Revista Business Portugal | Especial II Fórum Económico Portugal-Países Árabes

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rEvIsta busInEss Portugal II Fórum EconómIco Portugal – PaísEs ÁrabEs

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urgido em 2013, o evento Fórum Económico Portugal-Países Árabes resulta de uma iniciativa levada a cabo pela Câmara de Comércio e Indústria Árabe – Portuguesa (CCIAP). O seu surgimento prendeu-se com a necessidade de criar uma plataforma para as relações económicas, comerciais e culturais, que a Câmara do Comércio acreditou que estava em falta no panorama nacional. O sucesso do I Fórum Económico Portugal – Países Árabes encorajou a realização da segunda edição, posicionando Portugal na rota dos interesses Árabes, trazendo anualmente decisores, altas figuras, empresários e empresas dos Países Árabes, bem como entidades europeias a Portugal, para o estabelecimento de parcerias a médio e a longo prazo com benefícios mútuos. As relações económicas de Portugal com os Países Árabes têm vindo a crescer de forma sustentável atingindo em 2013 cerca de 4,27 por cento das exportações totais de Portugal para o mundo, sendo que os chamados invisíveis por sua vez, atingiram cerca de 6 por cento, o que torna os Países Árabes o segundo parceiro económico de Portugal, como, aliás, segundo parceiro da Europa. A CCIAP apoia esta tendência positiva e tem assistido aos esforços consideráveis do Governo português no desenvolvimento destas relações. Com um caminho ainda longo a percorrer, a CCIAP mostra-se disponível e dinâmica para cooperar no alcance dos objetivos comuns. Neste sentido, realizou-se nos passados dias 3 e 4 de Junho de 2014 o II Fórum Económico Portugal – Países Árabes. Nos quatro painéis, “Perspetivas do II Fórum Económico Portugal – Países Árabes”, Iniciativa Luso Árabe para aapoio às PME Cooperação no Setor do Turismo”, “Iniciativa Luso Árabe para Apoio às PME Cooperação no Setor Agroalimentar” e “Iniciativa Luso Árabe para Apoio às PME Cooperação no Setor das Infraestruturas”, estiveram presentes várias figuras de relevo tanto do panorama nacional, nomeadamente o Primeiro – Ministro, Pedro Passos Coelho; o Secretário de Estado da Alimentação e Investigação e Agroalimentar, Nuno Vieira de Brito; o presidente da Confederação do Turismo Português, Francisco Calheiros; como dos Países Árabes, o vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Qatar, Ali Abdulatif Misnad e o responsável pela Europa da Autoridade Geral para o Investimento da República árabe do Egipto, Mohamed Youssef.

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Estreitar Relações entre Portugal e os Países Árabes Cciap A Revista Business Portugal esteve presente, nos dias 3 e 4 de Junho, no II Fórum Económico Portugal-Países Árabes e dá-lhe a conhecer o trabalho desenvolvido pela Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, bem como o balanço posterior ao evento feito pela atual Secretária Geral e CEO da Câmara do Comércio, Aida Bouabdellah.

aida bouabdellah Secretária Geral e CEO

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endo uma associação sem fins lucrativos/ Entidade de Utilidade Pública, a Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa tem como objetivo essencial o desenvolvimento das relações económicas e culturais entre Portugal e os 22 Países Árabes, numa base de mútuo interesse, contribuindo consideravelmente para o estreitamento das relações de cooperação entre Portugal e o mundo árabe. Embora as relações económicas e comerciais entre Portugal e os 22 Países Árabes tenham sido desde há muito admiráveis, os números comprovam que o volume de trocas entre os dois povos mais que duplicou na última década. As relações económicas e comerciais entres os países têm-se solidificado muito também pelo ambiente favorável criado pelo

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Governo Português, com várias deslocações feitas aos mercados Árabes, ajudando assim a penetração das empresas árabes em Portugal, e em especial das empresas portuguesas nos Países Árabes. No sentido de estreitar e promover ainda mais estas relações, a Câmara de Comércio e Indústria ÁrabePortuguesa organizou pelo segundo ano consecutivo o Fórum Económico Portugal- Países Árabes. O evento teve lugar nos dias 3 e 4 de Junho, no Sheraton Lisboa Hotel & SPA, em Lisboa. Durante os dois dias, foram tratadas as melhores formas de cooperação a médio e longo prazo, em vários setores de atividade económica. A cooperação económica internacional, a compreensão das oportunidades existentes para ambas as partes, assim como os requisitos de acesso aos mercados,

e quebra de quaisquer barreiras que impossibilitem a internacionalização das empresas foram alguns dos objetivos dos temas abordados durante o II Fórum Económico Portugal-Países Árabes. No evento estiveram presentes 11 dos 22 países da Liga dos Estados Árabes. Qual o balanço que faz do II Fórum Económico Portugal-Países Árabes? Bastante positivo. O ano passado realizamos o I Fórum, este ano conseguimos posicionar o II Fórum no panorama económico dos Países Árabes. Conseguimos verificar que o interesse de ambas as partes é muito forte, e o apoio do Governo Português foi crucial. Aliás, louvamos os esforços que são feitos e que muito ajudam as empresas portuguesas na sua


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internacionalização. Esperamos no próximo ano organizar uma outra iniciativa e trazer ainda mais empresários do setor privado a Portugal, com o intuito de efetivarem parcerias a médio e longo prazo com as empresas nacionais.

karim bouabdellah e aida bouabdellah O anterior e a atual Secretária Geral e CEO

aida bouabdellah entrega certificados de participação

Que outras iniciativas tem a Câmara de Comércio e Indústria Árabe- Portuguesa preparadas? Estamos já a preparar o plano de atividades de 2015. Para este ano, ainda em 2014, ressaltamos as missões económicas a serem realizadas nos meses de setembro e novembro, e a efetivação de um grande evento a nível cultural, mas que ainda está em aberto. Estamos a preparar e a abrir inscrições para o curso de árabe ano 2014/2015. Iremos igualmente canalizar energia no norte do país. Temos várias ações que queremos efetivar e realizar até ao final 2015 e faremos todos os esforços para levar todas a bom porto. Quais os maiores desafios que as empresas portuguesas enfrentam nos Países Árabes? Qualquer desafio que enfrentam num país Europeu, da Ásia, ou América. A internacionalização, para qualquer empresa, deverá ser pensada numa lógica de estrutura empresarial local. Todos os países têm diferentes regras de mercado, e os Países Árabes não são todos iguais. Será diferente, em termos regulamentares, a constituição de uma empresa num País do Magreb e no País do Golfo. Sabemos sim que um dos desafios é colocado de parte: a CCIAP aconselha, e direciona as empresas tanto Árabes como Portuguesas na sua implementação em ambos os mercados. Aliás, temos parceiros nos Países Árabes que acolhem os associados, as empresas que vêm da nossa parte, e direcionam para uma melhor penetração no mercado. Quer isto dizer que os desafios existem, mas a CCIAP também existe para quebrar mitos ou barreiras que possam ainda existir. São já várias as empresas portuguesas que detêm relações com os Países Árabes, e esperamos um aumento desse número nos próximos anos. Estamos a falar ao nível da exportação, captação de investimento e parcerias. Existem muitas expetativas das empresas portuguesas relativas à internacionalização para os Países Árabes? Existem muitas expetativas das empresas portuguesas mas melhor ainda é nós mostrarmos que estes países são “os” países onde as empresas portuguesas devem estar focadas. São países promissores, que apresentam imensas oportunidades para as empresas portuguesas. São países com dinheiro, e quando digo com dinheiro quero dizer que são países com planos económicos muito bem

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determinados. Sabem quanto vão investir em cada setor e sabem ainda que querem crescer rápido. As empresas portuguesas com o seu conhecimento, com o seu know-how, com o seu preço competitivo, têm perfeitamente lugar para enfrentar este desafio. Os outros mercados, como sabemos, já estão um pouco gastos e, por isso, é tempo das empresas olharem para estes mercados. Não estou a dizer que a internacionalização para estes países é fácil mas a Câmara do Comércio existe e está aqui para ajudar todos os empresários portugueses nas mais diversas áreas de negócio em que trabalhem. Existem muitos benefícios em apostar nos Países Árabes. Por outro lado, existem também empresários árabes interessados em apostar em Portugal, principalmente no setor do turismo e da banca. Portugal precisa, no entanto, de se mostrar. Este Fórum serve de mote para trazer muita gente a Portugal, para mostrar o país e dizer que Portugal realmente existe. Que balanço pessoal faz da experiência vivida desde que assumiu o lugar de Secretária Geral

a plateia durante o fórum

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e CEO da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa? A experiência tem sido muito enriquecedora e bastante interessante. Desde muito cedo sempre tive uma ligação estreita com a CCIAP. Esta casa foi fundada pelo meu pai, Allaoua Karim Bouabdellah em 1977, há 37 anos. Este foi o projeto de vida do meu pai, que sempre honrou os seus compromissos, e é graças a esta Câmara que fundou, que muitas empresas portuguesas estão hoje a laborar nos Países Árabes. São já várias centenas de iniciativas efetuadas, e muitas ainda por efetivar, sendo que esta é uma passagem de testemunho, e não um rompimento com o passado. A 1 de janeiro 2014, fui eleita Secretária-Geral & CEO da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, pela Liga dos Estados Árabes e por decisão da União Geral das Câmaras de Comércio, Indústria e Agricultura dos Países Árabes. Não poderei deixar de mencionar o apoio e a cooperação das embaixadas Árabes acreditadas em Portugal. É para mim uma honra poder estar à frente dos desígnios desta casa, e

que passa claro, pela defesa dos interesses Árabes em Portugal e pela Divulgação e internacionalização das Empresas Portuguesas para os 22 Países da Liga dos Árabes. Por outro lado, é uma enorme responsabilidade estar na linha da frente de uma Instituição como a CCIAP. Espero poder estar ao nível das expectativas de quem confiou em mim. Uma mensagem para as empresas que estão já a trabalhar na internacionalização neste mercado, ou para aquelas que ambicionam entrar nele. Aproximarem-se mais da CCIAP. Somos um instrumento válido para a internacionalização das empresas. Dispomos de vários serviços que se mostram bastante eficazes. A CCIAP abre realmente portas e caminhos para que as empresas possam adquirir novos mercados, neste caso os mercados dos 22 Países da Liga dos Estados Árabes. Estamos disponíveis para esclarecer e ajudar os empresários nacionais, na medida do possível, no alcance dos seus objetivos.


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II fórum

intervenções de alguns participantes

francisco calheiros Presidente da Confederação do Turismo Portugûes

Tivemos em 2013 um dos melhores anos de sempre do país no setor do turismo. Os dados globais da atividade indicam um crescimento do número de hóspedes na casa dos 4,2% atingindo os 14 milhões. Os nossos empresários trabalham todos os dias com afinco e dedicação para a partir de uma combinação única de cultura, história, gastronomia, praia, clima e muita segurança, construir uma oferta diversificada, estruturada, inovadora e de grande qualidade alinhadas com a proposta de valor Portugal e suportadas da capitalização da vocação natural de cada região.”

david quito Country Manager da Emirates Airlines

Temos 120 nacionalidades a bordo dos aviões da nossa companhia. Hoje 500 portugueses a trabalhar no Dubai, não só como tripulação mas em todos os setores do grupo Emirates. São mais 100 que em 2013.”

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nuno vieira de brito Secretário de Estado da Alimentação e Investigação Agroalimentar

Em 2013 Portugal alcançou um record ao nível da exportação em valor de 5,6 milhões de euros para o setor agroalimentar…Na minha perspetiva este valor está ainda muito longe daquilo que seriam os nossos objetivos. Para o mundo árabe exportamos em 2013, no setor agroalimentar, valores muito próximos de 90 milhões de euros. Muito pouco perante aquilo que nós poderemos fazer”

ali abdulatif al misnad Vice-Presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Qatar

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economia regista uma das mais rápidas taxas de crescimento do mundo e é, também, uma das mais financeiramente sólidas. As receitas provenientes da exploração das enormes jazidas de gás natural e petróleo permitiram investimentos massivos em obras públicas, educação e saúde. A diversificação económica é uma prioridade da Estratégia de Desenvolvimento Nacional e o sector não energético tem recebido importantes financiamentos. O imobiliário, os serviços financeiros, a investigação científica, as tecnologias de informação e o turismo são alguns dos sectores mais promissores. A indústria não petrolífera e a construção de infra-estruturas continuam em grande expansão.

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sérgio silva monteiro Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações de Portugal

Temos no setor das infraestruturas capacidade de excelência do ponto de vista técnico, na engenharia, nos serviços prestados, na consultadoria quer de empresa públicas, quer privadas que têm conseguido junto dos nossos parceiros internacionais afirmar-se. Temos conseguido utilizar esse know-how, que hoje tem menos oportunidades em Portugal de ser utilizado, ao serviço dos países que têm manifestado esse interesse”.

pedro passos coelho Primeiro-Ministro

A minha presença aqui é testemunho da importância e da prioridade que o nosso país atribui ao seu relacionamento com o mundo árabe. É igualmente um sinal que essas relações privilegiadas vão muito além das múltiplas visitas oficiais e dos permanentes contactos diplomáticos. São certamente iniciativas desta natureza que contribuem a para melhorar e aprofundar a cooperação bilateral, o conhecimento reciproco e a nossa amizade com benefícios mútuos”.

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“Garantimos um serviço contínuo e de excelência” Dom senhorio A empresa Dom Senhorio, Sociedade de Mediação fundada em meados de 2011, resulta de um know-how de mais de 25 anos no ramo imobiliário por parte de Rosalva Fonseca, também conhecida por Rosa Fonseca. A administradora em entrevista à Revista Business Portugal revela como tudo começou e qual a visão do setor de atividade em que está inserida.

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pesar da curta idade da empresa Dom Senhorio, a experiencia da administradora e de toda a equipa de colaboradores é garantida, pois “apesar de a nossa equipa de trabalho contar apenas com nove funcionários, a experiencia no setor é grande e o profissionalismo é a palavra-chave que nos caracteriza”, afirma Rosalva Fonseca. Sediada em Lisboa, numa das mais nobres avenidas junto ao Maques de Pombal, Dom Senhorio é uma empresa de imobiliária séria e moderna. A principal missão caracteriza-se pela angariação e processo de venda, bem como o arrendamento de imóveis de extrema qualidade e com localizações de excelência. “A nossa oferta de imóveis é diversificada. Temos várias tipologias ao dispor do cliente, localizados em Espanha e Portugal, quer para efeito de arrendamento ou de compra. Um cliente quando procura os nossos serviços tem a garantia de que encontrará a casa com que sempre sonhou ou o espaço adequado para desenvolver o seu projeto de trabalho”, revela Rosalva. O rigor e o profissionalismo constituem a imagem do serviço prestado. Os clientes da Dom Senhorio são geralmente clientes fidelizados há mais de 25 anos. A grande proximidade exercida, o acompanhamento do cliente ao longo de todo o processo nas mais variadas fases é uma prioridade. Consideramos ter “um atendimento personalizado, se os problemas existirem nós assumimos responsabilidades. Estamos presentes também na escritura da propriedade, no processo de transmissão, bem como em todas as vertentes, a nível fiscal, formalização da transação e as demais burocracias”. A avaliação feita por Rosalva acerca do mercado de venda e de arrendamento tanto em Portugal como em Espanha é “muito positiva”. Apesar de considerar que o setor foi sofrendo algumas alterações ao longo dos anos, “assumo que os nossos clientes são fixos, temos casos de gerações e gerações, que temos servido ao longo dos anos, prestando assistência rosalva fonseca Administradora

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máxima a quem nos procura, e isso torna-nos diferentes dos demais concorrentes do mercado”. A Dom Senhorio assume-se como um parceiro certo e indispensável para quem procura comprar, arrendar ou vender propriedades. A qualidade é garantida. Rosalva Fonseca defende que “é feita uma avaliação ao cliente, de modo a perceber se este reúne todas as condições necessárias para efetuar o arrendamento, pois neste segmento não é suficiente existirem os recursos financeiros, mas é fundamental averiguar os requisitos mínimos para viverem em comunidade”. O futuro é promissor e Rosalva Fonseca demonstrase confiante. Em jeito de conclusão afirma à nossa Revista que “os projetos não faltam, e estamos efetivamente a conquistar o nosso espaço. Gostaria que a empresa Dom Senhorio fosse reconhecida como uma mais-valia para o setor, sempre conscientes da garantia e qualidade que oferecemos”.

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Apoio às empresas na certificação Halal Mk4b É da experiência de Paulo Vitorino em marketing e ciência politica, bem como dos conhecimentos da cultura e vivência das comunidades de religião semita que surge há quatro anos a MK4B. Em entrevista à Revista Business Portugal, Paulo Vitorino, CEO da empresa, fala do trabalho de assessoria à certificação dos produtos portugueses para a entrada em mercados como os Países Árabes e da importância dos empresários estarem mais informados sobre as especificidades destes mercados.

paulo vitorino CEO

Que trabalho desenvolve a MK4B? Esta empresa tem várias valências, para além do marketing puro que passa pelos estudos de mercado e imagem, temos depois uma área ligada à formação sobre cultura e incidência dos mercados e fazemos ainda assessoria técnica às empresas de produtos e serviços para que as mesmas tenham condições técnicas e formativas para possuírem certificação religiosa Kosher e/ou Halal e para poderem ir a esses mercados.

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De que forma é feito esse trabalho? Esse trabalho depende muito do tipo de produto ou serviço com o qual estamos a trabalhar. Avaliamos, em primeiro lugar, a capacidade que a empresa possui para a concretização da certificação e podem ser necessárias diversas alterações para obter quer a certificação Halal, quer a Kosher. Depois há também todo um trabalho informativo e formativo que desenvolvemos com as empresas, se elas assim o entenderem, dando-lhes uma noção dos

mercados que fazem mais sentido para os seus tipos de produtos. O conhecimento dos estudos económicos dos países é muito importante para atingir o sucesso e dentro dos dados que existem nós tentamos dar o máximo de apoio às empresas para que atinjam esse sucesso, claro que não é a MK4B que vai o mercado, mas fazemos todo um trabalho que pode facilitar a entrada das empresas em mercados específicos. Já aconteceu também de algumas empresas necessitarem numa primeira


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visita de acompanhamento especializado quer para as ajudar na questão do domínio da língua, quer com algumas especificações técnicas religiosas que o nosso cliente não domina e, nesses casos, arranjamos um técnico que o possa acompanhar e dar esse apoio. Para além deste trabalho, fazemos também a avaliação de qual é a melhor entidade religiosa para certificar um determinado produto, para um determinado mercado. Para os países da Península Arábica só há uma entidade em Portugal com competência para certificar mas para os outros países muçulmanos existem duas entidades. Há uma grande diversidade de cultura que se reflete também na forma de certificação pois consoante o tipo de mercado para onde se quer exportar, é necessário possuir uma certificação específica, pois nada vale ter uma certificação que na prática para nada serve. O que é que é importante aos empresários portugueses saberem sobre o mercado dos Países Árabes, hoje tão procurado? É muito importante ter cuidado quando fazemos algo que está relacionado com uma cultura e religião diferentes, pois quando não há esse cuidado a própria imagem do produto português pode ficar comprometida pelo comportamento e pela falta de sensibilidade para as questões culturais e religiosas de um empresário e também não pode haver o ‘chico espertismo’ pois há que ter consciência

que se queremos entrar neste segmento de mercado, é necessário ter credibilidade. Pois é essa credibilidade, que pouco a pouco, vai conquistando notoriedade nos mercados. Há empresas e produtos portugueses que têm uma notoriedade que a maioria das pessoas nem imagina, o qual foi um trabalho feito paulatinamente, com uma cultura de responsabilidade consegue-se assegurar o negócio e, nestes mercados a honorabilidade da palavra é primordial. Não pode existir pressas, a consolidação dos negócios dos nossos clientes é primordial para a MK4B, pois os nossos clientes fazem parte da nossa família de negócio e não apenas para um momento específico. Temos uma boa carteira de clientes a qual abrange um universo superior a cinquenta empresas tanto nacionais como multinacionais os quais dão garantias de representação internacional dos produtos portugueses com notoriedade assinalável. A MK4B só aceita ser parceira de serviços com empresários e empresas credíveis porque as que não têm nem condições, nem mentalidade para perceber o que é que uma certificação implica e os cuidados que são necessários ao longo de todo o processo produtivo e não compreendem que o mercado gosta de ter a fixação de um cliente preferencial, que dê a garantia de manter o preço, a qualidade, o serviço e o respeito pela sua cultura. A certificação implica algum investimento.

Entende que esse pode ser um entrave para alguns empresários portugueses? Se uma empresa quer explorar novos mercados e os mesmos requerem uma certificação religiosa, essa mesma certificação deve ser encarada como um investimento e não um custo, e para que haja retorno desse investimento há que considerar os potenciais clientes como parceiros, que quando se atinge o nível da confiança pode ser a mola propulsora da empresa mas até essa confiança estar estabelecida é necessário tempo. Os custos associados a uma certificação estão em tudo relacionados com o método de produção e com o mercado que o cliente procura. Claro que cada um é livre de fazer as suas opções, alguns empresários preferem participar em feiras para estes mercados sem terem a chave que lhes permite abrir o mercado ou seja a certificação É difícil para uma pequena ou média empresa fazer um investimento na ordem dos milhares de euros para andar apenas a mostrar o seu produto, por isso é que é importante existir a consciência que só através de um movimento associativo, fazendo clusters regionais é possível as empresas mais pequenas internacionalizarem-se, suponho que ninguém espera que as pequenas empresas criem escritórios nesses mercados, mas precisam de alguém que as represente lá, acho que criando esses clusters, essa união ficam todos a ganhar, como também é possível uma certificação religiosa dentro dessa forma.

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Crescer em Portugal não é PÊRA doce... Abrunhoeste Com 29 produtores e com 355 hectares de produção, a Abrunhoeste, é uma das empresas portuguesas que vive enssencialmente da exportação. Tendo sucesso em países da América do Sul, África e Europa, a Abrunhoeste aposta agora no mercado árabe.

josé paulo duarte Administrador

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Abrunhoeste é uma empresa que se dedica à produção e comercialização de fruta. Iniciou a sua atividade em 1997 e está localizada na região oeste de Portugal, zona de excelência para produção de frutas. Para além da produção, a sua atividade estende-se, também, à conservação, seleção, embalamento e comercialização da fruta. “A Abrunhoeste nasceu da minha paixão pelo setor agrícola. Há cerca de 20 anos comprei uma cooperativa que estava falida e foi a partir daí que surgiu a Abrunhoeste”, conta o administrador José Paulo Duarte. Apesar de não ser fácil viver do setor agrícola em

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Portugal, José Paulo Duarte realça que “com força de vontade e trabalho tudo se consegue (...) há que ser proativo e procurar outros mercados onde os nossos produtos são altamente valorizados”. Este aspeto é notório na produção da Abrunhoeste, pois 90 por cento do escoamento é feito para países estrangeiros, sendo os restantes 10 por cento para Portugal. Contando com várias certfificações, a Abrunhoste tem como principal missão produzir fruta com altos níveis de qualidade e segurança, adotando as melhores práticas agrícolas, tendo sempre em conta a preservação do meio ambiente. Os produtos que comercializa atualmente são a

maçã Royal Gala, a ameixa, a laranja, a nectarina, a couve, a cebola e a pêra Rocha. E é exatamente com a tão ‘nossa’ pêra Rocha que a Abrunhoeste vai tentar entrar no mercado árabe. “É um tipo de pêra único, pois tem um excelente sabor, uma boa textura e tem uma durabilidade até 12 meses, característica que mais nehuma pêra tem. Isso é bom para os supermercados, para os revendedores e para toda a gente (...), ou seja, tem pouco desperdício o que conta nas margens de qualquer atividade ”, explica José Paulo Duarte. Pelas suas caracteristicas, a pêra rocha tem sido muito bem aceite pelos mercados que se têm aberto, principalmente pelos países mais quentes. Daí a


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aposta da Abrunhoeste no mercado árabe. José Paulo Duarte dá o exemplo do Brasil, explicando que “este ano foi um sucesso, tendo sido exportadas mais de 40.000 toneladas de pêra rocha, o dobro do que é exportado para Inglaterra” que até há poucos anos atrás era o principal destino de escoamento da pêra Rocha. No entanto, José Paulo Duarte, admite que não é fácil abrir novos mercados: “Os mercados saturam facilmente e nós temos de estar numa procura constante de novas oportunidades e temos de abrir novas portas (...) fomos o ano passado a uma feira na Arábia Saudita, a outra no Dubai e agora participámos no II Fórum Portugal-Países Árabes, mas ainda não conseguimos vender para lá. Nada disto é fácil...” conta. No caso dos países árabes, o administrador da Abrunhoeste explica que “a maior parte dos países compra aos grossistas importadores no Dubai, que são os responsáveis pela distribuição no restante mercado árabe”. Um dos problemas que José Paulo Duarte identifica para a dificuldade de entrar em determinados países é o desacordo entre países ao nível das políticas aplicadas à exportação. “A meu ver, este governo felizmente, até tem feito muito nesse sentido (...) Tem apoiado e acompanhado muito as empresas exportadoras, ao contrário das políticas em vigor nos últimos 30 anos`que sempre apostaram somente no sector dos serviços (...) nenhum país consegue viver de serviços e de sol, tem de se produzir algo”. O administrador, dá o exemplo do Alentejo, que tanto potencial tem no setor agrícola: “As paisagens do Alentejo seco e pouco fértil são uma miragem (...) o Alentejo está cada vez mais verde. Reúne as condições perfeitas para a produção de fruta e de

outras práticas agrícolas; tem calor, tem frio, tem luz, não tem humidades e tem solos fantásticos”. E foram exatamente estas razões que fizeram com que a Abrunhoeste investisse numa parceria com os Hóteis Villa Galé, em 100 hectares de fruta. Relativamente à dinâmica empresarial no setor agrícola em Portugal, José Paulo Duarte lamenta a falta de cooperativismo dos portugueses: “Temos uma mentalidade muito curta e pequenina. Preferimos ter um quintal do que uma quinta (...) andamos em guerrilhas uns com os outros para ver quem vende mais barato, em vez de nos associarmos e tornarmonos mais fortes (...) em Espanha os produtores são muito mais associativos pois sabem que ganham mais com isso.” Mais uma das dificuldades para lançar a pêra Rocha em mercados como os países árabes está relacionada precisamente com esta falta de associativismo do setor agrícola em Portugal. O administrador da Abrunhoeste explica que “nesses países não conhecem a pêra Rocha nem as caracteristicas que lhe são inerentes. Porque aqui na Europa basta enviar uma ou duas paletes e fazer uma promoção numa grande superfície para dar a conhecer a pêra Rocha. Para os países árabes já terá que ser, no mínimo, um contentor de pêras (...) este tipo de iniciativas não pode ser feito por uma empresa apenas, tem de ser feito por uma associação na qual todos os produtores de pêra Rocha deveriam participar”. Para além desta mentalidade de pouca cooperação entre os portugueses, José Paulo Duarte realça que muitas das imposições colocadas pela União Europeia no setor agrícola também não ajudam os produtores. Exemplifica com um caso da proibição do uso de um produto de conservação da fruta:”Proibiram-nos de aplicar um produto que até então era usado e que

é permitido em vários outros países, nomeadamente os EUA, que é o país menos flexível no que diz respeito à aplicação de químicos. Infelizmente, penso que tudo isto está relacionado com as guerras dos grandes loby´s dos químicos”. Apesar de tantas contrariedades existentes no setor agrícola português, a Abrunhoeste tem crescido exponencialmente. Apostando na inovação, procurando novos mercados e reforçando cada vez mais, a qualidade dos seus produtos. José Paulo Duarte afirma com orgulho que “tudo isto é fruto de um espírito forte de uma equipa familiar, unida e muito trabalhadora”.

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A União Faz a Força Alentubo Constituída por três organizações de referência no setor da prefabricação nacional, a ALENTUBO é mais um exemplo de que a união faz a força. Especialista no fabrico de tubos de betão armado com alma de aço para condutas sob pressão, esta empresa, cujos sócios são a Vigobloco, S.A. a Verdasca & Verdasca, S.A. e João Paulo Ramôa, engenheiro, nasce em 2010 e tem os olhos postos na internacionalização. Em entrevista à Revista Business Portugal, Cristiano Pires, diretor geral da ALENTUBO, explicou um pouco mais sobre esta organização e a sua estratégia de crescimento.

A ALENTUBO foi constituída em outubro de 2008 e começou a operar em 2010 com três organizações de referência nesta área. Como é que nasce esta união da qual nasce a ALENTUBO? A ALENTUBO nasce da associação de três empresas que eram concorrentes na produção de pré-fabricados de betão. Falamos de produtos de menor valor acrescentado, nomeadamente vigas, blocos. Estas três empresas entenderam que não fazia sentido que 60 por cento da tubagem que estava a ser aplicada no projeto do Alqueva, viesse de Espanha e decidiram unir-se. O projeto era demasiado arriscado para cada uma delas avançar individualmente e nasce desta forma a ALENTUBO. No fundo, o objetivo foi criar uma capacidade para competir no mercado ibérico que sozinhas estas empresas não possuíam.

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Essa união tornou-se permanente, ou no mercado interno essas três empresas continuam a operar de forma individual? No mercado interno estas empresas continuam a ter a sua área específica em outros produtos. A união deu-se apenas no campo em que a ALENTUBO atua e para esses produtos específicos, fabrico de tubos de betão armado com alma de aço para condutas sob pressão. Qual é a mais-valia de poder contar com a experiência de três organizações de referência? Existem diversas mais-valias. A ALENTUBO foi constituída já no início da crise, com todas as dificuldades de investimento. O investimento na ALENTUBO foi de quatro milhões de euros e individualmente seria muito arriscado para qualquer uma das empresas ter avançado para esse

investimento. Juntas conseguiram unir esforços, até mesmo no que diz respeito à negociação com fornecedores. Existiam alguns fornecedores mais ligados a uma empresa do grupo e outros mais ligados às outras. Além desta existe também a maisvalia da partilha comercial e da gestão financeira. No fundo a ALENTUBO acaba por utilizar as empresas do grupo para todos os contactos que faz e isso é uma boa alavanca até internacionalmente, porque as três organizações individualmente já estão presentes em alguns mercados tais como a Venezuela, Moçambique, Cabo Verde e França. No fundo, pretendemos aproveitar a experiência dos sócios da ALENTUBO para avançar com o processo de internacionalização. Na sequência desse processo de internacionalização, como é que surge o


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interesse nos Países Árabes? A ALENTUBO foi constituída essencialmente para responder à necessidade do fabrico de tubos para o projeto do Alqueva. Neste momento, esse projeto representa cerca de 90 POR CENTO da nossa faturação e a dimensão que a ALENTUBO tem não permite depender exclusivamente do mercado nacional quando o projeto acabar. Estima-se que o projeto esteja finalizado em 2015, no máximo em 2016. Mesmo que venha a ser expandido como se especula, essa expansão nunca terá uma dimensão que permita a ALENTUBO sobreviver. O término do projeto obrigará a forçar um processo de internacionalização mais prematuro. Os mercados árabes, particularmente, o mercado Argelino e o mercado de Marrocos, apresentam projetos de dimensão bastante considerável e permitem a exportação via marítima. O objetivo passa por explorar esses mercados, para que quando terminamos o projeto do Alqueva, já estejamos em força nesses mercados. O nosso processo de internacionalização vai-se basear em duas estratégias diferentes. Uma delas passar pela Argélia e por Marrocos devido à sua localização que nos permite exportar por via marítima e uma segunda prende-se com a análise de outros projetos de grande dimensão, nomeadamente no México e em Angola. Há muitos projetos no mundo inteiro ligados a temática da água. Este é um know-how muito específico. Existem poucas empresas a atuar neste setor e é perfeitamente viável, num projeto, instalar uma fábrica de raiz, que é o que nós pretendemos. Neste caso já não estamos a falar da exportação de bens transacionáveis mas da construção de uma fábrica noutro país onde nos seja apresentado um projeto em que tal se justifique. Nesse caso falamos de uma internacionalização com implementação de fábricas em vários países? Isto são produtos de um peso muito grande. Em projetos em que a distância seja muito significativa e em que os objetos são muito grandes é mais viável a construção de uma fábrica. Estamos a falar de uma tecnologia que é muito específica, e existem muito poucos operadores no mercado europeu. Tendo

essa tecnologia acho que podemos ser um parceiro muito interessante nos projetos que existem pelo mundo fora. No que ao mercado árabe diz respeito, os países do Golfo são também uma possibilidade em aberto? Os países do Golfo, nomeadamente, o Qatar apresentam projetos de grande dimensão em que podemos ser uma mais-valia. No entanto, entendemos também que esses são mercados mais complicados porque aí operam as grandes empresas globais, particularmente as americanas. Por esse motivo esse mercado não é muito fácil, e nós entendemos que o nosso mercado alvo serão os projetos de média dimensão, tal como o que estamos a trabalhar em Portugal. Quando pensamos nos países do Golfo, os projetos são muito grandes, o que para nós é interessante mas que será um desafio extra.

80 POR CENTO da faturação conseguida em 2013, por isso precisaria de alguma coisa correr mesmo muito mal para não conseguirmos ultrapassar a faturação do ano transato. 2015 de acordo com a nossa perspetiva também será um ano positivo. Agora o futuro dependerá do sucesso do processo de internacionalização e da conquista de projetos que nos levem a crescer lá fora.

Qual tem sido o maior desafio nessa internacionalização, para além da concorrência com as grandes empresas globais? A nossa grande dificuldade assenta essencialmente na nossa capacidade produtiva limitada e que, neste momento, é absorvida na sua quase totalidade pelo mercado nacional. Estas obras internacionais são obras de muito grande dimensão. Facilmente, numa obra destas estamos a falar de uma ordem de 6 milhões de euros em produtos e mais de 6 meses de fornecimentos. Esses números criam uma dificuldade extra já que para fazermos este fornecimento temos que confiar muito num parceiro porque os valores são muito grandes mas o contrário também é verdade, o parceiro tem que confiar muito em nós. Esta dificuldade é a maior que atravessamos, neste momento porque não podemos dizer aos parceiros que vamos primeiro enviar umas amostras porque são sempre obras muito grandes e eles precisam de uma quantidade grande de produto. O que podemos esperar no futuro próximo? Ao que tudo indica 2014 será o nosso melhor ano em termos de faturação. Até à data já conquistamos

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Mais de 40 anos de Arquitetura Gabinete de arquitetura joão paciência Formado em 1970 pela Escola de Arquitetura de Lisboa, João Paciência desenvolve atividade em profissão liberal desde 1980, mantendo contatos internacionais desde os anos 90 em parceria com vários Gabinetes de prestígio. O seu gabinete tem desenvolvido várias frentes de projeto, desde a intervenção urbana até ao desenho do objeto e da decoração de interiores. Em entrevista à Revista Business Portugal, o Arquiteto João Paciência traçou um panorama atual da arquitetura em Portugal e falou da aposta no mercado Árabe.

joão paciência Arquiteto

Como é que surge a aposta do seu gabinete de arquitetura em novos mercados, tais como os Países Árabes e que dificuldades surgem na abordagem desses mercados? Em Portugal, infelizmente para a nossa classe, as coisas não estão a acontecer. Mesmo sem crise, somos um país pequeno e não encontramos aqui o mercado que precisamos, por isso é necessário ir à procura de outros onde se identifiquem oportunidades. Nesse sentido estou agora a tentar identificar essas oportunidades nos países do Golfo Pérsico. São países com potencialidade mas um pouco difíceis

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porque já estão articulados com grandes gabinetes internacionais que possuem uma grande capacidade económica. É uma articulação que nós teremos que estudar, quer com grandes gabinetes de projeto, quer com empresas de construção de grande dimensão. Já estive na Arabia Saudita há alguns anos para fazer um projeto em parceria com os árabes. Uma das coisas que ficou claro nessa altura, e que se mantém até hoje, é que só vale a pena ir com parcerias já um pouco estabelecidas, não digo concretizadas mas sim programadas. Uma das condições nesses mercados é que seja investido também algum dinheiro pela

nossa parte, ou dos nossos potenciais parceiros. Na sua ótica todas as partes têm que investir e isso entre nós portugueses é uma missão quase impossível. As empresas de construção portuguesas têm menos capacidade e menos interesse nesse investimento e entre nós projetistas não existe esse hábito, ou capacidade. É uma questão cultural e também de métodos muito individualistas de trabalhar. Depois existe também uma outra questão. Para se ir para os mercados internacionais tem que se ir com muitas valências, tem que existir mais gente, uma outra estratégia de mercado, uma gestão mais agressiva


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em termos comerciais e sempre, uma capacidade de autofinanciamento. Um atelier como o meu, que representa o clássico atelier de arquitetura, tem necessáriamente que se readaptar a essas características. Este gabinete é um atelier artesão em que cada projeto é feito com tempo, com muito estudo e cuidado por uma equipa altamente treinada. Todos os projetos que faço, sou eu que os penso, sou eu que os desenho, sou eu que os acompanho. Naturalmente que tenho a ajuda de uma equipa de jovens arquitetos que comigo partilham muitas das decisões diárias. Esses novos gabinetes, que trabalham em vários mercados, têm que delegar mais o trabalho, e a atenção dada a cada projeto é naturalmente diferente. O perfil do gabinete de projeto das novas gerações tem que se adequar às exigências desses novos mercados, em que certos conceitos não são entendidos da mesma forma. Nos países africanos, o conceito de qualidade não se aproxima do mesmo que é entendido na Europa. Estes são conceitos mais relativos e flutuantes de acordo com o mercado no qual se está a trabalhar. Apesar de algumas dificuldades existentes nesses mercados, o gabinete de arquitetura João Paciência tem já projetos na Argélia. Como surgem esses projetos? Primeiro é importante perceber que os projetistas têm de se enquadrar sempre com empresas de construção civil quando partem para os mercados. Para os projetistas a nível individual, ou mesmo em grupo é difícil entrar nos mercados. Os mercados como os Países Árabes ou nos casos de Angola e Moçambique querem produtos acabados. Foi assim que eu entrei na Argélia. Fui convidado por uma empresa Argelina que estava a concorrer a um projeto conjunto de casas e equipamentos, para a nova cidade de Boughezoul, na base do Atlas. Enviei o meu currículo e depois de fazerem a triagem dos gabinetes acabaram por me escolher. Ganhámos esse concurso e agora estamos numa fase de espera para saber quando serão iniciados os trabalhos. É um compasso de espera que já dura há UM ano mas as coisas estão a correr bem porque essa mesma empresa têm-me chamado para fazer outras propostas, e neste momento, estou a trabalhar nisso. Através da Câmara do Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa foi também estabelecido um outro contacto na Argélia com um promotor imobiliário que me convidou para apresentar um plano alternativo para uma parte de uma outra cidade nova. As coisas estão a acontecer e estou neste momento a trabalhar em três frentes, mas sempre com um enorme investimento inicial e tempos de decisão muito alargados.

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Revista business portugal II Fórum Económico Portugal – Países Árabes Qual foi a obra ou momento que entende que marcou a sua carreira enquanto arquiteto? Há um ponto de viragem interessante no meu percurso e que resulta do projeto Atrium Saldanha, feito em parceria com o arquiteto Ricardo Bofill de Barcelona. Ele foi o arquiteto principal e eu o arquiteto residente aqui em Portugal. É muito difícil a questão das parcerias para alguns arquitetos, principalmente no que à questão da criatividade diz respeito, mas se as tarefas de cada um estiverem definidas, o trabalho desenvolve-se de uma forma natural. Como estava a dizer, esse é um momento de viragem porque até essa altura tinha ganho vários concursos públicos em Portugal, alguns acabaram mesmo por não se concretizar. Com esta oportunidade, houve em mim uma mudança de estratégia e de visão. Deixei de trabalhar aqui na província (em relação ao mundo) e comecei a trabalhar na grande cidade. Ia muito a Paris e Barcelona e comecei a perceber como é que outras cabeças funcionavam, com outras dimensões de projectos e com outros conhecimentos e tecnologias. Foi algo que me espantou, porque vi que existia um know-how muito denso da profissão já que esses colegas dominavam não só as questões das ideias mas também da forma como se resolviam e solucionavam certas questões práticas. Esse foi um virar de página. Depois desse projeto surge um outro já sem nenhuma parceria, o Hotel Sheraton do Porto. Nesse projeto fiz inclusivamente a decoração interior toda. Foi um projeto de A a Z. Foram cerca de 6 anos dedicados aquele projeto. Estes foram os mais emblemáticos. Agora está-se a concretizar um projeto no Estoril, no antigo Hotel Atlântico. Por onde passa o futuro dos arquitetos em Portugal? A reabilitação é no seu entender uma saída? A reabilitação a mim não me fascina. Gosto mais de coisas novas embora reconheça que, neste momento, não temos muitas saídas e essa é uma área necessária e importante. Já tenho realizado alguns pequenos projetos na área da reabilitação

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mas faço-o mais por dever de oficio do que por gosto. Como disse não é algo que me motive mas também sei que construções novas só são possíveis hoje para lá das fronteiras onde existe dinheiro e possibilidade à imaginação. Nós enquanto arquitetos temos que ser intérpretes de uma certa sensibilidade. Apesar de haver às vezes uma certa ideia de que a profissão acabou, eu não tenho essa ideia porque acho que a profissão de arquiteto é inerente à condição do ser humano. O arquiteto recebe uma intenção de um cliente qualquer e tenta descodificar. É necessário que as áreas e as funções se agrupem da maneira certa mas mais do que isso é necessário encontrar uma forma que sintetize e passe uma mensagem. Depois já no momento da construção tem que se organizar tudo e todos os intervenientes, e ser o elo de ligação entre todas as partes. É o chefe de uma grande orquestra, o maestro. Tem que conhecer a partitura musical para saber quando entram as várias áreas da melodia. Na altura da obra tem que estar sempre presente porque muitas vezes surgem situações que carecem de uma

solução no momento. Não é fácil ser-se arquitecto, mas não deixa de ser fascinante. Daí se dizer por graça que aos 30 anos morre um futebolista e nasce um arquiteto. É preciso tempo de vida, por muito talentoso que um arquiteto possa ser, ele tem que ter tempo de vida nas suas diferentes facetas. Tem que encontrar soluções e ser um criativo. Isto é fascinante e todos os dias há coisas novas. Nunca me aborreço. Somos um país pequeno e temos que sair para encontrar novas oportunidades mas no mesmo país pequeno onde faltam oportunidades, há muita gente cheia de qualidade e talento. Ainda estou nisto porque continuo a gostar desta profissão e ainda me sinto com energia. Não tenho feitio para estar parado. Já estou reformado de outras coisas que fiz mas desta, que é a profissão da minha vida, não. Como os arquitetos que foram sempre as minhas referências só fizeram as grandes obras depois de velhos, pode ser que agora a minha oportunidade esteja a chegar.


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reuniões bilaterais

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