RODA #2

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A música é essencialmente produto do meio onde ela é concebida? Outro dia eu estava conversando com o Camelo (Marcelo Camelo) e falei que, no fundo, a identificação das pessoas com os Los Hermanos - e que tiveram numa escala infinitamente menor comigo - tem a ver com a origem. Comigo foi Santa Cruz, e no caso deles, Jacarepaguá. A gente intelectualiza, racionaliza, demora pra cacete para fazer uma música, mas o que toca realmente as pessoas é o nosso chão, a nossa essência. O artista está um pouco acima do que ele usa para conceituar. Você citou o Marcelo Camelo. No seu trabalho há espaço para parcerias, você curte contribuir no trabalho dos outros e vice-versa? Acho que a coisa se divide em grupos, eu tenho a teoria de que o grupo que mais está em ebulição na sociedade atual é o grupo dos ansiosos. São pessoas que precisam colocar para fora o que têm dentro. Minha ansiedade é aquela que precisa ser controlada com remédios. Eu tenho uma vontade constante de estar produzindo, já escrevi duas peças de teatro, dois livros de poesia, nesse movimento ansioso eu vou encontrando outros ansiosos pelo caminho e o mais estranho nisso tudo é que eu sou ariano. Ariano é aquele que faz trabalho de grupo sozinho no colégio. A música brasileira sempre se caracterizou por formar grupos, movimentos, turmas. Como você vê isso? É de alguma turma? Eu não gosto disso, não, o sinal dos tempos é de que as pessoas não estão querendo mais bandeiras, neguinho já sacou como funciona, primeiro começa legal, depois a bandeira começa a ficar desconfortável, aí ela vira uma prisão e você faz de tudo para sair da bandeira. É assim com partido político, foi com o comunismo, tanto que recentemente ficaram tentando localizar as lideranças nas manifestações e perceberam que elas são todas frouxas. A galera que foi para as ruas foi por seus próprios motivos, suas insatisfações. A mesma coisa eu vejo na música, cada um tem seus próprios motivos. Os meus começaram lá em Santa Cruz e passam pela faculdade de Direito até eu chegar aqui, por mais que eu use violão, acordeon e outros também usem. Hoje em dia se consome música de tudo que é jeito e de tudo que é tipo. Tem espaço para tudo e para todos? Tem uma coisa que eu trago de Santa Cruz: música boa é música que todo mundo gosta,


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