Arte Cultura y Sociedad Brasil número 2

Page 1


JAVIER VILLANUEVA

Conhecendo

melhor a grande mexicana

Elena Garro

EDMARIO JOBAT Paznambuco:

Ação Dias de Paz Pernambuco

PAULO FREIRE E O ETERNAUTA O QUE

TÊM A VER UM COM O OUTRO?

Editorial

Por que não investir em cultura?

Se investir em cultura significa investir em desenvolvimento, por que não é uma prioridade para a América Latina?

Bem-vindos de volta, caros leitores, à sua revista ARTE Cultura y Sociedad - Brasil, uma nova forma de ver a cultura; mais próxima, mais humana e com capacidade de alcançar mais pessoas.

É sabido que cultura, por definição, é o conjunto de conhecimentos, ideias, tradições e costumes que fazem parte de uma sociedade. No entanto, a cultura também é responsável por moldar as identidades das pessoas, construir pontes entre grupos humanos e servir de base para o desenvolvimento de uma sociedade. Em suma: a cultura é a força motriz necessária para que qualquer sociedade alcance sua transformação e reinvenção em um mundo globalizado.

Se isso for verdade, então por que nós, na América Latina, ainda falhamos em investir responsavelmente em cultura? Por que o tema cultural ainda é percebido como um “acessório do governo”, como um “gerador de eventos sociais” ou simplesmente como um “complemento” às instituições públicas e privadas?

Investir em cultura é investir em desenvolvimento. Talvez seja por isso que países como Reino Unido, Alemanha, França, Holanda, Dinamarca, Suíça, Áustria e Bélgica não estejam apenas entre os mais desenvolvidos, mas também entre os que conseguiram criar uma indústria cultural tão poderosa, que já contribui significativamente para o seu Produto Interno Bruto. Será também coincidência que a maioria desses países também esteja entre os mais inovadores do mundo?

Para muitos países latino-americanos com

altas taxas de pobreza, investir em cultura deveria ser uma prioridade nos setores público e privado. No entanto, devemos considerar o que a Inglaterra fez desde o final da década de 1990, colocando a cultura no centro de seu projeto de governo, impulsionando assim a imagem internacional do país e criando uma indústria cultural que se tornou parte essencial de sua economia.

Se nossos governos estivessem realmente preocupados em fortalecer a cultura e transformá-la em um motor de desenvolvimento para nossas comunidades vulneráveis, deveriam começar aumentando a porcentagem da receita destinada a ela e criando esquemas nos quais o setor privado pudesse participar de forma inteligente.

É importante que paremos de ver a cultura como algo deficitário. Nossas autoridades culturais precisam perceber que ela não só pode ser autossustentável, como também pode se tornar uma indústria muito lucrativa. Elas precisam parar de pensar que as produções culturais perdem sua nobreza quando geram desenvolvimento econômico.

Em suma, nossas instituições culturais precisam migrar de modelos baseados em subsídios governamentais e doações privadas para modelos capazes de gerar renda por conta própria e criar ciclos virtuosos de desenvolvimento econômico dentro da indústria.

Você não acha que está na hora de nossa indústria cultural se tornar um motor de desenvolvimento?

robgarza@att.net.mx

Roberto Garza
¿Por qué no invertir en cultura?
Si invertir en cultura es invertir en desarrollo, ¿por qué no es prioritario para Latinoamérica hacerlo?

Bienvenidos nuevamente estimados lectores, a su revista ARTE Cultura y Sociedad - Brasil, una nueva forma de ver la cultura; más cercana, más humana y con la capacidad de llegar a más gente.

Es bien sabido que la cultura por definición, es el conjunto de conocimientos, ideas, tradiciones y costumbres que forman parte de una sociedad. Sin embargo, la cultura también es la responsable de modelar las identidades de las personas, de formar puentes entre grupos humanos y de ser la base para el desarrollo de una sociedad. En pocas palabras: La cultura es el motor requerido por cualquier sociedad, para lograr su transformación y reinvención en un mundo globalizado.

Si lo de anterior es verdad, entonces, ¿por qué en Latinoamérica seguimos sin invertir de manera responsable en la cultura? ¿por qué el tema cultural sigue percibiéndose como un “accesorio de gobierno”, como un “generador de eventos sociales” o simplemente como un “complemento” de las instituciones públicas y privadas?

Invertir en cultura es invertir en desarrollo. Quizás esa sea la razón, por la que países como el Reino Unido, Alemania, Francia, Holanda, Dinamarca, Suiza, Austria y Bélgica, no sólo son de los más desarrollados, sino de los que han sido capaces de crear una industria cultural tan poderosa, que ya contribuye fuertemente a su Producto Interno Bruto. ¿Será casualidad también, que la mayoría de estos países también forman parte del ranking de los países más innovadores del mundo?

Para muchos países latinoamericanos con altos índices de pobreza, el invertir en la cultura

debería de ser prioridad dentro del sector público y privado. No obstante, habría que ver lo que hizo Inglaterra desde finales de los noventa, al poner a la cultura como centro de su proyecto de gobierno, impulsando así la imagen del país a nivel internacional y creando una industria cultural que se ha convertido en parte esencial de su economía.

Si nuestros gobiernos estuvieran verdaderamente preocupados por fortalecer la cultura y por convertirla en un motor de desarrollo para nuestras comunidades vulnerables, deberían comenzar por aumentar el porcentaje de ingresos destinados a la misma y crear esquemas donde la iniciativa privada pudiera participar junto con ellos de manera inteligente.

Es importante que dejemos de ver a la cultura como deficitaria. Nuestras autoridades culturales deben darse cuenta, que ésta no sólo puede ser autosustentable, sino también puede convertirse en una industria bastante lucrativa. Tienen que dejar de pensar, que las producciones culturales pierden su nobleza al generar un desarrollo económico.

En resumen, nuestras instituciones culturales deben migrar sus modelos basados en subsidios de gobierno y dádivas privadas, a modelos que sean capaces de generar ingresos por sí mismos y crear círculos virtuosos de desarrollo económico al interior de la industria.

¿No cree usted, que ya es momento de que nuestra industria cultural se convierta en un motor de desarrollo?

robgarza@att.net.mx

DIRETÓRIO

Gestão Geral

Roberto Garza

Gestão Editorial e Comercial

Javier Villanueva

Direção de Projeto

Gabriela Arenas

Dirección de Diseño

Enrique Riojas

Edição Geral

Laura Delgado

Webdesign

Vanessa Martínez Sepúlveda

Administração

Víctor Hurtado

Conselho Editorial

Javier Villanueva

Roberto Garza

Gabriela Arenas

Isaac Morales Fernández

Laura Delgado

Ignacio Mendoza

O conteúdo do Os editoriais são de responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente a linha editorial do periódico.

Ano 1 | Número 2

Esta edição foi publicada 25 de Junho de 2025

CONTEÚDO

06 O que Paulo Freire e O Eternauta têm a ver um com o outro?

Paulo Freire, um importante educador e filósofo brasileiro que contribuiu para a pedagogia crítica e a educação popular, acreditava que a educação acompanha a conscientização e o empoderamento, nos quais os indivíduos e as comunidades se reconhecem como sujeitos ativos que constroem sua realidade e criam uma consciência crítica que valoriza a ação coletiva e a solidariedade na luta pela justiça social. Freire promoveu o trabalho comunitário e a organização coletiva como meios de abordar desafios sociais e promover mudanças por meio da educação e da ação coletiva.

Vocês não acham que o “herói coletivo de O Eternauta” concorda com Freire ao entender que as comunidades podem se empoderar e assumir o controle de seus próprios processos de desenvolvimento e transformação?

46

Conhecendo melhor a grande mexicana Elena Garros

Javier Villanueva: Foi uma grande alegria o convite do amigo

Rodrigo Vázquez, autoridade do Consulado Geral do México em São Paulo para o lançamento pela editora Pinard de La semana de los colores, da autora mexicana Elena Garro, pouco conhecida no Brasil.

Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura 1990 -com quem a autora de La semana de los colores foi casada-, e Elena Garro, foram dois entre os maiores escritores mexicanos do século XX.

Conversamos com Juliana Maester

Com Juliana Maester e Leandro Pacheco da VHE somos amigos e colegas de trabalho há algum tempo, e nosso tema, pelo qual nos conhecemos e começou nossa amizade, é o ensino da língua espanhola, e tudo o que gira em torno dela: a cultura, literatura, e as culturas e literaturas da língua espanhola.

E o interessante de falar com o Vamos a Hablar Español e com Juliana, é que ela sempre vem com uma novidade; ela é uma novidade.

26

66

Paznambuco: Ação Dias de Paz Pernambuco

Pensar Pernambuco é contemplar um universo com quatro regiões: Litoral, Mata, Agreste e Sertão que comportam 184 cidades. Cada uma com suas particularidades, clima, falares, culturas e histórias diversas que conferem ao Leão do Norte um estrelato histórico e atual. Terra do Frevo; de Gonzagão, Mestre Vitalino, Lenine, Zé do Carmo, Lia de Itamaracá, Sila do Coco e das Heroínas de Tejucupapo. Por outro lado, uma unidade federativa referência em várias áreas, inclusive – e lamentavelmente no âmbito nacional–, na violência.

OPINIÃO | OPINIÓN

O QUE PAULO FREIRE E O ETERNAUTA TÊM A VER UM COM O OUTRO?

¿QUÉ TIENEN

QUE VER PAULO FREIRE Y EL ETERNAUTA?

Asérie de ficção lançada pela Netflix em 30 de abril recria a famosa história em quadrinhos dos anos 1950 e 1970 de Germán Oesterheld e Francisco Solano López. A série mostra a brutalidade de uma grande crise, enquanto as tropas de Juan Salvo enfrentam o desconhecido e descobrem a essência da humanidade diante de situações extremas.

Nascido na Revista Hora Cero em 1959, enquanto a Argentina vivia três golpes de estado com violentas ditaduras militares, houve muitas crises econômicas, sociais e políticas naquela época. Talvez por isso, Juan Salvo continue vivo na memória de várias gerações de argentinos e latino-americanos, leitores apaixonados da história em quadrinhos em que uma nevasca perturbadora e mortal cai sobre Buenos Aires como uma marca identitária que transcende os desenhos animados. Oesterheld, preso e desaparecido pela ditadura militar junto com suas quatro filhas e genros, certamente aprovaria a opinião de Ricardo Darín sobre o filme: “A série fala de solidariedade, mas também de falta de solidariedade”, reflete o ator. “Fala de tolerância, paciência, instinto de sobrevivência. E opta por exaltar o coletivo, algo que vai contra o que lamentavelmente vem acontecendo ultimamente, e que talvez seja inerente à espécie humana: o individualismo. Essa ideia equivocada de que só se pode salvar esquecendo-se dos outros”.

Em “O Eternauta”, a solução não está em um herói individual, mas na unidade e cooperação coletivas. O herói coletivo, um grupo humano que enfrenta uma invasão alienígena e uma série de desafios, é apresentado como a resposta mais viável para a sobrevivência em um mundo em crise. O trabalho de Oesterheld e Solano López enfatiza a importância da solidariedade e da cooperação para superar obstáculos comuns, em vez de depender de um salvador.

Por outro lado Paulo Freire, um importante educador e filósofo brasileiro que contribuiu para a pedagogia crítica e a educação popular, foca na unidade coletiva e na cooperação como fundamentais para a educação como uma prática de liberdade e transformação social. Freire acreditava que a educação acompanha a conscientização e o empoderamento, nos quais os indivíduos e as comunidades se reconhecem como sujeitos ativos que constroem sua realidade e criam uma consciência crítica que valoriza a ação coletiva e a solidariedade na luta pela justiça social. Freire promoveu o trabalho comunitário e a organização coletiva como meios de abordar desafios sociais e promover mudanças por meio da educação e da ação coletiva.

Vocês não acham que o “herói coletivo de O Eternauta” concorda com Freire ao entender que as comunidades podem se empoderar e assumir o controle de seus próprios processos de desenvolvimento e transformação? Assim como a solidariedade e o apoio mútuo são fundamentais para a visão de Freire, eles também são imprescindíveis na mensagem de Juan Salvo — O Eternauta — pois é essa visão que nos permite superar obstáculos e alcançar nossos objetivos coletivamente.

Não é por acaso que este é o foco da nossa edição 2 da Arte, Cultura e Sociedade-Brasil.

La ficción que lanzó Netflix el 30 de abril pasado recrea la célebre historieta de los años 50 y 70 de Germán Oesterheld y Francisco Solano López. La serie muestra toda la brutalidad de cara a una gran crisis en la que la tropa de Juan Salvo se enfrenta a lo desconocido y descubre la esencia humana ante situaciones extremas.

Nacida en la Revista Hora Cero en 1959, mientras la Argentina pasaba por tres golpes de estado con violentas dictaduras militares, las crisis económicas, sociales y políticas fueron muchas en todo ese tiempo. Tal vez por eso, Juan Salvo vive en la memoria de varias generaciones de argentinos y latinoamericanos, lectores apasionados de la novela gráfica en la que una inquietante nevada mortal cae sobre Buenos Aires como una huella identitaria que trasciende a las viñetas. Oesterheld, preso y desaparecido por la dictadura militar junto a sus cuatro hijas y yernos seguramente aprobarían la opinión de Ricardo Darín sobre el film: “La serie habla de solidaridad, pero también de la falta de solidaridad -reflexiona el actor-. “Habla de tolerancia, paciencia, del instinto de supervivencia. Y elige enaltecer lo colectivo, algo que va a contramano de lo que ocurre lamentable en los últimos tiempos, y que a lo mejor es inherente a la especie humana: el individualismo. Esta errónea idea de que uno puede salvarse solo olvidando a los demás”.

En “El Eternauta”, la solución no reside en un héroe individual, sino en la unión y cooperación colectiva. El héroe colectivo, un grupo humano que enfrenta una invasión extraterrestre y una serie de desafíos, se presenta como la respuesta más viable para la supervivencia en un mundo en crisis. La obra de Oesterheld y Solano López subraya la importancia de la solidaridad y la cooperación para superar obstáculos comunes, en lugar de depender de un salvador.

Por otro lado, Paulo Freire, un destacado educador y filósofo brasileño que contribuyó con la pedagogía crítica y a la educación popular, se enfoca en la unión y cooperación colectiva como algo fundamental para la educación como práctica de libertad y transformación social. Freire creía que la educación acompaña a la concientización y empoderamiento, en el que los individuos y las comunidades se reconocen como sujetos activos que construyen su realidad, y crean una conciencia crítica que valoriza la acción colectiva y la solidaridad en la lucha por justicia social. Freire promovía el trabajo comunitario y la organización colectiva como medios para enfrentar los desafíos sociales y promover el cambio a través de la educación y la acción colectiva.

¿No les parece que el “héroe colectivo de El Eternauta” coincide con Freire al entender que las comunidades pueden empoderarse y tomar el control de sus propios procesos de desarrollo y transformación? Así como la solidaridad y el apoyo mutuo son fundamentales en la visión de Freire, también lo son en el mensaje de Juan Salvo -el Eternauta- ya que es esta visión la que nos permite superar los obstáculos y alcanzar nuestros objetivos de modo colectivo.

No es por acaso que ese es el foco de nuestro número 2 de Arte, Cultura y Sociedad-Brasil.

Paulo Freire, um importante educador e filósofo brasileiro que contribuiu para a pedagogia crítica e a educação popular, foca na unidade coletiva e na cooperação como fundamentais para a educação como uma prática de liberdade e transformação social

Paulo Freire, un destacado educador y filósofo brasileño que contribuyó con la pedagogía crítica y a la educación popular, se enfoca en la unión y cooperación colectiva como algo fundamental para la educación como práctica de libertad y transformación social

COLABORAÇÃO ESPECIAL | COLABORACIÓN ESPECIAL

PROMOVIENDO A MÉXICO, A BUÑUEL Y AL ARTE Y CINE EN SÃO PAULO

POR CONSULADO GENERAL DE MÉXICO EN SÃO PAULO

Como parte de las labores de promoción y difusión cultural en São Paulo, Brasil, el Consulado General de México se complace en celebrar en 2025 la realización de una exposición que cumple con los objetivos de toda actividad cultural mexicana: comunicar un valor al tiempo de involucrar a nuevos públicos; ofrecer una experiencia y una mirada significativas que muestren la riqueza y la diversidad de México y presentarse en un espacio cultural reconocido.

En esta ocasión, se trata de la exposición “La otra mirada, Buñuel en colores mexicanos”, curada por Samuel Rodríguez Medina, profesor de Arte, Cine y Creatividad en el Tec de Monterrey, y en la que participan jóvenes artistas de nuestro país de diferentes orígenes y propuestas creadoras. Se inaugurará el 5 de agosto en el Instituto Cervantes en São Paulo, reconocido espacio cultural y artístico, anticipando la participación de autoridades, cónsules y la rica comunidad artística y cultural de la ciudad. La exposición permanecerá abierta al público para visita gratuita hasta el 30 del mismo mes.

La exposición no podría ser una realidad sin la visión, el trabajo y el indudable talento de su organizador y curador, Samuel Rodríguez, quien ha logrado exitosamente configurar la obra de los artistas en torno a una idea que retrata y abre el diálogo sobre una de las figuras más influyentes del siglo XX en la historia y arte cinematográfico: Luis Buñuel.

Es gracias a la colaboración con el Instituto Cervantes en São Paulo y la Librería Española e Hispanoamericana, ambas instituciones aliadas del Consulado General de México, que se logrará traer por primera vez esta exposición a Brasil. En nuestro carácter de colaboradores, las tres instituciones hemos acertado en reconocer la relevancia de esta exposición por ofrecer una mirada innovadora sobre Luis Buñuel.

Las tres instituciones colaboradoras tenemos la plena seguridad de que la exposición “La otra mirada, Buñuel en colores mexicanos” enriquecerá el panorama y los canales de interacción e intercambios artísticos y culturales de la ciudad de São Paulo y permitirá al público a redescubrir el legado de Luis Buñuel mediante a una propuesta visualmente innovadora que vincula la historia del cine y la identidad latinoamericana.

Su realización es resultado de una alianza estratégica y de la cooperación que redundará en el fortalecimiento de los lazos e intercambios culturales y artísticos entre México, Brasil y España, al ofrecer una mirada inédita sobre la obra de Luis Buñuel desde una perspectiva cromática mexicana a través de expresiones visuales como la pintura, la ilustración y el collage, así como poner de manifiesto los vínculos entre el cine español con los de Brasil, México y América Latina.

No resta más que invitarles a conocer y visitar la exposición.

CULTURA

IRMANDADE E NÃO SUPREMACIA COM OS NÃO-HUMANOS

HERMANDAD Y NO SUPREMACÍA

CON LOS NO HUMANOS

Foto de Araquém Alcântara. Reproduzida da página pessoal do fotógrafo.

Uma cosmovisão mais humanitária

“Adoro o fato de que genomas humanos sejam encontrados em apenas 10% de todas as células que ocupam o espaço mundano que chamo de meu corpo; os outros 90% das células são preenchidos pelo genoma de bactérias, fungos, protistas e que tais, alguns dos quais tocam uma sinfonia necessária para que eu esteja viva e outros que estão de carona e não causam a mim, a nós, nenhum dano.” Este trecho foi transcrito do livro Onde as espécies se encontram1, de Donna Haraway. A autora, “uma das mais importantes pensadoras contemporâneas de biologia, estudos animais, ciências humanas, cibernética, tecnologia da informação e teorias feministas”, elabora sobre como nos tornamos o que somos através das conexões, interações e intra-ações com as espécies companheiras com quem dividimos o planeta, que compreendem organismos humanos, não-humanos e tecnologia.

Ela continua: “Adoro o fato de que quando ‘eu’ morrer, todos estes simbiontes benignos e perigosos tomarão e usarão o que restar do ‘meu’ corpo, nem que seja só por um tempo, já que ‘nós’ somos necessários uns aos outros em tempo real.” Por coincidência, alguns dias depois de ler este trecho, meu querido amigo e editor desta revista, Javier Villanueva, me presenteou com um texto muito parecido de José Eduardo Agualusa, e desta conversa, nasceu a ideia para este ensaio. Transcrevo abaixo um trecho que acho relevante para começar nossa conversa:

“Desconfio que a melhor parte de alguns humanos é a sua metade não humana. Outros talvez não sejam bons (ou felizes) porque têm um mau microbioma. O microbioma influencia o nosso comportamento através do eixo intestino-cérebro. Certas bactérias intestinais produzem dopamina, serotonina e outras substâncias que ajudam a regular o humor e a ansiedade. Um microbioma desequilibrado pode provocar situações de ansiedade e depressão. No limite, até doenças neurodegenerativas.” Tendo estudado biologia e, sendo fascinada pelo tema de sistemas complexos, eu já conhecia as pesquisas sobre microbioma (nome que se dá ao conjunto de microrganismos que habita o corpo de alguém), porém, no contexto trazido por Haraway, este trecho me despertou outras reflexões. Já se sabe que nosso microbioma se mistura ao daqueles que convivem intimamente conosco e isto inclui nossos companheiros não-humanos. Portanto, se você divide seu espaço com um cãozinho dentro de casa, muito provavelmente, vocês compartilham seus micróbios (sem razão nenhuma para alarme ou nojinho!). Eu viajei nesta ideia por alguns dias. Se o microbioma é responsável, em certa medida, pela nossa saúde, inclusive mental, não é exagero pensar que nós somos o resultado não apenas social e cultural, mas também BIOLÓGICO das interações que mantemos e não só com outros seres humanos, mas com as demais espécies com quem compartilhamos nossas vidas. No meu caso, eu sou uma bela mistureba, no sentido material da coisa, de várias espécies de animais não-humanos que já conviveram comigo. Esta ideia me fascina – o que eu sou, como vejo o mundo, como me comporto é uma grande colagem de seres.

Comecei este texto com estas passagens porque considero que é preciso estabelecer um consenso antes de continuarmos. A ideia que fazemos do EU é uma construção social, dada pela visão de mundo em que nos inserimos. A forma como entendemos o EU se relaciona com a forma como entendemos o OUTRO. Na

Una cosmovisión más humanitaria

“ Me encanta que los genomas humanos se encuentren en solo el 10% de todas las células que ocupan el espacio cotidiano que llamo mi cuerpo; el otro 90% de las células están llenas de genomas de bacterias, hongos, protistas y similares, algunos de los cuales tocan una sinfonía necesaria para mi vida, y otros simplemente me acompañan y no me hacen daño”. Este extracto fue transcrito del libro Donde las especies se encuentran1, de Donna Haraway. La autora, “una de las pensadoras contemporáneas más importantes en biología, estudios animales, ciencias humanas, cibernética, tecnología de la información y teorías feministas”, profundiza en cómo nos convertimos en quienes somos a través de conexiones, interacciones e intraacciones con las especies compañeras con las que compartimos el planeta, que incluyen organismos humanos, no humanos y tecnología.

Ella continúa: “Me encanta el hecho de que cuando ‘yo’ muera, todos estos simbiontes benignos y peligrosos tomarán el control y usarán lo que quede de ‘mi’ cuerpo, aunque sea por un tiempo, ya que ‘nos’ necesitamos mutuamente en tiempo real”. Casualmente, pocos días después de leer este extracto, mi querido amigo y editor de esta revista, Javier Villanueva, me regaló un texto muy similar de José Eduardo Agualusa, y de esa conversación nació la idea de este ensayo. Transcribo a continuación un extracto que creo que es relevante para iniciar nuestra conversación:

“Sospecho que la mejor parte de algunos humanos es su mitad no humana. Otros pueden no ser buenos (o felices) porque tienen un microbioma deficiente. El microbioma influye en nuestro comportamiento a través del eje intestino-cerebro. Ciertas bacterias intestinales producen dopamina, serotonina y otras sustancias que ayudan a regular el estado de ánimo y la ansiedad. Un microbioma desequilibrado puede provocar ansiedad y depresión. En casos extremos, incluso enfermedades neurodegenerativas”. Habiendo estudiado biología y estando fascinada por el tema de los sistemas complejos, ya estaba familiarizada con las investigaciones sobre el microbioma (nombre que se le da al conjunto de microorganismos que habitan en el cuerpo de alguien), sin embargo, en el contexto traído por Haraway, este extracto despertó en mí otras reflexiones. Ya sabemos que nuestro microbioma se mezcla con el de quienes viven cerca de nosotros y esto incluye a nuestros compañeros no humanos. Entonces, si compartes tu espacio con un perro en el interior de tu casa, lo más probable es que estés compartiendo sus gérmenes (¡no hay motivo para alarmarse ni para sentir asco!).Mi cabeza viajó con esta idea durante algunos días. Si el microbioma es responsable, en cierta medida, de nuestra salud, incluida nuestra salud mental, no es exagerado pensar que somos el resultado no solo de las interacciones sociales y culturales, sino también de las BIOLÓGICAS que mantenemos, no solo con otros seres humanos, sino con las demás especies con las que compartimos nuestra vida. En mi caso, soy una hermosa mezcla, en el sentido material, de varias especies de animales no humanos que han convivido conmigo. Esta idea me fascina: lo que soy, cómo veo el mundo, cómo me comporto, es un gran collage de seres.

Comencé este texto con estos pasajes porque creo que es necesario establecer un consenso antes de continuar. La idea que tenemos del YO es una construcción social, dada por la cosmovisión en la que nos insertamos. La forma en que enten-

cosmovisão em que nós, ocidentais, estamos inseridos, o indivíduo é visto como um ente independente, autônomo, racional e responsável por seus feitos e conquistas. Nesta mundivivência, centrada no individualismo, considera-se que o indivíduo tem plena posse de suas decisões e comportamentos (o mito da racionalidade) e é o único responsável por suas conquistas e fracassos. Quando o EU é o centro, o OUTRO é avaliado em contraposição ao MEU modo de existir. Quando a alteridade não pode coexistir, ideias de supremacia emergem.

Este ensaio pretende trazer reflexões para pensarmos duas questões: por que nós humanos devemos reconhecer nos animais e no resto da criação uma irmandade e não uma supremacia? E por que a cosmovisão dos povos originários nos ajuda a pensar em comunidade e não em individualidades?

Há alguns anos, tive uma conversa muito interessante com um professor de uma faculdade de medicina veterinária. Estávamos em uma mesa de bar após uma oficina de comunicação científica que havia ministrado na universidade onde ele pesquisava e, como sempre acontece, minha dieta livre de animais virou assunto. O professor se apressou em me explicar que os animais utilizados na indústria da carne não sofrem, e utilizou o exemplo das porcas que vivem presas em celas de gestação, comumente utilizadas na indústria. Estas celas consistem em um espaço cercado com grades sobre um chão de concreto, onde as porcas reprodutoras passam grande parte de sua vida, tendo a possibilidade apenas de deitar-se ou levantar-se. Estas celas são usadas para que a mãe não pise ou se deite sobre os filhotes e evita, assim, a mortalidade do produto. (Tente se imaginar vivendo assim!) Voltando ao professor, ele continuou defendendo o argumento de que as porcas não sofriam nestas condições pois era a única condição que conheciam e que elas tinham água e comida à vontade. O que mais poderiam querer?

Outro exemplo que me chama muito a atenção é o dos zoológicos. Os zoológicos, especialmente o modelo que ainda persiste no Brasil, são locais que considero perturbadores. Os animais vivem confinados em recintos que são uma fração do território que eles explorariam na vida em liberdade; vivem muitas vezes solitários ou com outros indivíduos com os quais não formaram vínculos; são forçados a se expor a um público de centenas de seres humanos não necessariamente bem educados, de 5 a 6 dias por semana, oito horas por dia.

Estes são locais perfeitos para observarmos comportamentos estereotipados (movimentos repetitivos sem função aparente, observados em seres humanos e não humanos em situações de estresse). É comum que, quando contestados, os responsáveis por estas coleções defendam-se dizendo que seus animais têm acesso a alimentação balanceada, preparada por especialistas. Mais uma vez, vemos toda a subjetividade do animal sendo reduzida a suas necessidades nutricionais. Nos documentários de vida selvagem que cresci assistindo, o tema era um só: presas versus predadores. O mundo selvagem era mostrado, pelas lentes de homens brancos, em sua maioria, como um grande campo de guerra, onde se mata ou se morre, onde a lei é a prevalência do mais forte, como postulado pela evolução Darwinista. Será que a vida dos animais nos ambientes selvagens não envolve nada além de competir, comer e se reproduzir?

Mas não terminei de contar como continuou meu debate com o professor de veterinária sobre as porcas. Expliquei a ele que o cérebro de qualquer animal é moldado ao longo da evolução para que o indivíduo explore seu ambiente, no caso de animais sociais, interaja com outros de sua espécie, supere desafios, movimente-se, possibilitando sua sobrevivência em um ambiente diverso, complexo e cheio de riscos e que, quando privado de toda e qualquer

demos al YO está relacionada con la forma en que entendemos al OTRO. En la cosmovisión en la que estamos insertos los occidentales, el individuo es visto como un ser independiente, autónomo, racional, responsable de sus actos y logros.

En esta cosmovisión, centrada en el individualismo, se considera que el individuo tiene plena propiedad de sus decisiones y comportamientos (el mito de la racionalidad) y es el único responsable de sus logros y fracasos. Cuando el YO es el centro, el OTRO es evaluado en contraste con MI manera de existir. Cuando la alteridad no puede coexistir, surgen ideas de supremacía.

Este ensayo pretende reflexionar sobre dos preguntas: ¿por qué los humanos debemos reconocer en los animales y en el resto de la creación una hermandad y no una supremacía? Y también ¿por qué la cosmovisión de los pueblos indígenas nos ayuda a pensar en comunidad y no en individualidades?

Hace unos años tuve una conversación muy interesante con un profesor de una escuela de veterinaria. Estábamos en un bar después de un taller de comunicación científica que había impartido en la universidad donde él investigaba y, como siempre ocurre, mi dieta libre de animales se convirtió en tema de discusión. El profesor se apresuró a explicarme que los animales utilizados en la industria de la carne no sufren y puso el ejemplo de los cerdos que viven en jaulas de gestación, comúnmente utilizadas en la industria.Estas celdas consisten en un espacio vallado con rejas sobre suelo de hormigón, donde las cerdas reproductoras pasan gran parte de su vida, teniendo únicamente la posibilidad de tumbarse o ponerse de pie. Estas cajas se utilizan para evitar que la madre pise o se acueste sobre sus cachorros, previniendo así su mortalidad. (¡Intenta imaginarte vivir así!) Volviendo al profesor, continuó defendiendo el argumento de que los cerdos no sufrían en esas condiciones porque era la única condición que conocían y que tenían abundante comida y agua. ¿Qué más podrían querer?

Otro ejemplo que me llama mucho la atención son los zoológicos. Los zoológicos, especialmente el modelo que aún persiste en Brasil, son lugares que me resultan inquietantes. Los animales viven confinados en recintos que son una fracción del territorio que explorarían en la naturaleza; A menudo viven solos o con otros individuos con los que no han formado vínculos; se ven obligados a exponerse a una audiencia de cientos de seres humanos no necesariamente bien educados, cinco o seis días a la semana, ocho horas al día.

Estos son lugares perfectos para observar comportamientos estereotipados (movimientos repetitivos sin función aparente, observados en humanos y no humanos en situaciones estresantes). Es común que, ante estos cuestionamientos, los responsables se defiendan diciendo que sus animales tienen acceso a alimento balanceado, elaborado por especialistas. Una vez más vemos cómo toda la subjetividad del animal se reduce a sus necesidades nutricionales. En los documentales sobre vida salvaje que vi durante mi infancia, el tema era uno solo: presas contra depredadores. El mundo salvaje fue mostrado, a través de la lente de hombres mayoritariamente blancos, como un gran campo de batalla, donde uno mata o es asesinado, donde la ley es la prevalencia del más fuerte, como postula la evolución darwiniana. ¿La vida de los animales en la naturaleza no es nada más que competir, comer y reproducirse?

Pero no terminé de contar cómo continuó mi debate con el profesor de veterinaria sobre los cerdos. Le expliqué que el cerebro de cualquier animal se va moldeando a lo largo de la evolución para que el individuo pueda explorar su entorno, en el caso de los animales sociales, interactuar con otros de su especie, superar retos, desplazarse, posibilitando su supervivencia en un

possibilidade de exercer seu comportamento natural, há sofrimento - enorme. Para minha surpresa, sua resposta foi: “bem, eu não posso acreditar nisso, ou não vou poder mais comer carne”.

Vamos falar um pouco sobre esta estratégia que estamos acostumados a utilizar de coisificar quem é diferente para que possamos contornar possíveis dilemas morais. Mas, antes, vou passar rapidamente pela desconstrução da nossa visão dos animais não humanos e de suas capacidades cognitivas. Jane Goodall, que abre todas as suas palestras com um cumprimento em inglês seguido de outro em “chimpanzês”, é uma primatóloga e conservacionista britânica, que quebrou uma série de paradigmas sobre o entendimento de primatas e do comportamento animal (e humano). Em 1960, Jane Goodall, então com 26 anos, embarcou para o Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia, para estudar o comportamento de chimpanzês selvagens2. Ela foi a primeira pessoa a observar estes primatas na natureza. E foi também a primeira pessoa a descrever a fabricação e uso de ferramentas por animais não humanos. Embora hoje isto não pareça tão notável – hoje temos este comportamento descrito para diversas outras espécies, entre elas aves e moluscos – na época, motivou a famosa frase do paleontólogo Louis Leakey: “devemos então redefinir o ser humano, ou redefinir ferramenta, ou aceitar os chimpanzés como seres humanos!” Isto porque houve tremenda resistência do meio acadêmico em aceitar que nós não éramos, afinal, os únicos animais capazes de fabricar e utilizar ferramentas.

Depois da descoberta de Goodall, este tipo de frase iniciada com “somos os únicos animais que” já teve que ser revista um sem-número de vezes. Já fomos os únicos animais capazes de nos reconhecer no espelho3. Hoje, a lista de animais que passam no teste do espelho aumenta constantemente e já inclui até peixes. Já nos consideramos os únicos animais capazes de pensar sobre o que o outro está pensando e prever comportamentos, o que chamamos de teoria da mente, e também já nos consideramos os únicos animais capazes de atos altruístas4. Não preciso dizer que também não somos mais exclusivos em nada disso. De fato, hoje é aceito pela maioria da comunidade acadêmica que não há qualquer aspecto intelectual ou emocional que nos defina como espécie. }

Em 2024, pela segunda vez, um grupo de cientistas e filósofos assinou uma declaração reconhecendo que há evidências de que todos os animais vertebrados e pelo menos uma parte dos invertebrados são dotados de consciência e capazes de experimentar o mundo subjetivamente5. Mas, por mais enfadonho que seja, ainda teimamos em insistir na ideia narcísica de nossa exclusividade. Isso fica evidente – e, para mim, de um modo um tanto irritante – nos vídeos com músicas dramáticas que vemos o tempo todo nas redes sociais de animais não-humanos fazendo qualquer coisa que envolva algum grau de empatia ou cognição e a reação de incredulidade, ainda que benevolente, diante disso. Esta surpresa condescendente ao observarmos comportamentos “humanos” em outros animais se deve a uma crença muito enraizada em nossa cultura de que os animais não-humanos são meros autômatos, ou seja, capazes apenas de atos instintivos ou de reações pré-determinadas por sua natureza irracional. Esta ideia foi postulada por René Descartes ainda no século XVII. Descartes foi também o pai do racionalismo, filosofia que deu a base para a separação entre mente e corpo, razão e emoção, humano e animal do pensamento ocidental.

Este modelo de mundo não só estabelece uma ruptura entre seres humanos e natureza, mas também passa a estabelecer quem se enquadra na categoria de humano. No mundo cartesiano, o homem branco europeu ocupa o topo da hierarquia que estabelece o valor das coisas. A partir disso, mulheres, pretos, indígenas e todos os OUTROS que coabitam o mundo vão se encaixando

entorno diverso, complejo y riesgoso y que, cuando se le priva de toda posibilidad de ejercitar su comportamiento natural, hay sufrimiento, un enorme sufrimiento.Para mi sorpresa, su respuesta fue: “Bueno, no puedo creerlo, o ya no podré más comer carne”.

Hablemos un poco de esta estrategia que solemos utilizar para cosificar a quienes son diferentes y así sortear posibles dilemas morales. Pero primero, voy a deconstruir rápidamente nuestra visión de los animales no humanos y sus capacidades cognitivas. Jane Goodall, que abre todas sus conferencias con un saludo en inglés seguido de otro en “chimpancés”, es una primatóloga y conservacionista británica que ha roto una serie de paradigmas respecto a la comprensión de los primates y el comportamiento animal (y humano). En 1960, Jane Goodall, que entonces tenía 26 años, viajó al Parque Nacional de Gombe, en Tanzania, para estudiar el comportamiento de los chimpancés salvajes2. Ella fue la primera persona en observar estos primates en estado salvaje. Fue también la primera en describir la fabricación y el uso de herramientas por parte de animales no humanos. Aunque hoy esto no parezca tan destacable –hoy hemos descrito este comportamiento para varias otras especies, incluidas aves y moluscos–, en su momento motivó la famosa frase del paleontólogo Louis Leakey: “¡hay que redefinir entonces al ser humano, o redefinir la herramienta, o aceptar a los chimpancés como seres humanos!”.

Esto se debe a que hubo una tremenda resistencia por parte del mundo académico de aceptar que, después de todo, no éramos los únicos animales capaces de fabricar y utilizar herramientas. Tras el descubrimiento de Goodall, este tipo de frases que empezaban con “somos los únicos animales que” tuvieron que ser revisadas innumerables veces. Alguna vez fuimos los únicos animales capaces de reconocernos en el espejo3. Hoy en día, la lista de animales que pasan la prueba del espejo crece constantemente y ahora incluye incluso a los peces. Ya nos hemos considerado los únicos animales capaces de pensar en lo que otros piensan y predecir comportamientos, lo que llamamos teoría de la mente, y también nos consideramos los únicos animales capaces de realizar actos altruistas4. De más está decir que tampoco somos exclusivos en nada de eso. De hecho, hoy es aceptado por la mayoría de la comunidad académica que no existe ningún aspecto intelectual o emocional que nos defina como especie. En 2024, por segunda vez, un grupo de científicos y filósofos firmaron una declaración reconociendo que hay evidencia de que todos los animales vertebrados y al menos una parte de los invertebrados están dotados de conciencia y son capaces de experimentar el mundo subjetivamente5.

Pero, por aburrido que parezca, seguimos insistiendo en la idea narcisista de nuestra exclusividad. Esto es evidente –y, para mí, un tanto irritante– en los vídeos con música dramática que vemos todo el tiempo en las redes sociales, de animales no humanos haciendo cualquier cosa que implique algún grado de empatía o cognición y la reacción de incredulidad, aunque benévola, ante esto. Esta sorpresa condescendiente cuando observamos un comportamiento “humano” en otros animales se debe a una creencia profundamente arraigada en nuestra cultura de que los animales no humanos son meros autómatas, es decir, capaces solo de actos instintivos o reacciones predeterminadas por su naturaleza irracional. Esta idea fue postulada por René Descartes en el siglo XVII. Descartes también fue el padre del racionalismo, una filosofía que sentó las bases para la separación entre mente y cuerpo, razón y emoción, humano y animal en el pensamiento occidental. Este modelo del mundo no solo establece una ruptura entre el ser humano y la naturaleza, sino que también establece quién entra en la categoría de humano. En el mundo cartesiano, el hombre blanco europeo ocupa la cima de la jerarquía que establece el valor de las cosas.

como categorias sub-humanas. O processo de coisificação que se segue, que inclui assunções absurdas de irracionalidade, imoralidade e até de incapacidade de sentir dor, enfim, um apagamento total da subjetividade do outro acaba por justificar a dominação e a colonização europeia em todo o planeta. Ainda hoje vemos esta estratégia sendo empregada nas campanhas contra imigrantes ou em disputas territoriais entre nações. Além da negação da alteridade, o modo colonial de viver no mundo, enxerga os territórios colonizados como recursos a serem explorados em nome de um desenvolvimento baseado na lógica da acumulação.

Esta lógica nos trouxe à iminência – alguns diriam irremediável – de um colapso ambiental global. Um conceito que vem sendo usado para identificar e quantificar o tamanho de nosso impacto sobre o sistema terrestre é o conceito de limites planetários. Foram definidos 9 limites planetários, dentro dos quais, a manutenção de nossa existência como a compreendemos hoje estaria garantida. Destes nove, seis já foram ultrapassados. São eles: mudanças climáticas, incorporação de novas entidades, modificação dos fluxos biogeoquímicos, mudança no uso da água doce, mudanças no uso da terra, integridade da biosfera6.

É importante lembrarmos que os ecossistemas, as sociedades e o sistema terrestre como um todo são sistemas complexos. Isto significa que são sistemas em equilíbrio dinâmico, resilientes até certo ponto, o chamado ponto crítico. Uma vez que o ponto crítico de perturbação do sistema é ultrapassado, o sistema muda de estado, indo para um novo ponto de equilíbrio dinâmico. Esta transição não pode ser prevista ou modelada. Por isso, o limite de aquecimento global foi definido em 1,5oC, na tentativa de prevenir esta mudança brusca e imprevisível de estado do sistema climático terrestre.

As ações humanas impactaram tanto os sistemas terrestres que este período geológico está sendo chamado de Antropoceno (anthropos – humano). Porém, alguns autores contestam o termo. Seria o Homo sapiens responsável pela exploração do planeta a ponto de estarmos à beira de um colapso irreversível? Ou estamos falando de um grupo de seres humanos que tem gênero, raça, classe e localização geográfica bem definida? Se pegarmos os dados de emissões de gases de efeito estufa no mundo, historicamente, o Norte global tem uma contribuição muito mais significativa que o Sul global em termos de emissões.

Da mesma forma, o 1% mais rico do planeta emite a mesma quantidade de gases de efeito estufa que dois terços da população mundial. Por outro lado, é justamente a população mais vulnerabilizada – e que menos contribui para o rompimento do equilíbrio do planeta – a que mais sofre as consequências das alterações climáticas. Em um esforço para frear o colapso civilizacional e garantir maior equidade para as próximas gerações, a Organização da Nações Unidas (ONU) lançou, em 2015, a agenda 2030 com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em seu último relatório, em 2024, a organização destaca que não atingiremos os ODS dentro do prazo estipulado no ritmo alcançado até o momento.

Considerando que não seria a existência da espécie humana em si o motivo para tais mudanças sobre o planeta, mas sim um modo de existência, uma alternativa sugerida para nomear o período geológico em que vivemos, que me parece muito mais adequada, é Capitaloceno. Este termo considera que o poder destrutivo não vem da atividade humana em si, mas sim de sua organização capitalista, que determina os atuais sistemas de produção, consumo e acumulação de capital. Embora seja difícil para nós pensarmos a humanidade como grupo diverso, com diferentes modos de existir, é interessante fazermos o exercício de pensar que o nosso modo de pensar o mundo e de nos relacionarmos com

A partir de este momento, las mujeres, los negros, los indígenas y todos los demás que cohabitan el mundo son colocados como categorías subhumanas. El proceso de objetivación que sigue, -que incluye absurdos de irracionalidad, inmoralidad e incluso la incapacidad de sentir dolor, en resumen, un borrar total de la subjetividad del otro-, termina justificando la dominación y la colonización europea en todo el planeta. Incluso hoy vemos que esta estrategia se utiliza en campañas contra los inmigrantes o en disputas territoriales entre naciones. Además de la negación de la alteridad, la forma colonial de vivir en el mundo ve los territorios colonizados como recursos a explotar en nombre del desarrollo basado en la lógica de la acumulación.

Esta lógica nos ha llevado al borde –algunos dirían irremediable– de un colapso ambiental global. Un concepto que se ha utilizado para identificar y cuantificar el tamaño de nuestro impacto en el sistema terrestre es el concepto de límites planetarios. Se definieron 9 límites planetarios, dentro de los cuales se garantizaría el mantenimiento de nuestra existencia tal como la entendemos hoy. De estos nueve, seis ya han sido superados. Son: cambio climático, incorporación de nuevas entidades, modificación de los flujos biogeoquímicos, cambio en el uso del agua dulce, cambios en el uso del suelo, integridad de la biosfera6.

Porcas em celas de gestaçâo.

ele é resultado do colonialismo. Desta forma, a lógica capitalista de ocupar o mundo, que ameaça a nossa própria existência não deve ser entendida como um fato dado, irrefutável ou que seria parte da “natureza humana”.

Aqui, chegamos, finalmente, à segunda pergunta deste ensaio: por que a cosmovisão dos povos originários nos ajuda a pensar em comunidade e não em individualidades? A visão colonial de mundo nos aparta radicalmente da natureza e nos ensina a nos relacionar com o outro – seja este outro um ser humano, um animal não-humano, um ecossistema, um corpo d’água – como recurso. Além disso, o culto ao sucesso individual baseado na acumulação privilegia ganhos econômicos em detrimento do modo de existência de comunidades e bens comuns.

Diante da catástrofe anunciada, nossas soluções para minimizála continuam baseando-se em preservar recursos que podem nos ser úteis. Você já notou que as notícias que dão conta da devastação de um ecossistema sempre são acompanhadas de frases do tipo: “os cientistas ainda não catalogaram todas as espécies deste ecossistema e muitas poderiam ser a chave para a cura de doenças”? Ou, então, como nos preocupamos com espécies (em risco de extinção), mas não com os indivíduos em si? “Pre-

Es importante recordar que los ecosistemas, las sociedades y el sistema de la Tierra en su conjunto son sistemas complejos. Esto significa que son sistemas en equilibrio dinámico, resilientes hasta un cierto punto, el llamado punto crítico. Una vez superado el punto crítico de perturbación del sistema, este cambia de estado, pasando a un nuevo punto de equilibrio dinámico. Esta transición no se puede predecir ni modelar. Por lo tanto, el límite del calentamiento global se fijó en 1,5 °C, en un intento de evitar este cambio repentino e impredecible en el estado del sistema climático de la Tierra. Las acciones humanas han impactado tanto los sistemas de la Tierra que este período geológico se denomina Antropoceno (antropos = humano). Sin embargo, algunos autores cuestionan el término. ¿Podría el Homo sapiens ser responsable de explotar el planeta hasta el punto de estar al borde de un colapso irreversible? ¿O estamos hablando de un grupo de seres humanos que tienen un género, una raza, una clase y una ubicación geográfica bien definidos? Si analizamos los datos sobre las emisiones de gases de efecto invernadero en el mundo, históricamente, el Norte global ha hecho una contribución mucho más significativa que el Sur global en términos de emisiones. Del mismo modo, el 1% más rico del planeta emite la misma cantidad de gases de efecto invernadero que dos tercios de la población mundial.

Por otra parte, es precisamente la población más vulnerable –y la que menos contribuye a la alteración del equilibrio del planeta– la que más sufre las consecuencias del cambio climático. En un esfuerzo por detener el colapso de la civilización y garantizar una mayor equidad para las generaciones futuras, las Naciones Unidas (ONU) lanzaron la agenda 2030 en 2015 con 17 Objetivos de Desarrollo Sostenible (ODS). En su último informe, de 2024, la organización destaca que no alcanzaremos los ODS en el plazo estipulado al ritmo alcanzado hasta ahora. Considerando que la existencia de la especie humana en sí no sería la causa de tales cambios en el planeta, sino más bien un modo de existencia, una alternativa sugerida para nombrar el período geológico en que vivimos, que me parece mucho más apropiada, es Capitaloceno. Este término considera que el poder destructivo no proviene de la actividad humana en sí, sino de su organización capitalista, que determina los actuales sistemas de producción, consumo y acumulación de capital. Si bien nos resulta difícil pensar en la humanidad como un grupo diverso, con diferentes formas de existir, es interesante hacer el ejercicio de pensar que nuestra manera de pensar el mundo y relacionarnos con él es resultado del colonialismo.

De esta manera, la lógica capitalista de ocupación del mundo, que amenaza nuestra propia existencia no debe entenderse como un hecho dado, irrefutable o como parte de la “naturaleza humana”.

Aquí llegamos finalmente a la segunda pregunta de este ensayo: ¿por qué la cosmovisión de los pueblos indígenas nos ayuda a pensar en la comunidad y no en las individualidades? La cosmovisión colonial nos separa radicalmente de la naturaleza y nos enseña a relacionarnos con el otro –ya sea un ser humano, un animal no humano, un ecosistema, un cuerpo de agua– como un recurso. Además, el culto al éxito individual basado en la acumulación privilegia las ganancias económicas en detrimento del modo de existencia de las comunidades y los bienes comunes. Ante la catástrofe anunciada, nuestras soluciones para minimizarla siguen basándose en preservar los recursos que nos puedan ser útiles. ¿Alguna vez has notado que las noticias sobre la devastación de un ecosistema siempre van acompañadas de frases como: “los científicos aún no han catalogado todas las especies de este ecosistema y muchas podrían ser la clave para curar enfermedades”? O bien, ¿cómo es que nos preocupamos por las especies (en riesgo de extinción) pero no por los individuos en sí?

cisamos proteger um dado fragmento de mata, pois ele abriga espécies ameaçadas de extinção” – pressupondo novamente que a perda de uma espécie pode trazer prejuízos à nossa – mas nunca “Precisamos proteger este fragmento de mata, pois há animais e plantas e rios vivendo lá”.

Isto me remete a Eliane Brum, uma jornalista e documentarista, que escolheu viver na Amazônia, de onde escreve suas colunas para a plataforma Sumaúma, que ela ajudou a fundar. Eliane me pegou de jeito com o termo “pessoas da floresta”, que ela usa para designar todos os habitantes desse lugar. Me lembro de um texto seu que me (des)agradou particularmente. Ela descreve uma situação que levou à condenação à morte (sim, este é o termo que ela usa!) de uma Sumaúma gigantesca e antiga. As Sumaúmas são chamadas pelos indígenas da floresta amazônica de árvore da vida, por sua presença deslumbrante em meio à floresta; um habitante do mundo que serve de mundo para uma infinidade de outros seres – microrganismos, plantas epífitas, insetos, anfíbios, aves, mamíferos.

Não me lembro bem dos detalhes da estória em questão, mas a árvore seria destruída para dar lugar a alguma construção humana equivalente em importância a um estacionamento. A sensibilidade e originalidade de Eliane em escrever sobre árvores como pessoas nos leva a enxergar o tamanho da violência e estupidez de ações como esta – destruir um ser que já habita aquele território há muito mais tempo que nós, que não é um indivíduo, mas uma comunidade, simplesmente por que decidimos que precisamos daquele espaço.

Não é coincidência que esta última frase nos faça pensar na barbaridade que estamos assistindo hoje no mundo motivada por controle de território. Não à toa, povos indígenas no mundo todo têm se mobilizado contra a ocupação da Palestina, já que vêm lutando pelo seu direito de existir há 500 anos.

Quem tem direito a existir? Enquanto a opressão, em qualquer formato, for aceita e normalizada na sociedade, nenhum de nós está livre de se tornar seu próximo alvo. Nosso modo ocidental e colonizado de viver foi construído sobre a opressão – de gênero, de classe, de raça, de espécie. Os povos tradicionais compreendem que somos mais uma espécie na teia complexa da natureza e, como tal, parentes.

Os rios são parentes. As montanhas são parentes. Os demais animais e plantas são parentes. A alteridade, nesta visão de mundo, enriquece. A mudança de cosmovisões é radical: de “nós somos, porque eu sou”, da cosmovisão ocidental, para “eu sou, porque nós somos”. Há 500 anos, o processo de colonização impôs a quase todo o planeta, um modo de existir que exclui e explora. Mas este não é o único modo de ocupar o mundo. Talvez já tenha passado da hora de olharmos com atenção para outros modos de existir e de pensar o mundo.

Como disse Ailton Krenak, o futuro é ancestral.

1. Haraway, Donna; Quando as espécies se encontram; traduzido por Juliana Fausto. São Paulo: Ubu Editora, 2022.

2. Recomendo o documentário da National Geographic Jane, lançado em 2017 sobre o trabalho e vida de Jane Goodall nas florestas da Tanzânia.

3. O chamado teste do espelho consiste em marcar com giz ou alguma tinta removível a testa ou qualquer outro lugar do corpo de um animal que ele não enxergue e colocá-lo em frente a um espelho. Consideramos que o animal “passou” no teste se ele enxergar a marca no espelho e tentar removê-la do próprio

“Necesitamos proteger un fragmento determinado de bosque, porque es el hogar de especies en peligro de extinción” – asumiendo nuevamente que la pérdida de una especie podría dañar la nuestra – pero nunca “Necesitamos proteger este fragmento de bosque, porque hay animales y plantas y ríos viviendo allí”.

Esto me lleva a Eliane Brum, periodista y documentalista, que eligió vivir en la Amazonia, desde donde escribe sus columnas para la plataforma Sumaúma, que ella ayudó a fundar. Eliane realmente me cautivó con el término “gente del bosque”, que utiliza para referirse a todos los habitantes de este lugar. Recuerdo un texto suyo que me gustó especialmente. Ella describe una situación que llevó a la sentencia de muerte (¡sí, este es el término que ella usa!) de un gigantesco y antiguo árbol Kapok. Los sumaúmas son llamados el árbol de la vida por los indígenas de la selva amazónica, debido a su deslumbrante presencia en medio del bosque; un habitante del mundo que sirve de mundo para una infinidad de otros seres: microorganismos, plantas epífitas, insectos, anfibios, aves, mamíferos.

No recuerdo muy bien los detalles de la historia en cuestión, pero el árbol sería destruido para dar paso a alguna construcción humana equivalente en importancia a un estacionamiento. La sensibilidad y originalidad de Eliane al escribir sobre los árboles como personas nos lleva a ver el alcance de la violencia y la estupidez de acciones como ésta: destruir un ser que ha habitado ese territorio por mucho más tiempo que nosotros, que no es un individuo, sino una comunidad, simplemente porque decidimos que necesitábamos ese espacio. No es casualidad que esta última frase nos haga pensar en la barbarie que presenciamos hoy en el mundo motivada por el control territorial. No es de extrañar que los pueblos indígenas de todo el mundo se hayan movilizado contra la ocupación de Palestina, ya que llevan 500 años luchando por su derecho a existir.

¿Quién tiene derecho a existir? Mientras la opresión, en cualquier forma, sea aceptada y normalizada en la sociedad, ninguno de nosotros estará a salvo de convertirse en su próximo objetivo. Nuestro estilo de vida occidental y colonizado se construyó sobre la opresión: de género, de clase, de raza y de especie. Los pueblos tradicionales entienden que somos simplemente otra especie en la compleja red de la naturaleza y, como tales, parientes. Los ríos son parientes. Las montañas son parientes. Los demás animales y plantas están relacionados. La alteridad, en esta cosmovisión, enriquece. El cambio de cosmovisión es radical: del “somos, porque yo soy”, de la cosmovisión occidental, al “yo soy, porque nosotros somos”. Hace 500 años, el proceso de colonización impuso una forma de existir que excluye y explota a casi todo el planeta. Pero ésta no es la única manera de ocupar el mundo. Tal vez sea hora de que examinemos con más atención otras formas de existir y pensar el mundo.

Como decía Ailton Krenak, el futuro es ancestral.

1. Haraway, Donna; Cuando las especies se encuentran; traducido por Juliana Fausto. Nueva York: Routledge, 2022.

2. Recomiendo el documental de National Geographic Jane, estrenado en 2017 sobre el trabajo y la vida de Jane Goodall en los bosques de Tanzania.

3. La llamada prueba del espejo consiste en marcar con tiza o alguna pintura removible la frente o cualquier otra parte del cuerpo de un animal que este no pueda ver y colocarlo frente a un espejo. Consideramos que el animal ha “pasado” la prueba si ve la marca en el espejo y trata de quitársela de su propio cuerpo. Esta prueba es importante en el estudio del comportamiento animal porque refleja la capacidad de autoconciencia, o conciencia de uno mismo como individuo. Constantemente se suman a nuestra

corpo. Este teste é importante dentro do estudo do comportamento animal pois reflete a capacidade de self-awareness, ou consciência de si como indivíduo.

Elefantes, golfinhos, raias e uma série de outros animais são constantemente acrescentados à nossa lista de espécies que têm consciência de si mesmos. Porém, me interessa mais a discussão sobre nossa própria incapacidade de desenhar testes que se adequem à espécie em questão. Um exemplo, discutido por Frans de Waal no livro “Somos inteligentes o bastante para saber quão inteligentes são os animais?” se aplica aos elefantes, que ficaram por muito tempo de fora desta lista apesar de sua notável inteligência e capacidade de abstração. Acontece que nos testes, os espelhos eram posicionados de forma e em tamanho tal que o animal não conseguia ver muito mais que seu próprio pé. Apenas quando fomos capazes de conceber um teste que fizesse sentido não a nós, mas ao animal sendo testado é que pudemos perceber a realidade. O livro de De Waal é um tratado delicioso sobre como nossa percepção da capacidade cognitiva dos demais animais diz muito mais sobre nós que sobre eles.

4. Recomendo o livro de divulgação científica de Frans de Waal “A era da empatia” para uma discussão ao mesmo tempo aprofundada e de leitura muito agradável sobre como surge a empatia nos animais e como ela é a raiz para os comportamentos altruístas.

Um exemplo de que gosto muito, especialmente por se tratar de uma espécie que causa repulsa em tanta gente, é o de experimentos feitos com ratos. Ratos são animais altamente empáticos e solidários: quando em face de um companheiro em situação de estresse ou desconforto, eles se desdobram para ajudar o companheiro, mesmo sem ganhar nada com isso. Até mesmo quando eles são apresentados com a escolha entre ganhar um chocolate (que eles adoram) ou soltar um amigo preso em uma gaiola, por exemplo, eles escolhem soltar o amigo.

5. Andrews, K., Birch, J., Sebo, J., and Sims, T. (2024) Background to the New York Declaration on Animal Consciousness. nydeclaration.com.

6. Os nove limites planetários definidos são:

Mudanças climáticas: aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, levando ao aquecimento global;

Integridade da biosfera: perda da biodiversidade e extinção de espécies;

Depleção da camada de ozônio estratosférico;

Acidificação dos oceanos: alteração do pH dos oceanos pelo aumento da concentração de dióxido de carbono dissolvido, afetando toda a vida marinha;

Modificação dos fluxos biogeoquímicos: desequilíbrio nos ciclos de fósforo e nitrogênio devido ao uso excessivo de fertilizantes;

Mudança no uso da terra: por desmatamento, conversão de áreas naturais em áreas agrícolas e urbanas;

Mudança no uso da água doce;

Concentração de aerossóis atmosféricos: aumento na concentração de material particulado na atmosfera;

Incorporação de novas entidades: introdução de substâncias químicas sintéticas, resíduos radioativos, nanomateriais e microplásticos.

lista de especies conscientes elefantes, delfines, rayas y una gran cantidad de otros animales. Sin embargo, me interesa más la discusión sobre nuestra propia incapacidad para diseñar pruebas que sean apropiadas para las especies en cuestión. Un ejemplo, analizado por Frans de Waal en el libro “¿Somos lo suficientemente inteligentes como para saber cuán inteligentes son los animales?” Se aplica a los elefantes, que quedaron fuera de esta lista durante mucho tiempo a pesar de su notable inteligencia y capacidad de abstracción. Resulta que en las pruebas los espejos fueron colocados de tal manera y en tal tamaño que el animal no podía ver mucho más que su propio pie. Solo cuando podamos elaborar una prueba que tenga sentido no para nosotros sino para el animal que está siendo probado, podremos percibir la realidad. El libro de De Waal es un delicioso tratado sobre cómo nuestra percepción de la capacidad cognitiva de otros animales dice mucho más sobre nosotros que sobre ellos.

4. Recomiendo el libro de divulgación científica de Frans de Waal “La era de la empatía” para una discusión a la vez profunda y muy agradable de leer sobre cómo surge la empatía en los animales y cómo es la raíz del comportamiento altruista. Un ejemplo que me gusta mucho, sobre todo porque se trata de una especie que provoca repulsión en muchas personas, es el experimento realizado con ratas. Las ratas son animales altamente empáticos y solidarios: cuando se enfrentan a un compañero en una situación de estrés o malestar, se desviven por ayudarlo, aun sin obtener nada a cambio. Incluso cuando se les presenta la opción de tomar un chocolate (que les encanta) o liberar a un amigo atrapado en una jaula, por ejemplo, eligen liberar al amigo. Solo cuando pudimos diseñar una prueba que tuviera sentido no para nosotros sino para el animal que estaba siendo probado, pudimos percibir la realidad. El libro de De Waal es un delicioso tratado sobre cómo nuestra percepción de la capacidad cognitiva de otros animales dice mucho más sobre nosotros que sobre ellos.

5. Andrews, K., Birch, J., Sebo, J., and Sims, T. (2024) Background to the New York Declaration on Animal Consciousness. nydeclaration.com.

6. Los nueve límites planetarios definidos son:

Cambio climático: aumento de la concentración de gases de efecto invernadero en la atmósfera, lo que conduce al calentamiento global;

Integridad de la biosfera: pérdida de biodiversidad y extinción de especies;

Agotamiento de la capa de ozono estratosférico;

Acidificación de los océanos: cambio en el pH de los océanos debido a un aumento en la concentración de dióxido de carbono disuelto, afectando a toda la vida marina;

Modificación de flujos biogeoquímicos: desequilibrio en los ciclos del fósforo y del nitrógeno por uso excesivo de fertilizantes;

Cambio de uso del suelo: a través de la deforestación, conversión de áreas naturales en áreas agrícolas y urbanas;

Cambio en el uso de agua dulce;

Concentración de aerosoles atmosféricos: aumento de la concentración de partículas en la atmósfera;

Incorporación de nuevas entidades: introducción de sustancias químicas sintéticas, residuos radiactivos, nanomateriales y microplásticos.

EDUCAÇÃO | EDUCACIÓN

CURSO ¡QUIJOTE!: FORMANDO TRADUTORES E INTÉRPRETES

EM UM BRASIL CERCADO DE ESPANHOL POR TODOS OS LADOS CURSO ¡QUIJOTE!: FORMANDO TRADUCTORES E INTÉRPRETES

EN UN BRASIL RODEADO DE ESPAÑOL POR TODOS LADOS

Curso QuijoTe!.

A integração latino-americana, bandeira de batalha do Brasil, do México e de todos os povos de língua espanhola, portuguesa e caribenha, requer uma ferramenta essencial: a tradução.

O novo Tratado de Tordesilhas

OBrasil é um país que costuma se orgulhar de suas dimensões continentais e da riqueza de sua diversidade cultural, mas há uma peculiaridade pouco discutida no segmento da educação: somos um país imenso que fala apenas uma língua. Em meio a uma vizinhança hispanofalante, o português brasileiro, legado linguístico que ainda resiste como única língua oficial em meio a um oceano de países que herdaram o espanhol como língua oficial. Essa condição linguística singular, em que pese os falares regionais brasileiros, tem consequências profundas nas relações culturais, políticas e econômicas do país com os demais países da América Latina.

Esse paradoxo se agrava quando observamos que, apesar da proximidade com o espanhol, o ensino oficial brasileiro não inclui a língua espanhola de forma consistente e obrigatória nas escolas públicas. Enquanto isso, nas comunidades da fronteira sul–especialmente em áreas do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul–florescem formas híbridas como o portunhol, falado cotidianamente por pessoas que vivem em contato direto com populações de países vizinhos em áreas onde nem se distinguem as fronteiras geográficas.

Foi a partir dessa constatação–da necessidade premente de criar pontes linguísticas e culturais com nossos vizinhos e com o mundo de pessoas desses países que vivem no Brasil–que nasceu o ¡QuijoTe!, vocacionado para formar tradutores e intérpretes, pessoas que trabalham diretamente com os dois idiomas: espanhol e português. Mais do que ensinar estratégias, procedimentos e técnicas de tradução e interpretação, a nossa escola propõe uma formação crítica, sensível e prática, voltada para os desafios reais da mediação linguística entre línguas e mundos tão próximos e, paradoxalmente, tão distantes.

O ¡QuijoTe! nasceu em um momento crítico para todo o planeta: a pandemia da Covid-19, que passou a ditar um novo modo de vida, uma nova fórmula para que as pessoas pudessem sobreviver e tocar de uma forma muito peculiar as suas rotinas em casa, na escola e no trabalho. Assistíamos àquilo tudo perplexos, testemunhando os esforços da indústria farmacêutica, de pesquisadores em todo o mundo na busca por vacinas para a doença. E enquanto o mundo parecia que ia parar, nós tradutores trabalhamos sem parar nos unindo a esses esforços de disseminar os resultados de pesquisas clínicas, relatórios médicos e tudo sobre vacinas, dos mais variados matizes, vendo crescer exponencialmente a demanda por traduções do espanhol para o português. Foi nesse contexto que percebemos o quão oportuno foi o momento da criação do curso e o quanto poderíamos contribuir para oferecer uma estrutura de ensino 100% on-line, mas que fosse fortemente interativa, capaz de formar com qualidade, mas de maneira rápida e sólida, tradutores preparados para atuar em áreas de alta demanda de trabalho.

La integración latinoamericana, una bandera de batalla de Brasil, de México y de todos los pueblos hispanoamericanos, lusohablantes y del Caribe, necesitan una herramienta imprescindible: la traducción.

El nuevo Tratado de Tordesillas

Brasil es un país que suele enorgullecerse de sus dimensiones continentales y de la riqueza de su diversidad cultural, pero hay una peculiaridad poco discutida en el ámbito educativo: somos un país inmenso que habla solo un idioma. Rodeado de una vecindad hispanohablante, el portugués brasileño, un legado lingüístico que persiste como única lengua oficial en un océano de países que heredaron el español como lengua oficial. Esta condición lingüística singular, a pesar de las hablas regionales brasileñas, tiene consecuencias profundas en las relaciones culturales, políticas y económicas del país con los demás países de América Latina.

Esta paradoja se agrava al observar que, a pesar de la proximidad con el español, la enseñanza oficial brasileña no incluye el idioma español de manera coherente y obligatoria en las escuelas públicas. Mientras tanto, en las comunidades de la frontera sur—especialmente en zonas de Rio Grande do Sul, Paraná y Mato Grosso do Sul—florecen formas híbridas como el portuñol, hablado cotidianamente por personas que viven en contacto directo con poblaciones de países vecinos en áreas donde ni siquiera se distinguen las fronteras geográficas.

Fue a partir de esta constatación—de la necesidad urgente de crear puentes lingüísticos y culturales con nuestros vecinos y con las personas de esos países que viven en Brasil—que nació ¡QuijoTe!, con la vocación de formar traductores e intérpretes, personas que trabajan directamente con los dos idiomas: español y portugués. Más que enseñar estrategias, procedimientos y técnicas de traducción e interpretación, nuestra escuela propone una formación crítica, sensible y práctica, orientada a los desafíos reales de la mediación lingüística entre lenguas y mundos tan cercanos y, paradójicamente, tan distantes.

¡QuijoTe! nació en un momento crítico para todo el planeta: la pandemia de Covid-19, que pasó a dictar una nueva forma de vida, una nueva fórmula para que las personas pudieran sobrevivir y llevar sus rutinas, en casa, en la escuela y en el trabajo, de una manera muy peculiar. Observábamos todo aquello con perplejidad, testigos de los esfuerzos de la industria farmacéutica y de investigadores en todo el mundo en la búsqueda de vacunas para la enfermedad. Y mientras parecía que el mundo iba a detenerse, nosotros los traductores trabajamos sin parar, sumándonos a esos esfuerzos para diseminar los resultados de investigaciones clínicas, informes médicos y todo lo relacionado con vacunas, de los más variados enfoques, viendo crecer exponencialmente la demanda de traducciones del español al portugués. Fue en este contexto que percibimos cuán oportuna fue la creación del curso y cuánto podíamos contribuir ofreciendo una estructura de enseñanza 100% en línea, pero fuertemente interactiva, capaz de formar con calidad, de manera rápida y sólida, a traductores preparados para actuar en áreas de alta demanda de trabajo.

Vimos muitos setores interrompendo suas atividades, enquanto os clientes de tradução tiveram suas demandas incrementadas ao extremo, porém atendidas a contento, muito por conta do fato de que nós tradutores já vivíamos (e seguimos vivendo) no mundo digital. Assim, não houve grandes mudanças nas estruturas de trabalho. A tradução seguiu ativa, necessária e o que buscamos foi atender às demandas para suprir a escassez de profissionais qualificados no mercado de tradução e interpretação.

Os mistérios da internet para quem já trabalhava com traduções escritas não mudou muito. Tivemos que passar a conviver com prazos cada vez mais apertados para dar conta de tanta demanda, mas para os intérpretes, sair das cabines presenciais e mergulhar no universo da interpretação remota foi um grande desafio, que tivemos que ensinar aos nossos alunos como trabalhar e a conviver nessa sociedade virtual. Foram muitos desafios que antevimos, consideramos em nosso planejamento, mas decidimos partir para essa jornada, que está sendo maravilhosa. E, assim, foi criado o Curso ¡QuijoTe! de Formação de Tradutores e Intérpretes.

A nossa proposta inicial era bastante modesta, porém muito estratégica: oferecemos às primeiras turmas um módulo compacto, com duração de quatro meses e meio, com aulas on-line, porém síncronas. O conteúdo abordava temas-chave como literatura, jornalismo, marketing e comércio, o mundo jurídico e a engenharia da construção civil, ou seja, em todos os campos que, à época, representavam os grandes desafios para atender às demandas de tradução.

Para a área médica, que deveria ter sido o nosso ponto focal, não iniciou de pronto, pois não conseguimos agregar na equipe docente professores que fossem profissionais da área médica ou farmacêutica. Mas não tardou para que conseguíssemos e foi assim que o percurso formativo acabou aos poucos sendo ampliado. A meta era clara para todos nós da coordenação e do corpo docente: formar tradutores que pudessem atender a necessidades reais do mercado, com conhecimento técnico, domínio da língua e sensibilidade intercultural.

¡ADELANTE! O GRUPO PIONEIRO E A TRAJETÓRIA DO ¡QUIJOTE!

O grupo de alunos pioneiros do ¡QuijoTe! foi especial. Logo de início, abrimos duas turmas–uma pela manhã e outra no turno da noite–e recebemos estudantes de diferentes regiões do Brasil, de países da América Latina e até uma aluna da Europa (uma aluna multicultural por essência, pois é portuguesa e, na época, vivia na Itália e já atuava como tradutora e intérprete de espanhol). A diversidade geográfica e cultural do grupo trouxe riqueza às aulas e aprofundou os debates em torno da tradução como prática intercultural.

Desde os primeiros dias de aula, ainda nos acostumando aos “querismos da internet” (que por vezes “derrubava” a sala de aula), professores e estudantes estabeleceram uma sintonia muito forte. Foi nesse ambiente de troca constante que, juntos, planejamos o amadurecimento da grade curricular.

O que começou como um módulo compacto se transformou, pouco a pouco, em um curso completo, com duração de dezoito meses. Essa expansão veio do desejo coletivo de aprofundar conhecimentos, explorar novas áreas e consolidar uma formação que realmente preparasse profissionais para os desafios da tradução e, futuramente, da interpretação.

Os vínculos criados em sala de aula com esse grupo pioneiro foram tão fortes que mantemos contato frequente com toda a turma em uma rede de relacionamento, que deu origem à Asso-

Vimos muchos sectores interrumpiendo sus actividades, mientras que los clientes de traducción vieron sus demandas incrementadas al extremo, aunque atendidas a satisfacción, en gran parte debido al hecho de que nosotros, los traductores, ya vivíamos (y seguimos viviendo) en el mundo digital. Así, no hubo grandes cambios en las estructuras de trabajo. La traducción siguió activa, necesaria, y lo que buscamos fue atender a las demandas para suplir la escasez de profesionales calificados en el mercado de traducción e interpretación.

Los misterios de Internet para quienes ya trabajaban con traducciones escritas no cambiaron mucho. Tuvimos que aprender a convivir con plazos cada vez más ajustados para dar abasto a tanta demanda, pero para los intérpretes, salir de las cabinas presenciales y sumergirse en el universo de la interpretación remota fue un gran desafío, que tuvimos que enseñar a nuestros alumnos a afrontar y con el que aprendieron a convivir en esta sociedad virtual. Fueron muchos los desafíos que anticipamos, que consideramos en nuestra planificación, pero decidimos emprender esta travesía, que está siendo maravillosa. Y así fue como se creó el Curso ¡QuijoTe! de Formación de Traductores e Intérpretes.

Nuestra propuesta inicial era bastante modesta, pero muy estratégica: ofrecimos a las primeras cohortes un módulo compacto, con una duración de cuatro meses y medio, con clases en línea, pero sincrónicas. El contenido abordaba temas clave como literatura, periodismo, marketing y comercio, el mundo jurídico y la ingeniería de la construcción civil, es decir, todos los campos que, en ese momento, representaban los grandes desafíos para atender a la demanda de traducción. En cuanto al área médica, que debería haber sido nuestro punto focal, no comenzó de inmediato, ya que no conseguimos incorporar al equipo docente a profesores que fueran profesionales del área médica o farmacéutica. Pero no tardamos en lograrlo, y así fue como el trayecto formativo terminó ampliándose poco a poco. La meta era clara para todos nosotros, desde la coordinación hasta el cuerpo docente: formar traductores que pudieran responder a necesidades reales del mercado, con conocimiento técnico, dominio del idioma y sensibilidad intercultural.

¡ADELANTE! EL GRUPO PIONERO Y LA TRAYECTORIA DE ¡QUIJOTE!

El grupo de alumnos pioneros de ¡QuijoTe! fue especial. Desde el inicio, abrimos dos grupos—uno por la mañana y otro en el turno de la noche—y recibimos estudiantes de diferentes regiones de Brasil, de países de América Latina e incluso una alumna de Europa (una alumna multicultural por esencia, ya que es portuguesa y, en ese momento, vivía en Italia y ya trabajaba como traductora e intérprete de español). La diversidad geográfica y cultural del grupo enriqueció las clases y profundizó los debates en torno a la traducción como práctica intercultural.

Desde los primeros días de clase, mientras aún nos acostumbrábamos a los “caprichos de Internet” (que a veces “derribaba” el aula virtual), profesores y estudiantes establecieron una sintonía muy fuerte. Fue en ese ambiente de intercambio constante donde, juntos, planificamos la maduración del plan de estudios. Lo que comenzó como un módulo compacto se transformó, poco a poco, en un curso completo de dieciocho meses de duración. Esta expansión surgió del deseo colectivo de profundizar conocimientos, explorar nuevas áreas y consolidar una formación que realmente preparara profesionales para los desafíos de la traducción y, en el futuro, de la interpretación.

Los vínculos creados en el aula con este grupo pionero fueron tan fuertes que mantenemos un contacto frecuente con toda la clase a través de una red de relaciones que dio origen a la Asociación ¡QuijoTe! Alumni. De ese grupo, muchos profesionales

ciação ¡QuijoTe! Alumni. Desse grupo temos muitos profissionais atuando intensamente no mercado de tradução, sendo que duas delas se tornaram professoras em nosso curso e hoje temos alunos de tradução, que desejavam ser intérpretes de espanhol, se formando no curso de interpretação.

E FOI ASSIM QUE O ¡QUIJOTE! COMEÇOU A FALAR...

Com o sucesso do curso de tradução, logo começamos a planejar a abertura de uma turma pioneira dedicada à interpretação de espanhol-português. O que parecia ser um passo natural, uma vez que o mundo se refugiou na internet e os eventos de interpretação passaram a ser remotos, acabou por exigir profundas reflexões sobre qual seria a maneira de formar, com qualidade, esse profissional.

Não apenas o intérprete, mas a pessoa por trás dos fones de ouvido. Antes de montar a grade curricular, revisitamos os conteúdos dos cursos pelos quais nós professores passamos–como alunos e docentes–e com isso amadurecemos o nosso esboço inicial com o que valeria a pena ser repetido em nosso curso, e, principalmente, com o que poderíamos oferecer para fazer dessa formação algo holístico, que visasse a formação da pessoa que iria atuar como intérprete num mundo virtual (pois não sabíamos até quando viveríamos naquelas condições impostas pela pandemia).

Mais uma vez, a meta que passamos para a equipe docente era muito clara: oferecer aos estudantes uma formação em interpretação com forte ênfase na prática, desde os primeiros momentos.

Queríamos aulas que simulassem situações reais, com feedbacks constantes, e que colocassem os alunos diante dos desafios concretos da interpretação simultânea e consecutiva, em especial em contextos institucionais, sociais e acadêmicos. Também levamos em conta as lacunas que vivenciamos em nossa própria formação como intérpretes, com o compromisso de criar um ambiente de aprendizado mais acolhedor, mais dinâmico e mais atento às necessidades do futuro profissional.

Por isso, a formação que idealizamos tem por base estes quatro pilares principais: progressão de habilidades, prática intensiva, sensibilidade cultural e educação continuada. Partimos do princípio de que ninguém nasce intérprete–essa é uma competência que se constrói com treino constante e escuta ativa, em um ambiente que ofereça aos estudantes a segurança para errar e aprender. Assim, organizamos os módulos de forma progressiva, começando por atividades de escuta, reformulação e tradução à prima vista, avançando para exercícios de interpretação simultânea e consecutiva. Lembro-me muito bem da primeira turma sendo observada na maioria das aulas por quase todos da equipe docente.

Aquilo era novidade para todos nós, que não fomos formados com toda essa atenção, especialmente em temas relacionados a técnicas teatrais, equilíbrio emocional, execução vocal, negociação com clientes e finanças. As alunas deram um banho de competência e se formaram, com louvor, começando a atuar como intérpretes em conferências virtuais (e mais recentemente, presenciais) mesmo antes da formatura, destacando-se no mercado de trabalho de forma exemplar dos seus pares de profissão. Atualmente, duas delas fazem parte da nossa equipe docente e contribuem com a formação de seus futuros “concabinos”.

Como dissemos, a prática é o coração da formação que oferecemos. Por isso, as aulas são pensadas para que os docentes tragam à sala de aula o maior número possível de situações reais:

están hoy activos en el mercado de la traducción, y dos de ellas se convirtieron en profesoras de nuestro curso. Actualmente, también tenemos estudiantes del curso de traducción que deseaban convertirse en intérpretes de español y están concluyendo el curso de interpretación.

Y ASÍ FUE COMO ¡QUIJOTE! EMPEZÓ A HABLAR...

Con el éxito del curso de traducción, pronto comenzamos a planificar la apertura de una cohorte pionera dedicada a la interpretación español-portugués. Lo que parecía ser un paso natural, dado que el mundo se había refugiado en internet y los eventos de interpretación pasaron a ser remotos, terminó exigiendo profundas reflexiones sobre cuál sería la mejor forma de formar, con calidad, a ese profesional.

No solo al intérprete, sino a la persona detrás de los auriculares. Antes de estructurar el plan de estudios, revisamos los contenidos de los cursos por los que habíamos pasado nosotros, los docentes —como alumnos y como profesores— y con eso maduramos nuestro primer esbozo con aquello que valía la pena repetir en nuestro curso y, sobre todo, con lo que podríamos ofrecer para que esta formación fuera algo holístico, centrado en la persona que actuaría como intérprete en un mundo virtual (ya que no sabíamos hasta cuándo viviríamos bajo las condiciones impuestas por la pandemia).

Una vez más, el objetivo que transmitimos al equipo docente fue muy claro: ofrecer a los estudiantes una formación en interpretación con fuerte énfasis en la práctica, desde los primeros momentos. Queríamos clases que simularan situaciones reales, con retroalimentación constante, y que colocaran a los alumnos ante los desafíos concretos de la interpretación simultánea y consecutiva, especialmente en contextos institucionales, sociales y académicos. También tomamos en cuenta las carencias que experimentamos en nuestra propia formación como intérpretes, con el compromiso de crear un entorno de aprendizaje más acogedor, más dinámico y más atento a las necesidades del futuro profesional.

Por eso, la formación que idealizamos se basa en cuatro pilares principales: progresión de habilidades, práctica intensiva, sensibilidad cultural y educación continua. Partimos del principio de que nadie nace intérprete: es una competencia que se construye con entrenamiento constante y escucha activa, en un ambiente que ofrezca a los estudiantes la seguridad para equivocarse y aprender. Así, organizamos los módulos de forma progresiva, comenzando con actividades de escucha, reformulación y traducción a primera vista, avanzando luego hacia ejercicios de interpretación simultánea y consecutiva. Recuerdo muy bien a la primera cohorte siendo observada en la mayoría de las clases por casi todos los docentes del equipo. Aquello era una novedad para todos nosotros, que no fuimos formados con tanta atención, especialmente en temas como técnicas teatrales, equilibrio emocional, expresión vocal, negociación con clientes y gestión financiera.

Las alumnas dieron una verdadera lección de competencia y se graduaron con distinción, comenzando a trabajar como intérpretes en conferencias virtuales (y más recientemente, presenciales) incluso antes de graduarse, destacándose en el mercado laboral de forma ejemplar frente a sus colegas de profesión. Actualmente, dos de ellas forman parte de nuestro cuerpo docente y contribuyen a la formación de sus futuros “concabinos”.

Como ya dijimos, la práctica es el corazón de la formación que ofrecemos. Por eso, las clases están diseñadas para que los docentes traigan al aula la mayor cantidad posible de

reuniões de cúpula e conferências internacionais, visitas técnicas, eventos acadêmicos, entrevistas, depoimentos. Como ferramentas de ensino usamos gravações, vídeos, textos e, sempre que possível, com convidados externos para simulações ao vivo. Também priorizamos o trabalho com vocabulário especializado e expressões idiomáticas, preparando os alunos para os desafios linguísticos e culturais da profissão.

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO: A ÚLTIMA FRONTEIRA

Um grande diferencial na formação em interpretação que oferecemos é o estágio supervisionado. Apesar do nome estágio, ele não ocorre fora das dependências virtuais do curso. O estágio é o período final do curso, com duração de dois meses inteiros, em que os estudantes atuam, em duplas, como intérpretes em contextos desafiadores e diversos.

Essa fase é um dos momentos mais aguardados da formação, pois oferece a oportunidade de interpretar palestras reais, ministradas por convidados especiais–especialistas em diversas áreas do conhecimento como Direito, Saúde Pública, Vigilância Sanitária, Relações Internacionais, Engenharia, Meio Ambiente, Literatura, História da Arte, Fotografia e tantas outras, em palestras on-line, ao vivo.

Os estudantes se revezam na cabine remota e suas interpretações são avaliadas em tempo real por um de nossos docentes. Além de ser uma oportunidade de aprendizado profundo, esse estágio permite que os estudantes testem seus limites, físicos e mentais, estejam alertas da boa entrega das mensagens para a audiência (as palestras são abertas para toda a Comunidade ¡QuijoTe!) e que aprendam com o inesperado e recebam o feedback, inicialmente pela reação dos convidados e do docente avaliador.

É nesse ambiente de prática intensa, conduzido com total segurança, que muitos alunos descobrem a sua própria voz como intérpretes e ganham confiança para atuar profissionalmente. A experiência tem se mostrado transformadora, tanto do ponto de vista técnico quanto humano.

Por isso insistimos que, mais do que treinar as técnicas de tradução e de interpretação, o que almejamos em nossa escola é formar pessoas que saibam ler, compreender, ouvir com atenção, reagir com precisão e manter a ética e a empatia em todos os contextos, sejam em trabalhos escritos, sejam em traduções orais, em ambientes presenciais ou remotos.

E, por experiência, sabemos que, normalmente, um bom tradutor é também um bom intérprete. O domínio da tradução oferece uma base sólida para o desenvolvimento da interpretação, e é por isso que os dois cursos no ¡QuijoTe! dialogam entre si e se complementam.

E para facilitar a vida de quem desejar fazer os dois cursos em paralelo, igualamos o tempo de formação. O resultado disso é que, nas três turmas que estão para se formar, e nas turmas que iniciaram recentemente o período letivo, temos estudantes cursando tradução e interpretação.

Falamos em quatro pilares e gostaríamos de enfatizar a importância que damos à educação continuada, pois consideramos fundamental para a evolução de quem se dedica à mediação linguística entre culturas. A prática constante, o desejo de atualizar conhecimentos e o aprendizado de novas ferramentas contribuem enormemente para o crescimento do profissional da tradução e da interpretação. Acreditamos que

situaciones reales: reuniones cumbre y conferencias internacionales, visitas técnicas, eventos académicos, entrevistas y testimonios. Como herramientas didácticas utilizamos grabaciones, videos, textos y, siempre que es posible, invitados externos para simulaciones en vivo. También damos prioridad al trabajo con vocabulario especializado y expresiones idiomáticas, preparando a los alumnos para los desafíos lingüísticos y culturales de la profesión.

LA PRÁCTICA SUPERVISADA: LA ÚLTIMA FRONTERA

Un gran diferencial en la formación en interpretación que ofrecemos es la práctica supervisada. A pesar del nombre, no se lleva a cabo fuera de los espacios virtuales del curso. La práctica constituye la fase final del programa, con una duración de dos meses completos, en la que los estudiantes actúan en parejas como intérpretes en contextos desafiantes y variados.

Esta etapa es uno de los momentos más esperados de la formación, ya que ofrece la oportunidad de interpretar conferencias reales impartidas por invitados especiales —especialistas en diversas áreas del conocimiento como Derecho, Salud Pública, Vigilancia Sanitaria, Relaciones Internacionales, Ingeniería, Medio Ambiente, Literatura, Historia del Arte, Fotografía y muchas otras—, en presentaciones en línea y en vivo. Los estudiantes se alternan en la cabina remota y sus interpretaciones son evaluadas en tiempo real por uno de nuestros docentes. Además de ser una oportunidad de aprendizaje profundo, esta práctica permite que los estudiantes pongan a prueba sus propios límites —físicos y mentales—, estén atentos a la calidad del mensaje entregado al público (las conferencias son abiertas a toda la Comunidad ¡QuijoTe!) y aprendan a gestionar lo inesperado, recibiendo retroalimentación tanto por parte del docente como de los propios invitados.

Es en este ambiente de práctica intensiva, conducido con total seguridad, donde muchos estudiantes descubren su propia voz como intérpretes y ganan confianza para actuar profesionalmente. La experiencia ha resultado ser transformadora, tanto desde el punto de vista técnico como humano.

Por eso insistimos en que, más que entrenar técnicas de traducción e interpretación, lo que buscamos en nuestra escuela es formar personas que sepan leer, comprender, escuchar con atención, reaccionar con precisión y mantener la ética y la empatía en todos los contextos, ya sea en trabajos escritos o en traducciones orales, en entornos presenciales o remotos.

Y, por experiencia, sabemos que, normalmente, un buen traductor también es un buen intérprete. El dominio de la traducción ofrece una base sólida para el desarrollo de la interpretación, y por eso ambos cursos en ¡QuijoTe! dialogan entre sí y se complementan. Y para facilitar la vida de quienes desean cursar ambas formaciones en paralelo, hemos igualado la duración de los programas. El resultado es que, en las tres cohortes que están por graduarse, y en las cohortes que comenzaron recientemente el nuevo período académico, tenemos estudiantes cursando simultáneamente traducción e interpretación.

Hablamos de cuatro pilares, y quisiéramos enfatizar la importancia que le damos a la educación continua, pues la consideramos fundamental para la evolución de quienes se dedican a la mediación lingüística entre culturas. La práctica constante, el deseo de actualizar conocimientos y el aprendizaje de nuevas herramientas contribuyen enormemente al crecimiento del profesional de la traducción y la interpretación. Creemos que este trayecto formativo no termina con el fin del curso: continúa

essa jornada de formação não termina com o fim do curso–ela continua na troca com colegas, na curiosidade intelectual e na abertura ao novo.

Por isso, passamos a oferecer os cursos de qualificação. O portfolio desses cursos inclui o de língua portuguesa para tradutores e intérpretes, mercado editorial e tradução literária, tradução para legendas, dublagem e audiodescrição, tradução jurídica e tradução em áreas da saúde, que inclui a medicina humana e veterinária, odontologia, farmácia e pesquisa clínica. Além desses cursos, oferecemos oficinas sobre os mais variados temas relacionados à prática da tradução e interpretação, para que os integrantes do grupo Alumni possam manter a prática constante até que estejam integralmente inseridos no mercado de trabalho.

CONCLUSÃO

O nosso compromisso no segmento de ensino é justamente com a formação das pessoas que irão se dedicar à escuta atenta, ao rigor técnico, à sensibilidade humana e à mediação entre mundos.

Sabemos que traduzir e interpretar é muito mais do que trocar palavras: é tornar compreensível o outro, é aproximar o que parecia distante. Seguiremos, com o QuijoTe, cultivando essa rede de pontes–tecida com textos, vozes, gestos e coragem–certos de que formar tradutores e intérpretes é, no fundo, formar construtores de entendimento em um mundo que precisa, mais do que nunca, de diálogo.

Nós, do ¡QuijoTe!, enxergamos o mundo como um grande arquipélago–composto de ilhas de idiomas que viveriam isoladas se não fosse o trabalho dos tradutores e intérpretes. São eles os verdadeiros criadores de pontes entre culturas, os artífices que se tornam mensageiros das palavras que traduzem, das ideias que irão propagar, das mensagens que irão transmitir àqueles que não conseguem ler além do seu próprio idioma. Corroboramos o pensamento de José Saramago, a quem se imputa e ideia de que, se os autores fazem da literatura algo nacional, são os tradutores os responsáveis pela sua universalização, para que o conhecimento esteja disponível em todas as ilhas monolíngues do nosso imaginário arquipélago.

UM MINUTO DE COMERCIAL...

O Curso ¡QuijoTe! oferece cursos regulares para a formação de tradutores e intérpretes nos pares de idiomas espanhol-português, inglês-português, além de um curso para a formação na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ao longo desse curto, porém intenso, período formamos 21 turmas e estamos com cinco turmas em andamento. Para os cursos regulares, anualmente, os períodos letivos começam em abril e setembro, e as matrículas são dinâmicas e feitas pelo site do curso.

Além desses cursos, no segundo semestre do ano, oferecemos cursos de qualificação em áreas específicas do conhecimento, que já foram mencionadas neste artigo. Para esses cursos as inscrições em listas de espera podem ser feitas pelo site do curso.

Assim, convidamos os leitores a buscar informações detalhadas sobre os nossos cursos regulares, de qualificação, sobre os Cafés ¡LiteranTes!, oficinas de tradução e interpretação, rodas de conversa e tantas outras atividades que oferecemos ao longo do ano escolar encontram-se disponíveis em nossa página na internet www.cursoquijote.com.br.

Se deseja ingressar na carreira de tradução e interpretação de espanhol, venha para o ¡QuijoTe! E convide seus amigos e amigas para percorrermos juntos o caminho do sucesso.

en el intercambio con colegas, en la curiosidad intelectual y en la apertura a lo nuevo.

Por ello, pasamos a ofrecer cursos de cualificación. El portafolio de estos cursos incluye lengua portuguesa para traductores e intérpretes, mercado editorial y traducción literaria, traducción para subtítulos, doblaje y audiodescripción, traducción jurídica y traducción en áreas de la salud, incluyendo medicina humana y veterinaria, odontología, farmacia e investigación clínica. Además de estos cursos, ofrecemos talleres sobre los más variados temas relacionados con la práctica de la traducción y la interpretación, para que los integrantes del grupo Alumni puedan mantener la práctica constante hasta lograr su plena inserción en el mercado profesional.

CONCLUSIÓN

Nuestro compromiso en el ámbito educativo es precisamente con la formación de personas que se dedicarán a la escucha atenta, al rigor técnico, a la sensibilidad humana y a la mediación entre mundos. Sabemos que traducir e interpretar es mucho más que intercambiar palabras: es hacer comprensible al otro, es acercar lo que parecía distante.Seguiremos, con QuijoTe, cultivando esta red de puentes —tejida con textos, voces, gestos y valentía— convencidos de que formar traductores e intérpretes es, en el fondo, formar constructores de entendimiento en un mundo que necesita, más que nunca, del diálogo.

Nosotros, en ¡QuijoTe!, vemos el mundo como un gran archipiélago —compuesto por islas de idiomas que vivirían aisladas si no fuera por el trabajo de los traductores e intérpretes. Son ellos los verdaderos creadores de puentes entre culturas, los artífices que se convierten en mensajeros de las palabras que traducen, de las ideas que propagan, de los mensajes que transmiten a quienes no pueden leer más allá de su propio idioma. Corroboramos el pensamiento de José Saramago, a quien se le atribuye la idea de que, si los autores hacen de la literatura algo nacional, son los traductores los responsables de su universalización, para que el conocimiento esté disponible en todas las islas monolingües de nuestro imaginario archipiélago.

UN MINUTO COMERCIAL...

El Curso ¡QuijoTe! ofrece cursos regulares para la formación de traductores e intérpretes en los pares de idiomas español-portugués, inglés-portugués, además de un curso para la formación en Lengua Brasileña de Señas (Libras). A lo largo de este corto, pero intenso, período hemos formado 21 cohortes y actualmente tenemos cinco grupos en curso. Para los cursos regulares, los períodos lectivos comienzan anualmente en abril y septiembre, y las matrículas son dinámicas y se realizan a través del sitio web del curso.

Además de estos cursos, en el segundo semestre del año ofrecemos cursos de cualificación en áreas específicas del conocimiento, que ya han sido mencionadas en este artículo. Para estos cursos, las inscripciones en listas de espera pueden realizarse también a través del sitio web del curso.

Así, invitamos a los lectores a buscar información detallada sobre nuestros cursos regulares, de cualificación, sobre los Cafés ¡LiteranTes!, talleres de traducción e interpretación, círculos de conversación y tantas otras actividades que ofrecemos a lo largo del año escolar, disponibles en nuestra página web: www. cursoquijote.com.br.

Si deseas ingresar en la carrera de traducción e interpretación de español, ven a ¡QuijoTe! e invita a tus amigos y amigas para recorrer juntos el camino del éxito.

CONVERSAMOS COM JULIANA

MAESTER DE ‘VHE-VAMOS

A HABLAR ESPAÑOL’ CONVERSAMOS

CON JULIANA

MAESTER DE ‘VHE-VAMOS

A

HABLAR ESPAÑOL’

Escaneie o QR code para mais informaçōes.

Com Juliana Maester e Leandro Pacheco da VHE somos amigos e colegas de trabalho há algum tempo, e nosso tema, pelo qual nos conhecemos e começou nossa amizade, é o ensino da língua espanhola, e tudo o que gira em torno dela: a cultura, literatura, e as culturas e literaturas da língua espanhola.

E o interessante de falar com o Vamos a Hablar Español e com Juliana, é que ela sempre vem com uma novidade; ela é uma novidade.

JV: Juliana, você tem, de fato, uma novidade sobre o que já falamos em um evento que fizemos em Librería Española e Hispanomericana, que é: as salas de ensino tradicional que, para além dos métodos - porque há muitos para o ensino de línguas em geral, e também para o Espanhol-, mas independentemente disso, sempre houve algo muito comum, o que na Espanha ou na Argentina são as Academias de Línguas, e que aqui são escolas particulares nas quais se aprende espanhol ou inglês. Mas no caso do espanhol, durante décadas, -e nós, da Librería Española e Hispanomericana temos mais de 40 anos de experiência nissoeram grupos de alunos, separados pelo conhecimento da língua, que viviam um processo que anos atrás não seguia as regras que hoje são os passos do ensino: A1, A2, B1, B2, C1 e C2, que ainda não existiam na comunidade europeia e, portanto, as diferentes línguas eram ensinadas em apenas três níveis: básico, intermediário e avançado ou superior. Isso era tudo; foi apenas quarenta anos atrás que começaram a existir editoras educativas dedicadas ao espanhol com força e que pegaram a onda que estava chegando com muito bons resultados do inglês e francês.

Mas como uma exigência do mercado, a primeira demanda foi o inglês, em seguida o francês e depois rapidamente o espanhol, que nos últimos 25 anos, rapidamente tomou o lugar do francês, praticamente o deslocou, e cresceu a tal ponto que hoje o único elemento que temos para medir o grau de interesse público, especialmente dos jovens adultos em sua primeira experiência de trabalho, é quando você vão escolher o teste que está substituindo o Vestibular de entrada nas universidades no Brasil, o ENEM -Exame Nacional do Ensino Médio-, tem um 60 a 65% que preferem o espanhol ao inglês.

Em geral, as pessoas dizem “Eu prefiro porque é mais fácil”, muitos dizem “Eu prefiro porque é uma língua que não só está mais próxima do português, mas porque rodeia todo o Brasil, e é a primeira língua de contato com uma cultura estrangeira”, etc.

Agora, para o que eu ia dizer, e não me desvio, mas continuo pensando no assunto, é que Vamos a Hablar Español surge como uma novidade, pois é a primeira experiência muito boa de um canal pelo YouTube, -embora você use todos os canais de mídia social existentes- mas é a primeira escola, com um grande número, no início podíamos dizer que eles eram seguidores e

Con Juliana Maester y Leandro Pacheco de VHE somos amigos y colegas de trabajo desde hace bastante tiempo, muchos años, y nuestro tema, por el cual nos hemos conocido e iniciado nuestra amistad también, es la enseñanza del idioma español, y con todo lo que gira alrededor: la cultura, la literatura, que también se tiene que decir en plural, las culturas y las literaturas del idioma español.

Lo interesante al hablar con Vamos a Hablar Español y con Juliana, es que ella viene con una novedad; ella es una novedad.

JV: Juliana, vos tenés una novedad sobre la que ya hemos conversado incluso en un evento que hicimos en Librería Española e Hispanoamericana, que es: hay una enseñanza tradicional que, al margen de los métodos -porque hay muchos para la enseñanza de idiomas en general, y también los hay para el español-, pero independientemente de esto, siempre hubo algo muy común, lo que en España o en Argentina se llaman las Academias de Idiomas, y que aquí son escuelas particulares en las que se aprende español, o inglés. Pero en el caso del español, hubo reglas durante décadas, y en Librería Española e Hispanoamericana tenemos una experiencia de más de 40 años en esto, porque era lo que se hacía: eran grupos de alumnos, separados por el conocimiento del idioma, que irían a tener un proceso que, 30 o 40 años atrás, no seguía las normas que son hoy los escalones en la enseñanza: el A1, A2, B1, B2, C1 y C2, porque eso todavía no existía en la comunidad europea, y por lo tanto los diferentes idiomas se enseñaban con solo tres niveles y nada más, uno básico, un intermedio, y un avanzado o superior. Esto era todo; las editoriales pedagógicas destinadas al español empezaron a existir con fuerza hace 40 años nada más; tomaron la onda que venía muy bien del inglés y el francés, y ahí paramos porque en Brasil otros idiomas nunca crecieron demasiado, a no ser en comunidades que estudian japonés, alemán o italiano, porque tienen que ver con los orígenes de esas inmigraciones.

Pero como demanda, -y digámoslo con todas las palabras,- del mercado, lo primero era el inglés, en una época lo fue el francés, y luego el español rápidamente, en los últimos 25 años, muy rápido tomó el lugar del francés, prácticamente lo desplazó, y creció al punto que hoy el único elemento que tenemos para medir el grado de interés del público, sobre todo de los jóvenes adultos en su primera experiencia de trabajo, es que cuando va a elegir la prueba que está reemplazando a los vestibulares para la entrada a las universidades en Brasil, el ENEM -Examen Nacional de la Enseñanza Media-, hay un 60 a 65% que prefiere el español en contraposición al inglés. En general, la gente dice “lo prefiero porque es más fácil”, muchos dicen “lo prefiero porque es un idioma que no solo es más cercano al portugués, sino porque rodea a todo Brasil, y es la primera lengua de contacto con un idioma extranjero, etc. Ahora, a lo que yo

depois alunos efetivos, que põe uma marca no que falávamos há cinco anos anos, num encontro presencial na Librería Española, com um grande número de pessoas da sua área, que trabalham virtualmente. Ou seja: o ensino virtual tomou grande parte do espaço do presencial, o mais clássico. Muitos dirão: “Para mim é mais fácil ver, ouvir e ler em todos os canais virtuais, mas se eu quiser tirar dúvidas, etc, eu gostaria de ter um professor para conversar pessoalmente.

Eu coloco como vejo a realidade, você vai dizer se é errado, ou se é uma medição equivocada, ou se são percepções diferentes; por exemplo, se uma pessoa mais velha prefere não entrar no mundo virtual e fica só com o presencial; se o ensino virtual é uma coisa mais de uma juventude, que busca o mais rápido, etc; essas são as perguntas que ficam no ar para você contar a sua história e a do Leandro, que é a de Vamos a Hablar Español, e agora a de uma equipe também da história da sua filhinha, porque tudo isso é formar famílias, não é?

JM: Sim, é impossível ter um trabalho que não seja feito com muita dedicação, e que não se faça com uma visão de família, certo? É muito complicado que se faça separadamente, certo?

Exatamente, Javier, é um prazer estar aqui, e eu amo muito nossas conversas e o que podemos falar deste nosso universo, do espanhol em Brasil, sobretudo. Você disse que somos uma novidade; não sei se tanto, mas talvez sim, uma das poucas escolas que estão fazendo isso consistentemente, porque estamos aqui há oito anos: ainda neste mês comemoramos oito anos de Vamos a Hablar Español e é uma alegria, porque estamos trabalhando nisso, em transformar o ensino, o estudo online, para que seja algo verdadeiramente natural e democrático.

Não foi assim no começo, quando comecei em 2017 e ainda dava aulas presenciais. Você mencionou que tenho um canal no YouTube e nas redes sociais. sociais; sim, eu dou aulas online, mas tudo começou em 2020, com a pandemia, e bem, temos uma mentalidade totalmente mudada hoje.

Agora é o mais natural pensar em cursos de línguas on-line, e as mídias sociais são para isso. O que eu amo e o que fazemos aqui é realmente democratizar o ensino.

Claro, você precisa de acesso à Internet, mas qualquer pessoa que tenha acesso a ela agora pode aprender um idioma de diferentes maneiras, acessando YouTube, Instagram, Facebook, ou qualquer outra, tanto faz, e é isso que fazemos aqui, ou na verdade é muito do que fazemos, que é conteúdo semanal no YouTube, há oito anos, no Instagram também há vários anos, um conteúdo diário também, democratizando verdadeiramente o ensino do espanhol para brasileiros; e não só os brasileiros, porque temos muitos portugueses, moçambicanos, angolanos também que nos seguem e às vezes se tornam nossos alunos.

Será tudo isso é algo que afeta apenas os jovens que estudam online? Não, a verdade é que não. Nosso maior público de alunos, seguidores que se tornam nossos estudantes, têm mais de 25 anos; nós temos uma maioria entre 25 e 45 anos, mas também estudantes mais velhos.

E o que vemos aqui? É justamente a possibilidade de que alguém que mora, por exemplo, numa cidade pequena, e sem o acesso que tem quem mora numa cidade grande como São Paulo, onde estamos, com diferentes oportunidades de estudo, pessoas de diferentes lugares- também pode acessar uma comunidade, não apenas um curso, mas uma comunidade de pessoas que estão em todos os lugares, no Brasil e no exterior, e ter essa experiência de estudar o idioma. E isso é ótimo, não é? Porque hoje, com

iba, y no me desvío, sino que sigo pensando en el tema, es que Vamos a Hablar Español, aparece como una novedad, porque es la primera gran experiencia de un canal a través del YouTube, -sobre todo, aunque Uds. usan todos los canales que existen de redes sociales, etc.- pero es la primera escuela, con una gran cantidad, al principio podríamos decir que eran seguidores, y luego de alumnos efectivos, que le pone un sello a aquello que hablamos hace ya unos cinco años, en un encuentro presencial en Librería española, con una cantidad grande de gente, sobre todo de tu área, de los que trabajan virtualmente. O sea: la enseñanza virtual tomó gran parte el espacio de la presencial, la más clásica; muchos dirán, “a mí me resulta más fácil ver, escuchar, y luego leer a través de canales virtuales, pero si yo quiero intercambiar dudas, etc., me gustaría tener un profesor con el cual hablar personalmente. Bueno, ahí te coloqué un cómo veo la realidad, me dirás si estoy equivocado, o si tengo una medida equivocada, y luego las diferentes percepciones; por ejemplo, si una persona mayor prefiere no entrar en lo virtual y quedarse solo con lo presencial, si es una cosa más de una juventud, que busca lo más rápido, en fin, estas son las preguntas que quedan en el aire para que cuentes tu historia y de Leandro, que es la de Vamos a Hablar Español, y ahora de un equipo, aparte de la historia de tu hijita, porque todo esto va formando familias, ¿no?

JM: Sí, es imposible tener un trabajo una empresa que no se hagan con mucha dedicación, que no se realicen con una visión familiar incluso, ¿no? Es muy complicado hacerlo separado, ¿no? Exactamente, Javier, es un gusto estar acá, me encantan mucho nuestras conversaciones siempre y lo que podemos hablar acerca de este universo nuestro, del español en Brasil, sobre todo.

Me dijiste que somos una novedad; no sé si es una novedad, pero tal vez sí, tal vez una de las pocas escuelas que lo están haciendo consistentemente, tal vez eso, porque estamos ya hace ocho años en este trabajo, incluso este mes celebramos ocho años de Vamos a Hablar Español, una alegría, y estamos trabajando en esto, de transformar la enseñanza, el estudio en línea, para que sea realmente algo natural y democrático; no era así al inicio, cuando empecé en el 2017, y todavía daba clases presenciales también.

Comentabas que tengo un canal en YouTube, y en las redes sociales; doy clases en línea, pero todo empezó en 2020, con la pandemia, y bueno, tenemos una mentalidad totalmente cambiada hoy día; ahora es lo más natural pensar en cursos de idiomas en línea, y las redes sociales están para esto. Lo que me encanta y lo que hacemos acá es que realmente estamos democratizando la enseñanza; claro, se necesita un acceso a la Internet, pero cualquiera que tenga acceso a ella ya puede aprender un idioma de diferentes maneras, accediendo a YouTube, Instagram, Facebook, o lo que sea, y eso es lo que hacemos acá, o en realidad es mucho de lo que hacemos, que son contenidos en YouTube semanales, hace ocho años, en Instagram hace también varios años ya, contenidos diarios también, y realmente democratizando la enseñanza del español a brasileños; y no solo brasileños, porque tenemos muchos portugueses, mozambicanos, angolanos también que nos siguen, y a veces se vuelven alumnos nuestros. ¿Será todo esto algo solamente de los jóvenes que estudian por internet? La verdad es que no.

Nuestro mayor público de alumnos, seguidores que se convierten en alumnos, tienen una edad superior a los 25; tenemos una mayoría entre 25 y 45, pero también alumnos con más edad. ¿Y qué vemos acá? Es justamente la posibilidad de que alguien que vive, por ejemplo, en una ciudad pequeña, y sin el acceso que tiene quien vive en una gran ciudad como São Paulo, en la que estamos, con diferentes oportunidades de estudios,

a popularidade que ganhamos no YouTube, já temos mais de 400.000 seguidores, com estudantes de todo o mundo, e fico muito surpresa quando vejo alunos em Grécia, ou em outros diferentes países; na verdade nós os temos em todo o mundo, mas os brasileiros são a grande maioria, claro.

Então eu acho que começamos, sim, com uma novidade, tipo dizendo “Olha, você sabe do que se trata um curso online? você sabe como funciona a possibilidade de ingressar em uma comunidade com pessoas de todo o mundo, ou pelo menos de todo o Brasil?” A facilidade de poder estudar no seu tempo, em casa, no seu conforto, isso foi uma grande novidade, mas hoje já é uma realidade. Além do mais, também democratizamos o estudo com a questão do custo; de maneira geral os custos para um aluno se inscrever num curso presencial tradicional são muito superiores aos de um curso online, que custa menos.

Então, acho que continuaremos num mundo onde temos alunos que preferirão um modelo ou outro, o que é natural, sempre haverá; mas já saímos da novidade e sim, temos justamente esse modelo de estudo que tem se projetado como algo bastante natural; É muito raro que alguém hoje não pense em um curso de idioma online, porque já é bastante comum, e a verdade é que tenho muito orgulho disto, que começámos há 8 anos, meu marido Leandro e eu, e hoje somos uma equipe de 15 pessoas em geral, muito dedicadas a fazer o Brasil falar espanhol; essa é a nossa ideia, entendendo que todos nós, brasileiros, devemos aprender espanhol como primeira língua, acredito que muito antes de você começar a estudar inglês ou qualquer outro idioma, Devemos aprender espanhol primeiro, porque são línguas irmãs: os alunos que se inscrevem no ENEM, como você comentou, preferem o espanhol justamente por serem línguas próximas, e infelizmente -não tenho os números aqui-, mas apesar de que a maioria escolhe espanhol no ENEM, não são eles os que têm um bom resultado; a verdade é que quem escolhe o inglês, talvez porque estudaram mais, mas tiveram um resultado melhor do que aqueles que escolheram o espanhol, olha que loucura; Se pudéssemos democratizar ainda mais e se você poder estudar espanhol em todo o Brasil, esses resultados serão diferentes. É isso que esperamos, e o que buscamos.

JV: Perfeito, agora dois comentários que podem parecer bobos, mas eles parecem importantes para mim. Primeiro, como é que um brasileiro chega a ter um domínio tão grande e uma performance tão correta no uso do espanhol como no seu caso? Não é apenas um elogio, mas é um incentivo para você comentar sobre isso.

Porque é claro que tenho minhas próprias opiniões, mas ao mesmo tempo, como estrangeiro que vive aqui há quase 46 anos, percebo as dificuldades. Claro que você e eu sabemos que quem fala espanhol tem mais dificuldades em acessar a fonética do português e o porquê; nós sabemos bem disso; assim como o contrário, quem fale português ao acessar o espanhol tem algumas facilidades em termos fonéticos, sabemos disso. Então também não há problema em você dizer isso porque até agora só você e eu sabemos do tema aqui nesta entrevista.

Mas, como no seu caso e na sua experiência pessoal você conseguiu tudo isso? E como você está tentando trazer isso para seu modelo de ensino? É evidente que isso faz parte do ensino, como é que se faz?

Você passa essa mesma experiência de sucesso para os outros? Ou seja, o seu caso é uma amostra de resultados muito bons, e obviamente você está transmitindo às pessoas esse seu conhecimento prático. Essa é a primeira pergunta, farei a segunda depois.

gente de distintos lugares pueden acceder a una comunidad, no solo un curso, pero a una comunidad de gente que está por todas partes, en Brasil y afuera, y tener esta experiencia de estudio del idioma. Y esto es genial, ¿no? Porque hoy día, con la popularidad que hemos ganado en YouTube, ya sumamos más de 400.000 seguidores, con alumnos en todo el mundo, y me quedo muy sorprendida cuando veo alumnos en Grecia, o en diferentes países; los tenemos en realidad en todo el mundo, brasileños, la gran mayoría, claro.

Entonces creo que empezamos, sí, con una novedad, como diciendo “mira, ¿sabes de qué se trata un curso en línea, ¿sabes cómo funciona la posibilidad de unirse a una comunidad con gente de todo el mundo, o de todo Brasil por lo menos?”. La facilidad de poder estudiar en tu tiempo, en casa, en tu comodidad, esto era toda una novedad, pero hoy día ya es una realidad. Además, también democratizamos el estudio con el tema del costo; de manera general los costos para que un alumno pueda suscribirse a un curso presencial tradicional son mucho más altos que lo de un curso en línea, cuyos costos son menores.

Entonces creo que seguiremos en un mundo en el que tenemos alumnos que van a preferir un modelo u otro, lo que es natural, siempre va a haber; pero ya salimos de la novedad y sí, hemos planteado justamente este modelo de estudio como algo bastante natural; es muy raro alguien que hoy día no piense en un curso de idioma en línea, porque ya es bastante común, y la verdad que tengo mucho orgullo de esto, que hemos empezado hace 8 años mi esposo Leandro y yo, hoy ya somos un equipo de 15 personas en total, con mucha gente muy dedicada a hacer que el Brasil hable español; esa es nuestra idea, al entender que todos nosotros, los brasileños, deberíamos aprender español como primer idioma; creo que mucho antes de empezar a estudiar inglés o cualquier otro, deberíamos aprender el español primero, porque son lenguas hermanas, los estudiantes que se suscriben al ENEM, como habías comentado, prefieren el español justamente por ser similares, y desafortunadamente, no tengo los números acá, pero a pesar de que la mayoría elige el español en el ENEM, no son los que tiene un buen resultado; la verdad los que eligen el inglés, tal vez porque lo hayan estudiado más, tienen un resultado mejor que los que eligen el español, mira que locura; si pudiéramos democratizar aún más el estudio del español en todo Brasil esos resultados serían diferentes y es lo que esperamos, es lo que buscamos.

JV: Perfecto, ahora dos comentarios que pueden parecer bobos, pero me parecen importantes. Primero, ¿cómo una brasileña o brasileño llega a tener un dominio tan grande y un desempeño tan correcto en el uso del español como en tu caso? No es solo un elogio, sino que es una incitación a que comentes sobre esto, porque claro, tengo mis propias opiniones, pero al mismo tiempo, como extranjero que vive aquí hace casi 46 años, me doy cuenta de las dificultades. Claro que vos y yo sabemos que quien habla español tiene más dificultades para el acceso a la fonética del portugués y por qué; lo sabemos bien; así como al revés, quien habla portugués al acceder al español tiene algunas facilidades en términos de fonética, eso lo sabemos. Entonces también, no hay problema en que lo digas porque hasta ahora lo sabemos vos y yo nada más aquí en esta entrevista. Pero ¿cómo en tu caso y en tu experiencia personal lograste todo esto? y también, ¿cómo estás tratando de llevarlo a tu modelo de enseñanza? Es evidente que eso es parte de la docencia, que es un sacerdocio, ¿cómo uno le pasa a los otros esa propia experiencia de éxito? O sea, tu caso es una muestra de muy buenos resultados, y obviamente a partir de ahí les estás pasando a la gente estos, tus conocimientos prácticos. Esta es la primera pregunta, la segunda te la hago luego.

JM: Vamos ver. Sim, acho que tive o privilégio de aprender, além de ter algumas facilidades com a fonética, que é algo que me dizem muito. Mas o que eu costumo sempre dizer para meus alunos é que o mais importante é que se tenha a consciência da importância do contato com a língua o máximo possível, certo? Então, é claro, o resultado que tenho agora vem depois de quase 20 anos em contato com o idioma.

Obviamente não foi assim no começo, certo? Isso é algo que os estudantes me perguntam muito e me pedem muito já com dois, três meses de estudo, buscando um resultado semelhante ao que temos com 20 anos de estudo. Obviamente é preciso paciência, mas acima de tudo estar imersos, sempre com a língua ao redor, diariamente.

Acho que essa é a ideia. Então, estando realmente imerso, em contato o máximo possível com o idioma. E que nós brasileiros temos mais facilidades com a fonética, sim, é uma realidade e se alguém quiser, se você procurar com afinco, sim, isso é totalmente possível, não é? ser capaz de entender pequenos detalhes: o que não se diz em espanhol: não se diz café, com a letra é aberta, mas café, com um acento fechado, certo?

É um exemplo básico. Poder ver esses pequenos detalhes na fonética, é o que as pessoas procuram quando querem falar como um nativo. Mas ainda assim é importante mencionar que, como professor, o que mais me preocupa é que o aluno consiga se comunicar. Isto é o mais importante.

Então, afinal, ter uma pronúncia perfeita não é o que fará você se comunicar bem. Não é isso o que faz que tenha um bom resultado num emprego em que você tem que fale espanhol, ou para que você possa viajar com tranquilidade. Porque se busca a perfeição e ela demora a chegar, ou às vezes não chega, e ok, isso não é um problema.

O mais importante é que podemos nos comunicar e essa comunicação está estabelecida, que é a coisa mais importante. Mas se alguém procurar talvez uma pronúncia muito bonita, muito parecida com a de um hispânico nativo, ok; o que também leva a outra pergunta complicada: de qual nativo hispânico estamos falando? De que país? De qual região? É muito complicado, mas é possível. Se você quer obter um resultado sempre melhor ainda, devemos continuar estudando, manter contato com a língua, e a verdade é que quando nos apaixonamos pela língua, -que é nosso caso- é fácil, certo?

JV: Essa era a outra, ou melhor, há outra questão, mas essa era uma “subpergunta” que eu queria te fazer, e que tem a ver com isso. Eu sei, porque nos conhecemos há muito tempo, que você tem viajado por vários países, principalmente Argentina, Chile e depois.

Você viajou para a América Central, então você viveu um pouco de todos os sotaques e as variantes que se refletem num mundo vasto, como os 500 milhões de falantes nativos do espanhol, ou 600, quando adicionamos os alunos, os bilíngues, que estão naquela área que não é só uma fronteira geográfica, mas linguística e cultural, como o próprio spanglish e o portunhol dos territórios fronteiriços do Brasil.

Então tudo isso dá uma dimensão de como a língua espanhola é algo muito grande, algo enorme. Ao mesmo tempo você disse algo muito interessante e que, como professor originário do inglês, é um comentário que sempre ouvi dizer, e não está correto, ou seja, qual inglês? Não há inglês “correto”. Ninguém estuda apenas inglês britânico, ou o dos Estados Unidos. Ah, mas qual inglês norte-americano? Aquele da Costa Leste, o dos

JM: A ver. Sí, creo que tuve el privilegio de haber aprendido y tener también algunas facilidades con la fonética, sobre todo, que es algo que me dicen muchísimo. Pero lo que suelo decir siempre a mis alumnos es que lo más importante es que uno tenga la conciencia de lo importante que es estar en contacto con el idioma lo máximo posible, ¿no?

Entonces, claro, ese resultado que tengo en este momento viene luego de casi 20 años en contacto con la lengua. Obvio que no lo tenía de esta manera al inicio, ¿no? Eso es algo que los alumnos buscan mucho y me preguntan demasiado con dos, tres meses de estudio, buscando un resultado como los que tenemos nosotros con 20 años de estudio. Obvio que uno necesita paciencia, pero sobre todo estar sumergidos, siempre con el idioma alrededor de uno, todos los días.

Creo que esa es la idea. Entonces, estar realmente inmerso, en contacto lo máximo posible. Y eso de que los brasileños tenemos más facilidades con la fonética, sí, es una realidad y si uno quiere, si uno busca, esto es totalmente posible, ¿no? Poder entender detallitos que uno no dice en español: no se dice café, con la letra é abierta sino café, con acento cerrado ¿no? Ejemplo básico. Poder organizar, arreglar estos detallitos en la fonética, creo que es eso lo que la gente tanto busca para hablar como un nativo. Pero aun así es importante comentar que a mí, como profesora, lo que más me preocupa es que el alumno pueda comunicarse. Esto es lo más importante.

Entonces, al fin y al cabo, tener una pronunciación perfecta no es lo que va a hacer que te comuniques. No es eso lo que hace que tengas un buen resultado al tener un trabajo en el que tienes que hablar español, o que puedas viajar con tranquilidad. No, lo más importante es que te dediques al estudio y entiendas los detalles de la lengua, que puedas crear tus propias frases, pero no a la perfección.

Porque uno busca perfección y tarda en llegar, o a veces no se llega, y ok, eso no es un problema. Lo más importante es que podamos comunicarnos y que la comunicación se establezca. Eso es lo más importante. Pero si uno busca tal vez una pronunciación muy bonita, muy similar a un nativo hispano, lo que también lleva a una pregunta complicada, porque ¿de qué nativo hispano estamos hablando? ¿De qué país? ¿De qué región? Es muy complicado, pero sí que es posible. Si uno quiere llegar a un resultado cada vez mejor, hay que seguir estudiando, seguir en contacto con el idioma, y la verdad es que cuando uno se enamora del idioma, -que es nuestro caso, ¿no? - es fácil.

JV: Esta era la otra, mejor dicho, hay otra pregunta, pero esta era una “subpregunta” que te quería hacer, y que tiene que ver con esto. Yo sé, porque nos conocemos hace un buen tiempo, que has viajado por varios países, sobre todo Argentina, Chile, y luego viajaste a América Central, con lo cual has tomado un poco de todos los acentos, y las variantes que se reflejan en un mundo vastísimo, como son los 500 millones de hablantes nativos del español, o 600 cuando les agregamos los estudiantes, los bilingües, que están en aquella zona que no es solamente de frontera geográfica, sino idiomática y cultural, como el propio spanglish y el portuñol de los territorios fronterizos de Brasil. Entonces todo esto te da una dimensión de lo que es el idioma como cosa muy grande, el español como algo enorme.

Al mismo tiempo dijiste algo muy interesante y que, como profesor originalmente de inglés, es un comentario que en general siempre oí, y que no es correcto, que es decir ¿cuál inglés? No hay inglés “correcto”.

Nadie estudia solo el inglés británico, o el estadounidense.

filmes? O do Woody Allen, o mais fácil de entender? Ou o do lado oeste, ou o do centro dos Estados Unidos, o mais difícil? Qual deles? Finalmente, sabemos que nem a Austrália nem o Canadá têm muito peso nisto, porque o inglês é basicamente uma língua de dois países. No caso do espanhol, não. O espanhol tem uma gama tão ampla e cada um desses países está ligado a experiências fortes.

Pode-se dizer, por exemplo: a Nicarágua é um país pequeno, mas tem um grande personagem como Rubén Darío em sua literatura. Pode-se dizer: Cuba também é uma ilha pequena, mas tem grandes nomes na literatura e na cultura.

A Argentina nunca teve um Prêmio Nobel de Literatura, mas tem grandes nomes como Cortázar, Sábato, Borges, etc. E lá temos o Chile, um país estreito, longo, sim, mas tem dois prêmios Nobel e uma tremenda história não só na literatura, mas também nas artes em geral, especialmente na música, no folclore.

Quer dizer, eu percebo, e é por isso queria a sua opinião como professor atual, -porque sou ex-professor de espanhol e inglês, que quando se trata da língua inglesa, ninguém se importa, os professores de inglês não se preocupam muito em dizer: “Oh! foque no inglês britânico, ou no inglês do leste dos Estados Unidos.” Não, o que realmente lhes interessa é a comunicação. Eles sabem se comunicar, fala com sotaque japonês, não há problema. Ele é um japonês que fala bem inglês e se comunica bem em inglês. Com que sotaque? Não importa, ninguém se importa. É assim mesmo, ninguém se importa. E eu acredito que, de alguma forma, o espanhol caminha nesse rumo. Existe uma grande distância entre o espanhol peninsular e o latino-americano, que já não é uma língua única, pois existem muitas variantes do espanhol na América latina. Mas a tendência, na minha humilde opinião, é que isso se torna cada vez mais natural. Não sei o que você pensa, porque você também disse isso, mas eu queria que você completasse.

JM: Sim, quando comecei minha jornada com o espanhol, ouvíamos apenas a variante de Castilla, nada mais. O mesmo acontecia com livros, materiais didáticos e tudo mais. Tudo vinha da Espanha. Mas hoje, e isso me deixa muito feliz, cada vez mais pessoas chegam dizendo: não, quero aprender espanhol. do Chile, da Argentina, do México, do Equador; outro dia me solicitaram um curso de espanhol colombiano.

Cada vez mais acredito que o acesso à Internet, especificamente, os canais do YouTube, streaming, Netflix, os diferentes filmes, as séries de todas as partes, cada vez mais, e também o fato de os brasileiros cada vez estão descobrindo que existem muitas ofertas de emprego e de estudo nos países ao nosso redor; cada vez mais pessoas procuram por variantes e sotaques diferentes, culturas diferentes, precisamente. Então, é algo muito natural. Ainda acontece com gente que pergunta, ah, professora, você ensina espanhol da Espanha ou da Argentina? Como se não houvesse mais nada. Ou às vezes eles dizem, da Espanha ou do México?

Como se não houvesse mais nada. Então é a minha vez de comentar: Não! existem 21 países, aqui falamos uma pouquinho de cada lugar, justamente por termos pessoas com objetivos diferentes, e gosto de pensar que muitos dos meus alunos têm como objetivo aprender espanhol apenas para viajar, para que eu possa estar em um país um ano, em outro no ano seguinte, e ver como vão se comunicar em todos eles.

É isso que quero com meus alunos, que eles possam comunicarse em qualquer um dos muitos países da língua espanhola. Mas, me deixa muito feliz ver que, a cada ano, isso de que só existe o espanhol da Espanha está diminuindo cada vez mais.

Ah, pero ¿cuál inglés estadounidense? ¿El de la costa este, que es el de las películas? ¿El mismo de Woody Allen, el más fácil de entender? ¿O el del lado oeste, o del centro de Estados Unidos, que es más difícil? ¿Cuál de ellos? En fin, ya sabemos que ni Australia ni Canadá tienen mucho peso en esto, porque el inglés es básicamente un idioma de dos países. El caso del español, no. El español tiene una gama tan grande y son tan vinculados cada uno de estos países a experiencias fuertes. O sea, uno puede decir, huy, Nicaragua es un país chiquito, pero tiene un gran personaje como Rubén Darío en su literatura. Uno puede decir, bueno, Cuba es una isla también pequeña, pero tiene grandes nombres en la literatura y en la cultura. Argentina nunca tuvo un Premio Nobel de literatura, pero tiene grandes nombres como Cortázar, Sábato, Borges, etc. Y por ahí vamos, Chile, un país así finito, largo, sí, pero tiene dos Premios Nobel y una tremenda historia no solamente en la literatura, sino también en las artes en general, sobre todo la música, el folklore. O sea, yo noto personalmente, y por eso quería tu opinión de profesora actual, -porque yo soy un ex profesor de español y de inglés-, que cuando se trata de la lengua inglesa, nadie se preocupa, los profesores de inglés, no se preocupan demasiado en decir, “¡ay! preocúpate con el inglés británico, o con el inglés del este de los Estados Unidos”.

No, realmente lo que les interesa es la comunicación. Saben comunicarse, habla con un acento japonés, no hay ningún problema. Es un japonés hablando bien inglés y comunicándose bien en inglés. ¿Con qué acento? No importa, a nadie le interesa. Realmente es así, a nadie le interesa. Y yo creo que, de algún modo, personalmente creo que de algún modo el español va hacia ese camino. Hay un gran corte entre el español peninsular y el español hispanoamericano, que ya no es tampoco un único español, sino que son muchas variantes del español en Hispanoamérica. Pero la tendencia, a mí entender humilde, no soy ningún especialista, o lingüista, es que esto pasa a ser cada vez menos importante. No sé qué te parece, porque lo dijiste también, pero quería que lo redondearas.

JM: Sí, cuando empecé mi jornada con el español, escuchábamos solo la variante española, nada más. Incluso eso pasaba también con los libros, los materiales de enseñanza y todo venía de España. Pero hoy día, y eso me pone muy contenta, cada vez más la gente llega comentando, no, quiero aprender el español de Chile, de Argentina, de México, de Ecuador; el otro día me pidieron un curso con español de Colombia. Cada vez más creo que el acceso a la Internet, justamente, los canales en YouTube, los streamings, Netflix, las diferentes películas, las series de todas partes, cada vez más, y también el hecho de que los brasileños cada vez más descubren que hay tantas oportunidades de trabajo y de estudio en los países a nuestro alrededor; cada vez más la gente busca diferentes acentos, diferentes culturas, justamente. Y entonces, es algo que es muy natural.

Todavía pasa, hay gente que llega y pregunta, ah, pero, profe, ¿enseñas el español de España o el de Argentina? Como si no hubiera nada más. O a veces me dicen, ¿de España o de México? Como si no hubiera nada más. Entonces me toca comentar: ¡No! son 21 países, aquí hablamos un poco de cada lugar, justamente porque tenemos gente con diferentes objetivos, y además me gusta pensar que muchos de mis alumnos tienen la meta de aprender el español simplemente para viajar, así que puedo estar un año en un país, el otro en otro, y pensar en cómo uno se va a comunicar en todos ellos. Entonces eso es lo que me propongo hacer con mis alumnos, que puedan comunicarse en cualquiera de los muchos países.

Pero, me pone muy contenta que, yo creo que cada año, eso de que hay solo español de España, va disminuyendo cada vez más.

ENTREVISTA

ENTREVISTA COM SAMUEL RODRÍGUEZ MEDINA ENTREVISTA CON

SAMUEL RODRÍGUEZ MEDINA

Javier Villanueva entrevista o escritor e professor mexicano de artes e cinema Samuel

Rodríguez Medina

POR JAVIER VILLANUEVA

Javier Villanueva: Samuel: Você e eu escrevemos juntos uma série de contos, “Muerte a la deriva” (Morte à deriva), em 2022. Desde então, sempre acompanhando do Brasil e admirando sua brilhante carreira, venho me perguntando como você conecta as artes visuais com a literatura?

Samuel Rodríguez Medina: O pensador francês Jan Luc Nancy diz em seu livro As Musas que as artes estão em conflito umas com as outras. Ele está certo. Pense em Diego de Velázquez desafiando diretamente os escultores em seu famoso “Cristo Crucificado” e fazendo a ousada declaração de que uma escultura fica melhor pintada do que em sua forma original. Considere um fotógrafo fotografando um edifício contemporâneo para transmitir a perfeição da composição, que na imagem rivaliza com a própria arquitetura.

No entanto, as artes também são afetadas positivamente. Pensemos em qualquer cena de um filme, por exemplo, a famosa cena da moça de vermelho em “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg, que para mim é um ato de arte consumada, onde música, fotografia, literatura, arquitetura, fotografia e atuação encontram um ápice que talvez negue o que Nancy propõe. A maneira com a qual as artes, neste cenário, se transformam em um turbilhão de harmonia é alucinante.

O exemplo mais destacado do nosso tempo é o recente Pedro Páramo, de Rodrigo Prieto, que consegue estabelecer uma nova visão do livro de Rulfo. Parece-me que as artes visuais e a literatura afetam uma à outra positivamente não quando se respeitam, mas quando se confrontam e se perturbam. Quando uma imagem poética não é interpretada em uma pintura, mas sim recebe espaço para se libertar, assim Chagall pinta Dom Quixote, Cristo de El Greco, Santo Antônio de Dalí, Nazarín de Pérez Galdós dos filmes de Buñuel, Kazantzakis de Scorsese e Shakespeare de

Javier Villanueva entrevista al escritor y profesor de artes y cine mexicano Samuel Rodríguez

Medina

Javier Villanueva: Samuel: tú y yo escribimos a cuatro manos una coletánea de cuentos, “Muerte a la deriva”, en 2022. Desde entonces me pregunto, siempre siguiendo desde Brasil y admirando tu brillante trayectoria ¿Cómo vinculas las artes visuales con la literatura?

Samuel Rodríguez Medina: Dice el pensador francés Jan Luc Nancy en su libro Las Musas, que las artes están en conflicto unas con otras. Tiene razón, pensemos en Diego de Velázquez retando directamente a los escultores en su famoso “Cristo crucificado” y lanzando el atrevido mensaje de que una escultura luce mejor en pintura que en su formato original. Pensemos en un fotógrafo retratando un edificio contemporáneo para hacer sentir la perfección de la composición que en la imagen rivaliza con la arquitectura misma.

Sin embargo, las artes también se afectan positivamente, pensemos en una escena cualquiera de una cinta, por ejemplo, la famosa escena de la niña de rojo en “La lista de Schindler” de Steven Spielberg, que para mí es un acto de arte consumado en donde la música, la fotografía, la literatura, la arquitectura, la fotografía y la actuación encuentra un cenit que tal vez niega lo que propone Nancy. La forma en la que en esta escena las artes se transforman en un torbellino de armonía es alucinante.

El ejemplo más alto de nuestro tiempo es la reciente Pedro Páramo de Rodrigo Prieto que logra establecer una nueva visión del libro de Rulfo. Me parece que las artes visuales y la literatura se afectan positivamente no cuando se respetan sino cuando se confrontan y se inquietan mutuamente. Cuando una imagen poética no se interpreta en una pintura, sino que se le da espacio para liberarse, así Chagall pinta al Quijote, el Greco a Cristo, Dalí a San Antonio, Buñuel filma a Nazarín de Pérez Galdós y Scorsese a Kazantzakis y Kurosawa a Shakespeare,

Kurosawa, mas não é uma interceptação estrita, mas sim uma libertação destemida. Ao libertar a imagem poética e assumir essa libertação, a imaginação é ativada em sua potência máxima e então a imagem evolui e é incorporada a uma nova vida sem negar sua essência.

Nos projetos em que tenho trabalhado recentemente, especialmente aqueles que combinam literatura clássica com pintura e cinema, tenho tentado relançar autores clássicos com uma perspectiva contemporânea para que eles possam nos ajudar a expressar nossas preocupações. Ao fazer isso, tento usar uma força que funde o passado com o presente. A exposição “A Arte de Ler”, na qual pintamos versões de obras literárias, tenta essa aventura.

Assim, confrontamos Cortázar, Anne Frank, Harper Lee, Sabines, Márquez, Orwell, Huxley, Bioy, Belli e muitos outros para arrancar deles uma verdade enterrada que pode inflamar o olhar das novas gerações de uma maneira diferente. Esta exposição foi apresentada na Universidade do Texas e no Tec de Monterrey.

Essa mesma dinâmica também é sentida na exposição “Luis Buñuel, Contato no México”, que projetei para o Centro Buñuel Calanda, onde geramos uma narrativa totalmente nova do Surrealismo na obra do lendário diretor. Nestas obras de 18 artistas mexicanos, oferecemos uma maneira diferente de apreciar a obra de um gênio e unimos com ousadia a pintura ao cinema de Buñuel. Esta exposição foi apresentada na Espanha para o 125º aniversário de Don Luis em Calanda, sua cidade natal (*).

JV: E agora, voltando aos livros, e à sua produção literária, por que você escolhe o conto em vez do romance?

SEM: Comecei a escrever contos porque na noite em que decidi escrevê-lo estava com uma febre estranha. Para mim, o conto é exatamente isso: um estado febril de visão alterada que nos conecta com dois elementos fundamentais da experiência literária: fragilidade e resiliência. A escrita de um romance também pode ter essas duas características, mas, devido à sua extensão e à tirania que o romance exerce sobre o espectador, forçando-o a ler centenas de páginas, prefiro a nobreza da história, prefiro a fragilidade dentro da fragilidade, e não a fragilidade dentro da extensão.

Embora eu seja um grande amante de romancistas como Saramago, Marai, Kazantzakis, Pérez Galdós, Bioy, Némirovski, Dostoiévski, Tolstói, Ismail Kadaré ou Mark Twain, o que um conto de Borges ou Bolaño me oferece pessoalmente calibra meu espírito com maior força, pois vejo o conto como um relógio de bolso que pode engolir o mundo, enquanto o romance me parece um Big Ben que me avassala.

Os autores que mais me ensinaram foram Borges e seu vício pela ideia de catástrofe, Maupassant e o veneno mortal de seus finais, Tchekhov e seus microabismos indiscretos, Bradbury e sua elegância ativa, Tolstói porque talvez seja o último autor que ainda acredita na humanidade, Conan Doyle por sua eficácia cirúrgica, Fontanarrosa pela eterna primavera de suas páginas, Bolaño e sua incerteza ao mesmo tempo doentia e curativa, Rulfo por ser o único que compreendeu o sabor mineral da terra árida.

Até agora, escrevi três coletâneas de contos: “A Ausência”, em homenagem ao médico argentino Jorge Mario Roitman, desaparecido durante a ditadura militar argentina em 1976. Sua história me abalou profundamente e foi onde aprendi a honrar a memória latino-americana como um mandato para toda a vida; “Morte à Deriva”, com meu amigo, o autor Javier Villanueva; e “A Ilha Instável”, todos impressos na Argentina. Neste último, ele inventou

pero no es una estricta interceptación, sino en una intrépida liberación. Al liberar la imagen poética y hacerse cargo de esa liberación la imaginación se activa en su máxima potencia y entonces la imagen evoluciona y se incorpora a una nueva vida sin negar su esencia.

En los proyectos que he trabajado últimamente, sobre todo en la unión de literatura clásica con pintura y cine he intentado relanzar a los autores clásicos desde una intención contemporánea para que nos permitan pronunciar nuestras problemáticas. Al hacer esto intento hacer uso de una fuerza que fusione el pasado con el presente. La exposición “El arte de leer” en donde versionamos en pintura obras de literatura intenta esta aventura.

Así nos confrontamos con Cortázar, con Ana Frank, con Harper Lee, con Sabines, Márquez, Orwell, Huxley, Bioy, Belli y muchos otros para arrancarles de nuevo una verdad soterrada que tal vez logre encender la mirada de las nuevas generaciones de otra manera. Esta exposición ha sido presentada en la Universidad de Texas y en el Tec de Monterrey.

También esta misma dinámica se siente en la exposición “Luis Buñuel, contacto en México” que diseñé para el Centro Buñuel Calanda, en donde generamos toda una nueva narrativa del Surrealismo en la obra del mítico director. En estos trabajos de 18 artistas mexicanos ofrecemos una forma distinta de apreciar la obra de un genio y unimos muy audazmente la pintura con el cine de Buñuel. Esta exposición se presentó en España por el 125 aniversario de Don Luis en Calanda, su pueblo natal (*).

JV: Y dime ahora, volviendo a los libros, y a tu producción literaria ¿Por qué eliges el cuento sobre la novela?

SRM: Empecé a escribir cuento porque la noche que lo decidí me aquejaba una extraña fiebre. Para mí el cuento es eso, un estado febril de alteración de la mirada que nos conecta con dos cosas fundamentales de la experiencia literaria: la fragilidad y la resistencia. Puede que la redacción de una novela tenga también estas dos características, pero por su extensión y la tiranía que la novela ejerce con el espectador al forzarlo a leer cientos de páginas, prefiero la nobleza del cuento, prefiero la fragilidad en la fragilidad, y no la fragilidad en la extensión.

Si bien soy un gran amante de autores de novela como Sarama. go, Marai, Kazantzakis, Pérez Galdós, Bioy, Némirovski, Dostoyevski, Tolstoi, Ismail Kadaré o Mark Twain, lo que un cuento de Borges o de Bolaño me ofrece personalmente me calibra el espíritu con una fuerza mayor, ya que veo un cuento como un reloj de bolsillo que puede tragarse al mundo, mientras que la novela me parece un Big Ben que me abruma.

Los autores que más me han enseñado son Borges y su adicción a la idea como catástrofe, Maupassant y el veneno mortal de sus finales, Chéjov y sus micro abismos indiscretos, Bradbury y su elegancia activa, Tolstoi porque es quizá el último autor que aún cree en la humanidad, Conan Doyle por su efectividad quirúrgica, Fontanarrosa por la eterna primavera de sus páginas, Bolaño y su incertidumbre enfermiza y curativa a un tiempo, Rulfo ya que es el único que entendió el sabor mineral de la tierra yerma.

De momento he escrito tres libros de cuento “La ausencia”, en honor al doctor argentino Jorge Mario Roitman, desaparecido por la dictadura militar argentina en 1976, cuya historia me cimbró hasta los huesos y en donde aprendí a honrar a la memoria latinoamericana como un mandato de vida, “Muerte a la deriva”, con mi amigo el autor Javier Villanueva, y “La isla inestable”, todos impresos en Argentina. En este último inventó

La exposición “Luis Buñuel. Contacto en México”, que Samuel Rodríguez Medina diseñó para el Centro Buñuel Calanda, está en marcha desde hace unos meses. El Instituto Cervantes São Paulo, el Consulado General de México en São Paulo y la Librería Española e Hispanoamericana unieron fuerzas para fijar el 5 de agosto como fecha de inicio del gran evento.

um personagem impossível que luta contra a morte no norte do México. Também escrevi “O Despertar do Olhar”, sobre arte e cinema, impresso no México e na Argentina.

Todas as histórias que escrevo me envenenam e me vivificam em um único movimento místico e material que me transforma num fantasma de mim mesmo. Eu gosto disso. Se eu pudesse recomendar um Santo Graal dos contos latino-americanos, seria, claro, qualquer uma das obras de Borges, a quem considero uma luminária no denso mar da confusão. Do meu próprio trabalho, “A Casa dos Mil Corpos”, publicado pela revista chilena “El Porteño” e no qual proponho uma distopia latino-americana, mas se lido com atenção, pode ir da distopia ao realismo sujo. Minhas histórias são uma vitória sobre o sinistro sistema educacional mexicano, que tentou acabar com meu amor pela literatura e me transformar em uma engrenagem da indústria, mas falhou. A literatura venceu. Todos os meus livros estão na Amazon.

Você pode seguir Samuel no Instagram como: @samuelrodriguezdiciembre.

Samuel Rodríguez Medina é graduado pelo programa de pós-graduação em Filosofia pela Universidade de Granada, Espanha, professor de arte e cinema no Tec de Monterrey, autor e professor de arte no Museu de Arte Contemporânea de Monterrey. Seus projetos de arte foram apresentados no México, Espanha e Estados Unidos.

un personaje imposible que se debate con la muerte en el norte de México. He escrito además “El despertar de la mirada”, sobre arte y cine, impreso en México y Argentina.

Todos los cuentos que escribo me envenenan y me vivifican en un solo movimiento místico y material que me convierte en un fantasma de mí mismo. Me gusta. Si pudiera recomendar un santo grial del cuento latinoamericano sería por supuesto cualquiera de Borges, a quien considero una luminaria en el denso mar de la confusión. De mi propia obra, “La casa de los mil cuerpos” publicado por la revista chilena “El Porteño” y en el que planteó una distopía latinoamericana, pero si se lee bien, puede pasar de distopía a un realismo sucio. Mis cuentos son una victoria sobre el siniestro sistema educativo mexicano que intentó arrancar de mí el amor por la literatura para convertirse en un engranaje de la industria y no lo lograron, ganó la literatura. Todos mis libros se encuentran en Amazon.

Pueden seguirme en Instagram como @samuelrodriguezdiciembre

Samuel Rodríguez Medina es egresado del posgrado de Filosofía por la Universidad de Granada España, profesor de arte y cine en el Tec de Monterrey, autor y profesor de arte en el Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey. Sus proyectos de arte se han presentado en México, España y Estados Unidos.

O TEATRO VENTOFORTE EL TEATRO VENTOFORTE

POR MÁRCIA FERNANDES DOS SANTOS

Ocomeço do Teatro Ventoforte coincide com a história do espetáculo História de lenços e ventos, criado em fevereiro de 1974 por Ilo Krugli e um grupo de atrizes, atores e músicos no Rio de Janeiro. Escrito em doze dias, para que pudesse ser apresentado num Festival Infantil, permaneceu um ano em cartaz no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e foi recebido com enorme sucesso pelo público e, pela profundidade do jogo e do universo simbólico que apresentava em cena, o espetáculo recebeu os maiores prêmios da crítica, durante vários anos. Com esse espetáculo, o Ventoforte inaugurou uma nova maneira de pensar o teatro de animação e o teatro para a criança. A partir dessa apresentação, cria o Teatro Ventoforte, inspirado pelo título de um texto da crítica especializada “Soprou um vento forte no teatro para crianças do Brasil”, de Ana Maria Machado. A partir daí, é difícil encontrar um ano em que o Teatro Ventoforte não receba um prêmio muito significativo da crítica.

Ilo Krugli sabia deixar soltas as dimensões que o universo criativo adquire por meio da imaginação e do “era uma vez”: –Era uma vez um pano vermelho brilhante – Era uma vez um pano amarelo quadrado – Era uma vez um quadrado de papel desenhado – Era uma vez um desenho colorido num lenço quadrado – Era uma vez um quadrado cheio de bolas – Era uma vez um coração de papel celofane transparente – Era uma vez um coração de metal – Era uma vez, era uma vez, era uma vez – Era uma vez um quintal por onde passavam todas as correntezas e todos os ventos... Estamos diante do Ilo Krugli que revolucionou a cena teatral nos anos 70 com a montagem de Histórias de lenços e ventos (1974).

Com o tempo, vai-se instalando no grupo um projeto político de fazer teatro sempre com muita poesia, que fala do cotidiano, dos sonhos, dos desejos, da repressão, da liberdade. É importante lembrar que, em 1974, o Brasil vivia, havia dez anos, em plena ditadura militar, como outros países da América Latina. Eram tempos de violência, de censura e de censores.

Mas para compreender melhor como a linguagem do Ventoforte e os processos de criação foram desenvolvidos pelo grupo, é preciso saber um pouco da trajetória de seu criador, Ilo Krugli.

Elias Kruglianski nasceu em Buenos Aires, Argentina, em1930. Filho de imigrantes judeus poloneses que chegam à Argentina depois da Primeira Guerra Mundial. O poeta espanhol Federico García Lorca havia passado pela Argentina nos 30, deixando uma marca profunda nos grupos de teatro de bonecos e de animação do país. Ilo sofre essa influência, que o acompanha até o final de sua vida, e tem os primeiros contatos teatrais através das criações do poeta argentino Javier Villafañe.

El inicio del Teatro Ventoforte coincide con la historia del espectáculo História de lenços e ventos, creado en febrero de 1974 por Ilo Krugli y un grupo de actrices, actores y músicos en Río de Janeiro. Escrito en doce días, para poder ser presentado en un Festival Infantil, permaneció expuesta durante un año en el Museo de Arte Moderno de Río de Janeiro y fue recibida con un gran éxito de público y, debido a la profundidad del juego y al universo simbólico que presenta, llevado en escena, el espectáculo recibió los mayores premios de la crítica en varios años. Con este espectáculo, Ventoforte inauguró una nueva forma de pensar la animación y el teatro para niños. A partir de esta presentación se creó el Teatro Ventoforte, inspirada en el título de un texto de la crítica especializada “Un fuerte viento sopló en el teatro para niños de Brasil”, de Ana Maria Machado. A partir de entonces, es difícil encontrar un año en el que el Teatro Ventoforte no recibió un premio muy significativo por parte de la crítica.

Ilo Krugli supo dar rienda suelta a las dimensiones que adquiere el universo creativo a través de la imaginación y el “era una vez”: – Era una vez una tela roja brillante – Era una vez una tela amarilla cuadrada – Era una vez un cuadrado de papel dibujado – Era una vez un dibujo coloreado en un pañuelo cuadrado – Era una vez un cuadrado lleno de bolitas – Había una vez un corazón hecho de papel celofán transparente – Había una vez un corazón hecho de metal –– Había una vez un corazón hecho de papel celofán transparente. Era una vez, Era una vez, Era una vez – Era una vez un patio por donde pasaban todas las corrientes y todos los vientos... Estamos ante el Ilo Krugli que revolucionó la escena teatral en los años 70 con la producción de Historias de pañuelos y vientos (1974).

Con el tiempo se fue gestando un proyecto político de hacer teatro con mucha poesía que habla de la vida cotidiana, de los sueños, de los deseos, de la represión, de la libertad. Es importante recordar que, en 1974, Brasil llevaba diez años viviendo en plena dictadura militar, como otros países de América Latina. Eran tiempos de violencia, censura y censores.

Pero, para entender mejor cómo nació el lenguaje y los procesos creativos de Ventoforte desarrollados por el grupo, es necesario conocer un poco de la trayectoria de su creador, Ilo Krugli.

Elías Kruglianski nació en Buenos Aires, Argentina, en 1930. Hijo de inmigrantes judíos polacos que llegaron a Argentina después de la Primera Guerra Mundial. El poeta español Federico García Lorca había pasado por Argentina en los años 30, dejando una profunda huella en los grupos de teatro de títeres y animación del país. Ilo sufre esta influencia, que lo acompaña hasta el final de su vida, y tuvo sus primeros contactos teatrales a través de las creaciones del poeta, el argentino Javier Villafañe.

“Entre dezesseis e dezoito anos trabalhei muito com cerâmica e com teatro de bonecos. Montamos um grupo e fizemos inclusive algumas peças do Javier Villafañe. Também trabalhei com bonecos na periferia de Buenos Aires e isto durou uns dez anos. Éramos um grupo pequeno e teve uma pessoa que trabalhou comigo durante muitos anos, o Pedro Dominguez.” (Teatro de Ilo e Pedro)

Ilo Krugli chega ao Brasil, em 1961 e procura pelo artista plástico e educador Augusto Rodrigues, fundador da Escolinha de Arte Brasil e, por seu intermédio, faz o primeiro espetáculo ali mesmo, na escola, na cidade do Rio de Janeiro. Essa escola reunia em seu corpo, artistas, intelectuais, sociólogos, músicos, psicólogos e educadores, entre eles, a Dra. Nise da Silveira e seu método “Emoção de Lidar” (que revolucionou o tratamento psiquiátrico na história do Brasil através da arte e do respeito aos pacientes, até então submetidos ao isolamento e choques. Ela foi responsável, em grande parte, pelo mergulho mais profundo no universo simbólico onde Ilo já navegava desde a infância). Ilo inicia na escola um curso de teatro de bonecos e, à medida que o desenvolve, percebe dois aspectos fundamentais do teatro: o feito para crianças e o feito com crianças.

Ali, em 1963, cria a base para a peça História de um Barquinho, concluída somente 1972. A história do “menino navegador”, o barquinho Pingo I, leva Ilo, apesar do cenário político conturbado e violento do período, a viajar pela América Latina, passando pelo Chile, onde ministra cursos e monta o grupo Manos, para encenar História de um Barquinho (anos mais tarde, faz a versão: Um Rio que vem de longe). Está no país quando ocorre o golpe militar que derruba Salvador Allende (1908-1973) da Presidência. Acaba preso por alguns dias e, na prisão, se mistura a um grupo de prisioneiros franceses e, por engano, é libertado junto com eles. Segue então para Buenos Aires.

De volta ao Rio de Janeiro, nesse momento, no final de 1973 que elabora a peça História de Lenços e Ventos, que marca a trajetória do teatro para crianças no país. Conta a história de Azulzinha (um lenço que deseja voar) e seu amigo Papel (uma folha de jornal), utilizando bonecos, lenços, latas, instrumentos musicais e outros objetos. Ambientada no quintal da infância, a peça fala de liberdade, afetividade e uma vida melhor nos anos da ditadura militar.

Do fazer teatro, “de qualquer jeito”, ainda que sob as botas dos militares. No espetáculo, um dos personagens, alerta: “- Com botas não se brinca”. No final, o Papel e os lenços do Quintal fazem Um Dragão de Muitas Cabeças, com os objetos de cena, e vencem o Rei Metal Mal, expulso “Pra bem longe do quintal!”

Em 1980, Ilo Krugli mudou-se para São Paulo com alguns integrantes do grupo, Outros educadores e artistas se agregam a eles e o grupo aluga um espaço na Rua Tabapuã e dão-lhe o nome de Casa Teatro Ventoforte – Centro de Arte e Cultura Integrada, onde encenou e criou, numa pequena garagem transformada em teatro, espetáculos como Luzes e Sombras e O Labirinto de Januário, entre outros, além de oficinas de formação para educadores, crianças e adolescentes de escolas públicas do bairro.

A OCUPAÇÃO

Em 29 de junho de 1984, num ato de ousadia e coragem, o coletivo de teatro ocupa o terreno baldio da rua Brigadeiro Haroldo Veloso, no Parque do Povo, onde também havia 9 campos de futebol de várzea, o Clube do Mel e uma comunidade de moradores pobres. Ali, sob uma tenda, ensaiam e dão aulas de teatro para as crianças da comunidade, de uma favela e das escolas públicas do bairro. Assim, a partir dessa ocupação do terreno, o

“Entre los dieciséis y los dieciocho años trabajé mucho con cerámica y teatro de marionetas. Formamos un grupo e incluso hicimos algunas piezas de Javier Villafañe. También trabajé con muñecos en las afueras de Buenos Aires y esto duró unos diez años. Éramos un grupo pequeño y había una persona que trabajó conmigo durante muchos años, Pedro Domínguez”. (Teatro de Ilo y Pedro)

Ilo Krugli llega a Brasil en 1961 y busca al artista y educador Augusto Rodrigues, fundador de la Escolinha de Arte Brasil y, a través de él, realiza el primer espectáculo allí mismo, en la escuela, en la ciudad de Río de Janeiro. Esta escuela reunió a artistas, intelectuales, sociólogos, músicos, psicólogos y educadores, entre ellos, la Dra. Nise da Silveira y su método “Lidiando con la Emoción” (que revolucionó el tratamiento psiquiátrico en la historia de Brasil) a través del arte y el respeto a los pacientes, hasta entonces sometidos al aislamiento y a los choques eléctricos. Fue en gran medida responsable por la inmersión más profunda en el universo simbólico donde Ilo ya había navegado desde la infancia. Ilo comienza un curso de teatro de marionetas en la escuela y, a medida que avanza y se desarrolla, percibe dos aspectos fundamentales del teatro: el hecho para niños y el hecho por niños.

Allí, en 1963, creó las bases de la obra História de um Barquinho, terminada recién en 1972. Historia del “niño navegante”, el pequeño barco Pingo I, lleva Ilo, a pesar del escenario político en un período convulso y violento, a viajar por América Latina, pasando por Chile, donde imparte cursos y crea el grupo Manos para representar la Historia de un Barquito (años después tarde, hace la versión: Un río que viene de lejos). Estaba en el país cuando se produjo el golpe militar que derroca a Salvador Allende (1908-1973) de la presidencia. Termina detenido durante unos días y, en prisión, se mezcla con un grupo de prisioneros franceses y, por error, es liberado junto con ellos.

Luego se dirige a Buenos Aires. De regreso a Río de Janeiro, en esa época, a finales de 1973, trabaja en la obra História de Lenços e Ventos, que marca la trayectoria del teatro para niños en

grupo adquire o direito de uso do espaço para suas atividades culturais e educativas e constroem o primeiro dos três teatros que irão compor o espaço. O primeiro espetáculo criado e montado no novo espaço, no Teatro dos Pés, é O Labirinto de Januário. A ele se seguem montagens de História de um Barquinho, Qualquer homem é suspeito (baseado em textos de Garcia Lorca) As Quatro Chaves, entre tantos outros. E claro, o sempre icônico

História de Lenços e Ventos

A CASA DE CULTURA VENTOFORTE

Numa das áreas mais valorizadas da cidade de São Paulo, como que ilhado entre os prédios altos e avenidas movimentadas, situa-se um terreno imenso chamado Parque do Povo. (irônica e cruelmente, o “povo” hoje não habita ou frequenta o local. A comunidade foi removida de lá e hoje o Parque do Povo é frequentado por uma classe social muito distante daquela que poderia ser chamada de “popular”).

Construído com recursos próprios advindos dos inúmeros prêmios que o grupo acumula durante seu percurso artístico e alguma ajuda da PETROBRAS, o projeto do espaço vai sendo construído num conceito diretamente relacionado com a proposta estética do grupo, garantindo o lugar para a “festa”, onde o público não se separa dos atores, estando sempre presente, seja no início, no final ou durante os espetáculos do Ventoforte

Ao redor do Pateo do Coração, centro do terreno com a edificação de um coreto, foram construídos três teatros:

• Teatro dos Pés: teatro de arena, para apresentações de teatro e dança. Uma de suas laterais se abre para o Páteo do Coração – Coreto, e a outra, ao centro de convivência e refeitório

• Teatro das Mãos: espaço dedicado ao teatro de animação e construção de bonecos, oficinas, aulas.

el país. Cuenta la historia de Azulzinha (un pañuelo que quiere volar) y su amigo Papel (una hoja de periódico), usando muñecos, bufandas, latas, instrumentos musicales y otros objetos. Ubicado en el patio trasero de la infancia, la obra habla de la libertad, el cariño y una vida mejor durante los años de la dictadura militar. De hacer teatro, “de cualquier manera”, incluso bajo las botas militares. En el programa, uno de los personajes, advertía: “- Con las botas no se juega”. Al final, el papel y los pañuelos del patio hacen un Dragón de Muchas Cabezas, con los accesorios, y derrotan al Rey Malvado del Metal, expulsándolo “¡Lejos del patio!”

En 1980, Ilo Krugli se trasladó a São Paulo con algunos miembros del grupo. A ellos se suman otros educadores y artistas y el grupo alquila un espacio en la calle Tabapuã y le cede el nombre de Casa Teatro Ventoforte – Centro Integrado de Arte y Cultura, donde puso en escena y creó, en un pequeño garaje transformado en teatro en el que se presentan espectáculos como Luces y Sombras y El Laberinto de Januário, entre otros, además de talleres de capacitación para educadores, niños y adolescentes de escuelas públicas del barrio.

LA OCUPACIÓN

El 29 de junio de 1984, en un acto de audacia y coraje, el colectivo teatral ocupa el terreno lote baldío en la calle Brigadeiro Haroldo Veloso, en el Parque do Povo, donde también había 9 campos de fútbol amateur, Clube do Mel y una comunidad de residentes pobres. Allí, bajo una tienda de campaña, ensayaban y daban clases de teatro a niños de la comunidad, de una favela y escuelas públicas del barrio. Así, a partir de esta ocupación de la tierra, el grupo adquiere el derecho a utilizarla como espacio para sus actividades culturales y educativas y construir el primero de tres teatros que conformarán el espacio. El primer espectáculo creado y presentado en el nuevo espacio, en el Teatro de los Pies, es El Laberinto de Januário. A continuación, se muestran montajes de La historia de un pequeño barco, Cualquier hombre es sospechoso (basado en textos de García Lorca) Las Cuatro Llaves, entre tantos otros. Y por supuesto, la siempre icónica Historia de los Pañuelos y los Vientos.

LA CASA DE CULTURA VENTOFORTE

En una de las zonas más valoradas de la ciudad de São Paulo, como si estuviera aislado entre los altos edificios y avenidas muy transitadas, hay un enorme terreno llamado Parque do Povo. Irónica y cruelmente, el pueblo hoy no vive ni frecuenta el lugar. La comunidad fue expulsada de allí y hoy en día el Parque do Povo es frecuentado por una clase social muy distante de la que podría ser llamada “popular”. Construido con recursos propios de numerosos premios que el grupo acumula durante su recorrido artístico y alguna ayuda de PETROBRAS, el proyecto del espacio se fue construyendo sobre un concepto directamente relacionado con la propuesta estética del grupo, garantizando el lugar para la “fiesta”, donde el público no se separa de los actores, estando siempre presente, ya sea al principio, al final o durante los espectáculos de Ventoforte.

Alrededor del Pateo do Coração, centro del terreno con la construcción de un quiosco de música, se construyeron tres teatros:

• Teatro dos Pés: teatro de arena, para espectáculos de teatro y danza. Uno de sus lados se abre hacia el Páteo do Coração – Coreto, y el otro, hacia el centro comunitario y cafetería

• Teatro das Mãos: espacio dedicado al teatro de animación y construcción de títeres, talleres, clases.

• Teatro dos Olhos: techo alto, de forma ovalada, el más

Primeira sede do Teatro Ventoforte em São Paulo, na rua Tabapuã, 1980

• Teatro dos Olhos: pé direito alto, de forma ovalada, o maior deles, não chegou a ser terminado, mas adaptado, equipado e utilizado para apresentações.

“Aqui não havia nada, mas descobrimos a possibilidade de um apoio da Petrobras para criar essas casas, e foi muito rápido, deram uma verba para nós, nem me lembro mais o valor, e começamos a construir. Depois fizemos um projeto com fundações, colunas de concreto para formar galpões, alguns tradicionais, outros nós mesmos elaboramos a forma, como o bloco que chamamos de Teatro do Olhos, que tem uma forma de elipse. Os outros dois chamamos Teatro das mãos, pequeno, com um ateliê de artes plásticas do lado, e o Teatro dos pés, ao fundo. Todos são meio arena e podem ser transformados. No meio fica o coreto onde às vezes realizamos espetáculos em volta também.“ (Krugli, 2009) Na foto, vê-se também o início da construção da Iguana, projeto coordenado pelo artista plástico Jean Jacques, em oficina com as crianças do curso de teatro.

Todo o conjunto, além de três casinhas do tipo chalé, préfabricadas, usadas para administração, arquivo etc., era construído em madeira colorida, simples e popular, que condiz com a estética do grupo. Árvores frutíferas foram plantadas pelo grupo. Nestes espaços foram ministrados também oficinas e cursos de formação de atores, para crianças, adolescentes e adultos.

O grupo sente a necessidade de interferir, criar e agir segundo seus princípios e fundamentos: um teatro para e com crianças, um espaço de cultura e festa, popular, criativo, vivo e atuante. É nesse contexto que o grupo recebe em seu espaço e espetáculos o Grupo Cupuaçu de Danças Populares do Maranhão. Numa perfeita simbiose, esse encontro imprime definitivamente no grupo a digital das manifestações, o ritual, a festa e a tradição populares.

Na obra de Ilo e nos seus processos criativos é importante ressaltar a importância do espaço do Quintal: ele simboliza o lugar criativo da imaginação e tem, na criança, o ator e autor da criação.

No prólogo do texto História de Lenços e Ventos podemos perceber que o chamado ao imaginário se faz por meio de um convite à cumplicidade da plateia, configurando-se no chamado ao jogo coletivo: “O público deve ir entrando e os atores se aproximando das crianças, pedindo para que elas se sentem perto do local onde se desenvolverá o espetáculo.

Depois os atores começam a fazer entrar no palco todos os materiais do espetáculo, mostrando os objetos com a preocupação de saber qual será o uso que se vai dar a eles, fazendo perguntas: Será que com esses jornais velhos se pode fazer teatro? E essa bacia com água – será que serve para fazer teatro? Já viu alguma história com guarda-chuva velho? Esta cena de montagem do cenário, entremeada pela música (...) tudo isso muito rápido, até formar, cenicamente, o quintal: objetos jogados à direita, à esquerda, varais, caixotes, panos grandes pendurados. “(ILO KRUGLI)

AÇÃO NA COMUNIDADE

É baseado nesse conceito que o grupo Ventoforte procura ampliar sua ação na comunidade.

Dentre as iniciativas do setor público, o Teatro Ventoforte atuou efetivamente em importantes projetos do Governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo desenvolvidos no fim da década de 1980 até meados da década de 1990.

Dentre os projetos que o Ventoforte participa nos quais procura seguir esta linha conceitual, dois se destacam: o Projeto Migrações, já citado, que resulta na montagem do espetáculo

grande de ellos, nunca llegó a construirse. Terminado, pero adaptado, equipado y utilizado para presentaciones.

“Aquí no había nada, pero descubrimos la posibilidad de apoyo de Petrobras para crear estas casas, y muy rápidamente nos dieron un dinero, ni siquiera recuerdo la cantidad, y empezamos a construir. Entonces hicimos un proyecto con cimientos, columnas de concreto para formar galpones, algunos tradicionales, otros propios. Creamos la forma, como el bloque que llamamos Teatro do Olhos, que tiene forma elíptica. A los otros dos los llamamos el Teatro de las Manos, pequeño, con un estudio de artes plásticas al costado, y el Teatro de los Pies, al fondo. Todos son mitad arena y se pueden transformar. En el medio está el quiosco, o glorieta de música donde a veces realizamos espectáculos a su alrededor también “(Krugli, 2009). En la foto también se puede ver el inicio de la construcción de Iguana, un proyecto coordinado por el artista plástico Jean Jacques, en un taller con niños del curso de teatro.

Todo el complejo, además de tres casas prefabricadas tipo chalet destinadas a la administración, archivo, etc., fue construido en madera de color, simple y popular, que combina con la estética del grupo. El grupo plantó árboles frutales. En estos espacios se impartían clases, talleres y cursos de formación actoral para niños, adolescentes y adultos. El grupo siente la necesidad de intervenir, crear y actuar según sus principios y fundamentos: un teatro para y con los niños, un espacio de cultura y fiesta, popular, creativo, vivo y activo. Y es en este contexto que el grupo acoge en su espacio y entre sus espectáculos al Grupo Cupuaçu de Danças Populares de Maranhão. En una simbiosis perfecta, este encuentro deja una huella definitiva que agrupa las manifestaciones, rituales, fiestas y tradiciones populares.

En la obra de Ilo y en sus procesos creativos es importante resaltar la importancia del espacio de Patio trasero: simboliza el lugar creativo de la imaginación y tiene en el niño al actor y autor de la creación. En el prólogo del texto Historia de Pañuelos y Vientos podemos ver que el llamado al imaginario se crea a través de una invitación a la complicidad del público, configurándose en la llamada al juego colectivo: “El público debe entrar y los actores acercarse a los niños, pidiéndoles que se sienten cerca de donde se llevará a cabo el espectáculo”. Después los actores comienzan a traer todos los materiales del espectáculo al escenario, mostrando los objetos con la inquietud de saber qué uso se les dará, planteándose preguntas: ¿Qué serán estas cosas? ¿Se puede hacer teatro con estos periódicos viejos? Y esta palangana con agua, ¿se usará para hacer teatro? ¿Alguna vez has visto una historia con un paraguas viejo? Esta escena de montaje del paisaje, intercalado con la música (...) todo esto ocurre muy rápidamente, hasta que se forma el patio trasero, escénicamente, con objetos lanzados a la derecha, a la izquierda, tendederos, cajas, grandes paños colgados. “(Ilo Krugli)

ACCIÓN EN LA COMUNIDAD

Es a partir de este concepto que el grupo Ventoforte busca ampliar su acción en la comunidad. Entre las iniciativas del sector público, el Teatro Ventoforte ha actuado eficazmente en importantes proyectos del Gobierno del Estado y de la Ciudad de São Paulo desarrollados a finales de la década de 1980 a mediados de 1990.

Entre los proyectos en los que participa Ventoforte que buscan seguir esta línea conceptual, se destacan dos: el Proyecto Migraciones, ya mencionado, que dio como resultado la producción del espectáculo El Misterio del fondo de la olla, de 1992 y el Proyecto São Francisco Mutirão. En el área de vivienda, el gobierno de la ciudad apoya la implementación de proyectos

42 O mistério do fundo do pote, de 1992 e o Projeto Mutirão São Francisco. Na área habitacional, a prefeitura apóia a implantação de projetos de habitação por meio de mutirões autogeridos. Um deles acontece no Jardim São Francisco, na Zona Leste da capital, onde o Teatro Ventoforte desenvolve um projeto de arte-educação com a comunidade que constrói suas próprias casas.

Esta comunidade tem um diferencial importante: o fato de estarem construindo e conquistando suas próprias moradias, ou seja, a concretização de um sonho fundamental para qualquer pessoa. Motivação que fica evidente no contato com os mutirantes e é, sem dúvida, o grande incentivo para que as lideranças do movimento proponham alternativas para agregar aquela comunidade. Outra diferença desta população é o fato de estar organizada em movimentos políticos de base popular identificados com correntes políticas de esquerda que tem em vista a luta de classe, as reivindicações sociais e a formação da cidadania numa perspectiva sociocultural.

A lona do circo é o símbolo deste projeto. A magia do circo é um forte atrativo para que crianças e jovens prefiram passar o dia fazendo arte ao invés de perambular pelas ruas da cidade. Oito circos são construídos e todos aproveitam terrenos livres, em bairros da periferia, Na maioria dos locais a infra-estrutura física é constituída por lona de circo, equipamentos para a prática de vários números circenses, ateliês de artes plásticas, salas para dança e teatro; oficina de costura, depósito para materiais e equipamentos; sala de administração, refeitório e enfermaria.

A capacidade de atendimento em cada circo é de aproximadamente 1.500 crianças estudantes de 7 a 17 anos, divididas em turmas com trinta estudantes.

A participação do Teatro Ventoforte neste projeto se dá em

de vivienda a través de esfuerzos colectivos autogestionados. Uno de ellos ocurre en Jardim São Francisco, en la Zona Este de la capital, donde el Teatro Ventoforte desarrolla un proyecto de arte-educación con la comunidad que construye sus casas propias. Esta comunidad tiene una diferencia importante: el hecho de construir y adquirir su propia vivienda, es decir, hacer realidad un sueño fundamental para cualquier persona. Motivación que se hace evidente en el contacto con los participantes en el “multirão”, y es, sin duda, el gran incentivo para los líderes del movimiento proponer alternativas para unir a esa comunidad. Otra diferencia de esta población es el hecho de que esté organizada en movimientos políticos de base que se centran en la lucha y las reivindicaciones sociales, y la formación de la ciudadanía desde una perspectiva sociocultural.

A lona do circo é o símbolo deste projeto. A magia do circo é um forte atrativo para que crianças e jovens prefiram passar o dia fazendo arte ao invés de perambular pelas ruas da cidade. Oito circos são construídos e todos aproveitam terrenos livres, em bairros da periferia, Na maioria dos locais a infra-estrutura física é constituída por lona de circo, equipamentos para a prática de vários números circenses, ateliês de artes plásticas, salas para dança e teatro; oficina de costura, depósito para materiais e equipamentos; sala de administração, refeitório e enfermaria. A capacidade de atendimento em cada circo é de aproximadamente 1.500 crianças, estudantes de 7 a 17 anos, divididas em turmas com trinta estudantes.

A participação do Teatro Ventoforte neste projeto se dá em 1988 e se estende por mais alguns meses do ano seguinte. A equipe do Ventoforte é orientada diretamente por Ilo Krugli, que acompanha as atividades das quatro turmas de crianças e jovens sob responsabilidade da equipe do grupo. Essa orientação de Krugli é um diferencial em favor do Ventoforte, mas

Demolição em 13 de fevereiro de 2025. Sobre a Iguana, o piano destruído, figurinos e escombros do Teatro dos Olh

1988 e se estende por mais alguns meses do ano seguinte. A equipe do Ventoforte é orientada diretamente por Ilo Krugli, que acompanha as atividades das quatro turmas de crianças e jovens sob responsabilidade da equipe do grupo. Essa orientação de Krugli é um diferencial em favor do Ventoforte, mas acaba por gerar conflitos com a coordenação do projeto, quando esta resolve coordenar pedagogicamente as atividades teatrais também.

O primeiro contato com a comunidade é feito com a apresentação do espetáculo As quatro chaves, um dos espetáculos mais emblemáticos do Teatro Ventoforte. Essa peça é especialmente indicada para o primeiro contato com o público-alvo, porque, além de trazer os elementos da proposta estética do grupo, trata- se de uma “peça-oficina”. O público participa ativamente da encenação, que acontece em praças ou pátios. Não existe separação entre atores e público, este é envolvido na resolução dos problemas dos personagens.

Obs: O grupo Teatro Ventoforte apresentou o espetáculo As Quatro Chaves em Havana, Cuba, em 1988, na Plaza de Armas e em uma escola das proximidades de Havana, com alunos semi-internos (no me acuerdo el nombre de la escuela, pero fue maravilloso. Almoçamos com as crianças, que desenharam, cantaram, fue fantástico. No mesmo Festival de teatro em La Habana, o grupo apresentou História de Lenços e Ventos e Um rio que vem de longe, no Teatro Nacional (Márcia Fernandes)

As Quatro Chaves tem as características da linguagem do Ventoforte, tanto na temática de cunho social, quanto no emprego das linguagens artísticas. Neste espetáculo, o público interfere no enredo, ajuda a construir bonecos em cena e festeja o final feliz construído por todos. Krugli comenta: “Foi montado em uma semana. Era mais um roteiro que se desenvolvia frente ao público. Mas tinha uma seqüência certa, com a apresentação dos personagens. Fazíamos o público organizar as vontades e desejos dos personagens. Era um espetáculo completamente participativo” (KRUGLI in Entrevista CBTIJ de 02/08/2002).

O espetáculo funciona como deflagrador dos processos criativos para as turmas, indicando os conteúdos que depois são empregados nas primeiras atividades. Ao longo do processo criativo, são aplicados jogos, exercícios e vivências praticados no Ventoforte, como o Mapa da vida, Os quatro elementos da natureza, O caminho do herói, dentre outros. Os processos criativos partem de um trabalho cujo conteúdo está ligado aos caminhos do cotidiano, um dos temas sacados do espetáculo As quatro chaves.

ATORES E MÚSICOS CRIATIVOS

A música sempre teve um papel importante no Ventoforte. Presente e fundamental tanto nos processos das oficinas de criação como na própria concepção dos espetáculos, o músico não é apenas um acompanhante e ilustrador da cena, mas um criador dentro do processo como um todo, sempre em cena.

Trabalha na pesquisa das cantigas da cultura popular latino americana, compõe novas canções, é o que chamamos por aqui pelo Brasil de Brincante. O Ventoforte tem um Cancioneiro composto por mais de 200 canções, a maioria delas com a parceria de Ilo.

“Eu sou um rio que corre novo, que nasce louco, e sonha trêmulo”.

“São muitas histórias cantando, ai, bate no bumbo, bumbo. É tempo de lenços e ventos, ai, treme e respira violão.”

São alguns versos que, quem passou por lá carrega dentro de si. E vale dizer também que os integrantes do Teatro Ventoforte não são, essencialmente, os atores de um elenco. O espaço atraiu, durante mais de 40 anos, além de atores, professores, músicos e escritores, gente de todo o tipo, de toda e qualquer atividade ou

acaba por gerar conflitos com a coordenação do projeto, quando esta resolve coordenar pedagogicamente as atividades teatrais também.

El primer contacto con la comunidad se realiza con la presentación del espectáculo As quatro Chaves, uno de los espectáculos más emblemáticos del Teatro Ventoforte. Esta pieza es especialmente recomendable para el primer contacto con el público-objetivo, ya que, además de acercar los elementos de la propuesta estética del grupo, es una “pieza de taller”. El público participa activamente en la representación, que tiene lugar en plazas o patios. No existe separación entre actores y público: este último interviene en la solución de los problemas de personajes.

Nota: El grupo Teatro Ventoforte presentó el espectáculo As Quatro Chaves en La Habana, Cuba, en 1988, en la Plaza de Armas y en una escuela cerca de La Habana, con estudiantes en régimen de seminternado. (No recuerdo el nombre de la escuela, pero fue maravilloso. Almorzamos con los niños, que dibujaron, cantaron, fue fantástico. En el mismo festival de teatro de La Habana, el grupo presentó Historia de pañuelos y vientos y Un río que viene de lejos, en el Teatro Nacional (Márcia Fernández).

Las Cuatro Claves tienen las características del lenguaje Ventoforte, tanto en la temática de naturaleza social, así como en el uso de lenguajes artísticos. En este espectáculo, el público interfiere en la trama, ayuda a construir marionetas en el escenario y celebra el final feliz construido por todos. Krugli comenta: “Se armó en una semana. Era más bien un guion desarrollado frente al público. Pero había una cierta secuencia, con la presentación de los personajes. Hicimos que el público organizara los deseos y necesidades de los personajes. Era un espectáculo completamente participativo” (Krugli en entrevista CBTIJ del 02/08/2002).

La muestra funciona como detonante de procesos creativos para las clases, indicando los contenidos que luego se utilizarán en las primeras actividades. Durante todo el proceso se aplican juegos, ejercicios y experiencias creativas que se practican en Ventoforte, como El Mapa de la vida, Los cuatro elementos de la naturaleza, El camino del héroe, entre otros. Los procesos y las personas creativas parten de una obra cuyo contenido está vinculado a caminos cotidianos, uno de los temas extraídos del espectáculo Las Cuatro Llaves.

ACTORES Y MÚSICOS CREATIVOS

La música siempre ha jugado un papel importante en Ventoforte. Presente y fundamental tanto en los procesos de los talleres creativos como en la concepción de los espectáculos mismos, el músico no es solo un acompañante e ilustrador de la escena, sino un creador dentro del proceso como entero, siempre en escena. Trabaja en la investigación de canciones de la cultura popular latinoamericana, compone nuevas canciones, lo que llamamos Brincante aquí en Brasil. Ventoforte tiene un cancionero compuesto por más de 200 canciones, la mayoría de ellas en colaboración con Ilo. “Soy un río que fluye nuevo, que nace loco, y sueña temblando”. “Hay muchas historias cantando, Oh, golpea el bombo, bombo. Es tiempo de pañuelos y vientos, oh, temblar y respirar guitarra”. Hay algunos versos que cualquiera que ha estado allí lleva dentro de sí. Y también vale la pena mencionar que los miembros de Teatro Ventoforte no son, esencialmente, los actores de un elenco. El espacio atrajo, durante más de 40 años, además de actores, profesores, músicos y escritores, a personas de todo tipo, desde cualquier y toda actividad o profesión. Ilo construyó y elaboró sus piezas tomando la historia personal

profissão. Ilo construía e elaborava suas peças tomando a história pessoal de cada um que se agregava ao grupo. Por esse motivo também é perceptível várias fases na dramaturgia do autor. Mas, o que será que caracteriza a tão famosa “linguagem” do Ventoforte? O que não pode faltar num espetáculo do Ventoforte? Talvez a resposta mais simples esteja no texto de abertura de As Quatro Chaves:

“Nesta brincadeira, tudo é muito importante! Os músicos são importantes, a música é importante. Os atores são importantes e o público, o público é muito importante! E uma das coisas importantes também, são os desejos... Quem é que não tem desejos, não é verdade? Você não tem desejos?”

MEMÓRIA VIVA VENTOFORTE

Muito ainda teriamos para falar sobre o menino navegador e nosso grupo Ventoforte. Essa história ainda não acabou. Com a morte do Elias Kruglianski em 2019, o Ilo Krugli continua a renascer a cada dia nas ações do Coletivo. Os anos de pandemia deixaram os teatros e o espaço entregues à sanha dos especuladores do mercado imobiliário daquela região que, em parceria com a gestão pública, num ato de extrema violência, demoliu os teatros, no dia 13 de fevereiro de 2025. Sem comunicar os órgãos responsáveis pelo tombamento, histórico e cultural.

A repercussão e indignação foi e continua imensa. Imprensa, redes sociais e boa parte da classe política se manifestaram fazendo o poder público voltar atrás, porém com uma proposta de reconstrução de apenas um dos três teatros e, o pior: dividindo o terreno com um equipamento da Polícia Militar, conhecida por suas ações de extrema violência. Proposta rechaçada pelo Coletivo Ventoforte. “Com botas, não se brinca!”. O processo corre na justiça e ainda está em andamento.

Papel – Azulzinha, a gente vai voltar para o quintal!

Azulzinha – Com o vento da madrugada?

de cada uno que se unió al grupo. Por esta razón también se observan varias fases en la dramaturgia del autor. Pero ¿qué caracteriza al famoso “lenguaje” de Ventoforte? ¿Qué no se puede perder en un espectáculo de Ventoforte? Quizás la mejor respuesta, lo simple está en el texto inicial de Las Cuatro Claves:

En este juego, ¡todo es muy importante! Los músicos son importantes, la música es importante. ¡Los actores son importantes y el público, el público es muy importante! Y otras cosas también muy importantes son los deseos...Quién no tiene deseos, ¿no? ¿tú no tienes deseos?

MEMORIA VIVA VENTOFORTE

Todavía tenemos mucho que decir sobre el niño navegante y nuestro grupo Ventoforte. Eso es, la historia aún no ha terminado. Con la muerte de Elias Kruglianski en 2019, Ilo Krugli continúa a renacer cada día en las acciones del Colectivo. Los años de pandemia han dejado a los teatros y al espacio entregado a la codicia de los especuladores inmobiliarios de esa región que, en alianza con la gestión pública, en un acto de extrema violencia, demolieron los teatros, el día 13 de febrero de 2025. Sin comunicar los organismos responsables de la conservación, antecedentes históricos y culturales.

Todos – Com o vento de todo o mundo!

Este artigo contém citaçoes de diversas teses, dissertações, publicações e entrevistas. Não foram citadas nominalmente, pois esta publicação não se pretende de caráter acadêmico, mas agradecemos a todos por sua colaboração, em especial, à Wilton Amorim, integrante do grupo, na descrição dos projetos realizados com as comunidades.

O Ventoforte constituiu em 2025 a ASSOCIAÇÃO MEMÓRIA VIVA – VENTOFORTE, que atualmente recupera o acervo e luta em várias frentes pela reconstrução do espaço. Continuamos na luta pela Cultura, pela criança, pela libertade e pelo imenso legado de Ilo Krugli. Hasta la victória!

La repercusión y la indignación fueron y siguen siendo inmensas. Prensa, redes sociales y gran parte de la clase política se manifestó para que el poder público volviera atrás, pero con una propuesta de reconstruir solo uno de los tres teatros; y lo peor de todo: compartir el terreno con una instalación de la Policía Militar, conocida por sus acciones de extrema violencia. Propuesta rechazada por el Colectivo Ventoforte. ¡Con las botas no se juega! El proceso sigue su curso en los tribunales y aún está en progreso.

Papel – ¡Pequeño Azul, volvemos al patio trasero!

Little Blue – ¿Con el viento del amanecer?

Todos – ¡Con el viento del mundo entero!

Este artículo contiene citas de varias tesis, disertaciones, publicaciones y entrevistas. No se mencionaron por su nombre, ya que esta publicación no pretende ser de naturaleza académica, pero agradecemos a todos por su colaboración, en particular, a Wilton Amorim, miembro del grupo, en la descripción de los proyectos realizados con las comunidades.

En 2025, Ventoforte fundó la Asociación Memoria Viva Ventoforte, que actualmente recupera la colección y lucha en varios frentes por la reconstrucción del espacio. Seguimos luchando por la Cultura, por los niños, por la libertad y por el inmenso legado de Ilo Krugli. ¡Hasta la victoria!

Márcia Fernandes.

LITERATURA

CONHECENDO MELHOR A GRANDE MEXICANA ELENA GARRO

CONOCIENDO MEJOR A LA GRAN MEXICANA

ELENA GARRO

POR JAVIER VILLANUEVA

Foi uma grande alegria o convite do amigo Rodrigo Vázquez, autoridade do Consulado Geral do México em São Paulo para o lançamento pela editora Pinard de La semana de los colores, da autora mexicana Elena Garro, pouco conhecida no Brasil.

Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura 1990 -com quem a autora de La semana de los colores foi casada-, e Elena Garro, foram dois entre os maiores escritores mexicanos do século XX.

A união de Octavio Paz e Elena apenas durou mais de vinte anos (vinte e dois, dizem uns, vinte e seis outros) e tiveram uma única filha, Laura Helena Paz Garro.

Nesse período conheceu Adolfo Bioy Casares, casado em um matrimonio aberto com Silvina Ocampo que aceptava a bisexualidade da escritora argentina. Incluso, se vinculou con la poeta Alejandra Pizarnik, enquanto Bioy seria amante por duas décadas de Elena Garro.

Após o divórcio em 1950, a obra de Garro foi ofuscada pela obra de Paz. Repetindo a velha história de machismo que já conhecíamos no casal Frida Kahlo e Diego Rivera, ou em Camille Claudel e Auguste Rodin, a escritora mexicana Elena Garra sofreu pela relação de cruel dominação que o escritor Octavio Paz exerceu sobre ela, e foi marcada ao mesmo tempo pela repressão política do México, e pelo narcisista mundinho literário, que nunca exaltou os muitos méritos das suas letras.

Apesar dos seus escritos pioneiros, poucas vezes foi lembrada tanto quanto outros autores ligados ao “realismo mágico” latinoamericano. Pelo contrário, em 2016, Garro foi nomeada em um folheto promocional apenas como “a esposa de Octavio Paz, a amante de Bioy Casares, e uma inspiração para García Márquez, admirada por Borges”.

Quase 30 anos depois da sua morte, as suas três obras mais

Fue una gran alegría recibir una invitación de mi amigo Rodrigo Vázquez, autoridad del Consulado General de México en São Paulo, al lanzamiento por parte de la editorial Pinard de La semana de los colores, obra de la autora mexicana Elena Garro, poco conocida en Brasil.

Octavio Paz, Premio Nobel de Literatura 1990 -con quien estuvo casada la autora de La semana de los colores-, y Elena Garro, fueron dos de los más grandes escritores mexicanos del siglo XX.

La unión entre Octavio Paz y Elena duró poco más de veinte años (unos dicen veintidós, otros dicen veintiséis) y solo tuvieron una hija, Laura Helena Paz Garro. Durante este período conoció a Adolfo Bioy Casares, casado en matrimonio abierto con Silvina Ocampo que aceptaba la bisexualidad de la escritora argentina, su esposa, que, incluso mantuvo una relación con la poeta Alejandra Pizarnik, mientras que Bioy, por su parte, sería amante de Elena Garro durante dos décadas.

Después de su divorcio en 1950, el trabajo de Garro quedó eclipsado por el de Paz. Repitiendo la vieja historia del machismo que ya conocíamos en la pareja Frida Kahlo y Diego Rivera, o en Camille Claudel y Auguste Rodin, la escritora mexicana Elena Garro sufrió la relación de cruel dominación que ejerció sobre ella el escritor Octavio Paz, y estuvo marcada a la vez por la represión política en México, y por el narcisista mundo literario, que nunca ensalzó los múltiples méritos de sus escritos.

A pesar de sus textos pioneros, pocas veces ha sido tan recordada como sí lo fueron otros autores vinculados al “realismo mágico” latinoamericano. Por el contrario, en 2016, Garro fue nombrada en un folleto promocional solo como “la esposa de Octavio Paz, la amante de Bioy Casares y una inspiración para García Márquez, admirada por Borges”.

Casi 30 años después de su muerte, sus tres obras más importantes fueron reeditadas en España y, como decía al principio,

importantes são republicadas em Espanha e, como disse ao início, coincidentemente também no Brasil surge a edição de A semana das cores em português, pela editora Pinard. No evento propiciado pelas autoridades do México em São Paulo, junto com a especialista brasileira Mariana Adami conseguimos revisar sua história, conversando também com a pesquisadora que a salvou do esquecimento, a mexicana Patricia Rosas Lopátegui.

Um adiantamento da obra de Elena Garro em edição brasileira já havia aparecido em 2013, traduzido por Josely Vianna Baptista, na Antologia de literatura fantástica (Adolfo Bioy Casares, Silvina Ocampo e Jorge Luis Borges) de 1940. Esse texto -Um lugar sólido-é justamente a peça de teatro que abre as portas da literatura mexicana para a novel autora em 1957.

A primeira vez que Elena Garro esteve na Espanha foi em 1937, quando ficou com Octavio Paz na Valência castigada pelas bombas fascistas e juntos participaram do 2º Congresso Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura. Ela contou suas experiências em Memorias de España, de 1937 - obra que foi relançada na península nesse 2025 pela editora Bamba. Ela voltaria às terras do seu pai junto com a filha, em 1974, num de seus vários exílios. Em Madrid viveu sete anos de solidão, semelhante aos seus últimos anos de vida no México, em Cuernavaca, onde morreu em 1998.

Desapareceu com ela uma das melhores entre as escritoras e escritores de língua espanhola do século XX. Foi jornalista, dramaturga, poetisa, narradora e roteirista. E sua vida sempre foi atravessada pela relação de cruel dominação que Octavio Paz exerceu sobre ela desde 1937, quando o poeta foi buscá-la na universidade, proibindo-lhe prestar exames para que se casassem de imediato e de surpresa para toda a família.

Sua biógrafa, a também mexicana Patricia Rosas Lopátegui, conta que, depois daquele casamento inesperado, a jovem de apenas vinte anos nem sabia como contar aos pais, pois, durante o namoro - iniciado por insistência dele - Elena implorava ao pai que a levasse para um convento. Don José Antonio Garro Melendreras se opôs ao relacionamento por causa do narcisismo e autoritarismo do namorado. Mas tudo aquilo foi apenas o triste presságio da sua vida nas décadas seguintes, tanto para Elena Garro quanto para sua filha, Helena Paz Garro.

A vida já turbulenta da autora foi ainda mais prejudicada pela repressão política do governo mexicano: “Desde o final de 1956, Elena Garro virou uma figura incômoda para o regime, pelo seu ativismo social a favor dos camponeses despossuídos de suas terras”, disse Patricia Rosas Lopátegui. Mas só no massacre dos estudantes de Tlatelolco, em 1968, patrocinado pelo presidente Gustavo Díaz Ordaz, que começou a tomar forma a história incriminatória e falsa sobre a escritora, acusando-a de ter montado uma “conspiração comunista, dentro do movimento estudantil, para derrubar o governo”. Nas palavras da sua biógrafa, “Elena foi ‘assassinada’ através da lenda negra.”

Garro, que apesar das perseguições de que foi vítima, nunca deixou de trabalhar como jornalista, em entrevistas, reportagens e crônicas em que desafiava a sociedade pelo seu ativismo contra a marginalização das mulheres e dos indígenas, se afirmou na escrita e nunca parou de escrever. É por isso que, para localizar suas obras no tempo e no espaço, é preciso falar de datas e lugares diferentes: “Ela pegou seus manuscritos em vários momentos e os ampliou ou reelaborou. Isso fazia parte do seu processo criativo, pois ao não conseguir publicar seus romances, contos, peças, memórias ou poemas, eles ficavam trancados em baús e malas de viagem e terminavam mudando frequentemente de gênero literário”, explica Patricia Rosas Lopátegui. Por exemplo, escreveu Inés entre 1961 e 62, em Paris, retomou o texto mais

casualmente, la edición de A semana das cores en portugués también fue publicada en Brasil por la editorial Pinard. En el evento organizado por las autoridades mexicanas en São Paulo, junto a la especialista brasileña Mariana Adami, pudimos repasar su historia, conversando también con la investigadora que la salvó del olvido, la mexicana Patricia Rosas Lopátegui.

Un adelanto de la obra de Elena Garro en una edición brasileña ya había ocurrido en 2013, traducida por Josely Vianna Baptista, en la Antología de literatura fantástica (de Adolfo Bioy Casares, Silvina Ocampo y Jorge Luis Borges) de 1940. Este texto –Un lugar sólido– es precisamente la obra que abrió las puertas de la literatura mexicana a la novel autora en 1957.

La primera vez que Elena Garro estuvo en España fue en 1937, cuando se alojó con Octavio Paz en Valencia, devastada por las bombas fascistas, y juntos participaron en el II Congreso Internacional de Escritores para la Defensa de la Cultura Relató sus vivencias en Memorias de España, de 1937, obra que fue reeditada en la península en 2025 por la editorial Bamba. Regresaría a las tierras de su padre con su hija, en 1974, en uno de sus muchos exilios. En Madrid vivió siete años de soledad, similares a sus últimos años de vida en México, en Cuernavaca, donde murió en 1998. Con ella desapareció una de las mejores escritoras en lengua española del siglo XX.

Elena fue periodista, dramaturga, poeta, narradora y guionista. Su vida estuvo siempre marcada por el cruel dominio que ejerció sobre ella Octavio Paz desde 1937, cuando el poeta fue a buscarla a la universidad, prohibiéndole de presentarse a sus exámenes para poder casarse de inmediato, con gran sorpresa para toda la familia. Su biógrafa, la también mexicana Patricia Rosas Lopátegui, cuenta que, tras aquel inesperado matrimonio, la joven, de apenas veinte años, ni siquiera supo cómo decírselo a sus padres, pues, durante el noviazgo -que comenzó por insistencia de él, Elena le rogó a su padre que la llevara a un convento. Don José Antonio Garro Melendreras se opuso a la relación debido al narcisismo y autoritarismo de su novio. Pero todo aquello fue solo un triste presagio de su vida en las décadas siguientes, tanto para Elena Garro como para su hija, Helena Paz Garro.

La ya turbulenta vida de la autora se vio aún más dañada por la represión política del gobierno mexicano: “Desde finales de 1956, Elena Garro se convirtió en una figura incómoda para el régimen, debido a su activismo social a favor de los campesinos desposeídos de sus tierras”, afirmó Patricia Rosas Lopátegui. Pero fue solo durante la masacre de estudiantes en Tlatelolco en 1968, auspiciada por el presidente Gustavo Díaz Ordaz, que comenzó a gestarse la historia incriminatoria y falsa sobre la escritora, acusándola de haber montado una “conspiración comunista, dentro del movimiento estudiantil, para derrocar al gobierno”. En palabras de su biógrafo, “Elena fue ‘asesinada’ a través de la leyenda negra”.

Garro, quien a pesar de la persecución de la que fue objeto, nunca dejó de trabajar como periodista, en entrevistas, reportajes y crónicas en las que interpelaba a la sociedad a través de su activismo contra la marginación de las mujeres y los indígenas, se consagró en la escritura y nunca dejó de escribir. Por eso, para ubicar sus obras en el tiempo y el espacio, es necesario hablar de diferentes fechas y lugares: “Tomó sus manuscritos en diversos momentos y los amplió o reelaboró. Esto formaba parte de su proceso creativo, pues al no poder publicar sus novelas, cuentos, obras de teatro, memorias o poemas, estos permanecían guardados en baúles y maletas y acababan cambiando de género literario con frecuencia” explica Patricia Rosas Lopátegui. Por ejemplo, escribió Inés entre 1961 y 62, en París, volvió al texto

de dez anos depois em Madrid, e novamente em Paris, em 1982, e foi então que o relato passou de conto para romance.

Mudavam seus textos de um gênero para outro, mas o que não muda ao longo de toda a sua carreira literária é a sua vocação autobiográfica: “O que não é experiência é a academia”, disse Garro, pois seu trabalho segundo Patricia Rosas Lopátegui, -a pesquisadora que tirou a escritora da lenda negra-, pode ser visto como um grito que pinta cenas reais para moldar uma composição que é inventada, como por exemplo o da violência de gênero que ela não vai denunciar na delegacia, mas sim num espaço mais seguro, no qual ela pode narrar algo que seria indizível na vida real. Na frase sobre a experiência e a academia, originalmente de Ortega y Gasset, a vida não é uma vivência isolada, e sim uma interação constante entre o indivíduo e o seu contexto, incluindo a academia.

A Semana das Cores destaca a importância do espacial e o temporal na construção dos significados da narrativa em ficção. Os relatos fazem uma reconstrução do temporal e do espacial que entrelaça, por um lado, aspectos do patrimônio cultural religioso judaico-cristão e, por outro, as tradições e crenças das antigas comunidades mexicanas e da Mesoamérica; essas crenças se refletem no presente e reaparecem no universo da ficção. As constantes reformulações de tempo e espaço são molde para os estados mentais dos personagens, e emergem do texto como forças criativas que culminam em uma nova concepção de categorias espaciais e temporais. Podemos dizer que a reelaboração dessas categorias favorece a surgimento do inusitado na narrativa e revela processos de formação de novas identidades e alteridades, sempre enraizadas no México profundo e ancestral.

A vocação de Elena Garro como cronista é exercer a denúncia social, e isso fica bem evidente logo na primeira vez que seu nome é publicado. Seus temas recorrentes eram a pobreza, o racismo, o autoritarismo e a corrupção, a violência de gênero, assim como os crimes contra os indígenas e camponeses. Nesse aspecto não deixava de coincidir com o seu marido e algoz, Octavio Paz, que em RTVE, em entrevista de 1977 afirmou que “a história de México é uma história trágica, uma história de infortúnios, cheia de dramas y fracassos”.

Quando tinha só 24 anos, em 1941, escreveu uma reportagem, Mulheres Perdidas, para a revista Así. O texto nasce de uma audaz pesquisa para a qual precisou entrar durante dez dias disfarçada numa Casa de Orientação Feminina de Coyoacán, algo semelhante a uma prisão feminina, na qual ela denuncia as atrocidades cometidas contra meninas e jovens mulheres. A obra, que terminou com a demissão do diretor da prisão e ainda melhorou as condições de vida das presas, lhe deu grande notoriedade. A reportagem, assim como toda a sua obra, ajuda a compreender melhor como muitos dos preceitos dos povos indígenas e sobretudo os mitos católicos, tão enraizados na ideologia mexicana, causam a violência de gênero e os feminicídios que nos deixam de cabelos em pé, por exemplo, na escrita de 2666 do chileno Roberto Bolaño quando retrata os crimes contra mulheres na fronteira norte do México.

Outro exemplo de escrita realista é o romance Inés, publicado nesse ano de 2025 na Espanha pela editora Espinas. Ela disse sobre o romance em uma entrevista de 1995: “Eu queria salvar Inés, mas como não deixaram, pensei em escrever. Se eu tivesse feito isso antes, talvez eles tivessem me esfaqueado.” Acontece que a personagem Inés é mantida em cativeiro por pessoas amaldiçoadas que realizam rituais de ignomínia e crueldade. Ela só pensa em fugir, mas está condenada ao confinamento e à tortura porque não é apenas mais uma vítima do grupo e de seus líderes, mas sim a vítima propiciatória, escolhida pelos deuses ou pelos

más de diez años después en Madrid, y de nuevo en París, en 1982, y fue entonces cuando el relato pasó de cuento a novela.

Cambiaron sus textos de un género a otro, pero lo que no varió a lo largo de su carrera literaria fue su vocación autobiográfica: “Lo que no es experiencia es academia”, dijo Garro, porque su obra, según Patricia Rosas Lopátegui, -la investigadora que sacó a la escritora de la leyenda negra-, puede verse como un grito que pinta escenas reales para darle forma a una composición que se inventa, como la violencia de género, por ejemplo, que ella no denunciará en la comisaría sino en un espacio más seguro, en el que pueda narrar algo que sería indecible en la vida real. En la frase, originalmente de Ortega y Gasset, lo que se dice es que la vida no es una experiencia aislada, sino una interacción constante entre el individuo y su contexto, incluido el académico.

La Semana del Color destaca la importancia del espacio y el tiempo en la construcción de los significados de las narrativas de ficción. Los relatos reconstruyen los aspectos temporales y espaciales que entrelazan, por un lado, aspectos del patrimonio cultural religioso judeocristiano y, por otro, las tradiciones y creencias de las antiguas comunidades de México y Mesoamérica. Estas creencias se reflejan en el presente y reaparecen en el universo ficticio. Las constantes reformulaciones del tiempo y del espacio son un molde para los estados mentales de los personajes y emergen del texto como fuerzas creativas que culminan en una nueva concepción de las categorías espaciales y temporales. Podemos decir que la reelaboración de estas categorías favorece la emergencia de lo insólito en la narrativa y revela procesos de formación de nuevas identidades y alteridades, siempre enraizadas en el México profundo y ancestral.

La vocación de Elena Garro como columnista es la de denuncia social y eso queda bien claro la primera vez que se publica en su nombre. Sus temas recurrentes fueron la pobreza, el racismo, el autoritarismo y la corrupción, la violencia de género, los crímenes contra indígenas y campesinos. En este sentido, no dejó de coincidir con su marido y torturador, Octavio Paz, quien en una entrevista en RTVE en 1977 afirmó que “la historia de México es una historia trágica, una historia de desgracias, llena de dramas y de fracasos”.

Cuando tenía apenas 24 años, en 1941, escribió un reportaje, Mujeres perdidas, para la revista Así. El texto fue resultado de una audaz investigación para la que tuvo que permanecer de incógnito durante diez días en un Centro de Orientación Femenina de Coyoacán, algo parecido a una cárcel de mujeres, donde denuncia las atrocidades que se cometen contra niñas y jóvenes. La obra, que concluyó con la destitución del director de la prisión y además mejoró las condiciones de vida de las presas, le dio gran notoriedad. El informe, como toda su obra, nos ayuda a comprender mejor cómo muchos de los preceptos de los pueblos indígenas y en especial los mitos católicos, tan arraigados en la ideología mexicana, provocan violencia de género y feminicidios que nos dejan los pelos de punta, por ejemplo, en el escrito 2666 del chileno Roberto Bolaño cuando retrata los crímenes contra las mujeres en la frontera norte de México.

Otro ejemplo de escritura realista es la novela Inés, publicada en España en 2025 por la editorial Espinas. En una entrevista de 1995, comentó sobre la novela: “Quería salvar a Inés, pero como no me dejaron, pensé en escribir. Si lo hubiera hecho antes, quizá me habrían apuñalado”. Resulta que el personaje, Inés, está cautivo de personas malvadas que realizan rituales de ignominia y crueldad. Ella solo piensa en escapar, pero es condenada al confinamiento y a la tortura porque no es una víctima más del grupo y de sus líderes, sino la víctima propiciatoria, elegida por los dioses o por los demonios para invertir la lógica de que no haya víctimas ni verdugos.

demônios para derrubar a lógica de não haver vítimas ou algozes.

Talvez nas suas letras, Elena Garro nos fale com insistência da figura do corpo feminino fraturado que nos remete ao mito de Coyolxhauqui, materializado no monolito que encontramos no Museo Templo Mayor, na Cidade do México. O mito conta que Coyolxhauqui, irmã de Huitzilopochtli, o deus da guerra na cosmovisão asteca, representa a mulher que enfrentou a autocracia masculina e foi punida com o desmembramento, transformada na Lua, à qual seu irmão Sol vai se perpetuar para derrotá-la na madrugada de todos os dias.

A luta de Elena Garro não acabou, por isso as mulheres continuam brigando até derrubarmos -juntas e juntos, mulheres e homens- aqueles velhos valores que nos desumanizam.

Quizás en sus letras, Elena Garro nos habla con insistencia de la figura del cuerpo femenino fracturado que nos remite al mito de Coyolxhauqui, materializado en el monolito que encontramos en el Museo del Templo Mayor, en la Ciudad de México.

Cuenta el mito que Coyolxhauqui, hermana de Huitzilopochtli, dios de la guerra en la cosmovisión azteca, representa a la mujer que se enfrentó a la autocracia masculina y fue castigada con el desmembramiento, transformada en la Luna, a la que su hermano el Sol perpetuará para vencerla al amanecer de cada día.

La lucha de Elena Garro no ha terminado, y por eso las mujeres siguen luchando hasta derrocar -juntos, mujeres y hombres- esos viejos valores que nos deshumanizan.

Notas bibliográficas:

La semana de colores, Universidad Veracruzana, 1964.

A mi sustituta en el tiempo. Poesía de Elena Garro. Edición, estudio preliminar y notas de Patricia Rosas Lopátegui. México, Gedisa,2024. 253 pp.

EL LLANO DE HUIZACHES

¡Elena!

Oigo mi nombre, me busco.

¿Sólo esta oreja queda?

¿Ésta que oye mi nombre en un llano de huizaches?

¿Mi nombre, gritado así, a los cuatro vientos, de noche, en el llano de la muerte?

¡Elena!

Es raro que descuartizados mis miembros avancen por el llano de huizaches. El nombre ya no los une ni los nombra. Es raro que sigan avanzando y que en el centro esté la boca del vacío. Ahora los llama mi nombre:

¡Ven aquí, nariz de Elena!

¡Ven aquí, brazo de Elena!

Sólo la bacinica sigue firme cubriendo la cabeza que sonámbula rueda en el valle de huizaches.

¿Hay todavía un puntapié sobrante?

¿Ya nadie llega a jugar a la pelota?

¿Nadie olvidó un buen escupitajo de colmillo para la cabeza que rueda entre huizaches?

¡Elena!

Los llama mi nombre:

¡Vengan aquí, mano pierna pescuezo! Hace años que bailan separados en la tierra de los escupitajos.

¿Hay alguien que guarde todavía un gargajo para ese ojo cerrado a gargajazos?

¡Elena!

La voz viene del centro profundo de mi ombligo. Hay quien vive adentro del ombligo y me llama. La voz corre para atrapar los pies que corren entre huizaches y las manos que bailan el baile loco de los dedos locos sin pizarra, sin lápiz, sin niño, sin amante. Me busco. Me encuentro.

Colgado de una rama seca está uno de mis labios.

Y ahora por allí corre la lengua que recitaba las lecciones del colegio: Rosa, rosae…

¿Qué hará allí, tan lejos del pizarrón, tirada en el valle de huizaches?

¡Elena!

Me busco. Me encuentro. Nadie levanta la bacinica que cubre paisajes, pájaros vistos en deslumbrantes copas, el pico de la estrella de la cual colgaba yo y las sílabas de mi nombre meciéndome hacia un pasado y un futuro los dos de oro antes de estar aquí, gritándote a ti mismo en los huizaches.

Tampoco hay que mirar por el agujero de la aorta. ¡Señores, un mecate para ligarlo bien!, para que nunca más se llegue al centro de ese corazón que yace luna roja caída en el llano de huizaches

¿Les gustará a las damas y a los caballeros tumbado, iluminando de rojo a los huizaches en el valle en el que rueda mi ombligo como antes rodaron canicas llamándome?

¡Clic! !Clic! !Clic!

¡Elena!

Mi espinazo blanco avanza como víbora hacia el pozo negro del vacío.

¿Hay algún tacón de raso, de esos piadosos tacones de raso que llevan las señoras para que aplaste su cabeza?

¡Rosario y decencia en mano, hubo damas!

¡Chequera y decencia en mano, hubo caballeros! El llano, este llano, es para los pelados. Las damas y los caballeros viven en avenidas de cartón y beben sangre de indio.

¡Elena!

Me busco. Hay tiempo, el pozo está lejos todavía. Los dientes separados de la encía avanzan a saltitos. Hasta que caiga el último de ellos, hasta que caiga la solemne campanilla que presidió al paladar y a la palabra, no podré responderte.

¡Elena!

Te digo que me busco, que me encuentro. Espera hasta que llegue al pozo negro la última de las uñas.

¡Es largo el llano de huizaches!

¡Es ancho el llano de huizaches!

¡Se tarda uno siglos en cruzarlo!

ENTREVISTA

UNILA. “O OPOSTO DA DIFERENÇA NÃO É A IDENTIDADE, MAS A INDIFERENÇA”*

UNILA. “LO OPUESTO A LA DIFERENCIA

NO ES LA IDENTIDAD, SINO LA INDIFERENCIA”.*

Entrevistamos a Giane Lessa, Professora associada da Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA); graduada em Letras, Alemão e Espanhol (UFRJ). Mestre em Linguística Aplicada pela mesma universidade. Doutora em Memória Social (UNIRIO) e pós-doutorado em Estudos Culturais pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, Portugal (2019). Poeta e pintora nas horas vagas.

A Universidade UNILA é considerada um centro de referência — e excelência — em um tema tão fundamental como a integração cultural latino-americana.

E quando pensamos em cultura, pensamos em história, línguas, tradições, educação e, acima de tudo, no entendimento mútuo entre as comunidades linguísticas que falam português, espanhol, quíchua e guarani. Mas como essa integração é construída na vida real e cotidiana?

A UNILA é uma universidade única. Parece que o próprio nome leva a ideia de única e de união. A concepção do projeto envolveu uma consulta internacional a especialistas de várias áreas. Isto foi um pontapé inicial, podemos dizer: uma linha no horizonte que mais ou menos indicaria um certo direcionamento. Por outro lado, a prática da integração envolve muitos fatores que podem obstaculizar, mesmo que temporariamente, como: leis brasileiras (que regem o ensino, a vinda de docentes e discentes do exterior) docentes que vieram para a universidade por causa do projeto e docentes que vieram não necessariamente pelo projeto; visões de mundo muito diversas; culturas muito diversas; a própria interpretação do projeto é diversa. E isso é muito bom. É o que nos une, é o ponto de partida, o meio e o caminho a ser seguido. A integração abarca a necessidade de compreensão de pequenas e profundas diferenças. Talvez, possamos imaginar o desenho de um rizoma com uma infinidade de pontos coloridos e agrupados de modo aleatório em que haveria em maior e menor medida aproxi-

Entrevistamos a Giane Lessa, profesora asociada de la Universidad Federal para la Integración Latinoamericana (UNILA); Licenciada en Literatura, Alemana y Española (UFRJ). Máster en Lingüística Aplicada por la misma universidad. Doctorado en Memoria Social (UNIRIO) y postdoctorado en Estudios Culturales por el Centro de Estudios de Comunicación y Sociedad de la Universidad de Minho, Portugal (2019). Poeta y pintora en su tiempo libre.

La Universidad UNILA es considerada un centro de referencia, -y de excelencia- en un tema tan fundamental como lo es la integración cultural latinoamericana.

Y cuando decimos cultural pensamos en historia, idiomas, tradiciones, educación y sobre todo en un conocimiento mutuo entre los pueblos de habla portuguesa, española, quechua y guaraní. Pero, ¿cómo se construye esta integración en la vida real, cotidiana?

La UNILA es una universidad única. Parece que el nombre en sí transmite la idea de singularidad y unidad. El diseño del proyecto implicó una consulta internacional con expertos de diversos campos. Éste fue un punto de partida, podríamos decir: una línea en el horizonte que indicaría más o menos una determinada dirección. Por otro lado, la práctica de la integración involucra muchos factores que pueden obstaculizarla, incluso temporalmente, como: las leyes brasileñas (que regulan la enseñanza, la llegada de profesores y estudiantes del exterior), los profesores que vinieron a la universidad por causa del proyecto y los profesores que vinieron no necesariamente por causa del proyecto; visiones del mundo muy diversas; culturas muy diversas; La interpretación del proyecto en sí es diversa. Y eso es muy bueno. Es lo que nos une, es el punto de partida, el medio y el camino a seguir. La integración abarca la necesidad de comprender las pequeñas y profundas diferencias. Quizás podamos imaginar el diseño de un rizoma con infinidad de puntos de colores agrupados alea-

mações por afinidades de cores e mistura de cores. A integração não é homogênea, mas é muito rica, é aprendizagem a cada dia. Cada aproximação nos desloca necessariamente do lugar social e cultural em que pensamos estar. É também difícil, conflitos se instalam e aprendemos a lidar com eles sem que forçosamente tenhamos que “resolvê-lo”.

Vou dar alguns exemplos: UNILA tem no seu projeto o bilinguismo caracterizado pelo par linguístico português e espanhol. Nem todos os servidores falam os dois idiomas. A suposta transparência entre as duas línguas se apaga até mesmo quando dois falantes de espanhol, um argentino e um colombiano se encontram.

Para tornar mais complexo esse contexto, temos outras línguas que fazem parte do dia a dia institucional: francês, inglês, várias línguas indígenas do Brasil, da Colômbia, do Peru e da Bolívia, do México, da África etc.; crioulo haitiano e crioulos africanos, russo, paquistanês etc. Ao mencioná-las, imediatamente colocamos em evidência a multiplicidade de culturas com as quais lidamos dentro da sala de aula e nos corredores. Essa multiplicidade deflagra múltiplos processos tradutórios, deslocamentos culturais e mal-entendidos a todo momento. É como se fôssemos chacoalhados dentro de um trem em alta velocidade: ninguém sai igual, todos nos modificamos em alguma medida.

Entendo que a tradução, no sentido mais amplo do termo, é o elemento integrador por excelência, ainda que não se dê de forma consciente. Nas minhas aulas, falo português e espanhol e peço para os estudantes falantes de línguas que falem e tragam textos em suas línguas. As disciplinas, do curso de Mediação Cultural Artes e Letras, com as quais venho trabalhando, me permitem essa inserção. São elas: Mediação Cultural; Oralidades Latinoamericanas; Estudos da Tradução; Tradução Cultural; Linguagem e Sociedade; Ação Intercultural; Memória e Patrimônio. Os estudantes falantes de línguas orais são exemplos vivos do encontro de línguas e culturas de cosmovisões muito diversas. Aquilo que vemos na teoria, vivenciamos na prática. Não é demagogia dizer que nós, docentes, aprendemos com os estudantes. Isso é um fato diário. Além das atividades cotidianas, os festivais de música, comida, poesia, dança operam para a integração. Mas ela se dá também nas ruas, nas moradias, em vários contextos externos. É assim que percebo e sinto a integração.

Qual a influência de ser uma instituição de fronteira? O que o conceito de fronteira representa para você em termos linguísticos, culturais, sociais e econômicos?

A partir da minha resposta anterior, é possível suspeitar que as fronteiras, que tradicionalmente, ou no senso comum, são entendidas como limites, são na verdade movimento e fluxo contínuo. Se há alguma delimitação, ela se reconfigura a cada instante. As línguas compõem juntas uma música para lá de híbrida, a UNILA é translíngue, é uma babel linguística e cultural.

Eu me lembro, logo no início, em 2011 quando vim para cá, tivemos um sarau de poesia, coordenado pela querida professora Alai Dinis, em que foram lidos poemas em guarani, espanhol, português, inglês e russo. Havia um professor russo que nos fez ouvir a voz de Maiakoviski. Foi impactante, ele traduzia os poemas. Como isso foi percebido por cada um de nós?

Suponho que de maneiras muito diferentes. O que tínhamos em comum? O enriquecimento mútuo!

Com a chegada dos refugiados, em 2019, eu integrei a comissão de acolhimento e acompanhamento de refugiados de portadores de visto humanitário, a CAERH. Cada integrante da comissão acompanhou um grupo de estudantes. Eu acompanhei um

toriamente en el que habría, en mayor o menor medida, aproximaciones debido a afinidades de color y mezclas de colores. La integración no es homogénea, pero sí muy rica, es un aprendizaje cada día. Cada enfoque nos desplaza necesariamente del lugar social y cultural en el que creemos estar. También es difícil, los conflictos surgen y aprendemos a lidiar con ellos sin tener que necesariamente “resolverlos”.

Daré algunos ejemplos: la UNILA tiene en su proyecto el bilingüismo caracterizado por el par de idiomas portugués y español. No todos los servidores hablan ambos idiomas. La supuesta transparencia entre ambas lenguas desaparece incluso cuando dos hispanohablantes, un argentino y un colombiano, se encuentran.

Para hacer más complejo este contexto, tenemos otras lenguas que forman parte de la vida cotidiana institucional: el francés, el inglés, varias lenguas indígenas de Brasil, Colombia, Perú y Bolivia, México, África, etc.; Criollo haitiano, criollo africano, ruso, pakistaní, etc. Al mencionarlos, destacamos inmediatamente la multiplicidad de culturas con las que tratamos en el aula y en los pasillos. Esta multiplicidad desencadena en cada momento múltiples procesos de traducción, cambios culturales y malentendidos. Es como si nos sacudieran dentro de un tren de alta velocidad: nadie sale igual, todos cambiamos en alguna medida.

Entiendo que la traducción, en el sentido más amplio del término, es el elemento integrador por excelencia, aunque no se haga de forma consciente. En mis clases hablo portugués y español y pido a los alumnos que hablan otros idiomas que hablen y traigan textos en sus idiomas. Las asignaturas de la carrera de Mediación Cultural, Artes y Letras que he estado trabajando me permiten hacer esto. Son: Mediación Cultural; Oralidades latinoamericanas; Estudios de Traducción; Traducción Cultural; Lengua y Sociedad; Acción Intercultural; Memoria y Patrimonio. Los estudiantes que hablan lenguas habladas son ejemplos vivos del encuentro entre lenguas y culturas con visiones del mundo muy diferentes. Lo que vemos en teoría, lo experimentamos en

Giane Lessa.

paquistanês, um russo, um da Guiné Bissau e um de Barbados. Além de verificar inicialmente suas necessidades, seu bem-estar e indicar os setores em que podem conseguir informação, apoio, monitorias etc., eu lhes solicitei que me indicassem poetas e/ou elementos de suas culturas. Isso é muito importante para eles.

la práctica. No es demagogia decir que nosotros, los profesores, aprendemos de los alumnos. Este es un hecho cotidiano. Además de las actividades cotidianas, los festivales de música, gastronomía, poesía y danza trabajan por la integración. Pero también ocurre en la calle, en las casas, en diversos contextos externos. Así es como percibo y siento la integración.

¿En qué influye ser una institución de frontera? ¿Qué representa para ti el concepto de frontera en lo idiomático, lo cultural, lo social y lo económico?

De mi respuesta anterior, es posible sospechar que las fronteras, que tradicionalmente, o en el sentido común, se entienden como límites, son en realidad movimiento y flujo continuo. Si existe alguna delimitación, ésta se reconfigura en cada momento. Los idiomas juntos componen una música que es más que híbrida, UNILA es translingüe, es una babel lingüística y cultural.

Recuerdo que, ya al principio, en 2011, cuando llegué aquí, tuvimos un recital de poesía, coordinado por el querido profesor Alai Dinis, en el que se leyeron poemas en guaraní, español, portugués, inglés y ruso. Había un profesor ruso que nos hizo escuchar la voz de Mayakovsky. Fue impactante, tradujo los poemas. ¿Cómo fue percibido esto por cada uno de nosotros?

Supongo que de maneras muy diferentes. ¿Qué teníamos en común? ¡El enriquecimiento mutuo!

* “O oposto da diferença não é a identidade, mas a indiferença.” VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Equívocos da identidade. In GONDAR, Jô & DODEBEI, Vera. O que é memória social. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria LTDA., 2005.

* “Lo opuesto a la diferencia no es la identidad, sino la indiferencia”. VIVEROS CASTRO, Eduardo. Equívocos da identidade. In GONDAR, Jô & DODEBEI, Vera. O que é memória social. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria LTDA., 2005.

Então, num dia nos encontramos e iniciamos a tradução de um poema do Paquistão e um de Barbados. Foi uma experiência incrível aprendermos juntos sobre as visões de mundo de cada um, suas culturas, sobre as intertextualidades possíveis e até que ponto certas categorias léxico-culturais seriam traduzíveis. “Não poder” traduzir o outro também tem significado, talvez aqui esteja uma fronteira mais “resistente”, eu diria, que poderá mover-se mais lentamente, às vezes muito lentamente. Temos um professor peruano, o Ladislao Landa, cuja língua materna é o quéchua. Ele nos deu aula. Os estudantes também produzem músicas, vídeos, poemas translíngues. Essas questões estão no âmago das construções de identidades e memórias e da dinâmica descolonizadora no interior do processo de consolidação da instituição. Mesmo que não sejamos falantes daquelas línguas, se desencadeia um processo de identificação.

Uma forma de alargar as fronteiras é quando o estudante Guarani, Ticuna, Haitiano e outros nos ensinam suas línguas. Eles passam a protagonizar a aprendizagem. Não desprestigiar línguas provenientes de culturas orais, trabalhando o conhecimento da sociolinguística e da antropologia, é um modo de descolonizar. Gosto muito da fala de Viveiros de Castro quando diz: “o oposto da diferença não é a identidade, mas a indiferença”. A diferença é o princípio da relação. Integração não é, portanto, sinônimo de ausência de conflitos e diferenças. Eles existem e são de diversas ordens. A convivência diária faz emergir a necessidade de encará-los abertamente, debatê-los, associá-los com questões históricas, sociais, políticas e econômicas e com a experiências anteriores ao ingresso na UNILA, sem saber se iremos “solucionálo”. Eu diria que nossas fronteiras conformam uma dança sinuosa, desfazendo-se e recompondondo-se no momento seguinte de maneira insuspeitável.

Con la llegada de los refugiados en 2019, me uní al comité de acogida y seguimiento de refugiados con visas humanitarias, CAERH. Cada miembro del comité acompañó a un grupo de estudiantes. Acompañé a un paquistaní, un ruso, uno de Guinea Bissau y uno de Barbados. Además de verificar inicialmente sus necesidades, su bienestar e indicar los sectores donde podrían obtener información, apoyo, seguimiento, etc., les pedí que recomendaran poetas y/o elementos de sus culturas. Esto es muy importante para ellos. Un día nos conocimos y comenzamos a traducir un poema de Pakistán y uno de Barbados. Fue una experiencia increíble aprender juntos sobre las cosmovisiones de cada uno, sobre sus culturas, sobre las posibles intertextualidades y hasta qué punto ciertas categorías léxico-culturales serían traducibles. “No poder” traducir al otro también tiene un sentido, quizás aquí hay una frontera más “resistente”, diría yo, que podría moverse más lentamente, a veces muy lentamente. Contamos con un profesor peruano, Ladislao Landa, cuya lengua materna es el quechua. Nos enseñó una lección. Los estudiantes también producen canciones, vídeos y poemas translingües. Estas preguntas están en el centro de la construcción de identidades y memorias y de las dinámicas descolonizadoras dentro del proceso de consolidación de la institución. Incluso aunque no seamos hablantes de esas lenguas, se desencadena un proceso de identificación.

Una forma de ampliar fronteras es que estudiantes Guaraníes, Ticunas, Haitianos y otros nos enseñen sus idiomas. Se convierten en protagonistas del aprendizaje. No desprestigiar las lenguas originadas en culturas orales, trabajar conocimientos de sociolingüística y antropología, es una forma de descolonizar. Me gusta mucho lo que dice Viveiros de Castro: “lo opuesto a la diferencia no es la identidad, sino la indiferencia”. La diferencia es el principio de la relación. La integración no es por tanto sinónimo de ausencia de conflictos y diferencias. Existen y son de diferentes órdenes. La convivencia cotidiana pone de manifiesto la necesidad de afrontarlas abiertamente, debatirlas, asociarlas con cuestiones históricas, sociales, políticas y económicas y con experiencias previas al ingreso a UNILA, sin saber si las “resolveremos”. Yo diría que nuestras fronteras forman una danza sinuosa, se deshacen y se recomponen en el momento siguiente de una forma insospechada.

LITERATURA

MARU SAN MARTÍN

Un dolor de cabeza me despierta, no hay cuchillo, sólo fantasmas. En bloques de tres, cuento fantasmas sin ningún ánimo de llegar a mi destino. Apenas recuerdo la última vez que me sentí dueña de mis acciones. En los días anteriores todo pasó sin que tuviera el control del presente inmediato. El toro enorme en la punta del cerro me recuerda que aún habito un territorio conocido. Las memorias de la niñez fluyen: mi padre al volante narrando historias que apenas me sacan una sonrisa, mi hermano dormido y yo, yo sumando coches rojos; siempre contando, manía adquirida para hacer el viaje más corto. No han notado que estoy consciente, que a través de la venda puedo ver las sombras que se suceden por el movimiento del auto.

El conductor, con voz desafinada, tararea una canción. Su voz sí que la conozco. La música de Chico-Che llega a mi memoria, la que escuchaba papá: “Qué culpa tiene la estaca, si el sapo salta y se ensarta”. ¿Qué culpa tienen mis tres compañeros de viaje si siempre he sido una imbécil? La tos del pasajero a mi lado me obliga a mover la cabeza y delatar mi presencia; vuelven a golpearme y de mi ojo brota una humedad que me ciega.

Después de un tiempo, que ya no puedo medir, reconozco el tapete de mi auto; ahora sólo puedo imaginar el camino por los olores y los enormes letreros que alcanzo a ver desde la incómoda posición en la que me encuentro. El aroma del campo de cebollas se mezcla con el sudor de mis acompañantes.

Recuerdo los famélicos animales al lado de las casuchas, con la colada siempre al frente. El letrero que anuncia Tierra Blanca–La Tinaja junto con el olor a mango me trae al presente. No saldré viva de este paseo tantas veces recorrido, pero con un poco de suerte mamá podrá encontrar mi cadáver en su tierra.

El trepidar del auto sobre la grava, lastimando mi espalda, indica que ya salimos de la autopista. El

Las cumbres de maltrata

auto se detiene y soy arrastrada como un bulto; fijo la vista en la copa de los árboles que sobresalen entre el maizal, y para no oír la discusión de «si

merezco, o no, el tiro de gracia», vuelvo la cabeza y pego un oído sobre el campo yermo. Cuento piedras de a tres, piedras pequeñas como losas.

Maru San Martín es Licenciada en Hotelería por la UDLAP (1995) Licenciada en Periodismo por UNARTE, (2019). Ha ganado concursos estatales y nacionales de cuento corto, poesía y guion de cortometraje. Autora del cuento infantil ilustrado El camino de Fátima (Avant, Madrid, 2020), y de Historias de clósets y otras prisiones (Autopublicación, 2022). Sus cuentos y poesías se han publicado en diversas antologías impresas y revistas digitales. Se desarrolla como escritora, profesora de escritura creativa, correctora de estilo, diseñadora editorial y gestora cultural en la Feria Nacional del Libro de Escritoras Mexicanas.

LITERATURA

ROSELY APARECIDA DALTÉRIO

— ¡Pinche metiche! ¡Pinche metiche! … metiche!

Las voces se van alejando, deshilando hasta que… Silencio.

Ya no reconoces… reconozco ningún ruido, ningún olor… pues… es que no sé dónde estoy… lejos, muy lejos se habrá quedado la ruta de todas las noches, tantas veces recorrida, después de chambear... si es que el narcomenudeo a que se dedican esos narcochavos se puede considerar chamba....

qué sé yo, qué sabrán ellos, si sólo sé lo poco que mis sentidos aún me permiten reconocer, imaginar, añorar, llorar... me da igual... el olor a tierra recién fecundada por un temporal… ¿olor a ...? hay una palabra… es que no me acuerdo… el olor a tierra … olor a… ¡peticor! sí, olor a tierra mojada … la palabra me la digo y repito a voces, pero nadie me escuchará... estaría Juan Felipe orgulloso de su aprendiz de periodismo, la alumna que prestidigita las palabras...

la futura periodista que firmaría su primer reportaje con temática de denuncia social… el futuro… la carretera hacia el futuro se quedó algunos quilómetros atrás, cuando el último ruido conocido, el sonido de un disparo, me aplastó en esa mezcla de agua, sal, fango, tierra, sangre…

el color que más me gusta, el rojo, coches rojos como los que sumaba… uno… dos… tres… un disparo o dos... no me quiten las palabras… ¡las palabras!... tengo la boca seca y las palabras me salen, me saben húmedas … agua, agua, me trago la palabra, pero no se me pasa la sed… carraspeo, ahora en mi boca todo sabe a sangre, a sal, a polvo, a plomo, el olor a tierra mojada… palabra atragantada...

me duelen los huesos… eres polvo, soy polvo, la nada esparcida, cenizas, mis entrañas parecen estallar, quiero gritar, el silencio... mi madre, la

A sangre, fuego y polvo

abuelita… ninguna palabra abarca el silencio, la soledad, la oscuridad en la que estoy hundida... ¿se puede ver la oscuridad?, ¿estarán abiertos o cerrados mis ojos? todas las cosas que quedaron por decir… la abuelita ya habrá recibido un ramo de rosas rojas…

ay, Virgencita de Guadalupe, compadécete de mí y de ellos, aunque ellos saben lo que hacen y por qué lo hacen… porque ni ellos ni yo podemos elegir lo que sea en esta pinche vida de mierda … meritocracia para los de arriba, los narcoclientes, para los de abajo, la tierra que huele a desazón... todas las cosas que quedaron por vivir… todas las cosas… todas las cosas arregladas en su rincón… regular, sin mover, sin hablar, sin reír, con un pie, con el otro, con una mano, con la otra…

mi hermano, los primos y yo estamos jugando en el patio de la casa de la abuela… no me puedo mover… mi madre se estará peleando con mi jefe, el editor de La Gaceta de Veracruz… tú, no te metas con gente de esa calaña… los chavos, narcochavos, anda que el diccionario les hace un hueco para que tengan su propia voz... narcochavos… como si la palabra les hiciera menos asesinos, que de eso va la cosa, ¡a-s-e-si-n-o-s!…

trata de concluir la carrera y hacer tu postgrado, hija mía, hazme caso… mamá…, la abuelita… las palabras se me aparecen como fantasmas, a borbotones, ya no las puedo contar en bloques de tres... las letras bailan, dan vueltas, revolotean ... la abuelita huele a agua de azahar, la puedo sentir tan cerca y estoy sola, oigo su cantar… su voz suave, dulce como la horchata que tanto te gusta, abuelita, abuelita, cántame la nana… a la nanita nana… cállense mientras la cuna se balancea… la tierra parece moverse, será mi cuna, mi cama, mi tumba, mi nana...

¡cállense! déjenme dormir, ya que no puedo vivir, déjenme en silencio… el silencio …. olor a tierra mojada, la lluvia... letanía… a lo lejos, una

muñequita baila en su cajita musical... ¡pinche suerte! qué dirán los manuales de redacción y estilo sobre el uso del lenguaje … soez… un parto al revés… las palabras húmedas... la letra con sangre entra…

mamá, tengo frío, ¿me bordarás en tu almohada, como me cantabas cuando era niña? la canción tonta, del poeta andaluz… bórdame, mamá, para que puedas soñar conmigo...

total que tu madre siempre presumió de tener buena suerte… la misma suerte que no tuviste tú, pese a tus manos limpias y tu corazón puro.

Tu cuerpo convertido en texto, con signos tatuados a sangre y fuego en tu piel, tu cuerpo, tantos cuerpos expuestos a lo largo del camino, en las afueras de Maltrata, mensaje inequívoco del poder que detienen esos que ni siquiera se merecen una entrada propia en los diccionarios.

Rosely Aparecida Daltério es brasileña, socióloga, profesora de lengua y literatura española e hispanoamericana, lleva varios años escribiendo poesía y crónicas en su lengua materna, el portugués. Su primer cuento en español forma parte de la antología Labios rojos, chocolate y una rosa (2020), prologado por Rosa Montero. El cuento “A sangre, fuego y polvo” es la continuidad de “Las cumbres de Maltrata”, de Maru San Martín, escritora y gestora cultural mexicana, elaborado a partir de una consigna en un taller de escritura creativa, que tudo lugar en 2021. En 2023, publicó su primer libro de cuentos, A paisagem das horas por Opera, donde se encuentra la traducción de “A sangre, fuego y polvo” que, en portugués, se tituló “Periferi(d)as do pó”. ContraVersões, compilación de cuentos en clave de humor, se lanzará próximamente, por Caravana Editorial, así como Recuerdos por estrenar (cuentos de memoria), por Caburé. Su primera obra de narrativa infantil, Pra toda gente (Entre nós), ha salido a la luz por Caravana Editorial.

@mestre_lucianobarrionuevo

ESPORTES | DEPORTES

AS ARTES MARCIAIS, O BKB E A LUTA POR UMA JUVENTUDE MAIS SAUDÁVEL E PROTEGIDA

LAS ARTES MARCIALES, EL BKB

Y LA LUCHA POR UNA JUVENTUD

Quem é Luciano Barrionuevo?

Luciano Barrionuevo nasceu em Córdoba, Argentina, em 4 e julho de 1975. Teve uma proximidade com o Brasil desde muito pequeno quando seus pais migraram para São Paulo. Voltaram então para a Argentina. Depois disso voltou para São Paulo onde viveu o fim de sua infância e adolescência, depois retornou para a Argentina onde ficou até os 23 anos. Vive no Brasil desde então.

Seu primeiro contato com artes marciais foi aos 7 anos na Argentina, onde treinou Kempo coreano (que, como só soube muitos anos mais tarde, foi praticamente o precursor de todas as artes marciais asiáticas), e já em São Paulo treinou Kung fu estilo garra de águia. Por volta de 1987 seu irmão Sebastian estava empolgado com um esporte recém-chegado à América do Sul, o Full Contact. Treinavam de forma independente com um grupo de amigos e fundou a equipe BFC, Barrionuevo Full Contact, com a qual participaram de alguns torneios. Em 2013 Luciano se recuperava de um grave acidente de moto e em meio às novas resoluções de vida estava reativar a equipe já que ele mesmo praticava o full contact, que hoje é conhecido como kickboxing, desde 1997. Voltava a equipe BFC agora rebatizada BKB, Barrionuevo Kick Boxing

A equipe tem raiz forte em algumas regiões da periferia de São Paulo. Entre 2014 e 2017 Luciano trabalhou para a Confederação brasileira de kickboxing onde alguns alunos seguiram o legado do esporte além dos títulos obtidos em competições, como Hebert Assis, que foi seu aluno e hoje como faixa preta comanda um projeto social da equipe BKB no extremo leste da cidade, oferecendo treinos de kickboxing à juventude carente da região. Movido pela convicção de que pequenas oportunidades de cultivar bons hábitos fazem a diferença a vida das pessoas, e que nas periferias mais pobres as opções de lazer saudável como praticar um esporte reduzem as chances de problemas na tomada de decisão por parte de tantos jovens, muitas vezes talentosos e inteligentes, só esperando você estenda a mão para eles.

¿Quién es Luciano Barrionuevo?

Luciano Barrionuevo nació en Córdoba, Argentina, el 4 de julio de 1975. Tuvo una estrecha relación con Brasil desde muy joven cuando sus padres emigraron a São Paulo, y luego regresaron a Argentina. Después volvió a São Paulo donde pasó el final de su infancia y adolescencia para luego regresar a Argentina donde permaneció hasta los 23 años.

Y desde entonces vive en Brasil. Su primer contacto con las artes marciales fue a los 7 años en Argentina, donde entrenó Kempo coreano (que, según supo muchos años después, es prácticamente el precursor de todas las artes marciales asiáticas), y en São Paulo entrenó kung fu en el estilo garra de águila

Alrededor de 1987 su hermano Sebastián se entusiasmó con un deporte que recién llegaba a Sudamérica, el Full Contact. Entrenaba de forma independiente con un grupo de amigos y fundaron el equipo BFC, Barrionuevo Full Contact, con el que participaron de algunos torneos. En 2013, Luciano se recuperaba de un grave accidente de moto y, en medio de sus nuevos propósitos, estaba reactivar el equipo, ya que él mismo practicaba full contact, que hoy se conoce como kickboxing, desde 1997. Regresó al equipo BFC, ahora renombrado BKB, Barrionuevo Kick Boxing

El equipo tiene fuertes raíces en algunas regiones de la periferia de São Paulo. Entre 2014 y 2017 Luciano trabajó para la Confederación Brasileña de Kickboxing donde algunos alumnos siguieron el legado del deporte más allá de los títulos obtenidos en competiciones, como Hebert Assis, quien fue su alumno y hoy como cinturón negro dirige un proyecto social del equipo BKB en el extremo este de la ciudad ofreciendo entrenamiento de kickboxing a jóvenes desfavorecidos de la región. Movido por la convicción que pequeñas oportunidades para cultivar buenos hábitos marcan la diferencia en la vida de las personas, en las periferias más pobres, las opciones para el ocio saludable como la práctica de un deporte disminuyen las posibilidades de las malas tomas de decisiones de la parte de tantos jóvenes, que muchas veces son talentosos e inteligentes, pero están apenas esperando que se les extienda una mano para mostrar sus habilidades.

LITERATURA

HELIÓPOLIS:

DE AQUELLA FAVELA QUE SOÑABA A UNA CIUDAD CON

EDITORIAL

E IMPRENTA

Entrevista con Paulo César Marciano, de la Editorial

Imprenta Heliópolis

Qué es Heliópolis, dónde queda, cómo es, cómo es la vida en esa favela, en ese barrio de Heliópolis?

PCM: El nombre de nuestro proyecto es Editorial Imprenta Heliópolis. Vamos a separar esos nombres. Nosotros nos empeñamos en colocar la palabra Imprenta porque de hecho nosotros comenzamos como una imprenta, pero luego cuando quisimos mantener la palabra Imprenta fue para hacer llegar a la parte cognitiva de la gente que nos busca, que el problema de la imprenta ya va estar solucionado. Porque siempre que vas a editar un libro, la imprenta es un gran problema. Entonces cuando nosotros decimos “Editorial Imprenta”, la persona ya se siente acogida y dice “que bueno, ese problema no lo voy a tener”. Ahora, sobre Heliópolis, y ahí entramos en tu pregunta, es exactamente el territorio donde estamos insertos. Somos un Colectivo, y la mayoría de las personas que lo integran, nacieron o se criaron en Heliópolis.

En mi caso, yo estoy aquí desde que nací. Entonces, ¿qué es Heliópolis? Es una favela, que hoy tiene un otorgamiento de barrio, pero para nosotros continúa siendo una favela. Una favela dentro de la ciudad de Sao Paulo, capital del Estado Sao Paulo, y capital financiera del país. Una de las capitales más grandes de América Latina. Heliópolis tiene más o menos un millón de metros cuadrados, para 250.000 habitantes. O sea, es una favela que tiene una cantidad de personas mayor que muchas ciudades.Hay ciudades del interior que tiene setenta mil u ochenta mil. Entonces, tienes allí una densidad demográfica muy grande. Es una casa encima de la otra, y cada vez está creciendo más.

Es la cara de Latinoamérica…

PCM: Exactamente. En Heliópolis están todas esas personas. Yo no las conozco todas, no hay manera. Es mucha gente. Pero he visto inmigrantes aquí del Oriente, chinos, coreanos, japoneses. Ahora, está la ola de los inmigrantes de África, y he visto gente de Nigeria, de Angola hasta a causa del idioma que los

ayuda… Conozco personas de varios países de América Latina, como argentinos, chilenos, venezolanos, incluso hay uno que suele venir al CEU (Centros Educacionales Unificados, de la Prefectura) de aquí, que es un lugar público donde la gente se encuentra, donde hay cultura, deporte, esparcimiento, educación… Y hay un compatriota tuyo allá. Aquí hay de todo, todo tipo de personas, de todos los estados de Brasil, así que Heliópolis acoge mucho a la gente.

Heliópolis era un lugar muy violento. Pasó por todos los tipos de violencia que puedas imaginar, y es preciso contextualizar eso. Porque hoy Heliópolis es un lugar muy tranquilo donde vivir. Y hoy, todo lo que puedas imaginar, lo hay en Heliópolis. Hay hospitales, varias UPAs (Unidad de Pronta Atención), guarderías… Hoy aquí un niño puede entrar en la guardería del CEU con seis meses, y salir de veinte y tantos años graduado de la universidad, todo en el mismo lugar…

Heliópolis hoy es ese tipo de lugar. Fue una lucha fuerte de los habitantes para que se transformara en este lugar, y siempre basándose la educación. Y la cultura vino muy fuerte, como herramienta de educación. Hoy Heliópolis tiene orquesta, teatro, colectivo de cine, editorial. Falta de acceso no tiene. No fue una cosa dada y eso tenemos que dejarlo claro. Es lógico que hay un Poder Público, porque esas cosas necesitan del Poder Público, de políticas públicas, pero no fue que miraron para acá y dijeron “pobrecitos, vamos allá”. No fue eso. Fue una verdadera lucha popular. ¿Sabes? Cuando una población se une, los líderes se unen y dejan sus egos de lado, se logran las cosas. Fueron muchas las personas que visualizaron la Heliópolis de hoy, cincuenta años atrás.

Es muy importante eso porque lo primero que debemos sacar de la mente del lector es ese “estigma de la favela” como una cosa sin desarrollo. Y no, es una ciudad dentro de otra ciudad. Todo lo que relatas es muy importante para entender cómo funciona la sociedad ahí adentro. Ahora, dentro de todo ese contexto de Heliópolis, cuándo y cómo nace la Editorial - Imprenta, y por qué? ¿Cómo fue que ustedes soñaron eso? ¿Cómo lo pensaron? ¿Cuál fue el concepto?

Assista aqui o vídeo da entrevista na íntegra em português.

¿Cómo ustedes pensaron “por qué Heliópolis necesita tener una Editorial - Imprenta”? ¿Cómo surgió esa idea y cuándo?

PCM: Quiero hacer un complemento aquí: en Heliópolis hoy es muy común que, al caminar, veas edificios. Ella continúa creciendo y comenzó a verticalizarse. Entonces cuando dices que es una ciudad dentro de otra ciudad, es justo eso mismo. Heliópolis funciona como una ciudad. Tienes una economía circular. Ganas tu dinero dentro de Heliópolis y gastas tu dinero dentro de Heliópolis. Hoy puedes hacer dinero, tener trabajo, emprender, ser empleado de alguna empresa porque hay un montón de cosas aquí. Un montón de empresas, grandes y de emprendedores locales…

Y uno de esos emprendimientos es la Editorial…

PCM: Sobre la Editorial, la cosa es más o menos así: yo no puedo darte una fecha, porque ella no se dio así. Tiene fecha de fundación y todo, pero la Editorial no fue una idea concebida de un solo golpe, tipo “¡Espérate! ¡Tenemos una idea! ¡Vamos a ponerla en práctica!” Lo que sucede es esto: yo estoy inserto aquí desde que nací, y estoy inserto en las artes como un todo desde unos seis o siete años de edad. A los seis años fue cuando mi padre me dio mi primera guitarra acústica. Después pasé por la música, por el teatro, y creo mucho en la cultura y en el arte como una herramienta de transformación. Mi vida fue transformada por el arte y yo creo en eso.

Dentro de eso hay dos contextos que van paralelos. Mis asuntos con la comunidad y sus problemas sociales… las calles sin asfalto, niños sin guardería, educación desactualizada, pocas escuelas, poco empleo, prejuicios, discriminación… Entonces, mi vida anda por ese lado. Y mi vida anda también por el lado del arte y la cultura dentro de Heliópolis. Nacieron grupos de hip-hop, el hip-hop es muy fuerte, capoeira, a pesar de que no participaba porque no podía, estaba inserto en esas actividades, articulando con ese gentío para ver lo que podíamos hacer. Entonces está eso en paralelo y las dos cosas son una. Ellas se juntan. Existen intersecciones entre ellas.

Paralelamente a eso, yo tenía mis añoranzas personales. Tenía ganas de hacer una película. De producirla. Producir mi propia obra de teatro. Y mi propio libro también, ¿no? Yo escribí mi libro. Estuve como dos años con una idea en mi cabeza, muy romántica y fuera de la realidad, pero era una ilusión mía. Yo creía que iba a llevarlo a una editorial y a la editorial le iba a gustar y la iba a publicar. Y ahí cuando dieron dos años, tres años que la mandaba, que invertía mi tiempo en eso, y no tenía buenas respuestas…

Paulo, ¿cuándo fue eso?

PCM: En 2008 o 2009 más o menos. Y en esa época también tuve un problema, que fue una unificación de los países de habla portuguesa, cuando acabaron con la diéresis sobre la u, vino el PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), que creo que son ocho países… Entonces hicieron una unificación de la lengua portuguesa. Y todos los libros tuvieron que pasar por ese proceso. Como una corrección. Cambiaron acentos y algunas cosas. Y todo empeoró. Un día, yo estaba conversando con una profesora. Yo estudiaba Letras en la universidad. A esa profesora le gustaban mucho mis textos. Había habido recientemente un concurso de cuentos que incluyó a tres universidades, y yo lo gané. Y era para hacer como un fanfic, un cuento de cuatro páginas a partir de La Metamorfosis de Kafka, pero hacerlo del punto de vista de alguno de los personajes del libro. Yo escogí a la hermana y lo hice.

Es un ejercicio que se hace en los talleres de narrativa…

PCM: Eso. Bueno yo al final gané. Y aquella profesora ya había comprado algunos textos míos y estaba encima de mí, y un día me llamó aparte y me dijo: “quiero leer todo lo que tienes” y yo agarré y le di un montón de textos para que ella los leyera. Y ella “No, pero yo quiero textos más grandes”. Es otro nivel, ¿no?

¿Cuál era el nombre de esa profesora?

PCM: Suely Bechara. Ella me dijo: “yo quiero todo lo que tengas ahí”. Yo le mandé un montón textos, pero no le mandé mi libro. Entonces un amigo mío -siempre hay uno que habla más que una boca- le dijo: “Profesora, él está escondiendo oro ahí. Él tiene un libro, una novela que él escribió”. Ella dijo: “¡Estás bromeando!”. Y yo dije: “¡Ah!, no le preste atención a él”. Ella dijo: “Yo quiero ver eso”. Pero yo dije: “No le voy mandar eso”. Y cometí la burrada de decir: “ese libro es muy malo”. Y ella dijo: “Pero todos los textos que tú me das, a mí me gustan. ¿Es justo el libro lo que no me va a gustar, que es lo que quiero ver? Yo quiero ver un texto largo. ¿Todos son buenos y justo ese es malo?” Entonces respondí: “Es malo, profesora, porque yo lo mandé para…” No recuerdo ahora, pero yo sabía exactamente a cuántas editoriales lo había mandado, 36, 47, no sé, y ninguna respondió. Y aquella mujer, una señora ya, así de pocos movimientos, introvertida, estilo viejita, se volvió un demonio, creció y todo (risas) me dijo un montón de cosas, acabó con mi vida, me insultó, lo que le faltó fue decirme groserías, pero de resto, acabó conmigo. Y eso fue muy importante. Ella me regañaba, en serio, de verdad…

Yo recuerdo cuando contaste eso en aquella charla

a la que yo fui… Fue muy gracioso… A veces a uno le hace falta ese jalón de oreja…

PCM: Sí. Fue muy bueno haber oído eso. Hace falta. Ella me trajo a la realidad y me señaló una cuestión: cuando yo digo que tenía una idea romántica, era por eso mismo, porque yo no conocía la realidad. Tenía una fantasía en mi cabeza, ¿entiendes? Yo pensaba “Yo creo que escribo bien, las personas van a leer y les va gustar… Dentro de poco estaré dando una entrevista a los periódicos”... Y es eso, uno se hace una idea romántica, caes en una ilusión. Entonces, ella me contó un montón de cosas que yo no sabía, no tenía idea. Ella me pidió que le contara el argumento del libro y se lo conté. Y ella me dijo: “tu libro tiene como protagonista una mujer. ¿Tú has visto algún libro con una mujer como protagonista? Si no lo has visto, no es porque nadie lo quiso escribir, es porque las editoriales no lo quisieron publicar”. Ella me dió un baño de realidad. A partir de ahí, cambiaron las cosas. Lógicamente, quedé mal por un tiempo, con ganas de meter la cabeza en un hueco como un avestruz, uno pasa por varios procesos de cura, y cuando pasas una semana en ese proceso, vuelves y lo intentas. Pero esta vez comencé haciendo una investigación. Quise saber sobre los autores publicados, escritores de favela o de Heliópolis que habían publicado, quién publicó y cómo fue su experiencia. Logré hallar en un primer momento bastantes escritores. Había varios perfiles. Unos escribían por escribir, sabiendo que no iban a publicar. Escribían sólo para sacar la idea de la cabeza pero no pensaban en buscar editorial ni autopublicación. Otros escribían hasta la mitad, medios libros, y estando a mitad del proceso, ya buscaban cómo iban a publicar. Cuando entendían que era difícil publicar, se paraban. Abandonaban. Nosotros hemos publicado un montón de esos libros. Cuando montamos la editora, buscamos a esas personas que ya habíamos mapeado. Los incentivamos a terminar sus libros. Les dijimos “Ahora aquí tenemos una editorial. Si lo terminas, lo publicamos”.

Paulo, me gustaría que hablaras un poco de esa línea editorial que ustedes desarrollaron. ¿Cuál es el tipo de autor que ustedes publican, cuál es el públicoobjetivo, para el que ustedes publican?

PCM: Nosotros entendimos que teníamos varios perfiles. Dentro de todo ese gentío, sólo tres habían publicado. Yo les hice la misma pregunta a los tres: “si tuvieran que pasar por todo eso de nuevo, ¿ustedes lo harían?” Los tres dijeron que no. Se habían arrepentido de publicar. Yo dije que eso no podía volverse una pesadilla. Hay que crear una herramienta para que la persona que tiene ese sueño, ese deseo, tenga accesibilidad sin que se vuelva una pesadilla. Y por eso fue que creamos la Editora Gráfica Heliópolis, a la que le dimos “start” en 2018. Entonces fue un proceso, ¿entiendes? Desde que yo escribí mi libro, hasta que hicimos la fundación en 2018. Fuimos entendiendo la situación, madurando, estudiando políticas públicas para ver cómo podíamos hacer un proyecto viable. Entonces no hay una fecha de inicio como tal. Fue una construcción que inauguramos en 2018. En 2017 escribí el proyecto, fuimos aprobados en una ley, y comenzamos en diciembre de 2018.

Dentro de la línea editorial, nosotros publicamos libros artísticos. Tienen que ser artísticos. Dentro de

lo que es artístico, hay una infinidad. Si una persona quiere publicar una obra de teatro, vale, es artístico. Si alguien quiere publicar cuento, novela, poesía, que sea un lenguaje artístico, ficcional, está bien. No publicamos libros de autoayuda, libros técnicos, autobiografía, biografía, esas cosas no las publicamos.

Público - objetivo: yo no sé si puedo usar esa palabra, si es ético o no, pero sé que existe una minoría, que para mí es mayoría. Yo quedo como en conflicto al usar esa palabra “minoría”. En fin, son esas personas, poblaciones, grupos creo que es el término más correcto, grupos que van a sufrir para publicar en las editoriales tradicionales. Ese es el público que me interesa. Mujeres, personas negras, jóvenes, personas de la tercera edad, personas trans. Nosotros publicamos, por ejemplo, una persona que estaba en situación de calle. Hoy ya no está en la calle, mas en aquel momento estaba. Esa persona jamás iba a tener acceso a una editorial tradicional. No iban ni a mirarle la cara. Ese es el público que nos interesa. Las personas de la favela.

Hoy hemos mejorado un poco la calidad de nuestros libros. No me refiero a calidad del armado, sino que, por ejemplo, sólo hacíamos dos formatos, tuvimos que crear un patrón para que el dinero alcanzara, entonces eran sólo dos formatos, un papel blanco, no le poníamos papel creamy, no le poníamos solapas, en fin, debíamos tener un modelo, que era bueno, pero el modelo tenía que ser barato para nosotros porque si no, no lo lograríamos. Y en el primer año publicamos 56 títulos. Es difícil que ese dinero alcance para todos esos libros, ¿entiendes? Así que teníamos ese patrón. Entonces vino un tipo aquella vez, que lo respeto bastante, y dijo: “mi libro tiene que tener solapa, yo soñé con él mi vida entera, tiene que ser tapa dura, papel de no sé qué más…” Yo le dije: “Bueno, amigo, no puedo, no tengo dinero para eso”. Entonces él me dijo, sin arrogancia, conversando normal, sobre sus sueños y deseos, “amigo, hoy, gracias a mi trabajo, yo tengo una condición financiera cómoda, y yo lo pago, ya que el patrón de la editorial no quiere hacer eso por cosas de costo, yo puedo subsidiar eso.” Entonces estimé un valor, hice un cálculo para arriba, y le pregunté si él podía pagar eso, y él me dijo “Sí puedo.” Así que le dije: “Entonces nuestra conversación va a cambiar. Si usted tiene condiciones para pagar eso, entonces no es con nosotros que vas a publicar. Yo voy a ayudarte a conseguir una buena editorial, veamos esto como una asesoría, no tienes que darme un centavo por esto. Voy ayudarte a encontrar una editora bien buena, que no tenga interés sólo en tu dinero, y si puedes pagar ese valor” -yo había estipulado unos veinte mil reales- “Vas a invertir eso en una editorial que esté preparada para atender al público que tú pretendes llegar. Porque yo estoy preparado para otro público. Para un tipo que llega aquí sin un centavo, que a veces uno hasta comparte con él parte de la cuenta para que él vuelva. Mi público es ese. Usted forma parte de otro público del cual en este momento, para nuestra editorial, no cuenta. Yo no voy a ser útil para usted, y usted no va a sumar para nosotros. Yo voy a recomendarte”. Y fue excelente. Él entendió. Así que nuestro público - objetivo hoy es el público que no puede pagar o que no va a poder hacer otra publicación o que no va a tener chance de dialogar con una editorial tradicional. Yo estoy hablando de esas editoriales tradicionales que van a invertir en tu carrera. Esas editoriales son exclu-

yentes. No es bienvenido un joven, no es bienvenido un inmigrante, un negro… Nosotros tenemos un autor que su primer libro se lo publicamos cuando él tenía 81 años. Y el segundo cuando tenía 85. Imagínate una persona, sumamente letrada, lúcida, con 81 años… ¿Cómo es posible que se pierda un contenido así, Isaac? ¿Cómo voy a decirle a una persona así que no puede ser publicada? ¿Comprendes? Ese es nuestro público.

Muy bien. Vamos a suponer que yo soy un autor que forma parte de esos grupos de los excluidos. ¿Cómo yo llego, a dónde yo voy, cómo yo contacto a la Editorial Imprenta Heliópolis para publicar un libro mío?

PCM: Hoy es así, Isaac: Lamentablemente, yo dependo mucho de apoyo, sea con patrocinadores, sea con convocatorias del gobierno, en fin, yo necesito eso porque, para la editorial, creamos un plan que es como para cualquier negocio salir fallido (risas) ¡Sólo nosotros para lograr hacer eso! ¡Cuando tú montas un negocio, haces planes para tener lucro, nosotros hicimos un plan para salir perjudicados! (risas) Porque, ¿qué es lo pasa, Isaac? Cuando yo piense en tener lucro, voy a estar alejándome de la sensibilidad del escritor. Y la Editorial Imprenta Heliópolis existe hoy para dar accesibilidad para ese escritor excluido, ¿entiendes? Así que, para hacer que la rueda gire, yo dependo de apoyo, porque al negocio no le va bien, o sea, al negocio como negocio, no le va bien. Yo ni la llamo “empresa”. Yo la llamo Proyecto. La Editorial Imprenta Heliópolis no es una empresa. Es un Proyecto Social. Dentro de poco, hasta va a volverse una ONG (risas). Porque es totalmente social. Lo que sucede es que dependo de convocatorias del gobierno. Así, cada convocatoria en que yo me meto, son montos diferentes, reglas diferentes, entonces todo depende mucho de la convocatoria que esté vigente. Voy a hacerte un “spoiler” aquí: Nos metimos en una convocatoria recientemente, que es la convocatoria más grande en cuanto a los montos ofrecidos, entonces, aquel escritor que va a publicar con nosotros -vamos a publicar veinte autores dentro de esa convocatoria, pero eso va a ser para 2026-, ese escritor, como logramos obtener una cantidad más grande de dinero, vamos a poder publicarle su libro con una calidad mejor, vamos a cambiar el formato de los libros, vamos a invertir un poco más en eso, ellos van a tener más libros como contraprestación, porque nosotros les damos libros a ellos para que ellos comiencen, nosotros les enseñamos, a que sean emprendedores con sus propios libros. Van a recibir cursos de emprendimiento en esa área de vender libros, vender su propio trabajo…

Ese es un punto importante allí: ¿dónde se pueden comprar los libros de la Editorial Imprenta Heliópolis?

PCM: Hoy es sólo con nosotros mismos. Principalmente por Instagram. Teníamos una página de internet, pero tuvimos problemas financieros con el mantenimiento. Pero va a volver con él ahora. La convocatoria nos va ayudar con eso. Dependemos, pues, mucho del Poder Público, patrocinadores. No tenemos una verdadera regla tipo “cada fin de año tal cosa”... Tienes que estar pendientes siempre del Instagram de nosotros, que es @editoragraficaheliopolis , que nosotros vamos poniendo ahí los comunicados de cuando es que abre la convocatoria para nuevas publicaciones y esas cosas.

Ahora, ¿cómo es el proceso de escoger el libro? En

verdad nosotros no escogemos “al” libro. Escogemos a la persona primero. Yo escojo el escritor. Nosotros no tenemos eso de “manda el original”. El escritor va a tener una entrevista conmigo o con alguien del Colectivo, para nosotros entender sus especificidades y esas cuestiones.

Nosotros no dejamos de lado la conversación cara a cara, no por el celular, es presencial. Necesitamos estar frente a la persona, para que podamos ver y saber un montón de cosas. Es obvio que también, antes de eso, para que la persona no pierda su tiempo, yo le explico qué cosas nosotros no hacemos. Yo le aviso ya que no vamos a tener distribución, no es que vas a ir encontrar tu libro en el centro comercial. Cosas que a veces son determinantes. Pregunto que tipo de libro escribe. Si dice poesía, bien. Si dice autoayuda le decimos que eso no lo publicamos. Es como ahora: estamos con una convocatoria y entonces abrimos inscripciones, rellenan un formulario de Google con varias preguntas, y si el formulario está bien, viene la entrevista.

Ya para terminar: ¿qué es lo que diferencia a la Editorial Imprenta Heliópolis de otras editoriales independientes que existen? Porque existen muchas editoriales independientes en Sao Paulo específicamente. Pero cuál es la diferencia específica de la Heliópolis?

PCM: Bueno, yo no las conozco todas. Sería difícil para mí hacer un balance cierto. Pero yo creo que lo que nos diferencia es principalmente eso que dije: el escuchar. Las personas saben que eso existe. La mayoría de las editoriales, sobre todo las independientes hoy, trabajan con el sistema home office, la persona trabaja en su casa, monta su oficina ahí, sea un colectivo o una cosa así, y no demuestran “interés”. Nosotros tenemos un montón de acciones, nosotros intentamos profesionalizar a ese artista. Nosotros entende-

mos que el escritor, y usamos bastante ese término, porque nosotros lo miramos como un profesional del arte, a pesar de que él aún no lo sea en un sentido de ser remunerado. Él es profesional en lo que él hace. Por eso intentamos profesionalizarlo en un lapso de unos seis meses. Por ejemplo tenemos una autora que vimos que era una excelente cuentacuentos, entonces ayudamos a ella, con su libro a montar una obra de teatro. Hay unos que son buenos enseñando, y les orientamos en el camino para que se convierta en tallerista. Otros son excelentes conferencistas. Nosotros abrazamos al artista. Los acogemos y les abrimos los caminos. Entonces, con ese nuevo proyecto que estamos inscritos ahora, con ese fomento que conseguimos cuadrar para la editorial, logramos, para un escritor que es toda una referencia en Sao Paulo, de una ciudad aquí de la región metropolitana llamada Suzano, que le llaman “Sacolinha” (Ademiro Alves de Sousa), que él dé clases -es consagradísimo, con más de veinte años de trayectoria- para escritores jóvenes sobre cómo vender sus propios libros para las escuelas, como probar con productos más grandes, como estar en esos lugares, como administrar el dinero de la venta de sus libros. Entonces, eso es lo que nos diferencia. Tomamos de la mano a la persona, y con esos que publicaron con nosotros, hacemos saraus (recitales con música en vivo), llevamos slams para los SESC (Servicio Social de Comercio), contratamos a esas personas para trabajar ahí y son remuneradas por eso. Creo que ese es nuestra gran diferencia. Todos somos de carne y hueso y no tenemos una relación fría. Las personas nos ven, están con nosotros, vienen a mi casa, a veces hasta firman el contrato en mi casa, ven que vivo aquí y no tengo para donde correr (risas). Eso es lo que nos diferencia. Tal vez otros hacen eso mejor que nosotros, no sé, pero yo no conozco otra.

Yo creo que el conocimiento tiene que ser compartido. Represado, el conocimiento pierde su función.

Paulo César Marciano

ENTREVISTA

LIBRERÍA ESPAÑOLA E HISPANOAMERICANA

Entrevista a M. Cristina G. Pacheco, directora de Librería Española e Hispanoamericana

Librería Española e Hispanoamericana cumple 40 años. ¿Cómo es el resúmen de esa historia?

MCGP: Bueno, empezamos en 1985 como Enterprise Idiomas, una escuela de español, inglés y francés que a poco de andar se dio cuenta que necesitaba importar libros para la enseñanza del castellano, algo casi inexistente en Brasil entonces. Éramos, de hecho, la primera escuela a llevar cursos de español a las empresas de São Paulo, Guarulhos, Campinas, Viracopos y fuimos también los pioneros en importación en gran escala.

Hoy producimos libros didácticos para la enseñanza del idioma a brasileños, lo que requiere -como autores y editores- un conocimiento cabal del idioma portugués, sus contrastes y las “transparencias” entre ambas lenguas, y entender profundamente el sistema educativo del país, tan extenso y múltiple como lo es Brasil.

Somos también, aparte de pioneros en la oferta de buena literatura española e hispanoamericana, la única librería y distribuidora exclusivamente dedicada al idioma español en todo Brasil

Pero no solo de libros vive Librería Española e Hispanoamericana; la cultura y la divulgación de contenidos integradores con el mundo del portugués brasileño son focos permanentes de nuestro trabajo. Por ello trajimos en 1991 el Fondo de Cultura Económica de México a São Paulo, y por ello nuestra fuerte participación en actividades de traducción y de interpretación en eventos que integran Brasil a América Latina, sea por sus literaturas o por la ciencia y la tecnología. Por ello también nuestra colaboración histórica con el Memorial da América Latina y con las representaciones consulares de lengua española que reconocen nuestro trabajo y dedicación.

¿Podemos contar para nuestro próximo número con una entrevista más detallada?

MCGP: Claro, Librería Española e Hispanoamericana apoya y participa activamente en esta iniciativa de Arte, Cultura y Sociedad de México de extender este puente hacia Brasil en una publicación bilingüe y multicultural tan seria y a la vez tan “descontraida”, como decimos en portugués.

OPINIÃO | OPINIÓN

EDMARIO JOBAT / ARTEEMBAIXADOR

DA PAZA

Paznambuco:

Ação Dias de Paz Pernambuco (ADPPE)

Porque Esperançar é o caminho. Paznambuco é a fase estadual do projeto Mãos Promovendo a Paz

Pensar Pernambuco é contemplar um universo com quatro regiões: Litoral, Mata, Agreste e Sertão que comportam 184 cidades. Cada uma com suas particularidades, clima, falares, culturas e histórias diversas que conferem ao Leão do Norte um estrelato histórico e atual. Terra do Frevo; de Gonzagão, Mestre Vitalino, Lenine, Zé do Carmo, Lia de Itamaracá, Sila do Coco e das Heroínas de Tejucupapo. Por outro lado, uma unidade federativa referência em várias áreas, inclusive – e lamentavelmente no âmbito nacional –, na violência.

E mesmo com aumento orçamentário, endurecimento de leis em alguns casos, renovação de quadros e uso de novas ferramentas e tecnologias, seguimos violentos. E esse aparelho repressor só cuida dos efeitos e não é habilitado para tratar das causas que estão e ocorrem nas residências e nas cidades. Então, pensar outros caminhos requer outros olhares, outros marcos e outras sementes. Assim, nasce Paznambuco: Estado de Consciência em todas as direções e uma ação direcionada às 184 Casas legislativas municipais: Dias de Paz Pernambuco. Um processo dialógico, reflexivo e provocador.

Temos datas especiais nos calendários: Dia da Terra, da Arte, do Meio Ambiente, da Cultura; das Crianças, das Mães, dos Pais, dos Avós; das Consciências Negra e Evangélica; do Agricultor, do Prefeito e do Vereador. Marcos importantes e comemorados socialmente. Assim, é de suma importância como marco inicial da construção coletiva de Paz, a instituição do Dia Municipal da Paz (DMP). Com esse olhar e com os resultados de uma pesquisa realizada, construiu-se a referida ação.

De 2000 a 2023, 13 cidades, de propostas distintas, instituíram seus DMPs, sendo Igarassu a primeira

em 3/2000 (Resultado de uma proposta civil do projeto Igarassu pela Paz, em que Edmario Jobat foi co-autor). Em 21/9/2024 (Dia Internacional da Paz), com previsão de dois anos, passou-se a sensibilizar as referidas Casas sobre a temática, resultando que quatro cidades: Araçoiaba (2024); e Tabira, Custódia e Carnaíba em 2025, instituíramnos. Já Casinhas, São Bento do Una, Vertente do Lério, Ilha de Itamaracá, Serra Talhada, Santa Maria do Cambucá e Poção estão em votação ou aguardando sanção do Executivo.

É possível, até junho, termos mais 11 cidades através da articulação da ADPPE, ampliando para 24 com vistas à meta inicial de 25% das cidades: 46. E nesse contexto, histórias surgem: Em Araçoiaba, o Vereador proponente perdeu a reeleição e seguiu com a proposta. Em Itamaracá, o Presidente convidou todas as Vereadoras e Vereadores a assinaram o projeto de Lei. E outras 26 Câmaras informaram que estão em análise jurídica da proposta. E assim, neste aprendizado mútuo, vamos transformando as nossas realidades locais com os DMPs que são os começos desses processos de construção coletiva.

Em setembro último eram 171 Casas para sensibilizar e agora, apenas 160 e adiante, Pernambuco será uma referência mundial: o Estado em que todos os seus 184 municípios instituíram seus Dias Municipais da Paz. E isso não é um sonho, é uma realidade que se revela a cada contato, encontro e projeto de lei em discussão, desde dezembro de 2024.

Paznambuco é a fase estadual do projeto Mãos Promovendo a Paz, de Edmario Jobat. Um projeto civil, artístico, sustentável e voluntário. Instagram: @mppazbrazil @paznambuco | Contato: Tel/WApp: 81 99262-2750.

Paznambuco: Días de Acción por la Paz de Pernambuco (DPAP)

Porque la Esperanza es el camino. Paznambuco es la fase estatal del proyecto Manos Promoviendo la Paz.

Pensar en Pernambuco es contemplar un universo con cuatro regiones: Litoral, Mata, Agreste y Sertão, que albergan 184 ciudades. Cada una con sus particularidades, clima, habla, culturas e historias diversas que otorgan al Leão do Norte un protagonismo histórico y actual. Tierra de Frevo; de Gonzagão, Mestre Vitalino, Lenine, Zé do Carmo, Lia de Itamaracá, Sila do Coco y las Heroínas de Tejucupapo. Por otro lado, una unidad federativa que es un referente en diversas áreas, incluyendo, y lamentablemente a nivel nacional, la violencia.

Incluso con aumentos presupuestarios, leyes más estrictas en algunos casos, nuevo personal y el uso de nuevas herramientas y tecnologías, seguimos siendo violentos. Y este aparato represivo solo aborda los efectos y no está capacitado para abordar las causas que existen y ocurren en hogares y ciudades. Por lo tanto, pensar en otros caminos requiere otras perspectivas, otros hitos y otras semillas. Así nació Paznambuco: un Estado de Conciencia en todas las direcciones y una acción dirigida a las 184 cámaras legislativas municipales: las Jornadas de Paz Pernambuco. Un proceso dialógico, reflexivo y provocador.

Tenemos fechas especiales en nuestro calendario: Día de la Tierra, Día del Arte, Día del Medio Ambiente, Día de la Cultura; Día del Niño, Día de la Madre, Día del Padre, Día de los Abuelos; Día de la Conciencia Negra y Evangélica; Día del Agricultor, Día del Alcalde y Día del Concejal. Estos son hitos importantes y socialmente celebrados. Por lo tanto, la institución del Día Municipal de la Paz (DMP) es de suma importancia como un hito inicial en la construcción colectiva de la paz. Con esto en mente y los resultados de una encuesta, se construyó la acción mencionada.

De 2000 a 2023, 13 ciudades, con diferentes

propuestas, instituyeron sus DMP, siendo Igarassu la primera en marzo de 2000 (resultado de una propuesta ciudadana del proyecto Igarassu pela Paz, del cual Edmario Jobat fue coautor). El 21 de septiembre de 2024 (Día Internacional de la Paz), con una previsión de dos años, las Casas mencionadas comenzaron a sensibilizarse sobre el tema, resultando en cuatro ciudades: Araçoiaba (2024); y Tabira, Custodia y Carnaíba en 2025, constituyéndoselos. Casinhas, São Bento do Una, Vertente do Lério, Ilha de Itamaracá, Serra Talhada, Santa Maria do Cambucá y Poção ya están en votación o a la espera de sanción por el Ejecutivo.

Para junio, posiblemente, podríamos contar con 11 ciudades más a través de la alianza ADPPE, ampliándose a 24 con vistas a la meta inicial del 25% de las ciudades: 46. Y en este contexto, surgen historias: En Araçoiaba, el concejal proponente perdió la reelección y continuó con la propuesta. En Itamaracá, el presidente invitó a todos los concejales y concejalas a firmar el proyecto de ley. Y otras 26 cámaras informaron que actualmente están analizando la propuesta legalmente. Y así, en este aprendizaje mutuo, estamos transformando nuestras realidades locales con los DMP que son el inicio de estos procesos de construcción colectiva. En septiembre pasado, hubo 171 Casas para crear conciencia, y ahora, con solo 160 y más, Pernambuco será un referente mundial: el estado en el que todos sus 184 municipios han instituido sus Días Municipales de Paz. Y esto no es un sueño, es una realidad que se revela con cada contacto, reunión y proyecto de ley en discusión desde diciembre de 2024.

Paznambuco es la fase estatal del proyecto Mãos Promovendo a Paz, de Edmario Jobat. Un proyecto cívico, artístico, sostenible y voluntario. Instagram: @mppazbrazil @paznambuco, contacto: Tel./ WApp: 81 99262-2750.

ARTES

VISUAIS | ARTES VISUALES

MEU AMIGO E PROFESSOR, O PINTOR ÁNGEL NORBERTO SAN MARTÍN ARAYA MI AMIGO Y MAESTRO, EL PINTOR ÁNGEL

POR JAVIER VILLANUEVA

No dia em que Gal Costa morreu, em novembro de 2022, poucos minutos antes de ouvir a triste notícia, eu estava limpando os livros da minha biblioteca. Em um deles encontrei um catálogo da Escola de Arte Espade, onde estudei pintura a óleo com o professor chileno San Martín. Eu não via o catálogo desde que fiz o curso em 1982. Mas o que aconteceu depois me deixou indiferente: em outro catálogo idêntico, ao lado do primeiro, estava escondida uma grande imagem dobrada em quatro. Foi Gal, cuja imagem me ajudou a desenhar um quadro um dia quando o modelo vivo estava desaparecido. Minutos depois fiquei sabendo que tinha acabado de acontecer a perda da melhor voz feminina do Brasil.

Como essas mensagens premonitórias me ocorrem de vez em quando e desencadeiam uma série de pensamentos e eventos relacionados, imediatamente me lembrei de que uma das minhas conhecidas da Livraria Espanhola e Hispano-Americana também se chama San Martín… e ela é chilena! Liguei para ela no WhatsApp e ela confirmou que é filha do famoso pintor, que foi meu querido professor há quatro décadas.

E quem foi Ángel Norberto San Martín Araya , o pintor e escultor? Ángel nasceu em Copiapó, Chile, em 28 de maio de 1938, e morreu em 24 de novembro de 2011, em São Paulo, onde viveu desde 1977.

Estudou na Escola de Belas Artes da Universidade do Chile, onde foi aluno de Sergio Montecino, Ximena Cristi, Maruja Pinedo e Israel Roa. Obteve o diploma de Professor de Belas Artes em 1969; De seus professores herdou a paixão pela pintura, sendo admirador do movimento expressionista alemão. Entre 1970 e 1975 foi professor de Arte na Universidade do Chile e na Universidade Católica do Chile

NORBERTO

SAN MARTÍN ARAYA

El día en que murió Gal Costa, en noviembre de 2022, unos minutos antes de escuchar la triste noticia, estaba yo limpiando los libros de mi biblioteca. En uno de ellos encontré un catálogo de la Escuela de Arte Espade, donde había estudiado pintura al óleo con el profesor chileno San Martín. No había visto el catálogo desde que hice el curso, en 1982. Pero lo que pasó después me dejó frío: en otro catálogo idéntico, al lado del primero, estaba escondida una imagen grande doblada en cuartos. Era Gal, cuya estampa me ayudó a dibujar un cuadro un día en el que faltó la modelo vivo. Minutos después me enteré que había acabado de ocurrir la pérdida de la mejor voz femenina de Brasil.

Como esos mensajes premonitorios me ocurren a cada tanto y desencadenan una serie de pensamientos y hechos relacionados, enseguidarecordé que una de mis conocidas de la Librería Española e Hispanoamericana también se llama San Martín… ¡y es chilena! La llamé por whatsapp y meconfirmó que es hija del famoso pintor, que fuera mi querido maestro cuatro décadas atrás.

¿Y quién fue Ángel Norberto San Martín Araya, el pintor y escultor? Ángel nació en Copiapó, Chile, el 28 de mayo del año 1938, y falleció el 24 de noviembre del 2011, en São Paulo, donde vivió desde 1977.

Estudió en la Escuela de Bellas Artes de la Universidad de Chile, donde fue alumno de Sergio Montecino, Ximena Cristi, Maruja Pinedo e Israel Roa. Obtuvo en 1969 el diploma de Profesor de Artes Plásticas; de sus maestros heredó la pasión de la pintura, siendo admirador de la corriente Expresionista Alemana. Entre 1970 y 1975 fue Profesor de Arte en la Universidad de Chile y en la Universidad Católica de Chile

PRÊMIOS E DISTINÇÕES

1963, 1966 e 1967, Prêmio da Associação de Pintores e Escultores do Chile, Santiago.

1993, Ordem Gabriela Mistral do Mérito do Ensino e da Cultura, Embaixada do Chile no Brasil.

OBRAS EM COLEÇÕES PÚBLICAS

Embaixada do Chile em Brasília, Brasil

Memorial de comunidades de raízes e culturas estrangeiras, São Paulo, Brasil

Museu O’Higginiano e Belas Artes de Talca, Chile.

Nu, pintura, 91,50 x 152 cm.

Nu, pintura, 75 x 121 cm.

Museu de Arte Contemporânea de Botucatu, São Paulo, Brasil

Museu de Arte Brasileira, São Paulo, Brasil

Museu de Arte de São Paulo, Brasil

Palácio Presidencial de La Moneda, Santiago, Chile.

Galeria de Arte da Universidade de Concepción, Chile.

Roda no parque de diversões

Parque da Água Branca, São Paulo, Brasil

Brasil 14.000 km - A Maior Cavalgada do Mundo, escultura.

PREMIOS Y DISTINCIONES

1963, 1966 y 1967, Premio de la Asociación de Pintores y Escultores de Chile, Santiago.

1993, Orden al Mérito Docente y Cultural Gabriela Mistral, Embajada de Chile en Brasil.

OBRAS EN COLECCIONES PÚBLICAS

Embajada de Chile en Brasilia, Brasil

Memorial das comunidades de raízes e culturas estrangerias, São Paulo, Brasil

Museo O’higginiano y de Bellas artes de Talca, Chile.

Desnudo, pintura, 91.50 x 152 cm.

Desnudo, pintura, 75 x 121 cm.

Museu de arte contemporânea de Botucatu, São Paulo, Brasil

Museu de arte brasileira, São Paulo, Brasil

Museu de arte de São Paulo, Brasil

Palacio presidencial de La Moneda, Santiago, Chile.

Pinacoteca Universidad de Concepción, Chile.

Rueda en el parque de diversiones

Parque de Água Branca, São Paulo, Brasil

Brasil 14.000 km - El recorrido a caballo más grande del mundo, escultura.

Javier Villanueva es un argentino, establecido en Brasil, profesor de idiomas, editor, traductor, escritor y librero. Investigador y conferencista de temas hispanoamericanos y de la historia y las culturas de los pueblos nativos. Autor de más de una centena de libros didácticos publicados en Brasil, y de dos colecciones de cuentos en Argentina.

SOCIEDAD

SIMONE REGO: EDUCAR NA FAVELA, RESISTIR NA ESPERANÇA

SIMONE REGO: EDUCAR EN LA FAVELA, RESISTIR EN LA ESPERANZA

A educação nos transforma à medida que vamos nos acolhendo e nos aceitando

Quando os amigos mexicanos da Revista Arte, Cultura y Sociedad, - cuja versão brasileira estamos lançando neste nosso Número Um- nos pediram para abordar o tema das favelas, (chamemos essas partes vitais das nossas cidades de comunidades ou de quebradas) a primeira pessoa em que pensei foi em Simone Rego.

A nossa amiga é uma professora que, como boa freireana, entende que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. E o que fez a educadora Simone Rego para elevar o conceito de educação na sua comunidade?

Simone Rego: Somente se sabe o que é comunidade, quem nasce e vive as dores dela. Nosso país é formado por centenas de favelas, que ao longo dos anos foi descaracterizada, romantizada sobretudo pelas novelas, seriados que estão distantes da realidade.

Minha história se confunde com a dura vida de quem teve que se tornar responsável ainda criança, rotina que faz parte do nosso dia a dia, ajudar em casa, cuidar dos irmãos mais novos, trabalhar.Estudar deixa de ser prioridade e passa a ser uma escolha que pode ser adiada, afinal, ainda existe a ideia de que “estudar não traz comida pra dentro de casa.”

Com essa mentalidade de que educação não é para filho de pobre, um adolescente que tenha o sonho pessoal de continuar os estudos, vê seus planos interrompidos pela urgência da sobrevivência. Foi assim na minha adolescência, nos anos oitenta, e ainda persiste, apesar das políticas públicas e programas de transferência de renda. A educação no Brasil há muito tempo é atacada, e sob o governo de Jair Bolsonaro em 2020, durante a pandemia vimos o avanço da desigualdade social. Voltamos ao mapa da fome e do analfabetismo. Hoje no Brasil temos cerca de 11,4 milhões

La educación nos transforma a medida que nos vamos acogiendo y aceptándonos.

Cuando nuestros amigos mexicanos de la revista Arte, Cultura y Sociedad, -cuya versión brasileña lanzamos con nuestro Número Uno, de febreromarzo de 2025- nos pidieron que abordáramos el tema de las favelas (llamémosles comunidades o favelas a esos lugares vitales de nuestras ciudades) la primera persona en la que pensé fue en Simone Rego.

Nuestra amiga es una maestra que, como buena freireana, entiende que “nadie educa a nadie, nadie se educa a sí mismo, los hombres se educan entre sí, mediados por el mundo”. ¿Y qué hizo la educadora Simone Rego para elevar el concepto de educación en su comunidad?

Simone Rego: Solo quien nace y vive sus dolores sabe lo que es una comunidad. Nuestro país está formado por cientos de favelas, que a lo largo de los años han sido desfiguradas, romantizadas especialmente por las telenovelas y por series alejadas de la realidad.

Mi historia está entrelazada con la dura vida de alguien que tuvo que asumir responsabilidades desde muy niña, una rutina que forma parte de nuestro día a día, ayudar en casa, cuidar a los hermanos menores, trabajar. Estudiar deja de ser una prioridad y se convierte en una elección que se puede posponer, después de todo, todavía existe la idea de que “estudiar no trae comida a la casa”. Con esta mentalidad de que la educación no es para los hijos de los pobres, un adolescente que tiene el sueño personal de continuar sus estudios ve sus planes interrumpidos por la urgencia de sobrevivir. Así fue en mi adolescencia, en los años ochenta, y todavía persiste, a pesar de las políticas públicas y los programas de transferencia de ingreso. La educación en Brasil ha estado bajo ataque durante mucho tiempo y, bajo el gobierno de Jair Bolsonaro en 2020, durante la pandemia vimos el avance de la desigualdad social. Regresamos al mapa del hambre y el analfabetismo. Hoy en Brasil tenemos alrededor de 11,4 millones

de pessoas com mais de 15 anos que não sabe ler. (Censo 2022: Taxa de analfabetismo cai de 9,6% para 7,0% em 12 anos, mas desigualdades persistem | Agência de Notícias .

Nesse contexto surge Academia Carolinas, uma espaço improvisado, construído por mãos de mulheres na favela Souza Ramos, bairro da cidade Tiradentes, no extremo leste de São Paulo, após um incêndio durante a pandemia. Entre tantas urgências, ter livros e alguma distração para as crianças foi uma das maneiras que encontrei de diminuir a dor e a falta de horizonte no cotidiano cinza e invisível da favela, tal qual a escritora Carolina Maria de Jesus já descrevia em seu livro: “quarto de despejo, diário de uma favelada.”

Se não temos políticas públicas, ao menos temos livros, e quem sabe lendo as pessoas entendam que podem reivindicar seus direitos, ao invés de achar que é simplesmente “a vontade de deus” Todos os dias a leitura, brincadeiras e caminhada pela favela, ouvindo as pessoas, suas lamentações, suas raivas, e até mesmo alegria fizeram parte da minha rotina. Percebi que ao ler para elas, muitas mulheres não conseguiam acompanhar, apenas escutavam e achavam bonito. Alí, muitas vezes chorei e ressignifiquei a palavra “professora”, ou melhor, me tornei educadora popular, andarilha, ouvinte, seguindo os passos do mestre Paulo Freire. Ler seus livros na faculdade não me tornaram educadora. Andar na favela, olhar nos olhos, entrar nos barracos, ouvir histórias, caminhar com as crianças, inventar novas formas de alfabetização em meio a escassez, me fizeram educadora.

E como educadora, a biblioteca comunitária foi a primeira providência, depois a capoeira, o teatro, as atividades pelo território com as crianças e adolescentes e um projeto para fortalecer as mulheres. Cursos de reaproveitamento total de alimentos, rodas de conversa, entrega de marmitas. Aos poucos mães e filhos estavam juntos no projeto que ajudaram a construir. A educação nos transforma à medida que vamos nos acolhendo e nos aceitando.

Nosso desafio para esse ano de 2025 é dar co curntinuidade ao cursinho comunitário Carolina de Jesus, que iniciamos em 2016 na escola que lecionava EMEFM Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, com apoio dos alunos e alguns professores voluntários. Desse cursinho, já saíram alunos para Universidade Federal, Estadual, USP e a nossa mais recente aluna Maria Eduarda, que após dois anos prestando vestibular foi aprovada para o curso de medicina. Ela é uma das coordenadoras do cursinho ao lado de outras ex alunas e voluntárias. A meta é alcançar alunos da rede pública que não tem condições de custear um cursinho particular. Além das aulas, também há formação política e visita às universidades públicas.

Como professora da rede pública, hoje afastada, não acredito na Instituição, ela não enxerga pessoas, apenas números. Os professores estão cada vez mais sobrecarregados, com baixos salários, dupla jornada, salas de aula lotadas, que mais parecem presídios, fábricas. A escola pública precisa de ser ressignificada. Sempre digo para pessoas próximas que o maior investimento em educação seria demolir os prédios/presídios e investir em escolas comunitárias, como estamos gestando na Carolinas.

Lugares pequenos, simples, mas acolhedores, com escuta, alimentação saudável e educadores conectados com a realidade que estão inseridos. Escola em que a biblioteca sirva ás crianças e a comunidade, para que a mãe não encontre a burocracia para estar próxima de seu filho. Lugar seguro, democrático, lugar da contradição e da pluralidade.Enquanto essa escola é um sonho, nós vamos esperançando até que um dia ela renasça forte e inde-

de personas mayores de 15 años que no saben leer. (Censo 2022: Tasa de analfabetismo baja del 9,6% al 7,0% en 12 años, pero persisten las desigualdades. Agencia de Noticias).

En este contexto, surgió Academia Carolinas, un espacio improvisado construido por mujeres en la favela Souza Ramos, un barrio de Cidade Tiradentes, en el extremo este de São Paulo, luego de un incendio durante la pandemia. Entre tantas necesidades urgentes, tener libros y algo de distracción para los niños fue una de las formas que encontré para disminuir el dolor y la falta de horizonte en la gris e invisible vida cotidiana de la favela, tal como ya lo describió la escritora Carolina María de Jesús en su libro Quarto de despejo, que podemos traducir al español como “cuarto de los desechos, diario de una favelada”.

Si no tenemos políticas públicas, al menos tenemos libros, y quién sabe, leyendo la gente entenderá que puede exigir sus derechos, en lugar de pensar que es simplemente “la voluntad de Dios”. Todos los días, leer, jugar y caminar por la favela, escucharle a la gente sus quejas, su enojo e incluso su alegría, eran parte de mi rutina. Me di cuenta de que cuando les leía, muchas mujeres no podían seguirlo, solo escuchaban y pensaban que era hermoso. Allí lloré muchas veces y redefiní la palabra “maestra”, o mejor dicho, me convertí en una educadora popular, un caminante, un oyente, siguiendo los pasos del maestro Paulo Freire. Leer sus libros en la universidad no me convirtió en educadora. Caminar por la favela, mirar a la gente a los ojos, entrar en las casas en asentamientos irregulares, escuchar historias, caminar con los niños, inventar nuevas formas de alfabetización en medio de la escasez, me convirtió en educador.

Y como educadora, la biblioteca comunitaria fue el primer paso, seguido por la capoeira, el teatro, actividades en la zona con niños y adolescentes y un proyecto de fortalecimiento de la mujer. Cursos sobre reutilización total de alimentos, grupos de discusión, entrega de loncheras. Poco a poco, madres e hijos fueron uniéndose en el proyecto que ayudaron a construir. La educación nos transforma a medida que nos vamos acogiendo y aceptándonos.

Nuestro desafío para este año de 2025 es dar continuidad al curso comunitario Carolina de Jesús, que iniciamos en 2016 en la escuela donde enseñaba -la EMEFM Oswaldo Aranha Bandeira de Mello (escuela de educación fundamental y media)-, con el apoyo de alumnos y algunos profesores voluntarios. Este curso ya produjo alumnos para las Universidades Federales y Estaduales, USP y nuestra más reciente alumna Maria Eduarda, que después de dos años de realizar el examen de ingreso fue aceptada en el curso de medicina. Ella es una de las coordinadoras del curso junto a otros ex-alumnos y voluntarios. El objetivo es llegar a los estudiantes del sistema escolar público que no pueden pagar un curso privado. Además de las clases, también hay formación política y visitas a universidades públicas.

Como maestra de la escuela pública, ahora jubilada, no creo en la institución, que no ve personas, sino solo números. Los docentes están cada vez más sobrecargados de trabajo, con salarios bajos, turnos dobles y aulas abarrotadas que cada vez parecen más prisiones y fábricas. Es necesario redefinir las escuelas públicas. Siempre les digo a las personas cercanas a mí que la mayor inversión en educación sería demoler esos edificios/prisiones e invertir en escuelas comunitarias, como estamos haciendo en las Carolinas. Lugares pequeños, sencillos pero acogedores, donde se escucha, hay comida sana y educadores conectados con la realidad en la que están insertos. Una escuela donde la biblioteca esté al servicio de los niños y de la comunidad, para que las madres no tengan que lidiar con la burocracia para estar cerca de sus hijos. Un lugar seguro y democrático, un lugar de contradicción y de pluralidad. Aunque esta escuela es un sueño,

pendente. em Agosto de 2024 o Presidente Lula, através do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), anunciou investimento na implantação de 100 novos campi de IFs, incluindo Cidade Tiradentes. Para que cidade Tiradentes pudesse ser contemplada, fizemos uma audiência pública, com participação dos estudantes e movimentos sociais, ligados à estrutura partidária. O que chamou atenção foi a ausência de estudantes secundaristas do bairro, a falta de comunicação com as Instituições de ensino e falta de informação.

Não houve participação popular, exceto daquelas pessoas ligadas a mandatos. Isso demonstra a verticalização do poder, que de forma colonizadora decide o que é bom para os pobres,sem consulta prévia. A cidade Tiradentes tem escolas públicas precarizadas, sem estrutura e com alto índice de violência, evasão entre jovens do ensino médio. As causas são inúmeras, como necessidade de trabalhar, ligação ao crime,drogadição,falta de apoio familiar, gravidez e falta de conexão com a escola.

Essa ausência de sentido e perspectiva de futuro materializase no abandono e no analfabetismo funcional, que nos mostra o abismo social grave, na qual a periferia está inserida. Diante dessa reflexão, fiz alguns questionamentos aos responsáveis pela mobilização no que diz respeito a não participação dos jovens,e a resposta é que os jovens não se interessam por esse tipo de movimentação, mas que a implantação do IF os beneficiará.

Nesta semana, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, decidiu de forma autoritária afastar vinte e seis diretores de escolas públicas, sob alegação de que os baixos indices apontam para incompetencia da gestão que passarão por um curso de reciclagem. No entanto, sabemos que não houve qualquer estudo para fundamentação desse ato golpista, porém há um tempo a educação vem sendo atacada, desmoralizando professores, para então tratar educação como mercadoria, colocando-a na mao de empresas privadas. Aqui na comunidade Souza Ramos os protestos contra a saída da diretora reuniu pais, alunos, professores num ato de solidariedade e repudio a ação do prefeito.

Embora a educação esteja em crise, eu enquanto educadora acredito que saber avaliar essa situação pode nos fazer avançar e olhar para os problemas reais, que são maiores que falta de salário é questão de consciencia de classe, de unidade na luta. Precisamos incomodar os políticos, os sindicatos, um compromisso com a categoria.

Num bairro dormitório, em que 90% da população depende de políticas públicas, é de suma importância tê-los como aliados, mas para que isso aconteça, os muros precisam cair, para que construa-se pontes.

E como entra o conceito de quebrada, favela ou comunidade dentro desta, sua missão, que é social e política?

SR: Bem, conceituar sob o ponto de vista de quem vive na periferia não é tarefa fácil. Embora a Constituição diga que todos somos iguais perante a lei, e que temos direito à educação, moradia, cultura, lazer… sabemos na prática, que há um abismo que nos

seguiremos esperando que un día renazca fuerte e independiente. En agosto de 2024, el presidente Lula, a través del PAC (Programa de Aceleración del Crecimiento), anunció inversión en la implementación de 100 nuevos campus del Institutos Federales, incluyendo a Cidade Tiradentes. Para que la ciudad de Tiradentes pudiera ser incluida, realizamos una audiencia pública, con la participación de estudiantes y movimientos sociales vinculados a la estructura del partido del presidente. Lo que llamó la atención fue la ausencia de estudiantes de nivel secundario en el barrio, la falta de comunicación con las instituciones educativas y la falta de información. No hubo participación popular, salvo aquellas personas -políticos- vinculadas a mandatos. Esto demuestra la verticalización del poder, que de manera colonizadora decide lo que es bueno para los pobres, sin consulta previa. La ciudad de Tiradentes tiene escuelas públicas precarias, sin estructura y con alto índice de violencia, y altas tasas de deserción escolar entre los jóvenes de la enseñanza secundaria. Las causas son numerosas, como la necesidad de trabajar, los vínculos con la delincuencia, la drogadicción, la falta de apoyo familiar, el embarazo precoz y la falta de conexión con la escuela. Esta falta de sentido y perspectiva de futuro se materializa en el abandono y el analfabetismo funcional, lo que nos muestra el grave abismo social en el que está inserta la periferia. A la luz de esta reflexión, hice algunas preguntas a los responsables de la movilización respecto a la falta de participación de los jóvenes, y la respuesta fue que a los jóvenes no les interesa este tipo de movimientos, pero que la implementación del Instituto Federal los beneficiará.

En la última semana de mayo, el alcalde de São Paulo, Ricardo Nunes, decidió de forma autoritaria destituir a veintiséis directores de escuelas públicas, alegando que los bajos índices indican incompetencia en la gestión, quienes pasarán por un curso de actualización. Sin embargo, sabemos que no hubo ningún estudio que sustentara este acto golpista, sino que la educación viene siendo atacada desde hace tiempo, desmoralizando a los docentes, para luego tratar la educación como una mercancía, poniéndola en manos de empresas privadas. Aquí en la comunidad Souza Ramos, las protestas contra la salida del director reunieron a padres, estudiantes y profesores en un acto de solidaridad y repudio a las acciones del alcalde.

Aunque la educación está en crisis, como educadora creo que saber evaluar esta situación nos puede ayudar a avanzar y mirar los problemas reales, que son más grandes que la falta de salario; son una cuestión de conciencia de clase y de unidad en la lucha. Hay que incomodar a los políticos, a los sindicatos y comprometerse con la categoría de los docentes.

En un barrio dormitorio, donde el 90% de la población depende de políticas públicas, es sumamente importante tenerlos como aliados, pero para que eso ocurra es necesario que caigan muros para poder construir puentes.

¿Y cómo encaja el concepto de favela, barrio marginal o comunidad en esta, su misión, que es social y política?

SR: Bueno, conceptualizarlo desde el punto de vista de alguien que vive en la periferia no es una tarea fácil. Aunque la Constitución

Simone Rego.

separa, o capitalismo. Estamos a 43 km do centro de São Paulo, e para chegar ao trabalho, quem mora na periferia de cidade tiradentes, leva em média duas horas dentro de um transporte público de péssima qualidade.

Esse mesmo trabalhador quando adoece vai para o hospital público, sem médicos e nem medicamento. A escola nem sempre fica próxima a moradia, o que aumenta a evasão escolar de jovens trabalhadores. As moradias são precárias, a alimentação ultraprocessada,envenenada pelo agro, e o lazer é muitas vezes barrado pela PM com bombas de gás e violência. No bairro dormitório a cor predominante é preta e parda, alvo da mão armada do estado, que entra nas casas sem pedir licença. Familias numerosas, mães solo, e na ausência de teatro, casas de cultura, bibliotecas, multiplicam-se igrejas,botecos, adegas que anestesiam as pessoas seja pela fé ou pela droga, ou por ambas, que viciam, alienam e causam danos imensuráveis.

A periferia é o recorte social que nos separa, que mostra a distância geográfica, racial, social, de onde surgem os movimentos de luta e resistência.

Quem mora na periferia tem a sua “quebrada”, lugar onde encontra-se a turma, os iguais. Quebrada é sinônimo de pertencimento, de afeto, de reconhecimento espacial e social. Na quebrada todo mundo passa veneno, enfrenta os desafios, faz música, poesia e sonha com ascensão social para dar orgulho aos seus. Quem vive o dia a dia da quebrada sabe o quanto é difícil procurar emprego por causa do CEP, da cor da pele, do modo de falar e vestir. A quebrada vive sob suspeita, está sempre à margem dos direitos.

O termo comunidade, utilizado para substituir favela, tenta em vão romantizar um espaço em que diariamente violações são cometidas contra a dignidade humana. Não há comunidade em meio à violência policial, a fome e à miséria. A favela é quebrada e a quebrada fica nas periferias, onde está a mão de obra barata e sem direito.

Carolina de Jesus denunciava cotidianamente o racismo e discriminaçao em que vivia. Observando a realidade a sua volta, percebia as desigualdades e sabia, enquanto mulher negra e pobre, que integrava a parte mais marginalizada e desprotegida da população e em seu livro ela escreve:

“Em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos.”

A mulher que nos inspira não romantizou a fome, nem a favela, pelo contrário, usou a escrita para afirmar a sua condição. Hoje são muitas carolinas sobrevivendo de políticas públicas, transferência de renda, farol, prostituição e serviços precários.

A favela é o lugar que sempre cabe mais um barraco, mesmo que este esteja quase a cair no córrego.

dice que todos somos iguales ante la ley, y que tenemos derecho a la educación, a la vivienda, a la cultura, al ocio… sabemos en la práctica que hay un abismo que nos separa: el capitalismo. Estamos a 43 kilómetros del centro de São Paulo, y para llegar al trabajo, quien vive en las afueras de Cidade Tiradentes tarda una media de dos horas en transporte público de muy mala calidad. Este mismo trabajador, cuando se enferma, va al hospital público, sin médicos ni medicinas. Las escuelas no siempre están cerca de los hogares, lo que aumenta la tasa de abandono escolar entre los trabajadores jóvenes. La vivienda es precaria, la comida es ultra procesada, envenenada por la agricultura; y el ocio y el aprovechamiento del tiempo libre son a menudo bloqueados por la Policía Militar con gases lacrimógenos y violencia. En el barrio dormitorio predomina la gente negra y mestiza, que es el blanco de las fuerzas armadas del estado, que entran a las viviendas sin pedir permiso. Se multiplican las familias numerosas, las madres solteras y, a falta de teatros, centros culturales y bibliotecas, las iglesias, bares y bodegas de alcohol, anestesian a las personas ya sea por la fe o por las drogas, o por ambas, que son adictivas, alienantes y causantes de daños inconmensurables.

La periferia es la división social que nos separa, que muestra la distancia geográfica, racial y social, de donde surgen los movimientos de lucha y resistencia.

Los que viven en la periferia tienen sus “barrios marginales”, un lugar donde se encuentran con su propio grupo, con sus iguales. Quebrada es sinónimo de pertenencia, cariño, reconocimiento espacial y social. En los barrios marginales, todos pasa una vida difícil, un veneno difícil de tragar; todos enfrentan desafíos, pero hacen música, poesía y sueñan con avances sociales para enorgullecer a su gente. Cualquiera que viva en la favela sabe lo difícil que es buscar trabajo por el código postal del domicilio en el que vivimos, el color de piel, la forma de hablar y de vestirse. La favela vive siempre bajo sospecha, está constantemente al margen de los derechos.

El término comunidad, utilizado en sustitución de favela, intenta en vano romantizar un espacio en el que se cometen diariamente violaciones a la dignidad humana. No hay comunidad en medio de la violencia policial, el hambre y la pobreza. La favela está fragmentada y la favela está ubicada en la periferia, donde hay mano de obra barata y sin derechos.

Carolina de Jesús denunció el racismo y la discriminación que se vive a diario. Observando la realidad que la rodeaba, notó las desigualdades y supo, como mujer negra pobre, que era parte del sector más marginado y desprotegido de la población y en su libro escribe:

“En 1948, cuando empezaron a demoler las casas de una planta para construir los edificios modernos, nosotros, los pobres que vivíamos en las viviendas colectivas, fuimos desalojados y terminamos viviendo bajo los puentes. Por eso llamo a la favela el cuarto de desechos, el basurero de la ciudad. Nosotros, los pobres, somos la basura, lo viejo”. La mujer que nos inspira no romantizó el hambre ni la favela, al contrario, utilizó la escritura para afirmar su condición. Hoy en día, muchas Carolinas sobreviven gracias a políticas públicas y transferencias de ingresos,

Na favela não existe o privado, as pessoas são expostas o tempo todo, seja pelo político explorador,ou pelo evangélico que vem explorar a fé. Todo dia chega alguem pra tirar foto, entregar uma doação, mas poucos chegam pra somar, para entender a dor de ser um favelado, a dor da fome, do abandono.

Na favela a alegria é pouca, mas todos estão rindo sempre e de forma exagerada, porque o álcool os anestesia e torna a sobrevivência menos cinza. Na favela as crianças deixam de sonhar tão logo ganham consciência. Acordar e ter como paisagem um córrego fétido, mina as expectativas de felicidade. A TV e o celular na favela serve para mostrar que há um país desigual e injusto, uma pátria de pés sujos, e filhos bastardos, famintos, invisíveis…

“É preciso que a leitura seja um ato de amor”, disse Paulo Freire. Como você entende a sua militância social em relação não somente à leitura e ao livro, mas também em outras áreas da educação e da cultura, e ainda outras urgências, como a alimentação, a saúde e a moradia?

SR: O cantor Belchior em uma de suas letras filosoficamente diz: “amar e mudar as coisas me interessam mais…”

A minha militância é marcada por inúmeras contradições, revolta com o sistema e com a forma como nós, a classe trabalhadora aceitamos as migalhas que nos são oferecidas. Mas eu acredito que o esse amor e alegria revolucionária tornam realidade alguns sonhos, como por exemplo, o projeto da Academia Carolinas.

A gente só transforma a realidade se aprender a ouvi-la, se a enxergar. Nesses cinco anos de Carolinas, tenho me entregado a essa missão nesse território. Articular arte, cultura e educação num lugar distante de políticas públicas, é como tentar achar água no deserto.

Então fui trazendo para o projeto as proprias moradoras e moradores, para juntos entendermos as necessidades. A fome não é apenas de comida, embora essa estejamos saciando diariamente com as marmitas. A fome de leitura, com a biblioteca, que abre todos os dias, a fome de arte com as aulas no ateliê que conquistamos, e que as crianças pintam até o chão, imprimindo sua criatividade e respeito pelo lugar.

A fome de justica social, que nos reúne para reivindicar na subprefeitura moradia, limpeza do córrego, zeladoria. A fome de liberdade e autonomia para as mulheres que aprendem nas rodas de conversa que estar num coletivo é sinônimo de proteção.

Essas pequenas ações, são atos de amor de todos as educadoras desse projeto, que sendo maioria voluntários, entregam o seu melhor. Estamos fazendo o nosso caminho, que apesar das dificuldades, nos aponta horizontes.

Paulo Freire nos ensina a pedagogia da esperança enquanto ato de fazer e vislumbrar o futuro que se constrói no presente. Cada vez que uma mulher aqui na Carolinas solta uma de suas correntes, nós celebramos juntas. Isso é viver consciente do propósito de uma sociedade mais justa e solidária.

Finalizo com a frase de Bell Hooks: “ Se o desamor é a ordem do dia no mundo contemporâneo, falar de amor pode ser revolucionário.”

Para mim o amor não tem nada a ver com fraqueza, pelo contrario, significa potência e nos possibilita romper ciclos de violência para caminharmos rumo a uma sociedade livre.

pero también de la prostitución y de servicios precarios. La favela es el lugar donde siempre hay espacio para una casita precaria más, aunque esté a punto de caerse al arroyo. En la favela no hay privacidad, la gente está expuesta todo el tiempo, ya sea por el político explotador, o por el evangélico que viene a explotar la fe. Todos los días viene alguien a tomar una foto, a entregar una donación, pero pocos vienen a contribuir, a comprender el dolor de ser favelado, el dolor del hambre, del abandono.

En la favela hay poca alegría, pero todos se ríen siempre y de forma exagerada, porque el alcohol los anestesia y hace menos gris la supervivencia. En la favela, los niños dejan de soñar tan pronto como toman consciencia. Despertar y ver un arroyo fétido como paisaje socava cualquier expectativa de felicidad. La televisión y los celulares en la favela sirven para mostrar que existe un país desigual e injusto, una patria de pies sucios y de niños bastardos, hambrientos, invisibles…

“Leer debe ser un acto de amor”, decía Paulo Freire. ¿Cómo entiendes tu activismo social en relación no solo con la lectura y los libros, sino también en otros ámbitos de la educación y la cultura, y otros asuntos urgentes, como la alimentación, la salud y la vivienda?

El cantante Belchior en una de sus letras dice filosóficamente: “amar y cambiar las cosas me interesa más…”

Mi activismo está marcado por muchas, por innumerables contradicciones, la rebeldía contra el sistema y la forma en que nosotros, la clase trabajadora, aceptamos las migajas que se nos ofrece. Pero creo que ese amor y esa alegría revolucionaria hacen realidad algunos sueños, como el proyecto de la Academia Carolinas. Solo transformamos la realidad si aprendemos a escucharla, si la vemos. En estos cinco años en Carolinas, me he dedicado a esta misión en este territorio. Articular arte, cultura y educación en un lugar alejado de las políticas públicas es como intentar encontrar agua en el desierto. Así que involucré a los propios residentes en el proyecto, para que juntos pudiéramos entender sus necesidades. El hambre no es solo de comida, aunque la saciemos a diario con loncheras. El hambre de lectura, con la biblioteca, que abre todos los días, el hambre de arte con las clases en el taller que conquistamos, y donde los niños pintan hasta el piso, mostrando su creatividad y respeto por el lugar.

El hambre de justicia social que nos reúne para exigir vivienda, limpieza del arroyo y mantenimiento por parte de la subprefectura. El hambre de libertad y autonomía de las mujeres que aprenden en círculos de conversación que estar en un colectivo es sinónimo de protección.

Estas pequeñas acciones son actos de amor de todos los educadores de este proyecto, quienes, siendo en su mayoría voluntarios, dan lo mejor de sí. Seguimos nuestro camino, que a pesar de las dificultades, nos muestra horizontes.

Paulo Freire nos enseña la pedagogía de la esperanza como acto de hacer y visualizar el futuro que se construye en el presente. Cada vez que una mujer aquí en las Carolinas suelta una de sus cadenas, celebramos juntos. Se trata de vivir conscientes del propósito de una sociedad más justa y solidaria.

Termino con una cita de Bell Hooks: “Si el desamor está a la orden del día en el mundo contemporáneo, hablar de amor puede ser revolucionario”.

Para mí el amor no tiene nada que ver con debilidad, al contrario, significa poder y nos permite romper ciclos de violencia y avanzar hacia una sociedad libre.

Simone Rego, 52 anos, mãe solo de três jovens, professora da rede municipal de ensino, educadora popular no cursinho comunitário Carolina de Jesus, fundadora da Instituição Academia Carolinas. Recentemente convidada a integrar o MST pela frente de massas e coordenadora do Programa de alfabetização, “Sim, eu posso!”.

Simone Rego, 52 años, madre soltera de tres jóvenes, docente del sistema municipal de educación, educadora popular del curso comunitario Carolina de Jesús, fundadora de la Institución Academia Carolinas. Recientemente invitado a unirse al MST por el frente de masas y coordinadora del programa de alfabetización “¡Sí, puedo!”.

Carolinas.

LITERATURA

JOSÉ MONTEIRO LOBATO: A ONÇA DOENTE

JOSÉ MONTEIRO LOBATO: EL JAGUAR ENFERMO

A onça caiu da árvore e por muitos dias esteve de cama seriamente enferma. E como não pudesse caçar, padecia fome das negras.

Em tais apuros imaginou um plano.

– Comadre irara – disse ela – corra o mundo e diga à bicharia que estou à morte e exijo que venham visitar-me.

A irara partiu, deu o recado e os animais, um a um, principiaram a visitar a onça.

Vem o veado, vem a capivara, vem a cutia, vem o porco do mato.

Veio também o jabuti.

Mas o finório jabuti, antes de penetrar na toca, teve a lembrança de olhar o chão. Viu na poeira só rastos entrantes, não viu nenhum rastro sainte. E desconfiou:

– Hum!… Parece que nesta casa quem entra não sai. O melhor, em vez de visitar a nossa querida onça doente, é ir rezar por ela…

E foi o único que se salvou.

Moral da História: Contra esperteza, uma esperteza e meia.

El jaguar cayó del árbol y, por muchos días, estuvo de cama, gravemente enfermo. Y como no podía cazar, sufría un hambre de las negras.

En tales apuros, imaginó un plan.

Comadre hurón – dijo – corre por el mundo y di a los animales que me estoy muriendo y exijo que vengan a visitarme.

El hurón se fue, dio el recado, y los animales, uno a uno, comenzaron a visitar al jaguar.

Viene el venado, viene la capivara, viene el roedor, viene el cerdo salvaje.

Vino también el morrocoy.

Pero el astuto morrocoy, antes de adentrarse en la guarida, se le ocurrió mirar al suelo. Vio en la polvareda del suelo, sólo huellas que entraban, no vio ninguna huella que saliera. Y desconfió:

— ¡Hum!… Parece que, en esta casa, quien entra, no sale. Mejor es, en lugar de visitar a nuestro querido jaguar enfermo, ir a rezar por él…

Y fue el único que se salvó.

Moral de la historia: Contra la astucia, una astucia y media.

Traducción de Isaac Morales Fernández

JÚLIO VALDERREY: CANÇÃO INÚTIL

JULIO VALDERREY: CANCIÓN INÚTIL

Em algum lugar do país está a mulher que eu amei Aquela que me disse não uma tarde e eu fui embora suicida e melancólico como Van Gogh andando sonâmbulo pela cidade com sede e faminto até o anoitecer

Em algum lugar da minha casa os viajantes aguardam Semeiam os seus dias de cabeça baixa, dormem no claustro Eu bebo minha xícara de café e apago a luz do amanhecer e vou embora na escuridão da manhã, eu assusto os cães tomando as rédeas o fio condutor da política e vejo na imprensa os discursos do presidente, uma senhora divorciada da jai* ao ator cujos sonhos foram embora porque o show acabou algum poeta bêbado que acordou triste que foi expulso do jogo.

Em algum escritório público uma jovem lê Intimidades um jovem lê as páginas de esportes e sonha com a garota na mesa do outro lado do corredor morta Grace Kelly O Country** chora mais que a Europa mas os que falaram do triunfo, eles não são loucos e eu ando pela minha rua Cidade de Caracas e penso no suicídio dos românticos no manifesto surrealista e na minha pobre América Latina.

Em algum lugar do país, os passageiros leem poemas sobre a vida e a morte e eles sabem que eu fui fiel que meus dias são isto fugido do mundo e aquela que me disse não uma tarde terá eu na mesa de cabeceira como lembrança esperando o devir e me conhecerá como um poeta da minha geração e tímido e bêbado e amor louco e às vezes desrespeitoso como a dor mas é para que tu saibas que eu ainda te amo que eu sou triste e há muito tempo eu entendi que sou lenha e cinzas.

En algún lugar del país está la mujer que amé la que me dijo no una tarde y me fui suicida y melancólico como Van Gogh caminando sonámbulo por la ciudad sediento y hambriento hasta llegar la noche

En algún lugar de mi casa aguardan los viajeros siembran sus días cabizbajos duermen en el claustro yo tomo mi taza de café apago la luz del amanecer y me marcho oscuro de mañana espanto los perros tomando las riendas el hilo político y veo en la prensa los discursos del presidente una dama de la jai divorciada al actor que se le fueron los sueños porque terminó la función algún poeta borracho que amaneció triste que fue expulsado del juego.

En alguna oficina pública una joven lee Intimidades algún joven lee las páginas deportivas y sueña con la muchacha del escritorio de enfrente muerta Grace Kelly el Country llora más que Europa pero los que hablaron del triunfo no están locos y camino por mi calle ciudad Caracas y pienso en el suicidio de los románticos en el manifiesto surrealista y mi pobre América Latina.

En algún lugar del país los pasajeros leen poemas de vida y muerte y saben que he sido fiel que mis días son esto escapado del mundo y la que me dijo no una tarde me tendrá en la mesa de noche como recuerdo esperando el devenir y me sabrá poeta de mi generación y tímido y ebrio y amor loco y a veces irrespetuoso como el dolor pero es para que sepas que te amo todavía que soy triste y que hace tiempo entendí que soy leño y ceniza.

Traducción de Isaac Morales Fernández

CONTOS DA OFICINA DE ESCRITA

CRIATIVA “TIEC.II-2024” E “O-TIEC.I-2025” DE NARRATIVA BREVE

CUENTOS DEL TALLER DE ESCRITURA

No mês de dezembro de 2024, foi impartida a oficina online em espanhol “Taller Intangible de Escritura Creativa - Narrativa Breve “El Corazón Relator”, por Isaac Morales Fernández, na sua segunda edição neste ano. Depois, em março de 2025 foi impartida a mesma oficina online pela primeira vez em português.

Esses são os relatos dos participantes, cujos textos foram trabalhados e “talhados” na oficina. Depois, foram traduzidos para o portugués ou espanhol, segundo o caso, pelo facilitador, tudo especialmente para o número 2 da Revista ACS.

Se você estiver interessado em participar numa das oficinas O-TIEC, mande uma mensagem de Whatsapp ao número +55 11 92018 0400

En diciembre de 2024, se impartió en español el taller en línea «Taller Intangible de Escritura Creativa - Narrativa Breve «El Corazón Relator», impartido por Isaac Morales Fernández, en su segunda edición de este año. Posteriormente, en marzo de 2025, el mismo taller en línea se impartió por primera vez en portugués.

Estos son los relatos de los participantes, cuyos textos fueron trabajados y “tallados” en el taller. Después, fueron traducidos al portugués o español, según correspondía, por el facilitador, todo ello especialmente para el número 2 de la Revista ACS.

Si estás interesado en participar en uno de los talleres TIEC, envía un mensaje de Whatsapp al número +55 11 92018 0400

DANÇA ENTRE FANTASMAS

Não! Definitivamente não, -pensou Oswald, com seu olhar apegado ao último sortilégio que o uniria à espera. Ele não ia mais procurar. Não mais a quietude ou se declarar inerte no silêncio.

Agora é a minha vez, ele disse para si mesmo. Ele descobriu sua figura prendida, suspensa naquele reflexo na parede. Se levantou e deixou que aquele som rítmico e elástico atravessasse sua humanidade.

Ele nunca mais foi visto. Agora, aqueles que escutam o ar dizem que é Oswaldo que ziguezagueia os sons dispersos no tempo.

(TRAD.: ISAAC MORALES FERNÁNDEZ)

DANZA

¡No! Definitivamente no, -pensó Oswaldo, aferrando la mirada en el último sortilegio que le uniría a la espera. Ya no iba a buscar. Ya no más quietud o declararse inerte al silencio.

Ahora es mi turno, -se dijo. Descubrió su figura sostenida, suspendida en ese reflejo en la pared. Se levantó y dejó que ese rítmico y elástico sonido traspasara su humanidad.

Ya no se le vió más. Ahora, quienes escuchan al aire, dicen que es Oswaldo que zigzaguea los sonidos dispersos en el tiempo.

Eu gosto de visitar cemitérios e conversar com os mortos.

Na minha cidade, tem um antigo. Sua origem remonta aos tempos da conquista; quando criança, eu o visitava com frequência. Minha avó e eu passávamos por cada túmulo e estes se tornavam em diversas histórias: amor, guerra, traição, travessuras, fantasmas e enterros.

Os enterros são abundantes na minha cidade, já que teve de passar por duas guerras: a da Independência e a de Zamora, com muitos mortos. E, claro, cada pessoa morta deixa um fantasma para proteger seu legado, e nós, os vivos, temos que lidar com o que a pessoa morta deixa para trás, e é aí que minha mãe entra.

Ela, tão elegante, distinta, inteligente e bonita, entrou na cozinha para fazer não sei o quê (bom, não era cozinhar, pois esse não era seu forte). Então ela ouviu um estrondo alto no telhado e um balde de água deu uma molhada nela completamente. Atordoada com o acontecimento inusitado, ela percebeu que estava seca, reagiu, olhou para todo lado, estava sozinha e se deu conta de que devia de ter sido um fantasma, e disse com sua voz firme e característica: “Este é um fantasma de carnaval”*.

Eu, distraída no meu quarto, não me dei conta do ocorrido até que mamãe apareceu diante de mim, exibindo todos os seus medos numa palidez fria. E assim começou meu diálogo com os mortos.

* Na Venezuela, é costume, em época de carnaval, molhar as pessoas. Associar a ação de jogar água em alguém, com o carnaval, é algo comum. N.T.

ENTRE ESPANTOS

Me gusta visitar cementerios y hablar con los muertos.

En mi pueblo hay uno viejo. Su origen se remonta a los tiempos de la conquista, de niña lo visitaba con frecuencia. Mi abuela y yo pasábamos por cada tumba y estas se convertían en historias distintas: amor, guerra, traición, picardía, espantos y entierros.

Los entierros abundan en mi pueblo, ya que tuvo que pasar dos guerras: la de Independencia y la de Zamora, con muchos muertos. Y, por supuesto, cada muerto deja su fantasma cuidando el legado, y a nosotros, los vivos, nos toca lidiar con lo que deja el muerto y en este punto es donde entra mi mamá.

Ella, tan elegante, distinguida, inteligente y bonita, entró a la cocina a hacer no sé qué cosa (pues, a cocinar no fue, ya que ese no era su fuerte). Entonces, sintió un gran estruendo en el techo y seguidamente un balde de agua la bañó por completo. Aturdida por el insólito suceso, se percató que estaba seca, reaccionó, miró a todos lados, estaba sola y se dio cuenta de que debía de haber sido un espanto, y dijo con su voz firme que la caracteriza: “Este es un espanto de carnaval“.

Yo, distraída en mi cuarto, no me di cuenta de lo ocurrido hasta que mamá apareció ante mí mostrando todos sus miedos, en una fría palidez. Y así comenzó mi diálogo con los muertos.

A ESPERA LA ESPERA

POR MARLY SANTANA / MÉXICO

Depois de conversar com Marta, percebi que Ismael tinha ficado absorto em seus pensamentos. Marta, que era sua filha, disse algo para ele que cortou o sorriso do Ismael ao atender a sua ligação. Ele tinha mantido a esperança daquela ligação, pelo menos na época.

Belén, sua esposa, vendo a repentina transformação de um homem despreocupado em uma forma sombria e indefinida, desmaiou as mãos, que segundos antes arrumavam ansiosamente os ingredientes para o ensopado de hallaca** que ela estava prestes a preparar. Ela se sentou em um banco ao lado da mesa, limpando compulsivamente as mãos no avental, encarando Ismael e num tom irritante, vendo que ele não falava, disse: Pois, me conta o que aconteceu, o que ela te disse?”, ao que Ismael respondeu após um breve silêncio: Putz, que coisa!* Ele falou só isso. Eu vi ele disposto a começar a vestir a camisa que ficava melhorzinha. Imaginei a mesma coisa que Belén, mas não quis dizer nada.

Ele vestiu seu melhor terno e, depois de olhar no espelho seus olhos castanhos, iguais aos do pai, e examinar suas pálpebras que começavam a cair como uma lona cheia de água sobre seus olhos, aprontou-se para sair. Belén não proferiu palavra alguma. Seu olhar lacrimejante, que revelava a profundidade de sua tristeza, dizia tudo. Eu saí atrás do Ismael, mas queria dar-lhe espaço, pois eu já sabia, ou pelo menos imaginava, a notícia. Ele caminhava com passos lânguidos pelo meio da rua enquanto olhava para os carros, para o céu, com um ar de descrença no rosto. Não havia lua. Ismael pensou: é assim que eu estou, sem minha Marta, como um céu sem lua.

E ele exclamou: “Putz, que coisa!” Depois de se afogar em suas tristezas, suas alegrias, suas lembranças, seu amigo Sebastián, dono do bar da esquina, lhe disse: Compadre***, não beba mais. Belén deve estar preocupada. Ismael mal lhe deu atenção, olhou para suas mãos grossas e trêmulas, corroídas pelo tempo, e começou a se lembrar de quando aquelas mãos carregavam sua Marta, e com essa lembrança se levantou e começou a dançar aquela dança que só ele e sua menina conheciam.

E ele ficava falando com a Marta: minha menina, vem cá, aqui, vem, Marta, dança com o teu velho, olha pra mim, estou aqui te esperando. Pobre Ismael, não me resta nada além de olhar para ele. Já faz o quinto ano que ele não vê sua Marta. Ele já tem um netinho que pensou que viria. Marta está na Espanha e também não poderá retornar neste Natal.

* No original: “¡Qué vaina, vale!” expressão comum na Venezuela e Panamá para expressar preocupação ou angústia.

** Hallaca: prato tradicional natalino venezuelano, feito com massa de milho, ensopado de legumes, carnes, picles e envolvido em folha de bananeira.

*** No original: na forma abreviada “Compa”, que não tem, necessariamente, vinculação familiar, pode ser só de amizade.

(TRAD.: ISAAC MORALES FERNÁNDEZ)

Luego de hablar con Marta, noté que Ismael quedó absorto en su pensamiento. Marta, que era su hija, le dijo algo que segó la sonrisa de Ismael al atender su llamada. Había guardado la ilusión de esa llamada, al menos para esta época.

Belén, su mujer, al ver la súbita transformación de un hombre despreocupado en una lúgubre forma indefinida, se le desvanecieron las manos, que segundos antes con avidez acomodaban los ingredientes para el guiso de las hallacas que se disponía a preparar. Se sentó en un banco que estaba en el lateral del mesón, limpiaba sus manos compulsivamente en el delantal, miraba fijamente a Ismael y con irritante tono al ver qué no hablaba le dijo: —dime, pues, ¿qué pasó? ¿Qué te dijo? A lo que Ismael le respondió luego de un breve silencio: ¡Qué vaina, vale! Solo eso dijo. Vi que se dispuso a colocarse la camisa mejorcita que le quedaba. Me imaginé lo mismo que Belén, pero no quise decir nada.

Se puso su mejor traje, luego de mirar en el espejo sus ojos café, iguales a los de su viejo, y a detallar sus párpados que comenzaban a posarse como lona llena de agua sobre sus ojos, se dispuso a salir. Belén no profirió palabra alguna.. Su mirada de ojos aguados, que dejaban ver lo insondable de su pesar, lo decía todo. Salí detrás de Ismael pero quise darle su espacio, pues ya sabía, o al menos me imaginaba, la noticia. Iba caminando con pasos lánguidos por el medio de la calle mientras miraba a los carros, al cielo, con un aire de incredulidad en su rostro. No había luna. Ismael pensó: así estoy yo, sin mi Marta, como un cielo sin luna.

Y exclamó ¡Qué vaina, vale! Ya luego de estar ahogado en sus pesares, sus alegrías, sus recuerdos, su compadre Sebastián, dueño del bar de la esquina, le dijo: Compa, no beba más. Belén debe andar preocupada. Ismael apenas le atendió, se miró las manos gruesas, temblorosas, roídas por el tiempo, y comenzó a recordar cuando esas manos cargaban a su Marta, y con ese recuerdo se levantó y comenzó a danzar esa danza que sólo él y su niña sabían.

Hablaba con Marta: mi niña, ven acá, aquí, ven, Marta, baila con tu viejo, mírame, aquí estoy esperándote. Pobre Ismael, no me queda nada más que mirarlo. Ya es el quinto año que no ve a su Marta. Ya tiene un nietecito que pensó que vendría. Marta está en España y estas navidades tampoco podrá volver.

DANÇARINO DO CAOS DANZARÍN DE CAOS

PRIMEIRA FORMA

A noite surge, um manto de fumaça densa e sufocante enche tudo de vacuidade.

A silhueta de uma rua, com linhas lumínicas efêmeras originadas de caixões móveis cheios de primatas barulhentos.

SEGUNDA FORMA

Uma alma bêbada, livre, submersa como se estivesse em um terno de palha e afogada em líquidos alcoólicos.

TERCEIRA FORMA

O dançarino do caos, uma chama de chaminé ao vento, um guardanapo sujo ziguezagueador.

Suas mãos se balançam como um jato de água, sem controle e sem força.

Risadas ininteligíveis, ranger de dentes e assobios, gesticulações grotescas, fede a indignação!

QUARTA FORMA

Uma sacerdotisa, de tempos já esquecidos, apoiada no cadáver refinado de um ser ancestral, invoca mantras silenciosos sobre o dançarino solitário.

Lábios empedrados murmuram folhagens de tempos sem retorno.

QUINTA FORMA

Duas estrelas errantes, brincando,

deixam um rastro de risadas prístinas no ar.

Com vozes melodiosas e tilintadoras elusivas, elas criam um déjà vu reincidente na fábrica de sonhos do navegador.

SEXTA FORMA

Um rosto pintado, uma careta sardônica, um espelho distorcido de uma peça teatral oca.

Com um magnetismo sobrenatural, ele orbita o dançarino com a atração exercida pelas memórias agridoces de lembranças tampadas do mundo.

SÉTIMA FORMA

Um cão mundano, metrônomo peludo, umedece seu calçado, imprimindo palavras aromáticas em uma história.

Quem é mais amado do que aquele em quem é deixada a marca?

OITAVA FORMA

O asfalto ressoa, o policial de plantão, uma nota grave turva os sentidos, o universo gira até que um gosto enferrujado se mistura à evocação alcoólica.

FORMA FINAL

Um balbucio imperceptível, um grito calado ressoa lá dentro.

“Eu sou a caneta do infinito, somente eu que existo.”

PRIMERA FORMA

Surge la noche, un manto de humo denso, asfixiante, lo llena todo de vacuidad.

La silueta de una calle, con líneas lumínicas efímeras originadas desde ataúdes móviles llenos de primates ruidosos.

SEGUNDO FORMA

Un alma embriagada, libre, sumergida como en un traje de paja y ahogada de líquidos espirituosos.

TERCERA FORMA

El danzarín del caos, una flama de mechero al viento, una servilleta sucia zigzagueante.

Sus manos basculan cual chorro de agua, sin control y sin fuerza.

Risas ininteligibles, rechinares y silbidos, gesticulaciones grotescas, ¡apesta a desafuero!

CUARTA FORMA

Una sacerdotisa, de tiempos olvidados, apoyada sobre el cadáver refinado de un ente ancestral, invoca mantras silenciosos sobre el danzarín solitario.

Labios pedregosos mascullan hojarascas de tiempos sin retorno.

QUINTA FORMA

Dos estrellas errantes, jugueteando, dejan una estela de risas

prístinas al aire.

Con voces melodiosas y tintineos esquivos, crean un déjà vu reincidente en la fábrica de sueños del navegante.

SEXTA FORMA

Una cara pintada, una mueca sardónica, un espejo distorsionado de una obra de teatro hueca.

Con un magnetismo sobrenatural, orbita al bailarín con la atracción que ejercen los recuerdos agridulces de remembranzas tapiadas de mundo.

SÉPTIMA FORMA

Un can mundano, metrónomo peludo, humecta su calzado imprimiendo palabras aromáticas en una historia.

¿Quién más amado que sobre el que se deja huella?

OCTAVA FORMA

Resuenan el asfalto, el gendarme de oficio, una nota grave nubla los sentidos, el universo gira hasta que un sabor herrumbroso se mezcla con la evocación etílica.

FORMA FINAL

Un balbuceo imperceptible, un grito callado retumba a los adentros.

“Soy la pluma del infinito, sólo existo yo”.

A SENTIDA ANTI-DANÇA LA SENTIDA ANTIDANZA

Miguel, dotado de doce amaretto, sentia a necessidade de se mover como uma brisa em direção ao infinito, ali em sua solidão, sentindo que, a cada passo, afundava mais em sua dança letárgica, queria levantar o rosto do poço onde tinha caído com uma música que só seu corpo sentia.

Passos pesados ao ritmo melancólico, ele girava e girava, seu olhar se perdia na multidão. Ele ouviu seu nome à distância; eram seus amigos que o procuravam.

Mas ele não queria ser abordado por eles. Ele só queria dançar e aproveitar o silêncio daquela melodia.

Sentado na calçada, Joel perguntou: O que vamos fazer hoje? Estou cansado de não fazer nada.

Os outros olhavam para seus relógios, esperando que alguém os contratasse ou que pudessem participar da audição.

Miguel continuou dançando a música suave que só ele conseguia ouvir.

De repente, Julia deu um pulo e riu sem parar. Ela queria saber qual era a ideia do amigo por trás da dança em síncope.

Ela pensava que, se os cinco estavam esperando o momento de serem chamados para a audição, não valeria a pena o desgaste.

Em seu mundo, Miguel nem tentava parar, nem se importava com o que lhe diziam, ele apenas tentava buscar algo perdido no tempo.

Miguel, dotado de dulce amaretto, percibía la necesidad de moverse como brisa hacia el infinito, ahí en su soledad, sentir que, con cada paso, se hundía más en su aletargado danzar, quería sacar la cara del foso donde cayó con una música que sólo su cuerpo sentía.

Pesados pasos al ritmo melancólico, él giraba y giraba, su vista se perdía en la multitud. Oyó lejos su nombre, eran los amigos que iban en su búsqueda.

Mas él no quería ser abordado por ellos. Sólo quería danzar y disfrutar el silencio de esa melodía.

Sentados en una acera, Joel preguntó: ¿Qué haremos hoy día?, ya estoy cansado de no hacer nada.

Los otros miraban su reloj, esperando que alguien los contratara, o poder participar en la audición.

Miguel, seguía danzando la suave música que sólo él oía.

De repente, Julia dio un salto y se rió sin parar. Quería saber cuál era la idea de danzar a contratiempo de su amigo.

Pensaba que si ellos cinco esperaban el momento para ser llamados a la audición, no valía la pena desgastarse.

En su mundo, Miguel ni siquiera trataba de pararse, ni le importaba lo que le decían, sólo atinaba a tratar de buscar algo perdido en el tiempo.

O BRILHO DA LIBERDADE EL BRILLO DE LA LIBERTAD

POR ELIZA DE CÁSSIA CABRAL ANTUNES

Faz anos que eu estou nesta prisão, pagando um preço alto pela minha ousadia, sempre quis alçar voos audaciosos demais.

Minha vida se resume a este cubículo cercado por grades, “vendo o sol nascer quadrado” -gíria da cadeia.

Não sou mais digno de confiança, quando abrem a porta do meu cativeiro é só para me alimentar, temem pela sua integridade física, às vezes jogam comida pelos vãos das grades, é tão degradante!

Cortaram minhas asas, esmagaram minha esperança, me tiraram tudo, mas não me calaram!

Perdi a noção do tempo, meus gritos de revolta varam a noite e a escuridão atiça a minha avidez por justiça selvagem.

Todas as minhas tentativas de fuga falharam, até agora...

Hoje é dia de limpeza da cela, eu sei porque aqui nesta clausura tive tempo para estudar os hábitos dos meus dois algozes, sei também que a preguiça e o desleixo deles comigo serão o meu passaporte para a liberdade.

Está quase na hora da faxina semanal, revisei o plano uma centena de vezes, não tem erro.

Não quero carnificina, mas, se for preciso, serei preciso.

Ouço os passos arrastados de um deles, é o mais preguiçoso, vai ser fácil!

Ele finge ser meu amigo, tenta me comprar com comida diferenciada e carinho: “quer biscoito, Loro? Dá o pé, Loro?”, mas não estou à venda!

Agora está abrindo a portinhola do cárcere, tirou o arame de segurança máxima que a mantém fechada, os meus olhos ficam amarelos pela raiva, mas Sun Tzu e o tempo que passei aqui me ensinaram a arte da paciência, não me sabotarei!

A mão dele já está dentro da gaiola, está pegando o pote de água lodosa, mas não vai lavar, só encher, que tipo de animal pensa que eu sou? Não tenho direito à higiene? Não sou um rato alado!

Chegou a hora, ele vai pegar o pote de comida onde resta apenas um pedaço de banana podre, vai completar com sementes baratas e sem gosto, pensa que sou uma maritaca, que continue me subestimando!

Cheguei ao meu limite, tomado pela ira, desço do poleiro e começo a bicar a mão do desmazelado, que gritaria! Nada mais me importa, eu quero sangue! E também liberdade!

O alvoroço chama a atenção da outra algoz que chega rapidamente para acudir o cúmplice negligente que já está com a mão toda bicada e sangrando.

A aparição dela não estava nos planos, mas eu não desisto, meu instinto oportunista aflora e, enquanto o indolente é acudido pela sua comparsa, escapo pelo minúsculo portal rumo à liberdade!

Saio voando a toda velocidade em direção à panorâmica janela da sala, já posso ver o céu lindo e azul, as árvores do quintal e tudo têm um brilho único, um reflexo que eu nunca vi antes!

Que momento! Honra e glória para mim!

Dessa vez eu consegui! Consegui?

Vou resumir o desfecho do meu triunfo, pois os analgésicos estão fazendo efeito e os meus olhos já não se mantêm abertos: o vidro estava fechado.

Hace años que estoy en esta prisión, pagando un alto precio por mi osadía. Siempre he querido alzar vuelos demasiado audaces.

Mi vida se resume a este cubículo cercado de rejas, “viendo el sol nacer cuadrado” -jerga de la cárcel.

Ya no soy digno de confianza, cuando abren la puerta de mi cautiverio es sólo para alimentarme, temen por su integridad física, a veces me tiran comida por entre los barrotes, ¡es tan degradante!

Cortaron mis alas, aplastaron mi esperanza, me quitaron todo, ¡pero no me callaron!

Perdí la noción del tiempo, mis gritos de rebelión atravesaron la noche y la oscuridad alimentó mi hambre de justicia salvaje.

Todos mis intentos de fuga han fracasado, hasta ahora...

Hoy es día de limpieza de la celda, lo sé porque aquí en este claustro tuve tiempo de estudiar las costumbres de mis dos verdugos, también sé que su pereza y descuido hacia mí serán mi pasaporte a la libertad.

Ya casi es hora del mantenimiento semanal, he revisado el plan cientos de veces, no hay ningún error.

No quiero una carnicería, pero si es preciso, seré preciso.

Oigo los pasos arrastrados de uno de ellos, es el más perezoso, ¡va a ser fácil!

Él se hace pasar por mi amigo, intenta comprarme con comidas diferentes y cariño: “¿Quieres una galleta, Loro? ¿Me das la pata, Loro?”, ¡pero no estoy a la venta!

Ahora está abriendo la portezuela de la cárcel, ha quitado el alambre de máxima seguridad que la mantiene cerrada, se me ponen los ojos amarillos de rabia, pero Sun Tzu y el tiempo que pasé aquí me enseñaron el arte de la paciencia, ¡no me sabotearé!

Su mano ya está dentro de la jaula, está agarrando el pote de agua enlodada, pero no va a lavarlo, sólo rellenarlo, ¿qué clase de animal cree que soy? ¿No tengo derecho a la higiene? ¡No soy un ratón alado!

Llegó la hora, va a tomar el pote de comida donde sólo queda un trozo de plátano podrido, lo va a completar con semillas baratas y sin sabor, él cree que yo soy un perico, ¡que me siga subestimando!

Llegué al límite, vencido por la ira, desciendo de la vara y comienzo a picotear la mano del despistado, ¡que gritería! ¡No me importa nada más, quiero sangre! ¡Y también libertad!

El alboroto llama la atención de la otra torturadora que rápidamente llega para ayudar al cómplice negligente que ya tiene la mano toda picoteada y sangrando.

La aparición de ella no estaba en los planes, pero no me doy por vencido, mi instinto oportunista aflora y, mientras el indolente es ayudado por su cómplice, yo escapo por el minúsculo portal rumbo a la libertad!

Salgo volando a toda velocidad hacia el ventanal panorámico de la sala, ya puedo ver el cielo lindo y azul, los árboles del patio, y todo tiene un brillo único, un reflejo que nunca antes había visto!

¡Qué momento! ¡Honor y gloria para mí!

¡Esta vez lo he logrado! ¿Lo he logrado?

Voy a resumir el desenlace de mi triunfo, pues los analgésicos están haciendo efecto y mis ojos no se mantienen abiertos: el vidrio estaba cerrado.

ALUADO LUNÁTICO

Naquela tarde, tirou o pijama, não se reconheceu no espelho, fez barba com mãos trêmulas, tomou banho - Há dias não o fazia.

Abriu o guarda-roupas, escolheu a melhor camisa, vestiu a melhor calça e as meias rotas. Calçou o sapato social, empoeirado, guardado no fundo da sapateira.

Penteou os cabelos, corrigiu o desalinhamento com brilhantina e saiu cambaleante pela rua.

Caminhou desajeitado, aos tropeços, enquanto transeuntes e automóveis desviavam dele.

Anoitecia quando parou em frente ao antigo cinema que deu lugar ao estacionamento do shopping. Cantarolando uma música que só ele conhecia, notas inaudíveis, palavras incompreensíveis, dançou o que seria uma valsa misturada com um tango, abraçado ao que restou da lembrança de um grande amor.

Rodopiava trôpego misturando imagens controversas, sonho e realidade, realizações e frustrações, como se estivesse reconstruindo a vida.

A cabeça doía, os olhos ardiam, boca e narinas estavam secas.

Quanto mais girava, mais a cabeça doía, mais lembranças o assombravam, mais horrores o inundavam.

E ele dançou, volteou desnorteado, gargalhando suas dores até o sol nascer.

Parou exausto, enxugou o suor com o lenço imundo, ajoelhouse na calçada. Viu o chão tão próximo e o céu distante. Perdeu-se olhando as nuvens desfilando calmamente, depois se aglomerando, encobrindo o sol, escurecendo.

Agora, a água do chuveiro cai estranhamente morna sobre o corpo inerte.

Aquella tarde se quitó la piyama, no se reconoció en el espejo, se afeitó con las manos trémulas, se bañó -hacía días que no lo hacía-.

Abrió el armario, escogió la mejor camisa, se puso los mejores pantalones y los calcetines rotos. Se puso sus zapatos de vestir, polvorientos, guardados en el fondo del zapatero.

Se peinó, se arregló la carrera del cabello con brillantina y salió tambaleándose a la calle.

Caminaba torpemente, a los tropiezos, mientras los peatones y automóviles lo evitaban.

Anochecía cuando se paró frente al antiguo cine que había dado paso al estacionamiento del centro comercial. Canturreó una canción que sólo él sabía, notas inaudibles, palabras incomprensibles, bailó algo que parecía un vals mezclado con tango, abrazando lo que quedaba del recuerdo de un gran amor.

Giraba en trompicones mezclando imágenes controvertidas, sueño y realidad, logros y frustraciones, como si estuviera reconstruyendo su vida.

La cabeza le dolía, los ojos le ardían y tenía la boca y las fosas nasales secas.Cuanto más giraba, más le dolía la cabeza, más recuerdos lo ensombrecían, más horrores lo inundaban.

Y bailó, dio vueltas desorientado, riendo a carcajadas de su dolor hasta que salió el sol.

Se detuvo, exhausto, se secó el sudor con su pañuelo inmundo y se arrodilló en la acera. Vio el suelo tan cercano y el cielo tan distante. Se perdió mirando las nubes desfilando calmadamente, después aglomerándose, tapando el sol, oscureciendo.

Ahora, el agua de la ducha cae extrañamente tibia sobre el cuerpo inerte.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.