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Anos de chumbo

As empresas e a Ditadura LÍLIAN LEMKE MARIANA PAIM

mesma forma, acredito que o imaginário coletivo voltado às organizações se constitua de igual maneira”. Ditadura Militar instaurada em 1964 foi um Com a criação da Comissão Nacional da período cinzento da história do Brasil, que Verdade, iniciamos a compreensão de que as foi esquecida propositadamente, mas que empresas que tiveram vínculo com a represagora começa a ter espaço na memória são, tortura e crimes contra a humanidade decom a criação da Comissão Nacional da Verdaveriam ser responsabilizadas e punidas. “São de. Uma das lembranças restauradas impacta crimes que não prescrevem. Do modo com que na imagem institucional de empresas, que se a Comissão da Verdade e a justiça assim defifortaleceram e expandiram seus negócios com nirem”, destaca Maria Helena. Como muitas regime vigente. Mas será que a relação entre empresas se adaptaram ao regime para contiessas empresas e o Regime Militar afetou a nuar desempenhando suas atividades, muitas se reputação delas? aproveitaram do fato para enriquecer, reprimir Para Cíntia Carvalho, professora do curso e assediar os sindicalistas que lutavam pelos de Relações Públicas da Unisinos, a adesão de trabalhadores. “Sou favorável a um resgate alguns empresários à ditadura não se deu apedessas “orgias” ocorridas na época, acompanas ao suporte dado ao golpe de Estado, mas nhado de reembolsos ao povo, sejam eles sob também ao apoio fia forma monetária, ARQUIVO PESSOAL nanceiro e adoção da social, educacional política de repressão ou cultural”, ressale terrorismo dentro ta Cíntia. de organizações civis. Em abril de 2014, “A ditadura criou um a Comissão Nacional cenário altamente fada Verdade realizou vorável para o deseno seminário “Como volvimento e crescias empresas se benemento das atividades ficiaram e apoiaram das empresas, engena ditadura militar”, drando um ambiente apresentando estudos propício para a acuque apontam nomes mulação de capital”, de empresas que concompleta. tribuíram com o GolMaria Helena Wepe de 64 (ver box). ber, professora do “Seu impacto para a curso de Bibliotecopolítica e a sociedade nomia e Comunicação é extremamente im(FABICO), da UFRGS, portante e positivo, acredita que como o mas para a empreBrasil ingressou numa sa é negativo à sua fase de desenvolvireputação”, afirma mento econômico, Maria Helena. Para Para a professora Cíntia Carvalho, a divulgação atraindo investidores Cíntia: “É um projeto dos nomes das empresas que apoiaram a Ditadura e favorecendo os lulouvável que contricontribui para responder a muitos questionamentos cros das empresas, fibuiria para responder cou evidente o apoio a muitos questionaa elas na política econômica da época. “O que mentos em aberto”. pode ser dito é que as empresas passam a ser Fica evidente que as empresas que apoiaprotegidas pelo governo, que afastou o fanram a ditadura na época viram nesse apoio tasma do comunismo”, enfatiza. uma forma de crescer. A imagem “daquelas Essa relação pode ter impacto na imagem que apoiaram a ditadura” não é positiva. Podessas organizações, como ressalta Maria Helerém, na cultura do “jeitinho brasileiro”, elas na: “Hoje, quando uma empresa é identificada ainda não sofreram punição ou impacto alcomo colaboradora do regime militar, evidengum e todas as empresas continuam prósperas temente que acarreta uma carga negativa a ou passaram por fusões ou aquisições. Neste sua imagem”. Cíntia relembra que a profissão caso, cabe ao profissional de RP desvincular de relações públicas cresceu no regime militar essa imagem que ainda permanece ou devee seu exercício era controlado pelo Governo: mos mostrar que a empresa de 50 anos atrás, “Creio que muito da falta de credibilidade à que apoiou o golpe, hoje em dia pensa de forárea ainda vigente, se deve a esse fato! Da ma diferente?

imagemrp | novembro / 2014 | 8

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