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O modal invisível

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O Rio Sepultado

O Rio Sepultado

Sem estrutura adequada, ciclistas disputam espaço com automóveis e pedestres para se locomover na principal via na região da UFSC

Mateus H. R. Spiess

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Na principal via que liga o Centro-Norte de Florianópolis ao Sul da Ilha, cicistas precisam dividir espaço com automóveis, ônibus e caminhões

Para sair do bairro Pantanal, seja para ir em direção ao centro ou ao sul da Ilha, o ciclista precisa percorrer a extensão da rua Deputado Antônio Edu Vieira - a principal via arterial da região. Com quase 2 quilômetros de comprimento, a rua de mão dupla e calçadas irregulares é quase sempre tomada pelo trânsito intenso de veículos, que competem entre si por espaço na faixa de rolagem apertada. Não há ciclovia, nem ao menos a sua alternativa mais barata e perigosa, a ciclorrota. Se você quer pedalar por ali, precisa se juntar ao caos constante que é o trânsito na região.

Fábia Busatto é uma das pessoas que se aventura por essa rua sobre duas rodas, não por divertimento, mas por necessidade. Estudante de Relações Internacionais na UFSC, ela tem na bicicleta o seu principal meio de transporte. “É com ela que costumo me locomover, principalmente se preciso ir a algum lugar mais perto”, ela conta. Fábia mora no Pantanal e precisar constantemente se deslocar ao longo da Edu Vieira. De acordo com ela, pedalar por ali é intimidador, mas inevitável: “é o único jeito de sair da UFSC e ir em direção ao sul da Ilha, por exemplo”.

Apesar da sua importância para a mobilidade urbana na região, a rua Deputado Antônio Edu Vieira nunca contou com uma estrutura adequada ao fluxo de veículos que recebe. Em horários de pico, é comum que se leve mais de trinta minutos para percorrer apenas um quilômetro de sua extensão. Desde que começaram suas obras de duplicação, em 2017, a situação não parece melhorar - e se para os automóveis é ruim, para os ciclistas é ainda pior. “Você precisa lutar por espaço, porque os motoristas não respeitam”, descreve Fábia. Hoje sem calçada devido às obras realizadas no entorno da universidade, a situação da rua força os ciclistas a transitarem em um espaço apertado, entre os veículos e os anteparos de cimento que separam o canteiro de obras da pista. Uma receita perfeita para acidentes.

Cotidiano

Fábia Busatto (23) é estudante de Relações Internacionais na UFSC, e tem na bicicleta um de seus principais meios de transporte

Consciente do riscos de pedalar pela Edu Vieira, Fábia não abre mão de equipamentos de segurança como o capacete

O projeto de duplicação da rua prevê a instalação de quatro pistas para os veículos comerciais, duas vias exclusivas para o transporte público, além de ciclofaixas, calçada e um canteiro dividindo a rua ao meio. No entanto, a data de sua conclusão ainda é objeto de especulações. De acordo com o prefeito de Florianópolis, Topazio Neto, prevê-se que as obras sejam finalizadas até o segundo semestre de 2023. Até lá, o que se observa é o caos usual na região, que gera descontentamento tanto para moradores quanto para os motoristas e usuários de transportes alternativos.

Não é apenas a região do Pantanal que carece de estrutura adequada para o trânsito de ciclistas. A cidade de Florianópolis conta com um total de 121,56 km de ciclovias e ciclofaixas, cuja grande maioria concentrada em sua região central. A capital ocupa o segundo lugar no ranking de capitais com maior quantidade de vias exclusivas para bicicletas por habitante no Brasil, de acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). Apesar desse fato, muitas vias de maior tráfego, que ligam bairros ou regiões inteiras da ilha à sua área central, não possuem equipamentos que garantam o trânsito seguro de ciclistas.

Cotidiano

Florianópolis possui um total de 121,56 km de ciclovias e ciclofaixas, mas na Edu Vieira a opção é dividir a pista com os carros ou transitar pela calçada

Esse é o caso da Rodovia Baldicero Filomeno, principal estrada do bairro Ribeirão da Ilha. Considerada a maior via urbana de Florianópolis, com 21 quilômetros de extensão, a rodovia não possui ciclovias ou ciclofaixas - nem projetos de revitalização previstos para o futuro próximo. Em alguns trechos de seu trajeto, faltam inclusive calçadas, o que força pedestres a compartilharem a via com automóveis e outros veículos em alta velocidade. Outras vias, como a SC-401, que liga a região central ao Norte da Ilha, também não possuem estrutura adequada - metade das mortes de ciclistas ocorridas em Florianópolis aconteceram na estrada estadual.

Esse cenário pode estar para mudar, no entanto. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Mobilidade, a malha cicloviária de Florianópolis quase dobrou de tamanho nos últimos três anos. “Acho que esse é o caminho para melhorar a mobilidade urbana da cidade”, reflete Fábia. Para a estudante, o investimento em meios alternativos de mobilidade, como bicicletas ou o transporte público, são uma das soluções para o trânsito caótico que é cenário comum na cidade. “Quando se tem mais estrutura para andar de bicicletas, caminhar ou pegar ônibus, as pessoas são incentivadas a usar esses meios de transporte ao invés de dirigir”.

Para fugir dos riscos constantes, muito ciclistas buscam caminhos alternativoscomo o canteiro de obras, onde a via ainda não está liberada para trânsito

Vida Urbana

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