cada produto, usados do começo ao fim na lavoura de café, como o Priori Top®, Priori Xtra®, Verdadero®, Actara® e Durivo®. Deixando claro,

Tadeu Almeida Souza apresentou os investimentos da Syngenta.

Flávio Nascimento abordou a forma de aplicação dos produtos Syngenta.

Letícia Campos falou das inovações e eficácia dos produtos Syngenta.

José de Alencar Coelho Junior, gerente comercial da Cocapec apresenta o trabalho dos profissionais de campo da cooperativa.

FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

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Circuito Tecnológico Syngenta 2016 é realizado em Jeriquara (SP)


FOTOS: Revista Attalea Agronegócios

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O cafeicultor Rodrigo Freitas, observado por Alberto Rocchetti Neto, diretor da COCAPEC, mostra o trabalho desenvolvido na Agropecuária Conquista, utilizando-se do portifólio de produtos Syngenta.

Tadeu Almeida Souza apresenta aos participantes a importância dos investimentos feitos pelos cafeicultores ao utilizarem produtos do portifólio Syngenta.

para todos os produtores, que os produtos Syngenta são todos liberados pelo Ministério de Agricultura e que, além de serem mais eficientes, são menos tóxicos. Já na 2ª ESTAÇÃO, Letícia Borges Campos (Assistente Técnico de Desenvolvimento de Produtos) falou das inovações dos produtos Syngenta e da eficácia de cada um. “O exemplo mais concreto é o Durivo®, que não teve nenhuma divulgação feita pela Syngenta e, sim, o boca-a-boca dos produtores que usaram e gostaram. Com isto, o interesse pelo produto cresce”. A 3ª ESTAÇÃO ficou sob o comando de Marcelo Marçal (Assistente Técnico de Vendas) que apresentou os depoimentos dos produtores que usaram os produtos Syngenta e

que agora são fiéis a toda linha de manejo do café da empresa. Para finalizar, na 4ª ESTAÇÃO, Thadeu Sousa (Representante Técnico de Vendas/RTV) mostrou a importância dos investimentos feitos pelos cafeicultores com os produtos Syngenta. “O retorno é certo”. “Não deixo de utilizar todos os insumos necessários. Achar que estou cortando custos diminuindo a quantidade ou até mesmo a qualidade, seria um grave erro, pois esta prática está diretamente relacionada com a sanidade. Em tempos difíceis, ficamos tentados a investir menos em insumos. Mas é exatamente neste momento que temos que estar com a lavoura em plena produtividade”, afirmou Rodrigo Freitas, diretor da Agropecuária Conquista.

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Dalyse Toledo Castanheira1, Giovani Belutti Voltolini2 e Larissa Cocato da Silva3

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FOTO: Giovani Belutti Voltolini

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Doenças do cafeeiro: incidência de ferrugem tardia causa grandes perdas aos cafeicultores

ferrugem do cafeeiro possui como agente causal o fungo Hemileia vastatrix Berk. e Br., e possui ampla disseminação em todo território nacional. Esta doença foi inserida no país durante a década de 70 e quase dizimou o parque cafeeiro até então existente no Brasil. No entanto, a partir de seu ingresso, alguns produtos foram sendo desenvolvidos a fim de controlar o patógeno. Atualmente, o manejo preventivo da ferrugem, na maioria das vezes, tem se mostrado com muita eficiência, assegurando a baixa incidência do fungo nas folhas cafeeiras. Geralmente, a disseminação da doença é favorecida por épocas com elevada precipitação, ou seja, muita umidade, aliada a temperaturas Figura 1. Desfolha causada pela ferrugem no cafeeiro. elevadas, além de maior incidência em cafeeiros com carga incidência da ferrugem no cafeeiro são evidenciados pela pendente elevada e em condições de grande adensamento. intensa desfolha da planta, principalmente quando a mesma Entretanto, nestes últimos anos, ocorreram algumas mudan- se encontra com alta carga pendente. Também é observado ças no clima, favorecendo a ocorrência de uma nova forma como consequência da doença a seca de ramos e a redução de ataque do fungo, que é a ferrugem tardia. da vida útil da planta. Se tratando do caso de incidência precoce, pode provocar redução drástica no pegamento da floDANOS PROVOCADOS - Os danos provocados pela rada. E no caso da ferrugem tardia, a queda das folhas pode prejudicar o desenvolvimento inicial dos ramos para a safra AUTORES seguinte. Portanto, as diversas formas de ataque, aliado aos 1 – Doutoranda em Fitotecnia/Cafeicultura pela Universidade Federal de danos causados ao cafeeiro fazem com que a ferrugem proLavras – UFLA, membro associado ao Núcleo de Estudos em Cafeicultura voque redução elevada na produtividade da lavoura, che– NECAF e Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD. Email:- dalysecastanheira@hotmail.com gando em alguns casos a perdas de 50%. 2 – Graduando em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro associado ao Núcleo de Estudos em Cafeicultura – NECAF e Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD. Email:- giovanibelutti77@hotmail.com 3 – Graduanda em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, membro associado ao Núcleo de Estudos em Cafeicultura – NECAF. Email:- lari.cocato@hotmail.com

REGIÕES MAIS ATACADAS - A ferrugem é uma doença causada por um fungo, que precisa, como todos fungos, de certas condições para se desenvolver e reproduzir. Com isso, o fungo causador da ferrugem “gosta” de alta umidade e temperaturas mais elevadas. A partir disto, nota-se que a maioria das regiões cafeeiras do Brasil estão propicias à ocorrência da ferrugem. O que pode diferenciar a intensidade de ocorrência de ferrugem de região para região é o espaçamento da lavoura, sendo que em lavouras mais adensadas o índice de incidência de ferrugem é superior ao de lavouras com maiores espaçamentos, pois em lavouras adensadas, o ambiente interno torna-se mais úmido e propicio para o fungo. A partir de pesquisas realizadas pela Fundação PROCAFÉ, foi observado que em lavouras mais adensadas houve incidência de 40% a mais do fungo, e consequentemente, menor produtividade, quando se comparando com lavouras menos adensadas.


PRIMEIROS SINTOMAS DA DOENÇA - Os sintomas da ferrugem são observados nas folhas do cafeeiro, sendo mais marcantes na face inferior do limbo foliar, ou seja, na face abaxial. Inicialmente, na face inferior das folhas, há o aparecimento de pequenas manchas translúcidas cloróticas, de 1 a 3 mm de diâmetro, que, posteriormente se transformam em manchas de aparência pulverulenta com coloração amareloalaranjada, alcançando até 2 cm de diâmetro. Essas manchas, massas pulverulentas, são formadas por uredósporos do patógeno que são capazes de cobrir grande área da folha. Na face superior da folha, os sintomas são detectados quando já houve a formação da massa pulverulenta na face inferior, sendo observadas áreas cloróticas amareladas que correspondem aos limites da pústula. Com a evolução da doença as lesões se tornam maiores e com aparência necrótica. É importante salientar, que quando se observa a desfolha do cafeeiro a doença já está evoluída e pode ter causado sérios prejuízos para a futura produção, sendo necessário a observação minuciosa das folhas para o monitoramento da doença. Os primeiros sintomas da doença são observados no terço inferior da planta, se expandindo para as outras partes de acordo com as condições para sua disseminação. FORMAS DE CONTROLE - São muitas as formas de controlar a incidência de ferrugem no cafeeiro, abrangendo desde técnicas culturais, técnicas preventivas, técnicas curativas e também erradicantes. O controle cultural consiste na realização de adubações equilibradas, podas periódicas, desbrotas e também pela não utilização de super adensamento nas entrelinhas do cultivo. Porém, o controle preventivo é indispensável, pois o ataque da ferrugem sempre se mostrou como um grande problema aos cafeicultores. A prevenção é um dos passos mais importantes no controle, pois sob baixa incidência da doença o controle se torna mais fácil. A utilização de cobre tem apresentado bons resultados na prevenção da ferrugem, principalmente no início do ciclo da doença, que se inicia em novembro. Já o controle por meio da utilização de fungicidas, principalmente a base de estrobilurina + triazol, é o mais recomendado, pois a eficiência de controle é elevada, desde que aplicados no momento certo. O mais recomendado seria a adoção de um sistema de manejo integrado, realizando as diversas práticas culturais, aliado ao controle preventivo e por fim o químico, por meio da utilização dos fungicidas em momentos que antecedem a maior propensão ao desenvolvimento da doença, ou seja, de novembro a março. ÉPOCA IDEAL PARA O CONTROLE - Como já mencionado anteriormente, há condições climáticas propicias para que ocorra a incidência da ferrugem na lavoura cafeeira. Dessa forma, a ferrugem tardia ocorre quando chove pouco em janeiro e fevereiro, atrasando então a inoculação da doença, e acarretando, consequentemente numa desnutrição do cafeeiro, pois com o atraso das chuvas, as adubações

FOTO: IICA

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Figura 2. Sintomas da doença no cafeeiro.

ou são adiadas ou se mostram ineficazes, promovendo dessa maneira, maior susceptibilidade da planta, pois a mesma está em déficit hídrico e mais vulnerável ao ataque do fungo. Após este período de escassez hídrica, ocorrente principalmente nos últimos anos, a chuva é restabelecida, entre março e maio, em menor intensidade, tendo ainda, temperatura mais alta do que o normal, o que proporciona grande incidência da ferrugem, “escapando”, na maioria das vezes, do controle químico que foi realizado entre dezembro e março.


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Dessa forma, o controle químico normalmente é realizado entre dezembro e março, com 3 aplicações. Porém, quando falamos da ferrugem tardia, aconselha-se estender a época de aplicação, podendo ser feita por meio da aplicação inicial preventiva (cobre ou estrobilurina) em novembro, seguindo – se 2 aplicações de triazol mais estrobirulinas, que são preventiva – curativa, estas duas iniciando e terminando mais tarde, entre fevereiro e abril. Observa-se também que em infecções tardias, especialmente em lavouras novas e naquelas que vão ter boa produção no ano seguinte, aplicar um triazol curativo ou sua combinação com estrobilurina, nesse caso atuando, ainda, contra a cercosporiose tardia e algo sobre Phoma. Atualmente, há muitas opções de produtos no mercado, sendo que, o uso de fungicidas na lavoura cafeeira se destaca com um dos tratos culturais mais importantes para a obtenção de altas produtividades. NOVA FORMA DE MANEJO - A ocorrência da ferrugem tardia nos cafeeiros se tornou um grande problema, afetando muito a produtividade das lavouras. Como mencionado anteriormente, a mesma passou a ocorrer devido às mudanças no clima e também pela influência de fatores como o ciclo da doença, a suscetividade das plantas, entre outros.Portanto, a recomendação a ser seguida visando à redução da incidência da doença tardiamente, é a aplicação de fungicidas após o período que até então era recomendado, ou seja, até março. Alguns ensaios de campo mostram que a incidência de folhas infectadas pelo fungo é reduzida quando a aplicação do fungicida é realizada nos meses de abril/maio. Esta aplicação pode ser complementar às outras aplicações, ou também pode fazer parte da mesma estratégia de controle adotada anteriormente, entretanto, se faz necessário uma espera maior para se iniciar o controle, resultando na última aplicação mais tardiamente. Porém, deve ser observado o nível de infestação constantemente, para que o mesmo se inicie na época certa. CUSTO x BENEFÍCIO - Há maneiras de se prevenir da ferrugem tardia, porém, em muitos casos o manejo pode custar um pouco mais do que normalmente o produtor realizava, e com isso, a análise de custo – benefício deve ser feita, verificando se o gasto “extra” que lhe é proposto vale a pena. Entretanto, segundo estudos realizados pela Fundação

FOTO: Giovani Belutti Voltolini

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Figura 3. Sintoma na face superior das folhas.

PROCAFÉ, foi concluído que com o controle da ferrugem bem feito, em que o índice de folhas infectadas final foi de 10 a 20% e de desfolhas de 20 a 30%, não ocorrendo, dessa forma, perdas significativas na produtividade. Observa-se ainda que a partir destes estudos, a produtividade em lavouras de café que não houve controle adequado da ferrugem, as perdas ocorreram entre 30 a 50%, dependendo, sempre, da intensidade da incidência do fungo. Deste modo, ao analisar este contexto, recomenda-se ficar sempre atento quanto ao grau de intensidade de infecção da ferrugem, temperatura e umidade ambiente, e a partir disto diagnosticar a lavoura conforme esteja necessitando, pois, o gasto extra com a prevenção do ataque da ferrugem, pode ser pequeno quando comparado a perdas de produtividade causadas pela doença. CONTROLE GENÉTICO - A biotecnologia vem contribuindo muito com a agricultura nestes últimos anos, onde por meio do melhoramento das plantas e surgimento de novas cultivares com características de resistência as plantas estão cada vez mais produtivas e com maior facilidade na realização dos manejos empregados na cultura. Sobretudo, na cultura do café o mercado dispõe de algumas cultivares que se apresentam resistentes à ferrugem, não sendo assim necessário, a utilização de fungicidas para este fim. Entre estas cultivares podemos destacar algumas da EPAMIG como a “Aranãs”, “Catiguá MG (1,2 e 3)” e “Paraíso”, algumas do IAC, como o “Icatu” e “Tupi” e também algumas do IAPAR como o “IPR-107”.


SOLOS

A importância da análise de solos

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procedimento de amostragem de solos é uma prática de grande relevância a fim de determinar a fertilidade do solo, para que possamos corrigir de forma mais precisa as características produtivas do solo, que afetará o potencial de rendimento final da cultura a ser cultivada. A análise tem baixo custo operacional, comparado aos enormes benefícios que nos trás, além de nos informarmos sobre recomendações como calagem e/ou adubação a fim de aumentarmos a produtividade das glebas e por fim diminuir custo utilizado adubações corretas, diminuindo assim gastos por fórmulas desnecessárias, muitas vezes utilizamos formulações acima do recomendado ou contrário. Além disso, pode ser realizado em qualquer época do ano, mas recomenda-se que se faça em 3 meses antes do plantio para que se possa dar tempo para uma boa análise e posterior correções. Uma boa análise de solo depende da correta amostragem na área a ser plantada, por tanto uma amostra bem feita dará maior precisão, por isso devemos seguir alguns critérios importantes neste procedimento:-

• A melhor opção mais adequada para coletas de solo é a pá-de-corte, onde em plantio direto 15 sub-amostras da secção transversal são suficientes para a coleta de uma amostra representativa de solo, já com a utilização de trados caladores ou rosca recomenda-se mais sub-amostras podendo chegar a (>50) devido à pequena quantidade de solo amostrada em cada sub-amostra. 1°) - Separar a lavoura em áreas homogêneas lembrese que cada amostragem feita irá representar uma área com características semelhantes, considerando-se: => Tipo de solo: Solos diferentes devem ser amostrados separadamente, onde podem ser diferenciada pela sua coloração, topografia do terreno... => Histórico e utilização da Lavoura: Áreas com adubações e calagem diferentes ou rotação de culturas diferentes necessitam ser amostrada separadamente. Importante:- Cada amostra final não deve ultrapassar áreas superiores a 20 hectares, pois em áreas maiores a amostra ficará comprometida!

2°) - Qual a Profundidade de solo a coletar? => 0–10 cm:- quando o sistema for de plantio direto, campo nativo e melhoramento de campo nativo. => 0–20 cm:- quando o sistema for de plantio convencional, hortaliças ou frutíferas 3°) - Como percorrer as glebas? Uma forma muito utilizada é o caminhamento em zigue-zague pois atingimos mais sub-amostras em locais distintos abrangendo a maior parte da área, conforme figura. Cada ponto saíra uma sub amostra que deverá ser colocada em um balde após todos os pontos feitos, onde devemos misturar bem e posteriormente retirar as 500 gramas que irá para o laboratório, mas atenção o recomendado é fazer de 10 à 20 sub-amostras simples para cada área amostrada. 4°) - Procedimento de envio da amostra ao laboratório: => Após a coleta da amostra composta devemos separar cerca de 500 gramas de solo e colocar em um saco plástico limpo sem resíduos, não utilizar sacos de adubo, pacote de sal, farinha, pois podem interferir na análise final do laboratório em virtude de possuir resíduos. => Não esquecer de identificar as amostras de solo, com etiquetas onde forneçam algumas informações como profundidade coletada, dados da localização da área amostrada, glebas, e dados padrões do cliente. => Enviar de forma imediata ao laboratório, não expor o solo a altas temperaturas, pois pode interferir na amostra, podem ocorrer reações. Existem 2 tipos de análises feitas pelos laboratórios:Análise Básica: São avaliados argila, pH em água, índice SMP, matéria orgânica, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e alumínio. Análise Completa: análise básica + enxofre + micronutrientes (manganês, cobre e zinco); A interpretação da análise de solo deve ser feita por um Engenheiro agrônomo, para que possa orientar da forma mais correta possível.

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Ultra-Adensamento de plantio de citros pode quase dobrar a produção

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lantar árvores de citros mais perto umas das outras aumenta a produção das safras iniciais em até 89% em relação aos espaçamentos tradicionais. Os resultados foram registrados em experimentos desenvolvidos pela Embrapa em parceria com a EECB - Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (SP). O chamado adensamento se revelou extremamente importante para os produtores de São Paulo, onde se localiza o maior polo citrícola do Brasil, pois ajudou a compensar perdas causadas pelo Huanglongbing (HLB), considerada a mais severa doença dos citros da atualidade. Com base nesses resultados, pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) iniciaram uma nova geração de experimentos, com espaçamentos ainda menores, em São Paulo e em outras regiões do País. O objetivo é oferecer alternativas inovadoras e sustentáveis à citricultura, com possibilidade de ampliação dos lucros e redução dos custos de produção. No momento, estão sendo testados nove arranjos diferentes, que vão do espaçamento 6m x 3m, utilizado no Nordeste, até 4m x 1m, ou seja, saindo de 550 plantas por hectare para 2.500. “Aumentamos cinco vezes a densidade para ver entre os dois extremos onde está o maior retorno de produtividade. Vamos agregar ainda a análise agronômica e de qualidade do fruto. Há mais de 30 anos, não há alteração nessa questão do espaçamento no Norte e no Nordeste do País,” conta o pesquisador Eduardo Girardi, coordenador da carteira de pesquisas relacionadas ao HLB dos Citros. Diante do HLB, que atinge os estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, a prática permite maior competitividade e permanência na atividade para pequenos e médios produtores que possuem até 100 mil pés e representam cerca de 80% dos citricultores em São Paulo, segundo dados do Centro de Conhecimento em Agronegócios da Universidade de São Paulo (Pensa/USP). O uso da técnica ajuda a compensar a redução decorrente da erradicação obrigatória das plantas infectadas com HLB. PLANTIOS NO NORDESTE SÃO INCLUÍDOS NA PESQUISA - O projeto iniciado em 2014, com duração de

quatro anos, estende os experimentos para o Nordeste e Norte, regiões ainda não atingidas pela doença. “Mesmo que em Sergipe, Bahia e Pará não exista o HLB, é interessante já avaliar o ultra-adensamento nessas situações, porque caso a doença entre nessas regiões, o clima e o solo são muito diferentes dos da citricultura paulista. Assim, nos antecipamos ao problema”, explica Girardi. Além dos novos experimentos em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, foram instaladas quadras experimentais de ultra-adensamento no estado da Bahia: litoral (Tabuleiros Costeiros), semiárido (Curaçá) e Chapada Diamantina (Mucugê). Em Sergipe, há ensaios na estação da Embrapa Tabuleiros Costeiros em Umbaúba. Os experimentos foram replicados no Pará, no município de Capitão Poço, região de alta produção de citros. Os resultados dos experimentos em Sergipe, por exemplo, são considerados promissores pelo pesquisador da Embrapa Cláudio Leone, especialmente em relação ao bom desenvolvimento agronômico dos materiais plantados em diferentes densidades: “O pomar experimental com quase dois anos tem plantas vigorosas e bom aspecto fitossanitário. Outra relevante constatação é que o experimento está sendo conduzido em sequeiro [sem irrigação] e teremos inferências importantes sobre pomares nessas condições. A partir de quatro ou cinco safras regulares, poderemos indicar com mais segurança características sobre o comportamento das plantas no sistema adensado, proposta inovadora para a citricultura nordestina”. PRODUÇÃO MAIS DE CINCO VEZES MAIOR Um dos parceiros mais antigos no desenvolvimento desses estudos é o produtor Henrique Fiorese, com propriedades em Olímpia e Colômbia (SP) que somam 200 hectares de citros. Há cerca de 20 anos, ele começou a adotar a prática do adensamento. “Você tem uma produtividade menor por planta, porém maior por área. A média de produtividade nossa em espaçamentos tradicionais era na faixa de 400 a 500 caixas por hectare. Hoje temos área que chegou a dar 2.800 caixas por hectare. Temos espaçamentos de 6 m x 2 m até 5 m x 2 m. O adensamento é o caminho hoje para a citricultura”, afirma Fiorese, que também sofre com o problema do HLB. “A vantagem é que, com mais plantas, você arranca uma e outra automaticamente já ocupa esse espaço.” O pesquisador Eduardo Stuchi, responsável pelo campo avançado de Bebedouro da Embrapa Mandioca e Fruticultura, diz que a fala de Fiorese traduz o raciocínio do pomar adensado: da produção por área, não mais por plantas. “Antigamente se pensava muito em ‘quantas caixas havia por árvore’. Essa é a mudança de conceito: a produtividade é dada pela quantidade de fruta que você consegue colher em determinada área”, afirma. À frente desses estudos na EECB desde o início, Stuchi explica que nas décadas de 1970 e 1980 foram feitos vários experimentos, originalmente na região de Limeira (SP), que registra maior incidência de chuva. Havia a dúvida se na região mais quente, como é o clima do norte do estado,


FRUTICULTURA os pomares adensados teriam bom desempenho. Por isso, instalaram, no início da década de 1990, três experimentos na estação, que comprovaram a viabilidade da técnica mesmo em condições de estresse hídrico. Avaliados em 15 safras, esses experimentos geraram resultados que impressionam. Os ganhos são significativos com o pomar mais adensado, principalmente nas primeiras etapas (ver gráfico). “Chega-se a ter até 89% a mais de produção quando você compara um pomar de 714 plantas por hectare [7m x 2m] contra um pomar de 238 plantas [7m x 6m], nas cinco primeiras safras. A vantagem dos plantios mais adensados se mantém até a décima safra. A partir daí [da 11ª a 15ª Produtividade média anual (t/ha) de laranjeira Pera enxertada em tangerineira Cleópatra, no período safra], verificamos um ‘empate’. Isso ocor1989-2004, em função dos espaçamentos 7m x 2m e 7m x 6m, sem poda reu porque não realizamos podas. Por esse motivo, os pomares mais adensados ficaram pre-judicados por verificar o impacto que esse ultra-adensamento tem na disterem as plantas muito próximas e, por isso, recebiam menos seminação da doença, ou seja, se o fato de usar mais plantas iluminação. Mesmo assim, na média das 15 safras, a diferença por hectare vai fazer com que o HLB se dissemine mais ou foi de 20% em favor do mais adensado”, explica Stuchi. menos rapidamente. Existe uma percepção de que se você aumenta a quantidade de plantas por hectare, na medida AUMENTO DO NÚMERO DE PODAS - A necessidade em que há plantas doentes que serão perdidas, as outras de podas regulares é considerada um ponto negativo relacio- que sobram vão compensar a perda. Por outro lado, talvez a nado ao adensamento. De acordo com o consultor Leandro proximidade das plantas facilite a disseminação pelo insetoFukuda, são desvantagens que devem ser contornadas com vetor. Queremos eliminar essa dúvida”, explica Girardi. manejo e estratégias. “Os pomares adensados necessitam ser Mas uma coisa é certa, segundo o pesquisador: aumenpodados todo ano. Daí vem o grande paradigma da poda, que tar a produtividade e antecipar a produção, ou seja, ter cosempre vai provocar perda de frutos que estão na planta. É lheitas comerciais mais cedo, são fundamentais mesmo em difícil para o citricultor compreender que está trabalhando um panorama sem o HLB. “Na presença da doença, em que com um sistema com produtividades muito maiores e, para o pomar tem a perspectiva de viver menos tempo, é imporfazer a manutenção, tem de perder de 100 a 150 caixas por tante produzir mais em menos tempo. Daí o adensamento hectare, já que quando a poda não é feita surgem problemas apresenta-se como uma ferramenta prática, útil e efetiva graves na condução do pomar,” alerta o especialista. para alcançar esse objetivo,” observa. Ele diz ainda que a Ele acrescenta que o adensamento veio contribuir para produtividade mínima hoje que se espera para a citricultura o resultado de viabilidade econômica dos novos projetos de seja rentável gira em torno de 900 a 1.000 caixas de laranja citros. “Com a prática, temos conseguido fazer o payback (40,8 quilos) por hectare. “Nossa expectativa é, no fim desse [retorno financeiro] do projeto pelo menos dois anos antes. projeto, mostrar que o adensamento é uma ferramenta imAlém disso, os patamares de produtividade nos primeiros portante de ganho de produtividade e de manejo em uma dez anos são maiores do que nos pomares não adensados. citricultura com HLB e que pode ser praticado em diversos Depois, há a tendência de as produtividades dos adensados e ambientes e numa intensidade maior do que o setor hoje convencionais ficarem mais próximas, mas ainda com vanta- imagina ser possível,” acredita. gem para o adensado,” afirma, em consonância com Stuchi. Outra vantagem apontada por Fukuda é que, no pomar O INÍCIO DA PRÁTICA - O adensamento de planadensado, somente se recomenda replantios até os sete anos. tio em citros foi uma das pesquisas mais importantes que o “A partir daí, só erradicamos plantas, o processo inverso dos Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM) do Instituto pomares convencionais. E isso é muito bom por conta da Agronômico de Campinas (IAC) realizou, pelo seu alcance baixa contribuição das replantas que fazemos nos pomares social e retornos proporcionados aos citricultores, conforme quando estão mais velhos.” Ele também ressalta a redução destaca Joaquim Teófilo Sobrinho, engenheiro agrônomo e do uso de herbicida, pois, a partir do sexto ano, a aplicação ex-diretor do CCSM. As pesquisas foram iniciadas em 1970. do produto é feita somente em falhas na linha de plantio. “A produtividade média da citricultura não ultrapas“As pulverizações normalmente são feitas com pulveriza- sava 700 caixas por hectare, antes do uso da nova tecnologia. dores atomizados, aplicando para os dois lados, e o uso de Com o plantio mais adensado, o produtor começou a plantar volume de calda é pouco menor,” relata. 600, 700 ou mais plantas por hectare, dependendo da combinação copa/porta-enxerto [parte inferior que corresponde ao COMBATE AO HLB - Os estudos com ultra-adensa- sistema radicular da planta]. Para produzir 1.000 caixas por mento de plantio de citros fazem parte de um conjunto de hectare, bastaria produzir duas caixas por planta ou até menos, pesquisas para fazer frente ao HLB, doença para a qual ainda dependendo do número de plantas por hectare”, salienta Joanão foram identificadas variedades resistentes. “O objetivo é quim.

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manejo integrado de doenças é a principal vertente do projeto intitulado “Controle biológico e manejo integrado de Sclerotium cepivorum em cebola e alho no Brasil: abordagem baseada na caracterização de populações do patógeno e seus agentes de controle”, desenvolvido pelo pesquisador da Embrapa Hortaliças (Brasília, DF) Valdir Lourenço Junior. O fungo Sclerotium cepivorum é o agente causador da doença conhecida como podridão branca, cuja ocorrência nas culturas de alho e cebola pode causar perdas totais da produção. A inexistência de métodos efetivos para neutralizar e/ou minimizar a ação do patógeno levou a pesquisa a debruçar-se sobre a alternativa do uso de agentes de controle biológico integrada com outras medidas de manejo. Uma dessas medidas diz respeito, de acordo com o pesquisador, Bulbos severamente afetados pela Podridão Branca à utilização de sementes de cebola sadias ou bulbilhos e se- perimental da COOPADAP – Cooperativa Agropecuária do mentes de alho sadio. “Procuramos evitar a entrada do fungo Alto Paranaíba, no município mineiro de São Gotardo, que na área, porque uma vez instalado é impossível a sua erradi- possui uma área naturalmente infestada, o que não ocorre cação”, anota Valdir, que aponta também como alternativa em Goiás e na região do Distrito Federal “, explica Valdir. evitar o plantio em áreas já contaminadas. Segundo ele, as ações incluem a avaliação da eficácia Em execução, o projeto tem como principais linhas de de indutores de germinação das estruturas resistentes ao ação identificar e selecionar métodos de controle biológi- fungo na ausência de plantas hospedeiras, a biofumigação, a co do fungo, integrando com outras medidas de manejo da solarização do solo e o uso de fungicidas e outros compostos doença. “Vamos procurar identificar, por exemplo, genóti- biológicos, “integrando essas medidas de manejo da doença”. pos de alho e cebola com resistência parcial à doença, em um Com relação à primeira medida, Valdir explica que em trabalho conduzido em condições de campo na Estação Ex- alguns países, como a Austrália, esse manejo é uma prá-

Aspecto da lavoura atacada pela Podridão Branca

FOTOS: Ricardo Borges

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Projeto contempla ações de prevenção de doença que afeta cultivos de alho e cebola

Bulbo sadio ao lado de bulbo afetado pela Podridão Branca


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Talhão de cebola totalmente destruído pela Podridão Branca. Aspecto da Podridão Branca no bulbo de cebola.

tica comumente utilizada: como ocorre a germinação dessas estruturas na ausência de alho e cebola, o fungo morre e, consequentemente, reduz a sua população na área. Já a biofumigação, outro método que pode ser utilizado no manejo da podridão branca, consiste na incorporação de extratos de plantas que produzem compostos prejudiciais ao desenvolvimento do fungo. “A ideia é tentar reduzir o inóculo do fungo em áreas infestadas, e em outras onde há ocorrências da doença recomendar essas medidas de controle para prevenir a entrada e o estabelecimento do patógeno”.

Esporos do fungo Sclerotium

cepivorum.

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA - O projeto conta com um plano de ação voltado para a transferência de tecnologia, que prevê a realização de workshop e palestras itinerantes nas principais regiões produtoras de alho e cebola no Brasil – o cultivo de alho é bastante significativo em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais; já o da cebola é destaque em São Paulo e Minas Gerais. A área de TT ainda contempla um levantamento das perdas provocadas pela podridão branca que, segundo o pesquisador, permitirá avaliar em quais áreas a incidência da doença é maior, “o que permitirá um direcionamento de esforços mais efetivos”.


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aplicação de flashes de luz ultravioleta (UV) pode evitar que cerca de 15% da produção nacional de melão se perca entre a colheita e a mesa do consumidor. Pesquisadores da EMBRAPA Agroindústria Tropical (CE) observaram que a UV pulsada pode controlar o fungo Fusarium pallidoroseum, o principal agente da podridão do melão. A infecção pode ocorrer no campo, logo após a colheita ou na empacotadora. Mesmo sob baixas temperaturas, necessárias para a exportação, o patógeno continua ativo. O grande problema é que existe apenas um agroquímico registrado no MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o tratamento da podridão pós-colheita do melão, o Imazalil. Conforme explica o pesquisador Ebenezer Silva, da EMBRAPA Agroindústria Tropical, há uma preocupação com as dosagens recomendadas do agroquímico, bem como com o período de carência (compreendido entre a última aplicação e o consumo). A falta de rigor na aplicação pode resultar na presença de resíduos acima dos limites máximos permitidos pela legislação. O desafio dos pesquisadores é encontrar tecnologias limpas para combater o problema. Entre as alternativas estudadas, estão a termoterapia; a aplicação de compostos naturais, como óleos essenciais de espécies botânicas; e o uso de luz ultravioleta. A luz ultravioleta contínua já é utilizada no controle

Andréia Hansen Oster, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical.

FOTOS: Claudio Noroes

Luz ultravioleta combate a Podridão de Melão

de microrganismos em alimentos, água e ar. Diferente da luz aplicada de forma contínua, no modelo pulsado, a luz ultravioleta é armazenada em um capacitor e é liberada em flashes intermitentes, o que aumenta de forma instantânea a intensidade de energia. Por isso, o ultravioleta pulsado é mais efetivo e mais rápido na inativação de microrganismos. “O método não apresenta efeitos nocivos à saúde, não deixa resíduos e ainda pode aumentar o poder antioxidante das frutas”, completa o pesquisador. Os pesquisadores da EMBRAPA observaram que o tratamento com luz ultravioleta pulsada pode apresentar um efeito prolongado de proteção dos melões. Isso ocorre porque a luz afeta o metabolismo do fruto e aumenta o teor de compostos fenólicos (substâncias antioxidantes) que atuariam como uma espécie de vacina contra o ataque de microrganismos. Os cientistas ainda estão analisando a intensidade adequada de luz para o tratamento das frutas, mas os primeiros resultados são animadores. “Serão necessários novos projetos para finalização da tecnologia”, explica o pesquisador. Também participam dos trabalhos especialistas da EMBRAPA Tabuleiros Costeiros (SE) e Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ). “Já se sabia que este tipo de tratamento físico era eficiente durante a aplicação, mas foi observado efeito prolongado, pois a luz afeta o metabolismo e induz a síntese de compostos que continuam colaborando para a proteção da fruta contra novas contaminações”, revela o cientista. Os pesquisadores observaram também que com a UV pulsada o melão pode demorar mais a amadurecer, o que é uma grande vantagem para os produtores, pois aumenta o tempo de transporte e prateleira. Isso ocorre porque a luz reduz o efeito das enzimas que atuam no amadurecimento. A pesquisadora da EMBRAPA Agroindústria Tropical Andréia Hansen Oster defende que o estabelecimento de todos os parâmetros para aplicação do método na cultura do melão será extremamente útil para os produtores. “Os consumidores têm interesse em produtos oriundos de cadeias produtivas que utilizam tecnologias limpas”, afirma. Após a finalização, a tecnologia poderá ser usada por cooperativas ou grandes fruticultores para agregar valor aos melões e aumentar a qualidade.


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Linhagens da Berinjela “Ciça” são incluídas em processo de certificação do MAPA

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FOTO: Henrique Carvalho

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íbrido originário do cruzamento entre genótipos resistentes a doenças que causam severos danos à cultura, como a antracnose e à podridão-defomopsis, a berinjela “Ciça” foi lançada em 1991 pela Embrapa Hortaliças (Brasília, DF). Pelo seu desempenho, relacionado a uma alta produtividade, que pode chegar a 120 toneladas de frutos por hectare, a Ciça vem tendo, desde o seu lançamento, boa aceitação entre os produtores. A nota dissonante é que a sua produção vem decrescendo em razão da baixa disponibilidade de sementes no mercado. Para suprir essa necessidade, as linhagens parentais de sementes do híbrido Ciça deverão ser concedidas para as empresas produtoras do setor privado, por meio de ofertas em leilões realizados pela Embrapa Produtos e Mercado (SPM). Antes, porém, algumas salvaguardas deverão ser observadas, a exemplo da necessidade de se resguardar os direitos de obtentor à Embrapa – para isso, as linhagens devem, antes de liberadas para o mercado, ser protegidas pela Lei de Proteção de Cultivares (Lei 9.456/1997) do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com esse objetivo, as linhagens parentais vêm sendo objeto de processo de proteção junto ao SNPC/MAPA. Tendo em vista a necessidade do cumprimento das normas preconizadas por esse órgão, relacionado aos passos que devem ser seguidos para a obtenção do certificado de proteção, entrou em cena a necessária validação dos descritores (que traçam as características) da berinjela. A agrônoma Sabrina Carvalho, com especialização em Recursos Genéticos e que vem conduzindo os trabalhos, explica como o processo vem sendo desenvolvido. “Um material não protegido corre o risco de ser apossado por quem não desenvolveu o produto, daí a importância de se proteger as linhagens da Ciça pertencentes à marca Embrapa, para só então repassar para terceiros”, anota Sabrina, que destaca a participação da Unidade no quesito relativo à elaboração dos descritores, para que fossem identificadas as características da cultivar quando comparadas com outros materiais de berinjela. Ela conta que o trabalho, denominado “Descritores de berinjela junto ao MAPA para proteção de cultivares”, foi baseado na avaliação dos descritores recomendados pela União Internacional para a Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV), com o objetivo de auxiliar e orientar o SNPC/ MAPA na elaboração da tabela dos descritores para a execução dos testes de DHE – Distinguibilidade, Homogeneidade e Estabilidade. “A partir dessas linhas, ajudamos a construir as instruções que visam estabelecer diretrizes para a aplicação dos DHE de cultivares de berinjela, cujos resultados vão influ-

enciar na concessão do licenciamento e, por tabela, da proteção dos materiais”. CERTIFICAÇÃO - No estágio atual, o processo contempla o envio de relatórios técnicos descritivos de obtenção de cultivar e teste de DHE e as tabelas dos descritores das linhagens do híbrido Ciça para avaliação pelo SNPC/ MAPA. Após essa etapa, poderá ser concedido pelo SNPC/ MAPA o certificado de proteção provisória. “As informações permanecem 60 dias na homepage do ministério, e se nesse período não surgir nenhum contraditório, isto é, nenhum questionamento acerca dos dados contidos nos relatórios, será emitido um certificado permanente”. Após a emissão do certificado, o processo passa a ser conduzido pela Embrapa Produtos e Mercado (SPM), através de editais que irão selecionar as empresas interessadas em produzir sementes da berinjela Ciça, “já devidamente protegidas”.


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