Registo Ed140

Page 7

7

Luis Pardal | Fotografia

“Acho que não haver cinema é lamentável. Isso tem a ver com uma série de circunstâncias relacionadas com o desinvestimento nessa parte comercial.”

agentes do concelho a fazer programação cultural estou a defendê-los. Mas temos dívidas em relação às juntas de freguesia, a fornecedores. Já tentámos fazer vários planos para acertar contas mas há sempre coisas que caem de obrigações legais, pagamentos à Segurança Social, etc. Para mim eles são prioritários mas gerir uma cidade não é gerir só a sala ou o quarto ou a cozinha … É um todo. No início de 2011 não lhes pode dar uma palavra de esperança, dizer que o problema se resolve até final do ano? Não consigo. O presidente fez várias tentativas e não conseguiu. De facto, estamos com dificuldades. O que estamos a fazer é um processo diferente que não decorre deste momento de crise pontual mas tem a ver com a própria regulamentação do apoio às actividades culturais. Regulamento que está em discussão pública. Já acabou a discussão pública. Recebemos as propostas vamos voltar a reunir, reformular o regulamento e levá-lo à Câmara e à Assembleia Municipal.

er

ma pa-

mos rais bas pródias stas ica, dis-

que ub-

ida

“Há muita gente em situação insustentável. Os agentes culturais são uma parte desse todo”.

2009. Em 2010 fomos apoiando pontualmente, em vez de comprarmos espectáculos fora fizemos com os agentes culturais do concelho. Reconhece que é uma situação insustentável? Para eles é insustentável mas neste momento há muita gente em situação insustentável. Os agentes culturais são uma parte desse todo. Para a vereadora da Cultura é a parte que interessa. Exacto. Quando eu com os dinheiros europeus convido os

Também já me apercebi que o regulamento, a ser aplicado tal como está, vai deixar 2010 em aberto, ou seja sem apoio aos agentes culturais? Pois. Nós temos grandes dificuldades em justificar 2010. Fomos apoiando sempre na elaboração de cartazes, na deslocação dos agentes culturais e na compra de alguns espectáculos.

Faz sentido manter a gestão privada na Arena d’Évora? Dos programadores da Arena d’Évora e já acabou. Contratualizámos com uma empresa a programação daquele espaço e isso já acabou. Era um encargo elevado. E está satisfeita com a agenda de espectáculos que ali foi realizada? Eu acho que a Arena d’Évora até fez muitas pessoas felizes, temos números razoáveis, independentemente de se questionar o tipo de espectáculos. Também lá foram acolhidos espectáculos de agentes desportivos e outros. Com o fim deste contrato teremos ainda menos iniciativas na Arena d’Évora? Vamos tentando negociar com algumas propostas que nos chegam, concertos e eventos. Temos de fazer nós próprios esses contactos. O meu sonho é conseguir programar de 6 em 6 meses para cada equipamento. Já consigo fazer isso em relação à Igreja de São Vicente e ao Palácio de D. Manuel, nas artes plásticas, para os outros é mais difícil. Até porque há propostas que surgem em cima da hora e umas acolhemos, outras não.

Vai manter a ideia do júri para seleccionar as actividades a apoiar? Vou, vou porque aí então consigo pedir aos agentes o que quero. Aí já consigo programar. Qual é o modelo que tem vigorado até agora? Os agentes, independentemente dos planos de actividades que apresentavam, eram financiados num montante mas nós não escolhíamos o que iam fazer. Eles podiam sempre argumentar que tudo aquilo que fazem é para a cidade. Certo. Mas podem fazê-lo por sua iniciativa porque a Câmara, então aí, escolhe uma programação cultural, escolhe fazer mais programação na rua, nas freguesias rurais, espectáculos em que haja intercâmbios entre associações ou parceria com estrangeiros … aí nós vamos poder escolher. Quais vão ser os critérios para a nomeação do júri? Terá gente da Câmara mas também especialistas nas várias áreas. Aliás, como é feita a atribuição de dinheiros públicos pela Direcção-Geral das Artes. Nós, Câmara, colocamo-nos do lado dos munícipes. São dinheiros públicos relativamente aos quais temos de prestar contas.

Ou seja, não vão existir apoios retroactivos a 2010? Pois, quer dizer, nós já estamos a dever 2009, o segundo semestre de 2009 … criar mais dívida parece-me difícil. Até porque não nos comprometemos com atribuir verbas a ninguém. Havia de facto orçamentada uma verba mas nunca foi atribuída a uma instituição em concreto. Na programação do Festival Terras do Sol comprámos espectáculos a agentes culturais e contratualizámos com eles.

Quando assumiu o cargo de vereadora alguma vez imaginou uma situação financeira destas? Só quem vive no país das maravilhas é que não percebia que estávamos numa situação difícil.

NÚmero

200mil <Os agentes culturais de Évora reclamam uma dívida da Câmara no montante de 200 mil euros. Estão por pagar os subsídios relativos ao segundo semestre de 2009.>

Mas Évora sempre foi vista como cidade cultural, imagem que se tem esfumado nos últimos anos. A cultura tem muitas faces e uma delas é a patrimonial, o património edificado. Daí também esta ideia de Évora como cidade da Cultura. Depois temos também alguns históricos como o Cendrev, uma companhia com história, com peso … E que está com dificuldades extremas porque na Câmara não lhe paga. Estão como nós … estão eles, estão as juntas de freguesia, estamos todos. No nosso caso até pela falta de investimento que resulta na cobrança de menos impostos... [Quando assumi o cargo] julgava que ia gerir a partir do zero mas estou a gerir abaixo disso, estou a gerir menos qualquer coisa e isso é muito difícil. Está a ser uma gestão muito complicada.

Museu do Design na Primavera Acabou o Museu do Artesanato em Évora. Isso não estava no seu programa eleitoral. Não é isso, aliás foi uma proposta que veio da Entidade Regional de Turismo, dona do espaço. Mas ninguém escreveu em lado nenhum, nem levou a votos, a proposta de acabar com o Museu do Artesanato. Não vai acabar, não vai acabar, continuará a chamarse Museu do Artesanato. Será criado o Museu de Artesanato e Design de Évora, que até tem uma sigla engraçada, MADE. Design industrial e artesanato são conceitos misturáveis? Acho que sim. Vamos lá ver: o artesanato, tirando algumas formas novas que criam de facto peças únicas, é marcado por uma produção mais ou menos em série, tal como acontece na indústria. São objectos que se ligam à forma, estética e a uma determinada função, que se vão reproduzindo. O design industrial é igual. Há uma evolução dessa articulação da forma/função com a preocupação estética. A minha primeira reacção foi também perceber como é que aquilo se iria casar. Uma reacção de algum espanto? Percebi de facto onde estava a evolução, como se podia ir do artesanato ao design industrial. E sei já de propostas concretas para, em exposição, aparecerem peças de artesanato ao lado de peças de design. Isto é uma oportunidade. O coleccionador Paulo Parra é um investigador com cartas dadas na matéria, tem uma boa rede internacional e já tem convites para levar a colecção a vários países, como o Brasil, incluindo peças de artesanato. Quando é que o museu vai abrir? O espaço está a ser intervencionado, estou convencida que no final da Primavera já teremos o MADE. Esta polémica em Évora faz-me lembrar a construção do Centro de Arte Moderna nos Jardins da Gulbenkian em que o assunto foi à Assembleia da República porque se estava a dar cabo dos jardins. Os jardins estão lá, o Centro de Arte Moderna está lá, enfim … É o que vai acontecer em Évora? Julgo que sim. Vai ser uma mais-valia para a cidade.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.