DIRETOR e PRODUTOR: Rodrigo Hühn; EDITOR: Ronaldo Gilberto Hühn; COMERCIAL: Alberto Rocha, Augusto Ribeiro, Rodrigo Silva, Rodrigo Hühn; DISTRIBUIÇÃO: Dirigida, Bancas de Revista; REDAÇÃO: Ronaldo G. Hühn; COLABORADORES*: Christian Ziegler, COP30, Demethrius Lucena, Hunter Guindon, IDEFLOR-BIo, Julien Bousquet, PNAS, Ronaldo Hühn, Universidade de Quebec em Chicoutimi (UQAC), Vinícius Leal; FOTOGRAFIAS: Agência Belém / Naalem Rechene, Agência Santarém, Alexandre Costa/Agência Pará, Biorxiv, Bruno Cecim /Agência Pará, COP30,Christian Ziegler, Cortesia Dreamstime, Editora Círios, Fabrício Nunes/ Ascom Emater, Havita Rigamonti / Divulgação, Hunter Guindon, Internet, Marcelo Lelis / Ag. Pará, Marcelo Vilarta, Marco Santos / Ag. Pará, PNAS, The Conversation, Universidade de Quebec em Chicoutimi (UQAC), Unsplash/CC0 Domínio Público, Unsplash, William Brisida/ Itaipu Binacional; DESKTOP: Rodolph Pyle; EDITORAÇÃO GRÁFICA: Editora Círios
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CAPA
O projeto de “reintrodução de ararajubas na Região Metropolitana de Belém” reconhecido internacionalmente, simboliza um dos maiores esforços para recuperar uma espécie emblemática da fauna amazônica em seu habitat natural. Imagem de Ararajuba solta no Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna, em Belém. Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará
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O Estado chega à Conferência das Nações Unidas sobre o Clima como exemplo concreto de conciliação entre desenvolvimento econômico e preservação ambienta
A COP das Soluções – novo ciclo econômico e ambiental da Amazônia
Com as obras concluídas e o pioneiro Parque de Bioeconomia no mundo, inaugurado em Belém, Pará chegou à conferência como referência global em uso do solo e baixas emissões
Ogovernador do Pará, Helder Barbalho, afirmou recentemente, durante o Talks COP30, em Brasília, que o Estado chega à Conferência das Nações Unidas sobre o Clima como exemplo concreto de conciliação entre desenvolvimento econômico e preser-
vação ambiental. Ao apresentar o avanço das obras estruturantes, o fortalecimento da bioeconomia e o pioneirismo nas concessões de restauração florestal, Helder reforçou que a COP30 será a “COP das Soluções”, marcada por resultados práticos e mensuráveis.
“Em um ano e meio, executamos cerca
de R$ 5 bilhões em investimentos e hoje temos as obras prontas.
Belém está preparada para receber o maior evento diplomático do planeta e para mostrar que a Amazônia é símbolo de soluções e não apenas de problemas”, afirmou o governador.
Legado urbano e uso responsável do solo
Belém recebeu a ancoragem de dois navios de cruzeiro no Porto de Outeiro, distrito de Belém, que funcionaram como hotéis flutuantes durante a 30ª Conferência das Na-
ções Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Juntas, as embarcações têm mais de 3,9 mil cabines, garantindo 5 mil leitos para participantes do evento
Terminal Portuário de Outeiro, requalificado para utilização na COP30 Foto: Ricardo Stuckert/PR
Navios de cruzeiro ancorados no Porto de Outeiro garantiram 5 mil leitos para a COP30
Ponte estaiada de 600 metros, ligando o Porto de Outeiro ao Parque da Cidade na COP30
Helder destacou que a preparação de Belém para a COP vai além da infraestrutura física. Representa um novo modelo de ocupação urbana e gestão do território. Entre as entregas
estão a duplicação da operação do aeroporto com investimentos da iniciativa privada, o sistema BRT Metropolitano, uma ponte de 600 metros que liga áreas estratégicas da capital, a maior estação de tratamento de esgoto da história da cidade, 13 quilômetros de canais drenados e urbanizados e parques lineares que reorganizam o crescimento em torno dos rios
“Estamos construindo um modelo de desenvolvimento que concilia produtividade e integridade ambiental. O Pará é hoje um dos poucos estados brasileiros com estoque real de carbono que pode ser transformado em economia verde e repartição justa de benefícios”, afirmou. Ele citou ainda as políticas de commodities de baixas emissões, como a pecuária rastreável — que permite acompanhar o histórico individual de cada animal — e a intensificação produtiva que evita o avanço
Sistema de transporte coletivo BRT Metropolitano sobre áreas de floresta. Com produtividade ampliada de uma para até três cabeças por hectare, o Estado pode triplicar o rebanho sem desmatamento, consolidando a transição de um modelo extrativista para um modelo sustentável de escala industrial.
Aeroporto de Belém com ampliação de capacidade de voos e instalações
Parque de Bioeconomia: o novo eixo da economia amazônica
O governador destacou ainda o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, inaugurado em Belém no início de outubro, como o único complexo do mundo dedicado à bioeconomia e um dos principais legados da COP30. Instalado no Complexo Porto Fu-
turo, o Parque reúne maquinário industrial, laboratórios espaço para startups e incubadoras voltadas à transformação de insumos da floresta em biotecnologia, fármacos, cosméticos e alimentos sustentáveis, formando um ecossistema de pesquisa e negócios de
impacto global.“Queremos fazer de Belém o grande cluster da nova economia verde — o “Vale do Silício da biodiversidade”. No lugar da extração, a bioindústria; no lugar da degradação, a restauração; e no lugar da dependência, a inovação”, afirmou.
Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia
O Parque já nasceu como o maior polo desse segmento da América Latina, e único parque tecnológico do planeta que usa o potencial da floresta para atender comunidades tradicionais e startups da área
Helder lembrou que o Pará foi o primeiro estado do país a implantar uma concessão de restauração florestal, integrando a recuperação de áreas degradadas à geração de emprego e renda. Essa nova fronteira de desenvolvimento inclui cadeias como o cacau e o açaí, que já transformam antigas áreas de desmatamento em polos produtivos sustentáveis. “A floresta viva precisa ser fonte de
Para fazer parte do legado para impulsionar a bioeconomia e trazer desenvolvimento social para a região amazônica
valor econômico. Estamos transformando conhecimento ancestral e tecnologia em ativos reais, com governança, rastreabilidade e escala”, disse.Ao concluir sua participação, Helder Barbalho afirmou que a COP30 será a primeira conferência do clima sediada em uma floresta tropical, e que o Pará chega ao evento com resultados concretos em mitigação, restauração e inovação produtiva.
Segundo ele, a COP será também o marco do reconhecimento internacional da Amazônia como território estratégico para o equilíbrio climático do planeta. “O Pará apresenta à ONU um modelo integrado de infraestrutura sustentável, uso inteligente do solo e economia verde baseada na floresta. A COP das Soluções começa em Belém, mas o impacto será global”, concluiu.
Complexo Porto Futuro, o Parque reúne maquinário industrial, laboratórios espaço para startups e incubadoras...
Para transformar a biodiversidade amazônica em negócios de alto valor agregado
A nova economia verde
Ararajubas reintroduzidas na natureza marcam novo capítulo na conservação da espécie
Em oito anos, o Projeto de Reintrodução e Monitoramento já devolveu 58 aves à natureza e outras sete nasceram em solo paraense, oriundas de reprodução natural, reforçando a presença da espécie nos céus da capital paraense
Avistar o amarelo vibrante das ararajubas (Guaruba guarouba) nos céus da Região Metropolitana Belém era, até poucos anos atrás, uma lembrança distante. A espécie, considerada extinta na área, havia desaparecido do seu habitat natural, vítima do desmatamento, do tráfico de animais e da destruição de áreas onde eram construídos os ninhos. Hoje, porém, a realidade mudou. Graças aos esforços do governo do Pará, por meio do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), em parceria com a Fundação Lymington, a presença da ave-símbolo do Brasil volta a colorir a capital paraense.
Nesta segunda-feira (17), às 7h30, o projeto ganha mais um capítulo, com a soltura das primeiras 15 das 30 ararajubas que integram o conjunto de ações alusivas à COP30.
A atividade ocorrerá no aviário do Parque Estadual do Utinga. Em oito anos, o Projeto de Reintrodução e Monitoramento já devolveu 58 aves à natureza e outras sete nasceram em solo paraense, oriundas de reprodução natural, reforçando a presença da espécie nos céus da capital paraense.
O quantitativo representa um marco histórico para a conservação da espécie e reacende o orgulho dos moradores ao reencontrar as ararajubas livres novamente, depois de décadas ausentes da paisagem urbana.
As aves em um viveiro especial instalado no Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna, em Belém
As ararajubas nos céus da Região Metropolitana de Belém
Texto * Vinícius Leal Fotos Marcelo Vilarta
Muitas dessas aves nasceram na Fundação Lymington, em Juquitiba (SP), onde recebem cuidados veterinários, alimentação equilibrada e estímulos comportamentais necessários ao pleno desenvolvimento.
A chegada das ararajubas ao Pará abre a fase mais delicada do processo: a aclimatação. Durante quatro a seis meses, as aves permanecem em um viveiro especial instalado no Parque Estadual do Utinga Camillo Vianna, em Belém, onde passam por avaliações de saúde, socialização e treinamentos que vão prepará-las para enfrentar os desafios da vida livre. A dieta também muda: frutas amazônicas, como açaí, murici e uxi, passam a ser oferecidas, para que os animais reconheçam alimentos típicos de seu habitat.
Sucesso
Até pouco tempo atrás, a reintrodução da ararajuba era considerada um objetivo distante. Hoje, há uma geração inteira de aves que já nasceu em território paraense após a soltura das primeiras matrizes. “O sucesso desse trabalho mostra que é possível recuperar populações ameaçadas quando existe ciência, comprometimento e união de esforços”, afirma o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto. “As ararajubas voltaram para ficar, e cada voo representa uma vitória da conservação”, complementa.
Com bons resultados acumulados, o projeto iniciou em 2024 sua terceira fase. Em abril, o Ideflor-Bio e a Fundação Lymington firmaram um Termo de Colaboração que ampliou a estrutura no Parque Estadual do Utinga, com a expansão do aviário de treinamento, novos espaços de educação ambiental e a instalação de um equipamento digital interativo para aproximar a população do trabalho de preservação. O objetivo agora é ainda mais ambicioso: realizar a soltura de 30 novos indivíduos durante a 30ª
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre de 10 a 21 de novembro, em Belém.
Respeito à fauna
Para a gerente de Biodiversidade do Ideflor-Bio, Mônica Furtado, o projeto simboliza o compromisso do Pará com a conservação da fauna amazônica em um momento crucial para a pauta ambiental mundial. “A reintrodução das ararajubas é um marco
As ‘jubinhas
histórico legal para nosso Estado e para a cidade de Belém. No ano em que sediamos a COP30, teremos o ato simbólico de liberar 30 indivíduos nos céus da capital”, explica. Segundo Furtado, o retorno da espécie é tão bem-sucedido que já existem registros de reprodução natural na região. “Durante a execução do projeto, já nasceram sete filhotes na floresta da Região Metropolitana. São as ‘jubinhas belenenses’, símbolo vivo de que o trabalho deu certo”, ressalta.
A rotina de preparação das aves envolve alimentação nativa, fortalecimento físico, socialização e reconhecimento ambiental. O biólogo da Fundação Lymington, Marcelo Vilarta, acompanha cada etapa. “O processo de aclimatação consiste em treinar as aves para a vida livre. Elas aprendem a buscar alimentos da floresta, a voar longas distâncias e a identificar potenciais predadores. Esse treinamento é essencial, porque elas nascem em cativeiro e precisam adquirir instintos naturais”, explica.
belenenses’, símbolo vivo de que o trabalho deu certo
A reintrodução das ararajubas é um marco histórico legal para nosso Estado e de Belém
Prepará-las para enfrentar os desafios da vida livre
Segundo ele, o desenvolvimento comportamental em grupo é decisivo. “As ararajubas formam bandos familiares. Enquanto parte do grupo se alimenta, outros atuam como sentinelas. Na reprodução, até indivíduos que não estão criando ajudam a alimentar filhotes”, assegura o especialista.
Acompanhamento permanente
Mesmo com as conquistas, Vilarta reforça que o desafio continua. A espécie ainda enfrenta riscos e depende de cuidados permanentes para não desaparecer novamente. “É uma grande satisfação participar de um projeto desse porte, ainda mais representando o Pará na COP30. Mas não podemos relaxar: qualquer alteração no ambiente pode interromper processos de reprodução e comprometer a sobrevivência do grupo”, alerta. Apesar disso, a equipe segue otimista com a estabilização da população, que já começa a aumentar naturalmente - sinal claro de que o ambiente voltou a ser favorável. O simbolismo da ararajuba vai além da beleza das penas amarelo-ouro e verde. A ave representa equilíbrio ecológico: dispersa sementes, integra cadeias ecológicas e é um indicador da saúde ambiental da floresta. Sua volta aos céus paraenses carrega também significado cultural, já que a espécie é considerada símbolo nacional e parte do imaginário amazônico.
“Quando uma espécie retorna, a biodiversidade respira”, enfatiza Mônica. “Floresta conservada, fauna viva e linda”, completa. Se antes a ararajuba estava restrita a aviários e livros científicos, agora ela está novamente livre, em meio à floresta.
“O Pará escreve um capítulo inspirador para o Brasil e para o mundo: o de que restaurar e proteger é possível - e que cada asa batendo representa um futuro mais vivo, mais verde e mais amazônico”, finaliza o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto.
Floresta conservada, fauna viva e linda
O simbolismo da ararajuba vai além da beleza das penas amarelo-ouro e verde
Alimentos da floresta para o fortalecimento físico, socialização e reconhecimento ambiental
Árvores gigantes e áreas protegidas fortalecem a agenda climática na Amazônia
No Pavilhão Pará, na Green Zone, especialistas discutiram proteção florestal, ecoturismo e o impacto das árvores monumentais no clima regional e global
OPavilhão Pará, na Green Zone da COP30, recebeu, nesta terça-feira (18), o painel “Áreas Protegidas no Estado do Pará e as Árvores Gigantes no Equilíbrio Climático da Amazônia”, promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), do governo do Pará. O encontro reuniu especialistas, gestores públicos, pesquisadores e representantes comunitários para discutir a importância estratégica das unidades de conservação e o papel das árvores gigantes na regulação climática da região. O painel foi composto pelo diretor de Gestão da Biodiversidade do Ideflor-Bio, Crisomar Lobato; pelo diretor do Instituto Federal do Amapá (IFAP) - Campus Laranjal do Jari, Diego Armando; pela gerente de Políticas Públicas em Clima e Conservação Crisomar
Lobato destacou o impacto científico da descoberta das árvores gigantes no Norte do Pará
da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Gabriela Sampaio; pelo gerente da Região Administrativa de Belém do Ideflor-Bio, Júlio Meyer e pelo representante da Coopertu Jari, Márcio André.
Durante o evento, o Ideflor-Bio lançou oficialmente o catálogo das Unidades Estaduais de Conservação e o box contendo a versão executiva e três estudos técnico-científicos que subsidiaram a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia. O material foi elaborado pela equipe da Diretoria de Gestão da Biodiversidade (DGBio), com apoio integral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e da Andes Amazon Fund (AAF), que garantiram suporte financeiro e logístico às expedições e pesquisas necessárias para a implantação da 29ª Unidade de Conservação estadual.
Ao apresentar o conjunto de estudos, Crisomar Lobato destacou o impacto científico da descoberta das árvores gigantes no Norte do Pará, identificadas a partir de pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Maior árvore da América Latina
Ele lembrou que, entre elas, está a maior árvore do Brasil e da América Latina - um angelim-vermelho com 88,5 metros de altura.
“A relevância de uma árvore dessa para a biodiversidade e para o equilíbrio do ecossistema é enorme. Só a evapotranspiração de uma copa desse porte contribui de forma determinante para os chamados rios voadores, que garantem chuvas até no Sudeste e Centro-Oeste do País. Por isso, preservar essas gigantes é fundamental”, reforçou. Crisomar explicou ainda que, ao identificar que a área era uma floresta estadual voltada ao manejo, o Ideflor-Bio optou por destiná-la à proteção integral, culminando na criação do Parque Estadual Ambiental das Árvores Gigan-
tes da Amazônia, com 560 mil hectares.
A gerente da FAS, Gabriela Sampaio, enfatizou que apresentar esses resultados na COP30 reforça o papel da Amazônia no debate climático global. Para ela, o painel evidencia como a cooperação entre governo, ciência, organizações da sociedade civil e comunidades tradicionais é essencial para garantir avanços concretos. “A Amazônia já produz soluções reais, escaláveis e baseadas em evidências. Quando mostramos a criação e consolidação de Unidades de Conservação e modelos de gestão territorial com protagonismo comunitário, afirmamos
Angelim-vermelho com 88,5 metros de altura
ao mundo que proteger a floresta é possível, quando há articulação, vontade política e investimento contínuo”, destacou.
Fortalecendo o ecoturismo
Representando a gestão territorial e o planejamento turístico, Júlio Meyer ressaltou que o painel também foi uma oportunidade para apresentar o trabalho do Ideflor-Bio no fortalecimento do ecoturismo no Pará, especialmente no Parque Estadual das Árvores Gigantes. Ele explicou que a equipe vem estruturando um produto turístico capaz de garantir o acesso de visitantes, valorizando a experiência de contemplação e educação ambiental.
“O turismo é uma estratégia essencial de geração de renda e valorização da unidade. Participar deste painel ao lado de financiadores e da comunidade da RDS Iratapuru demonstra como Pará, Amapá e comunidades locais estão alinhados para desenvolver um roteiro de alto nível para o Parque”, afirmou. O representante da Coopertu Jari, Marcio André, reforçou a importância da inclusão comunitária no processo de implementação da nova Unidade de Conservação. Para ele, a participação da população local, especialmente das comunidades tradicionais que vivem próximas à área protegida, é decisiva para garantir o manejo adequado, o uso sustentável e a criação de oportunidades econômicas baseadas no turismo de natureza e na conservação ambiental.
Pesquisa em prol da preservação da floresta
Já o diretor do IFAP - Campus Laranjal do Jari, Diego Armando, frisou que a presença da instituição no painel reforça o compromisso da educação pú -
No painel foi reforçado o compromisso da educação pública com a pesquisa científica e o desenvolvimento sustentável no corredor ecológico que conecta Pará e Amapá
blica com a pesquisa científica e o desenvolvimento sustentável no corredor ecológico que conecta Pará e Amapá. Segundo ele, formar jovens pesquisa -
O Parque Estadual Árvores Gigantes da Amazônia reúne 1,3 milhão de acres, no Pará, e entre as espécies raras estão as árvores gigantes
dores e técnicos aptos a atuar em áreas de conservação é uma das prioridades do Instituto, que mantém parcerias contínuas com organizações ambientais e comunidades extrativistas da região.O painel encerrou com a reafirmação do compromisso conjunto dos participantes em fortalecer a governança ambiental da Amazônia.
O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, disse que o lançamento dos estudos e do catálogo representa um marco histórico na valorização das Unidades de Conservação paraenses e na consolidação de políticas públicas voltadas à proteção de ecossistemas essenciais ao equilíbrio climático global.
“Como ressaltado pelos debatedores, a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes simboliza não apenas a preservação de árvores monumentais, mas o avanço de uma agenda que busca conciliar conservação, desenvolvimento e justiça climática”, finalizou o presidente.
O painel evidencia como a cooperação entre governo, ciência, organizações da sociedade civil e comunidades tradicionais é essencial para garantir avanços concretos
Barco movido a 100% hidrogênio verde
Em um esforço para se mostrar um centro desenvolvedor de energia renovável, a Itaipu Binacional, empresa responsável pela hidrelétrica na fronteira do Brasil com o Paraguai, apresentou um barco 100% movido a hidrogênio verde, combustível limpo que não emite gases do efeito estufa, causador do aquecimento global
Aembarcação foi desenvolvida por Itaipu Parquetec, centro de inovações em soluções sustentáveis da empresa, e é a primeira do tipo na América Latina. A apresentação foi no reservatório de Itaipu, no Rio Paraná, em Foz do Iguaçu, lado brasileiro da usina.
O barco lançado oficialmente em Belém, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), de 10 a 21 de novembro na capital paraense. O barco será uma das grandes vitrines do Brasil em transição energética, apoiando ações de coleta de recicláveis nas ilhas de Belém e demonstrando, na prática, o potencial do hidrogênio verde para mover um futuro mais sustentável. A COP30 reunirá delegações governamentais e organizações da sociedade civil de todas as partes do planeta para buscar soluções para o aquecimento global e a mudança climática.
“A inovação tecnológica é uma grande marca de Itaipu nos seus mais de 50 anos. E, com esse barco, temos algo que o mundo inteiro está buscando, que é um meio de transporte que não polui e que, em Belém, vai ajudar os trabalhadores e trabalhadoras que atuam com material reciclável”, afirmou Verri
Em um primeiro momento, o barco de alumínio, com 9,5 metros de comprimento e 3 metros de largura, será utilizado na atividade de coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos nas ilhas habitadas da capital paraense.
A embarcação também conta com sistema para aproveitar energia solar e, durante a navegação, não emite barulho nem poluentes. O único resíduo do motor é água pura.
O barco ficará sob responsabilidade da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), instituição sem fins lucrativos que tem como objetivo apoiar o desenvolvimento científico, social e tecnológico da Amazônia, e ligada à Universidade Federal do Pará (UFPA).
A embarcação também conta com sistema para aproveitar energia solar e, durante a navegação, não emite barulho nem poluentes. O único resíduo do motor é água pura
Em um esforço para se mostrar um centro desenvolvedor de energia renovável, a Itaipu Binacional, empresa responsável pela hidrelétrica na fronteira do Brasil com o Paraguai, apresentou um barco 100% movido a hidrogênio verde, combustí-
“A inovação tecnológica é uma grande marca de Itaipu nos seus mais de 50 anos. E, com esse barco, temos algo que o mundo inteiro está buscando, que é um meio de transporte que não polui e que, em Belém, vai ajudar os trabalhadores e trabalhadoras que atuam com material reciclável”, afirmou Verri
O Barco une tecnologia limpa, inclusão social e compromisso ambiental
Fotos William Brisida/Itaipu Binacional
O barco
vel limpo que não emite gases do efeito estufa, causador do aquecimento global. A embarcação foi desenvolvida por Itaipu Parquetec, centro de inovações em soluções sustentáveis da empresa, e é a primeira do tipo na América Latina. A apresentação foi no reservatório de Itaipu, no Rio Paraná, em Foz do Iguaçu, lado brasileiro da usina. O barco será lançado oficialmente em Belém, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que acontece de 10 a 21 de novembro na capital paraense. A COP30 reunirá delegações governamentais e organizações da sociedade civil de todas as partes do planeta para buscar soluções para o aquecimento global e a mudança climática.
Hidrogênio verde
O hidrogênio é um gás que pode ser utilizado como combustível sem emitir gás carbônico (CO²), causador do efeito estufa. No entanto, apesar de ser o elemento mais comum na natureza, dificilmente é encontrado isoladamente. Geralmente está associado a outros elementos, como no caso da água (H2O).
Um dos meios mais desenvolvidos para extração do hidrogênio é a eletrólise, quando se extrai a molécula presente na água. Para fazer a separação dos elementos químicos, é preciso usar energia.
Quando essa energia é de origem limpa, como a hidrelétrica, é possível classificar o hidrogênio resultante como verde.
O gestor do Centro de Tecnologias de Hidrogênio de Itaipu Parquetec, Daniel Cantane, explicou que a produção e o uso do hidrogênio verde não poluem o meio ambiente.
“No caso do barco, por exemplo, após o uso como combustível, o produto gerado é água pura, que retorna ao rio”, disse.Daniel
Cantane detalha que um posto náutico semelhante ao que há em Foz do Iguaçu será instalado em Belém, que utilizará a energia solar para produção local do hidrogênio verde. A estrutura terá capacidade para armazenar o combustível produzido. “Esse posto terá um sistema de recarga para fazer o abastecimento das embarcações, então, garante o uso da embarcação de uma maneira contínua após a COP30”, esclarece.
Futuro
O gestor do Parquetec informou à Agência Brasil que o centro de inovação em Foz do Iguaçu desenvolve outras aplicações do hidrogênio verde, como forma de avançar em processos de descarbonização.
“O futuro já vem acontecendo. Por exemplo, [pode ser usado para] desenvolver esse tipo de combustível para frotas de caminhões logísticos ou até para ônibus em grandes centros urbanos”, disse. O diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri, aponta que o barco 100% movido a hidrogênio verde poderá, futuramente, ser utilizado no transporte de passageiros em locais como o Pará, onde o transporte hidroviário é mais comum. barcos a hidrogênio associados à exploração e produção de petróleo na Margem Equatorial, próxima à Linha do Equador
Verri vislumbra ainda o uso de, região vista como nova fronteira petrolífera do país.
“Serão embarcações como essa as alternativas no transporte para se obter esse petróleo, levar esse petróleo para outros lugares, para você contrapor a utilização do petróleo, que é um combustível que polui, utilizando hidrogênio verde, com isso, minimizando os impactos da extração do petróleo daquela região”, avalia Verri.
Transporte hidroviário com barcos a hidrogênio associados à exploração e produção de petróleo na Margem Equatorial
Futuramente, o barco poderá ser utilizado no transporte de passageiros em locais como o Pará, onde o transporte hidroviário é mais comum.
Barco movido a 100% hidrogênio verde
Belém inaugura ponto de coleta que paga em Pix por recicláveis
Na
movimentada Praça Princesa Isabel,
em Belém, surge um novo
equipamento
que propõe virar jogo na relação entre resíduos e renda
Na recente quarta-feira (12/11), foi inaugurada a primeira unidade no Pará da Estação Preço de Fábrica — um ponto de coleta que remunera diretamente em Pix quem entregar vidro, papel ou plástico para reciclagem. A iniciativa conecta economia circular, tecnologia e cidadania à urgência de tratar os desafios ambientais da Amazônia.
A dinâmica é simples e audaciosa. O projeto — fruto da parceria entre o Grupo Boticário e a startup Green Mining — convida qualquer pessoa a baixar o aplicativo da Green Mining, cadastrar-se, levar os materiais aceitos (papel branco, papelão, papel cartão, plástico PET verde/azul/transparente e vidro) ao ponto de entrega e, a partir de um peso mínimo acumulado, receber crédito via Pix na sexta-feira. Segundo o anúncio, o pagamento será acima dos valores de mercado tradicionais.
Por que essa iniciativa importa? Em primeiro lugar, porque transfere valor direto a quem separa resíduos — catadores autônomos, pessoas com pouco acesso à renda extra, quem quer colaborar com o ambiente e ainda ganhar por isso.
A proposta se articula num cenário onde a logística reversa no Brasil enfrenta falhas históricas, intermediários fazem a diferença e os resíduos acabam em aterros ou rios. Com a Estação Preço de Fábrica, o valor é repassado ao indivíduo que entrega, enquanto o material segue para beneficiamento industrial.
Além disso, o projeto amadurece o conceito de economia circular na Amazônia — região marcada por desafios únicos de infraestrutura, coleta e destinação.
Ao instalar o equipamento em Belém durante a COP30, o símbolo é duplo: conecta o discurso global ao território local, e materializa a ideia de que “resíduo é recurso”. O diretor de ESG do Grupo Boticário, Luis Meyer, afirma que o momento fortalece “ações sustentáveis … especialmente em uma região com desafios únicos”. O CEO da Green Mining, Rodrigo Oliveira, reforça que “queremos levar dignidade aos catadores autônomos e fortalecer uma rede colaborativa de reciclagem”.
Na prática, o usuário faz o cadastro, informa o material, leva até o local e recebe um recibo. Quando o valor acumulado atinge R$ 10, o sistema deposita automaticamente o montante via Pix — às sextas-feiras. A iniciativa menciona que, em outras localidades onde já foi aplicada, o modelo já contribuiu
O ponto de coleta na movimentada Praça Princesa Isabel, em Belém
Durante a inauguração do ponto de coleta que paga em Pix por recicláveis
Belém ganha a 1ª Estação Preço de Fábrica da Região Norte, na Praça Princesa Isabel
para fortalecer a cadeia de reciclagem e gerar renda para comunidades vulneráveis. O ponto de coleta aceita vidro, papel branco, papelão, papel cartão e plástico PET verde, transparente e azul. Além do Grupo Boticário e da Green Mining, o projeto conta com apoio da Electrolux Group América Latina e da Prefeitura de Belém, que ampliam o es -
O prefeito Igor Normando destacou o impacto direto na vida do trabalhador e a importância de iniciativas para a redução do descarte irregular na cidade
que ampliam o escopo para eletrodomésticos e fortalecem a cadeia local de resíduos sólidos
copo para eletrodomésticos e fortalecem a cadeia local de resíduos sólidos.
Do ponto de vista estratégico, a implantação em Belém representa um ensaio de economia circular adaptada à Amazônia — com logística, remuneração direta, tecnologia de cadastro e pagamento, e articulação entre iniciativa privada, startups, governo local e população. O modelo sugere que o futuro dos resíduos pode estar em valorizar quem vive da coleta, em vez de somente penalizar quem gera resíduos. Mas há desafios à vista. A replicação exige infraestrutura — transporte dos materiais, separação adequada, beneficiamento
Mais uma entrega da COP30 através da nossa gestão para a nossa cidade, em parceria com a @green_mining e o @grupoboticario, pra fortalecer a reciclagem e garantir renda direta pra catadores, cooperativas e famílias de baixa renda
industrial, mercado para as recicláveis e educação para o descarte correto. A ação durante a COP30 ajuda a dar visibilidade, mas para que o impacto seja sustentável será preciso acompanhamento, escala e vinculação ao desenvolvimento local. Ainda assim, é um passo concreto que demonstra como um ponto de coleta pode virar pivô de transformação social e ambiental.
COP30 Belém-Pará
Em síntese, a Estação Preço de Fábrica em Belém une três vetores: remuneração imediata, circulação de materiais recicláveis e articulação territorial. Num cenário onde a economia do descarte quase sempre beneficia intermediários ou gera fragilidade para os coletores, esse modelo propõe que o valor flua para quem entrega. Se funcionar bem, pode se tornar referência para outras cidades amazônicas e regiões com desafios similares.
À medida que o planeta discute neutralidade, descarbonização e economia verde nos fóruns internacionais, iniciativas como essa demonstram que a ação também pode (e deve) começar na praça da cidade — com vidro, papel e plástico virando renda, e pessoas virando agentes da mudança.
Hub de Reciclagem conta com apoio da Electrolux Group América Latina e da Prefeitura de Belém,
I Fórum Internacional da Agricultura Familiar e Comunidades Tradicionais
Os trabalhadores do campo chegaram em caravanas de todo o Pará e lotaram auditório nos cinco dias de programação no espaço Agrizone da COP30
Fotos Divulgação, Fabrício Nunes/Ascom Emater
Olançamento do livro ‘Assistência Técnica e Extensão Rural no Pará – Um panorama da realidade’ encerrou a programação do Fórum Internacional da Agricultura Familiar no Pará, após cinco dias de intensas atividades com 70 painelistas e participantes de 11 nacionalidades. O evento reuniu pesquisadores, gestores públicos, parlamentares, organizações nacionais e internacionais que dialogaram diretamente com os trabalhadores do campo sobre soluções sustentáveis para práticas produtivas e preservação da floresta. Os encontros ocorreram na Agrizone, espaço localizado na Embrapa e parte da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP30).
Entre os principais temas dos 14 debatidos na programação, estiveram transição climática, restauração de áreas degradadas, regularização fundiária, financiamento e assistência técnica rural. Representantes de diversos órgãos estaduais participaram das discussões e apresentaram as políticas públicas e instrumentos desenvolvidos pelo Governo do Pará, em várias frentes, para apoiar as famílias de trabalhadores da agricultura familiar e comunidades tradicionais, especialmente, no enfrentamento dos efeitos da crise climática.
“Não é só um discurso. O Governo do Estado tem uma política de adaptação à mudança climática.
Painel Temático - Tecnologias e Mecanização Agrícola adaptada à Agricultura Familiar, temática atual e de importância fundamental para a mudança de paradigmas da Agricultura Familiar e das Comunidades Tradicionais
O Estado tem um plano de ação chamado Plano Amazônia Agora (PAA), que tem quase 20 instrumentos para fazer essas políticas acontecerem”, declarou o titular da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), Cássio Pereira, que reforçou a orientação do governador Helder Barbalho de construção de um novo modelo de desenvolvimento rural pautado na floresta viva, produção com agrofloresta. Ele destacou iniciativas como o programa de produção de baixo carbono, programa de pagamento
Painéis abordam experiências de sistemas agroflorestais (SAFs) que aliam produção de alimentos e recuperação ambiental
No
Durante o lançamento do livro encerrando a programação do Fórum Internacional da Agricultura Familiar no Pará, na COP30
por serviços ambientais, programa de pecuária sustentável e outras ações que contemplam apoio aos pequenos produtores e cuidados com o meio ambiente.
Juliana Machado veio de uma comunidade rural de Igarapé-Miri para participar do fórum já com a intenção de levar novos conhecimentos para aperfeiçoar o trabalho rural. “Eu vim aprender, aprender para repassar para o povo, para cuidar do nosso rio. Sem a floresta a gente não tem nada”, disse a agricultura, que atua na produção do açaí e também na pesca e artesanato
A diretora do Sustaining Cultures, da Austrália, Karla Nunes Penna, e a representante da Fundação Mae Fah Luang, Ann Supatchaya, da Tailândia, participaram do painel ‘Experiências locais de regularização fundiária para promoção do desenvolvimento sustentável’, onde elas relataram experiências de comunidades resilientes que conseguiram superar dificuldades, restaurar, produzir e preservar o meio ambiente na Tailândia e na Austrália. O debate teve a participação do presidente do Iterpa Bruno Kono que falou sobre o avanço do trabalho de regularização fundiária no Pará para garantir segurança jurídica e possibilitar acesso a serviços essenciais, programas de financiamento e outros benefícios.
Aplicativo
Ainda durante o fórum, os participantes conheceram o Ater Paid’Égua, aplicativo desenvolvido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater) para fornecer Assistência Técnica Extensão Rural (Ater) virtual a agricultores familiares em áreas de difícil acesso. A iniciativa tem apoio do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). O sistema abriga o cadastro de produ-
No painel ‘Experiências locais de regularização fundiária para promoção do desenvolvimento sustentável’
tores, permite consultas rápidas e geração de apoio, agendamento de visitas e verificações de status, entre outros serviços para facilitar o atendimento da população do campo.
Livro
Outro instrumento importante apresentado no fórum foi o livro ‘Assistência Técnica e Extensão Rural no Pará – Um panorama da realidade’, que compõe um mapeamento da situação da agricultura familiar no Pará, a partir da identificação e acesso a base de dados de mais de 400 instituições ligadas aos trabalhadores do campo. O levantamento servirá de base para a construção do Sistema Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural.
Durante os cinco dias de programação, projetos de energia solar, qualificação de mulheres do campo, conectividade, formação de mão de obra, mobilização social e assessoria técnica também foram apresentados no fórum, com resultados positivos em comunidades tradicionais e áreas remotas.
A partir desse conhecimento compartilhado, a expectativa é integrar esforços com institutos de pesquisa, organizações sociais e parcerias com empresas e instituições nacionais e internacionais para ampliar esse tipo de iniciativa que garante o desenvolvimento econômico sustentável dentro da floresta.
O Fórum Internacional da Agricultura Familiar foi uma realização do Ipam, Seaf e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), com os parceiros institucionais Hydro, Fetragri, Fetraf, CNS, Malungu, Adepara e Emater. O evento também teve apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Cooperação Alemã no Brasil, GIZ, Natura, Symrise, Embrapa, Mapa, MDA e Governo do Brasil.
(*) Governo do Pará (SECOM) <<
Ainda durante o Fórum Internacional da Agricultura Familiar
Turismo gastronômico evoluiu para uma identidade internacional e diplomacia cultural
Quando as pessoas viajam, elas não procuram apenas pontos turísticos históricos, mas também novos sabores que as cativem e as conectem ao lugar que estão visitando
Em Québec, por exemplo, é a poutine. A mistura reconfortante de batatas fritas crocantes, coalhada de queijo crepitante e molho marrom rico foi servida pela primeira vez em lanchonetes rurais da década de 1950 antes de se tornar um símbolo nacional.
Na Espanha, a paella — um prato de arroz com infusão de açafrão, repleto de frutos do mar, frango e vegetais, criado nas fazendas de Valência como uma refeição compartilhada pelos trabalhadores — é imperdível.
No Japão, o ramen — tigelas fumegantes de macarrão de trigo em um caldo perfumado, coberto com soja, missô ou ossos de porco — conta a história do consolo e da inovação culinária do pós-Segunda Guerra Mundial .
Mas, além dos sabores da comida, será que a gastronomia pode se tornar uma linguagem de identidade e diplomacia cultural? Essa questão está no cerne do crescente movimento culinário do Canadá.
A gastronomia como forma de diplomacia
Em todo o Canadá, a comida está rapidamente se tornando um símbolo de identidade e orgulho regional. Dos vinhedos do Vale Okanagan às cabanas de açúcar de Quebec, a culinária está emergindo como uma linguagem que define quem são os canadenses — e como o mundo os percebe.
No Japão, o ramen
Na Espanha, a paella
Texto Julien Bousquet, Universidade de Quebec em Chicoutimi (UQAC) Fotos Hunter Guindon, The Conversation, Universidade de Quebec em Chicoutimi (UQAC), Unsplash/CC0 Domínio Público, Unsplash
Esse movimento está ganhando força, já que Kelowna, na Colúmbia Britânica, aceitou recentemente o convite para se candidatar à designação de Cidade da Gastronomia da UNESCO — um título que celebra lugares onde a cultura gastronômica impulsiona a criatividade, a sustentabilidade e a comunidade.
Criada em 2004, a Rede de Cidades Criativas da UNESCO reconhece e homenageia cidades onde a cultura gastronômica impulsiona a inovação e o bem-estar comunitário. Hoje, 57 cidades detêm a designação, de Parma, na Itália, e Chengdu, na China, a Tucson, no Arizona, nos Estados Unidos.
O Canadá ainda não se juntou a eles, e é por isso que a candidatura de Kelowna é importante: ela seria a primeira Cidade da Gastronomia do país, refletindo sua mistura de herança indígena, cultura do vinho e criatividade da fazenda à mesa.
À medida que o turismo continua a se recuperar e as regiões competem por distinção, a gastronomia se tornou uma forma de poder suave — a capacidade de um país de influenciar outros por meio
da cultura, dos valores e da atração, em vez da força, moldando como as nações são percebidas e como os viajantes se conectam emocionalmente com um lugar. Estudos mostram que o turismo gastronômico se tornou um dos principais impulsionadores do desenvolvimento regional e da atratividade de destinos. O prato-assinatura — uma criação emblemática ligada a um chef, região ou tradição — oferece uma maneira concreta de traduzir a criatividade culinária em identidade cultural.
Como a comida transforma viagens em marcas
Alguns pratos funcionam como logotipos culinários, expressando a personalidade de um lugar ou de um chef, criando memórias duradouras. Pesquisas revelam que, para os viajantes, a comida se torna participação em vez de consumo — uma forma de vivenciar um lugar em vez de apenas observá-lo. Uma refeição memorável une criatividade, tradição e lugar. No Canadá, esses pratos também funcionam como âncoras experienciais que conectam ingredientes, paisagens e emoções — desde um rolinho de lagosta Halifax amanteigado com sabor da costa atlântica até uma torta doce de frutas vermelhas de Saskatoon que evoca a colheita nas pradarias.
Tipo uma torta quente e leve de frutas vermelhas de Saskatoon, tradicional torta canadense, é uma marca registrada da região. É feita com frutas vermelhas de Saskatoon, nativas do oeste do Canadá, que crescem das planícies até a costa da Colúmbia Britânica.
No Canadá, comer um rolinho de lagosta no píer de Halifax, tornou-se um hábito turístico.
No entanto, alguns críticos alertam que a crescente onda de branding gastronômico corre o risco de cair no que eles chamam de gentrificação culinária — quando as tradições locais são refinadas e embaladas para os turistas, às vezes às custas das comunidades que as criaram. O desafio para cidades como Kelowna será celebrar sua identidade culinária sem transformar a autenticidade em um slogan de marketing.
As regiões do Canadá contam suas histórias por meio da comida
Pesquisas sobre alimentação, cultura e sustentabilidade mostram como essas conexões ajudam as regiões a construir identidades distintas e resilientes.
Em Québec, por exemplo, a gastronomia está profundamente entrelaçada com o orgulho cultural. Das barracas de açúcar na região rural de Laurentians e Beauce à cena gastronômica multicultural de Montreal, tradição e inovação se misturam — mas Québec está longe de ser a única província onde a identidade culinária prospera.
Na Ilha do Príncipe Eduardo, o Festival de Comidas e Bebidas Sabores de Outono — que acontece do início de setembro a meados de outubro — reúne chefs, agricultores e pescadores para celebrar a colheita da ilha. Os eventos acontecem em pequenas cidades e vilas costeiras, transformando a ilha em um grande salão gastronômico. O festival fortalece o orgulho local, apoia os produtores e estende a temporada turística para além do verão.
Em Alberta, a Alberta Food Tours convida os viajantes a descobrir produtores rurais, tradições culinárias indígenas e feiras livres em toda a província, de Calgary a Jasper. Essas experiências guiadas destacam as raízes agrícolas da província, ao mesmo tempo em que promovem a sustentabilidade e a conexão com a comunidade.
Na Colúmbia Britânica, o Vale Okanagan, onde Kelowna está localizada, tornou-se um exemplo líder de turismo da fazenda à mesa e enoturismo no Canadá. Estendendo-se de Vernon a Osoyoos, seus vinhedos e pomares abastecem chefs locais que transformam produtos sazonais em cardápios criativos. Trilhas culinárias e festivais de vinho conectam visitantes com pro-
A culinária local conecta pessoas a lugares, transforma ingredientes em histórias e torna a cultura tangível
Na Ilha do Príncipe Eduardo, o Festival de Comidas e Bebidas Sabores de Outono. A agricultura quanto a pesca estão profundamente enraizadas na cultura da Ilha do Príncipe Eduardo,
Liderado pelo premiado Chef Executivo Hunter Guindon, o novo menu semanal é inteiramente inspirado na abundância de ingredientes disponíveis para colheita na região
dutores e vinicultores, enquanto a candidatura de Kelowna a se tornar uma Cidade da Gastronomia da UNESCO reflete a crescente reputação da região por sua gastronomia sustentável e voltada para a comunidade.
À medida que o turismo gastronômico continua a crescer , experiências autênticas se tornam mais difíceis de encontrar. Em 2024, o valor global do turismo gastronômico era de aproximadamente US$ 1,8 bilhão. Até 2033, espera-se que esse valor chegue a quase US$ 8 bilhões, crescendo a uma taxa média de cerca de 18% ao ano.
Os turistas anseiam por “a verdadeira comida”, mas suas expectativas muitas vezes alteram o que é servido. Por exemplo, pratos tradicionais podem ser simplificados, adoçados ou menos picantes para agradar ao paladar dos visitantes. A autenticidade, ao que parece, é menos um ideal fixo do que um diálogo entre chefs, consumidores e a mídia.
Por que a herança da gastronomia é importante?
Pratos típicos nos lembram que a identidade não é herdada — ela é criada e compartilhada.
A culinária local conecta pessoas a lugares, transforma ingredientes em histórias e torna a cultura tangível. Quando as cidades lançam festivais gastronômicos, rotas culinárias ou candidaturas à designação pela UNESCO, elas não estão apenas promovendo restaurantes,
mas também definindo quem são como país. Em um mundo frequentemente dividido, a comida continua sendo uma linguagem universal. A gastronomia local nos lembra que o que está em nosso prato nunca é apenas uma questão de sabor, mas sim de pertencimento.
Cardápio Variados
Peixes, Churrascos, Frangos e etc Sucos e Refrigerantes
Maneira concreta de traduzir a criatividade culinária em identidade cultural
A pesca artesanal não precisa viver na penumbra dos números
Há imagens que nos habituamos a ver como cenário: redes estendidas ao sol, canoas retornando ao porto e bancas de mercado cheias de peixe fresco
Por trás dessa rotina vital, porém, se esconde uma fragilidade que raramente chega às pautas de gestão pública: a qualidade ou falta de dados confiáveis sobre a produção pesqueira. Essa ausência não é apenas uma falha técnica — é uma condição que enfraquece comunidades, distorce políticas e aumenta riscos ambientais.
Falar de “dados” pode soar frio, mas trata-se de algo essencialmente prático. Saber que espécie foi capturada, em que quantidades, em quais períodos e por quais rotas comerciais permite planejar. Sem esse conhecimento, decisões sobre investimentos em infraestrutura, programas de fomento e medidas de manejo viram tentativas às cegas. E quando se governa no escuro, o resultado costuma ser desperdício de recursos e perda de oportunidades para quem vive da pesca. Os efeitos são palpáveis.
Economicamente, a ausência de informações impede o dimensionamento adequado de câmaras frias, a organização de pontos de venda e a priorização de melhorias logísticas. Socialmente, fragiliza a capacidade de cooperativas e associações de negociar preços, crédito e assistência técnica; sem dados, seus argumentos perdem força.
Ambientalmente, a falta de monitoramento contínuo torna as políticas reativas: só se age depois que um problema estoura — seja o declínio de uma espécie, a migração de cardumes ou a degradação de áreas de reprodução. É comum que várias hipóteses expliquem
mudanças na produção ou nas rotas de comercialização: deslocamento de cardumes, sobrepesca, alterações climáticas, aumento dos custos de transporte.
Todas são plausíveis. O problema é que permanecem no campo das conjecturas quando não há registros locais e sistemáticos para confirmá-las.
Assim, as soluções propostas tendem a ser genéricas, pouco adaptadas ao território e, muitas vezes, ineficazes.
Uma saída prática e imediata existe: sistemas participativos de monitoramento. Quando pescadores e lideranças comuni-
Pescadores e lideranças comunitárias
tárias passam a registrar rotineiramente capturas — por espécie, local e época — a imagem da atividade se torna muito mais nítida. Esses registros não exigem tecnologia avançada: formulários simples, planilhas básicas ou aplicativos que funcionem offline em celulares modestos já fazem a diferença.
O que conta é a regularidade e a padronização. Ao lado do registro, é imprescindível investir em capacitação. A formação prática, objetiva e local para líderes e pescadores sobre como coletar dados, ler indicadores e usar essa informação nas negociações fortalece a autonomia comunitária. Não se trata de transformar pescadores em estatísticos, mas de dotá-los de ferramentas para analisar a realidade e defender seus interesses com argumentos concretos. Outra frente essencial é a combinação entre monitoramento e infraestrutura. Câmaras frias comunitárias (inclusive existem sistemas de congelamento magnético que conheci no Japão, com apoio da JICA Agencia de Cooperação Internacional do Japão, que poderiam ser úteis na Amazônia, devido ás distâncias entre o ponto de pesca e o consumidor final), melhores pontos de comercialização e pequenos ajustes portuários reduzem perdas
e aumentam o valor agregado do produto. Mas atenção: investir em infraestrutura sem uma base de dados é apostar sem mapa. Quando ações de melhoria caminham junto com evidências locais, os recursos rendem mais e beneficiam quem realmente precisa. A governança também precisa sair do formalismo. Conselhos locais e fóruns intersetoriais devem ser espaços de decisão com calendário, metas e avaliação. A presença da academia é valiosa, desde que em papel de coautoria: pesquisadores oferecem suporte técnico e ferramentas analíticas, enquanto as comunidades mantêm o protagonismo sobre prioridades e usos. Esse arranjo evita que políticas nasçam desconectadas das práticas e saberes locais.
Há ainda um ponto ético a considerar: dados sobre áreas de pesca e rotas são sensíveis. Sem protocolos claros de consentimento e de governança da informação, o monitoramento pode expor comunidades a pressões externas indesejadas. Portanto, qualquer projeto deve
assegurar que o acesso e o uso dos dados sejam decididos coletivamente, com regras transparentes. Os entraves institucionais são reais: competências sobrepostas, programas que começam e param e financiamento fragmentado dificultam a continuidade. Diante disso, o caminho mais eficaz é começar por projetos-piloto bem desenhados. A execução local, com resultados visíveis, cria argumentos sólidos para ampliar iniciativas — e gera a confiança política necessária para manter investimentos no tempo. Os ganhos práticos quando a informação é produzida de forma participativa são claros. Com dados, gestores podem estabelecer limites temporários de esforço de pesca, direcionar investimentos, organizar campanhas de recuperação de estoques e apoiar cadeias curtas de comercialização que valorizem qualidade e origem. Para as comunidades, informação significa maior previsibilidade de renda, poder de barganha e proteção de modos de vida tradicionais. Aceitar a falta de dados como destino é uma rendição inaceitável. Não se precisa esperar por grandes pacotes de investimento ou por mudanças institucionais profundas para começar. Editais municipais, projetos de extensão universitária, parcerias com ONGs e financiamento de câmaras frias vinculadas a sistemas de registro já são passos que produzem resultados rápidos.
O essencial é coordenação, continuidade e vontade política. Em última análise, tratar esse problema é uma questão de democracia. Dar às comunidades ferramentas para produzir e controlar seus próprios dados é fortalecer cidadania e autonomia territorial. Em um contexto de mudanças ambientais e pressões econômicas crescentes, essa aposta não é um luxo: é urgência. Iluminar o que hoje permanece às sombras é condição para decisões mais justas e eficazes — e para garantir que a pesca continue a ser fonte de sustento e identidade para muitas gerações.
(*) Doutorando em Gestão do Meio Ambiente e Desenvolvimento da Amazônia – NUMAUFPA. demethrius.lucena@ifpa.edu.br <<
Áreas de pesca e rotas na Amazônia (dados sobre áreas de pesca e rotas são sensíveis)
Como fazer planilha no celular grátis: veja o passo a passo
Financiamento de câmaras frias vinculadas a sistemas de registro já são passos que produzem resultados rápidos.
Animais são uma parte crítica da absorção de carbono da floresta
Um estudo do MIT mostra que a diminuição de animais dispersores de sementes limita o crescimento da floresta tropical e pode levar a uma grande redução na absorção de carbono pela floresta
Nos trópicos, onde florestas em regeneração podem acumular grandes quantidades de carbono, a maioria das árvores depende de animais para a dispersão de sementes — um processo fundamental na regeneração florestal. No entanto, ainda não está claro se a interrupção da dispersão de sementes por animais impacta negativamente a recuperação de carbono florestal. Avaliando essa previsão usando dados de milhares de locais tropicais, mostramos que o acúmulo de carbono florestal é fortemente reduzido onde a dispersão de sementes é interrompida. Essa descoberta destaca uma ligação crítica, porém negligenciada, entre a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas, revelando como o declínio animal não mitigado prejudica a capacidade do carbono florestal de se recuperar após perturbações e enfatizando a necessidade de incorporar a biodiversidade animal às estratégias de mitigação climática. Muita atenção tem sido dada à forma como as mudanças climáticas podem impulsionar a perda de biodiversidade. Agora, pesquisadores do MIT demonstraram que o inverso também é verdadeiro: reduções na biodiversidade podem comprometer uma das alavancas mais poderosas da Terra para mitigar as mudanças climáticas.
Os pontos no painel inserido mostram a métrica relativa ponderada da prevalência da dispersão de sementes por animais em 17.071 parcelas de vegetação em toda a latitude, e a linha ajustada mostra a relação com a latitude a partir de um modelo aditivo generalizado. O mapa ilustra a prevalência estimada da dispersão animal desenvolvida utilizando os dados da parcela, covariáveis climáticas e um modelo aleatório de floresta. As estimativas da incerteza do modelo são apresentadas
A maioria das espécies de plantas depende de animais para a dispersão de suas sementes, e a dispersão de sementes é a função mutualística ecossistêmica mais difundida fornecida por vertebrados terrestres
Em um artigo na PNAS, os pesquisadores mostraram que, após o desmatamento, florestas tropicais que crescem naturalmente, com populações saudáveis de animais dispersores de sementes, podem absorver até quatro vezes mais carbono do que florestas semelhantes com menos animais dispersores de sementes.
Como as florestas tropicais são atualmente o maior sumidouro de carbono terrestre da Terra, as descobertas melhoram nossa compreensão de uma ferramenta poderosa para combater as mudanças climáticas.
“Os resultados ressaltam a importância
dos animais na manutenção de florestas tropicais saudáveis e ricas em carbono”, afirma Evan Fricke, pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do MIT e principal autor do novo estudo. “Quando os animais dispersores de sementes diminuem, corremos o risco de enfraquecer o poder de mitigação climática das florestas tropicais”. Os coautores do artigo de Fricke incluem César Terrer, professor associado de desenvolvimento de carreira da Tianfu no MIT; Charles Harvey, professor de engenharia civil e ambiental do MIT ; e Susan Cook-Patton da The Nature Conservancy.
Prevalência da dispersão de sementes por animais
Fotos Biorxiv, Internet, Christian Ziegler, PNAS
O estudo combina uma ampla gama de dados sobre biodiversidade animal, movimento e dispersão de sementes em milhares de espécies animais , juntamente com dados de acumulação de carbono de milhares de locais de florestas tropicais.
Os pesquisadores dizem que os resultados são a evidência mais clara até agora de que os animais dispersores de
sementes desempenham um papel importante na capacidade das florestas de absorver carbono, e que as descobertas ressaltam a necessidade de abordar a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas como partes conectadas de um ecossistema delicado, em vez de problemas separados isoladamente.
“Está claro que as mudanças climáti-
Um calau-grande (Buceros bicornis) come um figo no Parque Nacional Royal Manas, Butão. Os calaus são importantes dispersores de sementes a longa distância nas florestas tropicais asiáticas, mas a degradação florestal, a caça e o comércio de animais selvagens ameaçam os papéis ecológicos que desempenham
cas ameaçam a biodiversidade, e agora este estudo mostra como as perdas de biodiversidade podem agravar as mudanças climáticas”, afirma Fricke. “Compreender essa via de mão dupla nos ajuda a entender as conexões entre esses desafios e como podemos enfrentá-los. São desafios que precisamos enfrentar em conjunto, e a contribuição dos animais para o carbono das florestas tropicais demonstra que há vantagens mútuas quando se apoia a biodiversidade e se combate as mudanças climáticas simultaneamente”.
Juntando as peças
Da próxima vez que você assistir a um vídeo de um macaco ou pássaro saboreando uma fruta, considere que os animais desempenham um papel importante em seus ecossistemas.
Pesquisas mostram que, ao digerir as sementes e defecar em outro lugar, os animais podem ajudar na germinação, no crescimento e na sobrevivência da planta a longo prazo. Fricke estuda animais que dispersam sementes há quase 15 anos. Suas pesquisas anteriores mos-
O
declínio da atividade animal diminui o papel ecológico das florestas que elas desempenham nos ecossistemas
traram que, sem a dispersão animal de sementes, as árvores têm menores taxas de sobrevivência e mais dificuldade em acompanhar as mudanças ambientais.
“Estamos agora pensando mais sobre o papel que os animais podem desempenhar no impacto do clima por meio da dispersão de sementes”, diz Fricke. “Sabemos que nas florestas tropicais, onde mais de três quartos das árvores dependem de animais para a dispersão de sementes, o declínio da dispersão de sementes pode afetar não apenas a biodiversidade das florestas, mas também a forma como elas se recuperam do desmatamento. Sabemos também que, em todo o mundo, as populações animais estão diminuindo”.
A regeneração de florestas é uma forma frequentemente citada de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, mas a influência da biodiversidade na capacidade das florestas de absorver carbono não foi totalmente quantificada, especialmente em escalas maiores.
Para o estudo, os pesquisadores combinaram dados de milhares de estudos distintos e usaram novas ferramentas para quantificar processos ecológicos díspares, porém interconectados. Após analisar dados de mais de 17.000 parcelas de vegetação, os pesquisadores decidiram se concentrar em regiões tropicais, analisando dados sobre onde vivem os animais dispersores de sementes, quantas sementes cada animal dispersa e como eles afetam a germinação.
Os pesquisadores então incorporaram dados que mostram como a atividade humana impacta a presença e a movimentação de diferentes animais dispersores de sementes. Descobriram, por exemplo, que os animais se movimentam menos quando consomem sementes em áreas
com maior presença humana. Combinando todos esses dados, os pesquisadores criaram um índice de perturbação da dispersão de sementes que revelou uma ligação entre atividades humanas e declínios na dispersão de sementes por animais.
Em seguida, analisaram a relação entre esse índice e os registros de acumulação de carbono em florestas tropicais em regeneração natural ao longo do tempo, controlando fatores como condições de seca, prevalência de incêndios e presença de gado pastando.
“Foi uma tarefa enorme reunir dados de milhares de estudos de campo em um mapa da perturbação da dispersão de sementes”, diz Fricke. “Mas isso nos permite ir além de apenas perguntar quais animais existem, para efetivamente quantificar os papéis ecológicos que esses animais desempenham e entender como as pressões humanas os afetam”.
Os pesquisadores reconheceram que
a qualidade dos dados sobre biodiversidade animal poderia ser melhorada e que isso introduz incerteza em suas descobertas. Eles também observam que outros processos, como polinização, predação de sementes e competição, influenciam a dispersão de sementes e podem restringir o crescimento florestal. Ainda assim, as descobertas estão em linha com estimativas recentes.
“O que é particularmente novo neste estudo é que estamos, de fato, obtendo números sobre esses efeitos”, diz Fricke. “A descoberta de que a interrupção da dispersão de sementes explica uma diferença quádrupla na absorção de carbono nos milhares de locais de regeneração tropical incluídos no estudo aponta para os dispersores de sementes como uma importante alavanca no carbono das florestas tropicais”.
Quantificação do carbono perdido
Em florestas identificadas como potenciais locais de recrescimento, os pesquisadores descobriram que o declínio na dispersão de sementes estava ligado a reduções na absorção de carbono a cada ano, com média de 1,8 toneladas métricas por hectare, o que equivale a uma redução no recrescimento de 57%.
Os pesquisadores dizem que os resultados mostram que os projetos de regeneração natural terão mais impacto em paisagens onde os animais dispersores de sementes foram menos afetados, incluindo áreas que foram desmatadas recentemente, estão perto de florestas de alta integridade ou têm maior cobertura de árvores. “Na discussão sobre plantar árvores
Ao digerir as sementes e defecar ou morrer em outro lugar, os animais podem ajudar na germinação, no crescimento e na sobrevivência da planta a longo prazo
A distância da dispersão
versus permitir que elas cresçam naturalmente, a regeneração é basicamente gratuita, enquanto plantar árvores custa dinheiro e também resulta em florestas menos diversas”, diz Terrer. “Com esses resultados, agora podemos entender onde a regeneração natural pode ocorrer de forma eficaz, porque há animais plantando as sementes gratuitamente, e também podemos identificar áreas onde — como os animais são afetados — a regeneração natural não ocorrerá e, portanto, plantar árvores ativamente é necessário”.
Para apoiar os animais dispersores de sementes, os pesquisadores incentivam intervenções que protejam ou melhorem seus habitats e reduzam as pressões sobre as espécies, desde corredores de vida selvagem até restrições ao comércio de animais selvagens. Restaurar o papel ecológico dos dispersores de sementes também é possível reintroduzindo espécies dispersoras de sementes onde elas foram perdidas ou plantando certas árvores que atraem esses animais. As descobertas também podem tornar mais precisa a modelagem do impacto climático do crescimento natural das florestas.
“Ignorar o impacto da interrupção da dispersão de sementes pode superestimar o potencial de regeneração natural em muitas áreas e subestimá-
-lo em outras”, escrevem os autores.
Os pesquisadores acreditam que as descobertas abrem novos caminhos de investigação para a área.
“As florestas fornecem um enorme subsídio climático ao sequestrar cerca de um terço de todas as emissões humanas de carbono”, diz Terrer. “As florestas tropicais são, de longe, o sumidouro de carbono mais importante do mundo, mas, nas últimas décadas, sua capacidade de sequestrar carbono vem diminuindo. A se-
guir, exploraremos quanto desse declínio se deve ao aumento de secas ou incêndios extremos em comparação à redução na dispersão de sementes por animais”.
No geral, os pesquisadores esperam que o estudo ajude a melhorar nossa compreensão dos complexos processos ecológicos do planeta. “Quando perdemos nossos animais, estamos perdendo a infraestrutura ecológica que mantém nossas florestas tropicais saudáveis e resilientes”, diz Fricke.
NOSSAS FACILIDADES
A descoberta de que a interrupção da dispersão de sementes explica uma diferença quádrupla na absorção de carbono nos milhares de locais