Os Valores da Vida

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Os Valores da Vida

Devison Amorim do Nascimento Silvia Danielle da Cunha Smith Maria Divanete Sousa da Silva Vera LĂşcia da Rocha Pereira Darlene Rodrigues Santos (Organizadores)



Devison Amorim do Nascimento Silvia Danielle da Cunha Smith Maria Divanete Sousa da Silva Vera Lúcia da Rocha Pereira Darlene Rodrigues Santos (organizadores)

Os valores da Vida

Realização

Apoio

EDITORA AÇAÍ 2015



Devison Amorim do Nascimento Silvia Danielle da Cunha Smith Maria Divanete Sousa da Silva Vera Lúcia da Rocha Pereira Darlene Rodrigues Santos (Organizadores)

Os valores da Vida Prefácio Ozivan Perdigão Santos

Revisão Débora David Neves

Capa Darlene Rodrigues dos Santos

Ilustrações Devison Amorim do Nascimento Darlene Rodrigues dos Santos

Realização

Apoio


2015. Devison Amorim do Nascimento. Silvia Danielle da Cunha Smith. Maria Divanete Sousa da Silva. Vera Lúcia da Rocha Pereira. Darlene Rodrigues Santos.

Dados Internacionais de Catalogação na publicação Biblioteca do CCSE/UEPA Nascimento, Devison Amorim do Os valores da vida / Devison Amorim do Nascimento, Belém: Editora Açaí, 2015. ISBN: 978.85.61586.94-2 1. Ensino religioso. 2. Valores. 3. Prática de ensino. I. Smith, Silvia Danielle da Cunha (org.). II. Silva, Maria Divanete Sousa da (org.). III. Pereira, Vera Lúcia da Rocha (org.). III. Santos, Darlene Rodrigues. IV. Título.

CDD.21. Ed. 207


Governo Federal Universidade Federal Federal do Pará PróPró-Reitoria de Ensino de Graduação Diretoria de Projetos Educacionais Programa de Apoio a Projetos de Intervenção Metodológica/PAPIM 2014 Escola de Aplicação da UFPA

Reitor Carlos Edilson de Almeida Maneschy ViceVice-Reitor Horácio Schneider Chefe de Gabinete do Reitor Maria Lúcia Lamgbeck Ohana PróPró-Reitor de Administração Edson Ortiz de Matos PróPró-Reitora de Ensino de Graduação Maria Lúcia Harada PróPró-Reitor de Extensão Fernando Arthur de Freitas Neves PróPró-Reitor de Pesquisa e PósPós-Graduação Emannuel Zagury Tourinho PróPró-Reitora de de Gestão de Pessoal Edilziete Eduardo Pinheiro de Aragão PróPró-Reitora de Planejamento e Desenvolvimento Raquel Borges Trindade PróPró-Reitor de Relações Internacionais Flávio Augusto Sidrim Nassar Diretor da Escola de Aplicação Aplicação Walter Silva Júnior Diretor Adjunto da Escola de Aplicação Mário Benjamin Dias Coordenadores do Projeto Ensino Religioso na EJA da EAEA-UFPA Devison Amorim do Nascimento Silvia Danielle da Cunha Smith



Agradecimentos Agradecemos a Deus, inteligência Suprema que nos permitiu desenvolver este projeto. A todas as forças divinas do Universo, que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento e o êxito deste projeto. Aos nossos familiares e amigos, por todo apoio concedido não somente na execução deste projeto, mas também em todos os momentos de nossas vidas. Ao Magnífico Reitor da UFPA, Prof. Dr. Carlos Edilson de Almeida Maneschy, por todo apoio concedido a este e a outros projetos que desenvolvemos ao longo destes anos. À Chefe de gabinete do Reitor da UFPA, Profª Maria Lúcia Lamgbeck Ohana, pelo carinho especial dado aos nossos projetos e à Escola de Aplicação da UFPA. À Pró-Reitora de Ensino de Graduação, Prof. Drª. Maria Lúcia Harada, pelo apoio a este e a todos os projetos relacionados ao PAPIM. À equipe gestora da Escola de Aplicação da UFPA, por ter apoiado o projeto, em especial à equipe da Coordenação do Ensino Noturno representada pelo Prof. Msc. Expedito Quaresma. Aos nossos queridos discentes da Escola de Aplicação da UFPA, para os quais este projeto foi elaborado. Ao nosso colaborador Wilcley Christian Silva da Silva. E a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a execução do projeto.



Prefácio Os valores da vida

nos traz a reflexão acerca da valorização da família,

do respeito ao meio ambiente, à diferença, à diversidade do ser e do sagrado. Tratar sobre esses assuntos de maneira simples e lúdica nos remete à ideia de estarmos em constante formação, a formação do ser, pois somos seres inacabados. Partindo desse prisma, os autores nos fazem refletir que tais atribuições são necessárias no nosso dia-a-dia para estender a mão ao próximo, para cuidar de outrem e dar-lhe carinho. O livro também nos traz a estima pelo saber/fazer pedagógico entre o professor (a) e seus alunos (as), cujas atividades objetivam que as crianças reflitam e apliquem por meio da práxis o olhar e o cuidado com o outro. Assim, os autores tecem as identidades amazônicas nas narrativas apresentadas, bem como apontam os saberes e as crenças dos populares de Belém do Pará, a questão do negro, as sapequices de crianças, as questões existenciais, estas refletidas na culpa, no preconceito, na discriminação, na fé e em outras maneiras de expressões do ser humano. Portanto, o livro cumpriu com suas metas, pois, com uma linguagem poética, conseguiu abordar a conscientização e a sensibilização para com o próximo.

Ozivan Perdigão Santos Mestre em Educação e Professor da Universidade do Estado do Pará e SEDUC.



Sumário Introdução

A família de Sapeca

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Maria Divanete Sousa da Silva Vera Lúcia da Rocha Pereira

A Amizade de Maria e a Borboleta Joanna

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Darlene Rodrigues Santos

As Religiões de Maria Clara e João Pedro

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Wanderleia Azevedo Medeiros Leitão

Os valores da Vida Devison Amorim do Nascimento Nascimento Silvia Daniele da Cunha Smith

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Introdução Os valores da Vida é mais uma produção resultante do Projeto “Ensino Religioso na Educação de Jovens Adultos da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA). É o segundo livro, de uma série de três publicações voltadas especificamente para os estudantes da EAUFPA. Primeiro, lançamos o

Minidicionário de

Ensino Religioso que, por ser mais abrangente, pôde contemplar os alunos do Ensino Fundamental II (5° ao 9° ano) e a Educação de Jovens e Adultos, cuja publicação fornecerá aos docentes e discentes da EAUFPA material pedagógico adequado para se trabalhar o Ensino Religioso sob o olhar da diversidade religiosa, conforme estabelece a Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96. Com a publicação de

Os valores da Vida, esperamos fornecer material

pedagógico para o Ensino Fundamental I (1º ao 4º ano) para se trabalhar não somente o Ensino Religioso, mas também outras disciplinas do desenho curricular da EAUFPA, pois a presente obra focaliza temas transversais, como: convívio familiar, amizade e respeito às diferenças. Buscamos cumprir a missão de maneira lúdica, criando estórias e atividades pedagógicas que possibilitem a reflexão dos alunos acerca desses valores tão necessários para o convívio humano. Se conseguimos ou não cumprir tal missão, caberá à história esclarecer. Nossa única afirmação é que tentamos fazer o melhor...

Os autores. 17 de agosto de 2015.

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A família de Sapeca Maria Divanete Sousa da Silva Vera Lúcia da Rocha Pereira Sapeca era uma menina muito danada, curiosa e brigona. Todos os dias provocava seu primo Pedro, o irritava com suas brincadeiras de mau gosto. Mexia nos seus brinquedos, riscava seu caderno e fazia fofoca para seu pai e sua avó. Pedro era sempre chamado atenção, mas nunca dizia que tudo era invenção maldosa de Sapeca. Certo dia, Pedro não suportando mais esse comportamento de sua prima, resolveu chamá-la para conversar. Pedro perguntou a Sapeca: – Sapeca, que mal fiz a você para me tratar assim? Sapeca com ar de riso respondeu: – Assim como? Não lhe trato mal. Pedro furioso, insiste: – Sapeca não se faça de desentendida, você sabe do que estão falando. Você sempre inventa coisas para meu pai e minha avó brigarem comigo. E isso já está me irritando. Sapeca não leva a sério a conversa de Pedro, mas se assusta com o comportamento irritado de seu primo e resolve acalmá-lo: – Oh, primo, isso é brincadeirinha, não fica assim. Prometo que não faço mais isso. Pedro se acalmou e acreditou que Sapeca não iria mais lhe provocar. Mas a promessa de Sapeca era mais uma de suas travessuras. No dia seguinte, continuou com o mesmo comportamento e ainda exagerou dizendo coisas falsas a sua avó e desta vez foi colocado de castigo. As mentiras de Sapeca fizeram com que sua avó proibisse Pedro de jogar futebol com os amiguinhos, tudo o que ele mais gostava de fazer quando não estava estudando. Essa atitude da avó de Pedro o deixou bastante chateado e irritado com a prima. Após receber o castigo da avó, Pedro não contou conversa, imediatamente procurou sua prima para tomar satisfação pelas mentiras que tinha inventado.

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Pedro, raivoso, não quis mais saber de conversa com a prima e foi logo brigando com ela; e tudo o que não tinha feito resolveu fazer. Jogou sua mochila no chão, riscou seu caderno, pegou o material que ela mais gostava, quebrou seus brinquedos, seus lápis e canetas. Sapeca, ao ver essa atitude de Pedro, que sempre foi um garoto muito tranquilo, paciente e calmo ficou chocada e amedrontada. Nunca imaginou que ele teria essa atitude agressiva. Com medo de Pedro cometer uma agressão maior da que havia praticado, Sapeca refletiu sobre suas atitudes. – Meu Deus! Por que isso? Ele poderia ter cometido uma agressão maior. Sapeca esperou Pedro se acalmar e o chamou para conversar. Pedro não quis saber da conversa e disse que não falaria mais com ela. Sapeca insistiu e Pedro resolveu ouvi-la. – Pedro, eu não imaginava que você teria esse comportamento. Fiquei com muito medo de você, não farei mais nada para lhe prejudicar. Pedro ainda aborrecido, falou: – Não acredito em você, sempre me promete que vai mudar e continua sendo uma menina malvada e brigona. Não sei por que guarda tanta maldade no seu coração. Sapeca se emociona e chora muito. Pede uma chance a Pedro. Ele diz que dará uma nova chance se ela desfizer todas as mentiras que inventou sobre ele para sua avó e seu pai. Sapeca imediatamente aceita e diz que vai contar toda a verdade. Pedro chama sua avó e seu pai para ouvi-la. Sapeca muito constrangida conta toda a verdade. Diz que tudo foi pura invenção. A avó espantada pergunta: – Por que fez tanta maldade para seu primo? Sapeca não consegue explicar, mas diz que ninguém dava atenção para ela, tudo sempre era para Pedro. Por isso se sentia excluída da família. Sua avó preocupada com a situação disse a Sapeca: – Filha, isso não justifica sua atitude, sempre demos a mesma atenção a vocês, nunca tratamos com diferença. Não deve se sentir excluída, porque somos uma família. O mesmo amor que sentimos por Pedro, sentimos por você também. Sapeca, emocionada com as palavras da avó, chora muito. Sua avó tentando acalmá-la continua dizendo:

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– Filha, quando a gente tem algum problema devemos conversar para podermos resolver e nunca usar da maldade para prejudicar outras pessoas que não têm culpa de nossos problemas. Sua atitude foi errada, mas vamos perdoá-la, porque sabemos que você não é uma menina ruim, e, sim, uma garota que precisa de carinho e atenção. Sapeca, olha para todos em sua volta, pede desculpas, reconhece seu erro e promete não fazer mais maldade nem para seu primo, nem para outras pessoas. Todos aceitam suas desculpas e acolhem a menina com carinho. Pedro se aproxima de Sapeca e diz: – Prima, você é uma irmã para mim, faz parte da minha família, por isso quero sempre seu bem e vê-la feliz, porque isso também me faz feliz. Sapeca emocionada abraça o primo e novamente pede perdão pelo mal que lhe casou e diz: – Família, vocês são tudo pra mim!

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Que tal colorir os desenhos? Então, Vamos lá! Mãos à obra!

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Atividades O que você entendeu com a história “A Família de Sapeca”?

_____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Para você, o comportamento de Sapeca era correto?

_____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ De acordo com a fala de Sapeca, o que provocou sua atitude contra Pedro?

_____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ A família de Sapeca agiu corretamente? Justifique sua resposta.

_____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________

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Caso ocorresse a mesma situação com você, qual seria a atitude de sua família?

_____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________

Desenhe os membros que compõem sua família e diga quem são.

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A Amizade de Maria e a Borboleta Joanna Darlene Rodrigues Santos Existia há muito tempo, uma família que morava em um lugar mágico, um lugar perdido no meio da floresta. Viviam ali, Maria, sua mãe e seu pai. Ah, também um irmãozinho pequenino e sapeca. Maria era apaixonada por todo tipo de borboletas, as pequenas, as grandes e, principalmente, as coloridas. Quando amanhecia, Maria ia caminhar e caçar as borboletas, percorrendo o dia todo longos trechos da floresta. Certo dia, em uma de suas caminhadas, ela encontrou uma borboleta deslumbrante, linda, colorida nas cores azul, rosa e lilás, um encanto de borboleta, que deslumbrava voando para lá e para cá. Ao se deparar com o encanto de borboleta Maria ficou apaixonada ainda mais! Joanna, como se chamava a borboleta, começou a conversar com Maria, e se tornaram grandes amigas. Joanna passou a caminhar pelas estradas longas da floresta com Maria; mas não sabia que, além de amar a beleza das borboletas, Maria também gostava de prendê-las dentro de garrafas de vidro. O que descobriu ao longo das caminhadas pela floresta. Joanna não gostava das atitudes de Maria, mas nada disse, pois não sabia que suas amiguinhas presas morriam com falta de oxigênio dentro das garrafas. Maria sabia disso! E assim mesmo continuava a prender as borboletas para poder ficar admirando a beleza e leveza de seus voos. Somente Joanna vivia solta e voando para lá e para cá. Para Maria, não havia necessidade de prender Joanna, pois as duas viviam em harmonia. Certo dia, a rainha das borboletas foi investigar o motivo pelo qual as borboletas estavam sumindo de sua comunidade. Começou a fazer perguntas e caminhadas atrás de suas pequenas filhas. Joanna sabia, porém ficava calada para não prejudicar a amiga Maria. Mas a rainha, em sua procura pelas filhas, descobriu que a menina Maria, mesmo sem querer, fazia mal para as suas pequenas. Então, a rainha das borboletas resolveu pegar Maria e colocá-la em uma garrafa para perceber o mal que fazia às borboletas. Maria estava condenada a viver em uma

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garrafa para sempre a fim de pagar o mal praticado contra todas as pequeninas mortas prematuramente. Joanna vivia muito triste e solitária sem a sua amiga de caminhadas pela floresta. Estava com saudades de suas conversas e brincadeiras. Pensando nisso, Joanna criou coragem de ir até sua mãe e interceder por sua amiga Maria, mesmo contrariando as regras da comunidade encantada da rainha. Ao chegar até a Rainha, Joanna pediu que libertasse sua amiga, explicando que ela não era malvada e que tinha errado sem pensar em suas consequências. No início, a rainha não quis atender ao pedido de Joanna; mas depois de refletir mandou libertar Maria. Graças a Joanna, Maria pode ir para sua casa com seus pais e seu irmãozinho sapeca e viver livre como uma borboleta. Hoje, Maria já sabe admirar a beleza de uma borboleta sem prendê-las em uma garrafa. Assim, Maria e Joanna vivem felizes e livres pelos caminhos da floresta!

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Que tal colorir os desenhos? Então, Vamos lá! Mãos à obra!

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Atividades Se você fosse a borboleta Joanna, o que teria feito assim que descobrisse o que Maria fazia com as outras borboletas? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Para você, como as borboletas se sentiam ao ficarem presas nas garrafas? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ O que é correto: Prender as borboletas para admirá-las ou deixá-las voando livremente na natureza? Por quê? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Cientificamente, qual o tempo de vida de uma borboleta? Essa informação vale para a borboleta Joanna? Por quê? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

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As Religiões de Maria Clara e João Pedro Wanderleia Azevedo Medeiros Leitão Maria Clara e João Pedro são amigos. Moram em Belém do Pará e gostam muito de brincar e estudar! Maria Clara tem sete anos e João Pedro, nove. Apesar de serem paraenses e morarem na mesma cidade, eles possuem culturas diferentes, pois as pessoas são diferentes umas das outras. Maria Clara nasceu na cidade de Belém e João Pedro nasceu na aldeia do povo Munduruku. João Pedro é indígena. Assim sendo, as características culturais entre Maria Clara e João Pedro são bem acentuadas. Conheça um pouco da cultura religiosa deles, que são bastante diferentes. Pois, diferenças devem ser reconhecidas e valorizadas e todas as pessoas têm o direito de praticar a sua religião de acordo com seus princípios e suas crenças. Leia o texto a seguir e conheça um pouco a respeito da religião dos nossos amiguinhos! Maria Clara chega à escola toda contente e mostra para João Pedro uma cobrinha feita de miriti. – Olha, João, o meu brinquedo novo! – Que lindo, Maria Clara! Como você conseguiu essa linda cobra? – Ganhei da mamãe no dia do Círio. – E você, o que ganhou no Círio? – Eu não ganhei nada. – Como assim, você não foi ao Círio? – Não, eu não. Pensei que fosse somente para rezar. Por isso não fui. Se soubesse que ganharia brinquedos, eu até que iria ao Círio. – Ah, João Pedro, no Círio tem muita coisa legal, mas a gente reza também. – Você não gosta de rezar? Você não é católico? E em Deus, você acredita? – Calma, Maria Clara, uma pergunta de cada vez. – Em primeiro lugar, nós indígenas não temos uma religião como vocês. Nós cremos em Deus, porém, acreditamos de maneira diferente de vocês. Assim como

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acontece com as pessoas da cidade, nós indígenas também temos nossas crenças e nossos rituais religiosos. Essas crenças são diferentes em cada tribo, aldeia, mas, todos os povos indígenas creem na Mãe Natureza. – João Pedro, quem celebra os rituais? Vocês tem um padre? – Podemos dizer que sim, mas não chamamos padre e, sim, pajé. O pajé é sábio, ele é quem orienta e cura as pessoas. – Então, o pajé além de padre, é médico!? – E isso mesmo Maria Clara, devido ser muito inteligente, conhecer todos os nossos rituais e nossas crenças, o pajé sabe fazer remédios usando folhas da mata. Ele sabe fazer chás, banhos e assim cura as doenças. Quando tem muitas dificuldades para atender às solicitações, faz o ritual da pajelança, quando ele pede ajuda aos deuses da floresta e aos seus ancestrais para que seus desejos e, é claro, da tribo sejam atendidos. Cabe ao pajé ainda ensinar os conhecimentos a todos de sua comunidade. – Nossa, João Pedro, que interessante, bem que nós poderíamos chamar o seu pajé para realizar uma pajelança para que não houvesse mais prova de Matemática. – É, seria muito legal, mas o melhor é estudar mesmo! Falando em estudar, logo mais tem aula de Português, a Professora Ana Alice vai passar redação e acho que o tema será sobre o Círio, lembra que na última aula ela conversou sobre essa festa religiosa? – Lembro, João Pedro, por isso trouxe esta cobrinha de miriti. Queria mostrar para vocês da turma. – Então, Maria Clara, me fale sobre o Círio, os brinquedos, as comidas,... – Certo, João Pedro. Vou falar o que sei sobre o Círio e falar de Nossa Senhora de Nazaré, que é a padroeira dos paraenses, a grande homenageada dessa festa. Como você sabe, eu e minha família somos católicos. Nós acreditamos em Deus, Jesus, no Espírito Santo e em Nossa Senhora. Nossa Senhora é chamada de Maria, Maria que é e nossa mãe e mãe de Jesus, Jesus é o filho de Deus. Então, se Maria é mãe de Jesus e nossa mãe, somos todos irmãos. Entendeu, João Pedro? – Mais ou menos. E como fica Nossa Senhora de Nazaré, o que ela é para Jesus? E para vocês católicos? – Vou explicar Maria e Maria de Nazaré são as mesmas senhoras, essa senhora recebe vários nomes: Maria de Nazaré, Maria da Conceição, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Dores, São muitas denominações, cada comunidade católica escolhe a sua. Em Belém, a comunidade católica tem como 26


padroeira Nossa Senhora de Nazaré, por isso, no segundo domingo de outubro é realizado o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Durante o período do Círio, acontecem várias procissões e homenagens e esses eventos são permeados pelos elementos culturais do Círio, por exemplo, a Santa, o manto, a berlinda, a corda, o carro dos milagres, os promesseiros, o carro dos anjinhos e os brinquedos do Círio, tais como o cata-vento, o roque-roque e os feitos de miriti, canoas, cobras, soca-soca, come-come, roda gigante. – Quanta coisa para saber sobre o Círio, Maria Clara! – Realmente, João, tem muita coisa, nem falei nas comidas do Círio. – Vamos deixar para continuar essa conversa na hora do recreio, pois a Professora Ana Alice nos aguarda na sala. – Certo, João Pedro, porém quero saber mais sobre a Pajelança de vocês. – Certo, Maria, e eu quero também que você fale mais sobre os brinquedos de miriti. Vamos continuar conversando e aprendendo coisas importantes sobre nossos povos, sobre nossas identidades.

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Que tal colorir os desenhos? Então, Vamos lá! Mãos à obra!

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Atividades Como você imagina Maria Clara e João Pedro? Descreva as características de cada um.

Maria Clara _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________

João Pedro _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________

Na historinha que você leu, qual era o tema principal do diálogo entre Maria Clara e João Pedro? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________

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Segundo o texto lido, “todas as pessoas têm direitos a praticar sua religião de acordo com seus princípios, suas crenças”. Qual a sua opinião a respeito disso? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

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Os valores da Vida Devison Amorim do Nascimento Silvia Daniele da Cunha Smith Mateus era um menino negro. Tinha 12 anos. Seus cabelos eram ondulados que caiam sobre seu rosto, como belos cachos de uvas negras. Sua pele negra era vistosa e bela. Mateus se orgulhava muito de seus cabelos, sua pele e seus olhos negros. Se orgulhava de todas as suas características físicas de negro! Realmente, Mateus era um menino belíssimo. Lenita era uma menina branca, também tinha 12 anos. Seus cabelos eram loiros, e seus olhos azuis. Lenita também era uma menina belíssima! Mateus e Lenita se conheceram na escola e se tornaram grandes amigos. Sorridentes, os dois sempre andavam juntos para lá e para cá. Os outros alunos questionavam porque Lenita era amiga de um menino negro; e questionavam Mateus porque achavam que ele era um negrinho que não sabia seu lugar. Lenita não dava bola para o diziam! Mateus, menos ainda! Mantinha-se seguro de suas qualidades e reconhecia seus defeitos, que nada tinham a ver com a cor de sua pele. A amizade de Mateus e Lenita era inabalável. Os dois costumavam rir das bobagens que os outros diziam sobre sua amizade e suas diferenças. Sim, eram diferentes, mas também eram iguais. E não era a cor de pele que os impedia de serem amigos. Mateus, às vezes, ficava triste, mas com o apoio de Lenita e sua força interior; superava o preconceito racial que sofria na escola e continuava sua vida. Assim, Mateus e Lenita continuavam juntos. Estudavam juntos, ajudavam um ao outro em suas dificuldades escolares, brincavam juntos, passeavam juntos pelo jardim da escola, lugar em que adoravam ficar a admirar as belezas da natureza, o colorido das flores e das borboletas, o verde das árvores, a brisa suave a tocar seus rostos, o orvalho que se debruçava sobre as flores. – Como a natureza é bela! - Disse Mateus. – Precisamos aprender a preservá-la – completou Lenita.

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Mateus e Lenita costumavam deitar na grama e ficavam a admirar o céu e a brincar com os formatos das nuvens: – Olha, aquela parece um sorvete. – Disse Lenita. – E aquela tem o formato de um coração. – Disse Mateus. – E aquela parece um lápis! – Disse Lenita! Mateus olhou para seu relógio de pulso. – Eita! – Exclamou Mateus – acabou o recreio, hora de voltar para a sala de aula! Riram e saíram correndo, pois estavam cinco minutos atrasados. Davam muito valor aos estudos, pois queriam ser professores e ensinar, entre outras coisas, os valores da vida para seus alunos, como: o amor, a amizade, o respeito ao outro, a valorização da família, o respeito ao ambiente e tantos outros! E assim tudo caminhava. Até que um dia, dona Verinha, a mãe de Lenita, ficou sabendo da amizade de sua filha com Mateus! Não aprovou porque Mateus era negro. Na imaginação de dona Verinha, Mateus deveria ser muito diferente de sua filha. Devia ser preguiçoso, pouco inteligente e sem futuro algum. Que colocaria sua filha em um mau caminho. Dona Verinha foi falar com os professores, pedindo para proibirem que Mateus e Lenita fossem amigos. Os professores ficaram muito aborrecidos com aquela bobagem! Tentaram explicar que a diferenças de cor não é motivo para acabar com amizades tão bonitas e verdadeiras como a de Mateus e Lenita. E que preguiça e inteligência não têm nada a ver com raça/etnia. Deixaram bem claro que em vez de proibir, iriam estimular a amizade entre os dois. Porque é assim que educadores devem agir. Dona Verinha saiu da escola raivosa. Jurando que trocaria Lenita para outra escola no próximo ano letivo. Mateus e Lenita ficaram muito tristes com as atitudes de dona Verinha. E se puseram no jardim da escola a pensar em como provar a dona Verinha que ela estava errada. Ficaram um bom tempo. Até que, olhando para as diferentes flores que tinha no jardim, tiveram a grande ideia! Cuidadosamente, colheram algumas flores: amarelas, brancas, azuis, violetas, vermelhas e fizeram um belíssimo ramalhete. Foram juntos até a casa de Lenita para entregar à dona Verinha. Dona Verinha recebeu o ramalhete e achou lindo! Então, Mateus disse:

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– Cada uma dessas flores tem sua beleza, o seu perfume e sua cor diferente. No entanto, todas elas são iguais. Todas desabrocham, colorem o mundo com sua beleza e seu perfume e, depois, murcham, após terem vivido harmoniosamente no jardim. E Lenita continuou: – O mesmo acontece com as pessoas, cada uma tem sua cor, sua religião, suas qualidades e seus defeitos. São diferentes! Mas todos nascem, vivem certo tempo e um dia partem! Portanto, são iguais! O que nós precisamos aprender com a natureza é viver de maneira pacífica e em harmonia; respeitando as diferenças, sejam elas quais forem. Mateus tomou a palavra novamente: – Lenita e eu somos diferentes em nossas características físicas, mas sabemos que somos iguais na essência humana. E o melhor, acreditamos nos mesmos valores da vida! Por isso, somos tão amigos. Nós nos respeitamos e nos ajudamos e acreditamos ser assim que todas as pessoas deveriam aprender a conviver. Dona Verinha refletiu e se deu conta de seu erro! Com lágrimas nos olhos disse: – Vocês têm razão, crianças! Nós adultos temos muito a aprender com vocês! Me desculpem pelos meus erros! E abraçou afetuosamente Mateus e Lenita. Nunca mais esqueceu aquela lição de vida. Sim, em muitas coisas as crianças são mais sábias que os adultos. Passou a apoiar a amizade de Mateus e Lenita, a ajudá-los a enfrentar todos os preconceitos que sofriam na escola por parte de outros alunos. Mateus e Lenita estudaram juntos na mesma escola durante todo o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Passaram no vestibular e se tornaram professores. Ela professora de Matemática e ele professor de Ensino Religioso. São amigos até hoje e trabalham na mesma escola! Desenvolvem um bonito projeto voltado para os alunos da escola em que trabalham!

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Que tal colorir os desenhos? Então, Vamos lá! Mãos à obra!

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Atividades Após a leitura da estorinha Os valores da vida, que tal fazer algumas atividades para fixar o conteúdo aprendido? Então, vamos lá!

Jogo do caça palavras! Encontre cinco palavras que você leu no decorrer do texto e circule-as.

H

C

P

R

U

H

A

E

U

R

A

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F

S

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K

E

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U

E

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B

Y

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E

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S

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G

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M

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J

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Ç

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T

O

O

O

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I

Z

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E

T

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K

U

Y

U

B

B

N

C

L

O

W

H

N

X

O

R

T

V

B

A

Y

D

I

F

E

R

E

N

Ç

A

S

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Complete os espaços em branco, completando as palavras que traduzem os valores da vida, segundo Mateus e Lenita.

A _____ _____ _____ . A _____ _____ _____ _____ _____ _____ . R _____ _____ _____E _____ _____ _____ . P _____ Z. H _____ ____ M _____ N_____ A. Vamos brincar de faz de conta?! Então, faz de conta que você é Mateus ou Lenita. Como você convenceria dona Verinha da importância de respeitar as diferenças? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

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Realização:

Apoio:

PROEG

Fundação de A m paro e D esenvol vi m ent o da Pesqui sa

Pró-Reitoria de Ensino de Gra duaçã o | UFPA

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