Registo Ed111

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24 Junho ‘10

Opinião

Capoulas Santos Eurodeputado

“Se não foste tu, foi o teu pai…” Isto a propósito do último e degradante episódio protagonizado no parlamento pela aliança de toda a oposição em mais uma tentativa infrutífera visando destruir a imagem do primeiro-ministro e do governo, no prosseguimento da estratégia de provocar e de cavalgar “escândalos”, com a esperança de que, um dia, o homem se sature e se vá embora ou a opinião pública, suficientemente intoxicada, corra com ele em eleições. Basta esperar pelo momento azado, fazendo simplesmente funcionar a

José Alves

Presidente da Federação das Ass. de Reformados do Distrito de Évora

Crise para muitos mais riqueza para alguns Em especial nos últimos sete anos a palavra crise foi, com certeza, a mais ouvida pelos Portugueses e têm servido de justificação para a tomada de medidas, por parte de sucessivos governos, que, ao que nos vêm dizendo, pretendiam restaurar as finanças públicas, reduzir o deficit e contribuir para desenvolver a economia do País. Invariavelmente as medidas tomadas reflectiram-se nos aumentos dos impostos, dos medicamentos e dos bens essenciais criando dificuldades a muitos Portugueses. Estas medidas não se traduziram em resultados visíveis nas contas públicas e no nosso desenvolvimento económico. PUB

mesma maioria que se formou agora para aprovar as vergonhosas conclusões do Relatório Semedo. Aquilo que se passou na Assembleia da Republica ao redor da comissão de inquérito ao caso da alegada intervenção do governo na hipotética compra da TVI pela PT e do conhecimento de tal operação pelo PM, supostamente com o objectivo de calar aquele casal de impolutos democratas que durante meses manipulou os noticiários da TVI e que, mesmo sem compra da estação por terceiros, acabaram por ser despedidos pelo patrão, vai ficar na história da democracia portuguesa como um dos seus mais vergonhosos e degradantes episódios. Valha a posição digna do Presidente da Comissão, o social-democrata Mota Amaral, um politico com estatuto, vários anos chefe do governo dos Açores e ex-presidente da Assembleia da Republica, que se recusou a pactuar com o triste espectáculo protagonizado por todos os pachecos da comissão,

em particular com o do seu próprio partido. Não tendo sido possível comprovar factualmente que o governo tinha dado orientações à PT para tal compra e que o PM tinha tido conhecimento prévio do negócio, e sendo por isso impossível pôr isso no relatório, preto no branco, então concluiu-se que, se não teve conhecimento, podia ter tido. Não se provou que mentiu mas, se não mentiu, podia ter mentido, logo: culpado. Essa conclusão, como desde logo se percebeu, tinha de ser extraída em qualquer circunstância. O povo usa expressões bem mais prosaicas quando trata de definir a tentativa de condenação de alguém a qualquer preço, com provas ou sem elas. É a famosa “preso por ter cão, ou por não ter” ou a que serve de título a esta crónica. Esquecem os novos Torquemadas de que estes já não são os tempos da Inquisição, ainda que haja dela marcas bem fortes na nossa sociedade. Apesar

de todas as manipulações, das legiões de analistas e de comentadores que enxameiam os canais de televisão e as colunas dos jornais, quase todos ao estilo do célebre Professor Marcelo, que até se comenta a si próprio, e que bem prega, tal como frei Tomás, mas que fez triste figura enquanto líder do PSD, há uma opinião pública que ouve, que pensa, e que formula opinião. E que a expressa nas urnas. As vergonhas da comissão de inquérito, da utilização da justiça como arma política e da manipulação da informação são intoleráveis pelo caminho a que conduzem a nossa democracia. É urgente um sobressalto cívico para pôr termo a esta deriva que, nalguns aspectos, faz lembrar a trajectória para o abismo da 1ª República, cujo centenário agora se celebra. Uma República que, curiosamente, num século, apenas teve 52 anos de existência.

Em 2008 e 2009 à crise Nacional veio juntar-se a crise Internacional como resultado da especulação financeira e bolsista em muitos países. Em Portugal a actividade económica ressentiu-se e muitos milhares de Portugueses vieram aumentar substancialmente o número de desempregados que já ultrapassou as 600 000 pessoas. Durante as últimas eleições foram anunciados, quase diariamente, milhões de euros para os mais diversos destinos. Às perguntas dos jornalistas, sobre o equilíbrio das nossas contas, o Sr. Primeiro-ministro respondia invariavelmente que estava tudo controlado. Nos últimos três meses do ano começou a ser visível o descontrole das contas públicas, com um deficit que aumenta semanalmente contrariando as previsões, também semanais, do Governo. Absurdo dos absurdos, no final deste período foi decretado o fim da crise tendo mesmo o governo anunciado que Portugal era o campeão da recuperação económica. A dar consistência a esta afirmação aí estava o sector bancário e as grandes empresas a apresentarem milhares de milhões de euros de lucro e os seus ad-

ministradores a auferirem de centenas de milhares de euros, alguns mesmo milhões de vencimentos e de prémios. Após a aprovação do Orçamento Geral do Estado para 2010 que reduziu o investimento público e restringiu, na maioria das situações, a zero os aumentos salariais dos funcionários do Estado e indicou ao sector privado limites para as negociações salariais, seria de esperar que as medidas de contenção ficassem por aí. Mas não, passado um mês, o Governo Português aprova o PEC - Plano de Estabilidade e Crescimento até 2013 que de crescimento tem pouco e de instabilidade muito, apostando fundamentalmente na redução de deficit com reflexos na despesa do Estado com as prestações sociais. O Primeiro-ministro garantiu, na altura, na Assembleia da República, que os impostos não seriam aumentados mas, nem foram precisos quinze dias, parem serem anunciados aumentos de impostos agora para fazer face à enorme divida externa do País. Assim e mais uma vez vão ser a maioria dos portugueses, em especial os mais desfavorecidos, a pagar a crise.

Os culpados pela situação que vivemos não são aqueles que a vão pagar. Os reformados com baixas reformas, os desempregados, os cerca de dois milhões de pobres, os trabalhadores que recebem o salário mínimo e todos aqueles que apenas vivem do seu trabalho são as verdadeiras vítimas da política que tem dirigido o nosso País, vendo acentuar, com o aumento do custo de vida, a situação de verdadeira crise social em que vivem. Será justo continuar a exigir às camadas da população mais desfavorecidas mais sacrifícios quando os verdadeiros culpados pela crise e que com ela têm lucrado não participam no esforço colectivo para a superar? Será justo isentar as grandes fortunas de contribuírem para a resolução da crise quando o fosso entre os mais ricos e os mais pobres cresceu nos últimos anos, tornando Portugal o país da Comunidade Europeia onde ele é maior? O que é Justo é que Portugal tenha uma outra política que em vez de proteger os mais ricos proteja os pobres e quem trabalha.


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