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22 Dezembro ‘11

Radar

Fotojornalistas premiados pela Estação Imagem mostram trabalhos na Igreja de São Vicente, em Évora. D.R.

54 Um olhar antropológico José Rodrigues dos Santos* Antropólogo

Évora – Património e controlo Num plano terra a terra, a patrimonialização destes objectos monumentais pode atrair visitantes, estimular o turismo e dinamizar as economias locais o que, seja dito a bem da verdade, é o que motiva as colectividades que se lançam na patrimonialização. Contudo, reconhecendo que desde os primeiros tempos, no século XIX, o mito da “cidade museu” reforçava o constrangimento sobre as actividades normais dos habitantes, estas ainda pouco se ressentiam das proibições e obrigações propriamente patrimoniais. O “Estado Novo”, ao inverter a relação que estabelecem as democracias entre o que é permitido e o que é proibido, tendia a proibir tudo o que não fosse explicitamente autorizado. A regulamentação da vida social ia ao pormenor: em definitivo, quem se tornasse desagradável para o poder teria sempre alguma falha a alguma regra, por onde o Estado lhe pudesse pegar. Por isso, a patrimonialização foi, por assim dizer, embebida na regulamentação geral de tudo, tanto mais que a dinâmica económica era fraca e não exercia uma pressão forte sobre o construído. As cidades, edifícios e monumentos, eram em muitos casos “naturalmente” preservados, quando mais não fosse, por simples inércia. Sendo Évora, em muitos aspectos patrimoniais, um caso à parte no Portugal do salazarismo, a cidade continuou a ser caso à parte depois do 25 de Abril, ao passar directamente daquele regime para o controlo pelos comunistas. Estes não tinham obviamente experiência do exercício do poder nacional ou autárquico, mas tinham uma ideologia na qual o controlo dos cidadãos, das actividades, etc., passava pela regulamentação total, o que de certo modo os preparava para dar continuidade à antiga forma de exercício do poder, mudando apenas, com os detentores do poder, a retórica. Quando o movimento de patrimonialização se generalizou, em parte devido à súbita percepção dos novos perigos que a dinâmica económica gerada no pós-25 de Abril fazia correr aos bens edificados e urbanos em geral, a transformação da cidade em objecto patrimonial apresentou-se como uma evidência. Consensual, porque ia no sentido do mito da “cidade museu” que certas elites eborenses tinham cultivado (em parte contra o sentimento da “população em geral”, ou seja do cidadão comum), e porque patrimonializar queria dizer legitimar um tipo de hiper-regulamentação que necessitava, nestes novos tempos, de encontrar um fundamento diferente daquele que as pequenas elites burguesas evocavam. José Rodrigues dos Santos Antropólogo, Academia Militar e CIDEHUS, Universidade de Évora 20 de Novembro de 2011. jsantos@uevora.pt

Fotojornalistas mostram trabalhos premiados Mostra de trabalhos premiados pela Estação Imagem pode ser vista em Évora. Redacção | Registo A Câmara Municipal de Évora e a Estação Imagem, em parceria com a Câmara Mundial de Mora, expõem na Igreja de S. Vicente as imagens vencedoras do Prémio de Fotojornalismo 2011. A mostra está patente até 22 de Janeiro. A exposição Prémio Fotojornalismo 2011 Estação Imagem / Câmara de Mora apresenta as reportagens vencedoras daquela que é a segunda edição do Prémio dinamizado pela Estação Imagem, uma associação sem fins lucrativos dedicada ao estudo e promoção da imagem, com principal destaque para o trabalho de Nelson Aires que, com uma

reportagem sobre um caso de “bullying” numa escola de Mirandela, garantiu a conquista do principal galardão do Prémio, vencendo igualmente na categoria Série de Retratos. O concurso estreou-se em 2010 e, nesta segunda edição, a organização recebeu 164 inscrições de fotojornalistas, que submeteram 462 reportagens, num total de 4 968 fotografias. Nelson Aires foi também o vencedor da categoria Série de Retratos, com “Bairro da Estação”, sendo premiados ainda Tiago Miranda, pela reportagem “Retratos de um Despedimento”, e Daniel Rocha, com “Candidatos Presidenciais”, no segundo e terceiro lugar, respetivamente. Na categoria de Notícias, o primeiro classificado foi Enric Vives Rubio, por uma reportagem sobre a Madeira, o segundo foi Nelson Garrido, com o trabalho “Papa pela TV”, e o terceiro foi Carlos Pal-

ma, por “Kingdom of Empty Dreams”. O primeiro lugar na categoria de Vida Quotidiana coube a José Carlos Carvalho (“Mãe entre Muros”), sendo ainda premiados António Pedro Santos (“Campismo”), em segundo, e Augusto Brázio (“Cova da Moura”), em terceiro. Este último fotojornalista conquistou a categoria Ambiente, com a reportagem “Natureza”, tendo o júri distinguido apenas outro fotógrafo, com o segundo prémio: Valter Vinagre, com o trabalho “Animais de Estimação”. A Estação Imagem é uma associação sem fins lucrativos dedicada ao estudo e promoção da imagem, com particular enfoque na fotografia documental. Criada em Mora e elegendo o Alentejo como campo de acção, a Estação Imagem propõe-se dar um contributo activo à luta contra a desertificação e o isolamento da região.

Ópera de Mozart no Garcia de Resende Contemporaneus encena “Coisa Fan Tutte”. O Ensemble Contemporaneus apresenta amanhã em Évora, no Teatro Garcia de Resende, “Così Fan Tutte”, ópera buffa de Wolfgang Amadeus Mozart. Datada de 1790, com libreto de Lorenzo da Ponte, esta ópera foi comissionada pelo Imperador Josef II, tendo a sua estreia ocorrido em Viena no Burgtheater sob direcção musical do próprio compositor. Dividida em dois actos sublinha as

tensões sociais entre as várias classes jogando com questões de ordem moral. Così Fan Tutte conta com a direção musical de Vera Batista e encenação de Helena Estanislau, sendo a sua apresentação em Évora organizada pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Em 2011 a Contemporaneus assumiu o desafio de realizar uma ópera de Mozart, com a orquestra do Ensemble Contemporaneus, com um número de elementos mais alargado, com seis cantores solistas, e uma encenação contemporânea. “Così fan tutte” (Assim fazem todas), é

a penúltima ópera escrita por Wolfgang Amadeus Mozart em 1790. “Così fan tutte” aparenta ser uma simples comédia de enganos, mais vai muito mais longe do que isso. É uma bela história universal de amor e desengano, compreendida e identificada por todo o público, que já foi jovem, teve um primeiro amor e sofreu desgostos amorosos. E a versão que agora a Contemporaneus decidiu apresentar é uma escolha que pretende evidenciar claramente este lado puro, inocente e idílico da juventude e do acreditar num só primeiro e único amor.


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