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17 Economia & Negocios D.R.

Formar um (verdadeiro) Governo Carlos Sezões Gestor/Consultor

E, depois de semanas de especulação, já temos o desfecho anunciado. O 19º Governo em 37 anos de democracia (média de um governo a cada 1,9 anos!) já tomou posse, primeiro com os ministros e, esta semana, com os respectivos secretários de estado. O anúncio dos novos protagonistas trouxe consigo o habitual frenesim de análises, críticas, dúvidas ou certezas. Não deixei de notar as sentenças sumárias de alguns comentadores de ocasião, relativamente ao carácter inesperado de muitos nomes, ao facto de serem novidades absolutas em termos governativos e, como não podia deixar de ser, o facto de alguns serem supostamente segundas escolhas. O povo diz, e bem, que se “é preso por ter cão e preso por não ter”. Se é uma figura com experiência, está gasto, se vem do interior do partido é mau porque é uma figura do aparelho, se é independente não serve porque não tem peso político…Enfim, há que ter paciência… Não venho aqui trazer um rosário de elogios aos novos protagonistas. Gostaria apenas de reflectir em poucos segundos sobre as características que um verdadeiro governo deve ter e o que entendo ser o papel de um ministro. PUB

Um governo deve, acima de tudo, estar capacitado para executar uma visão clara e uma estratégia objectiva do que se pretende para o país. Essa estratégia deve ser desdobrada em metas concretas nas várias áreas, sejam a economia, a educação, a cultura, o ordenamento do território ou o ambiente. Por isso, um verdadeiro governo não deve ser um mero somatório de ministérios, ministros e políticas sectoriais avulsas. É necessário que haja o mínimo de homogeneidade e consistência. Noto isso neste governo. Vejo uma arquitectura de governo e pessoas com uma visão clara de sociedade e do respectivo papel do Estado. Vejo o foco na competitividade da economia, na libertação da sociedade civil e na mobilização de recursos para criar empregos e riqueza e assegurar a coesão social do país. Por sua vez, um ministro, qualquer que ele seja, deve acima de tudo ser uma pessoa orientada a decisões. A priori, deve conhecer a sua área e os dossiers mais prementes. Mas não pode depois estar acomodado ao conforto do lugar, lançando de tempos a tempos um discurso redondo e vazio. Penso que todos estamos um pouco fartos deste perfil tradicional de mi-

nistro, que vive da sua pose majestática entre inaugurações e cerimónias inúteis e entediantes. É por isso que não me importo nada de ver desconhecidos ou supostos inexperientes assumirem funções governativas desde que venham dotados com elevada reputação técnica e com claras competências de gestão e capacidade de ultrapassar obstáculos e tomar decisões. Aliás, é fácil recordar nomes consagrados que foram nulidades ou desastres nas suas pastas e segundas escolhas que surpreenderam e deixaram a sua marca. Sinceramente, sem entrar em análises individuais, é isto que vejo neste novo governo. Um conjunto coeso de pessoas, de uma nova geração, com uma visão clara do que querem para o país num prazo de 10 anos e orientados a executar. Terão sucesso? Ninguém sabe, é impossível prever. Mas esta será uma missão de todo o País, não apenas de um conjunto de pessoas que, momentaneamente, está no governo. Se formos uma sociedade responsável, com consciência cívica e com sentido de cidadania, venceremos este desafio. Caso contrário, nem o melhor governo do mundo nos poderá valer.


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