Frente com b

FRENTE

De Evangelização da

COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO, cidadania e igreja

2º Encontro Provincial – Outubro 2014

editorial

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decisão da Província de abraçar a comunicação como uma de suas frentes evangelizadoras foi ao mesmo tempo um estímulo e um desafio. Estímulo a partir do momento em que os frades reconhecem todo esforço empreendido por muitos irmãos e leigos que doaram sua vida nesta causa e percebem na comunicação um ambiente a ser frequentado por quem deseja viver o Evangelho ao modo de Francisco nos dias de hoje. Desafio porque, a partir desta escolha, nós, frades e leigos ligados à Evangelização da Comunicação, somos provocados a buscar constante qualificação e crescimento para bem cumprirmos a responsabilidade que nos foi confiada.

Evangelização e Comunicação: entre estímulos e desafios É com este espírito, de quem se sente estimulado e desafiado, que temos trabalhado, buscando incansavelmente avançar na integração de nossas forças e na comunhão de nossos ideais. E uma das expressões mais significativas desta busca e deste esforço é o nosso Encontro Provincial da Frente de Evangelização da Comunicação, que teve a segunda edição. As celebrações, palestras, trabalhos em grupo e os momentos de diálogo informal têm a intenção de fazer crescer em nós um profundo e consistente senso de pertença à missão de sermos Evangelizadores no mundo da Comunicação, atendendo ao convite e ao envio do próprio Cristo, vivenciado por Francisco e atualizado por nós, frades e leigos que escolhemos trilhar os caminhos abertos e percorridos pelo Pobrezinho de Assis.

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Para este II Encontro, tivemos de maneira especial duas preocupações: 1) Apresentar aos participantes uma provocação em torno do tema da comunicação na sociedade a partir da perspectiva da cidadania e, para isso, convidamos o Professor Elson Faxina (UFPR) que, além de ser muito competente nas áreas profissional e acadêmica, tem profundo engajamento na vida pastoral da Igreja.

2) Buscar uma sintonia com a caminhada da comunicação da Igreja no Brasil e, com esta finalidade, convidamos a Irmã Joana Puntel, religiosa paulina e membro da equipe que planejou e compôs o Diretório da Comunicação da Igreja no Brasil, documento recém-lançado pela CNBB. As propostas levantadas no traba-

lho em grupo nos enchem de satisfação e esperança. Elas revelam que os participantes compreenderam bem os sonhos e desejos da Província no que diz respeito à Comunicação.

Este fato, somado à alegria do encontro, aos momentos espontâneos de partilha de ideias e experiências nos fazem ter a certeza de que as expectativas não foram alcançadas, mas superadas.

Este subsídio quer reviver entre os participantes, e levar àqueles que não puderam estar neste II Encontro, os excelentes momentos vividos em Rondinha. Que, ao ler estas páginas, possamos cada vez mais crescer na convicção de é o Senhor quem nos chama a viver e testemunhar o Evangelho no mundo da Comunicação.

Frei Gustavo Wayand Medella, OFM Coordenador da Frente de Evangelização da Comunicação

Elson Faxina

mostra um norte para a Frente de Comunicação

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2º Encontro Provincial da Frente de Evangelização da Comunicação, encerrado na terça, 14 de outubro em Rondinha (PR), deixou um norte para os comunicadores dos diferentes serviços e frentes no campo da comunicação na Província Franciscana da Imaculada Conceição.

O professor da Universidade Federal do Paraná, Elson Faxina, abordou o tema “A Comunicação na Perspectiva Cidadã” ainda na manhã do dia 13 e foi bem claro: nosso papel de comunicadores cristãos não é o de fazer boletins, produzir e veicular notícias e reportagens, dar uma boa palestra, produzir belas fotografias, fazer um belo programa de rádio

ou de TV… “Somos construtores de imaginários, que resultam numa sociedade. Nosso papel é construir sociedade”, enfatizou. Segundo ele, se não for assim, estamos perdendo tempo na vida: “Por isso, devemos sempre nos perguntar: nossas reportagens, notícias, programas, nossos boletins, jornais, rádios e televisões estão ajudando a criar uma nova sociedade? Se sim, perfeito. Se não, que pena!”

Segundo o professor, o novo momento da Igreja com o Papa Francisco, como um presente do Espírito Santo, renova as possibilidades de comunicação, mas, para isso, alguns desafios se impõem hoje:

Não somos fazedores de notícia, de reportagens, de fotografias, de imagens... somos construtores de imaginários, que resultam em uma sociedade

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Em primeiro lugar, precisamos abandonar a zona de conforto, ou melhor dizendo, o problema não é só de patrão.

“Somos jornalistas que gostamos do poder. Ao entrevistarmos uma autoridade ou uma celebridade, nos sentimos um pouco autoridade e um pouco celebridade. Sentimos prazer nisso, mas quase nunca gostamos de entrevistar a dona Maria, o seu José. Temos impregnado em nosso cérebro um modelo de sucesso, baseado na autoridade e na celebridade; e um modelo de fracasso, baseado na pessoa simples, lascada, que vive na periferia, sem eira e nem beira”, criticou, acrescentando que muitas vezes as autoridades eclesiásticas fazem o mesmo.

“Temos impregnado em nós um modelo de sucesso baseado nas lógicas do capital e, com esse modelo, enxergamos e narramos os fatos”,

O que é cidadania?

Cidadania é o exercício dos direitos políticos, econômicos, sociais e culturais dos indivíduos, estabelecidos na Constituição. A cidadania não permite categorização de direitos. Todos têm direitos iguais.

A cidadania é constituída a partir dos vínculos éticos entre os cidadãos. Vínculos como respeito mútuo, integração...

Cidadania vista como organização política da vida em sociedade. A grande origem da cidadania plena surge quando um Cidadão chega nesse mundo e fala: ‘amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo’. Ele está falando da grande comunidade humana, da condição de respeitar, entender e se sentir filiado a um único Pai. Então, se há um Pai, somos todos irmãos; se há um Criador, nada é meu, mas é para usufruto. Depois a condição de ‘amar o próximo como ti mesmo’ que eu quero para mim é a condição de igualdade para todos.

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disse. Ou seja, fazemos um jornalismo a serviço do mercado e não da cidadania. Citou como exemplo reportagens do livro didático do MEC, do Novo Código Florestal, do despejo do Pinheirinho em São Paulo.

Em segundo lugar, para o profes-

do poder (hoje ela é respeitada) e da economia (hoje ela ganha mais), mas não buscamos narrar a partir dos nexos de cidadania e solidariedade.

Isso dá muito trabalho”, lamentou.

Em terceiro lugar, ainda fazemos uma comunicação alicerçada no

Somos jornalistas que gostamos do poder. Ao entrevistarmos uma autoridade ou uma celebridade, nos sentimos um pouco autoridade e um pouco celebridade. sor, os jornalistas são preguiçosos e pouco criativos.

“Claro que estamos submetidos a uma rotina diária de produção que não nos permite ir muito além. Mas, pouco fazemos para propor algo novo. É mais fácil acusar o patrão.

Narramos o fácil, a partir das lógicas

A cidadania tem duas raízes: 1. Romana, mais jurídica 2. Grega, mais política Que vão definir duas tradições: 1. Liberal (romana): a política como um meio para poder realizar na vida privada os ideais de felicidade. Veja que é um olhar liberal sobre a sociedade.

2. Republicana (grega): a vida política é o âmbito em que as pessoas buscam conjuntamente seu bem. Portanto, o bem comum.

Eu gosto muito do livro “Cidadãos do mundo”, de Adela Cortina. Essa pensadora espanhola fala que a partir dos séculos XVII e XVIII, com as revoluções francesa, inglesa e americana e o surgimento do capitalismo, há uma reconfiguração do conceito de cidadania, que define dois modelos de democracia: 1. Democracia representativa (romana): o indivíduo delega a ação política. A nossa Constituição antes de 1988 era baseada no princípio romano.

2. Democracia participativa (grega): Cida-

conteúdo e ignoramos a forma.

“Fazemos um jornalismo laudatório, descritivo, baseado na lógica, na argumentação, profundamente racional. Nossos veículos têm pouca vida, pouco afeto, poucas parábolas.

Tem osso, mas não tem carne, nem pele e muito menos veias por onde

dão é aquele que participa ativamente na legislação e administração da boa polis, deliberando junto com seus concidadãos sobre qual é para eles o justo e o injusto, porque todos eles são capazes de palavra e, em consequência, de sociabilidade.

A nossa Constituição hoje é representativa e participativa. Foi a grande conquista que não caiu do céu, mas se deve ao grande trabalho dos movimentos sociais e da Igreja Católica junto com todas as suas pastorais em pressionar os deputados mostrando que era importante a gente ter uma democracia não só representativa mas participativa. Daí que vão surgir os Conselhos, que são muito mal usados por culpa nossa. Há uma previsão de pelo menos 16 conselhos, que são o espaço de participação da sociedade.

Boaventura de Sousa Santos, um pensador português, diz assim: pela primeira vez na história, a cidadania (assim como a igualdade e a liberdade) é reconhecida como princípio emancipatório da vida social.

circulam o sangue da sociedade, da comunidade”, destacou, acrescentando: “Quer dar vida a um boletim paroquial, diocesano...? Vá a um coordenador de pastoral, de movimento, paroquial etc. e peça por histórias de vida de pessoas que encarnam a palavra de Deus e as use nas reportagens”, indicou.

Mas ponderou: “Quer matá-lo? Vá a esse mesmo coordenador e peça para fazer um artigo assinado”. Para ele, nosso jornalismo é do tempo do iluminismo, da razão.

Em quarto lugar, Faxina disse que precisamos reinventar o jornalismo da empatia ou do afeto.

“Isso é Jesus Cristo puro: quando se pedia conteúdo sério, ele dava história.

Ele que foi e que é o Verbo Encarnado (E o Verbo se fez carne, Jo, 1, 14), transformava o verbo, a palavra em carne.

Nós tentamos fazer o contrário: transformar a carne em verbo”, disse.

Ele aponta três desafios da cidadania hoje: 1. Respeitar e valorizar as diferenças.

Esse é um grande desafio para nós, católicos. Como é que vou respeitar o outro que pensa diferente?! A diferença não é problema, é solução. A diferença é que vai nos ajudar a crescer, a enriquecer. A diferença é que vai botar em xeque o meu pensar e a minha prática vai poder ser oxigenada. A verdade não vem da certeza, mas da dúvida. Então, essa dúvida é bem-vinda. Não podemos esquecer que foram essas dúvidas que oxigenaram a nossa Igreja. Ela não colocou em xeque a Igreja, ao contrário. Quando o Papa Francisco, no ano passado, foi questionado no avião, sobre a questão da homossexualidade, ele disse: mas quem sou eu para julgar? Ele resgatou a essência do cristianismo.

2. Combater a exclusão social - A exclusão social é da ordem da cultura, por isso a mídia dá espaço para a sua superação, ao menos em parte. O grau extremo da exclusão é o extermínio.

3. Combater a desigualdade - É da ordem política e econômica. Por isso é mais difícil ter

Segundo o professor, o cristianismo se apoderou das histórias orais, grande veículo de comunicação da época, não para fazer difusão, mas para criar comunicação. “Mas nós nos acostumamos a ver as pessoas como grandes orelhas para nos ou-

não transforma ninguém; as histórias sim”, enfatizou.

Faxina contou que teve a alegria de participar de um curso com Paulo Freire, em Curitiba. “Quem o conheceu bem sabe que era um homem muito católico e religioso. Como estu-

Mas nós nos acostumamos a ver as pessoas como grandes orelhas para nos ouvir; como grande olhos para nos ver; com grande sensibilidade de pele para nos sentir; em vez buscar nelas a encarnação real, concreta do Evangelho. vir; como grandes olhos para nos ver; com grande sensibilidade de pele para nos sentir; em vez buscar nelas a encarnação real, concreta do Evangelho. Deveríamos ser campeadores de parábolas reais que estão nas nossas comunidades para contá-las em nossos meios. O discurso

espaço na grande mídia. O grau extremo da desigualdade é a escravidão. Ela é da essência do capitalismo. O capitalismo, por essência, só se desenvolve em condições de exploração, do maior lucro.

Faxina contou um diálogo que teve com uma caixa no supermercado num sábado à tarde: “É cansativo, né?” Ela disse: “É duro, agora vou até às 10 horas da noite e, amanhã, tenho que trabalhar de novo...” Eu disse: “Você está estudando?” Ela respondeu: “Mas como estudar se aqui no mercado não tenho horário certo? Não posso fazer nada”. Perguntei: “Quanto você ganha? Ela disse: o salário mínimo”. Perguntei: “E o que você pensa disso?” Ela disse: “Sou escrava disso aqui. Tenho uma filha. Sou mãe solteira. Ou ganho esse salário para manter minha filha ou ela morre de fome. Não tenho o que fazer”.

Essa jovem está no regime de servidão. Daqui a 50 anos vamos olhar para trás e perguntar: a sociedade permitia isso? Vamos dizer: vivíamos numa sociedade que não era cristã. Como ela aceitava essa condição sub-humana?

dante, fiz uma pergunta para ele: ‘Professor, o sr. falou muito da escola, e o que acha da televisão, que não educa?’.

Ele me perguntou: ‘O que te preocupa na televisão?’ Eu disse: ‘Muita violência, pornografia!”. E ele disse: ‘Tá, o que te preocupa mais?’ Eu disse: ‘É muita violência, muita apelação, muita ero-

Nós precisamos nos antecipar para entender o que é cidadania. É muito fácil olhar para trás e julgar a história.

Elson Faxina indicou para assistir ao documentário de Eduardo Coutinho: “Teodorico, o imperador do sertão”, que retrata essas situações.

Conquista permanente - A cidadania não é um algo dado, é conquista em permanente ampliação.

- Quase 100% dessas conquistas devem-se aos movimentos sociais. Exemplos brasileiros: fim da escravidão, voto feminino, leis trabalhistas... Getúlio Vargas apenas deu legitimidade e encampou toda uma luta do movimento sindical. A própria Revolução Francesa começou nos protestos e não na elite. As grandes transformações vêm da luta social. Os grandes ganhos que ampliam a cidadania para além dos campos da política e da justiça vêm ‘de baixo’.

- Um dos grandes ganhos é que a cidadania amplia-se para além dos campos da justiça e da política, para incorporar a cidadania econômica, cultural, social, religiosa...

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tização... E ele continuou: e mais o quê e assim foi... Depois me disse: ‘Sabe o que me preocupa mais na televisão: são as histórias que ela conta’. Na hora, me senti humilhado, mas depois me senti exaltado porque ele falou assim: vou mudar a minha fala e falou pelas próximas duas horas sobre isso. Ele disse o seguinte: o homem muda pelas histórias que ouve. Não muda pelas teorias. Como a sociedade se construía? Pelas histórias dos avós. O que fez Jesus Cristo? Ele contou histórias. Nós somos seres miméticos. Nós avançamos pela ‘mímesis’. Se você tem histórias, elas vão provocar imitação. Essas histórias da TV me preocupam porque elas estão mostrando padrão de vida, modelo de comportamento, formas de agir. É isso que vai ficar para as pessoas, disse Paulo Freire. E, no final, ele me disse então: ‘Se preocupe menos com a violência e a pornografia e mais com as histórias’. A pornografia

Marilena Chauí diz que há dois tipos de cidadania: ativa e passiva.

Cidadania Passiva - Recebe do outro (governo, ONG, Igreja...). É a Cidadania do “operário padrão”, que justifica o modelo de sociedade existente (capitalista liberal), porque passa ao imaginário uma mensagem: trabalhe e se comporte que você vencerá; torça para que alguém lhe veja (Caldeirão do Huck).

- Esta é a cidadania que cabe na mídia, porque, de alguma maneira, ela justifica o modelo atual de sociedade - Nós individualizamos a cidadania, sem dar-nos conta de que a conquista individualista é a aposta do capitalismo. Portanto, a raiz da cidadania passiva é o indivíduo. O problema é quando esse indivíduo é tomado como um ser atomizado, ensimesmado. Contudo, a Cidadania Passiva não é, em si, negativa.

Mas ela necessita da outra, tal qual a caridade necessita da justiça.

Jacques Gaillot (o polêmico bispo francês) disse o seguinte em entrevista no site da Unisinos: “Como disse o escritor Victor Hugo: ‘Fa-

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me incomoda se dentro da história o ser feliz é a questão sexual puramente.

Aí incomoda!”, recordou Faxina.

Faxina encerrou dizendo que hoje os jornalistas frequentam os palácios dos governantes e carpetes dos empresários, mas têm medo de

meu pensar será a partir do carpete e do palácio. Se eu piso num barro da periferia, o melhor olhar vai ser diferente. Há um problema no jornalismo que é institucional. Nós pensamos a partir da nossa redação. Nós temos que criar formas para que o

Deveríamos ser campeadores de parábolas reais que estão nas nossas comunidades para contá-las em nossos meios. O discurso não transforma ninguém; as histórias sim. ir para a favela. “Não participam de reuniões na comunidade. Nós temos um jornalismo muito “limpo”. Um jornalismo que não pisa no barro”, criticou, citando Frei Beto, que fala assim: a cabeça pensa onde o pé pisa.

“Se eu piso em palácios e carpetes, o

zemos caridade quando não conseguimos impor a justiça’. Porque não é de caridade que necessitamos. A justiça vai às causas; a caridade, aos efeitos. Eu não estou dizendo que não se deve ajudar com um prato de sopa ou um abrigo a quem está nas ruas.

Existem urgências. Eu faço isso, mas minha consciência não fica tranquila, porque penso que devemos lutar contra as causas estruturais que prendem essas pessoas na injustiça” (Não é a velha Europa que dá o exemplo, é a América Latina. Entrevista com Jacques Gaillot, IHU OnLine (www.ihu.unisinos.br), 21/1/2011).

Cidadania Ativa: - A raiz da cidadania ativa é a comunidade, mas a comunidade não necessariamente territorial.

- A comunidade como busca pelo ser e pelo pertencimento. A comunidade como o lugar do outro, no qual me vejo, me moldo, me vinculo, num processo de alteridade na forma como provoca Lacan: “Qual é esse outro a quem sou mais ligado que a mim, visto que, no seio mais consentido

jornalismo se meta mais no meio da sociedade. Sem isso não há transformação. E digo mais: mesmo nesses meios, há espaços para avançar. O problema é que a maioria dos nossos amigos jornalistas tem a cabeça formatada!”.

de minha identidade, a mim mesmo é ele quem me agita?” (1988).

OBS: Vários autores afirmam que o mercado se apoderou do conceito de comunidade, criando comunidades de seguidores, ou melhor, de consumidores.

- Ser igreja é formar comunidade. Mas, de qual comunidade falamos? De autoproteção do mundo, de refúgio, de isolamento? “Montemos aqui nossas tendas, Senhor!” ou de transformação do mundo, da sociedade, das pessoas? Cuidado: Os neo-nazistas, os skinheads... também o querem.

- Devemos mirar em uma comunidade que age para que tenhamos mais cidadania: uma sociedade menos desigual, sem exclusão, mais justa, humana, “mais respirável”, dizia Dom Helder Câmara.

- Organizar a comunidade é em si um ato revolucionário, pois comunidade não é massa de manobra, mas grupo de partilha de vida, de consciência, de compromisso, de partilha de informação, de afeto. Por isso, ela nem sempre cabe na mídia tradicional.

Comunicação cidadã O que é uma comunicação pública?

Não significa fazer o que o público quer (Jesus ou Barrabás?). O público é o “em comum”, é a comunidade. Devemos fazer o que interessa ao público, o que lhe dá autonomia, que o emancipa. Mas o que interessa ao público?

- Quem sabe não sou eu, jornalista, padre, professor, bispo... Não somos os iluminados.

Quem sabe é o próprio público. Portanto, devemos fazer jornalismo com o público e a partir do lugar do público. Isso exige de nós, por exemplo, formar conselhos eficientes e atuantes na condução de nossos veículos: de programação, de administração, e com participação da sociedade civil organizada.

No Brasil, não temos um canal ou uma emissora, temos uma concessão de uso temporário.

Cremilda Medina fala em dois projetos distintos em nosso campo: Projeto de divulgação e Projeto de comunicação social.

Um projeto de comunicação social exige: a) Novos temas e novas fontes - Quais temas são notícias para nós? Quais fontes ouvimos porque julgamos qualificadas?

- Nosso papel não é ouvir as fontes qualificadas pelo mercado ou pelo Estado, mas qualificar novas fontes.

Eventual x cotidiano - Personalidades, celebridades em vez da vida das pessoas. As comunidades não podem aparecer só quando ocorre tragédia, crime. Ela deve ser o lugar a partir de onde nós narramos os fatos. b) Novo discurso e nova narrativa - O capitalismo não se sustentaria sem o discurso jornalístico - O jornalismo se transformou numa instituição própria, com um discurso único, que foi sendo definido em resposta a uma necessidade da própria dinâmica da sociedade industrial moderna. Para se legitimar, essa sociedade precisava de um narrador crível, inquestionável, que estivesse acima

de qualquer suspeita, de qualquer poder para, assim, ser o próprio poder legitimador da propriedade privada e dos demais projetos, ou melhor, modelos de sujeito e de sociedade entabulados pela modernidade.

- A disputa hoje é por difundir projetos de vida, modelos de conduta, padrões de comportamento. Essa é a disputa que o mercado foi travando com a família, a escola, a Igreja, impondo uma forma de realização pessoal específica: o consumo.

- Ao anunciar a morte de Deus, em “Assim falava Zaratustra”, Nietzsche perguntava: “Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos que inventar para suprir tal ausência? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele?” Essas provocações do filósofo, em pleno século XIX, anunciavam a inauguração de uma nova cultura, em que Deus não ocuparia mais o centro. Ou melhor, que a realização humana não estaria mais na realização da vontade de Deus, mas na vontade do homem autônomo, como ser individual e individualista.

- Mas como, se não existe homem autônomo? O que existem são instituições, corporações às quais os homens se vinculam.

No entanto, como o homem necessita de referência, da transcendência, cria-se uma nova “religião”, uma espécie de “religião civil”, alicerçada no modelo de desenvolvimento, no capitalismo industrial. OBS: A “teologia da prosperidade” é uma tentativa de adaptação do cristianismo ao capitalismo moderno.

- Eis os novos deuses que se sentem portadores da grande narrativa, da explicação totalizante. E, nesse caso, o jornalismo se comporta como João Batista, anunciando e consolidando o modelo de desenvolvimento capitalista: é a indústria, o agronegócio, o mercado financeiro.

- Não faço aqui um discurso de que o dinheiro é um mal em si; estou falando de um modelo de desenvolvimento em que já não importa o desenvolvimento social e cultural, mas o desenvolvimento econômico.

- Por isso, o discurso jornalístico é rotineiramente incensado exatamente por aqueles poderes que precisam dele para se legitimar, ganhando assim ancoragem em razões científicas formais e instrumentais. O

jornalismo justifica as instituições de poder e de mercado que, por sua vez, o justifica.

- Por isso, o discurso jornalístico é construído a partir do achado da verdade. Ele se sustenta na verdade. E a verdade é da ordem da fé e não do conhecimento, da ciência. A busca da verdade se dá por uma razão de sobrevivência do modelo que criou o jornalismo, o da sociedade industrial.

- Em outras palavras, a morte do Primeiro Locutor (DEUS) “elimina” a fala divina, mas não impede - ao contrário, provoca - a criação de outras divindades e outras práticas enunciativas detentoras da nova verdade.

- Esse é o modelo em crise hoje, que precisamos contra-atacar com a proposta de nossa fé.

- A verdade é estabilizadora do ser, enquanto a dúvida desafia, desestabiliza a pessoa.

No entanto, não há conhecimento sem dúvida.

- Por isso, o discurso jornalístico, bem como a sua narrativa, são verticalistas, porque respondem a um projeto de difusão e não de comunicação.

- Nesse sentido, a mídia, mais do que divulgar os fatos, tem o compromisso de aspergir sobre a sociedade um modelo de imaginário que seja conforme ao modelo de desenvolvimento já estabelecido.

- É dos fatos narrados pelo jornalismo (assim como pelo entretenimento e outras formas expressivas midiáticas), crivados na objetividade do cotidiano que a mídia vai consolidando o status quo vigente, recriando modos de vida, modelos de comportamento, razões de ser, de onde as pessoas retiram o que sabem e o que se dispõem a compreender acerca do cotidiano, da política, da economia, da cultura, da vida religiosa, enfim, da vida.

- É um discurso que evita adjetivos, mas é fortemente autoritário e opinativo na narrativa.

- Não é o fato que define o como será narrado. Ele deve se encaixar numa estrutura já dada, definida, para provocar a identificação (personagem - afeto) que leva à conclusão do fato.

- Um jornalismo feito de elementos objetivos, para se construir o subjetivo.

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NOVAS DIRETRIZES DA COMUNICAÇÃO DA IGREJA

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professora e doutora Ir. Joana Puntel falou na tarde do dia 14 sobre o novo “Diretório de Comunicação da Igreja do Brasil”. Segundo ela, foram doze anos de muito trabalho para que as diretrizes da comunicação na Igreja do Brasil ficassem prontas e pudessem mostrar um caminho. “Vale a pena se a gente não perde de vista o reino de Deus, ter essa persistência”, disse.

Ir. Joana lembrou que a equipe que preparou o Diretório insistiu muito na questão de ver a comuni-

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cação como um processo, e não simplesmente como um instrumento para eu usar. “A comunicação pressupõe a pessoa, o sentido antropológico. Foi em espaços de intensas e ricas experiências de relação comunicativa comunitária que Cristo transmitiu sua mensagem e os apóstolos motivaram os cristãos ao ágape fraterno”, recordou Ir. Joana.

Segundo ela, as rápidas e contínuas transformações obrigam a revisar a clássica divisão entre emissores (operadores) e receptores dos meios, dada a interatividade e o progressivo

desaparecimento das fronteiras, de maneira especial no que chamamos de “processo de comunicação”.

O objetivo principal do Diretório, segundo Ir. Joana, é motivar a Igreja a atualizar e aprofundar conhecimentos e experiências tanto de seus pastores quanto de seus fiéis sobre a natureza e a importância da comunicação para a vida da comunidade eclesial nos processos de evangelização e no diálogo com a sociedade.

Para ela, essas diretrizes vêm num momento em que as mudanças pelas quais o mundo vem passando estão

mais latentes. Entre as quais, se encontram os avanços acelerados das tecnologias.

“O Diretório chega no momento em que a Igreja é interpelada pelas mudanças trazidas à sociedade contemporânea pela Revolução Digital”, disse Ir. Joana, destacando que o Diretório é rico em pontos para reflexões. “Quais são as mudanças trazidas pela sociedade contemporânea da Revolução Digital? Por exemplo, a questão dos relacionamentos. As relações estão em transformação e atingem o diálogo entre as gerações e também trazem uma nova percepção da fé, uma nova percepção de Deus. A fé não vai mudar, Deus não vai mudar, mas a percepção sim. Quais são as linguagens de hoje? Se a gente não absorver também esse novo modelo de comunicação que vem, a gente vai dar um passo atrás”.

Ir. Joana deixou claro que o Diretório não se destina apenas para a Pastoral da Comunicação: “Ele se destina aos responsáveis pela formulação e formação das práticas de comunicação nos diferentes âmbitos da vida eclesial e na sociedade”.

Segundo Ir. Joana, na própria esfera eclesial ainda “há uma faixa grande que, embora esteja vivendo e talvez até tendo meios mais modernos, ainda não absorveu a importância da comunicação”.

A palavra comunicação provém do latim communus, aquilo que é compartilhado, ou seja, um dom pessoal ofertado a outro ou um dever de todos para com todos. Ela é a ação que favorece a partilha de um dom ou dever recíproco entre os membros de uma sociedade. “A comunicação tem como objetivo primordial criar comunhão, estabelecer vínculos de

relações, promover o bem comum, o serviço e o diálogo na comunidade.

Não se comunicam apenas ideias e informações, mas, “em última instância, a pessoa comunica-se a si mesma” (Bento XVI). Sem essa ação, não há nem comunhão nem comunidade.

Os dez capítulos do Diretório apresentam os seguintes temas: Comunicação e Igreja no mundo em mudanças; Teologia da Comunicação; Comunicação e vivência da fé; Ética e Comunicação; o Protagonismo dos leigos na comunicação evan-

cristão descubra métodos adequados ao ambiente digital para desenvolver a evangelização e a ação pastoral”.

Ir. Joana espera que o texto ajude a criar esse interesse pela comunicação na Igreja.

A COMUNICAÇÃO NA PROVÍNCIA Ontem, 14 de outubro, a manhã foi conduzida por Frei Gustavo Medella, o coordenador da Frente de Evangelização da Comunicação.

Num primeiro momento, os responsáveis pelos serviços e frentes na

As relações estão em transformação e atingem o diálogo entre as gerações e também trazem uma nova percepção da fé, uma nova percepção de Deus. A fé não vai mudar, Deus não vai mudar, mas a percepção sim.

gelizadora; A Igreja e a mídia; Igreja e mídias digitais; Políticas de comunicação; Educar para a comunicação; e Comunicação na Igreja: a atuação da Pascom.

Desses, destaque para o capítulo das mídias digitais: “A Igreja tem convicção de que as mídias digitais não substituem a vida em comunidade e litúrgica presencial, ‘contudo pode completá-las, atraindo as pessoas para uma experiência mais integral da vida de fé e enriquecendo a vida religiosa dos usuários’ (Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais) [...] A internet e a articulação das redes sociais digitais passaram a ser partes integrantes da vivência contemporânea, despertando diferentes possibilidades de comunicação. Isso exige que o comunicador

Província falaram e apresentaram os trabalhos. No último momento da manhã, foram apresentadas as propostas e considerações que surgiram das reflexões em grupos.

Satisfeito com o encontro e a receptividade na Província, Frei Gustavo agradeceu a participação de todos, especialmente ao guardião da Fraternidade Frei João Mannes e ao Definidor Frei Mário Tagliari, que representou o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel. Do grupo, destaque também para a participação do Ministro Provincial Frei Gilson Nunes, dos Frades Menores Conventuais de Santo André, que, junto com seu confrade Frei Alexandre Domiciano, tornaram mais rico e fraterno o encontro dos comunicadores da Província. | Frente da comunicação |

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CONHEÇA AS PROPOSTAS E INDICAÇÕES QUE NASCERAM NO ENCONTRO

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lém de momento de formação, partilha, encontro e integração, o II Encontro da Frente de Evangelização da Comunicação também se destacou como es-

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paço de elaboração de propostas e discussão de assuntos que dizem respeito à caminhada provincial no campo da Comunicação. Os encaminhamentos que seguem nasceram a partir dos resultados das

discussões em grupo que foram sintetizados e organizados por uma equipe de síntese, formada pelos cinco secretários e pelo coordenador da Frente de Evangelização da Comunicação.

PROPOSTAS 1) Constituir uma comissão para elaborar o planejamento de conteúdos para 2015.

Esta comissão será formada por representantes da Fundação Celinauta, da Fundação Frei Rogério, da Editora Vozes, da Universidade São Francisco, da Associação Bom Jesus, do Instituto Teológico Franciscano, do Serviço Franciscano de Solidariedade, da Frente de Paróquias e Santuários e do Pró-Vocações e Missões Franciscanas. A abrangência e a va-

riedade dos componentes têm como objetivo garantir um olhar amplo e especializado sobre a realidade provincial e seus interlocutores na Comunicação.

A principal atribuição será a de definir um calendário comum que apresente ocasiões específicas marcadas pela soma de forças e pela partilha das produções nas diferentes áreas de atuação da Província, sempre no viés da Comunicação. Além de propor os conteúdos e as datas, o grupo também teria a responsabilidade de pensar todos os passos de execução de tais conteúdos, assim como os meios e possibilidades para a execução. O primeiro encontro desta comissão deverá ser convocado em caráter de urgência, tendo em vista que se aproxima o fim do ano.

2) Criar um canal de partilha para uma comunicação com rapidez e agilidade.

Começará como duas iniciativas simples: criação de um grupo de e-mails entre os participantes do encontro para partilha de experiências e conteúdos; compromisso de que cada expressão evangelizadora da Província providencie em seus respectivos sites a inclusão de links que direcionem os internautas aos sites dos demais trabalhos, serviços e expressões da evangelização provincial.

3) Manter o grande encontro anual e também encontros menores, com agendas regionais comuns.

Como vem ocorrendo mensalmente com os envolvidos no serviço da Comunicação em São Paulo e também com a participação da Associação Bom Jesus de Curitiba, estes encontros com característica regional e com agendas comuns devem ser incentivados e também divulgados.

4) Considerações em relação à possível filiação da TV Sudoeste a

uma das emissoras católicas com cobertura nacional O indicativo do Encontro foi que, nestas tratativas, houvesse a preocupação irrenunciável em relação a três aspectos: que a TV mantenha sua vocação e característica local e regional; que não haja diminuição no conteúdo de produção local; e que mantenha sua vocação de ser um veículo franciscano. Os participantes também manifestaram seu apoio a que estas negociações sigam em frente.

5) O portal franciscanos.org.br congregue todos os veículos e todas as frentes de Evangelização A coordenação da Frente da Comunicação ficou encarregada de buscar meios e recursos a fim de promover os ajustes e mudanças necessárias para que esta indicação seja atendida.

6) Estabelecer prioridades em relação ao que vai ser executado.

7) Compartilhar em termos provinciais os conteúdos da Frente de Evangelização da Comunicação e fomentar o estudo dos documentos que se referem à comunicação.

Especificamente em relação a este II Encontro, optou-se pela produção de uma publicação especial a ser disponibilizada em PDF e partilhada com os participantes e outros interessados na caminhada da Frente da Comunicação.

8) Divulgação do Diretório de Comunicação da CNBB entre os leigos e os nossos interlocutores na Evangelização.

9) Buscar implantar a Pascom nas paróquias que estão sob os cuidados da Província.

10) Evidenciar mais as ações e articulações da Frente de Evangelização da Solidariedade para com os Empobrecidos (mais especificamente o Sefras). | Frente da comunicação |

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