3 minute read

Bianca Bernardo

Next Article
Tiago Primo

Tiago Primo

27 nomes, 2008 / instalação - lençol bordado, fotografia, faca de cozinha, textos reunidos a partir do Archivo de Crímenes contra Trabajadoras Sexuales da AMMAR.

/ dimensões variáveis

Advertisement

Candela Mirabella Qual foi a reação da comunidade rosarina ao mostrar-lhes a realidade das mulheres assassinadas?

Bianca Bernardo Claro que toda experiência é pessoal e que cada um dos presentes na performance foi tocado a sua maneira. Mas no geral, houve uma comoção, um certo silêncio e angústia, algo próximo às badaladas de um sino tibetano que continua a vibrar por algum tempo.

Maria José Cabral E sua relação com AMMAR continua? Você se somou à luta das prostitutas, se reuniu com elas, ouviu, compreendeu, chorou sua dor e lhes ofereceu uma bela homenagem ao final de sua residência. Como segue a sua ligação com a luta das trabalhadoras sexuais, foi encerrada após a conclusão do projeto e que apresentaste a performance, ou vai continuar em projetos futuros? Ou em projetos fora do âmbito artístico?

BB Na verdade o trabalho é um protesto que evidencia uma série de vestígios de uma forma poética. Hoje eu tenho um vínculo afetivo com AMMAR-Rosario, espero voltar a visitá-las em breve, ainda não sei muito bem como as coisas irão se desenvolver mais adiante, mas as portas estão abertas. MJC Em um dos atos da performance você tomou uma faca e escreveu “No soy crimen, estamos trabajando”. Existe alguma relação da escolha dessa ferramenta com a obra de Regina Galindo?

BB Quando eu cheguei em Rosario, Regina Galindo havia apresentado uma performance em Cordoba a pouco tempo. Até então eu não conhecia sua obra. Comecei a pesquisar imagens e reportagens até encontrar uma ação que se fixou na minha cabeça: Regina, sentada numa cadeira de metal, escreveu com uma faca em sua coxa a palavra “Perra”. “Perra” possui significado pejorativo quando atribuído à mulher e enquanto investigava os assassinatos das trabalhadoras sexuais, descobri que muitas eram violentadas com facas, com a palavra “perra” escrita em suas costas.

Analía Regue Minha pergunta está relacionada com o devir nômade que faz mover o artista residente, mudando de cenário constantemente. Gostaria de saber qual é a âncora, o ponto de referência em seu devir nômade e, por sua vez, o ponto de intercâmbio com cada geografia visitada. Você tem um centro de gravidade que vai levando a cada entorno? E em caso afirmativo, como modifica e alimenta sua pesquisa em relação ao trabalho a desenvolver no lugar? Como alimenta cada instância? E como é sua própria instância interna de trabalho? BB Sim. Eu acredito que cada lugar é um lugar, possui suas especificidades, e procuro isso toda vez que inicio um novo trabalho. Não é somente levar em consideração as particularidades do lugar, mas fazer delas ferramentas para a construção da obra, de forma tal que uma pertence a outra. Quando cheguei em Rosario eu tinha um projeto aberto, ainda sem nenhuma certeza de qual caminho tomar. Foi vivendo a cidade que o trabalho começou. Eu tenho um tempo próprio, e cada obra também tem seu tempo. Normalmente, de um ponto de partida, vou coletando informações, analisando, estudando, desenhando, até imaginar a obra. Tudo o que esteve fora e foi sorvido para dentro volta-se novamente para fora, diferido.

Bianca Bernardo é artista visual e performer, formada em Artes Plásticas e mestre em Artes pela UERJ. Ao encontro de uma pele universal, realiza performances e instalações que investigam a pele como fronteira do ser, o corpo como laboratório de si.

Analía Regue trabalha com intervenção urbana e fotografia, realizando eventos como o STICKBOXING, mistura de música, boxe e artes plásticas.

Candela Mirabella é encadernadora, oferece oficinas e realiza edições especiais de livros de artista.

María José Cabral usa o desenho como meio de enunciação situado entre o documento e a ficção, como uma tradução poética do contexto no qual se encontra a artista.

This article is from: