Revista tucunduba 3ª Ed

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um final diferente. Bem fazia o Dário, colega nosso do grupo, menino ainda e com fama de poeta, de pesquisador. De nós, o de maior talento, não sei como até hoje não disse palavra a seu respeito, o mais brilhante, o mais arteiro da escola. No quarto ano, possuía cadernos inteirinhos de poesias, de sua lavra. Pois esse Dário, tempo de marujada, sua mãe sabia dele? Parece até que se mudava pras barracas da Juíza e do largo, as noites passava-as acompanhando-os, ouvindo-os, escrevinhando coisas, até o amanhecer. Apanhando no ar os versos que eu aprendi tão poucos. De memória guardo os mais conhecidos, os que mamãe cantava (...), imitando os marujos.”

Basta-nos, agora, reafirmar o que já tinha sido dito sobre a importância do romance de Lindanor Celina para se conhecer um pouco da história e da memória da sociedade bragantina em torno de sua Marujada e, de certa forma, construída durantes os idos anos de 30 e 40 ainda clamados por todos como um período de auge, de esplendor da cultura bragantina sob o peso de suas tradições. Os escritos são como parte integrante da festa beneditina e, por isso, se tornaram objetos de participação do autor na memória dos que a rememoraram em páginas e livros. Vemos,

todos, passar ante os olhos, as cenas desse filme de memórias. Termina Irene - Lindanor. “Marujada ficou nas minhas lembranças, mais, muito mais que certas gentes, episódios, paisagens daquele tempo. Quantos anos não a vejo? Tia Joana há muito é morta. Não estava perto, a essa época eu já virava mundo, como tanto desejara e pequena.”

Neste ínterim, a literatura de Lindanor Celina responde aos meandros da época, em que se tinha a valorização da pessoa do literato tanto profissional quanto publicamente, mesmo em se tratando de uma mulher, o que não nos cabe aqui neste momento. Lindanor, considerada por muitos com a expressão “à frente do seu tempo”, enfatiza no romance o poder da observação e da conservação da memória sobre o esquecimento, assim como evidencia nos comportamentos, gestos e costumes que foram registrados, boa parte da face da cultura bragantina conhecida e amplamente aceita como verdade pelos literatos e memorialistas. Nesse ponto, a autora se habilita entre os que podem descrever a cidade dos idos anos 30 e 40, possivelmente ainda sem a controladora influência do italiano Eliseu Coroli e da Ordem Barnabita.

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