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teste de bechdel
Conheça o teste que revolucionou a indústria cinematográfica
A PARTICIPAÇÃO DA MULHER como consumidora nas salas de cinema tem sido maior desde o ano de 2010, porém com o aumento de discussões como feminismo, racismo e até mesmo assédio depois dos movimento Metoo e Time’s UP as indústrias cinematográficas têm prestado mais atenção nesse público e desenvolvido mais filmes que atinjam essas consumidoras que tem ficado mais criteriosas nas suas escolhas quando vão às salas de cinema. Mas não basta somente ter mais mulheres em filmes, se elas não forem bem representadas, é importante que elas tenham uma história e pelo menos um nome para não serem somente um apoio para os demais personagens (normalmente masculinos), por isso em 2013 a programadora de salas de cinema em Estocolmo Ellen Tejle passou a usar o teste de Alison Bechdel para classificar os filmes exibidos classificando a representação da mulher. Alison Bechdel era cartunista e no ano de 1985, após sair de um cinema com uma amiga, ficou se questionando sobre a representação da mulher no filme em que viram e transformou isso em uma tirinha ironizava o cinema Hollywoodiano da época por representar as mulheres de forma estereotipada e clichê. Após 28 anos, o que era apenas um quadrinho acabou de tornando a principal justificativa para estudiosos da representação da mulher no cinema e a sueca Ellen Tjle, citada anteriormente, criou o selo A-rate (A de aprovedd — em português ou Alison Bechdel e rate de taxa em inglês) para classificar se um filme é aprovado no teste ou não. Os quesitos para avaliar se uma obra passa ou não no teste são simples, o filme de ficção tem que ter duas ou mais personagens com nomes próprios, elas têm que se conversar entre si e, o assunto dessa conversa não pode ser um homem. Apesar de simples, muitos filmes consagrados da história do cinema e que impactaram diretamente a vida de muitos telespectadores não passam da primeira regra, como por exemplo Star Wars, Toy Story e Blade Runner. No ano de 2017, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a adotar o selo A-rate do teste de Bechdel no ano de 2017 em uma iniciativa que contou com o apoio de salas de cinema como Caixa Belas Arte, Espaço Itaú de Cinema e Reserva Cultural, além das distribuidoras Ello Company, Fênix, Imovision, Pandora e Vitrine. Após o lançamento do selo no país, as críticas de cinema do coletivo Elviras, que existe desde o mesmo ano
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Ilustração: freepik
Charge: divulgação

de lançamento do teste no país e tem esse nome em homenagem a Elvira Gama, primeira mulher no país a escrever sobre imagem e movimento para o Jornal Brasil entre 1894 e 1895, se comprometeram a utilizar o selo em suas resenhas, além da criação da página Teste de Bechdel Brasil no facebook, que posta a dica de vários filmes nacionais que são certificados no teste. Ao contrário do que muitos pensam, o teste não em o intuito de dizer que o filme é machista, que não deve ser visto, ele tem o objetivo de questionar como está sendo feita a abordagem feminina em filmes de ficção já que atualmente elas têm menos tempo de tela que os homens, em média a mulher tem 29% de protagonismo em um filme. Muitas vezes filmes de grande bilheteria ou premiados, com o Oscar de melhor filme, não passam no teste e como a mulher tem sido a maioria do público nas salas de cinema, elas querem se ver em papéis mais reais que condizem a sua realidade e que sejam de importância para a história dos filmes. Por falar em Oscar, em 93 anos de premiação, apenas 5 mulheres já foram indicadas a um dos maiores prêmios da noite, o de direção, desse número, somente uma mulher ganhou o prêmio que foi Katheryn Bigelow com um filme que (surpresa) não passa no teste de bechdel, pois não tem nenhuma mulher. Em conversa com Andressa Almeida, crítica de cinema, ela cita as novas regras

Gender Bias Without Borders GENDER BIAS WITHOUT BORDERS

An Investigation of Female Characters in Popular Films Across 11 CountriesAN INVESTIGATION OF FEMALE CHARACTERS IN
POPULAR FILMS ACROSS 11 COUNTRIES

Dr. Stacy L. Smith, Marc Choueiti, & Dr. Katherine Pieper with assistance from Yu-Ting Liu & Christine Song
Media, Diversity, & Social Change Initiative University of Southern California Annenberg School for Communication & Journalism 3502 Watt Way, Suite 223 Los Angeles, CA 90089
stacy.smith@usc.edu

confidential working document = do not cite, quote, or reference. Fonte: seejane.org/ / mulhernocinema.com
que as premiações como o Oscar estão adotando para melhorar a forma com que as minorias, como as mulheres são retratadas no cinema: “Oscar está com novas medidas que vão valer a partir do oscar de 2024, a ideia é que os filmes para concorrer na categoria de melhor filme tem que seguir quatro pautas de representatividade e inclusão, seguindo pelo menos uma eles são elegiveis a melhor filme, é uma forma do Oscar trazer mais representatividade para a industria, trazer mais mulheres, trazer mais negros, trazer mais,enfim, minorias em geral”. Além do Oscar as demais premiações também tem se preocupado com o fato de como a mulher está sendo representada, e isso foi impactado diretamente por movimentos como o teste de Bechdel, seja uma preocupação totalmente comercial pois como dissemos a mulher é a maioria dentro de uma sala de cinema, seja pela preocupação de realmente mudar a história do cinema e trazer a tona a visibilidade que as mulheres merecem. Para te incentivar a pensar mais sobre o assunto, confira abaixo uma lista com filmes que passam tranquilamente no teste de Bechdel e uma outra lista com filmes que foram reprovados nesse teste que chegou no Brasil em 2017. No site oficial do teste Bechdel Test Movie List (http://bechdeltest.com/) — infelizmente em inglês — temos uma lista de alguns filmes que são aprovados (sinalização verde) ou reprovados e por que (sinalização vermelha), além disso a lista é dividida por ano, começando em 1888 e indo até 2020. Nesse site, também é possível fazermos comentários sobre os filmes, em inglês caro, além de conferir comentários de outros cinéfilos sobre o filme em questão além de enviar nossas sugestões de filmes que são aprovados irem para análise e divulgação. O Brasil tem se preocupado com a representatividade da mulher no cinema tanto que em 2017, no ano que o teste chegou no país, alguns alunos da PUC-Rio (Pontificia Universidade Católica) desenvolveram um aplicativo chamado “Alice” que listava a representação da mulher no cinema mundial. Além do usuário ter a experiência de avaliar os filmes, ele também pode realizar o teste de bechdel e classificar se o filme passa ou não no teste. O aplicativo estava disponível somente para o sistema IOs e infelizmente foi removido da plataforma. O caminho para a representação da mulher está sendo construído, apesar das mudanças significativas e sensação de que vemos mais mulheres nos filmes, ainda falta muito pra chegar no número ideal de filmes aprovados no teste de Bechdel, por isso é importante consumir sempre um filme com mulheres protagonistas, divulgar esse filme e fazer com que mais pessoas vejam para que cada vez mais a indústria entenda que seu público mudou e que queremos mulheres bem representadas nas telas de cinema.
