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TRASTOS, PONTOS, ESPELHOS E VAIDADES

A Viola tem a caixa em forma de “8”, tampo, ilhargas, costas, braço e pá/ cabeça.

Na cabeça temos as cravelhas/afinadores. Antigamente, as cravelhas eram de madeira, utilizadas ainda hoje, mas com menor expressão. As cravelhas de madeira foram sendo substituídas por cravelhas metálicas pela facilidade de afinação. Também já se começa a utilizar outros materiais nos afinadores, a imitar o cravelhal antigo, e com outras garantias de afinação. Há Ilhas em que o cravelhal privilegiado pelos músicos é em forma de leque: o mesmo esquema de afinação da Guitarra Portuguesa.

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Na pá temos, ainda, o espelho. Refira‑se que alguns exemplares de instrumentos mais antigos não tinham espelho. Aliás, em algumas Ilhas, essa situação quase não ocorre! O espelho acabou por ser colocado, segundo os Velhos Mestres, para o Tocador se aprimorar antes de se apresentar em palco, penteando o cabelo e desfazendo a barba: vaidades de quem pretendia tocar a Viola sempre bem apresentado e mantendo uma reputação de elegância.

Fig. 5 – Diferentes afinadores da Viola da Terra

No braço temos a escala e os trastos: a escala é rasa com o tampo em determinados modelos, mas, também, aparece sobreposta ao tampo em algumas Ilhas. Os trastos são as peças metálicas que dividem a escala (ao espaço entre cada trasto chamamos de pontos).

A escala da Viola de 5 ordens (12 cordas) tem 12 pontos no braço e 9 pontos sobre o tampo, podendo haver oscilações do número de pontos sobre o tampo. No caso da Viola de 6 ordens (15 cordas), esta Viola tem 10 pontos sobre o braço e 6 a 9 sobre o tampo (podendo também variar de um construtor para outro).

Fig. 6 – Esquema da Viola de Dois Corações

Quando temos Violas com 12 pontos sobre o braço e mais 9 sobre o tampo temos uma Viola com uma escala de 21 pontos. Esta situação é única no contexto das Violas em Portugal. Da família de Violas de Arame a que pertence a Viola da Terra e que já antes referi (Amarantina, Beiroa, Braguesa, Campaniça, Madeirense e Toeira), o caso Açoriano é o único onde a Viola ocorre com 12 pontos sobre o braço. Esta situação, bastante particular, merece destaque e já justificava um estudo mais aprofundado por parte dos investigadores das nossas Violas, uma vez que permite a execução de uma oitava musical na distância que vai entre a corda solta e pressionada no 12.º ponto. As Violas da Terra mais antigas que conhecemos de registos fotográficos, dos nossos museus ou mesmo na posse de colecionadores, apresentam esta característica.

Actualmente, começaram‑se a construir outras Violas de Arame com os 12 pontos no braço, sendo algo afirmado como uma “evolução” para uma maior exploração do instrumento. No caso da Viola Brasileira (Caipira), descendente das Violas Portuguesas, essa evolução dos 10 para os 12 pontos também ocorreu há décadas, como uma necessidade de exploração maior do instrumento.

Como podemos explicar que nos Açores a Viola tenha essas características há pelo menos século e meio? Será que é daí que resulta termos a Viola com mais repertório tradicional instrumental de todas no nosso País? São questões que, normalmente, não parecem fascinar os investigadores, mas que reflectem uma evolução, no caso da Viola Açoriana, séculos antes das suas congéneres Continentais e Madeirense.

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