Vol. 2, N° 16 / Maio 2024
6
8
“Tales Of Treason”, novo álbum da Armada, usa o inglês para retratar cenário político brasileiro
Os maiores desafios e planos da secretária de Justiça e Cidadania do DF 12
Tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão no Brasil 14
16
Vamos para Zanzibar
O desastre natural com maior impacto na economia brasileira: 3 efeitos das inundações do RS no país
20 Para quem doar no caso do Rio Grande do Sul?
21
Brasil teve 230 mortes de pessoa LGBTI+ em 2023
22 Policiais estão pouco preparados para lidar com LGBTfobia, diz estudo 24
Olhar através 26
Chance para os legados
27
MEC autoriza flexibilização do calendário escolar no RS 28
‘Se Podes Ver, Repara’ 30
Quinze quilombos estão totalmente isolados pelas chuvas no RS 32 Washington Rodrigues, o Apolinho, morre no Rio aos 87 anos
“A sociedade brasileira adotou o mau humor como sua nova característica” 36
Mais de 98% dos territórios quilombolas no Brasil estão ameaçados
38 Governo federal anuncia Pix de R$ 5,1 mil para famílias do RS 40
Quem é Paulo Pimenta, que vai chefiar ações do governo Lula no RS
44
Mais de 95% da população diz ter consciência das mudanças climáticas
46 Delírios Amorosos
06 22 08 32 16 44
34
SUMÁRIO PLANO B BRASÍLIA
Diretor Executivo
Paulo Henrique Barreto Paiva paulopaiva.job@gmail.com
SCS QD 04 Bloco A sala 505/506, número 216 Coworking Revista Plano B - Brasília- DF - CEP 70.304-912
Diretor Administrativo
Rócio Barreto
Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva
Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Angela Beatriz, Ana Beatriz Barreto, José Gurgel, Humberto Alencar, Renata Dourado, Paulo César e Wilson Coelho
Design Grafico: Alissom Lázaro
Redação: Adriana Vasconcelos
Fotografia: Ronaldo Barroso
Tiragem: 10.000 exemplares
Periodicidade: Mensal
Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: revistaplanobbrasilia@gmail.com
Acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital.
www.revistaplanob.com.br
Maio/2024
Vol. 2, No 16 / Maio 2024
Publicada em 27 de maio de 2.024
Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.
A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.
Força feminina no GDF
Há quatro anos à frente da Secretaria de Justiça e Cidadania, Marcela Passamqni já enfrentou vários desafios. O maior deles até o momento foi a pandemia da Covid-19. A maior crise sanitária já enfrentada no Brasil foi pano de fundo para o início da gestão de Marcela à frente da pasta. Implantou o projeto Hotelaria Solidária, onde os idosos foram acolhidos e puderem ficar isolados e seguros no período mais crítico da pandemia. O reconhecimento internacional conquistado pela implementação do projeto serviu como incentivo para que outras ações em favor da cidadania da população do DF viessem a ser executadas.
Ações como o programa Direito Delas, o casamento comunitário e a Sejus mais perto do cidadão estão entre as missões da secretaria. Sempre atenta às questões sociais, Marcela chegou a ensaiar uma candidatura nas últimas eleições, mas desistiu. Atualmente, tem dado atenção à questão da violência doméstica, que tem reverberado no aumento dos casos de feminicídio no DF. O programa Direito Delas, encabeçado pela Sejus, tem o objetivo de oferecer atendimentos social, psicológico e jurídico às vítimas diretas de violência e seus familiares.
Com alçadas múltiplas dentro da Sejus, Marcela Passamani trabalha alinhada com as demais secretarias em políticas transversais e complementares.
Casada com o atual secretário da Casq Civil do GDF, Gustavo Rocha, que também já esteve à frente da pasta que Marcela comanda hoje, a gestora se mostra alinhada politicamente com o grupo de Ibaneis Rocha e garante que, nas próximas eleições, caminhará junto com o projeto político que o atual governador determinar.
Por Mila Ferreira
5
PLANO B
EDITORIAL PLANO B BRASÍLIA
EXPEDIENTE
BRASÍLIA
“Tales Of Treason”, novo álbum da Armada, usa o inglês para retratar cenário político brasileiro
Por Paola Zambianchi
Formada por quatro integrantes da lendária banda de punk rock paulista Blind Pigs - Henrike Baliú (voz), Mauro Tracco (baixo), Alexandre Galindo (guitarra) e Arnaldo Rogano (bateria) - e o guitarrista Ricardo Galano, a Armada lançou “Tales Of Treason”, disco de nove faixas produzidas e mixadas por Átila Ardanuy, e masterizadas por Ade Emsley, responsável pelos últimos trabalhos do Iron Maiden.
“Reza a lenda que o segundo disco de uma banda é o mais perigoso de toda a sua carreira, falam até em ‘maldição do segundo álbum’. Para quebrar essa maldição, decidimos fazer esse álbum totalmente diferente do primeiro, compondo-o inteiro em inglês”, revela Henrike.
O álbum leva a assinatura da gravadora americana Pirates Press Records, que em parceria com a Comandante Records, lança nos Estados Unidos e na Europa a versão do disco em LP. No Brasil, “Tales Of Treason” sai em CD sai pela TGR Sounds.
Conversamos com Henrike para saber mais sobre os desafios do novo disco da Armada, que entre os temas estão as questões sociais e políticas brasileiras.
“Tales Of Treason” demorou para ser lançado. O disco chega seis anos depois do lançamento do álbum de estreia, “Bandeira Negra” – que trouxe participações
inusitadas como a de Sérgio Reis e Kiko Zambianchi. Quais foram as dificuldades que a banda enfrentou durante o processo de gravação?
Henrike: O parto desse álbum foi complicado, nasceu com fórceps. Logo que acabamos de gravar os instrumentos e a voz de uma música, veio a pandemia do Covid-19. Aí a gravação ficou parada por alguns anos e só conseguimos retomar quando o mundo voltou ‘ao normal’. E mesmo assim foi demorado, a Armada é muito exigente e detalhista, mas acredito que fizemos um ótimo disco, com letras fortes e atuais.
Um disco em inglês que fala sobre o Brasil. Como é isso?
Henrike: A história recente do Brasil e da América Latina, é pesada. Tivemos ditaduras militares de direita instaladas em diversos países, com ditadores sanguinários como Pinochet. E tudo isso patrocinado e financiado pelos E.U.A., pela C.I.A., tudo para manter a América Latina o quintal dos E.U.A.. Creio que cantando sobre algumas situações históricas do nosso país em inglês, isso alcance pessoas que nunca nem imaginaram os horrores que nós passamos nos anos de chumbo.
“Bullet Through The Heart” contou com a missão de retratar o sentimento que pairava no ar durante o estado de exceção no Brasil. E para contar essa história você usou como pano de fundo a sua infância, foi isso?
Foto: Matheus Machado ENTREVISTA 6
Henrike: Sim. Como explicar um pouco mais de vinte anos de ditadura militar para um gringo? Como explicar em uma música punk rock de menos de três minutos, duas décadas de chumbo? Para tentar fazer isso coloquei um pouco da minha história como criança, no final dos anos 1970, começo dos anos 80, já no final da ditadura, no Rio de Janeiro, onde nasci. Assim como da janela do quarto do apartamento da minha avó, o meu ponto de vista parte do Cristo Redentor. De lá, tentei sintetizar os horrores pelo qual o Brasil passou. É uma letra também sobre a perda da fé, algo muito pessoal para mim. Por isso adoro compor para a Armada, posso abrir minha alma e meu coração nas letras.
“Nation Divided” e “Wrong Side Of America” também são críticas políticas. Qual a importância de ser uma banda contestadora no Brasil?
Henrike: Se você se define como uma banda de punk rock você tem a obrigação de contestar e criticar. Muitos falam, “ah, mas e esse governo? Vocês são comunistas!”. Meu amigo, ficamos à beira de um golpe de estado com o governo de extrema direita. Se você é incapaz de ver os estragos que isso trouxe para nossa sociedade, você tinha que estar escutando sertanejo universitário, não punk rock. Vejo muitas bandas que gostam de se rotular hardcore ou punk rock, mas na hora de colocar o dedo na ferida, ficam com medo de perder seguidores. Punk rock é para incomodar mesmo, e fico feliz de ver a Armada incomodando alguns rockeiros reaças de sapatênis.
O novo álbum assim como todos os trabalhos anteriores da Armada – “Armada” (2017), “Bandeira Negra” (2018) e “Ditadura Assas-
sina” (2019) foi lançado em vinil. Você como colecionador de discos faz questão que o material da banda seja disponibilizado neste formato?
Henrike: Se o seu trabalho não existe em formato físico, seja CD ou vinil, ele simplesmente não existe. Me desculpe, sou da velha escola, disco é disco. Faço questão de lançar tudo que gravo em formato físico. Sei que nem todos tem essa oportunidade, mas para mim, é essencial.
Apesar de “Tales Of Treason” ser um disco todo em inglês, vocês disseram que a mudança no idioma não é definitiva. A banda já está preparando novas músicas em português?
Henrike: Gravamos este álbum em inglês para ele soar diferente do anterior, para saber se a gente conseguia. E deu certo, funcionou, foi uma experiência gratificante, mas já estamos compondo músicas novas em português. Sei lá, se eu falasse alemão fluentemente, como eu falo inglês, gravaria um disco da Armada em alemão, sabe, só para ver como soaria.
Para quem quiser conhecer a banda, como achar a Armada nas redes?
Henrike: Procure por @armadapunkrock no Instagram e junte-se a nossa tripulação!
Foto: Rodrigo Braga
ENTREVISTA 7
Arte: Paulo Rocker
Os maiores desafios e planos da secretária de Justiça e Cidadania do DF
Nomeada para o cargo que havia sido ocupado por seu marido, Gustavo Vale Rocha, Marcela Passamani não hesitou em aceitar o convite do governador Ibaneis Rocha
Por Rócio Barreto
Aos 43 anos, essa capixaba de Vitória (ES), arquiteta, advogada, mãe, esposa e primeira mulher a assumir a Secretaria de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani está no cargo desde 2020. Assumiu em meio à pandemia da Covid-19. Sem dúvida alguma, o maior desafio que enfrentou à frente da pasta, mas que lhe abriu a oportunidade para mostrar serviço.
Foi assim que ela conseguiu implantar algo que muitos tentaram, mas ninguém conseguiu colocar de pé durante a pandemia: o programa ‘Hotelaria Solidária’, para atender ido-
sos em meio à maior crise sanitária já enfrentada no Distrito Federal. O sucesso da iniciativa assegurou que o projeto recebesse certificação e premiação internacional. Assim, Ibaneis a manteve no cargo em seu segundo mandato.
Marcela não esconde o entusiasmo com que toca as ações à frente da Secretaria. Já chegou a ensaiar uma candidatura na eleição passada, que acabou não prosperando. Por enquanto, prefere não falar de seus planos políticos para o futuro. Mas qualquer que seja esse futuro, a secretária de Justiça garante que estará alinhada com o governador Ibaneis, que já anunciou sua intenção de disputar uma vaga ao Senado em 2026.
CAPA
8
Foto: Revista Plano B
A senhora já teve algum desconforto pelo fato do seu marido também ser secretário no Governo Ibaneis?
Não. Na verdade, nunca tive desconforto, foi natural. O Gustavo (Vale Rocha) ficou um ano no cargo, já tinha uma experiência muito grande. Não só em cargos públicos, mas também como advogado. As pessoas tinham curiosidade para saber quem era a esposa do Gustavo que iria assumir a secretaria. Só que isso, vou te falar que não foi muito tempo, logo a gente conseguiu impor o nosso ritmo de trabalho, mostramos o trabalho. Eu não tenho muita preocupação em relação a isso, até porque casamento, depois de tantos anos assim, vira uma parceria, quase viramos uma pessoa só. Ele me dá altas dicas, tem um suporte profissional muito grande em relação a minha carreira. Enfim, eu estou começando, comparado a ele, cada um vai colocando seu ritmo próprio e as pessoas começam a entender. Então, hoje, sou esposa do Gustavo com todo o prazer do mundo, mas as pessoas já me conhecem como Marcela Passamani, mas é esposa sempre, eu digo assim.
Nesse período, de 2020 para cá, qual foi o seu maior desafio? Qual a política pública que enche os olhos da senhora, que lhe dá orgulho, que lhe faz pensar ter valido a pena?
Bom, eu sou secretária reconduzida, então vou falar da primeira gestão. Na primeira gestão, meu maior desafio foi a pandemia, cheguei no dia que a OMS declarou a pandemia e eu precisava entrar na pasta e trabalhar, mostrar resultado dentro de um cenário que ninguém conhecia, tanto que o primeiro projeto que eu fiz, foi o projeto que teve certificação e premiação internacional, foi a hotelaria solidária, o hotel dos idosos. Fomos o único (lugar) no mundo que conseguiu fazer com
êxito. Esse projeto foi aqui no DF, nenhum outro estado da federação conseguiu, até na Europa tentaram fazer e não conseguiram. Enfim, um desafio enorme, mas a gente conseguiu enfrentá-lo e com base nesse conhecimento adquirido, saímos, na verdade do anonimato, porque com isso nós conseguimos ajudar a Secretaria de Saúde a vacinar e com isso também conseguimos levar para a rua o atendimento do programa Sejus Mais Perto Cidadão, porque a gente tinha toda a consciência, o ensinamento e o treinamento de distanciamento social e questões sanitárias. Esse foi o primeiro desafio.
O amarelo é um conceito de campanha? Uma identificação pessoal? 2026?
Na verdade, é uma identificação, para o que for, a partir do momento que você tem uma identificação, as pessoas conseguem identificar, quando é o carimbo Marcela Passamani. Eu uso amarelo todos os dias, um dia que você não me encontrar de amarelo, vai tentar saber o que que é isso? Eu vou falar, minhas roupas estão todas lavando, desculpa. Mas não, eu sempre deixo uma camiseta pronta para não acontecer isso.
A senhora falou sobre desafios na pandemia, na hotelaria. A Secretaria que ocupa é multifacetada, tem atribuições semelhantes a outras pastas, não há confusão de alçadas?
Temos algumas partes da Secretaria que são área fim, quando eu falo área fim é atendimento público, e área meio quando é implementação ou interlocução da política pública com outras secretarias. Infelizmente, nós temos dados e demandas onde não é possível, não existe a sobreposição de ações, porque há uma demanda. Eu tenho uma Subsecretaria de Apoio a Vítimas de Violência e há também a Secretaria da Mulher, hoje fazemos atendimento psicológico para mulheres vítimas de violência doméstica, para idosas, para crianças, porque há necessidade de termos uma política pública de apoio psicossocial para as vítimas de violência.
CAPA
9
Foto: Revista Plano B
Isso não gera desconforto em relação a alçada demandada?
De forma alguma, pelo contrário, se eu estivesse sozinha, não daria conta de atender todo o público do Distrito Federal, temos aí mais de 3 milhões de pessoas. Quando se quer trabalhar, sim, aí gera parceria, mas quando há algum problema, isso é da alçada da pasta da Passamani, nesse nosso governo as secretarias são muito alinhadas. A Secretaria de Desenvolvimento Social tem o atendimento do CRAS, do CREAS, do Bolsa Família. Isso aí, é uma atribuição deles. Mas há várias coisas que a gente consegue dialogar em relação à pauta da pessoa idosa, do acolhimento institucional. Então essas políticas públicas permeiam as secretarias e a gente tem um diálogo super alinhado. Trabalhamos de mãos dadas, porque quem sente é a população, ninguém entra no Na Hora e fala assim: essa cadeira está limpa, o servidor não está, ele passou por uma sala, tem uma cópia, ele almoçou direito. Ele só quer ser atendido, o que acontece nos bastidores é nossa obrigação, isso é gestão.
O Distrito Federal sofre muito com questão do feminicídio. Qual a política do DF para prevenção do feminicídio?
A gente sabe que é uma questão geral, difícil de se entender, mas se deve a uma questão tanto cultural como educacional. Mas o que o Distrito Federal está fazendo hoje para prevenir o feminicídio? Há uma interlocução muito grande entre as pastas e todas as campanhas que são voltadas para conscientizar e frear esses crimes. Tanto que nós estamos há 2 meses sem feminicídio, o que mostra o resultado de um governo articulado e alinhado para isso. Essa não é só uma atribuição da Secretaria da Mulher, falar de feminicídio, mas de todas as secretarias, de todo o Governo. Então, o que existe são campanhas transversais abordando sobre o tema e trazendo, jogando, botando luz numa temática onde não tem mais como minimizar. Precisamos enfrentar essa situação e fazer campanhas principalmente preventivas, porque o que a gente está falando é de uma consequência de uma violência, o feminicídio.
Como é o casamento comunitário?
É emocionante, é a primeira palavra que eu posso dizer, é muito colaborativo. Porque a maioria das pessoas e do que a gente leva para dentro do casamento é voluntário. Então, nós conseguimos hoje apresentar o casamento comunitário em um dos cartões-postais mais bonitos do Distrito Federal, que é o Pontão do Lago Sul. Temos todos os vestidos doados pelos principais ateliês de costura e noivas aqui do Distrito Federal. No último casamento, nós recebemos da Maria Vir-
ginia 35 vestidos novos para que as noivas pudessem casar, todos os buquês, flores, maquiagem, o serviço do cartório, juntamente com a Anoreg, totalmente gratuito. Então, a gente fornece uma oficialização legal de uma união entre duas pessoas levando para o dia inesquecível da sua vida. Toda a cerimônia, vestido de noiva, noivos. Então é muito choro, muita família tirando foto e com certeza muita gratidão no coração de todos os noivos e agora casados.
Como é que funciona? Por exemplo, eu quero me casar, eu me inscrevo, há alguns pré-requisitos?
O interessado se inscreve, e tem que ter mais de 18 anos, morar pelo menos há dois anos no Distrito Federal e já não ser casado, não ter nenhum embaraço legal que impeça de oficializar uma união. Após isso, começam os proclamas. Aí, em torno de 2 meses, vai para o cartório a documentação. Superada essa fase, começa a fase da cerimônia em si, provar vestido, ensaio, toda a abordagem, a gente leva profissionais psicólogos, assistentes sociais para falar com os noivos até chegar o grande dia.
A senhora foi candidata em 2022 e retirou a candidatura. Há projetos, sonhos políticos para 2026?
Isso fica a cargo do governador Ibaneis, faço parte do grupo político dele. Temos dialogado com todo o grupo e posicionado estrategicamente as pessoas que ele entende serem candidatos a determinados cargos, e isso é importante até para esse período de 2026.
Foto: Revista Plano B 10
CAPA
A senhora faz parte do grupo da Governadora Celina Leão?
Sim, nós somos todos do mesmo grupo, ela é vice-governadora e é uma tendência natural que a gente seja do mesmo grupo, no mesmo governo. Compor agora com a Celina Governadora e o governador Ibaneis, possivelmente para o Senado.
A senhora tem desejo de vir a ser candidata a algum cargo eletivo específico?
Na verdade, você precisa ver o contexto dentro do seu grupo político, ver a viabilidade e a possibilidade de acordo com o grupo. Se me perguntar hoje, a gente trabalha, pode ser que venha um projeto de ser candidata, mas essa palavra final será dada pelo governador Ibaneis.
Secretária, fala sobre o projeto Direito Delas.
O Direito Delas é um novo projeto, um programa aqui na Secretaria de Justiça. Quando eu entrei, você me perguntou nas primeiras perguntas o que foi o desafio dessas gestões. Quando eu entrei, eu tinha um projeto chamado Pro-Vítima, que atendia vítimas de violência. Eu sentia uma necessidade de proporcionar um projeto onde você rompesse ciclos de violência, chamando a própria pessoa de vítima e deixando muito público essa sua vulnerabilidade naquele momento, sua fragilidade. Eu me incomodava um pouco com esse nome. Além disso, eu vi algumas coisas dentro desse projeto que precisava atender mais a população, rever a gestão. Gastamos um ano só para estruturar uma mudança. Lançamos o Direito Delas, que é um atendimento psicossocial com mulheres vítimas de violência, abrimos espaço para a pessoa idosa poder ser atendida, primeiro programa psicossocial, com psicólogos e assistentes sociais, para atender idosos. Abrimos também o atendimento para crianças que sofrem violência sexual, que precisam fazer o acompanhamento psicológico e dificilmente conseguiam atendimento. Por exemplo, os órfãos do feminicídio, hoje esses órfãos recebem os benefícios do governo do Distrito Federal, mas obrigatoriamente precisa estar em acompanhamento com a Secretaria de Justiça dentro do programa Direito Delas, para poder receber o benefício. E de ano em ano precisam retornar e ter um novo relatório da Secretaria de Justiça para continuar recebendo o benefício.
Mais algum projeto que a senhora gostaria de falar?
A Secretaria de Justiça tem uma atuação ampla em relação à política pública aqui no Distrito Federal, mas nosso papel é esse, criar ações e projetos que possam se tornar palpável em nível distrital, contemplar toda a população. Com
CAPA
isso, a gente tem uma programação muito ampla em relação também aos projetos e programas que a gente cria aqui na SEJUS. É sempre uma satisfação, é uma honra estar aqui compondo o governo do governador Ibaneis Rocha, porque ele nos dá a oportunidade de crescer e de aprimorar o nosso trabalho. Assim, nos comprometendo cada vez mais com essa população que precisa tanto desse olhar atento. Então, eu só tenho a agradecer a oportunidade dessa entrevista, ao nosso governador pela confiança e a todas as pessoas, como você bem disse, que acompanham o nosso trabalho e que torcem para que a gente continue cada vez mais trabalhando.
Qual o Plano B de Marcela Passamani?
A gente tem sempre que pensar na maneira com que a gente vai estar relacionado com aquilo que a nos comprometemos a fazer. Eu digo que o que eu quero é ser indispensável e ter poder de escolha, tanto na secretaria como na vida. Que eu seja indispensável em qualquer processo, trabalho, oportunidade que me for concedida. Mas que eu tenha a oportunidade de escolher aquilo que seja melhor para mim e para minha família. Hoje, trabalhando à frente da secretaria, eu me sinto muito confortável, muito segura. Estar trabalhando naquilo que eu acredito e o que eu quero como plano B é continuar acreditando naquilo que eu estou fazendo.
11
Foto: Jhonatan VieiraAscom
Sejus/DF
Tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão no Brasil
Por Pedro Rafael Vilela - Agência Brasil - Brasília
Adaptação Rócio Barreto
Estudo feito por pesquisadores da Fundação do Câncer aponta que o tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. O trabalho foi apresentado nesta quinta-feira (16) pela fundação no 48o encontro do Group for Cancer Epidemiology and Registration in Latin Language Countries Annual Meeting (GRELL 2024, na sigla em inglês), na Suíça.
Em entrevista à Agência Brasil, o epidemiologista Alfredo Scaff, consultor médico da Fundação do Câncer, disse que o estudo visa a apresentar para a sociedade dados que possibilitem ações de prevenção da doença. “O câncer de pulmão tem uma relação direta com o hábito do tabagismo. A gente pode dizer que, tecnicamente, é o responsável hoje pela grande maioria dos cânceres que a gente tem no mundo, e no Brasil, em particular.”
SAÚDE 12
Cigarro eletrônico
Alfredo Scaff acredita que o cigarro eletrônico poderá contribuir para aumentar ainda mais o percentual de óbitos do câncer de pulmão provocados pelo tabagismo. “O cigarro eletrônico é uma forma de introduzir a juventude no hábito de fumar.” O epidemiologista lembrou que a nicotina é, dentre as drogas lícitas, a mais viciante. O consultor da Fundação do Câncer destacou que a ideia de usar cigarro eletrônico para parar de fumar é muito controvertida porque, na maioria dos casos, acaba levando ao vício de fumar. “E vai levar, sem dúvida, ao desenvolvimento de cânceres e de outras doenças que a gente nem tinha.”
O cigarro eletrônico causa uma doença pulmonar grave e aguda, denominada Evali, que pode levar a óbito, além de ter outro problema adicional: a bateria desse cigarro explode e tem causado queimaduras graves em muitos fumantes. “Ele é um produto que veio para piorar toda a situação que a gente tem em relação ao tabagismo.”
Gastos
O estudo indica que o câncer de pulmão representa gastos de cerca de R$ 9 bilhões por ano, que envolvem custos diretos com tratamento, perda de produtividade e cuidados com os pacientes. Já a indústria do tabaco cobre apenas 10% dos custos totais com todas as doenças relacionadas ao câncer de pulmão no Brasil, da ordem de R$ 125 bilhões anuais.
“O tabagismo não causa só o câncer de pulmão, mas leva à destruição dos dentes, lesões de orofaringe, enfisema [doença pulmonar obstrutiva crônica], hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral [AVC] ou derrame. Ele causa uma quantidade enorme de outras doenças que elevam esses valores significativos de gastos do setor público diretamente, tratando as pessoas, e indiretos, como perda de produtividade, de previdência, com aposentadorias precoces por conta disso, e assim por diante”, afirmou Alfredo Scaff.
Para este ano, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima o surgimento no Brasil de 14 mil casos em mulheres e 18 mil em homens. Dados mundiais da International Agency for Research on Cancer (IARC), analisados por pesquisadores da Fundação do Câncer, apontam que, se o padrão de comportamento do tabagismo se mantiver, haverá aumento de mais de 65% na incidência da doença e 74% na mortalidade por câncer de pulmão até 2040, em comparação com 2022.
O trabalho revela também que muitos pacientes, quando procuram tratamento, já apresentam estágio avançado da doença. Isso ocorre tanto na população masculina (63,1%), como na feminina (63,9%). Esse padrão se repete em todas as regiões brasileiras.
Sul
O estudo constatou que na Região Sul o hábito de fumar é muito intenso. O Sul brasileiro apresenta maior incidência para o câncer de pulmão, tanto em homens (24,14 casos novos a cada 100 mil) quanto em mulheres (15,54 casos novos a cada 100 mil), superando a média nacional de 12,73 casos entre homens e 9,26 entre mulheres. “Você tem, culturalmente, um relacionamento forte com o tabagismo no Sul do país, o que eleva o consumo do tabaco na região levando aí, consequentemente, a mais doenças causadas pelo tabagismo e mais câncer de pulmão”, observou Scaff.
Apenas as regiões Norte (10,72) e Nordeste (11,26) ficam abaixo da média brasileira no caso dos homens. Já em mulheres, as regiões Norte, Nordeste e Sudeste ficam abaixo da média brasileira com 8,27 casos em cada 100 mil pessoas; 8,46; e 8,92, respectivamente.
O Sul também é a região do país com maior índice de mortalidade entre homens nas três faixas etárias observadas pelo estudo: 0,36 óbito em cada 100 mil habitantes até 39 anos; 16,03, na faixa de 40 a 59 anos; e 132,26, considerando maiores de 60 anos. Entre as mulheres, a Região Sul desponta nas faixas de 40 a 59 anos (13,82 óbitos em cada 100 mil) e acima dos 60 anos (81,98 em cada 100 mil) e fica abaixo da média nacional (0,28) entre mulheres com menos de 39 anos: 0,26 a cada 100 mil, mesmo índice detectado no Centro-Oeste, revela o estudo.
Em ternos de escolaridade, o trabalho revelou que, independentemente da região, a maioria dos pacientes com câncer de pulmão tinha nível fundamental (77% para homens e 74% para mulheres). A faixa etária de 40 a 59 anos de idade concentra o maior percentual de pacientes com câncer de pulmão: 74% no caso dos homens e 65% entre as mulheres.
Embora as mulheres apresentem taxas mais baixas de incidência e de mortalidade do que os homens, a expectativa é que mulheres com 55 anos ou menos experimentem diminuição na mortalidade por câncer de pulmão somente a partir de 2026. Já para aquelas mulheres com idade igual ou superior a 75 anos, a taxa de mortalidade deve continuar aumentando até o período 2036-2040.
SAÚDE 13
CONTOS EM CONTA-GOTAS
Vamos para Zanzibar
Malas arrumadas e uma expectativa enorme para conhecer um lugar que trazia consigo um convite para zanzar de bar em bar.
Ultimamente andava meio desmotivada para investir em qualquer setor da minha vida, e ao encontrar preso no para-brisa do meu carro um folheto de uma agência de turismo descrevendo as maravilhas de Zanzibar, não pensei sequer duas vezes antes de decidir rumar para lá.
Oba, percebi nesse instante que meu interesse por investir no conhecimento de novos lugares voltou com força total.
Ainda não conhecia o Oceano Índico e o tom maravilhoso de sua água, tampouco havia visto uma areia tão branca e fina a completar a paisagem de uma praia perfeita.
Andando agora por suas ruelas, verdadeiros labirintos, entendi que Zanzibar ficaria gravada para sempre em minha memória. Se não ficasse totalmente, ficaria impressa ao menos no compartimento das memórias olfativas.
Gente, o que é aquele cheiro inebriante de especiarias impregnando a atmosfera?
Fiquei tão enlouquecida que cheguei a esperar por um milagre, como encontrar Freddie Mercury dando canja numa daquelas ruelas.
Imagina aquela voz num cenário desses e com todo o perfume característico do local.
Era tanta boca aberta, tanto queixo caído, que confesso ter esquecido por completo aquela história de ficar zanzando pelos bares.
Me senti em casa entre aquelas paisagens exóticas e aquelas incríveis noitadas árabes.
Podia dizer que estava num mundo maravilhoso, e estava tão grata que prometi a mim mesma me dedicar aos estudos com afinco quando retornasse ao Brasil.
Até esse momento tive o privilégio de viajar para localidades paradisíacas graças à bondade dos meus maridos.
Deixar de viver a vida de Cinderela não jurei deixar, porque gosto de ser bancada por um príncipe, mas a decisão de estudar bastante já era nesse momento irreversível.
Ia perder o que para todos era um charme meu : minha “inocência”.
No hotel conheci um árabe espetacular, um daqueles homens para se viver pelo menos 1001 noites de amor.
Nossos olhares se encontraram e não conseguiram mais se desviar um do outro.
Senti naquele momento que me demoraria por ali muito mais tempo do que planejei no início da viagem.
Ele atravessou o salão inteiro, enlaçou minha cintura e saiu comigo a dançar.
Nem adianta me pedirem para descrever aquele momento, pois não há palavras para descrever aquele caleidoscópio de sensações.
Ahmed se tornou meu sétimo marido, e naquele momento eu diria sem titubear que o melhor de todos.
Fui sempre muito bem tratada pela vida, mas com Ahmed eu me tornara rainha.
Não havia desejo meu que aquele homem não adivinhasse e realizasse.
Ele personificava todas as qualidades que eu sempre havia sonhado encontrar em um homem. Ele reunia todas elas.
Quando percebi que o meu sentimento por ele estava passando da paixão, estava começando a sentir amor por ele, um alerta vermelho se acendeu dentro de mim.
Fiquei muito atenta aos sinais, pois amar é perigoso.
E assim fui ficando cada vez mais melancólica, pois estava decidida a deixar Zanzibar e aquela perfeição de homem chamada Ahmed.
Sem despedidas, olhando sempre em frente, me dirigi ao aeroporto e embarquei de volta ao Brasil.
Agora chegou a hora de cumprir a promessa que me fiz, e aproveitarei para deixar enterrado nos livros tudo o que vivi em Zanzibar.
* Ângela Beatriz Sabbag é bacharel em Direito por graduação e escritora por paixão. Bailarina Clássica, Pianista e Decoradora de Interiores angelabeatrizsabbag e-mail angelabeatrizsabbag@gmail.com
Por Ângela Beatriz Sabbag
14
O desastre natural com maior impacto na economia brasileira: 3 efeitos das inundações do RS no país
Por Daniel Gallas - BBC News Brasil em Londres
Adaptação Rócio Barreto
Para se avaliar o impacto econômico das inundações no Rio Grande do Sul, é preciso olhar para o exterior para se achar algo semelhante — como no caso da destruição provocada pelo furacão Katrina nos Estados Unidos em 2005.
No Brasil, nunca houve tanto estrago econômico provocado por um evento climático. A avaliação é do economista Sergio Vale, da MB Associados, consultoria que está monitorando os impactos das enchentes de maio na economia.
Nos Estados Unidos, o Katrina fez o Estado da Louisiana contrair 1,5% — em um ano em que se esperava que crescesse 4%. No caso do Rio Grande do Sul, a MB Associados prevê que a economia vai se contrair 2% — em vez do crescimento de 3,5% que vinha registrando nos últimos 12 meses até abril.
E no caso brasileiro, o impacto em âmbito nacional será muito maior do que aconteceu no efeito do Katrina nos Estados Unidos — já que a economia gaúcha corresponde a 6,5% do PIB brasileiro (a Louisiana representa 1% da economia americana).
O Brasil já enfrentou outras grandes crises que afetaram o crescimento da economia nacional. Em 2001, por exemplo, uma seca contribuiu para uma crise de racionamento de energia e apagões. A economia nacional, que havia crescido 4,4% no ano anterior, desacelerou para 1,4%. Mas apesar da contribuição da seca, o cerne da crise de 2001 não foi o clima, mas sim gargalos nas linhas de transmissão — que impediam o Brasil de distribuir energia pelo país.
A tragédia no Rio Grande do Sul deste ano — que já provocou pelo menos 151 mortes — terá impacto em pelo menos três frentes da economia brasileira: no crescimento do PIB deste ano, no setor agrícola e na questão fiscal brasileira.
DESASTRE NATURAL 16
Economistas e estudos consultados para esta reportagem lembram que a dimensão exata do impacto econômico ainda não pode ser quantificada com precisão, porque as chuvas ainda estão em andamento e sequer foi feito um levantamento preciso do estrago ainda.
Essa indefinição também tem implicações políticas. Autoridades têm falado em diferentes medidas e valores para destinar ao Rio Grande do Sul — mas essa ajuda ainda está sendo discutida e os números estão em aberto.
Confira abaixo como as inundações devem afetar a economia brasileira em 2024.
Impacto no crescimento e na indústria
As enchentes afetaram 94,3% de toda atividade econômica do Rio Grande do Sul, segundo um levantamento divulgado na segunda-feira (14/5) pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).
“Os locais mais atingidos incluem os principais polos industriais do Rio Grande do Sul, impactando segmentos significativos para a economia do Estado”, disse o presidente em exercício da Fiergs, Arildo Bennech Oliveira.
Três das maiores regiões afetadas (Região Metropolitana de Porto Alegre, Vale dos Sinos e Serra) contribuem com R$ 220 bilhões para a atividade econômica brasileira.
Essas três regiões concentram 23,7 mil indústrias que empregam 433 mil pessoas.
A Região da Serra (de cidades como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha) é famosa pela produção nos segmentos metalmecânico (veículos, máquinas, produtos de metal) e móveis. A Região Metropolitana de Porto Alegre também produz metalmecânicos (veículos, autopeças, máquinas), além de derivados de petróleo e alimentos. A Região do Vale dos Sinos é famosa pela produção de calçados.
Mas diversos outros setores da economia também foram afetados, como tabaco e químicos.
Um estudo feito pelo Bradesco prevê que o impacto da crise no Rio Grande do Sul pode reduzir o crescimento do PIB nacional em 0,2 a 0,3 ponto percentual.
“A título de comparação, quando o Estado foi atingido pelo ciclone de 2008, o crescimento do PIB estadual daquele ano foi de 2,9%, ante crescimento do Brasil como um todo de 5,1%.”
Um outro levantamento — da Confederação Nacional dos Municípios — calcula em mais de R$ 8,9 bilhões os prejuízos financeiros das enchentes. Segundo a CMN, R$ 2,4
bilhões desse prejuízo são no setor público, R$ 1,9 bilhão no setor produtivo privado e R$ 4,6 bilhões especificamente nas habitações destruídas.
Impacto agrícola
O Rio Grande do Sul é uma das potências do agro brasileiro — o Estado representa 12,6% do PIB da agricultura nacional. Como um todo, a agropecuária brasileira será um dos setores da economia mais afetados pelas enchentes, segundo o Bradesco.
“Considerando tais impactos, o PIB agropecuário no Brasil pode recuar 3,5% (nossa estimativa anterior era de queda de 3,0%). As perdas no agronegócio podem ser ampliadas pela logística, que afeta tanto o escoamento da safra bem como impede a chegada de insumos. Esse parece ser um problema importante para os setores de laticínios e carnes”, afirma um relatório do banco.
O Rio Grande do Sul responde por 70% da produção do arroz do Brasil, 15% de carnes (12% da produção de frangos e 17% da produção de súinos) 15% da soja, 4% de milho.
As enchentes provocaram choques em alguns preços internacionais — a cotação mundial da soja na bolsa de Chicago chegou a subir 2% na semana passada. No Brasil, o preço do arroz já subiu e o governo anunciou a importação do produto para evitar um choque ainda maior. Há temores de que os preços de carne de frango e suína também possam subir em breve.
Por sorte, 70% da safra de soja e 80% da safra do arroz já haviam sido colhidos. Sobram duas dúvidas agora: quanto do restante da safra foi afetado pelas enchentes e se a quantidade já colhida e armazenada nos silos foi comprometida ou não. O Bradesco avalia que 7,5% da produção de arroz e 2,2% da produção de soja do Brasil podem estar comprometidos, caso se confirmem os piores cenários.
Vale, da MB Associados, lembra que o agro gaúcho já vinha sofrendo muito nos últimos três anos com os extremos climáticos.
“No Rio Grande do Sul, a questão agrícola nos últimos anos tem colocado o Estado no grau de muita insegurança. Foram três anos seguidos de La Niña, com secas muito profundas, e quebras de safra muito fortes. No ano passado, o Estado estava até comemorando a chegada do El Niño, que traria chuvas. Mas quando se pensou que teríamos um ano normal, de repente acontece isso”, diz o economista.
Ainda existe a possibilidade de um novo fenômeno La Niña este ano, com potencial para provocar novas secas no Rio Grande do Sul.
17
DESASTRE NATURAL
Impacto fiscal
Outro impacto importante da calamidade do Rio Grande do Sul na economia nacional é na questão fiscal brasileira.
Há anos o Brasil vem tentando equilibrar sua situação fiscal — ou seja — o governo faz um esforço para conseguir arrecadar mais dinheiro do que gasta, produzindo o que se chama de superávit fiscal.
Esse superávit fiscal é usado para reduzir o endividamento público do governo, que é um elemento fundamental da economia de qualquer país. Alto endividamento tem potencial para produzir inflação alta, baixo crescimento econômico e desemprego.
No ano passado, o governo Lula lançou o que chamou de “arcabouço fiscal” — o conjunto de regras para gastar os recursos públicos e fazer investimentos. Esse arcabouço foi fundamental para acalmar os mercados e sinalizar que o Brasil não gastaria dinheiro desenfreadamente.
Mas no mês passado, diante de problemas no orçamento, o governo desistiu de atingir superávits em 2025.
Economistas apontam que o Brasil já vivia um momento fiscal delicado antes das enchentes no Rio Grande do Sul.
No entanto, o quadro se agrava bastante agora que o governo federal terá que fornecer uma grande ajuda financeira ao Estado.
Todos defendem uma ajuda financeira grande ao Rio Grande do Sul, mas analisam que haverá um grande impacto nas contas nacionais.
Já foi anunciado, por exemplo, um plano a ser enviado ao Congresso para suspender a cobrança da dívida do Estado do Rio Grande do Sul com a União por três anos.
A regra permitiria a criação de um fundo “contábil” de R$ 11 bilhões por
ano para ajudar na reconstrução da infraestrutura do Estado que foi devastada pelas enchentes, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A medida também inclui o perdão da cobrança de juros sobre a dívida — com impacto de R$ 12 bilhões.
O governo federal já havia anunciado na semana passada um pacote de medidas que pode chegar a R$ 51 bilhões, que incluía pagamentos antecipados de benefícios como Bolsa Família, auxílio-gás, BPC, abono salarial e restituição do Imposto de Renda, além de algumas renúncias fiscais.
Na quarta-feira, o governo federal anunciou um auxílio-reconstrução no valor de R$ 5 mil por família cadastrada, que custará R$ 1,2 bilhão aos cofres.
Alguns dos gastos públicos ficarão de fora das regras fiscais do governo, por conta de o Rio Grande do Sul estar em estado de calamidade.
Todas essas medidas são fundamentais para reerguer o Rio Grande do Sul — mas elas têm potencial para agravar a situação fiscal brasileira que já vinha sofrendo antes da crise provocada pelo evento climático.
Sergio Vale, da MB Associados, alerta que ao longo do ano é possível que mais dinheiro seja encaminhado ao Rio Grande do Sul através de créditos extraordinários aprovados pelo Congresso — e que isso deve piorar o equilíbrio fiscal brasileiro.
Ele diz que é difícil quantificar exatamente qual será o tamanho do problema fiscal brasileiro, porque ainda não se sabe quanto dinheiro será necessário para reconstrução do Rio Grande do Sul.
“Não está muito claro exatamente o que o governo vai disponibilizar. O cenário fiscal [do Brasil] já está muito distorcido. Então qualquer coisa que acontece piora ainda mais”, diz Vale.
Para Caio Megale, economista-chefe da XP, parte da ajuda estará fora do arcabouço fiscal do governo — mas mesmo que seja necessário incluir essas despesas no orçamento, seria possível acomodar os gastos.
“Ninguém sabe direito qual que vai ser o tamanho total do apoio. A gente ouve falar em R$ 70 bi, R$ 80 bi, R$ 90 bi ou R$ 100 bi. Não dá para saber ainda, é preciso esperar as águas baixarem. Mas o arcabouço fiscal tem espaço para que essas medidas sejam tomadas”, disse Megale em um morning call (serviço diário de corretoras para seus clientes) desta semana.
DESASTRE NATURAL 18
ECONOMIA
Para quem doar no caso do Rio Grande do Sul?
Num país totalmente polarizado pela política/eleitoral, tudo vira motivo de discussões extremas nas redes sociais. E não foi diferente após as enchentes que passaram a assolar o estado do Rio Grande do Sul nas últimas semanas. Ocorre que em casos como esse, de desastres ambientais inesperados, os papéis da iniciativa privada e do setor público são mais complementares do que concorrentes entre si. No entanto para quem quer ajudar, qual a melhor forma de fazer? Depositar um valor na conta de uma prefeitura ou governo estadual, ou contribuir para os voluntários?
A “iniciativa privada” no papel de voluntariado é essencial na ajuda aos desabrigados no estado do Rio Grande do Sul. Aí entram empresários, igrejas, ONGs, grupos de amigos etc. Foram graças a essas iniciativas desvinculadas do setor público que milhares de pessoas foram salvas por embarcações, jet-skis, canoas e diversas outras formas. Isso é indiscutível. Sem essa “iniciativa privada” seriam muito mais mortos e feridos.
Foi graças a esse voluntariado que milhões de pessoas, idosos, deficientes físicos e crianças hoje possuem um lugar para passar as noites frias, conseguem receber roupas para vestir, comida para comer, remédios para usar, água para beber, entre as centenas de outras coisas que se fazem necessárias num momento como esse. Ou seja, o voluntariado está tendo um papel essencial, e deve receber todo tipo de contribuição.
Ora, mas e o setor público? Já pagamos 34% do PIB de tributos no Brasil. Não era a hora do Estado conseguir agir de forma rápida? De salvar todos que corriam risco? De garantir moradias provisórias, vestuário e alimentação? De certa forma, sim. Cabe ao setor público atuar em todas as questões. Ocorre que o ritmo natural da esfera pública é infinitamente menor do que a “iniciativa privada”. Na esfera pública os gestores, apesar de terem flexibilidade em situações como essa, por mais que sejam competentes e bem intencionados, não possuem os mesmos instrumentos ágeis da iniciativa privada.
Enquanto na iniciativa privada alguém pode simplesmente montar uma “vaquinha virtual” e usar todos os recursos para comprar mantimentos para os desabrigados, sem licitação, sem pesquisa de preço, sem justificar a escolha de comprar um produto A e não um B, no setor público a banda toca diferente. E realmente isso precisa ser assim para evitar
desvio de recursos públicos e para que grupos econômicos específicos não sejam beneficiados pelos políticos. Por isso tudo é tão lento, burocrático e amarrado.
Nesse sentido, a percepção da maioria da população que acompanha o desespero dos milhões de desalojados no Rio Grande do Sul pode ser a de descrença total com políticos ou quaisquer outros que estejam comandando as instituições públicas. E pode ficar uma sensação de apatia. De que o setor público não serve para nada. De que políticos são inúteis. De que são os voluntários, os empresários ou os influencers digitais que irão reconstruir o Rio Grande do Sul, e não os prefeitos, o governador e o presidente da República. E por aí vai.
Apesar da “iniciativa privada” acolher os desabrigados neste momento, é o setor público que será o protagonista no longo prazo da reconstrução do Rio Grande do Sul nas questões macro. Será necessário que toda infraestrutura das principais cidades seja reerguida. E isso inclui as rodovias, o saneamento básico, a organização espacial das moradias, o planejamento ambiental etc. Questões que precisam da expertise e coordenação do setor público.
Ou seja, não se trata de discutir quem é o melhor no caso do Rio Grande do Sul, setor público ou iniciativa privada, mas de entender que os papéis são muito mais complementares do que concorrentes. Um precisa da ajuda do outro. E isso precisa se enraizar na mente dos brasileiros para que continuem a fazer trabalhos voluntários em casos como esse e não esperem apenas tudo do setor público.
Neste momento faz mais sentido doar e montar iniciativas privadas para arrecadar recursos, tendo em vista que essas podem agilizar as compras do que é necessário para os desabrigados sem lentidão natural do setor público. Fora que o Estado já tem várias maneiras de se financiar e que independem de doações, como a arrecadação de mais tributos ou o endividamento público.
* Humberto Nunes Alencar, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento. Mestre em economia pelo IDP e doutorando em direito pela mesma instituição. Dá aulas online para pessoas que querem aprender mais sobre economia e finanças pessoais. Contatos: 061 - 994054114 e Instagram: @humbertoalencar.bsb
Humberto Alencar*
20
DIREITOS HUMANOS
Brasil teve 230 mortes de pessoa LGBTI+ em 2023
Por Felipe Pontes - Agência BrasilBrasília
Adaptação Rócio Barreto
Em 2023, morreram de forma violenta no país 230 pessoas LGBTI, mostra dossiê publicado nesta semana pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil. O número equivale a uma morte a cada 38 horas.
Dessas mortes, 184 foram assassinatos, 18 suicídios e 28 por outras causas, segundo o levantamento sobre a violência e a violação de direitos LGBTI+. A sigla diz respeito a pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero.
Entre os mortos, 142, a maioria, é composta por pessoas transsexuais, em especial as mulheres trans e travestis. Foram mortos ainda 59 gays. Do total de vítimas, 80 eram pretas ou pardas, 70 brancas e uma, indígena.
O dossiê mostra ainda que, das vítimas, 120 tinham entre 20 e 39 anos de idade. Das mortes, a maioria foi por arma de fogo (70) e em período noturno (69). Dos suicídios, 11 foram de pessoas trans. O maior número de vítimas foi registrado em São Paulo (27), seguido por Ceará e Rio de Janeiro (24 mortes cada).
Ao considerar o número de vítimas por milhão de habitantes, o ranking da violência LGBTIfóbica é liderado por Mato Grosso do Sul, com 3,26 mortes por milhão; Ceará (2,73 mortes por milhão), Alagoas (2,56 mortes por milhão), Rondônia (2,53 mortes por milhão) e
Amazonas (2,28 mortes por milhão). Foram contabilizadas mortes em todos os estados. O observatório desenvolveu uma metodologia própria ao longo dos anos, com a coleta de informações também em veículos de comunicação e redes sociais, levando em consideração a provável subnotificação dos casos às autoridades e a ausência de dados oficiais com esse recorte específico.
“Como dependemos do reconhecimento da identidade de gênero e da orientação sexual das vítimas por parte dos veículos de comunicação que reportam as mortes, é possível que muitos casos de violências praticadas contra pessoas LGBTI+ sejam omitidos”, explica o observatório, em nota.
A organização aponta ainda que muitas cidades não têm veículos de comunicação locais que reportem casos ocorridos, por exemplo, no interior do Brasil.
A pesquisa de 2023 identificou diversos tipos de violência contra pessoas LGBT, como esfaqueamento, apedrejamento, asfixia, esquartejamento, negativas de fornecimento de serviços e tentativas de homicídio. As violências, destaca o dossiê, ocorreram em diferentes ambientes, como o doméstico, as vias públicas, cárcere, local de trabalho, entre outros.
As circunstâncias das mortes são verificadas por meio do cruzamento de informações com registros oficiais dos crimes junto às secretarias de Segurança Pública dos estados, por meio de mecanismos como a Lei de Acesso à Informação.
Ainda que não haja qualquer lei contra a homossexualidade no Brasil e que essa comunidade tenha conseguido avanços na Justiça, como a criminalização da homofobia pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2019, o Brasil continua a ser o país com mais mortes violentas de LGBTI+ no mundo, destaca o observatório.
A versão completa do Dossiê de LGBTIfobia Letal pode ser encontrada no portal do Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil.
21
Policiais estão pouco preparados para lidar com LGBTfobia, diz estudo
Por Mariana Tokarnia - Agência Brasil - Rio de Janeiro
Adaptação Rócio Barreto
Pesquisa feita com um grupo LGBTQIA+ na cidade do Rio de Janeiro mostra que, embora a maioria tenha sofrido algum tipo de violência, muitas têm receio de ir a uma delegacia e denunciar o crime. O estudo mostra ainda que quando são registradas, muitas dessas ocorrências acabam sendo arquivadas quando encaminhadas ao Ministério Público. A pesquisa inédita foi feita pelo grupo Pela Vidda, que
nesta sexta-feira (17), no Dia Internacional Contra a LGBTfobia, apresenta os dados a policiais civis da capital fluminense. Os dados mostram que as violências mais recorrentes foram homofobia, relatada por 53,6% dos entrevistados; violência psicológica, por 51,7%; e assédio e/ou importunação sexual, por 45,2%. Ao serem perguntados sobre a probabilidade de recorrerem à polícia em caso de LGBTfobia, a maior parte, 29,3%, disse ser muito improvável que isso seja
DIREITOS HUMANOS 22
feito. Apenas 25% disseram ser muito provável que façam a denúncia. Ao serem questionados se o efetivo policial estaria preparado para atender a população LGBTQIA+, a maioria, 65%, marcou a opção “muito pouco preparado”, enquanto 22,3% marcaram a opção “pouco preparado” e 9,1% marcaram “razoavelmente preparado”. Apenas 3,5% disseram que o efetivo está “bem preparado” ou “muito bem preparado”. Quanto ao tratamento dispensado à população LGBTQIA+, 61,7% dos entrevistados acreditam que os policiais não levam as denúncias a sério.
A pesquisa foi feita com 515 lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais e outros. Os questionários foram aplicados tanto online, quanto em locais e eventos voltados para pessoas LGBTQIA+, como o Mutirão de Retificação de Nome/Gênero para pessoas trans e não bináries, promovido pelo Coletivo Gardênia Azul Diversidade, o Cinema Sapatão, e na própria Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), localizada na Lapa, na região central da cidade.
Entre aqueles que de fato buscaram uma delegacia, 186 pessoas entre as 515 entrevistadas, 28% disseram que a especificação de crime de LGBTfobia foi recusada pela delegacia e 14% disseram que conseguiram fazer o registro, mas apenas depois de insistir.
A discriminação de pessoas LGBTQIA+ é crime no Brasil. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a LGBTfobia ao crime de racismo. Faltam ainda levantamentos oficiais que mostrem a ocorrência desse tipo de crime e como ele é tratado no Brasil, de acordo com a diretora do grupo Pela Vidda, a advogada Maria Eduarda Aguiar.
“A LGBTfobia é uma realidade que acontece na vida das pessoas e temos que aplicar a legislação, porque senão estaremos sendo permissivos com práticas que hoje já são consideradas criminosas”, diz. “A gente pode fazer um apanhado disso e falar, com certeza, que a maioria das pessoas que acessam e procuram a delegacia e a Justiça, a maioria delas, muitas vezes, tem seus casos arquivados”, acrescenta.
O grupo fez também um levantamento junto ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro para acompanhar os casos de LGBTfobia que chegaram ao órgão. Após a denúncia ser apurada pela Polícia Civil, os casos são encaminhados ao Ministério Público para que seja formalizada uma denúncia a ser analisada pela Justiça. Os dados levantados nos últimos quatro anos mostram que menos da metade, 48,6%, dos casos viraram denúncias. Um em cada quatro, 25,7%, foi arquivado.
DIREITOS HUMANOS
“Nos últimos quatro anos, tivemos poucos casos denunciados de LGBTfobia”, diz Aguiar. “A pessoa tem sua denúncia frustrada, então ela perde a confiança de que ir à delegacia denunciar vai dar em alguma coisa. Lá na frente, ela tem o risco de do Ministério Público entender que não é crime”.
Polícia Civil
A pesquisa será formalmente apresentada nesta sexta-feira à Polícia Civil, como parte de uma ação para sensibilizar os policiais, melhorar o tratamento nas delegacias e estimular que a população denuncie mais esse tipo de crime.
Segundo a assessora especial da Secretaria de Polícia Civil, Cláudia Otília, a polícia está buscado formas de melhorar a atuação dos policiais. Ela participou, na segunda-feira (13), de evento na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para balanço das políticas públicas para enfrentar a LGBTfobia no estado. Entre as medidas que estão sendo tomadas pela Polícia Civil, Cláudia Otíli citou a criação de um grupo de trabalho voltado para a temática LGBTQIA+, com o objetivo de rever procedimentos e protocolos policiais, e a reestruturação de disciplina cursada pelos policiais durante a formação.
“A gente está institucionalizando dois grupos de trabalho, um para a população LGBTQIA+ e outro para a questão da convivência religiosa respeitosa, para rever protocolos e procedimentos institucionais. Hoje, a disciplina que é ministrada na Acadepol [Academia de Polícia no Rio de Janeiro] está sendo toda revista pelo grupo de trabalho. Então, abrimos a possibilidade de que seja apresentada para nós uma proposta de capacitação escrita tanto pela sociedade civil quanto pelo poder público para que possamos entregar à academia de polícia”, afirmou.
Otília disse ainda que se hoje ela é sensível a causas LGBTQIA+, é porque recebeu capacitação para isso. Por causa disso, a Polícia Civil contará ainda com jornadas formativas. Está em curso uma série de eventos chamada Diálogos pela Igualdade. A primeira reunião, ocorreu no dia 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Nesta sexta-feira (17), haverá o segundo encontro, voltado para o Dia Internacional contra a LGBTfobia, quando o estudo será apresentado.
“Propiciar esses espaços de diálogo, de interação com a sociedade civil, para a gente receber demandas e rever os nossos procedimentos, é muito importante. Claro que isso não basta, mas a gente está iniciando um processo”, acrescentou.
Olhar através
Esses dias, ouvi uma frase que me deixou pensativa por um tempo:
“Tudo acontece por um motivo. O grande desafio da vida é encontrar esse motivo. Não é fácil”. Na maioria das vezes, quando sofremos ou passamos por uma provação na vida, ou algo que queremos muito dá errado, a gente tende a enxergar tudo da maneira mais pessimista possível. Às vezes, demora para encontrarmos o propósito daquilo, eu mesma já passei anos e anos tentando encontrar o propósito de coisas ruins que aconteceram na minha vida. Alguns ainda estou buscando encontrar. Outros, talvez nunca encontre. Mas, ainda assim, as provações servirão de aprendizado, de crescimento e amadurecimento. Nós não vamos ser premiados por cada sofrimento que vivermos. Não há uma recompensa para cada dificuldade. Às vezes, a gente vai só sentir raiva mesmo de ter passado por aquilo. No entanto, uma coisa é certa: nada é em vão. Pelo menos mais forte nós sairemos de cada situação desconfortável que passamos na vida.
Um dos sentimentos mais satisfatórios que existem é conseguir superar algo que nos incomodou por um tempo. Uma dor física, um amor não correspondido, uma situação incômoda pela qual precisamos passar por um longo período de tempo. Vai chegar o dia em que a gente não vai sentir mais ódio nem rancor, nem tristeza. A gente vai apenas olhar através, aquilo vai se tornar invisível perante o tanto de coisa que a gente viveu apesar daquilo. Talvez, se a gente não tivesse vivido aquele desconforto, o que vivemos agora não seria tão interessante.
É preciso coragem para olhar para trás e enxergar o motivo de todas as nossas dores e dificuldades. Não é fácil enxergar tudo com olhar de Poliana, mas só de conseguirmos olhar pra trás com ternura e enxergarmos os nossos aprendizados, é mais fácil olhar pra frente e seguir de cabeça erguida.
Mais cedo ou mais tarde, a gente vai enxergar o propósito das coisas. E isso vai ser transformador. É como entender que tudo valeu a pena. Fazer as pazes com o passado é uma forma de encarar o presente e o futuro de forma mais corajosa.
Em uma contribuição à canção Amarelo, Azul e Branco de AnaVitória, Rita Lee declama: “Ao meu passado
Eu devo o meu saber e a minha ignorância
As minhas necessidades, as minhas relações
A minha cultura e o meu corpo
Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje?
Não sou escrava dele”
Ao fim deste artigo, deixo uma dica de série: “Um milhão de coisas” ou “A million little things”. A vida não é só o presente ou o passado, é a junção de um milhão de coisas. Amigos, família, pessoas, eles são essenciais em nossa trajetória.
E se você está passando por um momento difícil e por algum momento pensou não haver saída, saiba que não está sozinho. Ligue 188 - Centro de Valorização da Vida (CVV).
*Mila Ferreira, repórter do Correio Braziliense. Formada em Jornalismo pelo IESB e pós-graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela PUC-RS
Mila Ferreira*
Pinterest COMPORTAMENTO 24
Crédito:
Chance para os legados
Oprimeiro legado da Copa de 2014 antecedeu o próprio evento. Nas chamadas Jornadas de Junho, ocorridas um ano antes do certame, as reivindicações mais consistentes invariavelmente tinham o tal “padrão Fifa” como referência de qualidade para serviços como educação, saúde, segurança e por aí vai. Com efeito, as promessas mais sedutoras feitas para as cidades que receberam as seleções davam mesmo margem à geração de tamanhas expectativas. Mas como estão nossas doze sedes dez anos depois?
Vejamos o caso da mobilidade. Não se pode negar que houve obras, que novos serviços entraram em operação e outros experimentaram algum grau de aprimoramento. Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Fortaleza, por exemplo, expandiram suas redes de BRT e Brasília ganhou o seu. O Rio ainda brindou sua antiga zona portuária com um VLT que cruza o centro financeiro e chega ao Aeroporto Santos Dumont. Houve um investimento mais ou menos generalizado em modernização da infraestrutura rodoviária e sinalização. Mais ou menos porque, embora tenha chegado a todas as cidades-sede, tal investimento ficou restrito aos pedacinhos a serem frequentados pelos turistas da Copa (e da Olimpíada de 2016, no caso do Rio).
sistema está inacabado e de quando em quando aparece em noticiários da TV com ares de abandono.
“ Há um punhado de casos assim, como linhas de metrô e terminais de ônibus que ficaram apenas no papel ou foram abandonados após o evento”
No último dia 17 de maio acordamos com a notícia de que, reunida em Bangcoc, a cartolagem da Fifa decidiu que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2027. Com 119 votos a proposta de primeira edição do torneio na América do Sul derrotou a candidatura tripla da Alemanha, Bélgica e Países Baixos, que teve 78 apoios. Um dos argumentos decisivos para a escolha teria sido o legado deixado pela versão masculina de 2014, especialmente as arenas novas e reformadas. Segundo a imprensa esportiva brasileira, a conquista representa o reconhecimento dos significativos avanços que nossas atletas têm alcançado na modalidade, a despeito das barreiras de toda ordem que enfrentam, a começar pelos preconceitos. De fato, é notável a trajetória de ascensão do futebol feminino brasileiro, contrastando com o acúmulo de decepções com que o equivalente masculino tem nos brindado.
Mas o que dizer do que ficou pela metade, ou simplesmente não aconteceu? Há um punhado de casos assim, como linhas de metrô e terminais de ônibus que ficaram apenas no papel ou foram abandonados após o evento. Sem falar dos altíssimos custos de certas obras e de sistemas que simplesmente ficaram sem manutenção ao longo da década que se seguiu.
O monotrilho paulistano e o metrô carioca são exemplos dessas promessas cumpridas pela metade, mas parece ser ainda mais emblemático o caso de Cuiabá. A própria decisão sobre ser um VLT ou BRT ficou envolvida em bateções de cabeças, algumas delas rolando pelo caminho, e até hoje o
Fiquemos agora na torcida para que também no legado para nossas cidades, o futebol feminino brasileiro dê uma lição aos marmanjos, não apenas dentro de campo. E, para além do quesito mobilidade, que a tragédia do Rio Grande do Sul sirva para mostrar ao mundo endinheirado quais são as reais necessidades da população.
* Paulo César Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).
Paulo César Marques da Silva *
MOBILIDADE 26
MEC autoriza flexibilização do calendário escolar no RS
Por Agência Brasil - Brasília
Adaptação Rócio Barreto
O Ministério da Educação (MEC) autorizou a flexibilização do calendário escolar no Rio de Grande do Sul. As regras serão publicadas em uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) e vão orientar escolas públicas e privadas da educação básica e superior quando as aulas forem retomadas.
As atividades escolares estão suspensas desde a semana passada, quando o estado decretou situação de calamidade em função das inundações provocadas pelas fortes chuvas. Não há previsão de retorno.
Conforme as regras que serão adotadas pela pasta, as escolas poderão integralizar o descumprimento da carga horária mínima no próximo ano escolar, por meio da adoção da
modalidade de currículo ininterrupto de duas séries ou anos escolares ininterruptos. As atividades letivas também poderão ser realizadas em espaços alternativos.
O MEC também autorizou as faculdades a prorrogarem por até dois anos os prazos para entrega do trabalho de conclusão de curso.
O ministério não recomendou o estudo remoto. De acordo com a pasta, a medida considerou que muitos alunos foram afetados pela falta de luz e de conexão com a internet.
De acordo com o governo do Rio Grande do Sul, cerca 1 mil escolas foram danificadas pelas chuvas. O estado possui 2,3 mil escolas.
Ao menos 116 pessoas perderam a vida e outras 143 estão desaparecidas em consequência das fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o último dia 26. Quase 90% das cidades do estado foram atingidas.
EDUCAÇÃO 27
SAÚDE
‘Se Podes Ver, Repara’
Resolvi reler alguns clássicos da literatura. Não por falta de opção de produtos bons e novos no mercado.
Mas, acho que, por uma certa nostalgia.
A partir dos meus 15 anos, eu era uma máquina de ler livros.
Aliás, devorava-os.
E essa fase durou décadas. Comecei pelos clássicos brasileiros e mundiais.
E quanto mais lia, mais me apaixonava pelos livros.
A literatura me afastava do meu mundo e me permitia adentrar em outros universos, mais doloroso, por vezes, ou mais coloridos.
Um dos livros que mais me impressionou, e que estou relendo agora, foi: “Ensaio Sobre A Cegueira”, do português José Saramago.
A história é muito boa.
E o que está por trás dela também. Aliás, cada um tira dela o que tem.
É assim com a arte.
Você vai fazer a sua interpretação a partir da sua própria elaboração.
O significado de uma música pode ser para mim algo completamente diferente do que é para você.
E mais ainda: pode ser que quem escreveu essa mesma música estava pensando em algo que nem chega perto da nossa interpretação.
E tudo bem.
Esse é o poder da arte.
O poder de tocar cada alma e conseguir descrever o que nem sempre conseguimos com as palavras.
Ainda que sejam descrições diferentes.
E quase sempre são.
Voltando ao Saramago, ele abre a obra com uma introdução do Livro dos Conselhos: ‘ Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.’
Só essa frase, já daria uma tese de filosofia misturada com psicanálise. Não se trata só de ler, mas de pensar e raciocionar sobre o que se leu.
Não é só ver, é re-parar.
Não é só ouvir, é escutar.
Não é só estar vivo, é estar presente, no presente momento.
É se fazer presente, sobretudo em tempos virtuais.
Saramago tem um jeito único de escrever.
Ele inventou a própria pontuação. Não queira entender no primeiro momento.
Você não vão conseguir.
Segue um lógica do autor, que você só vai compreender lendo.
Partindo para a história, no livro, aos poucos, sem nenhuma explicação, as pessoas vão ficando literalmente cegas, sem conseguir enxergar um palmo na sua frente.
Não se sabe o motivo para essa cegueira coletiva.
E nesse momento de caos, é possível ver o melhor e o pior lado do ser-humano.
Renata Dourado*
28
Tão atual.
Como na tragédia do Rio Grande do Sul.
Tão bonito ver a solidariedade do Brasil nesse momento de dor.
Mas, como imaginar que diante desse quadro de perda total, homens possam abusar de mulheres e crianças em abrigos?
Essa é a maior de todas as tragédias.
A perda da compaixão e humanidade.
Saramago escreveu o livro em 1995.
Fala de forma simbólica ou metafórica como é enxergar em um mundo de cegos.
Sim, porque, no livro, a cegueira, por algum motivo, blinda algumas pessoas, que permanecem enxergando, diante do horror.
O que você é capaz de fazer, quando ninguém o vê?
Ou ainda, até que ponto você perdeu sua capacidade de ver?
Ou de Reparar?
É uma obra de arte que nos convida a rever valores sociais e individuais, independentemente se estamos sendo vistos ou notados.
Em uma era de conteúdos cada vez mais superficiais, simplistas e curtos, livros, clássicos ou contemporâneos, são sempre um convite para saírmos da nossa zona de conforto e lidarmos com outras realidades, que certamente ajudam a ampliar nossos horizontes e a lidar melhor com nossas próprias realidades. Um brinde a Saramago.
E você, consegue enxergar para além do que os olhos alcançam?
* Renata Dourado é formada em Jornalismo pelo Uniceub e trabalha na TV Bandeirantes há mais de 13 anos.
Atualmente, apresenta o Band Cidade Segunda Edição, jornal local, que vai ao ar, ao vivo, de Segunda à Sexta, às 18h50. Também apresenta o Band Entrevista, que vai ao ar, aos sábados, às 18h50.
Formada em Psicanálise e Mestranda Especial da UNB em psicologia clínica.
SAÚDE
Quinze quilombos estão totalmente isolados pelas chuvas no RS
Por Lucas Pordeus León - Agência Brasil - Brasília
Adaptação Rócio Barreto
Todas as cerca de 6,8 mil famílias quilombolas do Rio Grande do Sul foram afetadas pelas chuvas e enchentes que assolam o estado. Das cerca de 170 comunidades formadas por remanescentes de escravizados no estado, quinze estão completamente isoladas. A esses quilombos só se chega de barco ou de helicóptero, segundo levantamento da Coordenação Nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
O coordenador da organização na Região Sul, José Alex Borges Mendes, de 47 anos, contou nesta quinta-feira (16) à Agência Brasil que, em diversas comunidades, famílias perderam casas e estão alojadas em residências de parentes ou amigos. No caso das comunidades não totalmente isoladas, as estradas estão muito danificadas e o acesso é difícil.
“[Está] chovendo muito ainda. O rio sobe e baixa um pouquinho e sobe de novo. Todas as comunidades atingidas estão isoladas por conta das barreiras do trânsito. Todas elas estão enfrentando dificuldades por conta das pontes que caíram e das estradas. A água terminou com tudo”, lamentou a liderança quilombola.
José Alex é do quilombo de Armada, no município Canguçu (RS), onde vivem 60 famílias. Em todo o município, são 16 comunidades que somam 600 famílias. José se preparava junto com a comitiva gaúcha de quilombolas para
participar, nesta semana, da marcha Aquilombar 2024, realizada em Brasília.
Porém, com as chuvas, a comitiva gaúcha faltou ao evento na capital federal. “Acabou a gente não querendo ir por conta disso, para ficar aqui na mobilização e ajudando uns aos outros”, destacou.
A liderança disse ainda que o acesso à luz, à água e aos alimentos está difícil, mas que têm chegado doações a essas regiões. “A energia, ela vai e volta, ela oscila. Um dia vai e volta dois dias depois. Por conta das estradas, está tudo muito difícil de chegar [alimentos e água]. Não só aqui no município, mas também nos outros 79 municípios que têm comunidades quilombolas no estado. Todos também têm essa mesma dificuldade”, contou.
José Alex disse que as comunidades quilombolas buscam ajudar umas às outras e que as famílias que perderam suas casas ainda estão abaladas.
“É bastante difícil porque você trabalha a vida toda para construir seu lar e, de uma hora para outra, você perder, é muito difícil. A gente conversa pra imunizar a dor dessa família e tentar ajudar para ver se a pessoa fica firme porque senão a doença, saúde psicológica e mental, ela ataca mesmo”, completou.
Em nota divulgada no início de maio, o Ministério da Igualdade Racial (MIR) informou que monitora a situação das comunidades quilombolas, ciganas e de povos e comunidades tradicionais atingidos pelas chuvas. “A pasta tem articulado com outros ministérios e movimentos sociais o envio de cestas básicas, e outros itens de primeira necessidade para as comunidades atingidas”, afirmou.
GERAL 30
Washington Rodrigues, o Apolinho, morre no Rio aos 87 anos
Por Cristina Índio do Brasil e Aécio
Amado - Agência Brasil - Rio de Janeiro
Adaptação Rócio Barreto
Ojornalista, comentarista e apresentador esportivo Washington Rodrigues, o Apolinho, morreu na noite dessa quarta-feira (15), aos 87 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, para tratar de um câncer no fígado.
O velório de Washington Rodrigues ocorre nesta quinta-feira (16), a partir do meio-dia, na sede social do Clube de Regatas do Flamengo – clube de coração do radialista – na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. O enterro será realizado às 16h, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Carreira
Nascido no Rio de Janeiro, em 1o de setembro de 1936, Washington iniciou a sua carreira na Rádio Guanabara, atualmente Rádio Bandeirantes. A entrada nas transmissões esportivas foi meio por acaso. Convidado para dar informações sobre futebol de salão, agradou e não saiu mais.
Em 1969, trabalhava na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, quando recebeu um convite para se juntar à equipe esportiva comandada por Valdir Amaral, na Rádio Globo. Lá, ele inovou a reportagem de campo ao lado de Deni Menezes.
É na Globo que ganha o apelido de Apolinho, dado pelo narrador esportivo Celso Garcia, que se inspirou nos
astronautas da Apolo 11, missão da Nasa que levou o homem à Lua. De acordo Washington, ele e Deni usavam nas costas um equipamento de transmissão parecido com a mochila carregada pelos astronautas e, por causa dessa semelhança, passaram a ser chamados de apolinhos pelos narradores, entre eles, Valdir Amaral. Mas, para Deni, o apelido não atravessou os anos como para Washington. Depois de muitos anos, no esporte da emissora do bairro da Glória, Washington e Deni deixam a Rádio Globo e vão para Rádio Nacional, onde integram a equipe do narrador José Carlos Araújo. Na Nacional, Apolinho sai da reportagem e passa a ser comentarista. Também passa a fazer o programa No Mundo da Bola, das 17h às 19h, liderando a audiência no horário. Ao lado do comunicador Hilton Abi-Rihan, comanda um programa de variedades, chamado Nacional 80.
Em 1999, Washington Rodrigues vai para a Rádio Tupi, onde era comentarista esportivo e comunicador. Foi na Tupi o seu último trabalho: a participação na transmissão do jogo Bolívar 2 x 1 Flamengo, pela Copa Conmebol Libertadores, no dia 24 de abril último.
Geraldinos e arquibaldos
Washington também levou para as transmissões esportivas o seu bom humor e criatividade na criação de expressões populares e bordões emblemáticos. Era comum ouvi-lo se referir ao público da geral do Maracanã como “geraldinos” e da arquibancada, “arquibaldos”. Ele também popularizou a expressão: “Mais feliz do
ESPORTES 32
que pinto no lixo” e “briga de cachorro grande”, quando se referia a jogos em que duas potências futebolísticas se enfrentavam. Foi dele a expressão “chocolate”, para ressaltar uma vitória por goleada de um time contra outro. Washington Rodrigues se inspirou na música El Bodeguero, do cubano Richard Egües e cantada por Nat King Cole. Um verso da canção diz: “Toma chocolate. Paga lo que debes”.
Treinador
Em 1995, a convite do então presidente Kleber Leite, Washington deixou temporariamente o rádio e assumiu a tarefa de treinar o Flamengo no ano do centenário do clube. A diretoria do clube da Gávea entendia que ele seria capaz de apaziguar o ambiente no Flamengo que, naquele momento, não era bom.
Morte em dia de jogo
Apaixonado pelo Flamengo, quis o destino que, por coincidência, a morte de Apolinho tenha ocorrido no momento em que o time rubro-negro fazia uma apresentação de gala. Em partida no Maracanã, pela Libertadores, o Flamengo venceu o Bolívar por 4x0, com gols de Gerson, Ayrton Lucas, Everton Cebolinha e Pedro. A notícia do falecimento do radialista foi divulgada durante o segundo tempo da partida.
Homenagens
Em seu perfil no X, antigo Twitter, o Flamengo lamentou a morte de Apolinho e lembrou que mesmo sendo rubro-negro, era admirado por torcedores de outros clubes.
“Perdemos um dos maiores comunicadores do esporte nacional. Washin-
gton Rodrigues, o Apolinho, nos deixou nesta quarta-feira. Em décadas de carreira, moldou a forma como vivemos o futebol. Criou expressões inesquecíveis - é impossível lembrar do Gol do Pet em 2001 sem lembrar do aviso que “acaba de chegar São Judas Tadeu” na voz de Apolinho. Washington Rodrigues foi treinador do Mais Querido no ano de nosso centenário e, ainda assim, era admirado e adorado pelas torcidas dos nossos rivais por seu carisma, sua imparcialidade e sua paixão. Ele nos deixou em uma noite em que o Flamengo venceu com “chocolate” - expressão inventada por ele para definir goleadas. Muito obrigado por tanto, Apolinho! Descanse em paz!”, postou o clube da Gávea.
O locutor esportivo José Carlos Araújo, o Garotinho, também fez homenagem ao amigo com quem dividiu a cabine de transmissão do Maracanã por vários anos carreira. “Meu querido amigo Apolinho, não existe palavra para expressar o tamanho do vazio que fica com a sua despedida. Você foi um grande parceiro na minha vida profissional, mas a nossa amizade vai além da latinha. Obrigado, Apolo. Você é eterno no rádio e no coração de todos nós”, escreveu no X.
Emocionado, seu último companheiro de jornadas esportivas, o locutor da Rádio Tupi, Luiz Penido, interrompeu a transmissão do jogo, aos 25 minutos do segundo tempo, para anunciar a morte do amigo. “No dia 15 de maio de 2024 acaba de falecer Washington Rodrigues, o Apolinho, supremo ídolo. Parte para a morada eterna depois de uma vida tão brilhante, deixando um legado, entrando na história do rádio nesses mais de 60 anos de atividade. A dor é muito profunda, é muito, muito forte”, disse chorando.
Penido acrescentou que momentos antes de morrer, Apolinho chegou a assistir ao jogo até o terceiro gol do Flamengo. “Ele morreu com o Flamengo em vantagem, com o Flamengo ganhando o jogo”, completou.
ESPORTES 33
“A sociedade brasileira adotou o mau humor como sua nova característica”
Essa é a conclusão de Miguel Lucena Filho, que exerceu o cargo de delegado de Polícia do Distrito Federal por 24 anos
Entre 1999 e 2023, o delegado Miguel Lucena Filho assumiu a chefia de delegacias circunscricionais e especializadas e a Direção do Departamento de Assuntos Estratégicos e da Divisão de Comunicação da PCDF. Foi também subsecretário de Segurança Pública, presidente da Companhia de Planejamento (Codeplan) e coordenador de Análise de Informações da Casa Civil do Governo do DF. Especialista em Inteligência Estratégica, ele faz uma análise sobre o momento de polarização ideológica vivido no Brasil desde 2018, que culminou no 8 de janeiro do ano passado, quando as sedes dos Três Poderes da República foram invadidas e depredadas. Confira aqui os principais trechos da entrevista à revista Plano B.
A sociedade brasileira mudou?
A sociedade brasileira adotou o mau humor como sua nova característica, seja pelas restrições do politicamente correto, seja pela sisudez dos militantes de certo espectro político. Sigmund Freud falava do mal-estar decorrente das proibições impostas pela sociedade, por meio das leis e do costume. Muita gente cumpre as normas contrariada. Acrescente-se a isso o mal-estar criado de propósito, por meio de notícias falsas e profecias do caos.
Criaram a ilusão de que os problemas da sociedade se acabariam com a eleição de Bolsonaro e a derrota de Lula e da esquerda, enquanto Bolsonaro, vendo o tamanho do abacaxi que tinha
nas mãos, passou quatro anos conspirando para ganhar apoio das Forças Armadas e governar sem amarras, freios e contrapesos.
Muita gente embarcou nessa?
Pessoas mais radicalizadas e até fanatizadas compraram as versões de terra arrasada, de que uma possível vitória da esquerda transformaria o Brasil numa Ve-
ENTREVISTA 34
nezuela, e partiram para acampar na frente dos quarteis, clamando por intervenção militar, absorvendo as notícias falsas de decretação de Garantia da Lei e da Ordem, o famoso art. 142 da Constituição Federal, estado de sítio e outros remédios amargos, intervenção militar com Bolsonaro à frente e outras mentiras espalhadas propositadamente por grupos organizados.
Esse estado de espírito forjado culminou em quebra-quebra, depredação das Polícias Federal e Civil do Distrito Federal, no final de 2022, e invasão das sedes dos poderes da República, no dia 8 de janeiro de 2023, com depredação e achincalhe, com o objetivo de impedir primeiro a diplomação e depois a posse de Lula.
Muitos foram presos. E o que houve com quem incentivou as ações?
O mais curioso é que quem espalhou as mentiras e enganou o povo não estava no momento da invasão. É uma militância organizada que continua nas redes e grupos diversos, com as mesmas desinformações e teorias conspiratórias. Eles espalham de tudo, desde aberrações e perversões atribuídas aos adversários a coisas pequenas que vão tirando o crédito do que eles chamam de sistema.
Como isso é feito?
Convencem pessoas predispostas a não assistirem certos canais de televisão, nem lerem a maioria dos jornais, prendem-nas em seus grupos fantasiosos e instituem correntes de informações falsas, com certa aparência de verdade para não afrontar os menos desavisados.
Subiu o preço de tudo, o desemprego aumentou, a peste gay assolou, seres humanos estão casando com bichos, ninguém pode sair de casa com tanta violência, a granola está vindo com menos castanhas, o fim do mundo está próximo, como se nada disso existisse antes, não fossem registrados 60 mil homicídios por ano e 40 mil mortes no trânsito, antes e depois de Bolsonaro, que é assim que contam o tempo agora, como se fosse antes e depois de Cristo.
Alguns chegaram a dizer que as enchentes do Rio Grande do Sul foram provocadas pelo PT ou são castigo de Deus pelo fato de o governador gaúcho ser casado com outro homem.
Perigo comunista e polarização ficarão a nos rondar até quando?
Para quem esperava mais 20 anos de regime militar, para eliminar de vez o perigo comunista, os dias não estão sendo fáceis. E o pior é que não conseguem pensar em outra coisa, como se a vida se resumisse a esse confronto ideológico entre direita e esquerda.
Há vida além desse embate. A maioria dos brasileiros continua lutando para criar os filhos e botar comida na mesa. Quem fica repetindo que A ou B sempre tem razão não conhece bem a história, porque esse slogan era dito pelos adeptos de Mussolini na Itália.
O que mais me choca é a hipocrisia. Pessoas que já foram presas por corrupção, desvios diversos e até tráfico de drogas abrem a boca para chamar os adversários de ladrões. É o cinismo em ação.
A polarização ideológica alterou a indignação de parte da sociedade?
A indignação no Brasil sempre é seletiva. Existe uma música dos anos 90, cantada pelo comediante Tiririca, que perdoava os defeitos dos amigos. “Ele é isso e aquilo, mas é meu amigo”, cantava Tiririca, que depois virou político.
O ladrão está do outro lado, é assim que raciocina a maioria das pessoas. Aí você olha para o palanque daquela pessoa e só vê santo. É uma esquizofrenia. Isso acontece no meio policial. O ladrão comum não pode dar as caras. Já o colarinho branco...
ENTREVISTA 35
Mais de 98% dos territórios
quilombolas no Brasil estão ameaçados
Por Agência Brasil - Rio de Janeiro
Adaptação Rócio Barreto
Levantamento inédito do Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) aponta que 98,2% dos territórios quilombolas estão ameaçados por obras de infraestrutura, empreendimentos minerários e por sobreposições de imóveis particulares.
“Os resultados mostram que praticamente todos os quilombos no Brasil estão impactados por algum vetor de pressão, evidenciando a violação dos direitos territoriais das comunidades quilombolas”, avalia Antonio Oviedo, pesquisador do ISA.
“É urgente o cancelamento de cadastros de imóveis rurais e de requerimentos minerários que incidem sobre os quilombos, bem como consulta prévia da comunidade sobre qualquer obra de infraestrutura ou projeto que possa degradar o território ou comprometer os modos de vida dos moradores”, alerta o pesquisador.
Entre os impactos ambientais que afetam os territórios quilombolas estão o desmatamento, a degradação florestal e os incêndios, além da perda de biodiversidade e degradação de recursos hídricos pela exploração mineral e atividades de agricultura e pecuária no entorno dos territórios, facilitadas por obras de infraestrutura como a abertura de estradas e rodovias.
GERAL 36
“Estudos mostram que obras de infraestrutura e outros projetos agropecuários e de mineração são planejados, implementados e medidos conforme expectativas setoriais e segundo metas macroeconômicas, mas desconectados das reais demandas sociais locais”, aponta o estudo.
“O resultado tende a violações de direitos, perda de oportunidades socioeconômicas e estrangulamento de modos de vida e usos dos recursos naturais. Tais obras e projetos acabam abrindo caminho para mais degradação ambiental e impactos sociais de todo tipo. As rodovias, por exemplo, causam grandes impactos sociais e ambientais, especialmente os projetos que não contemplam medidas de controle do desmatamento”, diz o pesquisador.
Biko Rodrigues, coordenador executivo da Conaq, lembra que os quilombolas estão na Caatinga, no Cerrado, no Pantanal, no bioma amazônico, na Mata Atlântica, estão em todos os biomas. “As comunidades quilombolas são a fronteira que impede a destruição dessa biodiversidade. Mas, mesmo assim, os megaempreendimentos têm assolado o nosso território e deixado o nosso povo na miséria e na pobreza. Nossos territórios são territórios étnicos e territórios ricos, mas mesmo a gente sendo essa fronteira, nosso povo vem sofrendo ameaça e perseguição e assassinato das nossas lideranças por defender o território livre para as futuras gerações”, denuncia.
“E essa morosidade no processo [de titulação dos territórios] é o que coloca as comunidades quilombolas nessa situação de vulnerabilidade. Porque se as comunidades tivessem com o seu território regularizado, muitos desses empreendimentos não estariam sobrepostos ao nosso território”, acrescenta o líder quilombola.
Os territórios quilombolas da Re-
gião Centro-Oeste registram mais da metade (57%) de sua área total afetada por obras de infraestrutura, seguida das regiões Norte (55%), Nordeste, Sul (34%) e Sudeste (16%). O quilombo Kalunga do Mimoso, em Tocantins, tem 100% de sua área em sobreposição com três empreendimentos planejados, uma rodovia, uma ferrovia e uma hidrelétrica.
Um total de 1.385 empreendimentos minerários pressionam 781 mil hectares em territórios quilombolas. O Centro-Oeste também figura como a região em que os quilombos estão mais pressionados por requerimentos minerários, com 35% da área dos territórios afetados, seguido do Sul (25%), Sudeste (21%), Norte (16%) e Nordeste (14%). O território Kalunga, no Goiás, é o mais pressionado, com 180 requerimentos em sobreposição a 66% de sua área.
Mais de 15 mil cadastros de imóveis rurais foram identificados em sobreposição aos territórios quilombolas. As regiões Sul e Centro-Oeste são as mais impactadas, onde 73% e 71% da área dos territórios quilombolas, respectivamente, encontra-se pressionada por imóveis rurais privados.
A Região Sudeste também apresenta uma alta taxa de sobreposição, de 64%, seguida da Região Norte, com 19%. No Pará está o território com a mais alta taxa, o Erepecuru, com 95% de sua área em sobreposição a imóveis rurais.
Os territórios quilombolas ocupam 3,8 milhões de hectares, o que corresponde a 0,5% de todo território nacional, e exercem um papel positivo na conservação ambiental, com mais de 3,4 milhões de hectares de vegetação nativa.
GERAL 37
Governo federal anuncia Pix de
R$ 5,1 mil para famílias do RS
Por Pedro Rafael Vilela - Agência Brasil - Brasília
Adaptação Rócio Barreto
As famílias que perderam móveis, eletrodomésticos e outros objetos com as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul nas últimas semanas terão direito a um benefício de R$ 5.100 concedidos pelo governo federal. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (15) pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, durante visita da comitiva liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a São Leopoldo do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre.
“A ajuda que hoje a gente verbaliza é uma ajuda para pessoas que perderam sua geladeira, seu fogão, sua televisão, seus móveis, seu colchão. Será atestado pela Defesa Civil de cada município, aquela poligonal, aquelas ruas onde as pessoas perderam seus objetos. Essas pessoas terão, de forma rápida, facilitada, via Caixa Econômica Federal, a transferência, nas suas contas, via Pix, de R$ 5.100”, afirmou Costa.
Segundo o ministro, a estimativa inicial é que o benefício
alcance cerca de 200 mil famílias, a um custo de R$ 1,2 bilhão. O procedimento será autodeclaratório e as autoridades vão cruzar dados para confirmar se a área onde a pessoa beneficiada vive está entre as atingidas pelas inundações.
O anúncio do governo faz parte de um pacote de medidas voltadas ao apoio direto à população atingida pela maior catástrofe ambiental da história do Rio Grande do Sul. Ao todo, 449 municípios foram afetados. Até a última atualização, na manhã desta quarta, foram registradas 149 mortes, 108 desaparecidos e mais de 800 pessoas feridas.
Novas habitações
Além do Auxílio Reconstrução, como foi batizado o benefício de R$ 5,1 mil para recuperação de bens, o governo federal anunciou outras medidas para as pessoas que tiverem suas casas destruídas pelas chuvas e enchentes nas áreas urbanas. O número de residências perdidas no estado ainda não foi levantado.
GERAL 38
“O presidente Lula está garantindo que as casas que foram perdidas na enchente, aquelas que se encaixam dentro do perfil de renda do Minha Casa Minha Vida [faixas] 1 e 2, 100% dessas famílias terão suas casas garantidas de volta pelo governo federal”, afirmou Rui Costa.
Pelas regras do programa habitacional, a faixa 1 compreende famílias com renda bruta familiar mensal de até R$ 2.640. Já a faixa 2 abrange famílias com renda entre R$ 2.640,01 e R$ 4.400.
Entre as medidas apresentadas, está a compra assistida de imóveis usados. Segundo o ministro Rui Costa, a ideia é que as pessoas que se encaixam na faixa de renda do programa possam buscar, desde já, opções de imóveis à venda nas suas cidades, que serão adquiridos a partir de avaliação da Caixa Econômica Federal.
“Aquelas pessoas que estão em abrigo, seja abrigo oficial ou estão abrigadas em casas de familiares, elas já podem procurar na sua cidade um imóvel à venda que o governo federal, através da Caixa, vai comprar a casa e entregar à pessoa”, disse o ministro. A estratégia de reposição de casas em áreas rurais será anunciada posteriormente pelo governo.
Outra opção é a compra de imóveis diretamente das construtoras. O governo também vai abrir editais novos do Minha Casa Minha Vida a partir de demanda de déficit habitacional apresentada pelas próprias prefeituras, incluindo possibilidade de remodelação de imóveis já existentes para transformação em áreas residenciais. FGTS e leilão de imóveis
O governo federal também vai permitir que trabalhadores com carteira assinada possam sacar do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), nas cidades atingidas, até o valor de R$ 6.220, independentemente da veda-
ção legal que limita um intervalo de 12 meses entre um saque e outro, isso para permitir que pessoas que sacaram o FGTS nas enchentes do ano passado, no Vale do Taquari, possam acessar o recurso nas contas novamente.
Também foi anunciada a retirada de leilão de imóveis de pessoas inadimplentes, em financiamentos por meio dos bancos públicos federais. “Nós determinamos que todas as casas que estavam para leilão, aqui nas cidades atingidas, da Caixa e do Banco do Brasil, vamos retirar do leilão, o governo federal fará a quitação e entregará às famílias que precisam das casas”, anunciou o ministro-chefe da Casa Civil. Beneficiários do seguro-desemprego no Rio Grande do Sul terão direito a duas parcelas adicionais. Além disso, o governo concedeu pausa nos pagamentos de financiamentos de imóveis por 180 dias, além de carência de 180 dias para novos contratos.
Bolsa Família
O governo também informou que 21 mil novas famílias foram incluídas no programa Bolsa Família no Rio Grande do Sul. Além disso, as parcelas do pagamento do auxílio serão antecipadas no estado para o próximo dia 17.
Restituição do IR
Em outro anúncio, Rui Costa confirmou que o primeiro lote de restituições do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) será pago no próximo dia 31 de maio para todos os contribuintes do Rio Grande do Sul que fizeram a declaração. O lote tem valor de R$ 1,1 bilhão.
Terceira visita
O presidente Lula chegou ao Rio Grande do Sul pela manhã, em sua terceira visita ao estado desde o início da tragédia. Ele visitou um abrigo público em São Leopoldo e, na sequência, se reuniu com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
GERAL 39
Quem é Paulo Pimenta, que vai chefiar ações do governo Lula no RS
Por Daniel Gallas - BBC News Brasil em Londres
Adaptação
Rócio Barreto
Ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Paulo Pimenta foi escalado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para atuar como autoridade federal na reconstrução do Rio Grande do Sul.
Pimenta, 59 anos, comandará um novo ministério de caráter extraordinário, ou seja, enquanto durar a calamidade pública no Estado.
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul confirmou, até meio-dia de quarta-feira (15), um total de 149 mortes em decorrência das chuvas e enchentes. Ao todo, 446 municípios foram afetados em todo o Estado. Gaúcho, Paulo Pimenta é deputado federal licenciado do PT eleito pelo Estado. Jornalista de formação, ele começou sua atuação política no movimento estudantil.
Chegou à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em 1998 e, quatro anos depois, à Câmara dos Deputados. Foi reeleito deputado federal em 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022, quando teve o maior número de votos para um candidato do PT no Estado desde 2010.
Antes de ser nomeado para a Secom por Lula em 2023, Pimenta foi presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso entre 2012 e 2013, durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
Ele atua como secretário de Comunicação desde o início do terceiro mandato de Lula, em janeiro de 2023.
Sua gestão já foi alvo de críticas por parte de ministros e do próprio presidente, que cobrou em uma reunião ministerial uma melhor divulgação das ações do governo federal.
Reação à nomeação
Pimenta é um dos integrantes do primeiro escalão do governo mais envolvidos na resposta às enchentes no Rio Grande do Sul. Além disso, ele é cotado para ser candidato a senador ou governador pelo Estado em 2026.
Diante das expectativas em relação ao futuro do ministro, houve quem criticasse a escolha de Lula para o ministério de reconstrução.
Nas redes sociais, alguns internautas acusaram os aliados de Lula por “campanha antecipada”. Outros, porém, elogiaram a indicação e o trabalho de Pimenta até o momento na crise.
Ele é o único gaúcho no primeiro escalão do governo federal.
Na segunda-feira (13), o próprio presidente brincou sobre o fato em uma videoconferência com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).
“Pimenta tem sido um companheiro que tem tido um trabalho extraordinário aí no Estado do Rio Grande do Sul. Eu preciso tomar cuidado, porque senão eu vou perder ele para o Rio Grande do Sul, porque aqui tem ficado muito pouco, mas tem ficado muito Rio Grande do Sul”, disse Lula.
Eduardo Leite foi reeleito em 2022 e não poderá concorrer ao governo estadual em 2026.
Segundo reportagem do jornal O Globo, há uma análise feita dentro do próprio governo de que a escolha de Pimenta poderia levar a uma politização dos trabalhos de reconstrução do Estado.
POLÍTICA 40
Segundo o jornal, auxiliares de Lula foram questionados sobre o assunto e disseram que Eduardo Leite também tem politizado a crise.
Em conversas reservadas, Pimenta teria dito que mantém uma boa relação pessoal com o governador gaúcho e descartou que possam ocorrer problemas, de acordo com a reportagem.
De acordo com a Folha de S. Paulo, Leite disse que não foi comunicado ou consultado sobre a decisão de Lula de nomear Pimenta para a função.
“Estou sabendo pela imprensa”, disse Leite ao jornal.
Atuação durante a crise
Desde que o Rio Grande do Sul foi atingido por fortes chuvas e enchentes há cerca de duas semanas, Paulo Pimenta tem atuado como um dos principais representantes do governo federal nos esforços de resposta.
O ministro chamou atenção em especial por suas ações contra a difusão de notícias falsas.
Em um dos vídeos postados em suas redes sociais, intitulado “Por que a extrema direita se utiliza tanto de fake news durante as tragédias e as pandemias?”, Pimenta afirma que a extrema direita usa da desinformação para minar a resposta política do governo.
Sob seu comando, a Secom também encaminhou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública ofício pedindo a abertura de investigação de influenciadores digitais e contas em redes sociais por disseminar informações falsas sobre o trabalho de resgate e a recuperação dos estragos no Rio Grande do Sul.
“Os conteúdos afirmam que o Governo Federal não estaria ajudando a população, de que a FAB [Força Aérea Brasileira] não teria agilidade e que o Exército e a PRF [Polícia Rodoviária Federal] estariam impedindo caminhões de auxílio. Destaco com preocupação o impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições como o Exército, FAB, PRF e ministérios, que são cruciais na resposta a emergências”, disse o ministro em nota.
Ainda durante a resposta às enchentes, Pimenta se envolveu em uma controvérsia depois que um diálogo seu com o prefeito de Farroupilha foi gravado e publicado nas redes sociais.
O prefeito da cidade, Fabiano Feltrin (PP), havia reclamado nas redes que os recursos do governo federal não estavam chegando aos municípios gaúchos para auxiliar no socorro aos desabrigados. Então, o ministro ligou para ele para esclarecer o assunto.
Na conversa, Feltrin questiona se Pimenta “está ligando para me xingar ou para ajudar?”.
O prefeito compartilhou o vídeo da ligação nas redes sociais, com a legenda “Prefeito sendo intimidado pelo ministro Pimenta”.
Paulo Pimenta, por sua vez, acusou Feltrin de fazer o vídeo para “tentar lacrar na internet”.
O ministro divulgou a íntegra da conversa que teve com o prefeito de Farroupilha e disse que Feltrin “estava tentando criar um factoide”.
Críticas à imprensa e fake news
Paulo Pimenta é bastante crítico e já atacou a imprensa brasileira em algumas ocasiões.
Há cerca de um ano, o ministro disse não confiar na mídia comercial, e anunciou que por isso o presidente Lula faria lives semanais para dar mais “transparência” e disseminar “informações confiáveis” sobre as ações do governo petista.
Entretanto, quando deputado, Pimenta divulgou em 2018 uma teoria da conspiração sobre a facada da qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi vítima durante a campanha daquele ano. O petista referiu-se ao episódio como “fakeada”.
Ele também disse, em outra publicação nas redes sociais, que Bolsonaro estaria usando o episódio para fins políticos.
“O desespero de Bolsonaro é tanto que está tentando aplicar uma espécie de Plano Cohen Tabajara. Ele ressuscita a ‘Fakeada’ para tentar um último suspiro diante da derrota iminente. A verdade é que o miliciano é o pior presidente da história do Brasil e o povo não aguenta mais”, escreveu no Twitter em 2022.
Quando foi empossado na Secom, porém, Pimenta garantiu ser contra a disseminação de notícias falsas e prometeu separar visões ideológicas da comunicação institucional.
“A desinformação mata e não queremos nunca mais repetir esse problema. Faremos um trabalho permanente de combate às fake news e à desinformação”, disse em seu discurso.
CPI do Mensalão
Pimenta também foi vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão em 2005. O atual ministro renunciou ao cargo depois de um escândalo envolvendo um encontro reservado que teve com o empresário Marcos Valério - o publicitário foi condenado pelos crimes de peculato, corrupção e lavagem de dinheiro nos mensalões do PT e do PSDB.
Na ocasião, Pimenta se reuniu de forma reservada com Valério na garagem do Senado para obter nova lista de be-
POLÍTICA 41
neficiados por recursos repassados pelo empresário. O documento trazia nomes de políticos de Minas Gerais, sobretudo do PSDB, e provocou uma guerra entre petistas e tucanos durante a CPI.
Após sofrer pressão para entregar o cargo, o gaúcho se desculpou pelo ocorrido e afirmou que em nenhum momento agiu de má-fé.
“Acompanhei Marcos Valério até o carro para buscar mais informações em uma atitude imprevidente e equivocada”, disse na época.
Empresa de publicidade
Mais recentemente, Pimenta foi acusado por conflito de interesses depois que uma reportagem da Folha de S.Paulo revelou que o cientista político Juliano Corbellini, amigo próximo do ministro, virou sócio da Nacional Comunicaçãouma das agências de publicidade que atendem a Presidência.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro afirmou que de fato conhece Corbellini, mas argumentou que cerca de 30 agências de publicidade prestam serviço para o governo e entre os seus funcionários haveria pessoas com quem manteria alguma relação, por conta de sua área de atuação.
“Essas licitações, todas ocorreram no governo anterior. E eu não tenho qualquer possibilidade de interferência ou sei quem são os sócios, quem participa da agência A ou da agência B”, disse.
Em outubro de 2023, sua gestão na Secom também teve que lidar com uma situação envolvendo o então presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Hélio Doyle.
O jornalista foi demitido após compartilhar em redes sociais publicações críticas a apoiadores de Israel.
“O ministro Paulo Pimenta [da Secretaria de Comunicação Social] me manifestou hoje seu descontentamento por eu ter repostado, no X, postagem de terceiro acerca do conflito no Oriente Médio. Disse-me que a referida repostagem e sua repercussão na imprensa criaram constrangimentos ao governo, que mantém posição de neutralidade no conflito, em busca da paz e da proteção aos cidadãos brasileiros”, escreveu o próprio Doyle, em sua rede social.
“Diante disso, pedi desculpas e comuniquei que deixo a presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), agradecendo ao ministro Pimenta e ao presidente Lula pela confiança em mim depositada por todos esses meses”, completou. O historiador Jean Lima assumiu a EBC interinamente após a demissão e foi efetivado no cargo em dezembro passado.
42
POLÍTICA
Mais de 95% da população diz ter consciência das mudanças climáticas
Por Gilberto Costa - Agência Brasil - Brasília
Adaptação Rócio Barreto
A grande maioria da população brasileira (95,4%) afirma ter consciência de que as mudanças climáticas estão acontecendo, enquanto apenas 3,5% dizem não ter consciência. Um por cento não sabe opinar ou não quis responder a respeito na pesquisa de opinião sobre percepção pública da ciência e tecnologia (C&T), divulgada nesta quarta-feira (15) em Brasília pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), uma associação civil sem fins lucrativos supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A consciência quase unânime dos brasileiros nas mudanças climáticas, no entanto, não se traduz em absoluta concordância sobre as razões do fenômeno. Para 78,2% dos entrevistados, as transformações no clima do planeta Terra ocorrem em razão da ação humana – como apontam diferentes estudos científicos. Mas, para 19,6%, essas mudanças são da natureza, sem intervenção do homem.
A percepção da gravidade das mudanças climáticas é ainda mais relativa. Seis de cada dez entrevistados (60,5%) concordam que o evento representa um “grave perigo para as pessoas no Brasil”. Para 26,9%, os riscos são de porte “médio”. Quase 12% dos entrevistados (11,8%) creem que as mudanças são “um perigo pequeno” (8,2%) ou “não são um perigo” (3,6%).
Amostra
A pesquisa foi aplicada na última semana de novembro e primeira semana de dezembro do ano passado, bem antes das tempestades e enchentes que afligem o Rio Grande do Sul. No total, foram entrevistadas 1.931 pessoas com 16 anos ou mais. A composição da amostra tem representação de estratos por gênero, idade, escolaridade, renda e local de moradia em todas as regiões do país.
Essa é sexta edição da pesquisa de opinião sobre percepção pública de C&T entre os brasileiros. As edições an-
POLÍTICA 44
teriores ocorreram em 1987, 2006, 2010, 2015 e 2019. Entre os levantamentos, os pesquisadores afirmam que não foram observadas mudanças significativas de interesse pelas temáticas abordadas.
Interesse pela ciência
Na edição de 2023, o interesse por ciência e tecnologia ficou no mesmo patamar das pesquisas anteriores (60,3% dos entrevistados). O percentual alcançado pela temática indica interesse menor do que em temas associados como medicina e saúde (77,9%), e meio ambiente (76,2%); e em temas diferentes, como religião (70,5%) e economia (67,7%).
Ciência e tecnologia ficam à frente do interesse por esporte (54,3%); arte e cultura (53,8%); e política (32,6%). Mesmo que minoritário, o interesse por política foi o único sobre o qual se notou crescimento significativo nas duas últimas edições da pesquisa: mais de nove pontos percentuais. Em 2019, apenas 23,2% dos entrevistados se declararam interessados por esse assunto.
Apesar do interesse declarado sobre C&T, apenas 17,9% disseram conhecer alguma instituição de pesquisa científica e 9,6% lembraram o nome de algum(a) cientista brasileiro importante. Também é minoritária a proporção de brasileiros que visitam espaços ou participam de atividades relacionadas ao conhecimento científico e/ou educação. “Declarar interesse significa a importância que os brasileiros atribuem para o tema (não significa necessariamente ler, participar ou se informar, mesmo que a correlação exista)”, explica o relatório da pesquisa.
Tendo como referência os 12 meses que antecederam o levantamento, menos de 20% dos entrevistados (19,4%) disseram ter ido a uma biblioteca; 18,9% participaram de feira ou olimpíada da ciência; 13,4% visitaram museu de arte; 11,5% estiveram em museu de C&T; e 6,6% acompanharam a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – que na edição anterior à pesquisa foi realizada em Brasília, com o tema: Bicentenário da Independência: 200 Anos de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. Até mesmo visita a zoológico foi minoritária entre os entrevistados (32,7%).
Cidadania científica
Conforme o relatório da pesquisa, o levantamento indica desigualdade no acesso ao conhecimento. “O interesse em C&T tende a se modificar em função da região de mora-
dia, da idade, da renda e do tipo de participação política dos entrevistados. Isto é, seu valor é maior nas regiões Norte e Sul; cai fortemente com a maior idade; ao crescer a renda, o interesse tende a crescer; e seu valor aumenta de acordo com aqueles que dizem participar de greves, manifestações, abaixo-assinados ou outras formas de manifestação política.”
Para Yurij Castelfranchi, professor associado do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os dados da pesquisa indicam que há no Brasil “pessoas excluídas da ciência” ou “exilados da cidadania científica.”Apesar da apartação social, o acadêmico assinala que a maior parte dos entrevistados “acha a ciência relevante.” A larga maioria dos brasileiros entrevistados sugere aumentar ou manter investimentos em ciência “mesmo em anos de crise”. Em 2023, “apenas 2,6% dos entrevistados acreditam que o investimento em pesquisa científica deva ser diminuído”, contabiliza o relatório da pesquisa.
Desinformação
A exclusão social também não afetou a percepção dos perigos da desinformação e da propagação de falsas notícias. Cinco de cada dez entrevistados disseram “se deparar frequentemente com notícias que parecem falsas”, descreve o relatório. A maior parte dos entrevistados (61,8%) assegura nunca compartilhar informações caso não tenha certeza da veracidade. No entanto, 36,5% admitem já ter compartilhado informações falsas.
Ainda de acordo com o relatório, 45,6% dos entrevistados “suspeitam da veracidade das informações provenientes de pessoas ou instituições das quais discordam”. Para 42,2%, as informações são verdadeiras “quando são provenientes de pessoas ou instituições que admiram.”
Pelo menos 40% das pessoas entrevistadas afirmaram que “só acreditam em uma informação se ela for corroborada por outras fontes.” Na avaliação de Yurij Castelfranchi, a atitude declarada de checagem é positiva: “Isso é um princípio básico do letramento midiático.”
Além de colher as opiniões dos brasileiros, a pesquisa do CGEE ainda fez análise de conteúdo das reportagens sobre ciência em dois dos mais importantes jornais brasileiros (Folha de S.Paulo e O Globo) e também avaliou postagens sobre a temática nas redes sociais (Instagram e YouTube).
Os resultados dessa análise, descritos no relatório A Ciência em Diferentes Arenas, estão disponíveis na página da pesquisa na internet.
45
POLÍTICA
TIJOLADAS DO CAIXA
Delírios Amorosos
Gosto Muito De Comparecer A Eventos Que Acontecem No Guará, Principalmente Em Datas Comemorativas Onde Sempre Nos Defrontamos Com Alguns Dos Grandes Mistérios Dessa Cidade Tão Adorada Por Nós, A População.
Na Carona E Na Cara Dura, Sempre Nos Defrontamos Com Políticos Amorosos, Candidatos Tentando Deslanchar, Ex-Desafetos Querendo Aproveitar A Oportunidade Para Ficar Bem Na Fita, Mais Uma Fauna De Puxas Sacos Que Sempre Aproveitam Para Sair Da Toca, Dando As Caras Nesses Eventos.
O Caixa Preta É Quem Mais Se Diverte Em Ver Os Esforços Dessa Turma Sempre Atrás De Uma Boquinha Que Lhes Garanta Um Lugar Na Sombra Da Goiabeira, Aparecem Lideranças De Araque E Pioneiros, Dentre Esses, Alguns Mortos, O Que Convenhamos Não Dá Pra Aguentar Pois Todos Sabemos Que A Nossa Querida Cidade, O Guará, Tem 55 Anos.
Esse Ano Não Foi Diferente. Quem Passasse Na Frente Do Local Onde Acontecia O Evento, E Colocasse O Nome Na Lista De Presença, Recebia Uma Menção Honrosa, Além
De Poder Lanchar Salgadinhos E Sucos Doados Por Algum Comerciante.
Segundo O Velho Caixa Esse Ano Só Faltou O Dentinho, Conhecido Personagem Aqui Do Guará, Mas O Que Diverte Mesmo São As Mentiras Deslavadas Durante Os Discursos, Todos Estão Empenhados Na Captura De Uma Coisa Que É Muito Cara Ao Político, Mesmo Que Para Isso Tenha Que Apresentar Para A População Os Delírios Ditos, Repetidos Como Se Fosse Um Mantra Por Eles E Os Comissionados De Plantão.
Segundo Esses Políticos, Nada No Guará Existiria Sem Eles, Até O Sol Que Insiste Em Brilhar, As Frondosas Árvores Espalhadas Por Toda Cidade, Obras De Governos Anteriores, Além De Chuva De Dinheiro Para Ser Aplicado No Guará, O Que Talvez Faça A Cidade Entrar Na Onu, Ou Virar Um Estado Independente. Dubai Teria Que Se Contentar Com O Segundo Lugar No Mundo.
Estamos Mais Do Que Cansados De Saber, Que O Df Hoje É A Morada Da Incompetência, Mas Como O Povão Gosta É De Festa, Se Tiver Lanche, Melhor Ainda. O Caixa
46
Fica Observando E Rindo Da Galera Se Desdobrando Pra Conseguir Um Salgadinho Pra Encher O Bucho.
Para Se Ter Uma Ideia Como A Coisa É Insana, Tem Gente Que Não Sabe Nem Onde É O Guará, Mas Aparece Nessas Horas, Tanta Liderança Que Parece Que Estamos Em Outra Cidade, Esse Ano Até Moção In Memorian Distribuíram.
Tenha Dó!!!
O Guará que queremos e merecemos
Sentados Lá No Porcão, Caixa Preta E Eu Estávamos Sentados Em Um Canto, Bebendo A Nossa Cerva Pra Lá De Gelada Começamos A Relembrar O Passado, Os Nossos Cabelos Brancos E As Rugas No Rosto Revelavam As Poucas E Boas Que Passamos Defendendo Com Unhas, Dentes E Coração A Nossa Querida Cidade, O Nosso Guará.
O Tempo Passando, Enquanto Nós Envelhecíamos, Por Incrível Que Pareça, O Contrário Acontecia Com O Guará, Que De Uma Simples Vila Maldosamente Por Muitos Apelidado De “Cidade Dormitório” Foi Se Transformando Em Uma Moderna Cidade, Com Tantos Problemas E Descasos, Mas Cada Vez Mais Amada Por Nós.
Afinal De Contas, Essa É A Nossa Cidade. Aqui Estão Velhos Amigos, Cada Um Com Sua História De Vida De Alguma Forma Ligada A Ela, Que Não Para De Crescer.
Muitos Amores Na Juventude Criaram Esse Elo, Que Quanto Mais O Tempo Passa Mais Aumenta A Nossa Ligação, Apesar Da Falta De Educação De Muitos Que Ainda Teimam Em Jogar Lixo Na Rua. Aí Quando As Chuvas Caem Entopem Bueiros, Deixando As
TIJOLADAS
Ruas Alagadas Em Alguns Pontos, Onde Muitos Ainda Passeiam Com Seus Totós Mas Não Levam A Pazinha, O Saquinho Para Recolherem “Os Mimos” Que Costumam Deixar No Meio Das Calçadas Onde Alguns Desavisados Pisam.
Parece Até Que Estou Descrevendo O Paraíso Fincado No Meio Planalto Central, Onde Aprendizes De Feiticeiros, Verdadeiros Predadores Apenas Se Aproveitam Da Nossa Passividade Trazendo Por Trás Dos Falsos Sorrisos Apenas Dissabores.
Temos Que Lutar, Essa É Nossa Obrigação, Não Vamos Deixar A Nossa Cidade Se Transformar Nesse Paraíso De Aproveitadores.
Um Lugar Não Apenas Para Dormir, Mas Um Lugar Para Amar, Viver, Fincar Raízes, Criar Os Nossos Herdeiros.
Isso É O Que Queremos E Merecemos !!
A Guerra dos Sexos
Estava Eu Distraidamente Pensando Nessa Guerra De Sexos Que Assola O Mundo Atualmente, Onde No Início Ninguém Deu Muita Bola.
Tudo Foi Planejado Discretamente, Nada Que Chamasse Muito A Atenção De Nós Homens Bobos, Parecia Até Uma Brincadeira, Mas A Coisa Era Séria, Porque Não Dizer Maquiavélica.
Pediram Igualdade Entre Os Sexos Pra Começar, Pouco A Pouco, Foram Conquistando Cargos Estratégicos.
A Nossa Ingenuidade Foi Não Perceber O Golpe, Pois Quando Elas Conversavam Ao Telefone Que Pensávamos Que O Assunto Fosse Telenovela, Era A Rebelião Se Expandindo.
Amada, Era A Senha Que Identificavam As Líderes, Celulite Eram As Células Que Formavam A Organização, Se Referiam A Nós Como O Regime.
Enquanto Isso Continuamos Bebendo Com Os Amigos, Jogando Dominó, Assistindo Aos Jogos Dos Nossos Times Preferidos Na Tv, Despreocupados.
47
DO CAIXA
E O Que É Pior, Continuávamos A Ajudá-Las Quando Pediam, Como Carregar Malas No Aeroporto, Consertar Torneiras, Abrir Vidros De Azeitonas, Ceder A Vez Em Naufrágios E Outras Coisas De Homem.
O Duro Golpe Veio Quando A Casa Branca Apareceu Pintada De Cor-De-Rosa, O Sinal Que As Mulheres Do Mundo Inteiro Aguardavam, Enfim A Rebelião Tinha Sido Vitoriosa, Então Elas Assumiram O Poder Em Todo O Planeta.
Começaram Então As Mudanças, Instituíram O Robô Troca-Pneu Como Equipamento Obrigatório De Todos Os Carros, A Lei Do Já-Prá-Casa, Proibindo Os Homens De Tomar Cerveja Depois Do Trabalho, Comemorar Com Os Amigos Etc.
Mas O Pior Foi A Criação Da Famigerada Semana Da Tpm, Uma Vez Por Mês, A Temporada Provável De Mísseis, É Quando Elas Ficam Irritadíssimas E O Mundo Corre Perigo De Confronto Nuclear.
Olho O Calendário, Ano 2035, Ainda Estamos Na Luta Pela Lei Zezinho Da Penha.
Até Quando Esperar
O Mês De Maio Finalmente Chegou, Junto Com Ele Chegaremos À Data De Aniversário Do Nosso Amado Guará Com Ar De Abandono, Parecendo Esquecido Pelos Que Deveriam Cuidar E Zelar Pela Cidade.
Acredito Que Além Do Descaso Evidente, Pois Essa Turma Que Chegou Não Liga Muito Pras Coisas Sérias Da Cidade, O Negócio É Mentir Fingindo Que Fazem Algo Pela Cidade E Os Puxas Sacos Batendo Palmas Pra Esse Verdadeiro Show De Nada Reinante.
Não Temos Muito O Que Comemorar, Pois A Cidade Passa Por Esse Verdadeiro Bacanal Administrativo Que Ofende A Qualquer Contribuinte Sério, Que Jamais Viram Tamanho Desrespeito Com A Nossa Cidade Em Todos Esses Anos. Parece Que Tudo Aqui É Diferente, Basta Observar As Diversas Invasões E Construções Irregulares Que Hoje Fazem Parte Da Cidade. Como Em Matéria De Fiscalização Ficamos Muito A Desejar, Pois Quem Teria A Obrigação De Fazê-Lo Inexplicavelmente Se Omite Ou Tem Preguiça De Zelar Pelo Bem Público.
A Grande Quantidade E Aumento Alarmante De Irregularidades Por Toda A Cidade, Salta A Olhos Vistos, Nos Deixa Indignados, Observando Esse Circo Dos Horrores Montado Por Aqui.
Talvez Aqui Seja O Único Lugar Do Mundo Onde As Invasões De Terra Pública São Legais, Temos Como Resultado Dessa Farra Vergonhosa O Total Desvirtuamento Do Plano Urbanístico, Transformando O Guará Nessa Zona Que A Cada Dia Parece Aumentar.
Não Dá Pra Comemorar Nada No Aniversário Do Guará Enquanto Estivermos Sob O Jugo Da Desordem Administrativa Que Temos Hoje, Coisa Que Já Se Arrasta A Alguns Longos Anos Sem Que Providência Nenhuma Seja Tomada Para Pôr Ordem Nessa Bagaça.
Diante De Tanta Coisa Errada, Só Nos Resta Lamentar E Gritar : Socorro!!
TIJOLADAS DO CAIXA 48
www.kimcartunista.com.br
kimcartunista@gmail.com
ARTES PLÁSTICAS
@motaflaviafm
Aquarela sobre papel
100% algodão
Flávia Mota Herenio
O bem-estar que você merece e procura está aqui:
Dr. Laser, há 17 anos garantindo o melhor cuidado para a sua pele!
Aponte a câmera para o QR Code e garanta um presente especial:
*A cortesia é referente a 2 sessões de depilação a laser para axilas femininas ou faixa de barba masculina e 1 sessão de revitalização facial.
Confira os tratamentos que você encontra no centro de estética avançada mais completo do país:
Depilação a laser
Clareamento de manchas
Combate à flacidez corporal e facial
Controle da oleosidade
Detox facial
Drenagem linfática
Tratamento de gordura localizada e celulite
Limpeza de pele
Peeling corporal e facial
Rejuvenescimento facial
Suavização de cicatrizes e estrias
Vem pra Dr. Laser!
Se interessou e quer uma Dr. Laser para chamar de sua? Seja um franqueado
@drlaseraguasclaras (61) 9 9810-1385 (61) 3257-8606 Rua 7 Norte, Lore 3/5, Número 7, Loja 02, Norte (Águas Claras) @drlasertaguatinga (61) 9 9819-0785 (61) 3967-6050 CNB 3, Lote 5/7, Loja 2, Taguatinga Norte
Válida para novos clientes, 1 CPF por pessoa, não cumulativa com outras ofertas.