7 minute read

olhares

Next Article
teste de bechdel

teste de bechdel

Olhares: Diretora

CIBELE AMARAL, é atriz, diretora, roteirista e produtora de cinema que possui uma história inspiradora e paixão sobre o comportamento humano, tanto que é formada em psicologia. A diretora que tem 14 anos de carreira e participou dos longas “Um assalto de fé” de 2011 “Até que a casa caia” de 2015 e está trabalhando na divulgação do seu mais recente projeto “Por que você não chora?” lançado no festival de Gramado deste ano, com protagonistas mulheres conta como o cinema faz parte de sua vida. Confira abaixo a entrevista exclusiva falando sobre a mulher no cinema e um pouco mais sobre a sua trajetória:

Advertisement

Você pode começar se apresentando, falando um pouco da sua experiência com o cinema e tudo mais?

Eu sou de Brasília né, nasci em Brasília e desde muito cedo eu comecei a trabalhar com as artes. Eu já na escola eu escrevia e dirigia peças de teatro, atuava então desde muito cedo eu comecei a fazer teatro profissional, com 12 anos já apresentava e com 15 já me apresentava profissionalmente. E aí com 19 anos eu fui estudar teatro na Itália, me formei lá na Academia Internacional de Roma e foi muito bacana porque era um curso muito focado também na direção, na criação então é muito legal, ali também eu aprendi como escrever e como dirigir para teatro. E ali na Itália também eu comecei já conhecer o cinema, que eu era muito fã, tanto que com 15 anos eu já trabalhava em vídeo locadora para dar conta de pagar os filmes que eu queria ver na época então eu sempre fui muito devoradora de filmes e quando eu fui para Itália eu tive oportunidade de conhecer o set de filmagem e trabalhar fazendo figuração em filmes, pela curiosidade mesmo, acabei fazendo um pequeno papel que depois foi cortado na montagem, coisa que depois descobri que acontece com muita frequência, eu mesma já cortei muitos atores, depois eu comecei a trabalhar produção de audiovisual e então voltei para o Brasil e comecei a trabalhar como atriz no cinema. Eu fiz o meu primeiro curta com o José Eduardo Belmonte que é um diretor hoje bastante conhecido e tivemos uma parceria de muitos anos, até que aí eu comecei a perceber que realmente queria muito escrever e comecei a fazer cursos, porque minha formação não era até agora em cinema, então eu tinha as ideias não conseguia colocar andar para frente. Comecei a fazer cursos cursos com Luiz Carlos Maciel, com a Suzana Amaral e com várias pessoas

"Eu acho que assim as mulheres que conseguiram se colocar nesse mercado porque muitas delas tiveram que gritar"

muito interessantes e fiz meu primeiro longa em 1998 que ficou pronto em 2000 que foi no curso com a supervisão da Suzana Amaral e daí para frente eu não parei mais de dirigir. Eu voltei para Itália e estudei mais, eu fiz vários cursos, o mais importante foi o curso de formação para roteiristas da RAI ( que é a rádio televisão italiana). Voltei para o Brasil e continuei produzindo meus filmes. Em 2003 eu fiz um curta que foi muito premiado que ganhou em Gramado o prêmio do júri popular e depois eu fiz meu primeiro longa em 2011 que se “Chama um assalto de fé”, uma comédia que lancei no circuito comercial e aí eu fiz fazer uma trajetória um pouco diferente. Eu queria muito estudar psicologia e nunca tinha estudado eu era muito fã, achava importante também para o que eu escrevia e fui fazer uma faculdade, aí eu fiquei um longo período sem filmar, continuei trabalhando escrevendo os projetos, tanto que quando eu voltei depois a dirigir emplaquei vários filmes em vários editais, então tô com muitos filmes para lançar e um que eu mandei esse ano no festival de Gramado, que é o “Por que você não chora?” que é um filme que já pós faculdade psicologia, então já uma pegada bem diferente.

Você, como diretora, percebe que existe essa diferença de linguagem entre um filme dirigido por mulheres e outro dirigido por homens? É muito diferente?

É muito! Eu participo de vários grupos de mulheres do audiovisual, e a gente tem muita discussão e isso é muito perceptível sim. Às vezes quando alguém diz assim “ah não acho” eu falo logo o seguinte “Tá bom, cena de sexo. Na maioria dos filmes que você ver a mulher não goza na cena, para quando o cara goza, tá mudando mas o que que significa isso?! essa mulher já gozou, vai gozar ainda ou não vai ? não importa? tanto faz? como é que é isso?”. Então isso é só um detalhe para você entender,para os incrédulos entenderem o quão diferente é o ponto de vista. E não, eu não acho que a mulher diretora, roteirista ela tem que fazer só filmes com temáticas feminina não, eu acho que da mesma forma que os homens sempre dirigiram tudo e escreveram tudo, nós também podemos escrever histórias sobre o homens e fazer histórias de temáticas variadas. Mas respondendo à sua pergunta quando é uma temática feminina eu acho que é muito interessante que seja uma mulher sim, porque durante muitos anos foram os homens falando sobre nós e isso cria uma referência né.

Quando você vai trabalhar no set de filmagem, você tem essa preocupação de trabalhar com mulheres? Ou é um set misto?

Olha, nesse filme que é o “Por que você não chora?” a minha equipe foi muito mais feminina, então tive que continuísta mulher, assistente de direção foram primeira e segunda mulher, a equipe de arte era em sua grande maioria mulher, equipe de fotografia não tinha mulher, foram homens e produção, muita mulher, o roteiro fui eu quem fiz enfim eu diria que 70% desta equipe, dos cabeças de equipe 80% eram mulheres e o elenco 90% mulher . Depois eu dirigi um outro filme e por forças de circunstâncias foram mais homens, por exemplo eu tive uma assistente mulher um assistente homem, eu senti uma grande diferença que antes eu não percebi né?! A gente tá falando sobre isso nosso olhar muda. Então eu tive momentos em que eu tive que falar assim “ ei tem uma diretora aqui neste set, e sou eu”. Eu acho que assim as mulheres que conseguiram se colocar nesse mercado porque muitas delas tiveram que gritar, o que é uma coisa muito chata e que hoje eu tô fazendo todo um caminho né para desconstruir isso, mas acontece que é muito interessante mais nas próximas produções vou sim tentar me cercar de mais mulheres.

Qual a sua melhor experiência com o cinema? Algo marcante, uma memória afetiva que você tenha...

É sempre muito lindo, a coisa mais linda é você depois quando você vê o seu filme, o seu não nosso porque o filme é uma obra de muita gente, mas quando você vê pronto aquela ideia que saiu da sua cabeça, que foi ganhando vida, foi crescendo. Quando tá pronto e você recebe os elogios, você fala sobre isso, é maravilhoso. Vale muito a pena e assim as melhores experiências são no set, é muito gostoso quando você trabalha com comédia por exemplo, porque o set é um barato do início ao fim! Você morre de rir com os atores, o que vai para o filme é só um pedacinho, e ao mesmo tempo quando você trabalha com drama também é muito lindo você viver junto com as atrizes e os atores aquela emoção, trazer aquela emoção. É muito gratificante, são momentos lindos!

Você pode deixar uma dica para quem pretende seguir essa carreira de diretora, produtora roteirista, não é fácil né ?!

Acho que estudar é muito importante! Estudar mesmo, estudar roteiro, fotografia, estudar direção de arte, estudar atuação. O cinema é muito complexo são muitas interfaces, pós-produção. Então o diretor tem que entender de tudo, tem que saber de tudo e tem que dialogar com todo mundo. Outra dica: sair do seu mundinho! A primeira dica que costumam dar nos cursos de roteiro é: “ fale sobre o que você conhece”. Eu acho ótima porque você falar do que não conhece é muito difícil, mas eu diria: “Conheça mais do que você conhece , amplie seus conhecimentos, entre o seu universo”. Às vezes o áudio visual fica saturado dos mesmos temas né?! Então assim é interessante flertar com outras áreas, eu fiz psicologia e agora tô querendo estudar direito. Então eu acho que é interessante a gente estudar e conhecer para além do mundo do audiovisual né, essas são as duas dicas mais legais que eu posso deixar para vocês.

Foto: arquivo pessoal

This article is from: