RETRATA
ARTE POTIGUAR
Moda Pinturas
Tradições familiares
HAND MADE & artesanato
AGOSTO 2023
A Retrata surge da vontade de fazer a literatura das nuances do Rio Grande do Norte. Com palavras escritas por uma estudante de Jornalismo, as reportagens são a junção da liberdade autônoma, criatividade juvenil e qualidade acadêmica.
RETRATAPOTIGUAR
Dicas e conteúdos exclusivos, vem dar uma olhada!
REXPEDIENTE
DIREÇÃO, EDITORIAL E DESIGN GRÁFICO
Luana Yasmim
REDAÇÃO E PRODUÇÃO
Beatriz Lemos
Eduarda Medeiros
Luana Yasmim
FOTOGRAFIA*
Eduarda Medeiros
Luana Yasmim
*Fotos de acervo pessoal e/ou domínio público
Luiza Gameiro
EDITORIAL
O artesanato potiguar é um legado cultural que se mantém vivo como expressão artística e carrega grande parte da cultura e tradição do estado. Ele transcende o tempo e inspira gerações.
Em uma sociedade impulsionada pela produção em massa, as técnicas handmade ganham destaque, se diferenciando tanto por preservar a identidade do povo quanto pela qualidade do produto final.
Para desvendar a riqueza e beleza do artesanato potiguar, vamos mergulhar nas histórias e nos trabalhos de três artesãos: Maiara Garuffi, proprietária da joalheria de produção familiar Mais Prata; Izaac Oliver, estilista miguel-oestino que incorpora o bordado e a história potiguar em suas coleções; Tico Garrincha, artista plástico que saiu da vida de pedreiro para viver da sua verdadeira paixão.
Luana Yasmim Fundadora da Retrata Potiguar
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UMÁRIOS
CAPA DA EDIÇÃO
Maiara Garuffi (@maisprata) fotografada por Luiza Gameiro (@luizagameirofoto)
TICO GARRINCHA
05 Das obras de pedreiro as obras de arte
IZAAC OLIVER
07 O resgate das raízes culturais
MAIARA GARUFFI
10 O legado da ourivesaria
PERSPECTIVAS FUTURAS
12 O futuro do artesanato potiguar
GALERIA
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TICO GARRINCHA
Tico Garrincha é um artista plástico potiguar com uma curiosa jornada no mundo da arte. Vindo de uma origem humilde como pedreiro, ele tomou a corajosa decisão de investir em sua verdadeira paixão: a pintura e a escultura.
Assim, deixando de lado as obras de concreto e se dedicando as obras de arte, Tico transformou-se em um pintor profissional, e atualmente vive da sua arte.
Apesar de se sentir valorizado nas redes sociais, com impressionantes 65 mil seguidores em seu Instagram, Tico não escondeu as dificuldades que enfrentou ao tentar encontrar espaços de exposição de qualidade.
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CONTA MAIS SOBRE SEU TRABALHO
“Comecei a pintar de forma profissional da pandemia pra cá, sou pedreiro, então na pandemia fiquei sem trabalho, e como sempre pintei, resolvi investir mais no meu trabalho [de artista] e sobrevivo da minha arte. Pinto várias coisas, de vários estilos que estão em domínio público. E pinto ‘coisa minha’ também.”
QUAIS DIFICULDADES VOCÊ ENFRENTA COMO ARTESÃO NO RN?
“A maior dificuldade é a de expor. Existem muitos lugares, mas falta qualidade. Não tem proteção para a chuva e não temos muito conforto. Ficamos à deriva, vulneráveis. Eles [governo] levam a gente para onde querem e acabamos indo, porque é a única oportunidade que temos.”
VOCÊ SE SENTE VALORIZADO?
“Relativamente, sim. Me sinto mais valorizado nas redes sociais, tenho mais de 60 mil seguidores no Instagram, vários famosos me seguem. […] mas a gente [artesãos] tem que ir para essas feirinhas, porque aí quando acontece um evento grande eles [governo] não te excluem. Ainda estamos muito presos às prefeituras, às secretarias que trabalham com arte e cultura.”
IZAAC
Natural de São Miguel do Oeste, o menino que se divertia fazendo roupas de boneca, atualmente faz a diferença no cenário da moda handmade potiguar. As peças do estilista Izaac Oliver encantam o olhar com seu bordado minucioso e designs muito bem pensados.
Desde criança é muito autêntico, entrou no mundo da moda completamente sozinho e com 14 anos já começou a fazer seus primeiros trabalhos com bordado. Graças a uma oportunidade de emprego como estilista de uma loja de tecidos, Izaac mudou-se para Pau dos Ferros. Neste emprego, ele aprimorou seus conhecimentos sobre moda. Contudo, ainda com muita ambição no coração, Izaac sabia que sua última parada não seria ali.
Em 2015, veio a Natal fazer faculdade de moda, “Decidi largar tudo”, diz Izaac. Com sua mala cheia de tecidos e determinação, instalou-se de vez na cidade do sol, e não demorou muito para que seu talento fosse notado.
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Izaac sempre se interessou pela história por trás das roupas; “Uma impressora que faz roupas 3D não me chamava a atenção, mas um tecido brocado que demora 7 anos para ficar pronto, sim”. Com inspirações barrocas, o estilista recém-formado começou a fazer vestidos de festa, pelos quais hoje é muito bem reconhecido.
No entanto, já em 2022, em parceria com a plataforma Nordestesse, Izaac mergulhou ainda mais em suas raízes culturais potiguares, dedicando-se à criação de roupas que expressam sua identidade única. Assim, ele deu vida à sua marca de peças resort-wear e até os dias de hoje apresenta coleções que carregam consigo o verão brasileiro, a fauna potiguar e a arte das técnicas handmade. “Com vestidos de festa quero falar do mundo, com minha marca quero falar daqui, da nossa fauna, nossa flora”, diz o estilista. Inclusive, em sua última coleção, Litorânea, Izaac trouxe a história do Rio Grande do Norte em forma de bordado. Imagens de iguarias potiguares, como os crustáceos, são desenhados e costurados às peças. Fazendo a combinação das tradicionais linhas de crochê com os brilhosos vidrilhos, Izaac consegue equilibrar seu próprio DNA com a essência do artesanato potiguar.
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PRECISO LEVAR A CULTURA DE ONDE VIVO PARA O MUNDO
IZAAC OLIVER
Suas peças fazem sucesso em outros estados do Brasil, contudo, mesmo com o diferencial da exclusividade e riqueza cultural de suas peças, ele relata que o handmade potiguar ainda não é valorizado pelos próprios potiguares: “Santo de casa não faz milagre” é a expressão que Izaac utiliza para explicar a desvalorização dos trabalhos artesanais no estado.
A trajetória e o trabalho de Izaac Oliver são exemplos inspiradores de perseverança e conexão com suas próprias raízes. Apesar dos desafios e da falta de valorização local, o estilista continua a levar a cultura potiguar para o mundo, deixando um legado inspirador para os amantes do artesanato e da moda.
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MAIARAGARUFFI
Em 2007, um sonho ganhou vida nas mãos de Maiara Garuffi. Fundadora da joalheria potiguar Mais Prata, ela não apenas deu origem a um negócio, mas também honrou uma tradição familiar valiosa. A ourivesaria é mais do que uma profissão para Maiara; é uma conexão com seu pai, o artesão, Vilmar Morales.
Desde muito jovem, Maiara trabalhava com artesanato ao lado de seu pai. Cada martelada, cada polimento carrega consigo anos de experiência e amor passados de geração em geração. Esses momentos compartilhados em meio a máquinas e ferramentas moldaram o coração de Maiara e despertaram seu interesse pelas jóias.
Há 16 anos, Maiara saiu de sua terra natal, o Espírito Santo, veio ao Rio Grande do Norte com seus pais e aprofundouse nas técnicas de ourivesaria. Assim, com a mente repleta de ideias e conhecimentos ancestrais, ela fundou a Mais Prata, uma loja onde a tradição se entrelaça com a arte.
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No início, as joias de Maiara encontraram seu lar na Praia de Ponta Negra. Cada venda representava o legado de sua família sendo conhecido do litoral a fora.
Porém, à medida que seu talento conquistava cada vez mais potiguares, Maiara sentiu a necessidade de encontrar um lugar onde suas criações pudessem florescer plenamente. Foi então que Pipa, com suas ondas acolhedoras, chamou por ela. Ali, desde 2015, a Mais Prata encontra o verdadeiro lar para suas joias handmade.
Contudo, o destino reservou uma triste despedida para Maiara e sua família. Em 2016, o senhor Vilmar, pai e professor de Maiara, faleceu. Nesse momento, seu filho Taiguara veio a Natal e se juntou a Maiara e sua mãe Silvana, garantindo que o legado do ourives permanecesse vivo.
@maisprata
Hoje, a Mais Prata é mais do que um empreendimento comercial. É uma joalheria de emoções, onde cada peça carrega uma história de dedicação e amor.
NFIM
De fato, os personagens desta reportagem vão além dos limites materiais com suas habilidades artesanais, revelando a essência e o legado cultural que permeiam suas criações. A tradição familiar dos Garuffi, os bordados de Izaac e as obras de Tico exploram e representam a riqueza e vasta diversidade do campo artístico do estado.
Contudo, é preciso estar ciente de que apesar do trabalho árduo destes artesãos, a desvalorização ainda é um problema presente. Tico Garrincha, por exemplo, expressa sua frustração com a falta de apoio dos órgãos públicos, e diz buscar plataformas alternativas, como as redes sociais, para promover e vender sua arte. Da mesma forma, Izaac Oliver relata se sentir desvalorizado pelos seus conterrâneos. Assim, é perceptível que as dificuldades, infelizmente, ainda estão muito presentes na vida daqueles que trabalham com artesanato e handmade.
E ... 12
O handmade do Rio Grande do Norte transmite muita diversidade cultural e conta belas histórias por meio de cada martelada, cada costura e cada pincelada. E, para que as tradições artesanais do Rio Grande do Norte permaneçam relevantes, é fundamental enfatizar que além do apoio governamental, é necessária a conscientização e valorização contínua por parte da população potiguar em relação aos artesãos.
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@retratapotiguar Nº 01