A estratégia como prática e a teoria da estruturação: distâncias e aproximações

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A ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA E A TEORIA DA ESTRUTURAÇÃO: DISTÂNCIAS E APROXIMAÇÕES Autoria: Maria Luciana de Almeida, Rafael dos Santos Fernandes Sales

RESUMO Os estudos na área de estratégia foram dominados por muito tempo por pesquisas que tinham por objetivo demonstrar que o sucesso das organizações estava diretamente ligado aos fatores econômicos, assim os autores deste campo enfatizavam a forma como as organizações deveriam agir para obter vantagens competitivas, e consequentemente retornos financeiros superiores. O foco de análise de tais estudos estava voltado para as influências do ambiente externo ou interno sobre o desempenho organizacional, entretanto não se analisava a influência dos indivíduos para os resultados das organizações, tendo em vista que são estes os responsáveis pelo desenvolvimento das estratégias. A partir da década de 1990 surge no campo da estratégia uma abordagem nova, conceituada como “estratégia como prática”, que percebe a elaboração da estratégia não apenas a partir de algo que as organizações possuem, mas como algo que as pessoas fazem. Tendo em vista que esta é uma abordagem emergente, não havendo arcabouço teórico suficiente para fundamentar seus pressupostos, muitos dos autores de tal tradição buscam subsídios nos trabalhos de autores da teoria social, sobretudo na teoria da estruturação, de Anthony Giddens. Assim, este ensaio teórico, objetiva analisar distanciamentos e aproximações entre o campo da estratégia como prática e a discussão específica da teoria da estruturação. Para tanto, apresentamos os pontos centrais de cada abordagem e, em seguida, procuramos evidenciar suas continuidades e descontinuidades teóricas, neste sentido nos utilizamos das contribuições de autores renomados da área, tais como Feldman, Pentland, Giddens, Jarzabkowski, Balogun, Seidl, Johnson, Langley, Melin, Whittington, Merton, Reckwitz, entre outros. A partir de uma abordagem metodológica de cunho teórico, foi possível concluir que estes dois campos teóricos autônomos (estratégia como prática e teoria da estruturação) possuem um diálogo íntimo, e que este pode contribuir para o debate em ambas. Apesar da estratégia como prática incorporar muitos conceitos e até a abordagem metodológica proposta pela teoria da estruturação, as investigações específicas desta área desenvolvidas pelos seus autores fortalecem, mesmo que com algumas distinções, a discussão de Giddens em sua teoria da estruturação. Ao passo que a abordagem da estratégia como prática, ao buscar apoio na teoria da estruturação para entender processos estratégicos, pode trazer uma contribuição para interpretações mais acuradas sobre a atuação dos indivíduos ao desenvolverem suas atividades, em sua vida cotidiana. Palavras-chave: Estratégia como Prática. Teoria da Estruturação. 1 INTRODUÇÃO A agenda de estudos em estratégia por muitos anos foi permeada por pesquisas que objetivavam evidenciar o sucesso organizacional a partir de uma abordagem de cunho econômico, onde o foco central estava baseado em como as organizações devem agir a fim de obter vantagens competitivas e, por conseguinte um desempenho superior. Neste sentido, os estudos na área de estratégia focavam suas análises, por um lado, na influência dos fatores externos a organização para o desempenho organizacional e, por outro, na análise dos recursos internos, como meio de estabelecer interações entre estes que propiciem a formação de capacidades organizacionais, que possam convergir para competências únicas, proporcionando um desempenho superior para a organização. Assim, o papel das pessoas no que diz respeito ao desenvolvimento de estratégias foi colocado em segundo plano. A emergência de uma nova abordagem na área, denominada


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