Pulp Feek #20

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A Mesa de Pedra

Rafael Marx

rompida por meu pai. “O que ele lhe disse?” Falou, sereno, o meu velho. “Sobre você, eu quero dizer.” Não entendi o que meu velho estava querendo dizer, mas então num estalo percebi ao que se referia. “Ele me disse que eu não teria herdeiros.” “É uma pena meu filho. A verdade que ele me contou quando eu tinha sua idade foi menos severa, mas não menos triste.” Nunca mais se falou daquilo em minha casa e eu decidi guardar eternamente a sina que me fora anunciada para mim, sem contar a minha Camille, jamais. Era um fardo triste demais para se dividir com alguém e eu temia o que ela faria se soubesse. No dia seguinte, me encontrei com Raylock. Já então se instalara a dúvida sobre sua procedência na cabeça, ao passar de apenas uma noite. Ele viria a descobrir que seu pai, o senhor Haywather, possuíra um irmão mais jovem e boêmio, que falecera misteriosamente de tiro próximo do nascimento de meu amigo. A partir desse dia, Raylock não teve uma única noite em que se deitasse na cama e não imaginasse ser fruto do caso de sua mãe com o falecido tio, ao qual se vingara o pai. Fosse isso, ele escapara por sorte da fúria paterna e, em lugar disso, fora adotado como legítimo. Desde então, meu amigo nunca mais destratou seu

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