Mapa | Em defesa dos territórios: desastre-crime e o avanço da mineração em Brumadinho

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Em

defesa

dos territórios: desastre-crime e o avanço da mineração em Brumadinho

Arrancar o minério de ferro das nossas Serras não é uma coisa natural, nem mesmo cultural. Até a década de 40/50, nossa região vivia das atividades relacionadas à agricultura, ou seja, produção e circulação de alimentos. Aqui é terra de moinhos, de milho, rapadura, farinha, cachaça, porco, galinha, gado, de mexerica e jabuticaba, terra de pescar peixe do rio. De rios, nascentes, mirantes e cachoeiras belíssimas. Terra de festas tradicionais, de congados, folias de reis e festividades religiosas.

No passado, os donos das fazendas exploravam quem não tinha terra, mas a agricultura nas comunidades rurais era também muito viva. Mesmo com dificuldades para os mais pobres, a atividade tinha uma dinâmica forte. Nos anos 40/50, vieram empresas mineradoras e especuladores de outros lugares, muitos de fora do Brasil, e começaram a arrancar o minério de ferro e controlar muitas terras em nossa região. Da boca pra fora, diziam que era progresso, geração de riqueza e empregos. Mas pra dentro, orientados pela ganância, só pensavam em lucro. Como é até hoje.

Arrancar o minério gerou lucro, mas a maior parte dele ficou concentrado na mão dos donos das mineradoras. Os empregos para a maioria das pessoas são perigosos, se paga menos do que o merecido e duram pouco tempo, o que gera incerteza.

A partir da década de 2000, com a compra das minas do Córrego do Feijão e da Jangada pela Vale, a vida das comunidades foi ficando mais crítica. A água foi sumindo. As terras sendo dominadas pelas mineradoras. O povo ficando cada vez mais espremido.

Mesmo após a legislação ambiental e a Constituição de 1988, que foram sendo desmontadas ao longo dos anos, apenas as mineradoras ganharam. O povo ficou com o dano.

O mapa e os gráficos aqui apresentados mostram uma verdadeira escalada de destruição, exploração e controle dos territórios por parte das mineradoras. Desde a década de 40, a destruição só aumenta. O gráfico mostra que mesmo após o desastre-crime da Vale em 2019, que matou pessoas e acabou com a natureza, a economia da mineração seguiu aumentando! Espremeu ainda mais o povo. Podemos ver facilmente que a Vale ampliou o domínio sobre as terras e comunidades e as outras mineradoras querem ampliar a exploração em Brumadinho e região, como a própria Vale, a Mineral do Brasil, Tejucana, MIB, a Vallourec, Alaska e MIT e M&G.

Frente a essa situação o povo resiste e luta. Existem vitórias importantes mas é necessário somar forças. Se deixarmos, as mineradoras vão destruir nossa Brumadinho, como já fizeram com o Paraopeba e várias outras serras. Querem expulsar as comunidades, repetindo a história de Inhotim, da Vila Ferteco e de Souza Noschese. Querem expulsar, mas o povo luta para recuperar a vida digna no Parque da Cachoeira, Córrego do Feijão, Tejuco, Monte Cristo, Assentamento Pastorinhas, Córrego Fundo, Jangada, Piedade do Paraopeba, dentre outras. Todas com intensos conflitos com as mineradoras.

As mineradoras causam a morte lenta do povo, todo dia. Encurralam e espremem as comunidades. O rompimento da Vale causou uma matança. Poeira, contaminação por metais pesados. Perda do uso da água de forma tradicional. Gente doente. Gente tirando a própria vida. Laços desfeitos. A vida está no limite.

É urgente enfrentar esse modelo minerário que aprofunda e amplia a destruição, as doenças, a contaminação e a pobreza. Vamos lutar pela defesa das comunidades, defesa das águas e da agroecologia. Precisamos preservar nossos territórios, nossas riquezas, nossas tradições e nosso direito de viver em paz.

Rejeitos na cava:

De forma controversa e sem nenhum tipo de participação da população, desde 2020, com algumas interrupções, a Vale S/A descarta na cava da mina do córrego do Feijão parte da lama/rejeito da Barragem rompida. O Governo do Estado (Secretaria de Meio Ambiente MG) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) emitiram autorização sem ter estudos adequados e que garantam a segurança das comunidades que vivem na região. A lama jogada nesta cava profunda situada próximo ao Pico dos Três Irmãos tem grande risco de contaminar nossas águas.

O gráfico acima demonstra o avanço da atividade minerária na região de Brumadinho, em hectares, de 1985 a 2021. Nota-se o aumento das áreas mineradas a partir de 2019. Ou seja, mesmo com o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, as áreas mineradas aumentaram mais do que a média dos últimos 40 anos. A cor em rosa destaca as áreas de extração de ferro. As pontas do gráfico nos anos de 2021 e 2022 são relativas à exploração de ouro.

Fonte:

MAPBIOMAS

Uma publicação da Rede Igrejas e Mineração e da Comissão Pastoral da Terra Arte e Projeto Gráfico: Fabis Igbó Tiragem: 500 exemplares Distribuição Gratuita

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