Ranking dos seres humanos na cadeia alimentar calculado pela primeira vez
O
nosso nível na cadeia alimentar, numa escala de 1 a 5 que vai das plantas aos grandes predadores, é médio: 2,21. Mas está aumentando – e temos de travar essa subida para não esgotar os recursos do planeta. O que temos nós, os seres humanos, em comum com os porcos e com umas anchovas que vivem ao largo do Peru e do Chile? O fato de ocuparmos mais ou menos a mesma posição que eles na cadeia alimentar global. Esta é a conclusão de uma equipe de cientistas franceses que, pela primeira vez, avaliou o nosso “nível trófico” – ou seja, o nosso ranking na grande teia mundial dos alimentos. O nível trófico de uma espécie resume, num único número, a composição da sua dieta. E permite perceber as relações predador-presa, bem como o impacto de cada espécie sobre os recursos alimentares do planeta. Embora o nível trófico da maioria das espécies terrestres e marinhas já fosse conhecido, nunca tinha sido calculado para os seres humanos. Foi o que fizeram Sylvain Bonhommeau, do Instituto Francês de Investigação para a Exploração do Mar, e colegas. Para isso, utilizaram os dados relativos ao consumo alimentar humano, entre 1961 e 2009, recolhidos pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em 176 países. Estamos convergindo para uma dieta que contém cerca de 35% de nutrientes de origem animal (carne, gordura, peixe)
60 REVISTA AMAZÔNIA
por Ana Gerschenfeld
Nível trófico humano
Antes de mais, um pouco de aritmética. O cálculo do nível trófico de uma espécie faz-se da forma seguinte. Na base da cadeia alimentar, no nível 1, estão as plantas. Por isso, explicam os autores do artigo, o nível trófico de uma vaca, que é um herbívoro, é igual a 2: a vaca situa-se, no ranking alimentar, um nível acima das plantas. Já uma espécie cuja dieta é 50% ervas e 50% carne de vaca tem um nível trófico de 2,5: é a média dos níveis
tróficos de cada um dos componentes da sua dieta (1,5) mais 1 (por se encontrar um degrau acima de herbívoros como a vaca). Nesta escala global dos que comem e dos que são comidos, os maiores predadores, tais como os ursos polares e as orcas, podem ultrapassar os 5 do nível trófico, salientam os cientistas. Para a espécie humana, porém, esse cálculo rende uns modestos 2,21. Dito por outras palavras, e ao contrário do que se poderia pensar, os seres humanos não são predadores de topo. A nossa dieta é, de fato, bastante variada – como a dos porcos e a das anchovas peruanas (que se alimentam de fitoplâncton e de zooplâncton). Porém, isso não significa que o nosso impacto no ecossistema seja modesto. “O nível trófico permite descrever o lugar que uma espécie ocupa no ecossistema a partir do seu regime alimentar – e, de fato, nós posicionamo-nos a um nível bastante baixo na escala alimentar”, disse Sylvain Bonhommeau. “Mas somos tantos que isso nos conduz a uma apropriação importante dos recursos naturais, à qual é ainda preciso acrescentar todos os nossos outros impactos (poluição, alteração dos habitats, etc.).” No total, escrevem os investigadores, os humanos apropriam-se, através da produção de alimentos e do uso dos solos, de 25% da capacidade do planeta para produzir biomassa. É de fato aí que reside o nosso lado predador… revistaamazonia.com.br